quarta-feira, 8 de abril de 2020

Dérbi

"1. Muitos (e bem) apressaram-se a criticar o Liverpool por anunciar o recurso ao lay-off para os funcionários (que não os jogadores), mas ouvi poucos elogios na hora do anúncio do recuo (e com pedido de desculpas!), algo que achei ainda mais notável. E para quem não sabe, o Liverpool costuma pagar férias em Tenerife aos funcionários do centro de treinos de Melwood e respectivas famílias (cerca de 150 pessoas entre crianças e adultos).
2. Entre avanços e recuos, entrevistas, comunicados, desmentidos, esclarecimentos e ameaças, o presidente da UEFA parece uma barata tonta. Mesmo no caos e sob enorme pressão perante a ameaça do colapso financeiro da indústria, exige-se mais de alguém com tanta responsabilidade.
3. Entre o silêncio dos inocentes e o ruído dos indecentes, percebo que tanto para a UEFA como para as ligas nacionais o plano não pode ser não ter plano, mas também não pode entrar-se no jogo de atirar datas à parede como se fossem barro, para ver se colam. Quem manda é o vírus, aceitem.
4. Com 4 mil milhões de pessoas fechadas em casa (mais de metade da população mundial), o futebol teima em sair à rua. Se os jogos sem público não forem suficientes, pode sempre tentar-se o futebol sem contacto ou um dérbi entre não infectados e imunes, pode ser que as TV's comprem os direitos. Tudo vale a pena quando a alma do negócio não é pequena. Nem a vergonha.
5. A maior parte das equipas alemãs já se treinam. Os jogadores tomam banho em casa, equipam-se por turnos em balneários separados e teimam-se em grupos de 5 e a pelo menos metro e meio de distância uns dos outros. Chamem-lhe o que quiserem, mas isto não é o regresso do futebol, é uma experiência de laboratório.
6. Parece-me que há aqui uma certa confusão quanto à sabedoria popular. Ela diz-nos que enquanto há vida há esperança. Não confundir com enquanto há futebol há esperança."

Gonçalo Guimarães, in A Bola

A pandemia acaba na sexta-feira, 29 de maio, à hora do Rio Ave-Paços

"A crise acaba no final de Maio.
Não, melhor ainda: esta pandemia acaba numa sexta-feira, 29 de maio, às 19h45. Está bom assim? Mesmo a tempo de Rio Ave e Paços de Ferreira darem o pontapé de saída para a jornada 25.
Na última semana não faltou quem caísse em cima de um colunista que defendeu no seu artigo de opinião, no Público, a ideia peregrina de que precisamos da parte do governo de «uma data para vermos uma luz ao fundo do túnel».
No que toca ao futebol, a curiosidade de João Miguel Tavares seria satisfeita pelo presidente da Liga. Pedro Proença trabalha para o regresso da Liga no final de Maio.
Não tenho ideia de qualquer outra actividade ter dado um prazo concreto para o regresso, mesmo condicionando-o – mau seria – ao que determinar a Direcção-Geral de Saúde.
O problema é que, azar dos Proenças, o final de maio coincide com o pico da pandemia em Portugal, segundo afirmou a ministra da Saúde também na última semana.
Outro problema é o de o regresso aos treinos estar programado já para daqui a um mês, numa altura em que por cá ainda está previsto o crescimento da curva epidémica. E outro ainda tem que ver com o facto de várias competições internacionais agendadas para um mês tão distante como Julho, de Wimbledon aos Jogos Olímpicos, já terem sido suspensas ou adiadas. 
Não por acaso nesta segunda-feira o presidente do Sindicato dos Jogadores veio alertar para o facto de os atletas só regressarem quando as condições de segurança sanitária estiverem absolutamente garantidas.
«Os jogadores nunca serão cobaias», afirmou Joaquim Evangelista, acrescentando como se tal fosse preciso: «Nem pensar no regresso às competições, ou sequer aos treinos, sem o aval das autoridades de saúde.»
Proença e a Liga tentam responder à pressão da UEFA, dos operadores de TV, dos clubes para que o remanescente da temporada se cumpra. Aliás, essa é inequivocamente a solução mais justa. E assim será, mas apenas quando e se houver condições para tal.
É avisado que haja um plano com os diferentes cenários possíveis, mas é ainda mais aconselhável nesta altura ser-se parcimonioso na comunicação, sob pena de se cair no ridículo.
Vivermos em estado de emergência. Numa altura em que os hospitais se debatem para não entrarem em rotura, com o país quase inteiro confinado e mais de meio milhão de portugueses já em lay-off, esta preocupação pública com o futebol e em arrumar a Liga de afogadilho torna-se, no mínimo, descabida.
O tantas vezes referido aplanar a curva é benéfico para a capacidade de resposta do Serviço Nacional de Saúde e para salvar vidas, mas faz estender por mais tempo os efeitos da pandemia e, portanto, vai atrasar a retoma de diferentes actividades, com o consequente impacto económico.
Essa é a concessão que estamos dispostos a fazer enquanto sociedade. Foi esse o compromisso tácito que assumimos, pelo que qualquer pressão pública em sentido contrário não será mais do que ruído. 
Se o futebol se quer entreter com discussões, poderá começar por algo bem mais premente: numa altura em que todos são chamados a fazer sacrifícios, há que pôr seriamente em cima da mesa o corte de salários dos futebolistas de topo – os funcionários mais bem pagos em todo o país.
Quanto ao resto, faltam à Liga Portuguesa ou à UEFA epidemiologistas, que, de momento, não mostram grandes certezas sobre este novo desafio.
A bola está do lado deles. Façam o favor de lhes deixar o campo livre."

