quinta-feira, 23 de abril de 2020
Como imaginar o Benfica sem a Luz cheia ou o Tractor com o Yadegar-e-Eman vazio?
"O futebol nunca sobreviverá à ausência continuada de público, não só do ponto de vista financeiro, mas sobretudo do ponto de vista afectivo e emocional. É dessa força exterior que as equipas se alimentam e é do alento dos adeptos que dependem. Imagina-se uma equipa do Benfica sem a nação encarnada a apoiá-la no meu Estádio da Luz ou o Tractor existir sem os fervorosos e incríveis militantes que transformam o Yadegar-e-Emam num vulcão? Os adeptos são o motor dos clubes e, sem eles, estes deixam de fazer sentido.
Mas tenho de admitir que, nos próximos tempos destes tão estranhos tempos em que vivemos, a paixão propulsora do futebol tenha de ficar à porta dos estádios e sejam a televisão, a rádio, a internet e os jornais a levarem-nos até ao coração do espectáculo.
E há uma verdade que deve ser dita: a sociedade precisa, para os seus próprios equilíbrios emocionais, da adrenalina estimulante e do sentimento de pertença associados ao futebol. Faz-lhe falta a rivalidade a que se habituou e quer saber, para já, como vai ficar a classificação desta época desportiva, tão abruptamente suspensa quando caminhava a passos largos para o fim.
Quando tanta tem sido a especulação em torno de como deve ficar a classificação, para mim só pode haver uma verdade: a que nasce e se afirma dentro das quatro linhas. Assim haja condições e permissão das autoridades sanitárias, a verdade desportiva manda que os campeões sejam encontrados dentro de campo e nunca na secretaria.
Hoje ainda somos assaltados por dúvidas quanto ao tempo certo para o regresso aos treinos e à competição e há que ter consciência de que é preciso fazer mais do que decretar jogos à porta fechada e encontrar um acordo possível com os patrocinadores para que se possa falar em normalidade. Juntando aos pareceres incontornáveis das autoridades sanitárias, também os jogadores e as suas instituições de classe deverão ser ouvidos, pois serão eles a assumir uma posição na primeira linha do risco, numa modalidade em que o contacto físico é inevitável.
O futebol pode, como já vimos, vir a ter um papel relevante na normalização possível do nosso dia-a-dia neste mundo diferente em que estamos a entrar, mas também deve propor bons exemplos e boas práticas, como se tem visto, aliás, nas propostas responsáveis que têm chegado da FIFA, UEFA e FPF. É uma responsabilidade a que a modalidade mais popular do mundo não pode, nem deve, fugir.
Nesta fase é muito importante que não haja pressa e que se evitem regressos prematuros que possam redundar em retrocessos. E os portugueses, que têm dado fantástico exemplo de disciplina ao longo destes longos dias de confinamento, deverão saber esperar pelo tempo certo do regresso do futebol. Que, creio, não tardará.
Nunca, no meu tempo de vida, e já cá ando há 73 anos, me passou pela cabeça viver uma situação destas. Uma epidemia à escala global, daquelas que víamos às vezes no cinema, capaz de colocar em causa o nosso modo de vida e tornar-nos expostos e indefesos, em risco permanente. Às vezes penso no que está a acontecer e nem quero acreditar na volta que tudo isto levou, tal como o futebol que sempre me apaixonou.
Mas estes tempos de confinamento, em que a azáfama de tantos e tantos anos foi brutalmente cortada, permitiram-me alguns momentos de reflexão e de balanços de vida, que me têm ajudado a organizar as ideias.
E também, devo confessar, já devo ter visto, durante estas semanas, mais filmes e documentários do que durante toda a vida!
Tenho aproveitado o tempo que agora sobra para actualizar a minha base de dados de jogadores e ainda para rever e avaliar, segundo critérios de hoje, alguns jogos clássicos do passado, comparando comportamentos e formas de estar e percebendo, de forma cristalina, a evolução que a forma de jogar futebol tem tido ao longo dos anos.
O que mais desejo? O regresso à vida a que nos habituámos e com que agora sonhamos. Mas sei que vamos ter de nos contentar com aquilo que for compatível com os novos tempos, pelo menos até que seja descoberta uma vacina que possa libertar-nos deste inimigo invisível.
Faço votos. também, que o futebol regresse depressa e, logo que possível, com público a encher as bancadas. Porque, e termino como comecei, sem a paixão dos adeptos e a força que é transmitida de fora para dentro, o futebol faz pouco sentido."
