Os jogos em que (...) levou boladas na cara e carrinhos que o viraram ao contrário

"A rubrica de hoje não recordará uma, mas três histórias. Três histórias ao estilo de peripécias (quase comédias, vá) e que aconteceram, em momentos distintos, ao longo das várias épocas em que arbitrei jogos de futebol profissional em Portugal. Vamos a isso então:
1. Estádio António Coimbra da Mota, algures num passado longínquo
- Não me vão levar a mal, mas a memória não consegue precisar qual foi o adversário do Estoril Praia nessa tarde. Lembro-me que foi há muito tempo, que as bancadas estavam compostas e que o dia estava lindo, com pouco vento e bastante sol. Aposto que foi em Agosto, Setembro.
A dado momento, um defesa tentou afastar o perigo da sua zona defensiva, tentando pontapear a bola com força para longe da sua área. Para meu azar, encontrou a minha cara pelo caminho.
Estava demasiado próximo, logo muito mal colocado (na linha directa do remate). Moral da história: a bola acertou-me em cheio, de frente e com estrondo.
Senti logo o sangue a escorrer e percebi logo porquê: tinha os dois lábios rasgados. Isso obrigou-me a parar o jogo. Infelizmente. Mas o mais estranho nem foi isso. O estranho foi a sensação inesquecível de ter toda a cara a arder e a latejar. A latejar bastante. Aquilo doía que se fartava. Os jogadores estão habituados a este tipo de pancada, de danos colaterais, mas os árbitros não.
Depois de assistido e já com menos estrelas em órbita (juro que se vê estrelas), o jogo lá recomeçou. No fim e além dos lábios em mau estado, tinha também o nariz ensanguentado e um olho azulado. Bem feito.
2. Jogo em Arouca, algures entre 2011 e 2013
Geograficamente mais acima e, de novo, com recordação zero do adversário daquele tarde. Quando são demasiadas histórias, a memória parece filtrar o essencial do acessório. O que não filtrou, lá está, foi outra bolada e claro, de novo por estar francamente mal colocado.
Desta vez, não foi bem em cheio: foi mais acima e em zona lateral do rosto (entre a testa e olho direito, por aí). Não antecipei um passe à distância (novo erro de estagiário) e fiquei parado, algures, no meio.
Levei a pancada mas o jogo seguiu, porque a equipa continuou uma jogada de perigo. É preciso relembrar que, naquela altura, nenhum toque de bola no árbitro implicava interrupção da partida. Pelo contrário. A paragem só acontecia se o árbitro ficasse "KO" e os seus colegas não conseguissem acompanhar as restantes incidências.
Lembro-me que, depois de ser atingido, deixei de ver daquele olho. A 100%. Não via mesmo nada. Estava a lacrimejar e a arder. O outro, diga-se de passagem, também não ajudou muito. Provavelmente estava a ser solidário.
Continuei a acompanhar a jogada, mas pedi à minha equipa que redobrasse esforços no sentido de acompanhá-la comigo. Nos segundos que se seguiram, senti que não estava lá, ou melhor, estar estava, mas em modo "corre e ouve o que eles te dizem".
Assim fiz e as coisas acabaram por correr bem, porque tive a sorte de ter ali uma equipa a sério.
Na primeira interrupção, fui obrigado a pedir água a um dos bancos técnicos. Levei a cara, respirei fundo e tentei fazer-me de forte. A imagem é tudo e um árbitro nunca pode mostrar fragilidade, ainda que momentânea.
3. Estádio 25 de Abril, jogo da 2ª Liga
Desta vez, eu e a bola não tivemos momentos de proximidade excessiva.
Fiz pior. Aproximei-me demasiado de uma jogada disputada com maior intensidade e por vários atletas. Cometi aí novo erro. É que, nesses casos, quanto mais perto, maior a probabilidade de estorvar e menor o ângulo de visão. Básico, Duarte. Tão básico!
A parvoíce saiu-me cara: choquei de frente com um defesa penafidelense e, como se não bastasse bater naquela parede de betão, fui depois derrubado por um tackle deslizante de outro. Derrubado, não. Virado ao contrário!
Estava ainda atordoado da primeira pancada quando levantei voo da segunda. Essa sim, deixou mazelas.
Aqueles "meninos" dão o máximo em cada lance, têm muita força e, como se não bastasse, calçam botas com pitões de alumínio (mini pregos, vá).
Tentei evitar que aquele momento infeliz afectasse a minha forma física e estilo de corrida no resto do jogo, mas a verdade é que foi muito difícil. A entrada deixou-me bastante dorido.
Passei as semanas seguintes a colocar gelo e Voltaren no tornozelo. Muito gelo e muito Voltaren.
Faz parte, sobretudo quando alguém experiente se põe a jeito da forma como eu, estupidamente, me pus.
Um dia escrevo um livro e conto outras histórias deste género. São tantas..."

Futebolistas privilegiados em tempo de vírus

"Não condeno a atitude destes e de outros que preferem passar este momento difícil ao lado das suas famílias, e de preferência num país mais quente. No entanto, vejo o lado dos italianos.

Higuain, Pjanic e Khedira violaram a quarentena da Juventus e abandonaram Turim depois de Cristiano Ronaldo ter sido o primeiro a trocar a cidade do Piemonte pela sua terra natal, no dia 8 de Março, quando, no entanto, ainda não tinha sido decretada a quarentena obrigatória para 60 milhões de pessoas. A saída de Ronaldo abriu a excepção à regra e a Juventus ficou sem argumentos para bloquear a fuga do último trio, que, provavelmente, não será a última. Neymar e Thiago Silva também abandonaram Paris e regressaram ao Brasil, depois de Macron ter decretado o isolamento da França.
Não condeno a atitude destes e de outros que preferem passar este momento difícil ao lado das suas famílias, e de preferência num país mais quente. No entanto, vejo o lado dos italianos. Há poucas semanas, um amigo português que mora em Shangai explicava-me os motivos que o levaram a querer permanecer no país durante o pico da epidemia, em Fevereiro, e, entre eles, estava exactamente o facto de não querer passar a mensagem aos colegas de trabalho e aos chefes chineses de que abandonou o barco no momento de maior dificuldade.
Essa é a imagem que muitos jogadores de futebol passam agora aos países onde jogam e às empresas que lhes pagam maravilhosamente bem. Para piorar o cenário, o último trio de fugitivos (Higuain, Pjanic e Khedira) interrompeu a quarentena obrigatória a que todos os jogadores da Juventus estavam sujeitos desde que Rugani contraiu o vírus (e agora Matuidi também deu positivo).
A justificação é que os três teriam feito duas vezes os testes e levaram com eles o certificado que garantia o resultado negativo, mas ao italiano comum não é dada essa possibilidade, porque o teste só é realizado na presença de sintomas e, mesmo para quem teve contacto directo com infectados, não é realizado o teste na ausência de sintomas. Têm mesmo de cumprir a quarentena de 14 dias até ao fim. Porque é que até neste caso os jogadores de futebol são seres privilegiados?"