Até quando?

"Escrevo novamente a partir de casa, a grande diferença é que desta vez, aqui estou como a grande maioria dos portugueses, em tempos de confinamento e distanciamento social. No meu caso tenho a sorte de ter junto a mim os meus filhos e a minha mulher, mas como todos, aguardo com ansiedade o retorno da minha vida. A vida de todos os dias. O meu trabalho, a profissão que abracei e que amo. Ainda na semana passada regressei à redacção e senti-me muito bem. Tendo em conta o cenário de condicionalismos, necessários e indispensáveis, este «breve» regresso soube-me pela vida, a mesma que já foi retirada a milhares de portugueses, às mãos da epidemia.
E para quando o regresso em pleno? Pois, essa é a resposta que ninguém tem, pelo menos para já, e parece-me que justificadamente. Quando oiço falar dos planos para o futebol, fico feliz, mas ao mesmo tempo apreensivo. Não se ponha o carro à frente dos bois, com base em argumentos que não os baseados nas principais orientações de quem sabe. Voltar por voltar não é solução, e quem joga, quem treina, não está disposto a isso.
Porque não faz sentido pedir aos jogadores que não se cumprimentem com as mãos, para depois os colocarem em campo durante 90 minutos, num jogo de contacto físico.
Agora pensem!
Num cenário cor de rosa os treinos estariam de regresso ainda durante o estado de emergência, limitados às regras vigentes. Sessões individuais, campeonatos terminados até final de Julho, lista das equipas para a UEFA entregue até 3 de Agosto. Será?
Para quem gosta de futebol, sim, mas para quem gosta principalmente de bom futebol, para os jogadores, para os treinadores, jogar sem público, não é a mesma coisa. E não querendo fazer futurologia, alguém acredita que com estas datas, vai haver público nas bancadas?
Para já a UEFA não admite que as federações, individualmente, atribuam os títulos de campeão. Concordo. Têm que estar todos alinhados. E temos todos a esperança de que ainda haja tempo para terminar as competições. Mas será necessária uma grande ginástica para que isso aconteça em devido tempo, e o futebol não é um desporto de grandes consensos. Temo por isso.
Temo principalmente pelos jogadores, muitos deles já assombrosamente afectados pelos efeitos colaterais da pandemia. Porque nem todos ganham milhões, e já há quem não tenha dinheiro para suportar as despesas inerentes à boa alimentação dos desportistas.
Mas, e os funcionários desprotegidos, muitos deles sem dinheiro sequer para comer. O futebol não são só os futebolistas, a indústria é muito mais que isso. Os clubes e os dirigentes que tanto dinheiro ganharam e gastaram, têm agora que se juntar para gerar consensos. E sabemos todos que não tem sido fácil no futebol português."