Respostas do Benfica ao New York Times
"Tendo sido contactado pelo New York Times a propósito de uma notícia que estaria a fazer sobre o processo actualmente em curso envolvendo o hacker Rui Pinto – a que, importa realçar, o Sport Lisboa e Benfica é totalmente alheio, não tendo qualquer envolvimento, nem qualquer ligação, nem participação em qualquer qualidade –, entendemos tornar públicas na íntegra as questões e respostas que, em nosso nome, foram dadas pela equipa jurídica que representa o Clube...
- Deparei-me com uma apresentação de 49 páginas do Benfica que explica os objectivos do clube e um deles parece ser o de influenciar o ambiente externo. A página final é uma casa com o título "Casa Estratégica". O slide fala sobre como influenciar a federação, os órgãos políticos, os media e a comissão de arbitragem. Pode comentar este documento?
- O Benfica tem vários documentos e apresentações feitas pelos seus profissionais sobre as "Casas do Benfica". As "Casas do Benfica", se não tem conhecimento, são grupos organizados de apoiantes do Benfica, espalhados pelo mundo inteiro. Em nenhum dos documentos ou apresentações preparadas pelo Benfica, incluindo no que respeita às "Casas do Benfica", os profissionais do Benfica actuaram ou sugeriram quaisquer acções, que não fossem perfeitamente legais. O mesmo se aplica ao documento que refere, assumindo naturalmente que se trata de um documento que seja propriedade do Benfica.
- Algumas pessoas dizem que o Benfica tem uma influência pouco saudável nos órgãos de poder de Portugal. O que é que se diz a isto?
- "Algumas pessoas" dizem tudo o que querem em relação a qualquer questão que queiram – especificamente quando são "pessoas" escondidas atrás de cortinas de fumo. Há muitas "pessoas" que falam da influência pouco salutar das empresas norte-americanas e mesmo do seu governo sobre os negócios em países estrangeiros, como decisões políticas de outras nações soberanas (e vice-versa, como a Ucrânia). Como jornalista, é preciso saber a diferença entre alegações com objectivos noticiosos concretos e alegações evidentes de influências perniciosas nos órgãos de poder de qualquer país. As teorias da conspiração são o "alimento" diário da Internet, das redes sociais e, infelizmente, até de jornais de confiança e conceituados.
A primeira pergunta que alguém deve fazer é "quem" são as "algumas pessoas"? Os adversários do Benfica? Os adversários profissionais dos apoiantes de renome do Benfica? "Algumas pessoas" que querem ganhar campeonatos sem terem capacidade para o fazer, e assim usam todo o tipo de argumentos para falsamente reclamar contra o Benfica? E, também, aqueles que usam roubos, pirataria, que fazem campanhas de difamação, etc?
Não nos esqueçamos que para atacar o Benfica, o maior e mais competente clube de futebol de Portugal, alguém pagou a hackers/piratas e assaltantes para obter informações comerciais sigilosas. Se algo semelhante ocorrer nos EUA, as autoridades, como o Departamento de Justiça, FBI, e até órgãos políticos, etc., estariam a perseguir e a acusar os hackers, os assaltantes e os agentes de difamação.
Uma pergunta muito interessante, que alguém faria, seria também: porque é que uma Fundação norte-americana está tão interessada em suportar os custos da vida e da defesa de um hacker/criminoso? Será normal, e algo de que nos possamos orgulhar, que uma instituição legítima apoie actividades criminosas? O que diriam ou pensariam o Departamento de Justiça, o FBI e o Congresso dos EUA sobre uma instituição privada de renome norte-americano que financia criminosos ou actividades criminosas em todo o mundo?
- Processaram criminalmente Rui Pinto por ser a cara por trás do ataque ao Benfica?
- O Benfica procura justiça contra todos os criminosos que invadiram, assaltaram e insultaram esta instituição centenária. Infelizmente, mesmo para uma instituição como o Benfica, é muito difícil opor-se a pessoas que estão a ser financiadas (em circunstâncias muito suspeitas) por entidades sediadas no estrangeiro com a cooperação de grupos internacionais de hackers (e também de antigos políticos que estão a preparar a sua futura carreira política, já que se encontram fora de cena neste momento). Seria uma investigação muito interessante: quem e porque está, fora da Europa, a financiar atividades criminosas na Europa relacionadas com o futebol e outras instituições (por exemplo, económicas, industriais, políticas, etc.).