Um mundo sem futebol

"Ao contrário de outros cronistas, escrevinhadores e filósofos ainda não tive oportunidade de me sintonizar com o novo coronavírus para lhe fazer a sacramental pergunta: “qual é a tua, ó meu?” Nestes dias de distanciamento social, que muitos já corrigiram para distanciamento físico, ao coronavírus já vestiram muitas camisolas: é ecologista, é anti-capitalista, é um emissário da Mãe-Natureza, é um indivíduo apreciador de golfinhos e cisnes nos canais de Veneza (por onde, ao que consta, os golfinhos já nadavam e os cisnes já se passeavam antes da pandemia), é chinês, é um produto criado em laboratório pelos americanos (a propósito de nada, lembrei-me daquela famosa frase de um francês “o anti-americanismo é o socialismo dos idiotas”), etc.
O tempo que agora sobra a alguns dá-lhes para a atribuição de uma vontade ao vírus, da mesma maneira que, após o terramoto de 1755, se dizia que tamanha catástrofe só podia ser castigo divino e, quando a Sida começou a dizimar a comunidade homossexual nos Estados Unidos, no início da década de 80, vozes piedosas atribuíram a praga ao comportamento aberrante, bestial e contrário às leis de Deus dos homens que se deitavam com homens.
De certo modo, todos veem num mundo virado do avesso a oportunidade de o moldar de acordo com as suas preferências. O vírus marcaria, pois, o advento de uma nova era, que cada uma imagina à sua maneira, e é quase impossível, para quem está sentado em casa a desfrutar das vantagens de pertencer ao primeiro mundo, não ceder à tentação de receber o vírus como um anjo purificador. Para uns, será o fogo justiceiro que se abateu sobre Sodoma e Gomorra, para outros será uma versão viral do grande dilúvio, em que só Noé e a sua família se salvaram e a restante humanidade, indiferente aos avisos divinos, pereceu. Lembram-se do final da história? O arco-íris apareceu nos céus como promessa de que Deus não voltaria a destruir o mundo pela água. É o arco-íris que agora vemos nas janelas: “vai ficar tudo bem.”
Ao paciente leitor que me acompanhou até aqui e, com legitimidade, se questiona sobre o que terá isto que ver com futebol ou desporto respondo sinceramente: tudo e nada. Tudo porque as competições foram interrompidas e, tal como a poluição diminuiu na província chinesa de Hubei, também sobre a bolha futebolística desapareceram as nuvens tóxicas de intermináveis e inúteis discussões sobre foras-de-jogo e cambalachos de bastidores. Nada porque ainda ninguém se atreveu a dar ao novo coronavírus uma cor clubística, embora os adeptos do Liverpool tenham legítimas razões para desconfiar que o universo, a Mãe-Natureza ou uma divindade arcaica não gostem lá muito do clube. Agora que se preparavam para festejar um título que lhes foge há trinta anos, acontece-lhes isto.
Tudo porque, pelo menos em Portugal, onde o primeiro-ministro pôs o futebol numa quarentena social, isolando-o de outras actividades económicas, os responsáveis perceberam que, não obstante a aparente fidelidade dos adeptos, a sociedade no seu todo não vai derramar lágrimas por uma indústria que, nos últimos anos, tudo fez para se descredibilizar. A não ser para os mais fanáticos, o futebol de clubes em Portugal tornou-se um pântano infrequentável, um lamaçal de suspeitas, casos judiciais, manobras obscuras e guerrilhas permanentes. A selecção lá vai reconciliando, esporadicamente, a população com o jogo, mas, no resto do tempo, um indivíduo que goste moderadamente da modalidade não se atreve a tocar-lhe nem com pinças.
Os inúmeros debates televisivos ajudaram a criar a ilusão de que, em Portugal, o futebol estava vivo. Hoje, após duas semanas sem jogos, vemos que era uma carcaça em putrefacção. Hoje, por razões de higiene moral, ninguém lhe quer dar a mão. Hoje, ouvem-se as lamentações do presidente da Liga de Clubes e ninguém se compadece. Dizia Arrigo Sacchi que o futebol é a mais importante das coisas menos importantes. Está aí a prova. Temos saudades? Sim, dos jogos e dos jogadores, das jogadas e dos golos, da arte e dos festejos, da distracção que o futebol, desde os primórdios, nos oferece: um breve domingo de sol antes de uma semana de chumbo. Depois lembramo-nos que o futebol é agora a própria semana de chumbo e o sol de domingo quase nunca se vê e pensamos que esta quarentena pode, afinal, ser a oportunidade de redescobrirmos o que ele tem de belo e incorruptível. Sem vestir camisolas ao vírus."

