segunda-feira, 6 de abril de 2020
150 !!!
Ver esta publicação no InstagramUma publicação partilhada por Rúben Gato Dias (@rubendias) a
Mensagem da capitã do andebol, Patrícia Rodrigues
"Esta situação pela qual o mundo está a passar é nova para todos, e nós, atletas, não fugimos à regra. Se há uns dias praticávamos os habituais treinos e jogos, hoje em dia tudo mudou. Aceitámos esta nova realidade e mudámos os nossos hábitos!
Nesta fase, é essencial ganharmos consciência do que se passa, mantermo-nos informados sobre a evolução desta pandemia e cumprir as recomendações da Direcção-Geral de Saúde (DGS), da Organização Mundial da Saúde (OMS) e de instituições com responsabilidade social, como é o Sport Lisboa e Benfica.
É certo que a pandemia COVID-19 teve um impacto global, não só no mundo desportivo, financeiro e político, mas também na vida de cada um de nós. Fez com que muitos dos nossos projectos pessoais e profissionais ficassem para segundo plano, pois agora a nossa preocupação passa por nos mantermos em isolamento.
Dando-vos o meu testemunho pessoal, estou lesionada desde Fevereiro e continuo a aguardar uma cirurgia que certamente não será a prioridade neste momento – e está tudo bem! Nos últimos tempos, realizei fisioterapia todos os dias na clínica do Benfica, algo fundamental na minha recuperação. Entretanto, nestas circunstâncias, tive de me adaptar. Hoje em dia, a minha recuperação está dependente de videochamadas e chamadas com o médico e o fisioterapeuta, do meu esforço e dedicação para chegar ao objectivo final – voltar a praticar desporto e continuar como atleta de andebol!
Mantenho-me ocupada com o que me deixa satisfeita. Continuo a ter aulas universitárias (online!), a ter contacto com as pessoas mais próximas de mim e com as minhas colegas de equipa. Esta é uma nova realidade para mim, e certamente para os que leem este artigo, e é assim que deve ser!
Aproveito também para apelar ao bom senso das pessoas e à responsabilização social que cada um de nós deve ter. Para os que continuam a exercer o seu trabalho de forma a garantir que continuemos a ter acesso a bens de primeira necessidade e cuidados de saúde, um especial obrigado!
Unidos, iremos superar esta pandemia!
Vai ficar tudo bem.
Patrícia Rodrigues"
A pirataria, que “chatice”, afinal!
"Campeia a depressão colectiva, e com boas razões (e a procissão ainda vai no adro), pelo que devemos contribuir, podendo, para realçar aspectos positivos destes tempos amargos e sombrios. Pois bem, cá vai o meu contributo de hoje, oferecendo-me desde já para colocar a minha assinatura no abaixo-assinado, petição ou o que queiram fazer. Talvez depois de, porventura, lerem o que se segue, não a queiram, mas aqui fica a oferta, e é de boa-fé.
Parece que há muita pirataria de jornais e revistas, e as gentes da comunicação social insurgiram-se. E têm toda a razão, pois trata-se de uma clara violação dos direitos de autor. Não é ético, é crime, e é até uma ameaça à sustentabilidade financeira das empresas, à informação livre e independente, e pode colocar em causa postos de trabalho. Pois é. Indiscutível. Eu vou ao posto de venda – como, aliás, vou trabalhar fora de casa sempre que é mesmo necessário, embora com os devidos cuidados, e seguindo as recomendações razoáveis, claro, da mesma forma que o faço quanto ao supermercado ou à farmácia, et cetera, embora os “devidos cuidados” ainda não me tenham dado para o afastamento de quatro metros ou mais nas filas ou para os maus modos e a hostilidade que vão crescendo por aí à medida que os dias passam. Também ainda não me atirei para debaixo do sofá, seja a espreitar a televisão, seja depois de a espreitar.
