Abalo económico mudará o futebol

"É expectável, segundo previsões consensuais, que os países sofram, por culpa da pandemia, um fortíssimo impacto negativo na economia, mas que consigam reagir com alguma rapidez. Mário Centeno, o ministro das Finanças de Portugal, admitia que, ao fim de dois sócios, e se tudo correr sem mais perturbações, o nosso país possa fazer-se regressar à situação que vivia em 2019.
No entanto, nem todos os sectores de actividade poderão ter o mesmo ritmo de recuperação económica. O turismo, por exemplo, não terá sinais muito significativos de retoma antes que seja encontrada uma solução definitiva, como uma vacina suficientemente eficaz, ou um medicamento fiável. Daí que as companhias de aviação, os hotéis, todo o sector da restauração recomecem a recuperação mais tarde, o que implicará que algumas dessas empresas não sobrevivam.
Ora, o futebol é, também, um dos sectores mais atingidos, não sendo alarmismo prever a falência de clubes, inclusive, clubes históricos. A propósito, Miguel Poiares Maduro deu uma interessante entrevista ao Jornal Económico, onde alertava para a situação de grave risco em que vive o futebol, em particular em Portugal, cuja economia estava longe de ser forte e, agora, se tornará perigosamente frágil.
É, assim, urgente, dentro de condicionalismos definidos pelas autoridades de saúde pública, o regresso da competição. Mesmo sem público nos estádios, criando um mínimo de oportunidades de receitas que, aliás, de tão escassas, obrigarão a uma revolução estrutural para evitar um colossal desequilíbrio e o brutal desabamento do modelo competitivo vigente."

Vítor Serpa, in A Bola

Que jogos devo rever nesta Quarentena? Club Atlético Madrid 1-2 SL Benfica

"Na noite de 20 de Setembro de 2015, às 19h45, jogava-se, no Vicente Calderón, a segunda jornada da fase de grupos do Grupo C da Liga dos Campeões, que opunha o Club Atlético Madrid e o SL Benfica. Os comandados de Rui Vitória tinham uma tarefa hercúlea pela frente, visto que os colchoneros não perdiam um jogo europeu em casa desde 2009.
Ambas as equipas tinham ganho na jornada inaugural, pelo que uma vitória significava a liderança isolada do grupo. Os rojiblancos começaram a partida apresentando um 4-4-2 tradicional muito pressionante, tentando, com Correa e Jackson Martinez, condicionar ao máximo a saída de bola das “águias”.
A estratégia estava a funcionar, já que os encarnados estavam a ter dificuldades em sair do seu meio campo defensivo com a bola controlada, sendo que a dupla de médios escolhida por Rui Vitória, Samaris e André Almeida, não permitia que, na falta de opções de passe, fosse feita progressão em corrida com a bola controlada – aspeto que foi colmatado mais tarde nessa época com a entrada de Renato Sanches na equipa.
Após 23 minutos de uma grande disputa a meio campo, onde o m2 estava cada vez mais caro, eis que chega o primeiro golo da partida. Após um cruzamento de Juanfran a partir da direita, Griezmann devolve de primeira a Correa, que faz abanar as redes de Júlio César. Estava inaugurado o marcador, sendo que o cenário complicava-se para as “águias”.
No entanto, e apenas 13 minutos mais tarde, surgia a resposta encarnada. Num ataque fulminante pela direita, Nélson Semedo apanha os colchoneros desprevenidos e, na recarga do seu cruzamento, Nico Gaitán aparece para restabelecer a igualdade no marcador, levando os mais de três mil benfiquistas presentes nas bancadas à loucura. Chegava o intervalo, e as equipas iam para o balneário empatadas. 
A segunda parte arrancou e, apenas seis minutos depois do apito de Gianluca Rocchi, acontecia o impensável: a remontada encarnada em pleno Calderón. Numa saída rápida para o ataque por Gaitán, este descobre Gonçalo Guedes, que, já em esforço, consegue desviar a bola para o canto inferior direito da baliza de Oblak, silenciando por completo os adeptos madrilenos.
O marcador iria manter-se inalterado té ao final da partida, apesar das inúmeras tentativas por parte dos rojiblancos. Destaca-se a defesa de Júlio César, que, aos 58’, nega o golo a Jackson Martínez, levando Diego Simeone ao desespero.
Numa noite de glória europeia, fazendo lembrar os velhos tempos em que a “águia” voava alto internacionalmente, os encarnados saíam da capital espanhola na liderança isolada do grupo C.