Quem sabe, um dia serão descobertas "ligações perigosas" entre algumas fundações privadas, jornais, políticos e jornalistas dos EUA e da Europa, com os ataques injustos que o Benfica tem vindo a sofrer. Mas, nesse momento, também serão divulgados os objectivos dessas campanhas, tais como a origem do dinheiro utilizado para esse fim. O jornalista que divulgar essa informação ganharia um Pulitzer.
- Algumas pessoas descrevem a influência do Benfica como sendo... a de um polvo com tentáculos que se estendem por muitos cantos do Estado Português e da cena futebolística. Como descreveria esta metáfora?
- Algumas investigações judiciais e decisões do Tribunal (e não "algumas pessoas", como mais uma vez diz na sua pergunta) já demonstraram e decidiram onde está o polvo, quem é o polvo e porque é que alguns clubes rivais do Benfica estão tão preocupados em derrotar o Benfica fora das competições desportivas... uma vez que não estão à altura para competir desportivamente contra o Benfica, tentam ao máximo atacar com falsas acusações.
Quantos adeptos do FC Porto e do Sporting (ou de outros clubes) e suas direcções têm posições importantes no panorama do futebol e ocupam posições muito importantes nos órgãos governamentais, administrativos e judiciais portugueses? Quantos deputados, ministros, governadores, presidentes de câmara, presidentes de instituições públicas, directores de empresas públicas, juízes e procuradores são adeptos de outros clubes de futebol? Existe alguma estatística à sua disposição para comparar e colocar essa questão?
Quando é que a preocupação com as "guerras do futebol português" começou a suscitar tal interesse junto do público geral nos EUA, das fundações, das pessoas e dos jornais? Vende realmente jornais (ou garante likes) entre os seus leitores? Quando é que a alegada "influência pouco saudável" do Benfica na sociedade portuguesa começou a estar sob os holofotes dos leitores do NYT?
- Numa assembleia geral, um membro do clube foi apanhado em filme a criticar a forma como o clube era gerido e todas as alegações que enfrentava. Ele foi aparentemente atacado pelo presidente do clube, Luís Filipe Vieira. Quer comentar esse episódio?
- Em todos os grandes clubes desportivos do mundo, quando falamos de instituições centenárias que suscitam a paixão e os sonhos de milhões de pessoas em todo o planeta, é habitual as assembleias gerais serem vívidas, apaixonadas e até dramáticas. Os prós e os contras típicos da política também ocorrem nestes clubes especiais. Só quem não tem conhecimento absoluto da paixão que o futebol desperta (típica de países onde o futebol quase não tem relevância), pode achar estranho que numa Assembleia Geral ocorra algum exagero verbal. Não foi a primeira vez e supomos que não será a última. Não só no Benfica. Também, noutros clubes, durante a Assembleia Geral, as forças policiais são chamadas para garantir a vida e a integridade física dos directores. Não foi esse o caso durante o episódio referido na sua pergunta.
- Um ex-funcionário do clube, Paulo Gonçalves, foi acusado de subornar um funcionário do Ministério da Justiça para obter informações sobre casos que possam implicar o Benfica. Acha que ele estava a representar o Benfica? O Benfica ainda faz negócios com o Sr. Gonçalves?
- Em primeiro lugar, não há qualquer referência a nenhum funcionário do Ministério da Justiça. Com certeza que a informação que recebeu não é exacta e correta, foi-lhe dada uma tradução enganosa. No processo judicial, foi um oficial de justiça auxiliar que foi acusado. Não foi um funcionário do Ministério da Justiça. Em segundo lugar, o Sr. Gonçalves também não era administrador da SAD do Clube, conforme decisão dos Tribunais confirmada duas vezes por dois Tribunais diferentes.
Em terceiro lugar, e estranhamente, a sua informação sobre a existência e o resultado deste processo penal está bastante atrasada no tempo – estranharíamos um tal nível de "desconhecimento" sobre o que aconteceu. Todos os meios de comunicação social (alguns internacionais) espalharam a notícia há mais de um ano, o que torna a sua pergunta anacrónica: foi provado num tribunal de 1.ª Instância e confirmado num Tribunal de recurso, que o Benfica não tinha, nem tem, interesse na influência sobre os actos desse trabalhador de um pequeno tribunal numa pequena cidade do interior de Portugal. E, também, nenhum interesse, poder ou influência sobre a vida privada do Sr. Gonçalves (quem são os seus amigos, colegas, contactos, etc.).