Campeões da secretaria !!!

"Face à situação trágica em que vivemos, optámos por nos manter em silêncio por respeito a todos e por considerarmos que as prioridades actuais são outras. No entanto, a pressão pública feita pelo #PortoaoColo, especialmente através do seu jornal oficial, fez-nos abrir uma excepção.
Manipular, omitir e mentir é este o lema d’ “O Jogo” e nestes tempos em que a luta deveria ser contra a pandemia, a única preocupação deste “jornal” é a de tentar ajudar o seu clube a ganhar onde mais gosta, fora do campo.
Quem está mais atento, sabe que tudo isto não passa de “mandar areia para os olhos”. Não é possível em Portugal “dar” um Campeonato assim. Nem mesmo ao #PortoaoColo, e eles sabem-no. No final, o que realmente querem é dizer que “o Benfica manda nisto tudo” e tentar ganhar na secretaria os 40 milhões de acesso à Champions, pelos quais estão desesperados.
O regulamento da Liga de Clubes é claro. Segundo o artigo 16º:
“1. As competições oficiais por pontos terão obrigatoriamente duas voltas simétricas e os participantes encontrar-se-ão todos entre si, uma vez na condição de visitados e outra na de visitantes, nos respectivos estádios, não sendo autorizada a inversão dos jogos.”
Alterações a este, ou outro artigo, só são possíveis com unanimidade de Todos os clubes. Repetimos, Todos os clubes.
Deixando, agora, os factos e entrando mais no campo da especulação, e mesmo sabendo que sem unanimidade nada disto é possível, é de enaltecer a forma bacoca como o #PortoaoColo está a tentar passar a imagem de que é um “justo” Campeão por estar na liderança a 10 jornadas do final, com 30% do Campeonato ainda por disputar (e com jogos com Famalicão, Braga e Sporting pela frente). No entanto, se calhar já não seria “justo” “dar” o Penta ao Benfica com esse mesmo critério.
Mais, segundo o presidente da UEFA na entrevista que hoje “O Jogo” apresenta como manchete, não há nenhum critério pensado. E os critérios poderiam ser muitos, desde a classificação da 1ª volta (há campeonatos só com uma volta por esse mundo fora, argentino à cabeça), passando por atribuir os resultados da 1ª volta aos jogos por disputar, ou mesmo atribuir à equipa que mais jornadas esteve na frente. Curiosamente nenhum destes é mencionado… e é fácil de perceber porquê. [O Liverpool acabaria na frente em qualquer um deles. O #PortoaoColo em nenhum].
No meio disto tudo, queríamos ainda saber qual a solução do #PortoaoColo para terminar os Campeonatos (italiano, inglês e francês à cabeça) com número de jogos diferentes disputados pelas equipas? Deve ser uma “coisa gira de se ver”.
No #PortoaoColo vale mesmo tudo. O fundo não tem limites, mas cá estaremos para expor as verdades dos factos e denunciar a campanha “nojenta” feita pelo #PortoaoColo e os seus aliados"