Faço o que posso, e também me juntarei, com gosto, aos reclamantes contra a pirataria. Até porque eu já descobri há muito tempo, não foi só agora, que a pirataria é, afinal, uma grande “chatice”. Pois é. Há quem só descubra quando lhe toca. Quando toca aos outros, e até põe em causa coisas bem mais graves do que os direitos de autor, a pirataria ou lhe é indiferente (não a todos, é verdade) ou até acha bem, e alguns (não todos, justiça se faça), não resistindo, consomem e dão a consumir. Aí, a ética, o crime, a sustentabilidade, os direitos dos outros, et cetera, ficam postos de lado ou acomodados debaixo do tapete. Mas agora, Deus meu, agora dói que se farta.
Ah, dir-me-ão, mas noutros casos há que louvar ou, pelo menos, consumir e “traficar” a pirataria (até mesmo quando se lhe junta a truncagem, a adulteração e/ou até a invenção) porque estão em causa valores mais altos.
Ah é?! Eu digo que não, e digo que não por uma razão de princípio, que é aquele ensinamento básico e quase universal de que, em regra, os fins não justificam os meios, e também por uma razão a benefício dos que agora reclamam (e bem, repito): é que daqui a uns tempos, quando meio mundo estiver totalmente à míngua e não tiver meios para sequer comprar no posto de venda ou para a assinatura digital ou por correio, os fins do acesso à informação não justificarão os meios? Se calhar. Estão a ver onde nos leva a lógica dos fins acima de tudo, e também onde conduz a hipocrisia (por ação ou por omissão)? Dói, eu sei. Desagrada, eu sei. Mas é mesmo assim. Ponto."
Um tributo a Roberto Severo e a todos os outros “não sei quem a caminho do Real Madrid”. Estamos juntos
"Ruas desertas. Filas indianas e obedientes à porta dos supermercados (só falta um árbitro munido de spray para marcar a distância regulamentar). Milhões de desempregados ou lay-officializados em todo o mundo, aviões em doca seca, autocarros da Carris cheios de lugares vazios a cruzar a cidade como fantasmas rodoviários, turismo de massas com atum, surto de padeiros domésticos em furiosas experimentações, massa-mater dolorosa, cruzeiros tomados pela peste a navegar nas águas territoriais do desconhecido, um louco bolsobravo a jurar que é só uma gripezinha e que, seja como for, o brasileiro não pega nada, tráfico de ventiladores, morcegais maldições, negócios da China, curvas exponenciais, achatamentos, tabelas de mortos em vez de índices dow-jones, curas cubanas, serenatas à varanda, clubes riquíssimos a reduzir custos e, no meio de tantas novidades, surpresas e temor, há coisas que não mudam: lá está o Rodrigo Guedes de Carvalho a apresentar o noticiário, a RTP insiste no Preço Certo para que os grupos de risco, sem sino da aldeia que lhes valha, não se percam no tempo, e, no mundo do futebol, ainda há alguém, há sempre alguém, a caminho do Real Madrid.
Não tenham dúvidas. Quando, neste mundo que julgávamos dominar, não sobrarem mais do que uns milhões de baratas, vírus protegidos por uma fina camada de gordura e os pangolins voltarem a passear pelas ruas de Wuhan, é certo e sabido que uma dessas baratas, um único e coroado vírus ou um atónito pangolim estará a caminho do Real Madrid. Quando as repartições fecharem e os porcos pedalarem livres e as vacas voarem, haverá ainda um funcionário zeloso num gabinete subterrâneo do Santiago Bernabéu a atender a chamada de um agente em teletrabalho e a ultimar os pormenores de uma transferência que “poderá ser confirmada a qualquer momento”.
Cientistas unem esforços para desenvolver uma vacina e, enquanto isso, no gigante espanhol, há quem se dedique à humanitária tarefa de resgatar Luís Maximiano da baliza leonina, preparando uma oferta estrondosa em máscaras, gel desinfetante e paracetamol.
