segunda-feira, 27 de abril de 2020

Reviver o passado na TV

"À falta de futebol em directo, os principais canais de desporto têm apostado na transmissão de jogos antigos. Para mais, gratuitamente, é de saudar a ideia.
E lamentando-se que não possam, ou não queiram, ir mais atrás, designadamente às décadas de sessenta, setenta e oitenta - nas quais, sobretudo no que diz respeito ao Benfica (mas não só), haveria muito para contar -, ficamo-nos pelos últimos quinze anos, o que ainda assim dá para recordar alguns momentos inesquecíveis. Num destes dias revi o magnífico Benfica - Fernerbahçe de 2013, e fiquei espantado como um jogo disputado há sete anos me prendeu ao ecrã durante noventa minutos. Que exibição! Que intensidade! Que equipa! Atente-se ao meio-campo: Matic, Salvio, Enzo Pérez e Gaitán! E à dupla de ataque: Cardozo e Lima! E aos centrais: Luisão e Garay! Que injustiça essa equipa, a de 2012-13, ter ficado à porta de todos os títulos! E tão infeliz foi a subsequente final com o Chelsea - que, entretanto, também tive oportunidade de rever, ainda com a secreta esperança de que o cabeceamento de Ivanovic saísse enfim por cima da trave...
Durante esta quarentena vi também o Liverpool - Benfica de 2006. Que golo de Simão Sabrosa! Que golaço de Miccoli! Que vitória épica, no terreno (e agora) campeão europeu! No plano nacional revi, e aconselho vivamente a rever, dois dos melhores golos a que me lembro de alguma vez assistir no Estádio da Luz: o de Matic no Benfica - FC Porto, e o de Lima no Benfica - Sporting, ambos na já referida temporada de 2012-13.
Enquanto não voltam as grandes emoções, vamos vivendo com estas gratas recordações."

Luís Fialho, in O Benfica

So VAR

"Os doutos membros do International Football Association Board reforçaram a importância do VAR a partir do próximo dia 1 de Junho. Estando de acordo com as alterações às leis do futebol, confesso que o rumo imprimido ao VAR me satisfaz. Devido às implacáveis regras do confinamento, tenho aproveitado os dias e as noites para pôr em dia as minhas estatísticas dos campeonatos disputados nos últimos 10 anos. O balanço é deveras positivo, pois conquistámos seis e perdemos quatro.
Acontece que dos quatro perdidos só um foi por demérito nosso. Refiro-me à Liga 2010/11, em que ficámos a 21 pontos do 1.º lugar. Quanto aos campeonatos de 2011/12, 2012/13 e 2017/18, são conhecidas as decisões de arbitragem que nos penalizaram em 13 jogos. Sempre sustentei a tese de que se já houvesse VAR, em 2011/12 (época em que nos sonegaram 12 pontos), e em 2012/13 (foram 6 pontos tirados), o Benfica teria sido campeão nacional. Acontece que em 2017/18 já havia VAR e fomos impedidos de conquistar o tão ambicionado penta, pois fomos prejudicados em 5 jogos por erros de arbitragem que nos custaram a conquista de 7 pontos. O que falhou?
Os árbitros de campo e, sobretudo, os VAR. Parece contraditório mas não é. O que falhou foram os utilizadores do VAR! Foram 25 pontos sonegados em três ligas perdidas por erros claros e óbvios de arbitragem. Já para não falar nos 34 penáltis que ficaram por assinalar a nosso favor nessas épocas. Contas feitas, em vez de estarmos a lutar pelo 38.º título podíamos já estar a caminho do 41."

Pedro Guerra, in O Benfica

Vou sair daqui a pé!

