quinta-feira, 16 de abril de 2020
O exemplo das Casas
"Face aos impactos tremendos que esta crise está a ter em todos os sectores de actividade, naturalmente, uma das prioridades do Clube está no acompanhamento atento e diário da situação de todas e de cada uma das nossas Casas do Benfica.
Ajudando-as a procurar as melhores soluções e os apoios que necessitem para conseguirem ultrapassar esta fase e para, logo e nas circunstâncias possíveis, retomarem a sua actividade.
É nas fases difíceis que melhor se afere a força das instituições e o Sport Lisboa e Benfica, nesta que vivemos, tem estado à altura da sua enorme responsabilidade social, através da promoção, nas suas várias vertentes, de um conjunto de iniciativas que, mais que dignificar o Clube, ajudam a mitigar as consequências da pandemia na sociedade portuguesa.
Um dos pilares fundamentais deste posicionamento e intervenção do Clube que muito nos orgulham são as Casas do Benfica.
Independentemente das dificuldades inerentes ao momento que vivemos, às quais, inevitavelmente, as Casas do Benfica não são imunes, tem sido notável a sua capacidade de mobilização em torno do auxílio a quem mais precisa e a quem está na linha da frente deste combate.
Por exemplo, o Sport Vila Real e Benfica impressionou pela celeridade com que procedeu à entrega de viseiras de protecção ao município em que está sediado; em Moura, os bombeiros receberam material para utilização no combate à pandemia; em Algueirão–Mem Martins, a nossa Casa fornece refeições a bombeiros e a profissionais de saúde; na Murtosa foram feitos donativos aos bombeiros locais; a Casa do Benfica no Porto está a proceder à recolha de vestuário e alimentos para entrega à instituição Coração da Cidade; em Vila Real de Santo António e em Marco de Canaveses está a ser levado a cabo um projecto de reciclagem de computadores de forma a se suprir as necessidades de alunos agora obrigatoriamente em regime de ensino à distância; e, finalmente, em Ovar, aproveitando os fundos de tesouraria da Casa, os responsáveis entraram em contacto com o hospital local, questionaram sobre o que era mais necessário, compraram o material de protecção requerido e entregaram-no para colmatar as necessidades identificadas.
A génese das Casas do Benfica, filiais e delegações já remonta à primeira década de existência do Sport Lisboa e Benfica, e têm conhecido diversas fases na sua expansão e desenvolvimento, os quais conheceram notória aceleração com as presidências de Luís Filipe Vieira, passando as Casas a serem encaradas como fundamentais para o crescimento e sustentabilidade do Clube.
No presente está a ser implementado um novo conceito, as Casas 2.0, cujo projecto-piloto arrancará em Santarém. O carácter inovador deste projecto, que, além de servir o Clube, apoia as comunidades locais e cria postos de trabalho, mereceu a atenção da Universidade Católica, passando a ser um caso de estudo no âmbito do plano curricular (licenciatura em Gestão) da Faculdade de Ciências Económicas e Empresariais.
Trata-se, mais uma vez, do reconhecimento dos méritos de um projecto com a marca Benfica, logo vencedor!"
Valdo marca um golaço na Luz
"Golão de Valdo ao Académico de Viseu para a 5ª jornada do Campeonato 1988/89. O Glorioso venceu o jogo por 4-0."
Fique em casa, mas aprenda com Duarte Gomes: há novidades nas leis do jogo para 2020/21 (e há uma pequena "machadada" na transparência)
"Apesar do contexto atípico em que todos vivemos, a verdade é que o mundo não parou. Apenas encontrou novas formas de caminhar.
Foi seguramente esse o raciocínio do IFAB ao realizar a sua 134ª Assembleia Geral (em Belfast), de onde saíram as alterações a implementar às leis de jogo, para 2020/21.
Hoje a ideia é que conheça algumas dessas mudanças e respectivas implicações. Noutra oportunidade, falaremos das restantes.
1. Esclarecimento Sobre a Infracção de Mão/Braço na Bola (do Atacante)
Como sabem, nenhuma equipa pode marcar (ou criar clara oportunidade de golo) na baliza adversária, com as mãos ou braços, ainda que involuntariamente.
Essa alteração, objectiva quanto ao seu conteúdo (fácil de perceber em campo), não deixava de ser algo dúbia quanto à sua aplicação prática: nas situações em que se criava a tal oportunidade de golo, nem sempre era claro o momento em que se devia punir o tal toque fortuito antes da bola entrar na baliza oposta.
A mudança agora introduzida tenta clarificar essa dúvida, referindo que só haverá infracção quando a jogada terminar "imediatamente" em golo ou em clara oportunidade de golo.
