sexta-feira, 27 de março de 2020

Juntos, somos mais fortes

"Nem sei bem explicar-vos o orgulho que tenho na Fundação Benfica. Não é só pelo 'Para ti Se não faltares', o projecto que combate o absentismo e o insucesso escolar. Nem se resume ao 'Benfica faz bem', quando os atletas do Clube interagem com crianças e jovens para fomentar a autoestima e a confiança. É por tudo. São as campanhas humanitárias, as preocupações sociais, os valores transmitidos, o desporto inclusivo e o estar sempre atento ao mundo em que vivemos. Ainda agora com a pandemia vimos bem o peso que o SL Benfica e a sua Fundação podem ter para fazer a diferença. Por um lado, a oferta de ventiladores e de apoio financeiro. Por outro, o trabalho de proximidade com a Guarda Nacional Republicana para acompanhar os idosos isolados em risco, principais alvos da covid-19. Serão cerca de três mil pessoas beneficiadas, neste caso.
É mais do que justo destacar aqui o trabalho das inúmeras pessoas que trabalham na e para a Fundação, heróis muitas vezes invisíveis, uns mais anónimos do que outros, que vestem a camisola, que se fazem voluntários, que fazem acontecer.
É também para isto que existe o Sport Lisboa e Benfica. Num momento como o que passamos, a nível mundial, é cada vez mais importante mantermo-nos juntos, unidos num objectivo comum. Há que derrotar a epidemia, mas também ajudar quem mais precisa agora e aqueles que vão precisar a seguir. Sim, o coronavírus não vai desaparecer. Até pode acontecer, clinicamente falando, mas os seus efeitos serão prolongados e duradouros na mente, no corpo, na sociedade, na comunicação social, na economia ou no desporto. Por isso, no próximo IRS (509259740, o número mágico) ou quando tiver tempo para partilhar, lembre-se da Fundação."

Ricardo Santos, in O Benfica

Saudades

"À medida que o tempo passa, as saudades crescem. Saudades de ir à Luz, de me sentar nas bancadas, da ansiedade antes e durante os jogos, da euforia dos golos, de comemorar as vitórias. Também das partidas fora de casa, muitas vezes diante da televisão a roer as unhas entre o sofá e os momentos em que deixo de conseguir ficar sentado. Saudades também das outras modalidades. Do básquete. Do hóquei. Das idas ao pavilhão. Da verificação atenta dos resultados e das classificações nas noites de domingo (os números agora são outros e chegam minuto a minuto: de contagiados, de mortes...).
Saudades também de outros jogos, de outras ligas. Da Premier League à hora do almoço nos sábados. Da Liga Espanhola à hora do jantar (agora são as conferências de imprensa da DGS...). Das provas europeias a meio da semana. Saudades da NBA, da Fórmula 1, do ciclismo. Do desporto. Da vida normal. Da vida. O tempo é da angústia.Também de ausência. Quem sabe de perda. Nunca atravessámos nada como isto. Ninguém estava preparado. Tentamos abstrair-nos. Pensar que tudo não passa de um susto. De um pesadelo. De um momento mau. Há que ver o lado positivo, se ele existe. Talvez Albert Camus tivesse razão quando dizia que nas horas de flagelo há mais cosias no homem para admirar do que para desprezar. Ou José Saramago, que afirmava que a alegria e a tristeza, ao contrário da água e do azeite, poderiam sempre andar unidas. Vale a pena tentar. Viver um dia de cada vez é a receita. Enquanto se espera. Para não desesperar. Para não ceder. Tudo isto há de passar. E tudo talvez volte a ser como antes. Um dia. Ai, esse dia..."

