terça-feira, 17 de março de 2020

A ameaça e o desafio

"Dostoiévski escreve em 'Os Irmãos Karamazov': «Somos todos culpados de tudo e de todos perante todos, eu mais do que os outros»

1. Vivemos numa época de êxtase científica, onde o infinito parecer ser o limite. Temos, ao nosso dispor, uma imparável parafernália tecnológica. Universalizam-se poderosos meios virtuais de comunicação, com o que de maravilhoso e danoso nos trazem. Glorificámos o homo economicus e transformámos a economia de mercado em sociedade de mercado. Endeusámos a globalização económica e informacional e ignoramos os seus perigos morais. Valoriza-se mais o crescimento económico do que o desenvolvimento humano. Estimula-se a apologia e o elogio do sucesso, enquanto se desdenha da compaixão por quem fracassa. Fomenta-se, sem rodeios, o monopólio do ter, que tantas vezes esmaga a dignidade do ser. Desprazamos a aldeia para aumentar o urbanismo descontrolado. Vivemos prenhes da nova ideologia do actualismo, que secundariza o tempo que está para além do dia seguinte. Erguemos o utilitarismo como a ética da conveniência e o egoísmo como a ética intergeracional. Convivemos com uma insidiosa métrica do valor da vida, através da qual ser velho da vida, através da qual ser velho é um problema e nascer é uma inconveniência. Continuamos, apesar das declarações proclamatórias, a ver a natureza como uma mera coisa instrumental a usar, abusar e saquear. Exaltamos que a noção de direitos humanos é ilusória quando se separa o direito do dever. Enganamo-nos quando entre o bem e o mal criamos uma falsa e perigosa categoria ética, a da indiferença. Desbaratamos energias no domínio dos cuidados de saúde para nos envolvermos em maniqueísmos que nada resolvem e tudo enquistam. Esbanjamos investigação e dinheiro em meios de guerra nucleares, urânio enriquecido, armamento sofisticado, armas químicas, mas não temos sido capazes de erradicar a malária que mata em África, e outras doenças, só porque escolhem os pobres para seu alvo. Desmerecemos o direito natural universal que decorre da natureza humana e dos seus fins para tudo concentrar no direito positivo contingente, que, não raro, contraria o direito natural. Adulteramos o bem comum, enquanto expressão ética e dimensão social e comunitária de fazer o bem e enquanto razão de ser da autoridade política. Desvalorizamos a família como epicentro da educação, da solidariedade e de transmissão da vida, em troca do individualismo, da efemeridade e do hedonismo. Trocamos valores sólidos pelo subjectivismo e relativismo de meras opiniões que nada valem por tudo quererem valer. Dividimos a força da verdade, mas multiplicamos a mentira, o rumor, a fantasia, a calúnia e o boato. Promovemos a primazia do número e o sufoco da estatística, como formas traiçoeiras de ditar politicas e de iludir as muitas formas de exclusão e de pobreza. Satisfazemos-nos com a supremacia das circunstâncias sobre nós próprias. Reduzimos os agrupamentos humanos a arquétipos formatados em visões abstractas e objecto de decisões frias, distantes e mecânicos. Assistimos a uma Europa sem alma, sem comando, cheia de tiques de correcção política, palavrosa e convertida em euros. Deixámos de ter estadistas que viam longe, para dar lugar a política que não enxerga para além do curtíssimo prazo e alimenta (e se alimenta) de epifenómenos populares, populistas ou seja lá o que for.
Somos de um tempo em que uns acusam outros de culpas, não raro por nada de importante e por tudo de insignificante. Tão concentrados estamos nas verdadeiras ou inventadas culpas, que, tantas vezes, esquecemos as soluções ou os caminhos a trilhar. Trocámos a segurança das soluções pela pressa das impressões. Para isso, menosprezamos a memória, alimentados por uma insidiosa cultura do presentísmo e do descarte. Hoje, em muitos domínios, o que importa não é tanto fazer ou não fazer, é mais o dizer, o anunciar, o prometer. A erosão memorial é mais gratificante para quem anuncia do que para quem age. Sacrificamos o essencial, seduzidos que estamos pela obsessão da quantidade, da futilidade, senão mesmo da inutilidade. Como ilustrativamente, nos diz um provérbio, creio que chileno, «à procura de água, encontrámos petróleo e morremos à sede».
Propositadamente estou a escrever na primeira pessoa do plural, e não num mais anónimo sujeito nulo. Mas - perguntará o leitor - porquê nós, se eu não tive nada a ver com isso? Fi-lo, desde logo pensando em mim, tendo presente um texto do filósofo e eticista Emmanuel Levinas, em Ética e infinito, por sua vez baseado no que Dostoiévski, escreve em Os Irmãos Karamazov: «Somos todos culpados de tudo e de todos perante todos, eu mais do que os outros. Não devido a esta ou àquela culpabilidade efectivamente minha por causa de faltas que tivesse cometido, mas porque sou responsável de uma responsabilidade total».

