segunda-feira, 30 de março de 2020

Mensagem do Presidente da Fundação Benfica, Carlos Moia

"Vivemos tempos de extrema complexidade que desafiam o país, o mundo e cada um de nós. É um verdadeiro teste à resiliência das pessoas, das famílias e das instituições. É também um tempo de verdade e de retoma de valores no qual a superficialidade vã e a falta de compromisso dos pequenos de espírito vêm ao de cima, elevando-se bem alta a generosidade dos grandes e a sua superação perante a adversidade.
É assim o Benfica, da excelência conquistada pelo esforço e merecida pela vitória.
"E Pluribus Unum"…
De todos um! O Benfica, claro!
O Benfica reagiu com força, músculo financeiro e dimensão. A Fundação Benfica actuou prontamente.
É admirável a grandeza deste Benfica, tantas vezes injustiçado, que, perante a enormidade deste embate universal, mobiliza todas as suas energias, dos jogadores e atletas aos colaboradores e dirigentes, e actua a uma só voz, directo, incisivo, Grande!
Para os que não são benfiquistas é difícil perceber o que nos une e faz vibrar, seja no campo, seja na vida normal, porque escapa à exclusiva esfera do raciocínio e é, isso sim, paixão, emoção e mística! Disse alguém que “só nós sentimos assim” e atrevo-me a acrescentar que “só nós agimos assim”. 
Cabe hoje à Fundação Benfica, a que tenho a honra de presidir, materializar a solidariedade benfiquista com a sua acção. Foi assim no passado com tantos e tantos projectos socioeducativos, de envelhecimento activo, de combate à exclusão e pobreza, de integração social. Foi assim nas crises humanitárias do Haiti, Madeira, Mali, Ilha do Fogo, incêndios de 2017 e recentemente Moçambique. Está a ser assim agora, aqui, connosco! E já dissemos pronto à chamada, adoptando uma postura responsável de colaboração com as autoridades e reforçando a sua acção onde é preciso. Comprando ventiladores e material de protecção, progressivamente mais e mais, entre fundos mais modestos da Fundação e um milhão deste generoso, enorme, Benfica. Procurámos os mais fracos de entre os fracos e levámos cabazes de alimentação a todos os cerca de 3000 idosos isolados e pobres do país em colaboração com a GNR. Levámos 5 toneladas de comida aos sem-abrigo através da Comunidade Vida e Paz com o envolvimento directo e patrocínio do plantel de futebol profissional.
Fizemos, fazemos e continuaremos a fazer tudo isto de forma responsável e com a ambição dos grandes, porque quando a Fundação faz, é o Benfica que faz, o clube, as estruturas, os sócios e os adeptos. Sentimos o peso reconfortante dessa responsabilidade.
Esta é uma prova difícil que juntos iremos vencer, somos campeões e sabemos superar-nos perante as adversidades. Por isso, os benfiquistas sabem que é preciso contribuir para a Fundação Benfica, não directamente, mas com a consignação de 0,5% do seu IRS. Também sabem que gerimos com critério e investimos em causas justas e urgentes, por isso confiam em nós, e eu aqui reitero, em meu nome pessoal e da Fundação, que todo o dinheiro será bem empregue!

Carlos Moia"