Luís Fialho, in O Benfica

Solidariedade

"Nestes tempos de crise e de profunda incerteza, o Sport Lisboa e Benfica revelou a sua dimensão humanista ao realizar a doação de 1 milhão de euros ao Serviço Nacional de Saúde.
Numa parceria com a Câmara Municipal de Lisboa, a maior autarquia do país e com um orçamento de 948 milhões de euros, e com a Universidade de Lisboa, a maior a nível nacional, com um orçamento de 375 milhões de euros, o SL Benfica passou das palavras aos actos. Enquanto assistimos a discursos e promessas vãs, um clube, uma autarquia e uma universidade chegaram-se à frente.
No Benfica tem sido sempre assim, desde 2003, quando Luís Filipe Vieira assumiu o comando desta nau. Na sua tradição solidária, os dirigentes e gestores benfiquistas deram uma prova de acção e de pragmatismo. O milhão de euros será destinado à compra de equipamento médico para fazer face a este maldito vírus. O exemplo do Benfica devia ser seguido por todos aqueles que passam a vida a apregoar os valores da solidariedade e da ajuda humanitária. Em tempos de crise, o Benfica e os seus dirigentes nunca faltam à chamada. Todos conhecemos o papel da nossa Fundação como instituição particular de solidariedade social, ao longo dos 11 anos de vida. Agora, em parceria com a GNR, a Fundação Benfica faz chegar, diariamente, a 3000 idosos isolados, packs alimentares individuais. Além disso, a nossa Fundação forneceu três ventiladores para hospital de Lisboa, Porto e Coimbra. Todos estas iniciativas foram tomadas no curto espaço de quatro dias. Somos, de facto, um clube exemplar. Uma verdadeira instituição de utilidade pública."

Pedro Guerra, in O Benfica

Consignação fiscal: O músculo que nos ergue!

"Esta é a pior das alturas para falar em consignação fiscal. O IRS não é um tema simpático, e os portugueses estão de olhos e afectos postos nos valores da vida, da família e da solidariedade. Mas, se pensarmos bem, é daí, dos nossos impostos, que vem o músculo financeiro do Estado para alavancar a força colectiva da nação nesta verdadeira guerra que nos pôs a todos em estado de sítio, em estado de emergência, mas também, logo e cada vez mais, em estado de prontidão. Por isso, mais do que nunca, é um dever patriótico pagarmos os nossos impostos.
É também daí, através da consignação fiscal, que vem a capacidade da Fundação Benfica para responder à altura dos desafios, cada vez maiores, porque não basta a vontade, é preciso músculo! Desde a revolução de Abril que trouxe a democracia e acordou a consciência cidadã de todos os portugueses, não me lembro de nenhum outro momento em que o Estado se pusesse tão veementemente ao serviço dos cidadãos, com a classe política a mostrar prontidão e serviço da causa pública como nunca. Com os cidadãos e a sociedade civil e aplicarem uma velha e boa máxima, que bem podia ser portuguesa:
'Não perguntes o que o teu país pode fazer por ti. Pergunta, antes, o que podes fazer pelo teu país'. E os portugueses perguntam, sugerem, partilham, telefonam, mobilizam-se, dão-se duma forma desinteressada e apaixonada como nunca antes. E as empresas concorrentes colaboram, e da cerveja se faz álcool, reconverte-se a fábrica para o que faz falta, criam-se listas de compras para a vizinhança do prédio onde antes se não falava aos vizinhos, nem se conheciam em muitos casos. E os clubes já não jogam, mas treinam, trabalham e incendeiam as paixões como nunca. Dizem aos seus que hoje 'somos todos do mesmo clube' apelando à união e trazendo à tona os valores do desporto.
E o Benfica sobressai! O mesmo de sempre, igual a si próprio desde o primeiro momento, popular, orgulhoso, atento às dores do povo e sempre pronto para lhes acudir, para levar a todos o calor da chama imensa que é a Alma Benfiquista. E mostra-se vencedor, nas papoilas da Vida como nas que saltitam nos campos, não receia o risco e afronta o medo e a incerteza com acção destemida e pronta, sem rodeios, directo ao assunto, com intensidade e em força! Cabe agora à Fundação um lugar de avançado, mas é esta imensa força de equipa que nos carrega neste 'onze' sem limites nem barreiras com todo o Benfica a contribuir, na escala dos grandes, mostrando, com 1 milhão, merecer a paixão de tantos milhões por esse mundo fora. A Fundação é a expressão diária deste Benfica sólido e solidário que é feito de adeptos e das suas contribuições, por isso, quando nós fazemos, quando damos a mão a alguém, somos todos que damos as mãos. Quando acudimos à Vida, somos todos que acudimos!"