Link do jogo: https://footballia.net/matches/atletico-de-madrid-sl-benfica

Onzes Iniciais e Substituições
Club Atlético de Madrid (4-4-2) – Oblak; Juanfran, Godín, Giménez e Filipe Luís; Griezmann (Vietto,71’), Tiago, Gabi e Óliver Torres (Saúl, 63’); Correa (Fernando Torres, 77´) e Jackson.
SL Benfica (4-4-2) – Júlio César; Nélson Semedo, Luisão, Jardel e Eliseu; Guedes, André Almeida, Samaris (Fejsa, 73’) e Gaitán; Jonas (Pizzi, 80’) e Raúl (Mitroglou, 72’)."

Euro 96 | A competição que abriu as portas à Geração de Ouro

"O Euro 96 foi o primeiro Europeu que contou com a participação de 16 equipas, o que abriu as portas a muitas selecções que possuíam equipas de qualidade, mas que não tinham tido muitas oportunidades de se mostrarem neste patamar.
Entre estas selecções, estava a equipas das quinas desejosa por dar a conhecer a sua Geração de Ouro ao mais alto nível internacional. Depois dos títulos mundiais de juniores e do vice-campeonato europeu de sub-21 em 1994, chegaria então a oportunidade da Geração de Ouro se destacar internacionalmente a nível sénior.
A selecção nacional conseguiu a qualificação para o Europeu disputado em Inglaterra depois de na Fase de qualificação terem sido líderes do seu grupo à frente da República da Irlanda, Irlanda do Norte, Áustria, Letónia e Lichenstein. Para a competição, quis o destino que Portugal calhasse no grupo A, juntamente com a Dinamarca, Croácia e Turquia.
A Dinamarca era então a campeã europeia, e mantinha boa parte da sua espinha dorsal, mais a referência Michael Laudrup, que não tinha estado presente na conquista de 1992; como tal, partia para Inglaterra com uma reputação a manter. A Croácia, apesar de se estrear nestas andanças, tinha uma equipas de respeito, que contava com alguns jogadores que foram campeões mundiais de juniores pela antiga Jugoslávia em 1987. Portanto, não se avizinhava fácil a tarefa para a equipa das quinas.
O seleccionador nacional António Oliveira escolheu os seguintes 22 jogadores para jogar no Europeu:
Guarda-redes: Vítor Baía, Alfredo e Rui Correia
Defesas: Secretário, Fernando Couto, Dimas, Hélder e Paulo Madeira
Médios: Paulinho Santos, Oceano, José Tavares, Vítor Paneira, Rui Costa, Pedro Barbosa, Porfírio, António Folha, Paulo Sousa e Luís Figo
Avançados: João Pinto, Sá Pinto, Jorge Cadete e Domingos Paciência
A equipa das quinas iria iniciar logo a competição a jogar contra a campeã europeia Dinamarca. Num jogo bastante equilibrado, a selecção nórdica adiantar-se-ia no marcador por intermédio de Brian Laudrup, mas já na segunda parte, a selecção nacional igualou o marcador após um cabeceamento de Sá Pinto. O empate a uma bola verificado no final seria um resultado positivo face à diferença de experiência entre ambas as equipas.
O segundo jogo seria contra a também estreante Turquia, que também contava com uma nova geração de talentos que contava com nomes como o guarda-redes Rustu e o ponta-de-lança Hakan Suker. Em mais um jogo equilibrado, Portugal conseguiria o golo decisivo já na segunda parte através de um remate fantástico de Fernando Couto. A vitória frente aos otomanos deixaria a equipa das quinas a um ponto do apuramento.
O último jogo da Fase de Grupos seria contra a já apurada Croácia, que depois de ter ganho os dois primeiros jogos, apresentou-se contra Portugal com uma equipa de segundas linhas. Luís Figo inaugurou o marcador logo a abrir e João Vieira Pinto fez o 2-0 ainda na primeira parte. A selecção dos Balcãs procurou inverter o rumo dos acontecimentos fazendo entrar Suker e Boban na segunda parte, mas a Domingos Paciência daria a machadada final após uma jogada de contra-ataque. Vitória por 3-0 e primeiro lugar do grupo garantido.
Seguir-se-ia a República Checa, que conseguiu o apuramento in-extremis após um empate contra a Rússia conseguido a dois minutos do fim. Tal como Portugal, a selecção checa possuía uma geração de talentos que procurava afirmar-se no panorama internacional composta por nomes como Pavel Nedved, Karel Poborsky, Vladimir Smicer e Patrick Berger.
No jogo disputado em Birmingham, a equipa das quinas foi superior na primeira parte e podia estar em vantagem ao intervalo, mas na segunda parte, Karel Poborsky aproveitou o ressalto da bola em Oceano e Paulo Sousa e aplicou um chapéu de belo efeito a Vítor Baía. A equipa das quinas ainda procurou reagir, fazendo entrar Domingos Paciência e Jorge Cadete e ainda beneficiou de alguns minutos em vantagem numérica, mas não conseguiria colocar a bola no fundo das redes.
Seria o fim da caminhada em Inglaterra rumo ao sonho Europeu, mas seria o início de uma nova era no futebol português, que se deu a conhecer internacionalmente nesta competição e que viria a mostrar no futuro que veio para ficar."