O pacto das modalidades

"Tem se escrito muito sobre um eventual pacto nas modalidades entre Benfica-Sporting e Sporting-FC Porto. Algo que para muitos adeptos do Benfica tem parecido uma decisão “mansa” do Benfica. No entanto, na minha opinião, esta decisão pode fazer sentido. Vou tentar analisá-la ao pormenor aqui.
No passado recente (últimos cinco anos), que atletas foram “roubados” entre estes clubes?
a) Benfica - Sporting. O Benfica foi buscar Célio Coque, Afonso Jesus, André Sousa e Miguel Ângelo ao Sporting em Futsal e o Daniel Neves no Andebol. O Sporting contratou Gonçalo Nunes no Hóquei, Carlos Carneiro e Cláudio Pedroso no Andebol e Cláudio Fonseca no Basquetebol. Além destes atletas nas modalidades colectivas, houve uma série de trocas nas modalidades individuais. Os mais célebres foram no Atletismo, onde o Sporting contratou Nélson Évora, Hélio Gomes, Rasul Dabo, Tiago Aperta, Marcos Caldeira e Jorge Paula. Mas houve muitos mais. O Sporting também praticamente acabou com a equipa feminina de Atletismo e com a equipa masculina de Judo do Benfica, e ainda contratou nosso melhor jogador de Ténis de Mesa - o Diogo Carvalho, o que acabou por levar à despromoção do Benfica para a 2º Divisão da Modalidade. Já o Benfica foi buscar recentemente o Anri Egutidze do Judo e também contratou vários atletas de Atletismo ao Sporting, o mais popular foi o antigo medalha de bronze nos Jogos Olímpicos de Atenas 2004, Rui Silva. Aliás, segundo consta até foi a mudança de Rui Silva que gerou isto tudo. O Benfica foi ainda contratar o peruano André Carrillo ao Sporting, mas no futebol.
b) Sporting - FC Porto. Telmo Pinto, Vítor Hugo e Alvarinho no Hóquei, Pedro Spínola no Andebol e o Diogo Araújo no Basquetebol saíram do FC Porto para o Sporting. Já o FC Porto foi buscar Rui Silva no Andebol.
c) Apesar de não ser parte do pacto, pelo menos até agora, fiz também o levantamento das trocas Benfica - FC Porto. O Benfica foi buscar José Silva no Basquetebol. O Porto contratou João Soares no Basquetebol (que pelo meio esteve emprestado um mês a uma equipa da 3º Divisão Espanhola), António Areia no Andebol (que o Porto acabou por ter que indemnizar o Benfica, visto que ainda tinha contrato com o Benfica) e Hugo Santos no Hóquei.
Há mais jogadores com passados em mais do que um clube, mas nunca foram directamente de um lado para o outro. O Roberto Reis no Voleibol por exemplo esteve um ano no Espinho antes de ir para o Sporting. O Gonçalo Alves no Hóquei depois de sair do Sporting passou três anos na Oliveirense antes de rumar ao Porto. São dois bons exemplos. E claro, houve mais trocas no passado. Por exemplo Gonçalo Alves, Bebé e Davi no Futsal saíram todos do Sporting para o Benfica, mas há mais de 10 anos atrás.
Se olharmos para os nomes que falei, a verdade é que não houve assim tantas mudanças que tenham feito muita diferença. O Sporting e o Porto conseguiram tirar duas das melhores promessas do Benfica no Hóquei, mas nem Gonçalo Nunes, nem o Hugo Santos renderam grande coisa nos seus novos clubes para já. O Nélson Èvora não acrescentou nada ao Sporting e até fez com que o Benfica tivesse que se inovar acabando por contratar o Pedro Pichardo. Os jovens todos que o Benfica foi buscar ao Sporting no Futsal também não têm acrescentado nada ao Benfica. As mudanças mais significativas a nível desportivo acabaram por ser Rui Silva e António Areia no Andebol para o Porto e o Diogo Carvalho no Ténis de Mesa para o Sporting.
Apesar de não terem existido assim tantas movimentações, os clubes subiram imensos os seus orçamentos nas modalidades na segunda metade da década 2010-2020. No caso do Sporting temos os valores oficiais graças à auditoria que foi feita às contas da Direcção de Bruno de Carvalho. O relatório é público e é fácil de encontrar na internet. O Sporting passou a gastar 176 mil euros no Carlos Ruesga no Andebol, 186 mil euros no Dieguinho no Futsal, 116 mil euros no Nélson Évora e 153 mil euros no Pedro Gil no Hóquei, quando três anos antes, os atletas mais bem pagos nestas modalidades eram Pedro Solha (Andebol, 58 mil euros), Alex Martins (Futsal, 77 mil euros). Rui Silva (Atletismo, 33 mil euros) e ngelo Girão (Hóquei, 73 mil). Além destes atletas, todos os outros foram bem aumentados. O salário médio no Sporting em Futsal subiu 69% em três anos, 116% no Andebol e 124% no Hóquei. Só que isto não aconteceu só no Sporting. Aconteceu também no Benfica.
O Sporting conseguiu levar o Nélson Évora, mas não se ficou por aí. Tentou levar outros jogadores, como o André Coelho no Futsal, o Carlos Nicolia no Hóquei, a Telma Monteiro no Judo e certamente que outros atletas foram abordados. Estes foram as propostas mais “populares”. Nesta situação, a única maneira que o Benfica teve para segurar os seus melhores, foi aumentá-los e oferecer uma proposta equivalente aquela que o Sporting oferecia. O Benfica passou de gastar 4.6 milhões de euros em gastos com pessoal das modalidades em 2016-2017 (com mais duas modalidades do que o Sporting, Voleibol e Basquetebol) para gastar quase 8 milhões de euros em 2018-2019. O prejuízo das modalidades do Benfica passou de 5.8 milhões de euros em 2016-2017 para 12.1 milhões de euros em 2018-2019 - atenção à palavra prejuízo.
Havendo pacto, o Sporting não irá abordar jogadores do Benfica e o Benfica não irá abordar jogadores do Sporting. Vai haver maior disputa entre os clubes por atletas a nível nacional antes de eles assinarem pelos clubes, mas a partir daí, se o atleta quiser receber mais, terá que ir para o estrangeiro ou para uma Oliveirense ou Fonte de Bastardo ou Modicus, que tradicionalmente não têm as mesmas capacidades que qualquer um dos grandes tem. Os clubes com o passar do tempo vão começar a baixar os seus orçamentos e eventualmente até poderão contratar estrangeiros melhores, mantendo a mesma base da equipa, gastando menos dinheiro. O pacto será positivo para aquele clube que souber melhor identificar talento e captá-lo.
Mas lá está, o impacto deste pacto só será visível daqui por algumas épocas. Os contratos não vão começar a baixar da noite para o dia. No entanto, para já, parece ser algo que poderá beneficiar-nos mais.
Este pacto não é uma decisão desportiva. É uma decisão financeira."