Jorge Miranda, in O Benfica

Vírus

"Já é suficientemente claro para todos nós que estamos a experimentar formas de vida e modelos societais que não conhecíamos... 'Foi como se o dia escurecessse a meio', disse o Patriarca de Lisboa, Manuel Clemente, e ainda hoje continuamos a viver submersos nessa espécie de sombra, sob esse eclipse, no mesmo transe que tão inesperadamente veio suspender as nossas vidas. Perante o magna de comunicação que diariamente nos é disponibilizado em todas as plataformas e sem outros dados objectivos que possamos tomar como fiáveis, não nos resta senão cumprir no que, a cada um de nós, nos é pedido e exigido, no sentido de tentar vencer o 'monstro' tão brevemente quanto for possível e de modo a conseguir reduzir-se, no que pudemos, a dureza dos factos e dos números. Ainda não conseguimos ver o fim do drama que nos aflige. E sem podermos conjecturar uma data firme para que a saúde colectiva volte a estabilizar e a consolidar-se, ainda menos podemos imaginar, sequer, o que no final da terrível pandemia se nos apresentará como resultados estruturais, nas pessoas, nas famílias, na comunidade e na sociedade em geral.
Há duas semanas confinados às nossas casas neste quotidiano congelado, claro que temos saudades do desporto. Saudades do Benfica... Nunca teremos tido, aliás, tantas saudades de tanta gente e de tanta coisa, ao mesmo tempo: a família, um filho distante, um neto, ou uma mãe no hospital... Os outros parentes, os nossos atletas, os companheiros de trabalho...
A nossa empresa, as nossas conversas, um cafezinho com amigos, uma boa discussão sobre futebol, um passeio a pé... Quando será possível retomar o que e como fazíamos, a nosso bel-prazer?
Uma coisa é certa: este tempo suspenso deixa-nos pensar mais. Nós, cada um e todos nós, estamos um pouco diferentes... Enquanto vamos batalhando contra uma peste implacável (neste momento da vaga, com resultados talvez um pouco mais encorajadores...), pelo menos já provámos uns aos outros que, no fim das contas, todos juntos, também poderemos dar cabo do 'vírus no individualismo' que, dantes, tanto nos prejudicava, até nas nossas melhores aventuras colectivas...

Nota final
Deixem-me assinalar, com orgulho, a breve homenagem que, por estes dias, é devida aos Jornalistas e a todos os bravos artífices que, cada um no seu posto - conjuntamente com as equipas exteriores de Tipografia e Distribuição, assim como de composição da versão Digital - estão a honrar a História do nosso Glorioso Clube e, em especial, do nosso Jornal O Benfica. Recebem todos o meu sentido 'Muito Obrigado'!"

José Nuno Martins, in O Benfica

Cadomblé do Vata (agora de olhos fechados!!!)



"Taça de Portugal 96/97 - Meias Finais - 30/04/1997 - Estádio da Luz
SL Benfica 2-0 FC Porto
1. Valdir chegou ao SL Benfica no mercado de Janeiro e já fez história... desde o golo de Carlos Manuel na fina da Taça de Portugal 82/83 disputada nas Antas, que um bigodão do Glorioso não facturava ao FCP.
2. Amaral é um jogador indispensável no Benfica... uma equipa que joga com quarteto defensivo constituído por Marinho, Jorge Soares, Tahar e Pedro Henriques sabe que mais cedo ou mais tarde vai precisar de um coveiro.
3. Ver Silvino com a camisola do FCP é contra natura, mas não concordo com os que o apelidam de Judas... pela forma como não sujou as mãos nos dois golos encarnados, tem mais pinta de Pilatos.
4. Tiago rescindiu com o Marítimo alegando que tinha medo de voar... esteve bem Manuel José em retirá-lo de campo quando o FCP começou a insistir na exploração do jogo aéreo do Jardel.
5. Manuel José fez carreira no Boavista a jogar com 3 centrais, mas no SLB parece estar a abdicar desse dispositivo táctico... não há ideais que resistam a um plantel com Jorge Soares, Tahar e Bermudez como opções para o eixo defensivo."