Mensagem do director das Casas do Benfica, Jorge Jacinto

"As 297 Casas, Filiais e Delegações do Sport Lisboa e Benfica em todo o mundo estão também, neste momento, a viver uma fase difícil e de incerteza relativamente ao que o futuro nos reservará a todos. 
Certo é que nenhuma baixou os braços e continuam a chegar-nos os relatos de enorme solidariedade como são os casos de Vila Real, que ofereceu, em conjunto com os seus atletas e familiares, material de protecção para o Município de Vila Real distribuir pelas instituições mais necessitadas. Em Bruxelas, a Casa do Benfica mobilizou-se com instituições locais e recolheu alimentos e forneceu refeições aos mais carenciados. Em Algueirão-Mem Martins (Sintra), as refeições de Take-Away servem para financiar a alimentação aos Bombeiros, Profissionais de Saúde e Famílias carenciadas referenciadas pela Junta de Freguesia. Em Moura, a Casa do Benfica ofereceu aos Bombeiros locais equipamento para salvar vidas.
Estes são apenas alguns exemplos de que, em alturas de muita dificuldade, as Casas do Benfica conseguem inventar formas de apoiar os mais necessitados e isso é conseguir levar o Benfica mais longe e estar mais perto dos que mais precisam de todos nós.
Hoje, neste vasto universo, apenas 10 Casas do Benfica conseguem ter serviços mínimos a funcionar. Quer em Take-Away (Alcácer do Sal, Algueirão-Mem Martins, Arronches, Entroncamento, Loures, Quinta do Conde e Santiago do Cacém e Toronto), ou em actividades lectivas e desportivas (Proença-a-Nova e Romont) ou mesmo na área da saúde, como é Proença-a-Nova e o seu Laboratório de Análises Clínicas.
Estão parados mais de 40 mil atletas de 46 modalidades diferentes, sejam elas federadas, amadoras ou lúdicas.
Este projecto pioneiro implementou nesta última década um conjunto de serviços, imagem e de marca em todo o mundo com mais de 300 profissionais ao seu serviço.
Estes representam já uma importante fatia dos serviços SL Benfica prestados, uma vez que já temos um conjunto alargado de Casas do Benfica onde se podem encontrar todos os produtos disponíveis no Estádio, comportando-se assim como verdadeiras agências de descentralização para que os sócios e adeptos não tenham de se deslocar ao Estádio e possam ter um meio presencial de aquisição ou resolução das suas necessidades.
Nesta fase difícil, em que a prioridade é a saúde de todos, e a responsabilidade colectiva passa por nos protegermos a nós e a todos os outros, uma palavra de enorme respeito e solidariedade para com todos os dirigentes das Casas, Filais e Delegações em todo o mundo, que hoje têm o desafio de garantir o futuro das Casas do Benfica, e dizer-lhes que vamos ultrapassar todas as dificuldades e que, quando voltarmos, estaremos mais fortes, pois o enorme trabalho que estamos a realizar nestes dias dará os necessários frutos no futuro para que nos possamos rapidamente adaptar a este mundo que vai mudar.
E porque em breve vamos estar juntos, aproveito para convidar todos os Benfiquistas a visitar a Casa do Benfica mais perto e a envolver-se e a utilizar mais estes espaços, pois eles estão concebidos para ser espaço de todos e para todos, e em que só com o empenho e dedicação podemos ter Casas do Benfica, Todos os Dias Para Todos!

Jorge Jacinto"

