domingo, 19 de abril de 2020
Cadomblé do Vata (O Golo!)
"3 décadas de Mão de Vata, o irreprimível gesto técnico que colocou o cautchú em redes gaulesas e nos valeu a última final da competição maior da UEFA. Números redondos deste calibre exigem celebração condigna e já havia rascunho dela. O plano era simples, ousado e arriscado. Simples porque era um jantar com Gloriosos leitores; ousado porque pretendia-se a presença da angolana mão goleadora no repasto; arriscado porque tentaria mover montanhas para contar com a presença de José Carlos Nepomuceno Mozer, o centralão Benfiquistazorro que estava no lado errado da barricada naquele 18 de Abril de 1990.
Mozer foi o único ser humano vestido de branco e azul coninhas a não merecer a desfeita que Vata Matanu Garcia, impulsionado por mais de 120 mil almas, descarregou sobre cabeças marselhesas naquela noite de Glória. Aliás, o brasileiro foi o único ser humano que não merecia ver o seu nome associado àquele pedaço de ignomínia desportiva construído pelo magnata que veio a Lisboa ser baptizado de Bernardette.
O histórico remate de Vata foi com a mão. Não poderia ser com o ombro nem de cabeça. Sem atropelos anatómicos ou desculpas sobre hipotéticos penaltys. Só assim aquele golo poderia pavimentar a estrada para a eternidade e ter a duvidosa honra de dar nome a esta página. Aquele Marselha não se podia ajoelhar de outra forma. Foi uma Chapada se Luva Negra em tromba francesa. Um acto de Justiça Divata. E por isso o Vata nunca vai ser esquecido pelos Benfiquistas... Mozer incluído."
30 anos de uma mão que não envelhece
"18 de Abril de 1990.
Na minha cabeça, sei perfeitamente tudo aquilo que fiz nesse dia, onze anos antes de nascer. Como num dia normal de escola, levantei-me cedo, com a diferença de que pouco ou nada tinha dormido de tanto nervosismo e ao mesmo tempo excitação. Assim, numa mistura de sensações opostas e que me deixavam sobretudo pensativo, disse bom dia à minha mãe, que conhecendo-me melhor do que ninguém, sabia tão bem da importância daquele dia. Cruzei-me com o meu pai na cozinha e trocámos olhares, mas nem uma única palavra. Pairava ainda naquela casa a sombra de Estugarda dois anos antes e parecia, naquela manhã, que nada poderia correr bem.
No caminho para a escola, escolhia o onze na minha cabeça e simulava aquele que queria que fosse o discurso do Eriksson no balneário. As contas eram fáceis de se fazer. “Um golo e estamos em Viena”, lembro-me, como se fosse hoje, que foi aquilo que disse para mim mesmo antes de entrar na sala de aula. E todo o dia estive calado. Porque, muitas vezes, é o melhor a fazer quando não se sabe o que dizer. Tinha medo que qualquer palavra que pudesse dizer fosse atrapalhar as saídas do Silvino, a tranquilidade do Aldair, as arrancadas do Vítor Paneira ou a genialidade do Valdo. Por isso, assim fiquei, mesmo quando me juntei aos meus amigos à volta da Catedral, quando a hora do jogo se aproximava. Vivi, naquele dia, a maior demonstração de benfiquismo em toda a minha vida.
Já na companhia do meu pai, entrámos os dois juntos (como sempre) e subimos até ao nosso lugar cativo no 3º anel. Sempre calados. Falei a toda a gente à minha volta e dei o abraço mais apertado de que me recordo ao Sr. Joaquim, que na ingenuidade de um pequeno adolescente, tinha plena convicção de que vivia no Estádio da Luz, pois era ali o único sítio onde o via. Mas sempre sem falar.
O jogo finalmente começou. A Luz mostrou o porquê do inferno com a ajuda da magnífica campanha da direcção: “Um Benfiquista, uma bandeira”. Sentia-se a apreensão dos franceses, que nem sabiam para onde haveriam de olhar, tal era o mar vermelho. Posso garantir, que até hoje, apagou-se da minha memória tudo aquilo que aconteceu desde o apito do árbitro belga até ao minuto 82. A minha memória traz-me até hoje a bola nas mãos do Valdo, com um estádio numa vontade inexplicável de explodir.