Vinícius- Gigante invisível

"Aparece quando é preciso. Ao segundo poste a encostar. No alto de um punhado de jogadores a cabecear com êxito. No momento do passe de um companheiro, seja da direita, do centro, uma bola longa ou uma assistência mortífera.

Um caso sério de eficácia, instinto, sentido de oportunidade e sucesso. Sim, sucesso. O percurso de Carlos Vinícius, desde que chegou a Massamá para se sagrar desde logo melhor marcador da II Liga portuguesa, tem sido surpreendente. Pela positiva, claro está. É verdade que o Nápoles não tirou rendimento desportivo dos 4 M€ que pagou pelo brasileiro, mas rentabilizou o activo com os empréstimos ao Rio Ave e ao Mónaco, a ponto de o Benfica ter investido 17 M€ no início desta época. Muitos torceram o nariz ao negócio. Hoje, porém, não tenho dúvidas que os benfiquistas falam de um... óptimo investimento! Tanto ou tão pouco, que o mercado externo voltou a olhar para Vinícius com ar de cobiça e até Tite, actual seleccionador do Brasil, tem estado atento aos números do avançado encarnado.
Do alto do seu 1,90 m, corpulento, robusto, imponente, Vinícius rapidamente ganhou posição na luta com Seferovic e Raúl de Tomás por um lugar ao sol. Começou escondido no banco de suplentes de um Benfica que teve de se despedir de ilusionista como Jonas, mas muito cedo deixou claro que não estava ali para fazer número. Esses, os números, são realmente importantes quando ajudam a equipa ganhar! E já vai nos 20 golos e 12 assistências, impondo a sua presença de forma absolutamente notável.
Vinícius aparece quando é preciso. Ao segundo poste a encostar. No alto de um punhado de jogadores a cabecear com êxito. No momento do passe de um companheiro, seja da direita, do centro, uma bola longa ou uma assistência mortífera. Na hora certa, está lá. Na hora do golo, raramente falha! De pé direito, de pé esquerdo, de cabeça. São já duas dezenas de celebrações em 15 dos 36 jogos que assinou com a águia ao peito.
Brasileiro do Maranhão, nascido em Bom Jesus das Selvas, Carlos Vinícius acrescenta a tudo isto uma capacidade que resulta do seu perfil: desgasta defesas, cansa adversários, abre espaços para que outros possam brilhar. Esteve, por isso, em mais 12 golos do Benfica, neste caso como assistente de luxo. Quando hoje se pensa num 11 do Benfica, ao contrário do que é habitual, muitos começam o esquema táctico pelo... avançado!

B. I.
Carlos Vinícius Alves Morais
Idade: 25 anos
Valor de Mercado: 16 M€*
Jogos: 36
Minutos: 2114
Golos: 20
Assistências: 12

*Fonte: Transfermarkt"

O meu ombro do Vata

"O Grande Confinamento tem sido também uma oportunidade para o regresso ao futebol como ficção. De certa forma é um reencontro com a essência da paixão pelo jogo. A ausência de competição tem-nos empurrado para a recuperação nostálgica de partidas antigas, que em boa hora os canos televisivos têm aproveitado para reproduzir. Mesmo quando conhecemos o desfecho de antemão, descobrimos nesses desafios remotos uma forma renovada de ver futebol. Ou porque o jogo era praticado a um ritmo diferente, ou porque redescobrimos um saudável caos táctico que já não recordávamos ou, ainda, porque ficamos com a certeza de que a classe é mesmo intemporal e não precisa de capacidade física ou de modernidade táctica para se revelar -  é discernível ao primeiro toque na bola.
A transmissão em 'loop' dos jogos de ontem é melhor do que nada, podemos pensar. Mas talvez não seja apenas isso. Acredito num velho axioma: ninguém gosta verdadeiramente de futebol se só começou a gostar de futebol na idade adulta. O Javier Marias, aliás, numa muito reproduzida definição do gosto pelo jogo, escreveu um dia, com exactidão, que 'o futebol era o regresso semanal à infância'. A afirmação capta a essência dessa paixão juvenil que nos acompanha ao longa da vida, mas que, acima de tudo, encontra um momento fundador nos primeiros jogos, nas primeiras idas ao estádio. Sem esse pecado original temo que até seja possível alimentar algum entusiasmo maduro em torno do jogo, mas é curto, ficará sempre a faltar a exaltação fundada em memórias iniciais, por definição reescritas e involuntárias. O tempo de facto vivido é sempre muito distinto do tempo físico e sucessivo. O futebol funda-se no tempo vivido na infância. E isso faz muita diferença.
Vivi poucas tardes como a do dia 18 de Abril de 1990. Digo tarde porque nas saudosas noites europeias, encaminhava-me para a velha Luz logo depois de almoço. O 3.º anel repleto, sentado no varandim, e longas esperas que ajudavam a criar tensão, assim, como o medo cénico que se foi afastando dos estádios confortáveis de hoje. Eu tinha 15 anos e o meu quotidiano organizava-se ao ritmo dos jogos do meu Benfica. Nesse noite, tudo convergiu num momento épico: o canto marcado pelo Valdo, o desvio subtil do Magnusson e o golo do Vata. Do meu lugar de sempre no 3.º anel foi essa felicidade apoteótica que vi e que vivi.
30 anos passados, Vata confirma invariavelmente que o golo que eliminou o Marselha foi marcado com o ombro. O pior que eu podia fazer a mim próprio e às raízes do meu encantamento absoluto com o futebol e com o Benfica (a ordem é arbitrária) era desmenti-lo. Entre a memória e a realidade, seria um erro colossal escolher a realidade. Ainda mais num momento como o que vivemos agora."

