Mensagem do treinador do hóquei em patins, Alejandro Dominguez

"Vivemos tempos muito difíceis, nos quais a nossa capacidade de superação e a nossa força de espírito são testadas diariamente. Desde que trabalho no Benfica, estas duas qualidades estão presentes diariamente em todos nós, porque faz parte do nosso ADN. Agora, o mais importante é que possamos continuar a acreditar nesses valores e a transmiti-los a todos os que estão ao nosso redor, criando assim uma forte sinergia que influencie todo o mundo. Porque hoje existe apenas uma equipa, e essa equipa é toda a humanidade.
Sempre acreditei que, de todas as circunstâncias que ocorrem diariamente, se pode aprender ou retirar algo de positivo, e esta situação não é diferente.
Acredito que podemos aprender e aproveitar a oportunidade de ficarmos confinados em casa para fazermos muitas coisas que, vivendo a 2000 quilómetros por hora, não podemos fazer. Mas não apenas para isso, também para reflectirmos, fazermos um pouco de trabalho interior e assim encontrarmo-nos connosco próprios.
Todos os dias penso nas pessoas que sofrem desta pandemia e espero que possam superá-la. Agradeço desde já a todos os profissionais que estão na linha da frente, colocando em risco a sua própria saúde para ajudar os outros. E é exactamente isso que me dá esperança para o futuro, somos seres capazes de fazer coisas fantásticas.
Uma das coisas mais importantes que o desporto me ensinou é a perseverança. Penso que, se continuarmos com um passo firme, sairemos desta pandemia e voltaremos a desfrutar do nosso trabalho, do nosso Clube.
Agradeço ao universo Benfica por nos acolher a todos e nos pôr em contacto, de forma a podermos transmitir energia positiva… Força Para Todos, Força Benfica!

Alejandro Domínguez"

SL Benfica l A história dos jogadores estrangeiros

"Jonas, Gaitán, Preud’homme, Garay, Luisão, Ricardo Gomes, Gamarra, Di Maria, Cardozo, Aimar, Schwarz, Witsel, Poborsky, Mozer, Miccoli, Them, Canniggia, Oblak, Javi Garcia, Valdo, Isaías, Magnusson, etc. Foram inúmeros os grandes jogadores estrangeiros que envergaram o manto sagrado, mas nenhum destes jogadores poderia ter alinhado ao serviço do SL Benfica antes de 1978. 
Uma assembleia geral em Julho de 1978 ficará para sempre na história do Sport Lisboa e Benfica. Desde a sua fundação o clube encarnado tinha apenas contado com jogadores portugueses nos seus planteis. Ao contrário da maioria dos clubes portugueses, o SL Benfica sempre se recusou a aceitar estrangeiros na equipa.
Foi precisamente isto que a assembleia geral, mencionada anteriormente, alterou. Os sócios decidiram (com cerca de 500 mil votos): eram agora aceites estrangeiros na equipa das águias.
A decisão dos adeptos tinha como objectivo recuperar o poderio europeu da década de 60 e não perder o comboio dos rivais, que já há várias décadas contavam com estrangeiros nas suas fileiras. O primeiro estrangeiro só chegaria à Luz em 1979. Jorge Gomes Filho foi contratado ao Boavista FC.
O avançado brasileiro, que fez praticamente toda a carreira em Portugal, esteve apenas três temporadas de águia ao peito, tendo apontado apenas 13 golos.
O que fez dentro de campo esteve longe de ser histórico, mas Jorge Gomes Filho abriu uma porta para a entrada de estrangeiros no SL Benfica, marcando assim o seu nome na história do clube lisboeta.
Logo em 1981, chegou ao Benfica Zoran Filipovic, o primeiro estrangeiro de um país não pertencente à actual CPLP. O avançado jugoslavo, nascido no que é hoje o Montenegro, marcou 39 golos em três temporadas no Estádio da Luz.
Ao longo dos anos 80, apenas 10% a 20% do plantel dos encarnados era constituído por estrangeiros. 
Na década de 90, o panorama começou a mudar ligeiramente. A chegada de um elevado número de jogadores brasileiros e a aposta em mercados emergentes como o norte da europa ou os Balcãs fizeram aumentar o número de estrangeiros na equipa da Luz. Percentualmente, cerca de 25% a 35% da equipa era agora composta por estrangeiros.
Já no novo milénio, com o fenómeno da globalização cada vez mais presente, o número de estrangeiros no SL Benfica disparou. Por esta altura, os portugueses já compunham apenas metade do plantel. A percentagem de portugueses foi diminuindo paulatinamente ao longo da primeira década do século.
Durante a era de Jorge Jesus, a percentagem de portugueses na equipa foi a mais baixa desde que há memória. Na época de 2009/2010, pela primeira vez na história do clube encarnado, os portugueses não eram a nacionalidade maioritária do plantel. Os 14 brasileiros da equipa equivaliam a 40% do plantel, face aos 31,4% “ocupados” pelos portugueses.
Na época seguinte, foi registada a mais baixa percentagem de portugueses de sempre num plantel do SL Benfica: cerca de 30% (a época mencionada e as épocas de 2013/14 e 2014/15 têm números praticamente idênticos).
Na época de 2010/2011, apenas três jogadores portugueses eram opções (relativamente) viáveis para o treinador: Rúben Amorim, Eduardo e Nélson Oliveira. O guardião português realizou apenas nove jogos, o agora treinador do Sporting CP vestiu a camisola das águias apenas 10 vezes e Nelson Oliveira jogou por 22 vezes, mas apenas três como titular.
Após a saída de Jorge Jesus e com a clara intenção da direcção em apostar na formação, o número de portugueses na equipa principal das águias, naturalmente, cresceu.
Esta temporada, a percentagem de portugueses voltou a subir acima dos 40% (46%), coisa que já não acontecia há já várias temporadas.
É absolutamente correta a ideia de que a nacionalidade de um jogador não interessa absolutamente nada dentro de campo. Numa altura em que a globalização se torna cada vez maior, as fronteiras vão perdendo importância e a ideia de uma cultura mais mundial se vai tornando cada vez mais presente, serão cada vez mais os jogadores a jogar fora do seu país (como acontece a tantos e tantos portugueses).
No entanto, é sempre importante para a identidade de uma grande instituição e para o ego dos seus adeptos ver o seu clube ter uma significativa base nacional e ver muitos dos atletas tornarem-se internacionais.
Neste momento o SL Benfica está numa excelente situação no que diz respeito a talento nacional. Se estes jovens forem geridos de uma forma sustentável que promova o seu desenvolvimento, o clube encarnado tem tudo o que é preciso para vir a ser uma das bases da selecção nacional."