Ou seja, para ser punida como falta, uma mão ou um braço acidentais têm que ocorrer instantes antes do golo (poucos passes efectuados ou a curtíssima distância da baliza).
Se um golo resultar de uma mão/braço não deliberado, seguido de um passe longo, de uma condução de bola (desde a zona do meio campo, por exemplo) ou de vários passes consecutivos, será considerado legal.
Este foi um esclarecimento oportuno, que diluirá todas as dúvidas relativas a estes lances.
2. Onde Termina o Ombro e Começa o Braço?
As infracções com as mãos raramente são consensuais. Disso todos sabemos, apesar do "esforço" recente da lei em tentar objectivar, ao máximo, as situações que devem ou não ser punidas.
O IFAB entendeu fazer novo esclarecimento sobre esta matéria, referindo-se agora às zonas do braço que considera como puníveis e não puníveis:
- Para efeitos de sanção técnica, o braço começa no limite inferior da axila. Até aí, é ombro, ou seja, é zona do corpo em que é permitido tocar/jogar a bola.
A (minha) dúvida, que seguramente será esclarecida por quem de direito em breve, é que decisão deve um árbitro tomar se a bola bater bem no meio dessas duas áreas, digamos, em zona de "conflito"?
Aguardemos pela explicação, sendo certo que, em campo, valerá sempre a interpretação legítima de quem tem o apito na mão.
3. Pontapés de Penálti
Algumas das alterações propostas nesta matéria tendem a "despenalizar" infracções cometidas pelos guarda-redes.
Exemplo 1 - Se um GR adiantar os pés antes da execução do pontapé (ou cometer qualquer outra infracção) e a bola não entrar na baliza (ou ressaltar nos postes/barra sem tocar nele), o pontapé deixa de ser repetido, desde que a sua ação não tenha tido clara interferência na do executante.
Exemplo 2 - Quando o GR infringir e o pontapé tiver que ser repetido por esse motivo, ele não será advertido (à primeira, como era até aqui). Será apenas avisado e só verá o cartão amarelo se reincidir.
Porque acontecem estas mudanças?
Porque, na maioria das vezes, as infracções cometidas pelos GR não são intencionais. Geralmente essa ação é apenas impulsiva e precipitada, devido à vontade de se anteciparem ao pontapé.
Mas nesta lei (14), há outras duas alterações relevantes:
A) Se GR e o executante cometerem uma infracção em simultâneo (algo improvável), o executante é advertido, mas o GR não. O pontapé considera-se como falhado.
Isto acontece pelo mesmo princípio: o de entender-se que a maioria das infracções que os GR cometem nesta situação são fruto da ação irregular/ilegal praticada pelo executante.
B) Os amarelos exibidos durante o jogo e prolongamento deixam de contar nos pontapés da marca de penálti (desempate).
A lei entende que esse momento é posterior ao final do jogo, o que faz todo o sentido.
Exemplo 3 - Um jogador é advertido na 2ª parte e volta a ver o amarelo no decurso dos pontapés da marca de penálti. Nesse caso, será novamente advertido, mas não será expulso por acumulação. No seu relatório, o árbitro fará menção de duas advertências.
4. Esclarecimento Quanto ao VAR
Tenho boas e más notícias. Vamos começar pela pior, para acabarmos em beleza:
- Ainda não foi desta que o IFAB entendeu facilitar o acesso público ao processo de de decisão "Árbitro/VAR".
Ou seja, iremos continuar a não ouvir qualquer tipo de comunicação entre ambos. É uma pequena "machadada" na transparência de um processo que todos entendemos que pode e deve ser mais cristalino, para defesa sobretudo da própria classe. Todos ganhariam, porque nada há a esconder. A sinceridade e generosidade de intenção que está por detrás desse processo daria, à percepção pública, outra credibilidade. Humanizava. Mais informação é sempre sinónimo de menos suspeição, sobretudo numa área tão sensível como a da arbitragem.
- A boa notícia é a "sugestão vigorosa" para que os árbitros passem a ir à zona de revisão (ecrãs junto ao relvado), no sentido de visionarem lances do protocolo que sejam mais subjectivos/dúbios.
Quer isso dizer que, a partir da próxima época, iremos assistir a um maior número de consultas de lances em campo, o que só credibiliza (e responsabiliza) os árbitros quanto à sua tomada de decisão.
Convém não esquecermos que os árbitros são a única autoridade em campo e deve caber-lhes a palavra final, sobretudo nos momentos mais importantes, que possam gerar controvérsia imediata e/ou polémica durante semanas.