2. Enfim,vivemos (vivíamos) numa roda aparente, enganadora e solipsista, que muitos julgavam inexpugnável. E, de repente, um vírus do tamanho de nada consegue, planetariamente, pôr em causa este estado de coisas. Um quase invisível inimigo de cerca de 500 nanómetros, isto é de 0,00000005 milímetros, ataca-nos na nossa mais sagrada e vulnerável expressão, a da vida. Perante este combate, tudo o resto de esvanece. O que ontem era importante, hoje passou a ser dispensável. O que ontem era urgente, diluiu-se na sua quase sempre falsa pressa. Ninguém sabe como esta situação vai evoluir, mas o despertar das consciências deve ser encarado como uma boa lição a tirar para o futuro. Este é um ponto que deve tornar-nos mais avisados em relação ao servilismo do dinheiro, à tirania da ambição desmedida, à pobreza espiritual e ao pendor excessivamente materialista em que muitas vidas se deixaram aprisionar. Esta guerra silenciosa que o mundo enfrenta abre-nos e alerta-nos para as verdadeiras e profundas prioridades de governantes e governados.

3. A emergência face ao Covid-19 tinha, evidentemente, de chegar ao desporto. Numa escala inimaginável até há semanas. Não há futebol. Nem basquetebol. Nem hóquei. Nem Fórmula 1. Nem todos as outras actividades desportivas. Nestes momentos, podemos melhor percepcionar como discussões acaloradas em volta de um qualquer jogo ou acontecimento desportivo são apenas parte da circunstância da própria circunstância, que tantas vezes, na emoção, nos afasta da moderação e da essencialidade.
É correcta a suspensão das competições. No futebol ainda houve (ou se chegou a admitir) jogar sem pessoas a assistir. Seria um disparate e um modo de não respeitar o direito dos atletas a também se defenderem da ameaça viral. Uma partida de futebol só interessa porque interessa a quem a possa ver. Sem espectadores, transforma-se numa comida sem sal, sem à união jogo/pessoas o futebol é insípido, incolor e inodoro. Gélido e dormente. Absolutamente desinteressante e mesmo entediante. Uma negação dele próprio. Há dias, passei os olhos por dois jogos da Champions. Um em Liverpool com o estádio cheio (o que, aliás, me pareceu de grande imprudência) para ver o Liverpool - Atlético de Madrid e outro, em paris sem espectadores entre o PSG e o Borussia Dortmund. Qualquer semelhança entre os dois é pura... condescendência.
Todas as suspensões, quer a nível de cada país, quer a nível internacional, serão seguidas, por certo,por um vazio desportivo-noticioso. Aqui, em Portugal, como podem certos canais sobreviver a este vácuo, sem se ouvirem os amanuenses de serviço e os disparates sobre minudências e adjacências futebolísticas, que, agora, se revelam cruamente como estapafúrdias?
Vai ser um período de dificuldade e um grande e inédito desafio que se coloca aos jornais e antenas desportivas. Faltar-lhes-á a matéria-prima dos jogos, dos golos, dos antes e dos depois. Neste cantinho semanal, também não fujo à regra, a não ser que divague por outras áreas.
Hoje fico por aqui, nesta tentativa, reconheço que pessimista, de observar o mundo agora confrontado com o brutal ataque de um traiçoeiro microorganismo. Mas, também, no optimismo esperançoso da lição que saibamos tirar desta ameaça. E se só o nosso comportamento pode erradicar este pesadelo, que ele sirva também para prevenirmos o nosso futuro. Mais humanidade, precisa-se!

P.S. - A quem nos cuidados de saúde e em tantas outras actividades de que agora nos apercebemos serem indispensáveis para a normalidade das nossas vidas, a minha admiração e gratidão."