Vem aí a crise, e esta vai doer

"Os clubes começam a dar sinais de instabilidade financeira, e o que aí vem é pouco animador. Os clubes vão ter que se reestruturar, mas resta saber se todos aguentam.
O FC Porto anunciou recentemente que vai optar por adiar o pagamento de um empréstimo obrigacionista que vencia a 9 de Junho - os dragões querem pagar em Junho de 2021. É evidente que a instabilidade actual explica a solução encontrada pelos portistas, mas não reembolsar os investidores na data prevista é sempre uma má notícia para as entidades. No entanto, sublinhe-se que o clube admite liquidar a dívida antes, em Janeiro de 2021, caso tenha condições para isso.
A emissão de obrigações nesta fase também não é solução, porque os ditos “mercados” estão em pânico - e quando os investidores andam por aí a implorar ajudas do estado, parece improvável que queiram arriscar grandes investimentos no mundo do futebol português. O exemplo do FC Porto serve apenas para sustentar que, na minha opinião, aproximam-se tempos muito difíceis para os clubes do campeonato.
Parece-me claro que as empresas vão entrar numa fase de contenção de custos, e isso vai seguramente reflectir-se nos contratos de publicidade, não só em Portugal como no resto da Europa.
E podemos estar perante um efeito dominó: menos dinheiro a circular no futebol europeu, menos compras milionárias que, frequentemente, ajudam (e de que maneira) os clubes portugueses. E assim nasce outro problema, transversal aos principais emblemas da nossa Liga: vendas como as conseguidas nos últimos anos (a de Bruno Fernandes é a mais recente) parecem impossíveis de concretizar por agora.
E que impacto pode ter nas finanças destes clubes? É natural que Porto, Benfica e Sporting (e outros) estivessem a trabalhar no sentido de ainda conseguir transferir alguns jogadores no mercado, mas confesso que ficaria muito surpreendido se fosse mesmo possível concretizar uma grande venda nos próximos tempos. Por isso, vai ser preciso apertar o cinto...
Também tem sido mais ou menos discutida a questão salarial. Os clubes terão chegado a entendimentos diferentes com os jogadores - alguns com cortes salariais, layoffs, outros a pagar em prestações, e por aí fora - porque nitidamente não há capacidade para pagar agora. E quando haverá? 
Pior: nas últimas horas, a Altice já avançou que não vai pagar aos clubes os valores das transmissões, porque estas nem sequer existiram. Portanto, em Abril, alguns clubes arriscam-se a ter zero receitas. E daí se percebe a «pressa» em regressar à competição, mesmo sem adeptos nas bancadas (algo que vai fazer correr muita tinta, acho).
O cenário é muito pouco animador. Os clubes de maior dimensão vão-se gerindo de empréstimo em empréstimo, com antecipação de receitas e alguns exercícios de contabilidade pelo meio. A dívida dos três grandes (e de outros clubes de menor dimensão) é astronómica, e admito que não consigo vislumbrar como vai ser gerida daqui para a frente.
Por outro lado, e conhecendo o historial de alguns emblemas nacionais, começa a ser claro que dificilmente vão conseguir cumprir os compromissos assumidos. E vou mais longe, temo sinceramente que alguns clubes não consigam ultrapassar as dificuldades, e se afundem nas divisões inferiores.´
Para terminar, e os clubes da II Liga e Campeonato de Portugal? Para já, reina a confusão. As receitas já são poucas, teme-se que nos próximos meses passem a ser quase nenhumas. Estou certo que alguns não vão aguentar.