Mensagem da capitã do Voleibol, Joana Guedes

"Quando me pediram para escrever sobre o que nos está a acontecer, sinceramente paralisei porque ainda não acredito naquilo que estamos a viver em pleno século XXI. Somos postos à prova todos os dias a nível pessoal, profissional e desportivo, mas, para algo desta dimensão, ninguém está preparado. Contudo, enquanto cidadãos temos de gerir esta situação com serenidade e cooperar com as autoridades de saúde pública, mesmo que isso implique uma mudança colossal no nosso quotidiano. E que mudança esta!
No meu dia a dia sou, por norma, uma pessoa positiva e optimista em relação a tudo, e escrevo com a certeza de que tudo vai ficar bem e que vamos ficar todos bem! Mas, para isso, temos de ter consciência que há regras a cumprir, impostas pela Direcção-Geral de Saúde e pelo Governo para podermos estar com quem gostamos o mais rápido possível.
Tenho saudades da minha família, dos meus amigos e tenho, sobretudo, saudades de sentir um abraço forte, mas a realidade é esta e temos de a encarar de frente. Estou a cumprir mais um dia numa longa quarentena, como tantas outras pessoas, com todos os cuidados que nos são pedidos e sempre com o objectivo de me manter sã física e psicologicamente.
Para além de estar em teletrabalho, tenho praticado actividade física conforme o plano estruturado pela nossa fisiologista e tenho seguido as dicas da nossa nutricionista. Só saio à rua para idas ao supermercado e farmácia e, obviamente, não o faço todos os dias porque não preciso.
Aproveito, desde já, para agradecer a todos aqueles que continuam a assegurar que não nos falta comida em casa, a todas as forças de segurança e, principalmente, aos profissionais de saúde que estão na linha da frente a fazer o melhor possível para continuarem a garantir o nosso bem-estar. Acredito que o espírito humanitário irá prevalecer e que vamos sair melhores desta batalha.
Nunca é demais reforçar a importância de lavarmos as mãos com frequência, ter sempre por perto desinfectante, sair de casa só em casos de extrema necessidade e seguir sempre as indicações da DGS.
Sabemos que os próximos tempos não vão ser fáceis, mas temos de encarar isto como mais um desafio. Estamos todos a remar para o mesmo lado com o objectivo de garantir o melhor para nós e para os nossos! Vai ficar tudo bem!

Joana Guedes"

Semanada...