Cancelemos 2020

"Os dias de reclusão dão-nos algum tempo para pensar e durante este fim de semana cheguei à conclusão que deveríamos todos exigir desde já o cancelamento de 2020.
Passemos já para 2021, 2020 não trouxe nada de bom. 2020 começou por tirar-nos Paulo Gonçalves lá na Arábia Saudita. O nosso peito apertou um bocadinho. O Paulo, além de tudo o que conseguia tirar de uma moto, era um bom homem, simpático, um companheiro para os colegas, um daqueles que não deixava ninguém para trás naquelas dunas.
Depois roubou-nos Kobe Bryant. Kobe, que nós achávamos invencível, imortal, intocável. E a filha, Gianna, com apenas 13 anos, futura melhor jogadora de basquetebol do Mundo - Vanessa, a sua mãe, disse que sim e eu acredito, porque não haveria de acreditar?
Agora, chegou este vírus, invisível, que ataca à traição, ao mínimo descuido, que se aproveita das nossas fragilidades, que nos fechou em casa, que não nos deixa abraçar os nossos pais ou dançar com os nossos amigos. Pelo caminho - e eu sei que neste momento isso é o menos importante, mas não deixa de doer - roubou-nos o Europeu, o Europeu pan-europeu, ironias das ironias. Então não é que no ano em que íamos ter um Europeu jogado em todo o continente vem um vírus que não nos deixa sequer ir a Badajoz?
Roubou-nos a emoção do final de época que se aproximava, roubou muito provavelmente a festa que pintaria de vermelho a cidade Liverpool. Trinta anos à espera de festejar um campeonato e vai mesmo calhar quando nos deparamos com um dos maiores desafios das nossas vidas, quando nos proíbem os abraços e os beijos e as cervejas trocadas quando se celebra a alegria imensa que é ver a nossa equipa ganhar.
A época terminará, está claro. Só não sabemos quando e em que condições e com quem a assistir.
E vai, inevitavelmente, roubar-nos os Jogos Olímpicos. Não porque não possamos ter esperança que em julho esteja tudo já mais controlado e haja uma qualquer normalidade que nos permitirá, sei lá, beber um copo numa esplanada com outras pessoas sem que tenhamos de nos cumprimentar com o cotovelo. Mas porque a preparação dos atletas está parada ou ferida de morte. Como poderá um nadador treinar sem piscina? Como pode um judoca preparar-se sozinho em casa? Como vai um jogador de voleibol aprender aquela jogada sem os seus companheiros ao lado?
E a nós, vai saber-nos ao mesmo um Europeu e uns Jogos Olímpicos disputados num ano ímpar?
Não sei a resposta para muitas destas perguntas. Só sei que, por mim, cancelava-se já 2020.

O Que Se Passou
Por estes dias muito pouco, a não ser cancelamentos de tudo e mais alguma coisa e notícias de atletas ou ex-atletas doentes.
Fora da orbita covid-19, e para quem segue o futebol americano, Tom Brady deixou meio mundo de boca aberta ao anunciar a saída dos New England Patriots, após 20 anos de glória. Vai jogar agora nos Tampa Bay Buccaneers."

Que livros de desporto devo ler nesta Quarentena? Sven-Göran Eriksson – A Minha História, de Stefan Lövgren

"Sven-Göran era um gentleman. Dos bons, daqueles de cinema e que encarnava a frieza escandinava na perfeição. Precoce na competência, leva o semi-profissional IFK Gotemburgo à conquista da Taça UEFA em 1982, preconizando as ideias britânicas que Bob Houghton e Roy Hodgson levaram para a Allvenskan, anos antes.
Numa Europa dominada pela rigidez germânica da marcação homem a homem e dos líberos, Sven deixou-se influenciar pela tradição britânica das duas linhas de quatro e as transições rápidas. De ideias fixas e revolucionárias, chega a Lisboa e é recebido como nunca pensou.
“Aterramos no aeroporto da Portela num quente dia de Junho. O avião estacou longe do terminal e no meio de grande agitação. Centenas de pessoas estavam atraídas pela aeronave. Pensei que estavam à espera do primeiro-ministro, ou de alguém igualmente importante, mas estavam à minha espera, o novo treinador do Benfica, um dos maiores clubes do mundo” é a forma como introduz o seu primeiro capítulo sobre a estadia em Lisboa, no livro Sven-Goran Eriksson – A Minha História, de Stefan Lovgren e traduzido para português por Afonso Melo.
Foi esta a simplicidade que permitiu o rápido e saudável acolhimento das suas ideias no seio de um plantel recheado de estrelas. Havia Bento, Humberto, Carlos Manuel, Chalana e Néné, e muitos outros que inscreveram o nome a letras douradas na história benfiquista.
Sven, mais novo que alguns dos jogadores, conquistou a admiração dos atletas com uma naturalidade supersónica que só a classe aliada à competência permitem. Os jogadores não sabiam, mas algo os fazia acreditar que o homem que se treinava com um panamá da Macieira – a mais inovadora manobra de marketing de uma marca portuguesa – tinha chegado para revolucionar o clube e o futebol português. Na mentalidade e no relvado.
“Tal como no Gotemburgo, tive que começar pela base. Os jogadores do Benfica não estavam habituados ao 4-4-2. Não tinham conhecimentos sobre marcação à zona, a pressão e o apoio. Trabalhávamos um a um, dois a dois, três a três. O ponto chave era a defesa. Pegava num jogador e afastava-o dois metros para um lado, pegava noutro e afastava-o dois metros para o outro: como reduzir espaços aplicando a marcação à zona? Se o defesa-esquerdo tinha a bola em dinâmica ofensiva, que devia fazer Chalana, o extremo? Repisámos os mesmo movimentos vezes sem conta. Percebo perfeitamente que os jogadores tenham odiado esses primeiros tempos de treino.” – Excerto transcrito, p.58.
Com esta abordagem, o treinador sueco criou uma super-equipa que conquistaria a dobradinha interna e chegaria à final da UEFA. Sete anos depois, regressaria para alcançar a final da Champions.
No interregno desses dois momentos, passeou-se pelo Calcio na sua fase dourada. Ao comando da AS Roma, onde passou muitas dificuldades numa primeira fase e depois na ACF Fiorentina. Ainda treinaria em Génova, assumindo os destinos da UC Sampdoria, antes de chegar à SS Lazio.
Mal recebido numa cidade que já tinha sido sua, decide ainda vender a estrela maior do conjunto. A dispensa de Signori despoletou uma onda de violência, que só acalmou quando aquela fabulosa equipa começou a cavalgar para o Scudetto, 25 anos depois. Na ”melhor equipa que já treinou”, palavras suas, havia Mihajlovic e Nesta no centro da defesa; Verón, Sensini, Almeyda, Simeone, Stankovic e Nedved suportavam um ataque com Boksic, Mancini e Salas.
Foi um dos melhores momentos da sua carreira, que colocaria o seu nome na galeria dos imortais e precipitaria o convite da FA para o cargo de seleccionador Inglês. Foi o primeiro estrangeiro da história naquele que seria considerado tempos antes como o “trabalho impossível”.
Teve à disposição a geração de ouro do futebol inglês, mas os resultados ficariam sempre aquém, não sendo capaz de acomodar no seu 4-4-2 as qualidades de Gerrard, Beckham, Lampard e Scholes. Com o auxílio dos sedentos tablóides ingleses, a sua imagem deteriorou-se e a pré-reforma chegou com a derrota frente a Portugal, no Mundial de 2006.
A partir daí, afirmou-se como globetrotter e percorreu o mundo, à procura de garantias que o pussessem a salvo do grande esquema financeiro do qual foi vítima, quando recebeu o convite para colocar o Notts County no topo do futebol inglês.
É o livro essencial na percepção do homem e do treinador, das motivações e das influências que o levaram ao estrelato e das dificuldades que passou no ocaso da sua carreira. Um revisitar de todos os momentos que tornaram Sven numa das lendas dos bancos mundiais."