Jogadores Que Admiro #113 – Jonas

"No dia 12 de Setembro de 2014, o SL Benfica anunciava a contratação de Jonas Gonçalves. O clube encarnado tinha esperanças de que o já veterano avançado pudesse colmatar a saída de Rodrigo, mas o que Jonas viria a fazer com a camisola dos encarnados seria algo absolutamente único, superando a mais optimista das expectativas.
O brasileiro, que tinha terminado contrato com o Valência CF, chegava a Portugal desacreditado, depois de uma fraca temporada ao serviço do emblema che. “Velho” ou “desempregado” foram alguns dos termos utilizados para descrever o jogador (sobretudo por parte dos rivais) na sua chegada à Luz.
Com a temporada já iniciada, Jonas demorou algum tempo a entrar nas opções de Jorge Jesus. A sua estreia aconteceria apenas em Outubro, frente ao FC Arouca onde se estreou também a marcar.
Contudo, o seu grande momento de afirmação aconteceria na Serra, frente ao SC Covilhã, onde o brasileiro marcou três golos numa dificílima vitória por 3-2.
Desde este momento Jonas nunca mais olhou para trás. Em 187 jogos foram 131 os golos marcados pelas “pistolas”: e tão inesquecíveis que muitos deles foram.
Como esquecer os golaços de fora da área frente ao FC Paços de Ferreira ou CD Nacional. As grandes cabeçadas que tantas vezes terminavam no fundo das redes. O golo que deu a vitória frente ao FC Zenit São Petersburgo, na Luz. O hat-trick frente ao Nacional, naquele jogo às 11 da manhã.
O golo “a meias” com Mitroglou, que tanta discussão gerou. A cabeçada que finalizou o cruzamento de letra de Raúl Jiménez, frente ao Vitória SC. O décimo golo na histórica goleada ao Nacional da Madeira. Os penáltis que pareciam sempre ir ao encontro das redes.
O último tiro do “Pistolas” frente ao Portimonense SC, onde celebrou batendo incessantemente no símbolo do Sport Lisboa e Benfica. O histórico golo no Bessa, que proporcionou uma explosão de felicidade a todos os benfiquistas e que me fez celebrar loucamente em casa com o meu pai.
De pé direito, de pé esquerdo, de cabeça, de livre, de penalty, de fora da área, sem ângulo ou driblando o guarda redes. Jonas foi no Benfica realmente uma verdadeira máquina de fazer golos. Perdeu-se a conta quantas vezes as bancadas do Estádio da Luz gritaram “JONAS” o mais alto que as suas cordas vocais permitiram. Perdeu-se a conta à quantidade de vezes que Jonas colocou um sorriso na cara dos benfiquistas.
Falar de Jonas é falar de golo, mas é sobretudo falar de classe e magia. A bola parecia ter uma relação de cumplicidade única com aqueles pés.
A forma como dominava a bola e ultrapassava o seu adversário sem esboçar o mínimo esforço. A forma como, com a sua franzina figura, conseguia evitar o mais forte dos atletas. A forma como encontrava a bola perdida e incompreendida na área e, tal como fez com a sua carreira, lhe devolvia a felicidade e o sentido de existir. A forma como fazia questão de celebrar todos os golos com os adeptos, retribuindo todo o apoio. A forma como vibrava com os jogos como se fosse benfiquista desde o berço. A forma como apelava à união entre os jogadores e as bancadas.
Depois das lágrimas no último jogo e da “fuga” na lambreta de Eliseu, ficou clara a dura realidade: a história de Jonas no futebol estava a chegar ao fim, mas não sem uma última ovação num estádio que cantava apaixonadamente o seu nome semana após semana. Um estádio que Jonas apelidava de especial. Um estádio repleto de pessoas que idolatravam o brasileiro.
Quando no dia 10 ao minuto 10 saía pela última vez Jonas, cada benfiquista parecia sentir um vazio dentro de si. Os encarnados continuavam lá, mas havia a sensação de que faltava algo, de que faltava alguém. Faltava o 10. Faltava a alegria de Jonas, alegria essa que contrastava agora com a tristeza pela sua ausência.
O futebol está muito longe de ser uma das coisas mais importantes no mundo, não deveria realisticamente sequer perturbar as nossas emoções. Mas, como disse o mítico treinador Arrigo Sachi, “o futebol é a coisa mais importante das coisas menos importantes”.
Para os benfiquistas, muito desta pequena “importância”, nos últimos anos, deveu-se a Jonas Gonçalves. Parafraseando o próprio Jonas, Benfica e Jonas são duas palavras que estão interligadas. Eu acrescento: estarão para sempre.
De desacreditado a lenda. As lesões crónicas impediram Jonas de continuar a dar o seu contributo, mas, com ou sem lesões, Jonas foi, discutivelmente, o melhor jogador do SL Benfica no século XXI. 
Sempre que falo de Jonas sinto-me obrigado a demonstrar todo o meu agradecimento. Quatro Campeonatos Nacionais (melhor marcador por duas vezes), uma Taça de Portugal, duas Taças da Liga e duas Supertaças."