Tanta informação em falta por trás desta questão (especialmente vinda de um jornalista tão importante e bem informado) não é facilmente compreensível."
PS: Este Tariq Panja tem repetido artigos encomendados no NYT, uns atrás dos outros, usando sempre a mesma retórica, copiada das versões mais anti-benfiquistas que se encontram em qualquer tasca!!! É pena que o jornal da reputação do NYT dê voz a tanta incompetência!!! Nas minhas investigações, pareceu-me que este senhor foi colega de um ex-jornalista português (agora trabalha como relações públicas no Grupo Cofina!!!), e muito provavelmente esse 'amigo' continua a ser a fonte da desinformação...
O Benfica não deverá ficar à espera do próximo artigo do NYT escrito por este senhor, o Benfica deveria convidar o NYT a visitar o Estádio da Luz, outro jornalista se possível, e explicar tudo... Este tipo de respostas não é suficiente...
Mensagem da capitã do Hóquei em Patins, Marlene Sousa
"O desporto traz ensinamentos para a vida e foi também através dele que hoje encaro este momento difícil de uma forma mais positiva. Com o desporto aprendi a ver o lado bom de cada situação. Quando perdemos, podemos aprender e, quando ganhamos, podemos sempre melhorar.
Ainda assim, a vida não pára. É um momento de adaptação e de criatividade (não estou nada habituada a estar em casa tanto tempo).
Tal como no desporto, em que todos os segundos contam e por isso mesmo tenho aproveitado para treinar e manter a forma física, continuo, enquanto Professora Universitária, a planear e a realizar aulas à distância, continuo a manter contacto com quem mais gosto através das redes sociais, tenho aproveitado também para reviver velhos tempos e desfrutar de outra arte que é a música, juntamente com os meus pais, no mini estúdio que temos em casa.
Acima de tudo, apelo à responsabilidade de todos, sigam rigorosamente as instruções da DGS, não corram riscos nem ponham os outros em risco, sejam solidários.
E não se esqueçam de que nada do que temos é garantido porque, de um momento para o outro, tudo pode mudar!
Felicidades a todos, em especial à Família Benfiquista, de quem já tenho muitas saudades.
Marlene Sousa
P.S.: Chamamos a atenção para a entrevista, hoje às 17 horas, na BTV, a Domingos Soares de Oliveira, motivada pela operação de reembolso, prevista até amanhã, 24 de Abril, do empréstimo obrigacionista lançado em 2017."
Também já me cheirou a relva!
"Foi no regresso ao trabalho, na última segunda-feira. Os jogadores do Sporting voltaram à academia para treinos individuais. Ainda que do lado de fora, eu e o meu colega e amigo Carlos Rodrigues, lá os fomos vendo passar, à porta da academia leonina. Acredito que a ansiedade seria muita. Os jogadores precisam do cheiro da relva, de sentir o “gramado”, como dizem os brasileiros, de voltar a calçar umas botas.
Treinar em casa, mesmo que a de muitos jogadores tenha um jardim, nunca será a mesma coisa. E é por isso que Nacional e Sporting avançaram com este método. Parece que o Sporting de Braga estará a pensar no mesmo, ainda que o presidente do Marítimo seja contra: Carlos Pereira chamou espertos aos responsáveis dos dois clubes, afirmando que estão a desrespeitar o estado de emergência. Vejamos o caminho que seguirão os outros.
O presidente do Sindicato de Jogadores também queria os clubes reunidos, em torno de um regresso consensual. Eu por mim, e creio que como a grande maioria, prefiro esperar até que todas as condições essenciais, estejam asseguradas. O futebol, em Portugal, ainda vai ter de esperar.
Lá por fora as opiniões dividem-se e as decisões, seguem algumas, em sentido contrário. Na Alemanha há autorização superior para o regresso dos principais campeonatos a 9 de maio. As propostas apresentadas deixaram garantias aos responsáveis governamentais, mas claro que os jogos serão todos à porta fechada. O futebol não é isto, mas para já, não dá para mais.
Já na Holanda é quase garantido que o campeonato não vai ser retomado. O governo proibiu a realização de eventos públicos até ao dia 1 de Setembro, e assim sendo não haverá tempo para a conclusão da “Eredivisie”. A federação holandesa tem em mãos um problema, e vai comunicá-lo à UEFA. Já sabemos que o organismo máximo do futebol europeu não gosta de ingerências governamentais, mas neste caso não sei se não estará de mãos atadas.