"É esta a fibra de que é feito Aliu Camará. Quem acompanhou a sua história e leu as notícias da tragédia pessoal que o atingiu na longínqua República Centro-Africana foi Ferro. O mesmo Ferro que agora lhe telefona para dar ânimo e se confessa fã dessa coragem indómita que o faz erguer-se na adversidade. São ambos audazes, cada um no seu campo, e não viram costas à luta nem recuam perante os obstáculos, por mais difíceis que se ergam na sua frente. Interessam pouco agora os pormenores do triste acontecimento, e ninguém gosta ou quer revisitar a dor física e mental de uma dupla amputação. Muito menos Aliu, para quem a vida continua a ser feita de sonhos e projectos e que não se verga perante esta fatalidade que arrastaria com os demais. A vida segue para a frente, e o futuro constrói-se hoje, aqui e agora. Essa é a grande lição deste jovem de quem nos recordamos nos torneios e actividades do projecto 'Para ti Se não faltares!', no bairro da Boba, na Amadora, há exactamente dez anos.
Tal como os seus colegas, Aliu frequentava então o projecto da Fundação Benfica porque adorava futebol e aceitava, em troca, aplicar-se na escola, mais ainda porque, embora não fosse condição, também era benfiquista, e o seu orgulho redobrava! Mas Aliu não aprendia apenas a jogar à bola, assimilava valores e cultivava atitudes, aprendia a desenvolver os seus talentos, a decidir o seu destino, a traçar caminhos e a mantê-los resilientemente. Como a maioria dos seus colegas do projecto, mais de quatro mil nesta década de trabalho, descobria o seu valor e queria dá-lo ao mundo. E Aliu tinha muito valor, e deu-o ao mundo à sua maneira servindo o seu país e lutando pela paz onde quer que seja, mesmo na mais longínqua África.
Ferro impressiona-se com esta história, como todos nós, quer ajudar este jovem a manter o moral no difícil caminho que o espera. Por isso oferece-lhe o melhor de si. Porque Ferro sabe muito bem o poder que tem o Grande Jogo para acender as paixões humanas, emocionando e motivando cada um de nós de maneira muito particular e profunda. Ele sabe  que o que oferece alegra e moraliza Aliu, mas sabe sobretudo que este jovem sairá desta situação a andar, porque Ferro faz parte da Alma do Benfica e sabe por experiência própria, tal como os Comandos, que a sorte protege os audazes!"

Jorge Miranda, in O Benfica

Grande, muito grande, é o Benfica

"É perante as maiores dificuldades que melhor se pode avaliar a capacidade e a resiliência das instituições, escoradas (ou não) na força estrutural dos seus modelos e dispositivos e mais particularmente, de que modo, com que disposição e com que celeridade se mostram os seus responsáveis capazes de assumir as suas decisões, definindo as respostas oportunas para enfrentar a crise. Assim que o mal se começou a desenvolver em Portugal, a Direcção do Benfica considerou prioritário que todas as primeiras decisões apenas atendessem à emergência defensiva, na estrita determinação de impedir que os contactos físicos e de proximidade da vida e do trabalho 'normal' entre atletas e colaboradores eventualmente pudessem contribuir para a disseminação de uma peste da qual pouco mais se sabia então do que ser caracterizada por um poderoso e velocíssimo grau de contágio.
Em Portugal como no mundo inteiro, mais cedo ou mais tarde, todos acabámos por tomar consciência de que estaríamos mergulhados num dos períodos mais calamitosos dos últimos cem anos: de repente, toda a humanidade se vira dolorosamente fustigada pela inesperada pandemia, cuja extensão e consequências ainda agora são incalculáveis no plano individual e para a generalidade dos sistemas de vida em comum a que estávamos habituados...
Mas, naquela altura, nada era mais decisivo - nem campeonatos, nem raciocínios de gestão, nem contas de somar ou subtrair. A preocupação essencial era a vida das pessoas, das famílias e da comunidade, e havia que agir com muita determinação.
Em todo o caso, pelo que logo a seguir todos confirmávamos, grande, muito grande, é a instituição cujos dirigentes não tremeram e não tremem, diante de um cataclismo tão imprevisto e severo e, ainda menos, não hesitam em continuar a cumprir escrupulosamente todos e cada um dos seus compromissos anteriores de longo ou curto prazo, sem qualquer solução de continuidade, quebra de cadência ou desfalecimento!
O Benfica conhece o Futuro? Saberá aqui, alguém, antecipar como virá a ser a 'nova normalidade', no campo dos Desportos e na sociedade portuguesa?... Evidentemente que não. O que vier... virá, que o Benfica estará sempre pronto e preparado para vencer todas as dificuldades. Porque o que os nossos Dirigentes, conhecem bem é o Benfica - a incrível força do Benfica! E o que os Sócios e adeptos do Benfica também bem conhecem é a história do Benfica, assim como o rumo e a estabilidade que, no plano da ética e dos compromissos assumidos, o Benfica cumpre inflexivelmente, sem sofismas nem interrupções, de há dezassete anos para cá.
E com esta confiante segurança baseada em factos, inequivocamente reafirmada pelo Presidente Luís Filipe Vieira na carta enviada a cada um de nós na passada quarta-feira, não restam dúvidas de que 'juntos vamos conseguir' vencer e convencer em todos os obstáculos que esta crise nos levantou e da qual, com a mesma determinação, certamente ainda sairemos mais fortalecidos!"