Foi anunciado que António Costa vai receber os presidentes dos três grandes - ajuda a traduzir o sentimento de preocupação do momento - mas não deixo de lamentar que não haja espaço para os representantes de outros clubes. Se é óbvio que Porto, Benfica e Sporting vão sofrer (menos transferências, publicidade cortada…), também é óbvio que os clubes do meio da tabela para baixo podem sofrer ainda mais, com consequências mais devastadoras.
Esperemos que se pense sobretudo nestas equipas, e não se siga o exemplo que algumas elites defendem para o país: ajudar quem tem muito, sacrificar quem já tem muito pouco.
E que se aproveite para pensar nos elogios permanentes ao chamado “futebol-negócio”, com a figura supostamente inevitável dos «clubes-empresa». O desporto precisa mesmo de fazer girar tantos milhões nalguns bolsos? Será que um futebol mais popular e menos financeiro não estaria mais apto para aguentar um embate destes? Provavelmente."

A Liga à beira do abismo

"Alguns clubes da primeira liga correm mesmo risco de sucumbir de forma irreversível. Sem precipitações, há pois que avaliar com bom senso os passos que a seguir serão dados.

Tem sido intensa a actividade para que seja possível encontrar rapidamente uma solução definitiva para todos ficarmos a saber o que vai ser o futuro do futebol em Portugal.
Ontem foi dado um passo importante nesse sentido, tendo o Primeiro-Ministro chamado a São Bento as figuras mais proeminentes da modalidade e com elas reflectir sobre o que mais convirá fazer no imediato.
Como nota mais relevante ficou a promessa de haver amanhã uma decisão, após ser consultada a comissão que foi constituída para, face às circunstâncias, emitir uma opinião baseada em razões concretas, e tendo em conta a exigência de serem respeitadas as condições sanitárias que se colocam num momento tão delicado das nossas vidas.
Há já exemplos de decisões de ruptura adoptadas em outros países europeus. A mais recente chegou-nos ontem de França, onde o governo de Macron assumiu que a temporada futebolística terminou, lançando deste modo a Ligue 1 para um beco do qual vai ter muita dificuldade em sair a curto prazo. 
Bélgica e Holanda já haviam dado os primeiros sinais, havendo dúvidas sobre o que vai acontecer na Itália, Espanha e Inglaterra, países onde também tem havido intenso debate sobre as condições em que o futebol pode regressar aos estádios.
Na Espanha, sobretudo, parece haver alguma resistência por parte dos jogadores para tudo recomece, colocando estes sobre a mesa exigências que visam a protecção dos seus direitos, particularmente o direito à saúde.
Por cá, depois do plano elaborado da Liga de Clubes, arrojado e já com datas previstas para as fases que poderão seguir-se, a situação deu agora um passo atrás. Antes de tudo, há necessidade de se avaliarem os riscos decorrentes de um recomeço destemperado, que poderá acarretar prejuízos incalculáveis.
Claro que os clubes, sobretudo os maiores, estão numa situação desesperada. Sem receitas e sem perspectivas de as poder recuperar a curto prazo, é caso para dizer que estão à beira do abismo. 
Alguns clubes da primeira liga correm mesmo risco de sucumbir de forma irreversível. Sem precipitações, há pois que avaliar com bom senso os passos que a seguir serão dados.
Para já, a bola está do lado da comissão técnica encarregada de elaborar um parecer definitivo. Sem esquecer que o Comité Médico da FIFA já deu o seu veredicto: “o futebol não deve regressar antes de Setembro”."