O que se depreende destes dois exemplos antagónicos, é que a UEFA tem um grande problema em mãos. Desta vez, não sei se as suas decisões serão capazes de se sobrepor às decisões governamentais. E como, ao que parece, cada cabeça, sua sentença, não sei onde isto vai parar. Ou quando vai o futebol começar."
Um Belenenses-Benfica para a Taça de Portugal, com golo de Reinaldo, que marcou o sonho de um adolescente
"O actual treinador dos Jeonbok Motors, da Coreia do Sul, ainda hoje se lembra da multidão que enchia o estádio do Restelo naquele domingo de maio de 1981, em que ficou atrás da baliza, a ver o Tejo. A memória agarrou-se à emoção e ao sonho, muito mais do que às jogadas ou ao golo. Porque os sonhos correm o risco de se tornarem realidade... ou quase.
Há um jogo que me ficou sempre marcado na memória, não tanto pelo jogo em si, mas por toda a envolvência e o que significou para mim. Foi um Belenenses-Benfica, para a Taça de Portugal, em 1981 [meias-finais, a 10 de maio de 1981], em que o Benfica ganhou 1-0, com golo do Reinaldo, aquele que depois andou nas bocas do mundo por causa de um suposto problema com uma das Doce.
Eu tinha 15 anos, já jogava futebol em Leiria e era benfiquista. Um dia o meu tio emprestado (que me criou) e era adepto do Belenenses, chegou-se ao pé de mim e disse: “Zé, vamos a Lisboa ver o Belenenses que joga com o Benfica para um jogo da Taça”.
Como benfiquista e jogador de futebol em início de carreira, fiquei logo excitado com a ideia. Afinal era a primeira vez que ia ver um jogo ao vivo, fora de Leiria. Ainda por cima um jogo daquela categoria, do Benfica. Eu que só ouvia os relatos na rádio e via jogos pela televisão.
Recordo que tivemos de deixar o carro lá em cima, no Restelo, e viemos a pé até ao estádio. Ficámos atrás da baliza, aquela de onde se tem uma vista incrível para o rio Tejo.
Como disse, do jogo propriamente dito pouco me lembro, mas ainda hoje tenho presente aquela emoção de estar ali, num estádio grande com tanta gente, com tantos adeptos do Belenenses e do Benfica. Lembro-me de olhar para dentro de campo e ver uma data de ídolos, o Chalana, o Humberto Coelho, o Nené, de quem o meu tio costumava dizer que não sujava os calções a jogar, o Shéu, o Pietra, o "Luvas Pretas" [João Alves]... É engraçado porque eu na brincadeira comecei a usar luvas pretas nos treinos.
Vivi aquele jogo emocionado, como se estivesse lá dentro com eles, porque no fundo era com isso que eu sonhava, em jogar no Benfica, em poder um dia estar com aquelas estrelas.
E este jogo marca-me porque foi o primeiro que vi ao vivo do Benfica, ainda por cima fora de Leiria, na capital, mas sobretudo porque de uma maneira ou de outra o meu sonho acabou por tornar-se um bocadinho realidade. Nunca fui jogador do Benfica, embora curiosamente uns anos mais tarde ainda tenha feito uma pré-época, no Penafiel, com o Djão e o Alexandre Alhinho, que naquele dia jogaram pelo Belenenses; mas acabei por ser treinador da formação do Benfica e quem me fez a entrevista até foi o Nené.
Ou seja, de uma certa forma vivi o sonho que tinha quando fui ver aquele jogo, porque privei com quase todas aquelas personagens que estavam ali e tornei-me amigo de alguns deles. Eu hoje sou muito amigo do Humberto Coelho, trabalhei com o Bastos Lopes, o Nené, o Chalana, o Zé Luís, todos esses que estavam lá naquele dia.
É esta a mensagem que fica daquele jogo: sonha e acredita, nunca deixes de acreditar, porque por obra do destino a tua vida pode levar-te a viver esse sonho ou algo muito parecido."
Euro'2000. Às tantas, com Portugal a perder por dois, Humberto disse a Rui Caçador: “Vamos ganhar isto”. Ele lá sabia
"A 12 de Junho do ano que virou o século, no estádio do PSV, em Eindhoven, Portugal abriu o Europeu com uma reviravolta no resultado, depois de estar a perder por 2-0. Um jogo que Humberto Coelho sabia desde o início que íamos ganhar e que não esquece pela beleza do espectáculo a que assistiu.