Mensagem do capitão do basquetebol, Tomás Barroso

"Com o decorrer da história, o ser humano tem repetidamente encarado desafios e provações não só à sua sobrevivência como, acima de tudo, à sua moralidade e solidariedade.
Encontramo-nos, nos dias que correm, a vivenciar um destes desafios. E é-nos pedido que o encaremos. É-nos pedido que, enquanto sociedade, alteremos todos a nossa realidade quotidiana de uma forma nunca experienciada pela maioria de nós.
Eu não fujo à regra: desde o passado dia 12 de Março, o meu dia a dia mudou radicalmente. Estou em casa com indicação para não sair a não ser para o indispensável e a cumprir um plano de treino e de fisioterapia adaptado a esta nova realidade. Tenho feito da sala o meu novo ginásio e centro de recuperação, dos meus livros a minha principal distracção e as compras são sempre feitas online. É, sem dúvida, uma enorme mudança no que é o estilo de vida de um atleta profissional, muito difícil para quem está habituado ao movimento, ao gastar de energias através do desporto e a lutar cara a cara com o adversário. Infelizmente este é bastante diferente…
Por ora o que mais importa é sermos conscientes, e tentar contribuir, seja de que maneira for, para travar o mais rapidamente possível este surto. É sobretudo nesse sentido, e numa altura em que a informação é escassa e a desinformação muita, que temos de manter a calma e a serenidade, confiando plenamente nas entidades de saúde (são eles os nossos verdadeiros heróis).
Assim, apelo para quatro máximas que acho importantíssimas:
1) Evitar ao máximo sair de casa;
2) Não partilhar informação cuja origem não conheço ou que tenha carácter duvidoso;
3) Seguir as directrizes de entidades como a Direcção-Geral de Saúde ou a OMS;
4) Lavar regularmente as mãos com sabão ou com uma solução alcoólica.
Este é um período atribulado nas nossas vidas. Estamos conscientes da nossa vulnerabilidade e sei que muitos vão sentir-se isolados. A incerteza é enorme, não sabendo o que nos espera o futuro próximo. Contudo, e mesmo separados fisicamente, há muito a fazer, há quem precise da nossa força, do nosso apoio e do nosso contributo. Estamos neste momento dependentes uns dos outros e ninguém pode virar a face a esta batalha.
Mostremo-nos optimistas, sejamos prudentes, permaneçamos sempre vigilantes e, acima de tudo, que estejamos cada vez mais unidos e solidários, em espírito.

Tomás Barroso

P.S.1: É falsa e sem qualquer fundamento a notícia, que hoje faz manchete no jornal "A Bola", de que o Benfica avançaria para a contratação do jogador uruguaio Leonardo Fernández. Não existe esse interesse, nem agora, nem para o futuro. Aproveitamos para reafirmar que, nas actuais circunstâncias, toda a atenção e todo o foco da administração da SAD e dos órgãos sociais do Clube estão, única e exclusivamente, centrados neste combate de salvaguarda de vidas humanas, correta implementação das medidas de prevenção e contingência e na execução das diferentes iniciativas de solidariedade que são do conhecimento público. Só isso agora importa!

P.S.2: Hoje celebramos os aniversários das glórias Artur Santos (89 anos) e Vítor Martins (70 anos). Parabéns a estes dois símbolos do Sport Lisboa e Benfica!"