O basquetebol (desporto) prepara-nos para isto

"Qual o adepto do desporto que já não viu a sua equipa perder no último segundo do jogo, que estava a contar que a sua equipa ganhasse facilmente, mas afinal perdeu, que não passou pela situação de que a lesão de um jogador retirou as hipóteses da sua equipa conquistar o campeonato, que a exclusão de um jogador prejudicou o rendimento da sua equipa levando-a à derrota?
Os artistas do jogo, os jogadores, e os seus treinadores preparam-se no dia a dia para que o inesperado não aconteça e não desapontem os seus fans. Treina-se afincadamente no sentido de melhorar as competências individuais de cada um, para as colocarem ao serviço do colectivo, sendo esta uma das formas de a equipa ser mais competente e mais competitiva. Mas a competição faz-se também da vivência em equipa e independentemente do escalão etário, do nível de competição, acredito que todos os ex-atletas terão retino na sua mente os momentos de amizade que desenvolveram com os seus colegas, que nunca esqueceram as brincadeiras no balneário ou tempo que passaram juntos no autocarro, das praxes da equipa, do sabor das vitórias, a desilusão das derrotas, o seu percurso desportivo, os troféus conquistados; daquele espírito de equipa que os grupos vão desenvolvendo e que os ajuda a atingir os objectivos.
Praticar desporto é uma das melhores opções que um ser humano pode tomar porque nos coloca desafios de aprendizagem, de aquisição de novas competências, que nos levam à superação, ao moldar de atitudes, incentiva à determinação, aceita o sacrifício, aprende a ser humilde, a estar motivado por natureza (motivação intrínseca), a momentos de convivência, no aprender em viver em equipa, interiorizar como o trabalho em grupo nos proporciona chegar mais longe e fomenta o respeito pelos outros.
A ideia de irmandade, do grupo de pertença, de sermos irmãos, transporta-nos para a capacidade de competir a outro nível, o nível de campeões. O desporto é uma escola para a vida e tem uma enorme influência na forma como interagimos com os outros ao nível das soft skills. Este contributo na formação do atleta, especialmente do jovem atleta, permite que através da prática desportiva este se prepare para as exigências da competição profissional (os que tiverem qualidade para isso) e para os requisitos e desafios que a vida profissional coloca a cada um quando acabarem a prática desportiva. 
Garantir que este deve ser o propósito do basquetebol, deve ser uma preocupação da Federação Portuguesa de Basquetebol, enquanto entidade reguladora e organizadora da modalidade e da Escola Nacional de Basquetebol, como responsável pela formação de treinadores.
Se tal não acontecer corre-se o risco de o basquetebol português não se diferenciar na sua oferta no vasto panorama do desporto português e assim tornar-se irrelevante, quando nas últimas décadas tem contribuído para o aparecimento de pessoas de destaque nas áreas académica, política , desportiva e empresarias.
O actual ambiente de saúde global e os desafios da humanidade colocam-nos desafios que precisam de ser vencidos, sendo que a nossa experiência enquanto desportista é fundamental para ultrapassar as dificuldades que enfrentamos.
A relação de amizade e companheirismo que desenvolvemos com os nossos colegas de balneário e o amor pelo desporto não se esgota num único desafio. Por muito que nos sintamos desiludidos vai sempre haver uma nova época, um novo desafio a vencer.
Temos de treinar e de nos preparar para os novos reptos da vida, tal como na competição, só precisamos de manter o optimismo próprio de pessoas habituadas a ser determinadas, disciplinados, leais, habituados aos momentos de pressão, trabalhar em equipa, respeitar o adversário e atingir objectivos. Vamos vencer mais um campeonato por certo."

Dias de firmeza

"Neste início de uma nova semana em que estamos sob estado de emergência, dez dias após terem sido suspensas todas as competições nas mais diversas modalidades e adoptadas as medidas de maior rigor e prevenção, falando do mundo do desporto, importa elogiar a forma exemplar como dirigentes, técnicos, atletas e profissionais das mais variadas áreas têm respondido a esta trágica pandemia. 
Sistematizado e implementado todo um rigoroso plano de contingência, com total prevalência para o teletrabalho e minucioso acompanhamento do trabalho diário de preparação dos atletas nas suas residências, no Benfica temos tido agora a preocupação de dar visibilidade pública às diferentes rotinas do dia a dia dos nossos atletas, proporcionando exemplos que sirvam de incentivo e ajuda a todos os que partilham esta fase de necessário recolhimento.
Vídeos, depoimentos, exercícios, palavras de afecto e encorajamento, participação nas mais variadas iniciativas, visando dar público testemunho da solidariedade e sentido de responsabilidade que, nesta hora, a todos nos deve unir.
Noutra frente, temos estado muito empenhados, criando sinergias com as mais diversas instituições, em contribuir para apoiar quem mais necessita, como por exemplo o projecto conjunto da nossa fundação com a GNR para prestar apoio aos idosos mais isolados, ou a recente iniciativa com a Câmara Municipal de Lisboa e a Universidade de Lisboa, contribuindo para a aquisição de equipamentos médicos, factor crítico e essencial para os profissionais de saúde que todos os dias, na linha da frente deste combate, dão vida para salvarem vidas.
Notáveis têm sido também os exemplos que nos têm chegado de Casas do Benfica espalhadas pelo País e pelo mundo, com as mais diversas acções ao serviço das comunidades onde se inserem. 
Enfrentamos uma pandemia que, segundo a Direcção-Geral de Saúde, para o nosso país, poderá atingir o pico em meados de Abril. Estamos, por isso, num momento central desta luta solidária pela vida e pela nossa forma de viver.
Seguir com rigor todas as recomendações das autoridades de saúde, fazer da entreajuda a prioridade absoluta, beneficiar da tranquilidade de ter acesso normal a todos os bens essenciais, enfrentar estes dias com firmeza, resiliência e cuidando uns dos outros é a táctica perfeita, com a esperança e a convicção de que, neste momento, cada vida salva é a vitória de todos nós!