José Nuno Martins, in O Benfica

Regresso gradual

"Passado cerca de mês e meio da interrupção das competições, vislumbramos finalmente uma luz ao fundo do túnel. Esta é ainda ténue, pois perdura a incerteza quanto ao futuro que se avizinha, mas é com esperança e optimismo que encaramos a possibilidade do restabelecimento da normalidade ou, pelo menos, de darmos passos conducentes a ela.
Este percurso terá, por força das circunstâncias, de ser feito de forma gradual. A retoma dos trabalhos do nosso plantel está prevista para a próxima segunda-feira, dia 4 de maio, cumprindo o acordado com todos os clubes sob o patrocínio da Liga.
Ao longo da presente semana, começando já hoje com a equipa técnica e os elementos afectos à estrutura profissional do futebol, serão efectuados testes de diagnóstico à COVID-19, no Seixal, em sistema de "drive-thru". Ou seja, estes testes serão feitos nas viaturas e não haverá qualquer contacto entre cada um dos testados. No dia seguinte será a vez dos jogadores e seus familiares. Só após a obtenção dos resultados, sendo estes negativos, se procederá a uma avaliação médica individual de cada atleta.
Após o anunciado final do estado de emergência, previsto para 2 de maio, será efectivado o regresso de todo o departamento de futebol ao Seixal, com a realização de testes físicos aos jogadores. No dia 4 dar-se-á o arranque dos treinos individuais, antecedidos por análises clínicas. Os jogadores estarão divididos por quatro grupos, com dois a trabalharem pela manhã e os outros dois pela tarde. Não haverá qualquer contacto entre os membros do plantel, observando-se o distanciamento adequado, e o trabalho com os fisioterapeutas, enfermeiro e médicos ocorrerá com os devidos cuidados e equipamentos de protecção.
Acrescem ainda limitações no acesso ao Benfica Campus, a implementação de procedimentos adequados de higienização, a prevalência do princípio de menor contacto possível, além da operacionalização de um processo de triagem à entrada do centro de treinos e estágio. Os balneários colectivos não serão usados, tendo os jogadores, à sua disposição, quartos individuais, com casa de banho privativa, onde poderão equipar-se e tomar banho.
O cumprimento escrupuloso das normas e recomendações definidas pelas autoridades de saúde tem sido, e continuará a ser, o que norteia todas as decisões tomadas relativamente à actividade do Clube, incluindo, naturalmente, o Futebol Profissional.
É nosso desejo que as competições sejam terminadas, mas nunca transgredindo as regras definidas pelas autoridades para enfrentarmos esta pandemia.
Cabe-nos, por último, enaltecer o contributo social do Clube, no seu todo, neste período, através do próprio clube e SAD, da Fundação, das Casas do Benfica, dos colaboradores e, também, das suas equipas técnicas e atletas. No caso particular do futebol, orgulha-nos o empenho aos níveis da solidariedade, responsabilidade, profissionalismo e compromisso de jogadores e treinadores, destacando-se os contactos, à distância, com adeptos e as avultadas doações de alimentos e material e equipamento médico.
Desconhecemos ainda o que nos reserva o futuro próximo, mas estamos certos de que todos continuaremos a trabalhar afincadamente em prol do Sport Lisboa e Benfica.
#PeloBenfica