Bagão Félix, in A Bola

Investir na defesa

"Pausas longas e por tempo indeterminado são também oportunidades únicas para reflexão. O universo do Benfica não é excepção. Quando pensamos no que correu mal desportivamente no que se disputou da temporada em curso, há um amplo consenso de que o problema principal da equipa está na forma como defende colectivamente. É óbvio que há uma palavra-chave nesta afirmação: colectivamente. Ou seja, o declínio acentuado do comportamento defensivo do Benfica não está apenas na defesa. Em todo caso, vale a pena reflectir sobre o que tem sido a política de contratações do Benfica para o sector recuado.
Com base nos dados disponíveis no Transfermark, comparei o número e o valor das contratações para o plantel principal ao longo de um década com o investimento feito no sector mais recuado (incluindo guarda-redes). Os números são claros: todos os anos o Benfica tem investido. Este ano, aliás, ultrapassou mesmo os 60 milhões de euros em idas ao mercado. A excepção é mesmo a época em que o Benfica abdicou do penta, na qual não se chegou aos 100 milhões em contratações - apesar de se terem batido recordes de receita (38 milhões).
O Benfica investe, mas parece existir uma directriz não escrita que determina que não se comprem defesas. Este ano, aliás, não gastou um euro que fosse num defesa para o plantel principal. Há uma explicação para a opção. Antes de tomar qualquer decisão, deve-se olhar para o Seixal. Se pensarmos na performance desportiva e no retorno financeiro, tem compensado: Lindelof, Semedo, Oblak, Ederson e David Luiz concluíram a sua formação no Benfica e foram casos de sucesso. O mesmo é verdade, agora com Rúben, Ferro e Grimaldo. E é isso que explica que o defesa mais caro que o Benfica contratou desse Roberto seja Morato (ainda um projecto de jogador).
O problema é que quando não há alternativas no Seixal, o Benfica fica paralisado e não compensa com idas ao mercado eficazes. É esse o panorama de dez anos de contratações para a defesa. Em 47 compras, penas dez jogadores tiveram utilização regular na equipa A. Não surpreende. Afinal, ao contrário do que acontece do meio-campo para a frente, em que o Benfica contrata demasiado, mas também investe em valores seguros, no sector recuado o padrão é outro. Desde 2015/16 que, com a excepção de Vlachodimos, o Benfica não contratou um único defesa que tenha contribuído para a equipa principal. A lista dá conta de um cenário aterrador-nomes irrelevantes e valores muito baixos, que denunciam falta de qualidade. Da leitura fica uma certeza - um Benfica hegemónico e competitivo na Europa obriga a um investimento na defesa que por motivos insondáveis não tem ocorrido."

O feiticeiro-marinheiro da margem sul do Tejo

"Uma surpreendente derrota do Benfica no Barreiro - a única do Campeonato Nacional de 1971-72 - trouxe à superfície uma figura até então desconhecida, António Manuel Conde de Araújo e Brito. Chamaram-lhe o Pai da Vitória. Abria novas visões sobre o futebol...

A derrota do Benfica no Barreiro, face ao Barreirense (0-1), não podia deixar de ter foros de sensação. Estávamos no final de Março de 1972, e, até aí, domingo após domingo, os encarnados iam triturando adversários. Por isso, aquela tarde no Campo D. Manuel de Melo ficou marcada a fogo nas letras do campeonato.
O treinador do Barreirense era Carlos Silva, o meu querido amigo Carlos Silva, com o qual trabalhei durante anos, com o qual reparti tantos e tantos momentos, tantas e tantas horas de conversa. Mas, curiosamente, não era o Carlos Silva que andava nas bocas do mundo. Era um bruxo, um feiticeiro... Ou melhor: um comandante da marinha portuguesa. Eu explico já aí abaixo.
António Manuel Conde de Araújo e Brito. O nome diz-vos alguma coisa? Provavelmente, não.
Tarefa: preparar psicologicamente os jogadores do Barreirense.
Não havia grandes dúvidas fora ele o maior responsável pela vitória sobre o Benfica. Fizera os seus rapazes sentirem-se capazes do impossível.
Utilizava várias técnicas até então desconhecidas entre nós. Na sua maior parte derivadas do Hata-Yoga, uma forma de, através do relaxamento, estabelecer um equilíbrio mental com visa à superação. António Manuel era um rapaz ainda novo. Tinha a cabeça cheia de sonhos. E o futuro estendia-se na sua frente como uma planície que busca o abraço das montanhas.

Essa vitória única
A vitória do Barreirense sobre o Benfica, nessa tarde de 1972, trouxe o comandante Araújo para as páginas dos jornais. 'O homem que bateu o campeão com o poder da mente!', disse dele um vespertino. Mas o próprio desvaloriza tamanha importância: 'Cabe-me, principalmente, a evocação do estímulo. Quando apresentei o meu projecto ao treinador Carlos Silva e, em seguida, à direcção do clube, mostraram-se muito interessados na minha intervenção. E os jogadores também estiveram muito disponíveis. Não vejo que haja qualquer diferença entre a preparação de um jogador de futebol ou a de outro qualquer indivíduo, independentemente da sua área profissional. O meu principal trabalho é explicar o que se pretende do seu esforço para a obtenção de um determinado objectivo'.