"1. Reembolso do Empréstimo Obrigacionista. Depois de em Janeiro termos antecipado um empréstimo obrigacionista de 25 milhões de euros, vamos ter agora que pagar o empréstimo obrigacionista que vence neste mês. Serão 48.5 milhões de euros, mais juros. A nossa dívida remunerada vai ficar agora à volta dos 70 milhões de euros. Provavelmente o plano seria emitir um novo Empréstimo Obrigacionista na casa dos 30 milhões de euros. Assim, teríamos uma dívida remunerada de 100 milhões de euros - valor que Domingos Soares de Oliveira considerou o ideal - e permitiria-nos ter alguma folga financeira para um verão apetrechado de reforços. Pois “só” teríamos que devolver ao mercado cerca 43.5 milhões de euros e não 73.5 milhões de euros. Mas sem esse novo Empréstimo Obrigacionista, o nosso range de opções ficará muito limitado, porque neste momento estamos com uma folga financeira curta.
2. Cautelas no Mercado. Nas últimas semanas vimos o Benfica com algumas cautelas na preparação do mercado do próximo verão. Há cerca de mês e meio saíram notícias de que o clube queria encontrar 4-5 reforços no próximo verão e até fechámos o Pedrinho. Mas a situação criada pelo covid-19 vai afectar o nosso mercado. A 31 de Dezembro de 2019, o clube tinha 98 milhões de euros em caixa. Dinheiro mais do que suficiente para terminar a época e enfrentar o mercado. Mas agora, desses 98 milhões, 73.5 milhões foram usados para pagar dívida. A nossa caixa continuam com algum dinheiro, mas não muito. Sendo que era praticamente certo que alguns jogadores (Rúben Dias, Alex Grimaldo ou Carlos Vinícius à cabeça) iriam ter bastante mercado e o clube iria encaixar mais receita com a venda de um ou dois deles. Agora, não é tão certo que possamos conseguir fazer vendas nos valores que pretendemos. Como tal, é pouco provável que façamos uma venda sequer, visto que as necessidades no imediato não são assim tantas e no verão seguinte, se o mercado recuperar, podemos fazer as mesmas vendas por mais dinheiro - as previsões no geral falam de quebras de 20% neste ano. Mas sem mais dinheiro, não vai haver grandes contratações. Daí o interesse em Helton Leite e Mehdi Taremi fazer algum sentido.
3. O Que É Urgente. O orçamento do Benfica para contratações na próxima época pode ser mesmo muito curto. Primeiro, porque a tendência que se prevê é para uma certa prioridade para negócios com dinheiro a pronto, em vez de negócios a prazo. E segundo, o Benfica não só não tem assim tanto dinheiro neste momento - porque pagámos 73.5 milhões da dívida - como poderá não ter grandes garantias. A Champions League não está certa e metade do dinheiro da NOS já está adiantado. Dentro destas duas situações, o clube irá naturalmente olhar mais para dentro à procura de soluções. Naquilo que não tiver, vai procurar por negócios mais em conta. O plantel, de forma algo urgente, precisa de: um guarda-redes suplente, um lateral direito, um central (pelo menos), um médio centro, um segundo-avançado (Pedrinho) e um ponta de lança (não tão urgente). Guarda-Redes Suplente. Os rumores que correm é que Helton Leite já estará fechado e é um reforço que faz sentido. Vlachodimos ganhou a posição. Mile Svilar e Ivan Zlobin precisam de jogar e evoluir. Provavelmente Svilar irá continuar na equipa B. Zlobin deverá ser emprestado. E até termos alguém capaz de lutar por um lugar na baliza com Vlachodimos, precisamos de uma alternativa sólida a quem posssamos confiar a baliza caso algo corra de forma inesperada. Helton Leite tem-se afirmado como um dos melhores guarda-redes da Liga. Tem 29 anos. Parece encaixar-se bem naquilo que procuramos. Pode ser a nossa alternativa durante as próximas 3-4 épocas. Defesa Direito. Eu acho que Diogo Gonçalves não tem cinco jogos como lateral direito no Famalicão, mas é inegável que tem feito boas exibições. A entrar na equipa principal pela posição de Pizzi, parece-me complicado, visto que já há imensa concorrência. O lugar por onde parece-me que poderá entrar é lateral direito, apesar de ser uma posição onde não tem assim tanta experiência. No entanto, o seu tipo de jogo até aparenta ter algumas coisas que se podem encaixar bem na lateral direita. É um risco que o clube parece disposto a correr. Eu gosto de Diogo Gonçalves. Até gosto desta aposta. Mas é o terceiro ano consecutivo que o clube entrará com uma indefinição na posição e isso naturalmente não agrada a ninguém. Defesa Central. Antes da situação do covid-19 parecia ser quase certo que íamos ter uma reforço aqui. Agora, já não parece tão óbvio. Ainda assim, se Jardel sair - que me parece o que faz mais sentido neste momento - é obrigatório trazer alguém novo. Mesmo havendo Kalaica, Morato e Pedro Álvaro na equipa B, todos algo promissores, o Benfica não pode ter quatro centrais na equipa principal em que o mais velho tem 23 anos. Médio Centro. A lesão de Gabriel deixou a descoberto uma das nossas maiores falhas. Acho que temos bons médios centros, mas pouca quantidade. Parece-me, pelo mercado do último inverno e pela forma como a equipa joga, que o Benfica estará a preparar uma mudança de sistema para um 4-3-3. Neste momento, o melhor médio centro da equipa B é David Tavares, que não é mau, mas também não é extraordinário. A equipa precisa de uma alternativa diferente aqui. Ponta de Lança. Acho que vai ser uma das posições afectadas pela crise. Se não aparecer nenhum comprador para Haris Seferovic, não vejo grandes mudanças a acontecerem aqui. Pelo menos no mercado de verão. No inverno, o Dyego Sousa será devolvido e aí teremos que procurar outra solução. No entanto, Mehdi Taremi encaixava-se que nem ginjas no nosso sistema. Não é um jogador de área, é um jogador capaz de participar na construção e de abranger mais terreno. Não está tão dependente do que os outros criam para ele finalizar. Faz falta um jogador assim. Se o Benfica realmente planeia mudar para um 4-3-3 em definitivo, era uma contratação sólida.
4. Modalidades na Europa. Em Portugal, para já, só o Campeonato de Futsal foi cancelado, sem ainda se saber como será o apuramento para a Europa, apesar de quase de certeza que o Benfica e Sporting terão acesso. O resto das modalidades ainda não há decisões, mas é importante que quando haja, todas as federações actuem no mesmo sentido. Em França, por exemplo, já se cancelaram os Campeonatos de Andebol, Hóquei e Futsal. Todos com campeões, subidas, descidas e apuramentos para a Europa. Em Itália também já se cancelou o Campeonato de Hóquei, mas sem campeões, descidas ou subidas. Se a Federação de Hóquei e Voleibol atribuírem o Campeonato ao Benfica, mas as Federações de Andebol e Basquetebol não atribuírem ao Porto e Sporting (ou vice-versa), só se vai criar confusão de forma desnecessária.
5. Primeiros Reforços no Andebol. Apesar da situação criada pelo covid-19, o Benfica parece continuar a preparar a próxima temporada nas modalidades. No Andebol vamos ter uma autêntica debandada no plantel. Nuno Grilo, Ricardo Pesqueira, Fábio Vidrago, Davide Carvalho e Carlos Molina, pelo menos, estarão de partida. Os dois primeiros reforços para já parecem ser o central Lazar Kukic e o ponta esquerda Mahamadou Keita. Kukic é um internacional sérvio de 24 anos, forte no um para um, com um bom remate exterior. Esteve no último Mundial e no último Europeu a representar a sua selecção. Esta temporada tinha 56 golos na Liga Asobal. Keita é um ponta esquerdo forte fisicamente, com 1.90m, que poderá dar ao Benfica a hipótese de ter algumas dinâmicas defensivas que não expusessem tanto Djordjic neste lado do campo. Kukic vai certamente elevar o nível da equipa. Com mais dois ou três reforços deste nível, podemos ter uma equipa competitiva para a Liga. Mas esta não me parece a estratégia vencedora a longo prazo. Estamos a resolver o problema atirando simplesmente mais dinheiro para a equipa e sem resolver os nossos problemas estruturais na modalidade.
6. A Atitude de Haris Seferovic. Não tem tido uma época nada fácil, mas continua a mostrar atitude e vontade de querer continuar no Benfica. Comprou 10 computadores e tem feito parte da campanha para angariar computadores para crianças desfavorecidas que não têm como assistir a aulas a partir de casa. Só faz isto quem está muito comprometido com o emblema. Outro que também não pára quieto fora do relvado é Andreas Samaris. É bonito ver atletas estrangeiros representarem assim o Benfica."