Não há condições para terminar a época

"Nada disto é favorável à racionalização das decisões a tomar pelos clubes, por mais dolorosos que possam ser

1. À míngua de acontecimentos, golos, minutos, resultados e outras coisas do género, o jogo social Placard bem se poderia basear nas próximas semanas nas previsões, aspirações e palpites que medeiam ente a quarentena e o retomar da gesta desportiva. Até porque oscilamos entre o nada e o tudo, entre o que não vai suceder e o que se tem vontade de ver voltar a acontecer. Todos palpitamos, todos opinamos e todos desejamos o regresso desportivo. Compreensivelmente, sem dúvida.
Tenho lido milhentas soluções para este inédito momento (não) desportivo. Todas elas com defensores e objectores. Nos últimos dias sobressaiu uma abordagem promovida, creio, pelo presidente da Liga de Futebol Profissional, que me parece algo peregrina, qual seja a de haver uma espécie de cerca sanitária-futebolística - o Algarve -, onde decorreriam, em jeito acelerado, as últimas dez jornadas da primeira divisão. Tudo sem espectadores, tudo - suponho - com transmissões televisivas em cadeia sequencial para que ninguém e nada ficassem de fora. Tudo forçado para que, em jeito de salsicharia em série, se terminasse a prova e houvesse vencedores e vencidos.
Imagino o entusiasmo transbordante de tão prestimosa maneira de realizar quase um terço do campeonato. Imagino até o campeão a festejar numa qualquer marina algarvia, sem pessoas (para manter a coerência), ainda que uns tantos fossem ao Marquês de Pombal em Lisboa ou aos Aliados, no Porto, consoante o campeão encontrado. Uns com máscaras e outros sem elas (se calhar, ainda no tempo da polémica que por aí anda das máscaras do põe-ou-não-põe), com cotoveladas à discrição e distanciamento social controlado por uma qualquer claque.
Não sei se a segunda divisão também terá direito a uma cerca de segunda categoria. Partindo do princípio da limitação hoteleira de um hotel para cada equipa (36 no conjunto dos dois escalões!) e da escassez de estádios existentes no Algarve, o confinamento desta divisão iria para outra zona do país. Mas qual?
E os treinos? Separados por equipas, com certeza. Onde? Em que condições? Em fila ordenada ou por moeda ao ar? Em turnos do 24 horas?
E os árbitros? E os VAR? E os delgados? E outros ainda? Confinados ou refinados? Num hotel isolado ou tudo aos molhos?
E - last but not least - os jogadores? Treinos com todos os cuidados, roupeiros minuciosos, tudo por grupos separados e, a seguir, todos juntos nos jogos, sabendo-se que o futebol é um desporto de contacto e de confrontos físicos? Faz sentido expor atletas ao risco pandémico, cuja prevenção deve constituir a mais séria preocupação, antes de todas as outras?
Obviamente não ignoro o grande problemas que pode resultar dos operadores de telecomunicações não pagarem o que está contratualizado nestes meses (quantos virão a ser?) de paralisação forçada das competições. Também não ignoro a má prática de dar as receitas futuras como garantia de financiamento de alguns clubes, o que levou a incluir nestas operações os meses agora sem transmissões. Por isso, importa chegar a um entendimento entre todas as partes, de modo a minimizar, sem assimetrias injustas, as consequências negativas da situação. Contudo, não creio que o internato compulsivo de 30 por cento da competição seja a solução num desporto chamado rei, que o é muito por causa dos que sempre o acarinharam indo aos estádios. Constituirá, quanto muito, uma solução frágil, que a acontecer vai deixar marcas no futuro. Dispensar o que é indispensável é negar a alegria, o entusiasmo, a festa que são consubstanciais ao futebol. Uma coisa é fazer-se um jogo em casa ou fora de casa sem público (como aqui escrevi e a semana passada, situação que sempre foi encarada como castigo ou punição para o clube infractor!), outra coisa bem diferente é enfiarem-se oitenta jogos (ou cento e sessenta, se considerarmos as duas principais divisões) numa correria sem público, sem entusiasmo, sem nada, afinal.