P.S.: Ao longo desta semana, sempre às 19h04, o nosso antigo jogador Ricardo Rocha tomará conta do Instagram Live do clube e convidará ex-colegas para conversas descontraídas à volta de jogos marcantes ao serviço do Benfica. A não perder!"

Benfica, FC Porto e o 25 de Abril

"Como bom Benfiquista que sou, não gosto nada do FC Porto. Mas mesmo nada. Mas mesmo, mesmo nada. Mas mesmo, mesmo, mesmo...bom, já passei a mensagem. Só que numa coisa eu tenho que os elogiar: são fortíssimos na comunicação. Seja na imprensa, seja nas redes sociais têm sempre diversos elementos a trabalharem para passar a mensagem (alguns chamariam de cartilha) que mais lhes convém. E a pintar a realidade de azul e branco. Uma das vertentes passa por desvalorizar e achincalhar tudo o que é vermelho. Para eles, o Benfica nunca ganha nada com mérito. Campeões em 2005? Estorilgate. Campeões em 2010? Campeonato do túnel. Campeões em 2014? Aqui a superioridade foi tal que nem se atreveram. Campeões em 2015? Já não me lembro, algo terá havido. Campeões em 2016? Campeonato da mala. Campeões em 2017? A culpa é do Benfica. Campeões em 2019? Campeonato do polvo.
Referi 7 campeonatos do Benfica. E os outros 30? Não há mérito também! Porque muitos foram conquistados antes do 25 de Abril de 1974. E eles já decidiram que o Benfica era o "clube do regime". Pouco interessa que o Benfica tenha sido censurado por ser os "vermelhos" ou ter como hino "Avante p'lo Benfica". Pouco importa que o FC Porto tenha inaugurado o seu estádio num 28 de Maio, em homenagem ao regime, e o Benfica a 1 de Dezembro, em homenagem à restauração da independência. Pouco importa que o Benfica tenha sido o único clube a manter eleições livres e democráticas. Pouco interessa que a FPF tenha obrigado o clube a jogar uma eliminatória da Taça de Portugal no dia a seguir à final da Taça dos Campeões Europeus de 1961. Pouco importa que a Selecção Nacional só tenha jogado pela primeira vez no Estádio da Luz em 1971. Pouco importa que o Benfica tenha tido presidentes comunistas e jogadores membros da resistência em Moçambique. Pouco importa que tirando a história desvirtuada de Inocêncio Calabote (num ano em que foram campeões), pouco mais tenham para apresentar. Pouco importa que o Benfica fosse o clube do coração da maioria dos Portugueses, na Europa ou em África.
A mensagem que tem que ser passada é que o Benfica ganhava muito antes de 1974, porque era apoiado pela ditadura e pouco ganhou depois, já que deixou de ter o apoio da mesma. Porque de outra maneira, como explicariam o embaraço do tal clube que está "a vencer desde 1893", ter chegado a 1983 com apenas 7 campeonatos? Então a realidade alternativa é criada: eles pouco venciam antes porque eram vítimas do sistema e muito ganharam entretanto porque são os "campeões da democracia". E porque são os campeões da democracia? Porque neste período venceram