E a partir daí, tudo o que se passou é um poema, que nunca na vida poderá ser escrito. Quando a bola saiu dos pés de Valdo, ela já sorria e sabia que ia conhecer o sabor das redes. Antes disso, foi subtilmente acariciada por Magnusson e foi cair no seio da grande área e foi nesse momento que me levantei. Eu e mais 120 000 mil corações desesperados por uma alegria que só é alcançada por um golo do Benfica. “Toquei de peito e a bola entrou” disse o angolano, no final do jogo.
Como tu quiseres, Vata, porque quando entrou fizeste-me soltar um grito que tinha preso durante todo o dia e de que nunca mais me irei esquecer. São 30 anos de uma mão que envelhece. Fizeste-me ter esta história na minha cabeça, apesar de nem sequer existir, quando decidiste respeitar a história de um gigante e pô-lo no lugar que merecia.
Que possamos celebrar mais 30 anos deste dia mágico de Benfica e, preferencialmente, com mais idas a Viena como em 1990."
Que jogos devo rever nesta Quarentena? SL Benfica 2-2 FC Bayern Munique de 2016
"Abril de 2020, futebol suspenso. Não havendo melhor, vemo-nos obrigados a rever momentos em que a euforia do futebol diminuía “o peso da cadeia enorme arrastada em comum por todos os viventes”, como escreveria Victor Hugo. Recuemos então até Abril de 2016, mais precisamente até dia 13 do quarto mês desse histórico ano para o futebol português.
No Estádio da Luz, as águias de Rui Vitória recebiam os pupilos de Pep Guardiola com a ilusão da passagem às meias-finais da Liga dos Campeões intacta, fruto da derrota pela margem mínima “alcançada” na Allianz Arena, na Baviera. Um golo madrugador de Arturo Vidal havia sido a única mossa impressa nos encarnados portugueses pelos encarnados alemães na primeira mão.
A tarefa era hercúlea, mas o objectivo era claro: marcar primeiro, marcar cedo. Confere, confere (mais ou menos). Após uma boa entrada na partida, ainda que inócua, as águias chegam ao golo da igualdade (da eliminatória) aos 27 minutos, através de um cabeceamento certeiro da arma secreta, Raúl Jiménez, em correspondência a um cruzamento longo endereçado por Eliseu.
Explosão de alegria e a ilusão a transmudar-se em crença. Um golo mais significava a vantagem na eliminatória, contra todas as expectativas. Um golo sofrido, no entanto, significava que as meias-finais ficavam à distância de dois golos. Dez minutos volvidos e golo… forasteiro. O Matador de Munique ataca novamente e faz pender a eliminatória novamente para o lado bávaro.
Intervalo. SL Benfica 1-1 (1-2 no agregado) Arturo Vidal. Com apenas 45 minutos para dar a volta à situação e a dois golos de distância de tal desiderato, a missão voltava a parecer inexequível. Todavia, a crença benfiquista não havia esmorecido durante o repouso. Aos 52 minutos, no entanto, Thomas Muller colocou essa mesma crença à prova, apontando o segundo golo dos alemães na partida e o terceiro na eliminatória.
Talvez não a tenha abatido, mas por certo abalou-a. O único antídoto para o veneno alemão era uma reação pronta. Necessitava-se um golo benfiquista o mais brevemente possível. Tardou. Tardou demasiado para que a crença esmorecida pudesse ser reavivada com o balançar das redes à guarda de Neuer.
Chegou apenas aos 77 minutos do pé esquerdo de Anderson Talisca. O brasileiro bateu um livre directo irrepreensível e não deu hipóteses ao guardião então campeão mundial de selecções. Nova explosão de alegria. Contudo, creio ser seguro asseverar que nenhum adepto acreditava que as águias de Vitória apontassem outros dois golos em 13 minutos – mais descontos – a uma das cinco melhores equipas do Mundo.