Que jogos devo rever nesta Quarentena? SL Benfica 2-1 Gil Vicente FC



"A época 2013/2014 do SL Benfica foi uma das melhores da História recente dos encarnados. Uma temporada marcada pelo triplete a nível nacional e por um voo alto na Europa – que culminou numa chegada à final, onde perdeu nas grandes penalidades contra o Sevilha FC.
Vindo de uma época em que perdeu a Taça de Portugal contra o Vitória SC, a Liga Europa para o Chelsea FC e o campeonato para o FC Porto, a continuidade de Jorge Jesus ao comando dos destinos da equipa foi muito criticada, pelo que era imperativo que os encarnados respondessem às críticas com títulos.
No entanto, na primeira jornada da Liga, os encarnados perderam frente ao CS Marítimo, por duas bolas a uma, fazendo com que os fantasmas da época passada voltassem a pairar sobre a equipa e os adeptos. Não obstante, as coisas iriam mudar no próximo jogo.
No dia 25 de Agosto de 2013, numa tarde de domingo solarenga, começava verdadeiramente a época de sonho das “águias”. Rolava a bola na segunda jornada da Primeira Liga, e os encarnados recebiam o Gil Vicente FC, à época orientado por João de Deus – actual treinador adjunto de Jorge Jesus -, num encontro que se adivinhava complicado para os homens da casa.
As “águias” entraram com vontade de ganhar vantagem no marcador cedo, mas os esforços embatiam ora no guarda redes gilista, Facchini, ora nos ferros da baliza. A equipa visitante não criou qualquer perigo às redes de Artur Moraes, que fora um autêntico espectador na primeira metade do encontro. O nulo persistia ao intervalo.
Na segunda parte, a tomada de jogo manteve-se igual: os encarnados com o controlo do jogo, e os homens de Barcelos sempre a espreitar o contra ataque para tentar chegar ao golo. E foi isso que aconteceu ao minuto 70’, quando Maxi Pereira, com um erro grave, perde a bola para Diogo Viana que, na cara de Artur, faz a bola abanar as redes encarnadas.
Apesar de ter o controlo do jogo, os comandados de Jorge Jesus estavam agora em desvantagem. O tempo passava rapidamente, e a bola teimava em não entrar na baliza dos visitantes. Até que chegávamos ao minuto 90’ quando, na cara de Facchini, Markovic restabelecia a igualdade na partida.
O que se seguiu após o golo foi um autêntico furacão que arrasou por completo a equipa visitante. Com as bancadas da Luz a apoiar como nunca, os encarnados, ao fatídico minuto 92’, através de Lima, davam a cambalhota no marcador. E com estes autênticos “dois minutos à Benfica” estava dado o mote para aquela que seria a primeira de quatro épocas de muitas conquistas.