Necessidade e engenho

"Faltam dez jornadas para se concluir o calendário da primeira liga, e para que a próxima jornada possa ser preparada de forma conveniente vai ser necessário efectuar desafios em ritmo que nos tempos precedentes não seria aceitável.

Diz um velho aforismo popular que a “necessidade aguça o engenho”. Na actualidade, transportando-a para o futebol, essa ideia tem indiscutível cabimento. Isto porque os últimos dias têm-nos trazido movimentos que tendem a levar-nos de novo ao jogo já no próximo mês de Junho.
Faltam dez jornadas para se concluir o calendário da primeira liga, e para que a próxima jornada possa ser preparada de forma conveniente vai ser necessário efectuar desafios em ritmo que nos tempos precedentes não seria aceitável.
Por isso, o que está aqui em causa é, quanto a nós de forma preponderante, o dinheiro e não propriamente o regresso da competição. Daí a ideia de que, no caso presente, a necessidade aguça o engenho.
No entanto, voltar à normalidade não parece possível nas condições actuais. Como vai ser preparada essa imaginária ponta final do campeonato?
Como irão decorrer os treinos, sabendo-se que a situação que vivemos restringe contactos e exige distanciamentos? Haverá possibilidade de permitir que o público assista aos jogos? E se tal acontecer, quererá esse público arriscar a sua presença, mesmo respeitando o confinamento?
Mais do que pensar nestes aspectos fundamentais, os responsáveis centram a sua atenção na governação do futebol para evitar a derrapagem que pode acontecer a curto prazo.
Sem as chorudas verbas televisivas, sem as receitas de bilheteira, reduzida a publicidade, a vida dos clubes entrará em agonia, sendo estes também obrigados ao estabelecimento de um novo tipo de relação laboral com os seus atletas.
É apreciável o esforço que está a ser feito, sobretudo pela Liga de Clubes, para que tudo volte à normalidade, mas há o risco de vir a não ter grande sucesso.
A pandemia que nos atingiu poderá tornar-se num ponto de partida para um tempo novo, mas desde já parece não haver dúvidas sobre uma certeza: o futebol, tal como o conhecemos até há pouco, não voltará a ser possível.
Veremos, em breve, o que o futuro nos reserva."