Na vitória ainda acreditavam. Uma vitória por 3-2 frente aos campeões alemães não daria a passagem aos então bicampeões lusos, mas renovaria a esperança numa equipa que na época em questão já havia perdido por três vezes – uma delas por 0-3 – frente ao Eterno Rival e, nessa temporada, rival directo Sporting CP.
Não aconteceu. O empate a duas bolas imperou até final e o FC Bayern Munique seguiu para as meias-finais. O SL Benfica não seguiu esse trajecto, mas “arrepiou caminho” para o tricampeonato. Os confrontos com os bávaros – em particular o jogo disputado na Luz – foram, pese embora os resultados, dois dos momentos altos da época 2016/2017 da equipa de Rui Vitória. O estilo defensivo e nada vertiginoso do timoneiro benfiquista, tantas vezes criticado (com razão), serviu-lhe bem nos confrontos com Guardiola.
Pouco resta desse Benfica. Do onze inicial, apenas André Almeida, Jardel, Pizzi e Fejsa (actualmente emprestado) estão ainda ligados ao clube. Ederson foi capturado pelo então treinador dos bávaros, Renato Sanches foi-o pelos próprios e os restantes foram perdendo o seu espaço. Rui Vitória deu lugar a Bruno Lage. Muito mudou, pouco resiste. A memória deste jogo resiste. Para que perdure, o melhor é revisitar aquela que foi das melhores exibições do Benfica de Rui Vitória e do Benfica da década transacta.
O jogo:
https://footballia.net/matches/sl-benfica-bayern-munchen
XI Inicial e Substituições
SL Benfica: Ederson, André Almeida, Lindelof, Jardel (C), Eliseu (Jovic, 88′), Fejsa, Pizzi (Gonçalo Guedes, 57′), Renato Sanches, Mehdi Carcela, Toto Salvio (Talisca, 68′), Raúl Jiménez.
FC Bayern: Neuer, Lahm, Kimmich, Alaba, Martínez, Xabi Alonso (Bernat, 90+1′), Vidal, Thiago Alcântara, Douglas Costa, Ribéry (Mario Gotze, 90+3′), Muller (Lewandowski, 84′)."
Os 10 piores jogadores da década do SL Benfica
"Nem todas as contratações são bem sucedidas. Muitos são os exemplos de jogadores que chegam a um novo clube e geram uma alta expectativa daquilo que será o seu rendimento ao serviço da equipa.
No SL Benfica, o fenómeno flop também existe, e, infelizmente, não é pouco. Entre os postes, chegou a existir um jogador que me dava calafrios cada vez que a bola ia na direcção da baliza. Infelizmente, os flops não ficaram só pela baliza…
Hoje, vamos apontar os 10 piores jogadores da década do universo encarnado.
1. Roberto Jiménez – Sabem quando acordam de noite, assustados e a tremer de nervos? Eu não sei, mas vi o Roberto a “defender” a baliza dos encarnados e creio que será praticamente a mesma coisa.
O guarda-redes espanhol disputou 41 jogos pelo SL Benfica na temporada de 2010/11, tendo sofrido 46 golos.
Quando foi comprado ao Atlético de Madrid, Roberto foi nada mais nada menos do que o terceiro guardião mais caro da história do futebol, tendo custado 8,5 milhões de euros, valor que nunca justificou.
Sinceramente, nunca vi um guarda-redes tão mau no Benfica.
2. Raúl de Tomás – Este é o caso de um jogador que nunca vou ter a certeza se foi um verdadeiro flop ou se apenas teve dificuldades de adaptação.
A verdade é que RDT custou aos cofres encarnados qualquer coisa como 20 milhões de euros, um valor bastante elevado, tendo em conta a política de contratações do clube.
No Sport Lisboa e Benfica, disputou 17 jogos e marcou três golos, tendo sido vendido ao final de apenas meia temporada ao serviço das águias.
Raúl de Tomás terá sempre o meu benefício da dúvida, mas, pelo valor pago, tinha de ter mostrado muito mais.