mais que os outros. Ou melhor, porque venceram mais que o Benfica. O que é verdade. Mas vendo os números a diferença não é tão significativa como tentam vender. Desde 1974 o FC Porto venceu 23 campeonatos. O Benfica 17. O FC Porto venceu 13 Taça de Portugal, o Benfica 11. E quanto às outras menores competições, se o FC Porto venceu 21 Supertaças e o Benfica apenas 8, o Benfica venceu 7 Taças da Liga e o FC Porto 0. Imagine-se o seguinte: da mesma maneira que o Benfica venceu 5 dos últimos 6 campeonatos, que vencerá 7 dos próximos 10 campeonatos. E que o Sporting ganha os outros 3 (ok, admito que esta é a parte mais difícil de imaginar). Ficaria o Benfica com 24 campeonatos no pós-25 de Abril e o FC Porto 23. Ou seja, passaria o Benfica a ser em 2030 o "campeão da democracia"? E ruiria assim toda a conversa do Benfica sofrer com a liberdade? Querem mesmo continuar dependentes dessa linha imaginária para a contagem de títulos? É que poderá vir um dia a mordê-los onde menos esperam (repito, a diferença já só é de 6 campeonatos)...
É que desmistifique-se outra lenda: o Benfica não parou de vencer em 25 de Abril de 1974. Sabem qual era a média de campeonatos do clube encarnado no fim da temporada 1973/74? 50%. Ou seja, o clube tinha tantos campeonatos como os outros clubes juntos. E 20 anos depois, em 1994 qual era a média? Adivinhem. Sim, 50%. Nos 20 anos seguintes ao 25 de Abril o Benfica continuou a vencer exactamente ao mesmo ritmo que antes. Depois sim, o clube caiu. E caiu porque havia eleições de 4 em 4 anos no país? Porque os jornais podiam escrever sem censura? Não. Caiu porque houve investimento desmedido nos anos 80. Porque houve Manuel Damásio. Porque houve Artur Jorge. Porque houve Vale e Azevedo. Nada a ver com a revolução dos cravos. O clube caiu porque os sócios escolheram maus presidentes, que por sua vez escolheram maus treinadores, que por sua vez escolheram maus jogadores. E quinze anos levou o clube a recuperar o seu lugar, mas já por lá andamos outra vez com regularidade.
E porque ganhou tanto o FC Porto? Porque nas ruas se pode criticar livremente o governo? Porque quem é da oposição já não vai para o Tarrafal? Não, o FC Porto muito ganhou porque apareceu José Maria Pedroto. Porque apareceu Pinto da Costa. Porque apareceu Futre. Porque apareceu Jardel. E sim, hão-de haver razões sociológicas: o país evoluiu no pós-25 de Abril, descentralizou-se e outras regiões do país, que não Lisboa, cresceram económica e futebolísticamente (tanto que actualmente a Liga de Clubes está sediada no Porto e 90% do campeonato é disputado no norte do país).
O 25 de Abril é uma data demasiado bonita para cair em clubismos. Para ser instrumentalizada por um clube que quer reescrever a História como lhe convém. 25 de Abril é para todos. Para os vermelhos, para os azuis, para os verdes, para todas as cores. Para todos os Portugueses.