Um jogo que ficou para sempre gravado bem fundo na minha memória é o Portugal-Inglaterra do Euro 2000, em que eu era o seleccionador nacional. Não só pela qualidade do jogo e a beleza do espectáculo, mas também pela atitude, persistência, abnegação e entrega dos jogadores, que fez com que conseguíssemos dar a volta ao resultado, quando estamos a perder 2-0 aos 18 minutos e acabamos por ganhar 3-2.
Todas essas situações que surgem num jogo de futebol e que às vezes não dão certo mas daquela vez deu, porque jogámos melhor, fizemos um bom jogo e, quando se joga bem, geralmente tem-se mais hipótese de ganhar.
Quando sofremos o segundo golo disse ao meu adjunto, o Rui Caçador, que se não sofrêssemos o terceiro golo íamos ganhar o jogo. Porquê? Porque nós sofremos dois golos contra a corrente do jogo, estávamos a jogar bem, tínhamos criado situações de golo. Os ingleses tiveram mais sorte e marcaram, mas o que é certo é que o jogo estava muito equilibrado e nós estávamos a jogar bem. E com essa visão, fiquei com a ideia de que com 2-0, se marcássemos ficávamos por cima. Se estivéssemos a perder 3-0 seria mais difícil, agora quando uma equipa está a ganhar 2-0 e sofre um golo, geralmente vai-se abaixo. E foi isso que aconteceu. Continuamos a jogar de uma forma fluída, um futebol de transição ofensiva.
O golo do Figo foi importantíssimo, não só porque é um grande golo, como pelo que se seguiu. O golo do João Pinto que é uma jogada em que estivemos 52 segundos com a bola em nosso poder e depois finalizámos com um lance e uma execução técnica excepcional.
Terceiro golo, Nuno Gomes.
Foi um jogo memorável. Ainda hoje encontro pessoas que me dizem que esse é o jogo que guardam na memória. Porque não foi só dar a volta a um resultado negativo, mas foi dar a volta sempre a jogar bem.
Sempre acreditei que ia ganhar esse jogo, porque quando entramos em campo estávamos a jogar bem, criamos várias situações de golo. Lembro-me de uma do João Pinto por exemplo, de cabeça, em que a bola passou por cima da barra, a dois metros da baliza. E podia dar outros exemplos. Os dois golos dos ingleses aconteceram porque cometemos dois erros defensivos, mas nesse momento podíamos também já estar a ganhar ou empatados.
Foi também um jogo memorável por ser num Campeonato da Europa, ser o primeiro jogo e levou-nos às meias-finais.
Eu a e equipa técnica preparamos o jogo bem, os jogadores estavam bem física e mentalmente e por isso conseguiram dar a volta, porque também estavam confortáveis com as indicações de que demos. Ao intervalo disse-lhes que estávamos na mó de cima, que éramos superiores a eles, e para continuarem a jogar da mesma forma.
Os ingleses tiveram algumas situações em que podiam ter marcado, mas senti a equipa com confiança para segurar a vitória. Claro está que tivemos sorte também porque os ingleses começaram a atirar a bola muito por cima, a pingar muito a bola para a área, e eles são bons de cabeça. Tivemos algumas situações aflitivas mas estivemos bem na defesa, compactos e determinados. A entrada do Beto para terceiro central foi uma arma que também ajudou e que teve sucesso."
Vamos todos ficar bem. Será?
"Desde o início da pandemia de covid-19 os portugueses multiplicaram-se (e bem!) num conjunto de iniciativas de solidariedade, com o intuito de diminuir o impacto negativo que pudesse atingir o nosso país. Da ajuda comunitária entre vizinhos ao apoio aos mais frágeis ou à confecção caseira de máscaras de protecção, de tudo um pouco se tem visto confirmando, uma vez mais, a capacidade que a generalidade das pessoas tem para, em contexto de crise, dizer “estou aqui”.
Este, de resto, é claramente um traço do DNA dos portugueses – e ainda bem.
Contudo, agora que, de alguma forma, os portugueses vislumbram o final de um estado de emergência que os limitou na sua liberdade de movimentos (entre outras “liberdades”), começa-se a instalar alguma “ansiedade de normalidade”. Mas que “normalidade” será esta?
Vamos Todos Ficar Bem?
Depende. Depende, acima de tudo, de definir claramente o que quer dizer este “ficar bem” – será voltar à normalidade conhecida, vivida pré-covid-19?