P.S.: Recomendamos que vejam e partilhem o vídeo que hoje lançaremos pelas 14h com mensagens de jogadores da equipa profissional de futebol para 11 países de que são originais. Estamos juntos! 
#BenficaEmCasa"

Cadomblé do Vata (Festival da patada!!!)



"Taça de Portugal 03/04 - Final - 16/05/2004 - Estádio do Jamor
SL Benfica 2-1 FC Porto (a.p.)
1. Estás a perder 0-1, tiras um ponta de lança, metes o Fernando Aguiar e volvidos 3 minutos empatas... muitas pessoas dirão que foi coincidência ou sorte, mas e daí... as pessoas são capazes de dizer as maiores barbaridades.
2. Estar numa final da Liga dos Campeões não é sinónimo de qualidade... o FC Porto está a um jogo de poder ser campeão europeu e sofreu um golo do Fyssas.
3. Passe em profundidade de Fernando Aguiar, sprint de Zahovic e cabeceamento do Simão... Mourinho tem fama de preparar espectacularmente os jogos, mas realmente, para uma jogada destas ninguém está preparado.
4. No Jamor valeram cotoveladas de Nuno Valente, patadas de Maniche e entradas por trás do Costinha... o multi campeão de wrestling Tarzan Taborda, tremeria se defrontasse esta equipa portista.
5. Em nova demonstração de desportivismo e saber perder, Mourinho atribuiu as culpas da derrota ao árbitro... no fundo, quis dizer que ele preparou magnificamente o jogo, mas Pinto da Costa não. Uma Taça de Portugal a fechar um ano em que perdemos Mikls Fehér e Bruno Baião. Tiveram que esperar mais 1 ano pela verdadeira homenagem."

Que jogos devo rever nesta Quarentena? Liverpool FC 0-2 SL Benfica



"Quarta feira, 8 de Março de 2006. Jogava-se, em Anfield, a segunda mão dos oitavos-de-final da Liga dos Campeões. No jogo da primeira mão, os encarnados tinham somado um triunfo por 1-0, o que permitia alguma margem de manobra aos homens de Ronald Koeman nas contas da eliminatória. Do outro lado do relvado, e apoiados por mais de 44 mil adeptos, conhecidos por serem dos apoiantes mais fervorosos no Futebol Inglês, encontravam-se os actuais detentores da competição, o Liverpool FC.
Os comandados de Rafa Benítez procuravam anular a vantagem que “águias” traziam da primeira mão, pelo que era expectável uma entrada forte no jogo por parte da equipa da casa. E, efectivamente, foi isso que aconteceu.
Os “reds” entraram a querer assumir o controlo do jogo, exercendo uma pressão intensa na primeira linha de construção dos encarnados. O trio Gerrard, Crouch e Garcia começava a assumir as despesas ofensivas da equipa da casa. Do outro lado, a dupla de centrais composta por Anderson e Luisão ia sustendo o ímpeto da equipa da casa e quando essa linha era quebrada, estava lá Moretto – e os postes -, para negar o golo aos britânicos.
No entanto, e contra a corrente do jogo, as “águias” iriam chegar à frente do marcador ao minuto 36. Numa jogada de insistência, em que os encarnados conseguem recuperar a bola no último terço do terreno, Simão Sabrosa desfere um remate em arco que só para no canto superior esquerdo da baliza à guarda de Reina. Estava desfeito o nulo no marcador, e os homens de Koeman chegavam ao intervalo em vantagem.
No segundo tempo, nada mudou: o Liverpool continuava a assumir o controlo do jogo, enquanto o Benfica – agora ainda mais confortável devido à vantagem que ganhou no final da primeira parte -, com um bloco médio-baixo, fazia do contra ataque a sua principal arma. Há que destacar a solidez defensiva dos encarnados neste jogo, que conseguiu aguentar a pressão dos britânicos.
E como quem não marca sofre, esta velha máxima também se aplicou neste encontro. Aos 87 minutos, através de uma transição ofensiva irrepreensível, Miccoli coloca o último prego no caixão dos “reds”, ao fazer o 0-2 final.
As “águias” acabavam de eliminar o campeão europeu em título, numa noite em que se pode vislumbrar o velho Benfica europeu de que as gerações mais velhas tanto nos falaram.

Onzes Iniciais e Substituições
Liverpool FC: Pepe Reina; Finnan, Carragher, Traoré e Warnock (Hamann, 70′); Xabi Alonso, Gerrard, Luís Garcia e Kewell (Cissé, 63′); Crouch e Morientes (Fowler, 70′).
SL Benfica: Moretto; Alcides, Luisão, Anderson e Leo; Beto, Manuel Fernandes e Robert (Ricardo Rocha, 70′); Geovanni (Karagounis, 60′), Simão e Nuno Gomes (Miccoli, 77′)."

Jogadores que Admiro #109 – Bernardo Silva


"Existem jogadores que nos encantam ao primeiro toque na bola que vemos deles. Foi o que me aconteceu quando vi um miúdo pequeno e franzino com o manto vermelho e branco por dentro dos calções a bailar pelos campos do Caixa Futebol Campus. Camisola 10 nas costas e a braçadeira no braço esquerdo chamaram a atenção para um talento que não enganava, até aos que não querem saber do desporto rei.
Todos sabemos que a vida dos atletas que não apresentam desde cedo um bom porte físico é difícil. Com Bernardo Silva, não foi excepção. Muitas vezes, nos escalões de formação, acabava no banco ou pouco utilizado. Só o talento podia dar a volta a uma situação que se esperava tudo menos fácil, com um caminho mais sinuoso que os restantes.
A temporada de explosão do português foi no último ano de formação. Basta pesquisar no Youtube que somos logo bombardeados com vídeos das exibições na temporada 2012/2013, onde o SL Benfica acabou por se tornar campeão nacional no escalão de Juniores A. Com os olhos no chão, dominava a bola e começava a dar nas vistas pela grande capacidade de driblar quem se opusesse.
A Europa começou a acordar para a capacidade técnica do jovem médio aquando do Europeu de sub-19, na Lituânia, onde Portugal chegou às meias-finais, mas acabou por perder frente à Sérvia. Depois de tão bons apontamentos, todos, principalmente os adeptos encarnados, esperavam que depois de uns bons meses na equipa “B”, fosse a hora de apostar num dos maiores talentos da formação.
Depois de uma pré-época com a equipa principal benfiquista, era a hora de experimentar um novo desafio na carreira. Aos 19 anos, um jovem Bernardo rumou ao principado do Mónaco para representar o clube local. O que era um empréstimo, depressa passou a uma transferência definitiva. 
Bastaram dois anos para o pé esquerdo mágico passar a ser conhecido mundialmente. A dúvida passou a certeza, e as exibições nos grandes palcos, como a Liga dos Campeões, catapultaram-no para a fama. Treinado por Leonardo Jardim, e fazendo parte de um plantel cheio de talento, o campeonato francês voltou a terras monegascas. Apesar de estar num bom clube, era unânime que poderia e deveria dar o passo seguinte na sua carreira.
Agora, no Manchester City, continua a caminhar rumo a uma carreira cheia de sucessos. Na temporada passada, os cinco títulos distribuídos entre o clube e a selecção levaram Bernardo Silva ao nono lugar na luta pela Bola de Ouro, um resultado motivador que nos leva a pensar que ainda vamos a tempo de ver o melhor do português.
Passados tantos anos a acompanhar um jogador, o aborrecimento não me consegue assistir. Continuo todos os jogos a ligar a televisão para ver o que o pequeno “Messizinho” tem para nos oferecer, e espero que o futebol e o talento não se esgotem até ao último dia da sua carreira. Gostava que os olhos de quando eu era mais nova nunca parem de brilhar cada vez que vê o ídolo brilhar e marcar golos."