Mais desporto no feminino

"O desporto foi e continua a ser um produto de homens e controlado pelos homens. A “dominação masculina”, como diria o sociólogo Pierre Bourdieu, conduziu a percepções e a modelos culturais, determinando a forma como o desporto é dirigido e praticado. Originalmente, quando da sua criação, as mulheres não acederam às mesmas modalidades desportivas e muito menos às mesmas condições que os homens. Utilizou-se muitas vezes os argumentos de ordem médica, estética e social para limitar a sua participação desportiva. Os mitos, os estereótipos e o sectarismo fizeram com que esse direito lhes fosse negado durante muito tempo. O combate das mulheres no mundo do desporto foi o de poder ter o direito de participar. Que o diga Alice Milliat (1884-1957), praticante de natação e de remo, fundadora e presidente da Federação das Sociedades Feministas Desportistas de França, e uma das maiores militantes no combate pelo reconhecimento do desporto feminino a nível internacional. 
Durante muito tempo, a questão central foi a de se definir as práticas desportivas e as provas que se poderiam oferecer às mulheres. Em 1900, as mulheres participam, pela primeira vez, nos Jogos Olímpicos Modernos, mas somente em duas disciplinas: o ténis e o golfe. O fundador dos JO Modernos, o barão Pierre de Coubertin, não queria que as mulheres participassem. Declarou até que uma olimpíada com a participação de mulheres seria “pouco prática, desinteressante, pouco estética e incorrecta”. Para si, e para a sua “entourage”, elas estavam presentes apenas para aplaudir e coroar os vencedores. Apesar do seu desacordo e os seus discursos, as mulheres entraram, de fato, nos JO e aí permaneceram.
O universo desportivo não se conjuga mais sobre o investimento e envolvimento dos homens. O aumento da escolaridade das raparigas e a actividade socioprofissional das mulheres, induzem a um reforço da prática desportiva. Todavia, e apesar dos indiscutíveis avanços, ainda existem muitos obstáculos para aumentar a participação das mulheres no desporto a todos os níveis (lazer, escolar, amador, competitivo, etc.), funções e papéis, e para desenvolver a democracia no seio das organizações desportivas. Ainda existe um pequeno número de mulheres nas estruturas de decisão dos organismos desportivos. Defender as mulheres no desporto, é defender a igualdade e o progresso da liberdade em geral."

Como se pode perspectivar a competição? Como gerir neste ambiente moderno e globalizado?