É porque, se for o desejo dos portugueses, voltar ao que era... não será certamente “ficar bem” – porque “bem”, não estávamos de facto. Num rápido relance sobre a sociedade que “éramos”, facilmente identificamos indicadores de um gravíssimo isolamento social – não imposto externamente, mas auto imposto nas escolhas repetidas dia após dia (ou não fossem, por exemplo, as redes sociais um mero “paliativo” para quem desconhece, em si mesmo, a capacidade para estar, de facto, com o “Outro”).
Identificamos, também, um enorme vazio emocional que se expressava através de um conjunto de actividades indiscriminadas, cuja principal função se prendia ou com a anestesia emocional (ex: séries e mais séries em catadupa até nos arrastarmos para a cama) ou com picos de adrenalina que, as gerações mais recentes, aprenderam a designar de “felicidade” (e não o é, de todo).
Estávamos isolados, anestesiados, desconectados de nós próprios, do Outro e do Mundo (enfim, da Comunidade em geral).
Uma Pausa Necessária
Não por causa do Covid-19, mas porque estávamos sem qualquer capacidade para travar este imenso rodopio em que nos encontrávamos enquanto pessoas e comunidade.
O período de isolamento social, imposto pela aplicação da medida de “estado de emergência”, trouxe a muitos portugueses (não todos, seja porque nem todos tiveram a oportunidade de parar, para garantir a subsistência das famílias e do país, seja porque o respeito pela medida de estado de emergência foi q.b.), uma oportunidade para, senão parar, pelo menos abrandar e reduzir os “automatismos” que nos empurram para um quotidiano onde, de consciente e voluntário, temos muito pouco.
Importa, por isso, fazer uso disso mesmo – da paragem. Parar para avaliar, parar para sentir em que medida a nossa vida corresponde ao que desenhámos para ela. Parar para redefinir quem somos como indivíduos, famílias, amigos ou membros de uma Comunidade.
Curiosamente, sente-se uma espécie de esperança no ar de que esta paragem, por si própria, possa ter trazido um nível de consciência diferente aos portugueses e, com ele, uma vontade de fazer diferente.
Discordo.
Temos memória curta. Mesmo em isolamento social, basta um raio de sol para encher as ruas de uma qualquer marginal – um raio de sol é razão suficiente para, de forma inconsciente, colocar em risco a vida do 1º andar...
Não vai ficar “tudo bem”. Não vamos ser “melhores” apenas e só porque estamos a vivenciar, em conjunto, este período inusitado da nossa história. Vai ficar tudo bem quando escolhermos consciência, quando entendermos que quando defendemos o outro nos defendemos a nós, enfim, vai ficar tudo bem quando, de facto, nos importarmos com o “outro” (e com a Comunidade onde nos inserimos) numa base diária e não “apenas” quando surge uma “crise” que pode bater à nossa porta.
Vai ficar tudo bem quando as nossas escolhas, as nossas ações (uma atrás da outra) evidenciarem que de facto queremos mesmo que fique tudo bem."
Carta do Presidente aos sócios
"Caras e caros Benfiquistas,
A minha primeira palavra é para expressar o meu voto sincero de que esteja tudo bem consigo e com a sua família nestes tempos difíceis e infelizmente dolorosos para muitos dos nossos associados e compatriotas.
Todos sabemos como esta epidemia tem trazido luto e sofrimento a muitas famílias e lares no nosso país e no resto do mundo. A todos neste momento de dor e de recolhimento quero deixar um voto de apoio, de afecto e de solidariedade benfiquista.
Desde a primeira hora o Benfica associou-se a todas as medidas e iniciativas sugeridas pelas entidades oficiais e disponibilizou-se para ajudar no combate a esta pandemia global na medida dos seus recursos e capacidades.
Tal como em todos os domínios da sociedade e da economia também o Benfica, o nosso clube, foi seriamente afectado nas suas actividades normais e diárias.
Suspendemos todas as actividades desportivas e adoptámos todas as medidas recomendadas pelas autoridades sanitárias para proteger os trabalhadores, os atletas e todos quantos diariamente contribuem com talento e dedicação para manter este clube à altura da sua história, dos seus valores e da ambição dos seus associados.
Caros associados e Benfiquistas,
A mensagem que quero deixar-vos é a de que apesar de todas as dificuldades que vivemos, o Benfica está e estará sempre disponível, como é seu timbre, para manter uma forte ligação com todos os sócios e simpatizantes.