10 livros de desporto para ler em quarentena

"Tendo em conta a presente situação, em que muitos de nós estão forçados a ficar em casa para nos protegermos do Covid-19, resolvemos juntar um conjunto de propostas literárias para que possas melhor aproveitar este período.
Para fazer esta lista de forma a servir a todos, tivemos em conta apenas escolher livros em língua portuguesa e disponíveis para comprar nas plataformas online que fazem entrega em poucos dias. 
Sem surpresas, esta lista é dominada por livros de futebol, já que o mercado nacional não tem dimensão suficiente para grande publicação nas restantes modalidades, algo que também cabe a todos nós mudarmos se não nos deixarmos levar pelo monopólio do futebol.

1. Relato (Tiago Beato & Hugo Vinagre) – Entre jogadores, treinadores, dirigentes e adeptos são cem relatos de episódios do futebol numa colectânea que faz as delícias de qualquer um que tenha gosto pelo lado mais humano do desporto. Míticos da cultura futebolística nacional como Marco Aurélio, Antchouet ou Bock, mas também figuras da nossa vida pública como Carlão, Avô Cantigas ou Rui Sinel de Cordes são alguns dos que contam «estórias» da sua ligação ao jogo da bola. 

2. Heróis à Moda da Bola (Lídio Araújo) – Nem só dos três grandes se faz o futebol português e “O Maior da Ilhas” é uma figura incontornável do nosso desporto e, acima de tudo, da Região Autónoma da Madeira, onde a sua influência eclética é fundamental para a vivacidade do desporto no arquipélago. Por isso, recomendamos este pequeno livro em que podes encontrar a história resumida do CS Marítimo.

3. El Portugués (Paulo Futre) – Em tempos um dos grandes jogadores portugueses, Paulo Futre recuperou o mediatismo há alguns anos com as suas intervenções bem humoradas sobre o futebol e a sua autobiografia segue esse mesmo registo. Assim, esta é uma óptima opção para descontrair recordando as aventuras de Futre (e também do seu famoso Ferrari amarelo) na sua ilustre carreira por Espanha.

4. Sem Filtro (Bruno de Carvalho & Luis Aguilar) – Poucas personagens do desporto geraram tanto amor e ódio como o ex-Presidente do Sporting. Goste-se ou não do homem, é inegável o seu impacto no panorama futebolístico português e, por isso, qualquer intereesado no futebol português beneficiará em ler a versão de Bruno de Carvalho sobre temas como o caso Carlos Pinho (em que alegadamente teria cuspido no Presidente do Arouca), a influência de Jorge Mendes ou a malfadada transferência de Adrien Silva.

5. Ayrton Senna do Brasil (Richard Williams) – A 1 de maio de 1994, Ayrton Senna encontrou a morte enquanto fazia o que o tornou um ídolo de multidões num acidente no GP San Marino. No ano seguinte, Richard Williams escreveu aquela que é provavelmente a melhor biografia do astro paulista. Para muitos o melhor piloto de sempre, Senna ainda hoje é um ícone da cultura brasileira e este livro ajudará lembrar ou perceber (consoante a idade do leitor) o porquê.

6. O Paradoxo do Chimpanzé (Steve Peters) – Não se trata de um livro puramente de desporto, mas, ainda assim, achei que se enquadrava no espírito deste artigo. O psiquiatra britânico explica aqui o seu modelo da mente com recurso a uma simples e eficaz analogia com chimpanzés.
Vindo de alguém que trabalhou com os campioníssimos Chris Hoy e Ronnie O’Sullivan e com instituições como o Liverpool FC ou o UK Athletics, é sempre útil perceber estes conceitos, seja para melhor compreender como este conseguiu focar os seus atletas no essencial ou até para aplicar a nós mesmos seja em competição ou no quotidiano.

7. Bola ao Ar (Rui Miguel Tovar) – É impossível ler Rui Miguel Tovar e não ficar cativado pela sua escrita. O jornalista tem um estilo simples, mas que nos prende, ao que junta uma grande capacidade de investigação para encontrar histórias recambolescas por todo o universo futebolístico. Esta coletânea de episódios caricatos segue esse mesmo desenho e cola às páginas qualquer um.

8. O Estado Novo e o Futebol (Ricardo Serrado) – Do país do “Fado, Futebol e Fátima” ao(s) clube(s) do regime autoritário da II República, muitas são as teorias e os mitos sobre a ligação do desporto rei com a nossa ditadura. Neste livro, o historiador Ricardo Serrado apresenta uma tese diferente, de que estas considerações são um exagero que não encontra paralelo nos documentos dessa altura da nossa história, alegando até que o futebol é, certos questões, mais instrumentalizado nos dias de hoje.

9. Béla Guttman (David Bolchover) – Por Porto e Benfica, o técnico húngaro tornou-se uma lenda do futebol português e ainda hoje a sua maldição continua a assombrar os adeptos das águias. Mas, o autor não se fica pela bela carreira de Guttman no desporto, debruçando-se também sobre o homem que sobreviveu ao holocausto, em que perdeu o pai e a irmã, antes de dirigir jogadores como Puskas ou Eusébio.