3. André Carrillo – Mais um caso em que o Benfica tentou “roubar” um jogador ao seu rival da Segunda Circular e, mais uma vez, em vão. André Carrillo foi um autêntico fiasco ao serviço do Benfica.
As qualidades que havia mostrado nos leões, tais como a capacidade de desequilíbrio e o fantástico drible, parecem ter ficado em Alcochete.
No Benfica, não passou de apenas mais um, tendo ainda disputado 32 partidas e apontado três golos, números que fizeram com que a sua passagem pelo clube fosse encurtada através de dois empréstimos nas temporadas seguintes.
4. Filip Djuricic – Djuricic custou aos cofres encarnados seis milhões de euros e vinha rotulado de grande promessa. Pois bem, 22 jogos pelo Benfica e quatro empréstimos mal sucedidos fazem deste jogador um dos maiores flops dos últimos anos, uma vez que se esperava muito dele.
Chegou a ser chamado de “Cruyff” e até “Kaká” dos Balcãs, mas a verdade é que, em Portugal, não passou de mais uma promessa por cumprir.
5. Felipe Menezes – Mais um brasileiro que entra para esta lista. Felipe Menezes chegou ao Benfica em 2009, pela “mão” de Jorge Jesus, tendo aí permanecido por dois anos.
O médio ofensivo enrolava o jogo de tal maneira que até dava “dó” vê-lo jogar. Muito lento, com e sem bola. Simplesmente parecia que não queria estar em campo, que não queria correr.
Com a camisola do Benfica disputou 28 partidas repartidas em duas temporadas, até ser transferido para o Botafogo, por empréstimo.
6. Gabriel Barbosa – “Gabigol”, como é conhecido, chegou ao Benfica, por empréstimo, rotulado de uma grande promessa que não se estava a conseguir adaptar ao futebol europeu do Inter de Milão.
Em Lisboa, esperava-se que o jovem brasileiro tivesse menos pressão e que finalmente conseguisse dar o salto que tanto se esperava. Não foi o caso.
No conjunto encarnado, disputou apenas cinco jogos e apontou um golo, um registo que pecou por escassez, uma vez que, no Brasil, Gabriel Barbosa é o que se vê: um autêntico matador.
7. Yannick Djaló – Djaló foi uma promessa que nunca se concretizou!
Finalizado o contrato com o Sporting CP, depois de uma transferência falhada por minutos para o Nice, o conjunto encarnado achou que seria boa ideia adquirir o passe do jogador português, uma vez que no clube vizinho até tinha apresentado bons números. Errado!
Djaló não passou de um completo fiasco. Teve a honra de envergar o Manto Sagrado por cinco ocasiões, vezes mais do que suficientes para perceber que nunca o deveria ter feito.
8. Roderick Miranda – A passagem de Roderick Miranda pelo Benfica ficou marcada por um momento que nenhum benfiquista jamais esquecerá. Dou uma pista: jogava-se o minuto 92, no Estádio do Dragão!
É preciso dizer mais alguma coisa? Creio que não.
9. Bruno Cortez – Hoje é o dia em que agradeço a Jesus (que foi quem o trouxe) pelo facto de o jogador só ter disputado seis partidas pelo Benfica.
Os encarnados viviam uma “seca” de defesas esquerdos, e Bruno Cortez foi um dos jogadores que chegou à Luz para tentar colmatar esse vazio- em vão, no entanto.
Acredito que Cortez não seja mau jogador, até porque no Grémio mostrou bastante qualidade, mas ao serviço das águias foi uma autêntica nódoa.
10. Bebé – Tiago Manuel Dias Correia chegou a ser denominado de “novo Ronaldo”, uma alcunha que qualquer jogador com 20 anos gostaria de ter.
Jogou pelo Manchester United (uma experiência que não correu muito bem), até ter chegado ao Benfica de Jorge Jesus.
Ora bem, o mínimo que se pode exigir do “novo Ronaldo” é que marque golos. Mas não. No SL Benfica, Bebé realizou apenas seis partidas e nem chegou a abrir o contador de golos.
Uma passagem inglória de um jovem que outrora prometera muito."