Contem connosco, contactem-nos, e estaremos aqui para, dentro das nossas possibilidades, vos apoiarmos para ultrapassar esta fase difícil. Estamos aqui, e vamos continuar por aqui, ao serviço do Clube porque queremos, nestes tempos difíceis para todos, reforçar a nossa ligação aos sócios que são a alma deste clube.
Quero também deixar uma mensagem de profundo apreço, pela forma como as Casas do Benfica procuram enfrentar estes momentos difíceis e dão provas de exemplar solidariedade com as suas comunidades locais.
Uma palavra ainda para prestar homenagem e expressar o agradecimento do Benfica a todos os profissionais que, diariamente, e com verdadeiro espírito de solidariedade, de entreajuda e de sacrifício têm estado na linha de frente do combate à pandemia e no apoio às famílias portuguesas.
O Benfica revê-se no vosso exemplo de coragem, de dedicação e de solidariedade.
Caros associados e caros Benfiquistas,
Os resultados do trabalho realizado ao longo destes anos permitem-nos enfrentar com confiança, segurança, determinação e esperança as dificuldades que nos esperam.
Já demos provas disso no passado, será assim no futuro.
Todos sonhamos com o regresso à normalidade, à emoção dos golos ou aos reencontros daquele sentir único que nos faz diferentes.
Estou certo que em breve voltaremos a estar próximos, a encher estádios e pavilhões, a vibrar com o trabalho das nossas equipas e dos atletas e a sentir a alma benfiquista e a nossa mística.
Voltaremos em breve a festejar no Marquês!
Sei bem como nos momentos difíceis os sócios e os benfiquistas sempre souberam reforçar o seu amor e a sua ligação ao clube. O meu voto é que saibamos manter viva a esperança de que o País vencerá esta pandemia global e cruel.
Com confiança, com espírito de entreajuda e com o compromisso de todos, estou certo de que Portugal e os portugueses saberão vencer esta crise.
Em nome do Benfica deixo um voto de saúde e de solidariedade a todas as famílias benfiquistas e a todas as famílias portuguesas.
Como disse, e repito, nesta batalha que estamos a enfrentar, só existe um clube e só existe um desígnio, cuidarmos uns dos outros e salvaguardar vidas humanas.
Juntos, vamos conseguir!
Com um abraço de amizade,
Luís Filipe Vieira"
NASA
"1. Adorei a justificação de Salgado Zenha para o Sporting não ter começado a pagar Rúben Amorim: medida de «gestão séria», depois vê-se. Vou comprar um Ferrari e fazer o mesmo.
2. Entretanto, o Sport Recife falhou o pagamento ao Sporting por André (€1,2M) e arrisca castigo da FIFA. Como diria Salgado Zenha, «é absolutamente ridículo falar-se em atrasos de pagamentos no contexto actual».
3. O Nacional teve pressa em voltar aos treinos porque está para subir. Tiago Pinto diz que os campeões se decidem no campo porque o Benfica está em 2.º. É o vírus da hipocrisia. Ainda há quem pense que isso vai mudar...
4. Mais vale futebol à porta fechada do que futebol com porta fechada, mas alerto que jogos sem público são como contratações a custo zero: forças de expressão. Implicam muita gente e muito dinheiro, respectivamente.
5. Um virologista belga propôs que os jogadores actuem de máscara. Os jogos de futebol ficariam cada vez mais parecidos com algumas cenas de Star Wars. E com cyber-treinos, videoconferências e campeões virtuais, não tarda que a NASA substitua a FIFA.
6. Os VAR terão de usar máscara, isso é certo, mas para alguns é só puxar a venda dos olhos mais para baixo.
7. Sei que os tempos são difíceis, mas deixo um conselho ao futebol através de Mary Schmich do Chicago Tribune, em 1997: «Não desfies demasiado o teu cabelo ou quando tiveres 40 anos vai parecer que tens 85...»
8. Kingsley Coman foi multado pelo Bayern porque foi para o treino com um McLaren 720 S quando está obrigado a ir de Audi. Há vidas difíceis.
9. Em época de isolamento, João Félix juntou alguns amigos, chamou um chef para servir o jantar em sua casa e partilhou o momento nas redes sociais. Neymar não faria melhor.
10. Salgado Zenha sobre Rafael Leão: «Queremos receber o mais rápido possível (€16,5M). É mais um caso de beneficiar o infractor». Desculpe?"
Gonçalo Guimarães, in A Bola