Onzes Iniciais e Substituições:
SL Benfica: Artur Moraes; Maxi Pereira, Luisão, Garay e Bruno Cortez; Salvio (Markovic, 61’), Enzo Pérez, Matic e Gaitán (Sulejmani, 68’); Lima e Rodrigo (Djuricic, 68’).
Gil Vicente FC: Adriano; Gabriel, Halisson, Danielson, Luís Martins; João Vilela, Luan e César Peixoto; Paulinho (Brito, 46’), Bruno Moraes (Nwankwo, 71’) e Diogo Viana. "

O impacto do destreino: as consequências inevitáveis para os futebolistas

"Na discussão dos timings do retorno do futebol à competição será importante considerar o impacto que este período de paragem teve no condicionamento físico dos atletas. Muitas têm sido as partilhas nas redes sociais de atletas de futebol em regime de treino individual no seu domicílio. Estas rotinas, meritórias uma vez que evidenciam sentido de responsabilidade não só por parte do atleta e preocupação por parte do clube, e com benefícios sobretudo se aliadas a um planeamento nutricional, são no entanto insuficientes para evitar as consequências do destreino num período em que os atletas entram na terceira semana afastados dos relvados.
Declínios da performance em realizar sprints repetidos, agilidade e mudanças de direcção, associados à diminuição da sua capacidade metabólica serão inevitáveis a partir deste momento, juntamente com alterações estruturais e funcionais em tendões por exemplo, estruturas dependentes de um intervalo de cargas óptimas para se manter funcionais.
Ou seja, se os atletas mantiverem suspensa a sua prática de futebol num período superior a três semanas, são esperadas repercussões significativas no seu condicionamento específico para a prática de futebol, com risco de impacto futuro não só nos seus níveis de performance, mas também no risco de incidência de lesões.
Serão necessárias algumas semanas de preparação para que os atletas realizem o equivalente a um regime de treino de pré-época sendo as necessidades em duração deste período maiores quanto mais tempo os atletas permanecerem fora dos relvados.
Da mesma forma, repensar o intervalo mínimo entre jogos no retomar das competições para três dias é essencial para permitir aos atletas uma adequada recuperação ao esforço e preparação do jogo seguinte. Isto porque o calendário de jogos, e a presente indefinição com um possível curto intervalo de tempo entre o final da presente temporada e o início da seguinte, poderá potenciar o risco de lesão além da diminuição de performance, o que gera por sua vez indisponibilidade para treinar e jogar, com repercussões desportivas e financeiras para os clubes."

Perguntem aos pássaros

"Já vi este filme. As imagens repetem-se: não passa ninguém nas ruas, a cidade ficou deserta, e os pássaros tomaram o seu lugar nas bordas dos telhados, nos parapeitos das janelas, nos fios de electricidade. Pássaros e pássaros e pássaros. De todas as espécies. Na minha varanda, três gaivotas observam o correr do rio numa ansiedade de peixes. Há um silêncio tão profundo que pode ser que o mundo tenha acabado sem a gente dar por ela, fechados na prisão mais larga de todas as prisões, esta prisão que, de repente, passou a ser a Terra inteira, sem uma esquina onde possamos esconder-nos. 
No filme que vi, tantas vezes aliás, nunca percebi se o mal estava nos pássaros ou em nós. Ou se era um mal absorvido pela própria inconsciência de que ele existe em qualquer lugar onde haja homens e pássaros. Da minha varanda não consigo ver esse mal invisível, inimigo insidioso, mas vejo os pássaros que fixam o Sado em silêncio. Estou cá no alto da torre da resistência, no meu posto, procurando os anjos tortos, esses que vivem na sombra e, como dizia Drummond de Andrade, não tenho teogonia, não tenho parede nua onde me encostar, nem cavalo preto para fugir a galope. Recordo-me das aulas de Física: “Um lugar tão infinitamente compacto que fica sem dimensão chama-se singularidade”.
A singularidade dos pássaros. Sacodem as penas e olham-me como se a culpa fosse minha. Talvez, como no filme, consiga sair de casa num mutismo completo, meter-me no carro e partir para longe. Só que, desta vez, o mal que nos assoberba não tem longe nem distância: está em todos os espaços de todos os espaços, principalmente inserido nas feridas da nossa solidão, que é a de não nos permitirem acarinhar os que vivem no movimento de rotação do nosso amor irrevogável. Drummond outra vez: 
“Que pode uma criatura senão
entre criaturas, amar?
amar e esquecer, amar e malamar
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?”
Não sei responder. Perguntem aos pássaros..."

O antes e depois...