10. A Magia do Tour (José Magalhães Castela & Alves Barbosa) – Já tem uns aninhos (e, por isso, está em parte desactualizado), mas é uma interessante obra que conta a história das participações portuguesas no Tour de France.
A prova francesa é não só a rainha do ciclismo, como uma das que mais cativa a imaginação dos adeptos de qualquer desporto pelo enorme feito atlético que consiste somente o completá-la. Esta é uma oportunidade de relembrar as glórias de Joaquim Agostinho e Acácio da Silva, entre tantos outros, como, claro, Alves Barbosa, um dos autores do livro e que terminou nos dez primeiros da Grande Boucle em 1956.

Bónus
Como um extra aos títulos antes mencionados, junto também aqui algumas recomendações para os que estiverem com vontade para ler em línguas estrangeiras. Estes são livros que poderão ser mais difíceis de obter por demorarem mais tempo a chegar a Portugal, já que as livrarias portuguesas que os vendem encomendam à peça. No entanto, uma boa solução é comprá-los em formato ebook.
No futebol, as propostas são The Man Who Saved FC Barcelona, em que Mark e Sue O’Connell contam a preponderância do treinador irlandês Patrick O’Connell para o Barcelona durante a Guerra Civil Espanhola, e Kaiser! de Rob Smyth, a história do melhor futebolista a nunca jogar futebol. 
Noutros desportos, a autobiografia da lenda Martin Fourcade – que anunciou agora o seu final de carreira -, Mon Rêve d’Or et de Neige, é um essencial do biatlo. E para os apreciadores do ciclismo qualquer livro de um dos irmãos Fotheringham, William e Alasdair, é uma escolha acertada.
E, porque a vida não é só desporto, deixo também duas sugestões fora da área. Na investigação, os trabalhos do jornalista britânico Jon Ronson e, na ficção, o português João Pinto Coelho."

Que livros de desporto devo ler nesta Quarentena? Futebol a sério, por Carlos Daniel

"Que livros de desporto devo ler nesta quarentena? Pois, bem, o livro que vos apresento hoje como proposta tem como título “Futebol a sério” e foi escrito pelo jornalista Carlos Daniel. Confesso que fiquei tentada a comprar este livro muito devido ao facto de ter sido o próprio a escrevê-lo. Claro que o tema me interessa. Não estaria eu no Bola na Rede, não é verdade?
Costumo estar atenta aos mais diversos programas desportivos em Portugal. Verdade seja dita que já o estive mais, pois já esgotei um pouco da minha paciência para tanta novela mexicana que se vive no ecrã de uma TV quando apenas se deveria comentar futebol. Pois, bem, Carlos Daniel é um dos jornalistas de quem eu mais gosto de ouvir comentar jogos. Apesar de não adorar propriamente o programa onde comenta, o jornalista consegue fazer uma análise rigorosa, avaliando quer individualmente quer colectivamente toda uma equipa. E tudo isto com palavras simples e sem aqueles brilhantismos eruditos de quem nós já estamos fartos de ouvir/ler. Sem entrar em polémicas de arbitragens e assuntos extra-jogo, Carlos Daniel consegue focar-se naquilo que realmente interessa durante os 90 minutos: a análise táctica e técnica da partida.
Começo desde já por dizer que o livro não era exactamente aquilo de que estava à espera. O livro “Futebol a sério” procura explicar qual foi a evolução do Futebol como nós o vemos hoje. Procura contar quais foram os grandes marcos, e também grandes personalidades que, na sua história, permitiram que o Futebol fosse o jogo tacticamente evoluído que é hoje. Confesso que quando comprei este livro estava à espera de uma análise mais ao actual do que propriamente uma retrospectiva de toda a evolução deste desporto. Ainda assim, depois de acabarmos o livro, percebemos que essa mesma retrospectiva até se torna necessária, pois não interessa conhecermos o final de uma viagem quando não sabemos sequer metade do caminho. Acho que este livro foca um pouco isso.
Todos somos donos e senhores da razão e achamos que percebemos muito de futebol, mas será esta questão assim tão científica quanto isso? A verdade é que a questão, por si só, pode não ser científica, mas este desporto-rei que tanto amamos já o foi cada vez menos. A paixão que o futebol move nas pessoas faz com que cada vez se queira aperfeiçoar mais tudo o que ele engloba. E é daí que digo que vem a ciência. Isto foi um pensamento que me surgiu aquando estava a ler este livro. E eu gosto quando isso acontece. Quando um livro não é apenas um livro e leva-nos a pensar um pouco para além dele. Daí a minha sugestão de hoje para este rubrica “Que livros de desporto devo ler nesta quarentena?”.
Todavia, não é só isto que marca a diferença neste trabalho de Carlos Daniel. Uma “simples” análise àquilo que é o futebol a sério poderia enganar os mais distraídos. Mas a verdade é que as complexidades deste jogo vão para além das quatro linhas. Isto é, Carlos Daniel, para além de nos ensinar um pouco mais sobre a matéria, procura também mostrar-nos formas mais eficazes de nós mesmos comunicarmos aquilo que sabemos sobre o jogo com o mundo. E tanto que esta parte é deixada para segundo plano pelos demais…"

Para ver na quarentena: Ultras e The English Game

"Estamos a viver tempos difíceis para os amantes do desporto rei e há que arranjar maneira de passar o tempo mesmo sem futebol na televisão. Claro que há sempre a possibilidade de rever partidas para aqueles que olham para o jogo de uma forma mais analítica, mas para aqueles que gostam é do directo, do ao vivo, e que gostam é de todas aquelas emoções que o futebol nos proporciona, não há grande solução. Refugiamo-nos nas séries e nos filmes para nos entreter. Felizmente para nós, a Netflix lançou, na sexta-feira, duas muito boas opções dentro do mundo do futebol, uma série e um filme.
Começando por aquela que incide mais sobre o jogo em si, “The English Game” é uma série que fala sobre as origens do futebol. Com aquele estilo britânico próprio que faz lembrar “Downtown Abbey” ou “The Crown”, retrata a divida social entre as diferentes classes que o futebol causou. Um jogo que, na altura, ainda era muito reservado para aqueles que tinham dinheiro, para os empregadores e não os trabalhadores, a mini-série explora esta afronta entre as duas classes.
São seis episódios com cerca de 45 minutos, como se fossem três encontros, até com os descontos, que nos ajudam a perceber melhor como nasceu o futebol e como viria a evoluir para aquilo que conhecemos hoje. Este foi um período muito importante no futebol que, de certa forma, permitiu que fossemos chegando àquilo que conhecemos hoje.