Carta aberta a Bruno Lage e ao plantel do SL Benfica

"Mister Bruno Lage,
Há já bastante tempo que pretendo falar consigo e esta é a forma que encontrei de o fazer.
Um “bicho” colocou em alerta todo o mundo, inclusive o do futebol, mas mesmo assim julgo ser possível retirar algo positivo de todo o mal que está a acontecer.
Nós não estamos bem. O Sport Lisboa e Benfica não está bem e alguma coisa tem de ser feita. Os tempos são de incerteza, contudo, o plantel tem de estar preparado para aquilo que se avizinha e contamos consigo para trazer de volta o Benfica, como já o fez outrora.
A temporada não podia ter começado melhor. Uma goleada aos nossos rivais na Supertaça foi a entrada que precisávamos para abrir (ainda mais) o nosso apetite, porque nós, adeptos, somos famintos por títulos.
A época prosseguiu e no campeonato tudo corria bem. Na Liga dos Campeões nem tanto, mas a Liga Europa poderia ser um bom corta-sabores. Acabámos eliminados na primeira eliminatória frente a um FK Shakhtar que em nada considero superior ao Benfica!
Em pouco mais de um mês, perdemos toda a margem de manobra que havíamos conquistado para o FC Porto e acabámos relegados para o segundo lugar e isto, mister, é inadmissível.
O campeonato não está, de todo, perdido, no entanto, já esteve bem mais fácil. Perder um jogo é normal, e não foi isso que me assustou, mas sim a reacção à mesma. O Benfica entrou numa espiral negativa e a força anímica da equipa desvaneceu-se. Foi um jogo, foram dois jogos, foi um mês negro, um dos piores de que tenho memória.
Relembro, nada está perdido, mas podia estar tudo muito mais fácil.
Os próximos meses não serão fáceis, ora por causa da pandemia que o mundo atravessa, ora pela falta que o futebol e em especial o Benfica nos faz. Assim, e como depois da tempestade vem a bonança, o Mister fica encarregue de nos voltar a fazer sorrir.
Acredito nas suas capacidades para nos guiar novamente ao topo da tabela classificativa, até porque se já o fez uma vez, porque não duas? O tempo de paragem que vivemos não deve ser de paragem total, mas sim de mudança. A mente de um treinador nunca para, nem pode parar.
Claro está que o plantel tem de fazer a sua parte e estar preparado fisicamente e psicologicamente para quando tiverem de entrar em acção. Quanto a nós, adeptos, estaremos sempre aqui para apoiar o glorioso. Se somos críticos? Sim, claro, mas só porque queremos o melhor de cada um de vocês. 
Peço-vos que joguem como nunca jogaram, que corram como nunca correram e que lutem como nunca lutaram. Peço-vos que coloquem o SL Benfica onde merece, no topo. Caros jogadores, isto não é só o vosso trabalho, é a vida de muito de nós.
Aquilo que vos pedimos é que recuperem aquilo que é nosso, aquilo que todos os benfiquistas mais desejam, o malfadado 38! E se não for pedir muito, conquistem também a Taça de Portugal, por favor."

Um raio de sol na água fria

"Severino Varela tinha um pacto com a honra. O Boina Fantasma dava-se ao luxo de recusar ofertas irrecusáveis