Exemplos de situações subjectivas, que "exigirão" consulta in loco:
- Intensidade das cargas/faltas nas áreas (possíveis penáltis), foras de jogo por interferência sobre adversários (estorvar ou não um defesa, tapar ou não o ângulo de visão do GR, etc.), várias situações de mão/braço na bola (para decidirem sobre a posição dos braços ou intenção do defesa) e muitas outras.
O que falta esclarecer nesta questão? Apenas se essa ida à zona de revisão acontecerá sempre que o VAR entenda que o árbitro cometeu um erro claro e óbvio (como era até aqui) ou se será prática recorrente em qualquer situação dúbia - de golo, entrada dura ou possível pontapé de penálti -, que gere ruído, levante dúvidas ou leve a grande controvérsia em campo.
5. Outras Alterações
1 - Cartão amarelo para qualquer jogador que não respeite a distância mínima de 4m aquando de um lançamento de bola ao solo;
2 - Para efeitos de fora de jogo, passa a considerar-se como voluntário o passe com a mão/braço feito pelo defesa:
Exemplo - Um avançado em fora de jogo não será punido se receber a bola directamente de um defensor através de um toque/passe deliberado que este tenha feito com a mão/braço.
3 - Se o GR tocar na bola uma segunda vez sem que ninguém a toque antes, poderá ser sancionado disciplinarmente (em função da interferência que essa acção tiver no lance), mesmo que esse contacto seja feito com a mão ou braço (até aqui, nunca podia ver amarelo ou vermelho nestes casos);
4 - Situação que ocorreu, com frequência, no início desta época: se, num pontapé de baliza, o GR levantar a bola para a cabeça/peito de um colega e ele a devolver para que este a agarre, o árbitro deve ordenar a repetição do pontapé. Não haverá sanção disciplinar.
Em breve, aprofundaremos este e outros assuntos relativos ao que aí vem. Até lá, fiquem bem. Fiquem em casa."
Diagnóstico: Futebolite Aguda
"Agora que as viroses estão na ordem do dia, sinto a obrigação de falar sobre doenças na óptica do espectador de futebol. Passo a explicar:
Cada vez que vamos à bola, o jogo causa-nos várias condições clínicas. Por exemplo, quando chegamos às imediações do estádio já vamos a produzir altos níveis de testosterona, de rápida propagação entre seres do sexo masculino. Não se aproxime.
Nas roullotes há couratos e cerveja, e consequentemente, também há colesterol e refluxo gástrico.
Já dentro do estádio, as equipas entram em campo e o nervoso miudinho instala-se no corpo. À conta disto já não nos escapa uma artrose nas mãos daqui a uns anos.
Começa o jogo e um ataque perigoso da nossa equipa é logo um misto de condições: adrenalina, taquicardia, seios duros e sensíveis. Ok, isto não acomete a todos, mas o médico disse-me que às vezes acontece, seus preconceituosos.
Acrescem joanetes, fruto do pontapé na cadeira da frente.
Já o ataque perigoso da equipa adversária é um crescente estado clínico: respiração ofegante, narinas dilatadas, calafrios, náuseas, tremores, pânico.
Golo deles. Raiva, enxaquecas, dificuldades respiratórias, olhos aquosos. Não devia ter vindo. A nossa equipa não reage. Depressão. Para piorar as coisas temos um jogador expulso, mas lá no fundo acreditamos que ainda vamos dar a volta. Delírio.
Chega o intervalo, graças a Deus.
Da maneira que está o jogo ainda vou desenvolver uma amnésia e duas úlceras. O intervalo, curiosamente, tem o condão de causar incontinência a 50 mil pessoas em simultâneo. É espantoso.
Segunda parte.
Começa logo com o árbitro a não marcar um penálti a nosso favor. É um problema médico chamado visão turva, para o qual andam há anos a tentar descobrir uma vacina, infelizmente sem sucesso. Obviamente, este défice de visão arbitral despoleta movimentos bruscos e vernáculo nos espectadores, o que configura síndrome de tourette.
Entre os afectados há quem fique com a boca seca e laringite (que é o meu caso), e quem fique com excesso de saliva e mau hálito (que é o caso dos outros adeptos).
Conforme o resultado se vai mantendo inalterado, aumenta a ansiedade e a urticária. Em sentido contrário, algo diminui drasticamente em muitos homens que assistem ao jogo: o tamanho das unhas. (Onicofagia, o termo técnico.) O tempo passa, e a cada golo que a nossa equipa falha vamos perdendo cabelo. Entrei no estádio com uma cabeleira à David Hasselhoff e sinto que vou sair igual ao Gollum do Senhor dos Anéis.