"Para além da morte, julgo que nada será mais dilacerante que a privação da nossa liberdade; mais ainda quanto tal se verifique sem nossa responsabilidade directa, como é o período que atravessamos desde o mês passado. Dizem uns que o pior já passou, dizem outros que foi tudo alarmismo e nada mais não é que um surto de gripe que este ano veio atrasado. Não vou debater aqui isso, deixo para quem sabe de epidemiologia, ou seja, um campo da ciência que trata dos vários factores genéticos, sociais ou ambientais e condições derivados de exposição microbiológica, tóxica, traumática, etc. que determinam a ocorrência e a distribuição de saúde, doença, defeito, incapacidade e morte entre os grupos de indivíduos (in Wikipedia); quero sim abordar o que está e pode acontecer ao desporto em geral e futebol, em particular.
Todos os jogos têm implícita a competição, a superação de si para vencer o outro, na prática de uma modalidade que seja organizada institucionalmente e tem regras a serem observadas; mais ainda, acrescente-se, exige público que habitualmente gosta ou é apaixonado por essa modalidade, o que leva os praticantes a transcenderem-se pela magia do aplauso.
Embora nem sempre, o futebol traz-nos essa magia através dos artistas eleitos que transformam situações mornas em situações de enorme efervescência, quando invertem resultados não esperados, quando falham o golo de baliza aberta, ou marcam golos ditos impossíveis num período do jogo para além do tempo regulamentar. Além dessa magia, o futebol traz-nos ainda a supremacia do colectivo, do contacto físico, do aroma do balneário, das explosões de alegria/tristeza vivida em grupo, das viagens e refeições em equipa e seu staff, enfim, sempre em contacto com outros.
No período que vivemos, todas estas práticas nos foram “roubadas” pelas organizações de saúde pública. Estariam sobretudo a pensar nas enormes massas de indivíduos à volta do jogo, ou seja, do público que enche estádios. E será este o foco da minha opinião, é que o futebol, como tantas outras coisas na vida, é vivido num ambiente de extrema desigualdade entre um 1º e talvez um 5º mundo. A massa humana que se movimenta em torno do futebol varia na razão inversamente proporcional, aderindo em multidão no 1º mundo e juntando-se apenas para conviver, como num café, nos jogos de 5º mundo.
Tal facto exige que se olhe para as implicações da pandemia de forma igualmente diferenciada. Um 1º mundo com regras inexoráveis de economia e competição globalizadas e um 5º mundo com regras vindas das origens do desporto (tão bem descritas no filme recente sobre a história do jogo, com raízes na rivalidade de bairro ou de pequena cidade, onde se assistia aos jogos para conviver e beber um copo entre amigos – The English Game, Netflix).
Terão a UEFA, FPF e LIGA agido adequadamente neste período? Como se pode perspectivar a competição no futuro? Estão as diversas colectividades (com e sem SAD) preparadas para gerir neste ambiente moderno e globalizado?
Do ponto de vista económico, uma das leis inexoráveis que foi abalada foi a da Oferta e da Procura que, normalmente explica a variabilidade dos preços desde que haja condições para livre funcionamento dos mercados – agentes em grande nº, onde cada um por si não consegue influenciar o mercado. Posso ter um produto excelente para vender, mas se não houver quem o compre, o preço terá de ser muito baixo, perto de zero (transmissões pela TV); o produto pode nem ser muito bom, mas se houver muita gente a querê-lo, o preço sobe sem controlo (as máscaras antivírus).
Mas repare-se agora na desigualdade da situação entre um clube de nível europeu e um de valia regional. Ao nível europeu há muito a perder, os seus activos (jogadores de milhões) deixam de ser vistos, ficam mais ‘velhos’ e desvalorizam. Ao nível regional, deixa de haver uma razão para as pessoas se juntarem, mas os activos (jogadores de tostões) desvalorizam pouco ou nada. Reagem os clubes de forma diferenciada: os grandes baixam os salários milionários, mas não acontece nada de grave às famílias; os pequenos deixam de pagar os tostões e colocam centenas de milhares à míngua, com fome e no desespero das suas famílias. Dito isto, “a bomba” não bate em todos por igual e os clubes têm de estar organizados para reagir com humanidade e sem perdas.
Mas faz sentido haver jogos à porta fechada, sem a efervescência das multidões só para se atribuírem os prémios? Tenho as minhas dúvidas. Não estariam incluídos na definição de desporto, pois sem público as performances são diferentes. Os resultados estarão desvirtuados. Imaginam um golo não ser comemorado entre os elementos da equipa? Porque se tem medo de “congelar” as provas, até ao dia em que exista total liberdade do exercício desportivo? Em minha opinião, o momento aconselharia a uma profunda reflexão e reorganização dos clubes e das organizações. O que desejam os artistas? Querem colocar em risco a sua actividade?
Louvo a atitude dos membros da selecção de entregarem metade do seu prémio para apoio do desporto não profissional. Aí cumpriu-se a humanidade.
Para terminar falemos da evolução de uma qualquer actividade económica, coisa em que o futebol de elite se transformou, num negócio ou indústria como alguns erradamente o designam (uma indústria tem outros pressupostos).
Toda a actividade aparece porque existe uma necessidade humana associada. O futebol deixou de ser, de repente, uma necessidade humana essencial, o que se pode verificar pelo número de jornais desportivos e secções desportivas de outra imprensa e ainda ao número de programas desportivos na televisão.
De repente…. o silêncio, que todos aceitam e até agradecem. Ficaram apenas os programas dos clubes de topo e com poder e dois programas desportivos credíveis (A Bola e 11). Tudo o que era supérfluo (felizmente) desapareceu. Só metiam lixo na engrenagem.
Seguiu-se o desenvolvimento natural da economia. Se necessário vão aparecendo mais, com dimensão parecida, mas haverá sempre uns poucos que se evidenciam e passam a dominar o mercado. Têm os seus jogadores e compram o quíntuplo de outros que depois cedem/emprestam a clubes de menor dimensão, perpetuando assim o poder negocial no âmbito deste negócio. E os agentes que surgiram? No passado os negócios eram feitos pelos presidentes ou direcções dos clubes. Hoje o negócio já dá para inúmeros intermediários e até para pagar decentemente aos árbitros. Ou seja, quantos mais intervenientes no negócio mais aumentam os custos e os prémios.
Serão estes os problemas que temos de saber dar resposta. Esta indústria dá para quantos? Em que moldes? Com que qualidade? A que preços? Caminhamos para um Campeonato Europeu entre os clubes europeus? E como deverá ser feito o apuramento para entrar nesse campeonato (lembremo-nos da NBA)? O nosso papel é fornecer jogadores bem formados para essas equipas? Deveremos comprar jogadores a preços que o nosso mercado permita?
Muitas perguntas e algumas ideias que me assolam e cuja resposta espero me possam todos auxiliar. Estarei disponível para prosseguir. Cuidem-se.

PS: Hoje faz anos, esta segunda-feira, 20 de Abril, o meu querido amigo Prof. Manuel Sérgio e queria dedicar-lhe esta prosa."