Como de costume, Severino chegou pontualmente à estação de ferries de Montevidéu depois de ter percorrido La Marseillaise a passo estugado. Já a bordo viu um raio de sol saltitar na ondulação irritada do Rio da Prata e convenceu-se por dentro de que o dia seria feliz se pudesse guardar nos olhos aquela luz fugidia.
Severino gostava particularmente daquela travessia. Quase todos os dias ia e vinha de Montevidéu a Buenos Aires, cerca de quatro horas e meia no total, mas desde que aceitara trocar o Peñarol pelo Boca Juniors nunca lhe passou pela cabeça ir morar para a margem sul do rio. Isto passou-se em 1943, já Severino Varela Puente tinha 29 anos. Começara a sua vida de marcador de golos do River Plate de Montevidéu e, agora, dedicava-se a espinafrar o juízo aos defesas do outro River Plate, grande rival do Boca.
Quando desembarcou na Avenida Antártida Argentina, no cruzamento com a Cecilia Grierson, o céu de Buenos Aires estava aberto como um sorriso e nem uma nuvem projectava a mais pequena das sombras. Em seguida entrou no automóvel do seu companheiro Lucho Sosa, que viera buscá-lo, e seguiram ambos à taramela para La Bombonera, no Barrio de la Boca.
Era Setembro. Dia 26. O estádio encheu-se a pouco e pouco para o Boca Juniors-River Plate, aquele jogo que ninguém tem o direito de ignorar. Numa parede ali perto alguém escreveu. «Hasta los muertos aman el Boca». E as bancadas estavam tão repletas de gente que não havia quem duvidasse que até os mortos caminhavam lado a lado com os adeptos que se orgulham do seu lema: ‘La mitad más uno’. Enquanto encaixava meticulosamente a sua boina branca na cabeça, Severino dizia para si próprio: «O mais um sou eu».
Tinha um gosto especial naquela boina. Usava-a para diminuir os efeitos do impacto da bola cada vez que cabeceava. Dava-lhe um aspecto rebelde, libertário. E assustava os adversários quando surgia, de supetão, na grande área contrária para tocar a bola para a baliza em movimentos tão rápidos que davam a sensação de serem invisíveis. No River, os defesas atemorizados chamavam-lhe ‘A Boina Fantasma’.
Até dentro do campo, Severino era um homem livre. os treinadores permitiam-lhe essa liberdade para bem da equipa e ele usava-a sem parcimónia, galgando metros de terreno com a sua passada larga e elegante que terminavam em pontapés letais.
«Ser libre. Ya en su vientre mi madre me decía
’ser libre no se compra ni es dádiva o favor’».
Ao contrário da vontade dos hinchas caseiros, o River Plate marcou cedo. Demasiado cedo, até. Golo de Félix Loustau que, com Juan Carlos Muñoz, José Manuel Moreno, Adolfo Pedernera e Ángel Labruna formou uma linha avançada que ficou para a história com o nome de ‘La Máquina’.
Nunca ninguém sobre porque é que Severino Varela se transformou no maior inferno da existência do River. A verdade é que mal entrava em campo, fervia porrada sobre o rapaz de Montevidéu. Valia tudo para pará-lo. E caçavam-no pelo campo fora a patadas como se fosse uma ratazana.
Nessa tarde, as canelas de Severino ficaram roxas de tanto apanhar. E ele tranquilo, sereno, sem replicar, sem queixas, sem lamentos, tal e qual um fantasma com a sua orgulhosa boina branca. Depois marcou encontro com a bola centrada pelo seu amigo Lucho Sosa à entrada da pequena área do River. Começou a correr mas sentiu uma angústia fina por dentro, Parecia que lhe espetavam no coração a agulha da desarmonia e ele era cumpridor dos seus deveres como poucos. Por isso atirou-se para a frente, voando baixinho, mergulhando como um peixe em águas que conhece de cor e salteado. Chegou precisamente à hora marcada. A bola entregou-se à vontade da boina branca do Fantasma e seguiu para o abraço das redes. Em seguida, Varela simplificou a tarde com um pontapé sem metafísica: 2-1. Era o seu quinto golo em seis jogos face ao River Plate. Tomou banho, penteou-se para trás com um pouco de brilhantina e Sosa foi deixá-lo junto ao porto para que apanhasse o ferry de regresso a Montevidéu.
Um dia, o Boca Juniors fez-lhe uma oferta irrecusável: pôs-lhe na frente um cheque em branco. Ele recusou. Era um homem de rotinas. Gostava do seu trabalho de escriturário e não pretendia demitir-se: «No quiero llevarme la plata que no puedo ganarme». Tinha um pacto inquebrável com a honra. Seis anos mais tarde voltou à Bombonera para ajudar do Boca Juniors que estava à beira de descer de divisão. A Boina Fantasma afastou todos os outros fantasmas. Atravessou o Rio da Prata de volta a casa. Não lava nem mais um tostão no bolso. Havia coisas que não tinham preço."