Simplista, no mínimo
Oitavo lugar final, entre 16 participantes: nada mau, mas também nada de particularmente extraordinário para os barreirenses.
Ainda assim, 11 vitórias. O Benfica foi campeão tranquilo, com mais 10 pontos do que o segundo classificado, o Vitória de Setúbal. O treinador encarnado era Jimmy hagan, que, ao contrário do comandante Araújo, falava pouco, muito pouco. 'Mr. No Comments!'.
Na segunda volta o Benfica vingar-se-ia com juros: 5-1!
Afirmava Araújo: 'Acho que deve ser posta à disposição de qualquer profissional de futebol uma determinada orientação psicológica que lhe possibilite combater as deficiências inerentes à sua profissão.' Aí a curiosidade despertava. E quais são? Quais são? O homem, impávido:
'O futebol provoca todo o tipo de conflitos de carácter muito particular e que também afecta de forma muito intensa a massa de adeptos'. O comandante procurava ir ao mais longe possível no seu estudo: 'A acção de um psicológico junto de cada uma das equipas da I Divisão, por exemplo, parece-me inevitável e indispensável. Talvez assim muitas das situações desagradáveis que decorrem em campo ou nas bancadas pudessem ser evitadas'.
Passaram-se décadas. Hoje em dia, as equipas não dispensam os psicológicos. Mas terão sido debelados os problemas? Nos campos? Nas bancadas? Não me parece.
Além do mais, depois de o comandante Araújo ter surgido à boca de cena, rapidamente surgiu alguém a recordar Bélla Guttmann: havia lá treinador mais psicológico do que ele? O húngaro mágico cujas palavras podiam mudar o destino de um jogo?
'Procuro ajudar os jogadores a relaxarem', dizia o homem que todos apontavam como grande responsável pela vitória do Barreirense sobre o Benfica (a única derrota das águias nesse campeonato, ainda por cima!). 'Quero combater alguns dos males desta nossa época, como são os casos do stress e do surmenage, a angústia e a depressão, e admito recorrer à hipnose para isso - para garantir uma área no cérebro a que chamo de 'ponto vigilante'.'
Quanto à pergunta fundamental - qual fora a contribuição do comandante/psicólogo para o triunfo dos barreirenses? -, ele reduzia-a a um momento: 'Provoquei, nos balneários antes do jogo, uma experiência desconfortável. Resolvê-la, libertou-os. Tirou-lhe um peso de cima, tornou-os mais disponíveis. Mais próximos de conseguirem abater um adversário, decididamente mais forte'.
O marinheiro-feiticeiro estava na moda. Mas não tardou a desaparecer na espuma dos dias..."

Afonso de Melo, in O Benfica

Caldas da Rainha, capital do Benfica

"A Casa do Benfica nas Caldas vestiu as ruas da sua cidade de encarnado durante três dias.

'A alma do Benfica sempre foi e sempre deverá ser a sua massa associativa', lê-se na nota introdutória, assinada pelo presidente Borges Coutinho, no Relatório e Contas de 1972. A expressão máxima dessa simbiose entre Clube e sócios ocorreu em Julho de 1972, durante o I Encontro Nacional do Benfica, um evento inédito no desporto português, organizado pela Casa do Benfica nas Caldas da Rainha.
Sem olhar a esforços e com o apoio do Clube, da Direcção-Geral do Turismo e da Câmara Municipal caldense, a cidade da Estremadura viveu uma das mais grandiosas manifestações de 'ideal clubista'. Com o objectivo de se conhecerem e mostrarem a todos 'que somos realmente uma família', o evento reuniu representantes do Benfica além e aquém-fronteiras que fizeram das Caldas da Rainha a capital do Benfica durante três dias.
O vasto e aliciante programa incluía desfiles de núcleos benfiquistas pelos vários pontos da cidade, colóquios onde se discutiram as relações sociais e desportivas do Clube, concursos de cinema amador, sardinhadas na mata Rainha D. Leonor regadas a água-pé e até ofertas para os participantes que se deslocassem à cidade com o meio de transporte mais original!
O ponto alto do Encontro foi a Noite de Chama Benfiquista, um sarau artístico que decorreu no recinto desportivo do Caldas SC, o Campo da Mata. A noite começou com a actuação do coro da Universidade de Ohio (EUA), composto por 150 jovens, seguida de interpretações de folclore da Suíça, Itália, França e Portugal, pelo Orfeão do Benfica. Houve também um momento de leitura de poesia acerca da cidade das Caldas da Rainha e uma actuação memorável de Fernando Tordo. A noite fechou com uma fogueira 'vibrantemente «à Benfica»', ateada pelos campistas do Clube.
Este evento, 'que beneficiou o desporto e o turismo', foi a confirmação de que o Sport Lisboa e Benfica não se confina aos limites da capital e que mesmo os sócios que vivem distanciados do centro 'mantém bem alta e viva a imorredoura chama benfiquista'. Para casa, o Benfica trouxe um emblema com o brasão das Caldas da Rainha, a Medalha de Mérito Desportivo da cidade, com a qual foi agraciado, e 50 mil escudos que conseguiu angariar para a construção da Cidade Desportiva.
Para saber mais sobre o associativismo do Clube, visite a área 16 - Outros Voos, no Museu Benfica - Cosme Damião."