Ps: Curiosamente, quem passa sempre pelos pingos da chuva neste ridículo debate é o Sporting. Que pós-25 de Abril só venceu 4 campeonatos. Num total de 18. Sim, 18. Já chega de reescrever a História."

Da Holanda, um sinal

"A temporada terminou sem que seja proclamado o vencedor do campeonato nem alteradas as classificações que se registavam a nove jornadas do seu termo.

Quando a dúvida atravessa ainda uma grande parte dos países da Europa, a Holanda acaba de tomar uma decisão radical, ficando apenas por se saber se, neste continente, virá a ter ou não outros seguidores.
Para os responsáveis federativos dos Países Baixos a temporada terminou sem que seja proclamado o vencedor do campeonato nem alteradas as classificações que se registavam a nove jornadas do seu termo. Pura e simplesmente, a temporada não existiu e por isso não fará parte da história.
Como principal justificação para esta tomada de posição foi apresentado o facto de não ser possível concluir a prova nas mesmas condições em que havia decorrido até à data da sua interrupção, uma realidade à qual não pode ser feita qualquer contestação.
Em Portugal pensa-se de forma contrária, como de resto tem sido propalado com insistência. Há apenas dúvidas quanto a datas precisas e modelos que permitam chegar ao fim da temporada sem atentar contra a verdade desportiva. E estes são aspectos que ainda continuam a merecer reflexão, embora haja uma parte substancial que não hesita em qualificar como necessário o cumprimento do calendário até ao fim.
Claro que no meio de tudo isto há uma forte razão, não desportiva mas sim financeira, que acabará por influenciar todas as decisões a tomar. Os clubes estão em estado de falência técnica, agravada com a paragem que decorre, e há que procurar uma saída para evitar o descalabro total. No entanto, pelo meio, será inevitável também a análise de outros factores, sobretudo de ordem sanitária, que poderão vir a constituir-se como elemento importante, quiçá decisivo.
A evolução da pandemia que nos atormenta a todos é ainda uma incógnita. E, por isso, há que dar algum tempo até se chegar a conclusões que satisfaçam todas as partes."

E se o futebol nacional acabasse?

"É sabido que 80% dos clubes profissionais (a principal e secundária ligas de Portugal) já se encontravam, antes de irromper a crise em que vivemos, em falência técnica. Perante este cenário, não se augura um futuro promissor para os clubes e ligas profissionais de futebol. Face à incapacidade de sobrevivência da grande maioria dos clubes profissionais, sem a intervenção da solidariedade da indústria do futebol, sobejarão os mais fortes financeiramente, que se estimam ser cerca de 5 a 6 clubes nacionais. Insuficientes para manter uma liga nacional.

Estamos há mais de um mês sem futebol. Com vontade de ir ver a bola ao café, para alimentar a nostalgia, no meio do zapping, revejo por minutos alguns lances dos grandes clássicos da primeira liga de futebol portuguesa e principais ligas europeias. Estes canais desportivos de sinal aberto, onde, agora, passa em diferido a história do futebol, têm, neste momento, maior relevância que os canais desportivos codificados. Estes, sem matéria para transmitir em directo, perante a invasão global do novo coronavírus, suspenderam abruptamente a relevância que vinham impondo. Mas, apesar da oferta de ouro para os tempos de hoje, não perco muito tempo com esta narrativa, uma vez que nunca gostei de rever partidas de futebol. E sigo com o zapping. A repetir, antes um filme que um jogo de futebol. O futebol só em directo na TV ou ao vivo no estádio, preferencialmente repleto de emoção e com assistência esgotada e ruidosa. 
Com a chegada da Peste e declarado o estado de medo, fecharam-se todas as portas. Inclusivamente as dos estádios. Não com o objectivo de ocultar a táctica e estratégia de jogo, mas para fintar um adversário comum, que favorece o individualismo, em detrimento do jogo colectivo. Os clubes profissionais carecem, naturalmente, de ajuda financeira. E privados momentaneamente de render, valorizar ou vender os seus activos, planeiam um recomeço à actividade desprovidos de receitas de bilheteira, de publicidade, de verbas provenientes dos direitos televisivos, de sócios pagantes e de jogadores com ritmo. É sabido que 80% dos clubes profissionais (a principal e secundária ligas de Portugal) já se encontravam, antes de irromper a crise em que vivemos, em falência técnica. Perante este cenário, não se augura um futuro promissor para os clubes e ligas profissionais de futebol. Face à incapacidade de sobrevivência da grande maioria dos clubes profissionais, sem a intervenção da solidariedade da indústria do futebol, sobejarão os mais fortes financeiramente, que se estimam ser cerca de 5 a 6 clubes nacionais. Insuficientes para manter uma liga nacional. Será que iremos assistir ao brotar de uma liga única europeia com a participação dos clubes profissionais sobreviventes? E a liga dos campeões, contará com a participação dos clubes profissionais do resto do mundo? As crises pandémica e económica irão, certamente, impor um ambiente moderno e globalizado no futebol."