Saindo agora das quatro linhas, o filme que vou apresentar agora não se foca tanto no jogo em si. “Ultras” fala-nos na vida de Apache, uma claque violenta de Nápoles, e mais concretamente da vida de Sandro, o seu líder. A sua vida é, de certa forma, virada do avesso quando lhe é negada a entrada à sua segunda casa, o estádio. Este sente óbvias dificuldades e tenta encontrar-se de novo no mundo. Sente pela primeira vez uma necessidade de assentar depois de conhecer outra das protagonistas, Terry.
O filme mostra-nos ainda a forte relação que Sandro estabelece com Angelo, um miúdo de 16 anos que também faz parte dos Ultras. Angelo está à procura de vingança pela morte do seu irmão numa disputa entre claques e Sandro acaba por ser o seu guia espiritual. “Ultras” conta uma história que, mesmo pelo contexto, não poderia deixar de ter uma forte carga emocional e de fraternidade.

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Semana 2 - Alberto

"Nestes dolorosos e dramáticos tempos, o futebol, e o seu específico mundo e a sua relevante indústria, tem de ceder à solidariedade

1. Estamos em emergência. O Estado e nós todos. Com o Presidente Marcelo a declarar, o Governo a concordar e a Assembleia da República esmagadoramente autorizar este estado de emergência. E percebendo todos que importa que toda a classe política, nacional e europeia, entenda, rapidamente, que os tempos que vivemos são momentos para sobreviver e não instantes para reflectir em excesso. Diria, mesmo, que há conceitos que vão ver varridos do que quotidiano como o défice, as contas certas, até, certo tipo de direitos adquiridos. O estado de emergência pode levar a diferentes estados de necessidades e, estes, vão derrubar muitas certezas que julgávamos certas! E, nesta mudança emergente, também vai entrar o desporto, mesmo que alguns, numa consciência que incomoda, o julguem relativamente imune às drásticas e dramáticas consequências que esta paragem bruta da economia vai desencadear. Mas a essência é a vida vivida. E esta exige que o Joaquim e o Eduardo, os José(s) e o Vítor, a Benedita e a Isabel, a Nádia e a Helena, continuem a ser, ainda mais, os nossos heróis e as nossas heroínas, com médicos e médicas que se entregam, com intensa alma e um imenso coração, à sua missão de curar doentes e salvar vidas. Como importar ler - a reler! - as lúcidas e sabias palavras do Doutor Adalberto Campos Fernandes ontem no Expresso! Mas cada um de nós, que é um ser que se não repete, tem de continuar a sorrir e a abraçar, a trabalhar e a conversar, a falar e a tropeçar, a amar e a dar-se. Sem que deixemos de tropeçar nas incertezas que o mundo suscita. A única certeza que tenho é que não tenho certeza alguma! Como se a Natureza não nos julgasse e nos lembrasse, e bem, e nestes complexos momentos, e lendo Lamberto Maffei - no seu Elogio da Lentidão - que «não conseguimos voar ou correr na savana ou morar profundezas do mar, traços peculiares de outros animais». Moramos aqui, com este vírus em coroa, com esta economia em crise e com este medo que nos assusta. Mas sem capitularmos, já que a esperança convive com a confiança, a solidariedade com a responsabilidade, a compaixão com a motivação. Como as canções que saem e escoam das varandas ou as múltiplas partilhas que aproximam amigos e vizinhos, avós e netos, pais e filhos. Tudo em coroa, mesmo, contra o vírus!

2. A FIFA e a UEFA suspenderam as suas competições. E bem. Não há nem condições objectivas nem subjectivas - aqui, e por excelência, para a devida protecção todos os actores desportivos, maxime dos praticantes - para a continuidade de campeonatos, ligas, torneios, exibições, manifestações desportivas. E também as apostas pararam e as audiências televisivas no que respeita à informação dispararam, mas sem que haja, com dramas certos, publicidade que os acompanhe! Entretanto, e com uma normalidade que assusta, a tocha olímpica chegou a Tóquio, o que levou uma pausa nipónica - a presença de centenas de populares que aguardavam a passagem deste símbolo olímpico - no necessário e permanente combate ao Covid-19! Mas o que se sente e pressente é que alguns querem estes jogos na data prevista e muitos desejam - já que o mundo dos atletas está de pernas para o ar - o seu adiamento. Com a consciência que não haverá condições justas - justas! - para a qualificação final dos cerca de cinquenta por centro de atletas que legitimamente procuram o acesso, por indiscutível mérito desportivo, a uma das provas mais emblemáticas de cada percurso desportivo. A pandemia põe em causa o principio da igualdade da preparação e, logo, põe em causa o indispensável mérito desportivo. Uma das essências de uma Olimpíada. A que acresce agora de uns Jogos Paralímpicos!

3. Nestes dolorosos e dramáticos tempos o futebol, e o seu específico mundo e a sua relevante indústria, tem de ceder lugar à solidariedade. Como bem assumem a FPF e a Liga Portugal! O que importa é salvar vias, proteger bens e salvaguardar empresas. Agora o que importa é a Vida - Vida Vivida - e nada interessa acerca de cores clubísticas, ponderações de classificações ou perturbações de afirmações. O futebol e todas as outras modalidades sabem bem que os tempos do futuro próximo exigirão reflexões profundas, ajustamentos sérios e, até, outros comportamentos. O que vale é, mesmo, a palavra solidariedade e, aqui, o Benfica - honrando a sua história! - merece um vivo e sentido aplauso pela doação - em articulação com as Câmaras e a Universidade de Lisboa - de um milhão de euros para a compra de equipamento destinado ao SNS! Sim, para este extraordinário Serviço Nacional de Saúde! Como, em outro e idêntico prisma, o empresário Vítor Magalhães, também Presidente do Moreirense, ou o Sporting de Braga - entre outros clubes e SAD's - em simulares doações, e, em particular, de indispensáveis ventiladores. O futebol sabe ser solidário. E o Presidente Fernando Medina não deixou de dizer que «é uma atitude muito importante do Benfica para todo o País e para toda a comunidade». Haja, aqui, verdadeiro contágio!

4. (...)"

Fernando Seara, in A Bola