28 de abril de 1967: O dia em que Muhammad Ali disse quatro vezes não à Guerra do Vietname. E ficou quatro anos sem combater

"Foi há 53 anos que Muhammad Ali deixou de ser apenas o melhor pugilista do Mundo para se tornar também numa das caras da luta contra a guerra e a discriminação. E assim nasceu o ícone. Mesmo que com custos para a sua carreira

Chamaram o seu nome três vezes. E das três vezes Muhammad Ali ficou quieto, sem mexer um músculo que fosse, a antítese daquilo que fazia nos ringues, onde era tão rápido de mãos e pés, com aqueles reflexos de gato - "planava como uma borboleta e picava como uma abelha", diziam. Das três vezes, Ali renunciou aquilo que lhe parecia inexplicável, sair do seu país, deixar o boxe, para pegar numa arma e ir matar vietnamitas. A guerra não era sua, Ali recusou-a, embora isso fosse crime punível até cinco anos de cadeia, como lhe disse o oficial naquele centro do exército norte-americano em Houston.
E à quarta, Ali voltou a não dar um passo em frente. Foi preso. Nesse mesmo dia, 28 de Abril de 1967, perdeu a licença para combater e os seus títulos mundiais foram-lhe retirados pela Associação Mundial de Boxe. E nos três anos seguintes, Muhammad Ali, "The Greatest", não pode ser o maior nos ringues.
Aquela manhã de Abril de 1967 era o culminar de meses e meses de guerra fria entre Ali, a consciência de Ali e uma América que ele não aceitava. No início de 1966, e apesar do estatuto de campeão mundial de pesos-pesados, Muhammad Ali foi colocado no grupo de norte-americanos elegíveis a serem chamados para o exército, o que naquela altura significava guia de marcha para a selva do Vietname.
Ali recusou, considerou-se um objector de consciência. As razões foram religiosas - Ali já se tinha então convertido ao Islão - mas era também uma questão de direitos humanos. "Eu não tenho nada contra os vietcong. Eles nunca me chamaram preto", diria. Ou ainda: "Porque haveriam de me pedir para vestir um uniforme, viajar milhares de quilómetros para lançar bombas e espetar tiros às pessoas do Vietname quando os chamados pretos de Louisvile continuam a ser tratados como cães, sem os mais simples direitos civis?".
Depois de dizer quatro vezes não ao Exército, Ali foi presente a um tribunal de júri totalmente branco, que em 21 minutos ditou a sentença: culpado por violar a lei militar.
O caso só veria a luz do recurso quatro anos depois e nesses quatro anos Ali não passou pela prisão, mas tão-pouco pode competir. Entre os 25 e os 29 anos, talvez no pico da sua capacidade física, tornou-se um pária para os patriotas, mas um símbolo para todas as vozes que se insurgiam contra a guerra, a favor dos direitos civis, pelo fim da discriminação à qual os negros continuavam a ser subjugados em território norte-americano.
Só em 1970 Ali foi de novo autorizado a combater. Só em 1971, com os EUA já cansados da guerra, a condenação de Ali foi finalmente revertida. E só depois da travessia no deserto, Ali foi o Ali do Combate do Século, do Rumble in the Jungle, do Thrilla in Manila.
Mas terão sido os anos em que a sua consciência não lhe permitiu calçar as luvas de boxe que tornaram Muhammad Ali num ícone, para lá do pugilista mais preponderante da história, ainda que espoliado dos seus melhores anos por uma decisão de um tribunal de homens brancos. "As acções de Ali mudaram os meus critérios para aquilo que considero ser a grandeza num atleta. Ter um lançamento assassino ou a capacidade de parar um golo já não chegava. O que fizeste para libertar o teu povo? O que fizeste para ajudar o teu país a viver de acordo com os princípios do seus fundadores?", escreveu em tempos o jornalista negro William Rhoden no "The New York Times". 
Isso sim, chama-se grandeza."