Crónica de um adiamento anunciado

"Há semanas que se sentia que aquele tsunami viral chegaria à Península Ibérica. Invisível, mas devastador. E assim foi. Primeiro na vizinha Espanha, com a força que se conhece. E depois em Portugal, com o impacto que ainda se desconhece.
Olhando para o mapa do mundo, também era uma questão de tempo até que a pandemia estendesse os seus tentáculos a todos os pontos do globo. Inevitável nesta era da globalização. E assim está a acontecer.
No meio de tanta notícia falsa, de tanto ruído, de tanta especulação, algo foi ficando cada vez mais claro. As consequências para a saúde humana. Gradualmente, mas a uma velocidade que nos esmaga dia após dia, vamo-nos dando conta de que é a vida humana que está em jogo. Se, no início, esta assunção parecia estar confinada à longínqua China, agora pode estar na porta ao lado ou mesmo dentro da nossa casa, no nosso corpo. Jovens ou não, saudáveis ou não, parece não haver critério, apenas probabilidades. E os relatos que nos vão entrando casa dentro revelam uma realidade que a todos afecta. Inclusivamente a atletas Olímpicos, supostamente das pessoas mais saudáveis do planeta.
De todos os organismos, instituições, empresas, celebridades, desportistas, cidadãos anónimos, países mesmo, reacções unânimes: a pandemia tem de ser controlada e está para durar. De todos, menos de um. O Comité Olímpico Internacional - COI. Que dia após dia, parecia manter uma posição intransigente relativamente à exequibilidade de organizar o maior evento desportivo à escala global no meio de todo este caos, igualmente global. Que informações possuiria para ter aquela segurança? Que cenários estariam ao seu dispor?
É certo que o COI sempre baseou esta convicção no parecer de um grupo de trabalho constituído para o efeito, grupo este que tinha na sua composição a Organização Mundial de Saúde. E o próprio Presidente do COI, atleta Olímpico, Thomas Bach, afirmava perentoriamente que a saúde dos atletas estaria sempre em primeiro lugar na hora da decisão. No entanto, o dia a dia, quase cada hora que passava, pareciam contradizer esta desconcertante posição.
Mas foi quando o COI anunciou que iria tomar uma posição sobre o assunto no espaço de um mês que outro tsunami ganhou forma.
Construir uma campanha Olímpica requer uma enorme dose de controlo emocional. Lidar com a pressão de tentar ganhar um lugar ao sol entre os melhores atletas do mundo é tarefa que exige muito de quem se lança em semelhante empreitada. E porque andam sempre no limite, é natural que qualquer evento que os sobrecarregue emocionalmente possa ter efeitos adversos, até para a própria saúde mental dos próprios. E de quem lida directamente com eles.
A situação a que foram sujeitos nas últimas semanas atingiu proporções incomportáveis, cuja gota de água foi precisamente aquele anúncio do COI. A partir desse momento, um pouco por todo o mundo, os atletas, os Comités Olímpicos, as Federações Internacionais fizeram ouvir a sua voz. E a mensagem foi muito clara. Os Jogos Olímpicos - JO - até podiam realizar-se nas datas previstas. Mas os actores principais, os atletas, não estariam lá. E o período de espera de um mês passou para menos de 72 horas.
Não se pense que esta foi uma derrota do COI. Dar um passo atrás foi antes um sinal de humildade perante a dimensão do problema. Mas foi também uma vitória do Movimento Olímpico como um todo. Pela primeira vez na história dos JO contemporâneos, os atletas uniram-se globalmente em torno de um ideal. E qual é esse ideal? A vida humana!
Os JO Tóquio 2020, agora em 2021, ficarão para sempre marcados por esta pandemia. Mas estes em particular, além de celebrarem os Ideais Olímpicos, celebrarão também um momento da história da humanidade, quando esta, para enfrentar uma ameaça global, deu as mãos... depois de as lavar bem!"

Cadomblé do Vata (final habitual...!!!)



"Campeonato Nacional da Primeira Divisão - 13° Jornada - 18/12/1993 - Estádio da Luz
SL Benfica 2-1 Sporting CP
1. Antes de mais, um sincero abraço para o Cherbakov... um estúpido acidente roubou-lhe a possibilidade de um dia jogar num clube que lute por títulos.
2. Neno enterrou como um rei no 0-1, mas fez uma defesa tremenda nos instantes finais a salvar a vitória... entrou à Nel Monteiro e saiu à Júlio Iglésias.
3. Pela enésima vez, com o SLB à rasca, entrou Isaías e resolveu... no Glorioso há o Plano A, o Plano B e o Plano Harry Truman "eu não queria, mas vocês obrigaram-me".
4. O Sporting deve ser o clube no Mundo com mais campeões mundiais de sub 20 por m2... como se fossem necessárias mais provas do quão difícil é a transição do escalão júnior para sénior.
5. Paulo Sousa e Pacheco foram protagonistas do inédito Verão Quente do SLB... agora são actores principais do habitual Natal Gelado do SCP."