"Tivemos a felicidade de ver Garrincha transformar um pequeno guardanapo num latifúndio, segundo as palavras de Armando Nogueira (completam-se hoje 10 anos sobre o falecimento deste)…
Fomos felizes por termos tido a oportunidade de termos visto uma nota dez ser atribuída a Nadia Comaneci, por termos tido a possibilidade de assistirmos aos desempenhos de Ayrton Senna e de Michael Schumaker e por termos visto Michael Jordan suspenso no ar (I believe I can fly).
Yelena Isinbayeva, Usain Bolt e Michale Phelps, fizeram-nos delirar… tal como a final do Campeonato Europeu de Futebol de 2016.
Josep Guardiola e os ‘mind games’ de José Mourinho mostraram-nos que nem só da ‘taktiké’ dos gregos vive o futebol…
E poderíamos também considerarmo-nos felizes por termos sido contemporâneos de Livramento, Agostinho, Eusébio, Damas, Carlos Lopes, Rosa Mota, Fernando Chalana, Manuela Machado, Aurora Cunha, Jorge Fonseca, Telma Monteiro e tantos outros…
Foi preciso um ser minúsculo, na fronteira entre o ser vivo e o ser não-vivo, para transformar o nosso ‘status’ de espectador… e se nada será como dantes, talvez tudo passe a ser como dantes tomando novas qualidades como diria Camões. Foi preciso um ser minúsculo para o futebol dar conta que não poderia existir sem os espectadores, para as televisões descobrirem que não poderiam passar sem os comentadores desportivos e as suas guerras, para a imprensa desportiva dar conta que começava a ter falta de sensacionalismo.
Foi preciso esse ser minúsculo para receitas de publicidade, direitos de imagem e de direitos televisivos no futebol decaírem… Como escreveu ontem Jorge Valdano – outro génio com quem convivemos –, num artigo com o título «o vírus contou a verdade ao futebol», “o coronavírus arrebatou a atenção, a preocupação e os heróis. Os aplausos foram dos estádios para as varandas.” Foi preciso o aparecimento do mesmo, o seu alastramento e a declaração de pandemia para o COI se aperceber que não domina tudo, que não se move impunemente entre grandes cifras, que não dita as regras…
Muito se afirma que nada será como dantes após esta fase, após esta época que atravessamos, que o desporto a isso não escapará e aponta-se para uma grande evolução para formas “desportivas” em que predominarão as ancas no sofá e o comando na mão. Morreu o rei, viva a rainha, quer seja a Playstation quer seja a Xbox. Disso foi exemplo o facto de o Braga ter “transferido” o seu jogo com o Santa Clara para a Playstation e ter convidado o público a assistir através da internet – de um lado Diogo Salomão, do outro Ricardo Horta. A Liga Portuguesa de Futebol pegou nesta ideia e reproduziu a jornada anterior através de duelos individuais de FIFA20, à semelhança do que já havia sido anunciado em Espanha e Itália.
Os e-Sports vieram para ficar. Definitivamente! Mesmo sem a componente “movimento” que é parte integrante do desporto. O lançamento de um livro, entretanto adiado, pelo Comité Olímpico de Portugal, intitulado “e-Sports: O desporto em mudança?” irá levantar uma ponta do véu. A outra ponta do véu já está levantada: em Espanha, os prémios monetários e as audiências online (o Bétis – Sevilha, organizado por estes clubes há duas semanas teve 62 mil espectadores nas plataformas digitais) mostraram-se surpreendentes.
A Allianz, a Red Bull, os M&Ms e a Kia deitaram mãos à obra e não deixaram os créditos por mãos alheias. A publicidade e as mensagens subliminares continuarão a marcar presença nesta nova forma “desportiva” e continuaremos a ser manipulados como consumidores.
Mas os mesmos não estarão isentos, para além destes, de outros perigos. O doping, a fraude e a corrupção poderão marcar presença, tal como a própria exploração infantil e até o suicídio, a violência, a morbilidade ou a morte súbita. Recordamo-nos que em 2005, um casal na Coreia do Sul deixou morrer acidentalmente o seu filho à fome porque, curiosamente, estavam completamente absortos num jogo em que tinham de cuidar de uma criança virtual. Em 2007, na China, um homem morreu depois de jogar 50 horas seguidas ‘World of Warcraft’. Em 2012, em Taiwan, um homem de 23 anos foi encontrado morto num ‘cybercoffe’ após ter jogado durante 10 horas seguidas imediatamente depois de ter terminado um longo turno no seu trabalho.
As novas qualidades de que nos falava o poeta continuarão enfermas e submetidas ao capital. Novas virtudes (?), velhos vícios!"