2. Bem andou a Federação Portuguesa de Futebol em dar por terminadas todas as provas que estão sob a sua alçada nos escalões jovens. Bem andaram os clubes de andebol em não concluir a época, o que certamente irá suceder com as restantes modalidades. Claro que estou consciente que, sobretudo, a primeira divisão tem outra escala, quer desportiva, quer financeira, e que, como tal, a suspensão da prova gera consequências nefastas. Mas, na primeira opinião, tal não se resolve por uma varinha mágica de um torneio clausura forçado, desenxabiado, além de implicar uma nova temporada cheia de constrangimentos. Se se entrar pela próxima época adentro, entre competição nacional, taças europeias e selecções, é como tentar meter o Rossio na Betesga.
De uma coisa estou certo: a de quanto mais tempo se estiver na expectativa e na mera gestão de hipóteses quanto ao fim da época, piores consequências advirão da impossibilidade de planeamento e de capacidade de ultrapassar problemas com vista ao futuro desportivo, financeiro, transaccional. Nestas alturas, lembro-me sempre de que uma hipótese é uma coisa que não é, mas que a gente supõe que é para ver o que seria, se fosse.
No plano escolar, não sabemos, ainda, como ficará o resto do ano lectivo em curso. Também aqui estará em causa a apertada calendarização e não se podem desvalorizar as consequências negativas de suspensão prolongada de aulas presenciais. Nem os Jogos Olímpicos de Tóquio (por acaso, até terminariam já depois da data UEFA para o fim da época de futebol...) puderam aguentar a ideia de um sim-não-talvez. Estes são apenas dois exemplos que testemunham a gravidade da situação que não acaba numa definida data x. por fantasia ou milagre. É que tudo estará sujeito ao mais importante: a saúde das pessoas e da sociedade como em todo. E, no futebol, como bem disse Joaquim Evangelista, os jogadores não podem ser cobaias. Aliás, se bem nos recordarmos, no nosso campeonato, primeiro falou-se de um adiamento por umas poucas semanas. Depois começar-se-ia a treinar em Maio para jogar em Junho. Agora já se propõe jogar em Julho. Nada disto é favorável à racionalização das decisões a tomar pelos clubes, por mais dolorosas que possam ser.

3. Lá fora, já se veem acordos, ainda que às vezes mais ou menos forçados, para a redução salarial no período de inactividade. Nada diferente do que está acontecer infelizmente em quase todas as outras actividades económicas. Por cá, tudo na mesma. Será o futebol uma ilha isolada no meio de uma situação social tão dramática? Será que o lay-off, na sua estrita expressão da lei ou na mais ampla vontade das partes e adaptada ás especialidades dos clubes, não deve ser considerado? Li que alguns clubes nem admitem a hipótese de redução temporária do valor mensal dos contratos. Será que estão assim tão folgados financeiramente que se podem dar a esse luxo? Será que não são capazes de discernir que, entre o nada fazer agora e o inviabilizar o clube no próximo futuro, a fronteira é mínima? Por outras palavras, sendo o custo salarial a parte de leão dos custos operacionais totais - em alguns clubes bem acima dos 60% ou 70% dos proveitos correntes - não agir agora é uma forma destrutiva de encarar o futuro das SAD? De que estão à espera? Dos outros, evidentemente, à boa maneira portuguesa. Marcação entre clube a clube, a ver quem avança primeiro. É aqui que o papel da Liga e do sindicato dos jogadores deverá ser decisivo para encontrar um modus faciendi que não faça desta questão mais uma competição, mas sim uma forma de cooperação.

P.S. Depois de o esloveno presidente da UEFA Aleksander Ceferin ter referenciado 3 de Agosto como limite para se concluírem as competições nacionais as competições nacionais, um comunicado diz agora que ele não disse o que disse e admite a realização de partidas em Agosto. Um carrossel de datas hipotéticas de uma instituição cheia de dinheiro mas carente de liderança. No comunicado há, contudo, um ponto que importa enfatizar: «Prioridade é preservar a saúde pública». Obviamente..."

Bagão Félix, in A Bola