Mas, quando achamos que está tudo perdido, do nada surge um centro para a área, remate e golo Gooooooooloooooooooo!!!!!! De repente desenvolvemos uma pulsação rápida, aumento da circulação sanguínea, transpiração abundante, o regresso do tourette, choro compulsivo, e, por fim, uma rotura de ligamentos e dois dentes partidos ao cairmos para a fila da frente.
E é então, agora que estava tudo a correr bem, que chega o final do jogo. Saio do estádio a coxear e com uma crise de ciática. Ao entrar no carro desfaleço devido à exaustão.
A paixão pelo futebol não tem cura, pois não?"
O vírus do treinador de bancada
"Meses antes de se tornar treinador do Santos, o português Jesualdo Ferreira disse que "o campeonato brasileiro é o pior do mundo".
Normalmente, os protagonistas refugiam-se no batido "fui mal interpretado" para se desculparem de frases de que se arrependem mais tarde. Mas neste caso, Jesualdo tem razão de queixa: o que ele disse é que o Brasileirão é o pior campeonato do mundo na perspectiva do treinador - afinal, como em nenhum outro lugar do planeta se despedem tantos profissionais como no Brasil.
Aos números.
No último dezembro, 26 clubes das elites de cada estado mudaram o comando técnico das suas equipas.
Só na noite de 27 de Setembro de 2019, quatro clubes da Série A (a primeira divisão) despediram os seus treinadores - um quinto do total de 20 equipas do campeonato.
Num comparativo mundial realizado anos antes - 2014 e 2015 - constatou-se que nas grandes ligas do mundo, ninguém troca tanto de técnico como o Brasil. Enquanto apenas 25% dos clubes franceses, 40% dos clubes ingleses, 50% dos clubes espanhóis, 56% dos clubes alemães e 65% dos clubes italianos trocavam de treinador, na Série A brasileira 90% procederam a alterações.
Em época de pandemia e quarentena, em que a bola só rola em meia dúzia de campeonatos obscuros de países com regimes autoritários, qual a razão de se falar aqui em futebol?
Porque à hora em que ler este texto, o presidente deste grande clube chamado República do Brasil já pode ter demitido, na fase mais decisiva de um campeonato em forma de pandemia e com um rival perigosíssimo como o Covid-19 a pressionar, o treinador principal do ministério da saúde, o ministro Luiz Henrique Mandetta.
E se não demitiu, das duas uma: ou é porque já nem tem poder para tanto na direcção do clube, leia-se governo, ou porque quer dar um drible na imprensa, há dias consecutivos a anunciar o despedimento.
Os motivos para a demissão de um ministro a meio da combate são os mesmos que levam à queda de tantos treinadores a meio de uma prova - o presidente do clube acha que sabe mais do assunto em causa do que um técnico (Mandetta é médico) que se preparou toda a vida para o cargo.
Como o voluntarista Sousa Cintra ao mandar embora, algures em meados da década de 90, o conceituado treinador Bobby Robson, quando o Sporting liderava o campeonato, para dar um exemplo para o leitor português se situar.
É o senso comum, pior, é a lógica do papo de botequim a sobrepor-se ao conhecimento técnico. Bolsonaro acredita que o ponta-de-lança cloroquina, apesar de todos os olheiros sérios do mundo dizerem o contrário, é o ideal para liderar o ataque ao adversário. Mais: como leigo que é, acha que a equipa deve jogar com 11 atacantes, sem guarda-redes nem defesa, isto é, sem isolamento social nem lockdown.
Os médicos, segundo as sondagens eleitores em peso de Bolsonaro na eleição de 2018, sofrem agora na pele aquilo que os treinadores de futebol enfrentam desde os primórdios do jogo: um exército de treinadores de bancada a vomitar, em alarves cânticos grupais, teorias imbecis que contestam o trabalho técnico de profissionais.
Com a devida licença pelo juízo em causa própria, um problema a que outra classe, a dos jornalistas, também já se habituou: ouvir sentenças de analfabetos funcionais nas redes sociais a acusar órgãos centenários de "mau jornalismo", de "viés partidário", de "interesses comerciais", de "conluio com a corrupção" no exercício da sua profissão.
Mesmo tendo sido nas redacções de jornais que se descobriram nove em cada dez escândalos no Brasil, como o do "Mensalão" - o actual presidente, deputado à época do episódio, não viu nada, não ouviu nada, não denunciou nada? E sabendo-se que, sem o apoio colossal da imprensa, a Operação Lava Jato não teria saído dos limites de Curitiba.
Voltando ao início: a maioria dos estudos sérios sobre mudanças de treinador conclui que esse expediente não resulta e é até contraproducente na maioria das vezes.
No final das contas, a prazo, mudar o presidente do clube é que é a melhor solução."