Pois é, meus amigos, podem os jogadores distrair-se a dar toques em rolos de papel higiénico ou, como o defesa do Manchester City, Kyle Walker, mitigar a solidão com acompanhantes que servem ao domicílio, que na linha da frente do futebol estarão sempre esses soldados desconhecidos que encaminham futebolistas para o Real Madrid. Ninguém sabe quando é que os campeonatos recomeçarão, quem serão os campeões, que competições europeias teremos na próxima temporada. Só sabemos que não sei quem está a caminho do Real Madrid.
Como não recordar Roberto Severo, a.k.a. Beto, central-símbolo do Sporting e protagonista da maior não-transferência, ou quase-transferência, de sempre? Todas as noites de todos os defesos, Beto adormecia vestido de branco e, no dia seguinte, lá acordava de leão ao peito.
De todos os jogadores que nunca jogaram no Real Madrid, Beto foi o que mais não-jogou. Foram épocas espectrais, de quase jogos e quase títulos, em que no lugar que deveria ser o de Beto víamos usurpadores como o vetusto Sanchís, o eterno Hierro ou até aquele perna-de-pau chamado Woodgate. Beto está para o futebol como Peter O’Toole estava para o cinema. O actor irlandês teve oito nomeações e nunca ganhou o Óscar, até que, por caridade ou cansaço, lhe atribuíram um Óscar honorário. Beto merecia uma camisola honorária do Real Madrid.
E enquanto escrevia isto, aparece-me a entrevista de Carlos Secretário à Tribuna, magnífica entrevista. E não é que Secretário vestiu mesmo a camisola do Real Madrid? Mais. Toda uma carreira foi reduzida praticamente a essa passagem desastrosa pelos merengues.
Eu lembrava-me disso – e do que, na altura, nos rimos com a transferência – e daquela assistência para Acosta num Sporting-Porto que quase entregou o título aos leões (quem é que era um dos defesas-centrais do Sporting nesse jogo? Beto.) e nem sabia que, no dia em que Secretário se estreou pela seleção nacional, num jogo contra o Liechtenstein, eu estava lá no Estádio da Luz, com um grupo de amigo debaixo de uma chuva torrencial a aproveitar o desconto do Cartão Jovem. E o que a entrevista fez, e bem, foi lembrar-nos, a todos nós, que no peito de um jogador desafinado também bate um coração, atrás de um atleta que se tornou uma espécie de anedota nacional há um homem e há sombras e negrume.
Secretário, tantas vezes lembrado como o infeliz sortudo que um dia, sem que soubéssemos como, se viu a caminho do Real Madrid, teve a coragem de falar desses tempos negros, do demónio do meio-dia a que chamamos depressão e, de repente, todas as piadas, todas as situações caricatas, as declarações deselegantes de Capello (diz que Secretário treinava bem, mas que antes dos jogos se borrava), soam a uma maldade gratuita de quem facilmente se esquece que somos frágeis, todos nós, que por trás do biombo da fama há uma pessoa e que essa pessoa pode sofrer enquanto nós nos rimos no sofá.
Foi tragicómica a passagem dele pelo Real Madrid? Foi. E então? Para ele, a vida continuou. Com altos e baixos aprendeu o suficiente para, já no fim da entrevista, dizer isto: “permitam-me, antes de mais questionar-vos: antes de se tornarem profissionais, seja de que área for, perguntaram-se qual foi o vosso principal papel quando nasceram?
Pois eu lembro-me, todos os dias, foi o de filho. E antes de ser jogador de futebol, um atleta de alta performance, porque a profissão assim me obrigou, fui filho, fui uma criança como qualquer um de vocês.” Sim, há sempre um não sei quem a caminho do Real Madrid, e isso tem graça. Mas esse não sei quem é, antes de tudo, filho de alguém. Esta entrevista de Secretário foi a melhor exibição que lhe vi fazer com a camisola do Real Madrid. Perdão, com a camisola de ser humano."
SAD ou Sociedade Antagónica Desportiva?
"Se queremos manter as SAD como parte integrante do tecido empresarial nacional, são necessários mais mecanismos de apoio que salvaguardem a sua sustentabilidade.
Por força do isolamento social imposto por vários países europeus, o mundo do desporto e as suas actividades e eventos continuam suspensos. Como consequência disso, treinadores e jogadores – os designados trabalhadores com contrato de trabalho desportivo – estão impedidos de prestar a sua actividade e as Sociedade Anónima Desportiva (SAD) (os empregadores) começam a ressentir-se desta paragem dos campeonatos e a sofrer as consequências que isso acarreta a nível económico e financeiro, nomeadamente no que respeita ao pagamento de salários.
Pergunta-se então: como podem os dirigentes das SAD salvaguardar os interesses das sociedades que representam e dos seus investidores, em paralelo com os interesses dos trabalhadores, credores e demais stakeholders das SAD?
Para começo de resposta, socorremo-nos do velhinho e já estudado à exaustão número 1 do artigo 64.º do Código das Sociedades Comerciais, que refere que os gestores ou administradores das sociedades comerciais (e, portanto, também os das SAD) devem observar “b) deveres de lealdade, no interesse da sociedade, atendendo aos interesses de longo prazo dos sócios e ponderando os interesses dos outros sujeitos relevantes para a sustentabilidade da sociedade, tais como os seus trabalhadores, clientes e credores”.
Em tempos que apelidamos “de normalidade”, nas Sociedades Comerciais, assim como nas Sociedades Desportivas, em concreto, assistimos por via de regra a uma simbiose entre os diversos interesses em presença: os interesses dos trabalhadores são, geralmente, paralelos ou mais ou menos coincidentes com os interesses dos accionistas e dos demais agentes económicos envolvidos, sejam eles fornecedores ou credores bancários. Na verdade, em circunstâncias normais, todos beneficiam e dependem do exercício da actividade de cada um para que a Sociedade cumpra o seu objectivo e se constitua como verdadeiro motor da economia do país.
Isto é assim, como se disse, em tempos “de normalidade”; perante uma situação como a presente, de pandemia do Covid-19, os interesses individuais dos trabalhadores – desde logo, a protecção da sua saúde, a par com a protecção dos seus rendimentos, mesmo estando impedidos de desempenhar a sua atividade – são antagónicos com os interesses da sociedade, dos investidores e dos credores. Por isso, se a SAD deixar de realizar o pagamento dos salários, terá tal atitude respaldo na protecção do interesse da Sociedade? E se, pelo contrário, a SAD utilizar a tesouraria disponível para pagar aos seus trabalhadores, um eventual incumprimento dos seus deveres perante os credores bancários será justificável pela defesa dos interesses próprios dos trabalhadores? Todas estas perguntas, até agora analisadas pela doutrina de um ponto de vista meramente teórico, são hoje colocadas na prática nas SAD e no conjunto imenso de Sociedades comerciais que, por força das restrições governamentais, viram a sua actividade – e, consequentemente, os seus rendimentos – drasticamente reduzidos. Seja qual for a resposta, uma coisa é certa: se queremos manter as SAD como parte integrante do tecido empresarial nacional, são necessários mais mecanismos de apoio que salvaguardem a sua sustentabilidade e que, no limite, garantam a sobrevivência do desporto como o conhecemos.
Enquanto tais mecanismos não são uma realidade, é reconfortante observar as várias demonstrações de solidariedade que vão muito além daquilo que a legislação assegura e que esperamos sejam replicados no universo desportivo português. Desde logo, a iniciativa levada a cabo pelos quatro maiores clubes alemães (que, por serem financeiramente mais poderosos)que se comprometeram a doar 20 milhões de euros aos clubes mais afectados pelo surto; por outro lado, a atitude exemplar de Cristiano Ronaldo, que abdicou de receber parte do seu salário (cerca de 11 milhões de euros), que foi canalizado para o pagamento dos salários dos funcionários do seu clube Juventus. Haja idêntico espírito solidário e empático por cá, em sintonia com todas as manifestações de grandeza de espírito e de abnegação a que temos assistido nas últimas semanas."