Marisa Furtado, in O Benfica

Fundação Benfica e GNR apoiam idosos isolados

"O Sport Lisboa e Benfica, através da Fundação Benfica, e a Guarda Nacional Republicana (GNR) estabeleceram e iniciaram uma parceria que permitirá atribuir um apoio social de emergência a cerca de 3000 idosos isolados e já sinalizados ao abrigo do "Programa Apoio 65 – Idosos em Segurança", iniciativa do Ministério da Administração Interna, e implementada pela GNR.
Trata-se de uma decisão e medida implementada de forma atempada e que procura actuar, desde já, junto de um dos grupos de maior fragilidade a nível nacional e que, face ao contexto de pandemia associada ao novo coronavírus, ficará, naturalmente, mais exposto pela quebra de parte da sua rede de suporte que se perspectiva.
A iniciativa passará, especificamente, numa primeira fase pela atribuição de 3000 packs alimentares individuais sob a sigla "Juntos cuidamos de si" e reforçará o objectivo do Programa já em curso de forte proximidade junto deste grupo de elevado risco, dado tratar-se dos 3000 casos de maior fragilidade social entre o total de 41 000 envolvidos no Programa.
Adicionalmente foram já adquiridos 3 ventiladores que serão colocados à disposição do Serviço Nacional de Saúde, designadamente com destino a Hospitais da Área Metropolitana de Lisboa, Porto e Coimbra.
Mais se informa que para além da manutenção permanente da ligação da Fundação Benfica com os seus beneficiários directos e respectivas famílias, daremos ainda continuidade ao trabalho de avaliação contínua do cenário de pandemia que vivemos e procuraremos encontrar, entretanto, novas formas inovadoras de contribuir positivamente enquanto parceira activa do Estado e da Sociedade Civil."

Mensagem do Capitão Jardel

"Estamos juntos!
Cada um em sua casa! Longe do Seixal, do Estádio da Luz e dos nossos adeptos. Mas, na verdade, sempre juntos! A terrível notícia de que nos iríamos separar temporariamente, na verdade, acabou por nos aproximar ainda mais. Ou, pelo menos, de outra forma.
O plantel do Benfica, mas também a equipa técnica e todos aqueles que habitualmente trabalham connosco no Seixal, tem estado em contacto diário. Seja para tirar alguma dúvida sobre tudo o que ficou programado para a preparação que estamos a cumprir, seja para resolver qualquer nova situação, seja, simplesmente, para termos notícias uns dos outros e, como é óbvio, das respectivas famílias.
Estão a ser dias diferentes, que nunca nenhum de nós alguma vez pensou viver. Aquilo a que estamos a assistir diariamente pela televisão e pelas notícias que chegam a cada segundo, das mais diferentes formas, alterou a nossa forma de olhar o mundo. Era inevitável. Nunca se está preparado para uma situação destas, mas agora não adianta mais: o problema existe. Dizem-nos que o pior ainda está para vir, mas temos de apelar ao mais alto sentido de responsabilidade de cada um de nós e fazer aquilo que nos compete. Proteger-nos, a nós e às nossas famílias, e ao mesmo tempo continuar a cumprir, da melhor forma possível, as nossas obrigações profissionais.
Mesmo em tempos de incerteza, temos a consciência do papel que nos cabe e aquilo que de nós esperam os adeptos do Benfica. O futebol está em suspenso, tal como o mundo, mas vamo-nos preparando, dia após dia, como se o próximo jogo chegasse já no sábado! Sabemos que não vai ser assim, infelizmente, mas é nesse reencontro com os adeptos e com aquilo que mais gostamos de fazer que vamos buscando motivação para seguir em frente.
No dia em que nos despedimos uns dos outros, no balneário, sabíamos que iria ter de passar um tempo (grande, provavelmente) até nos podermos voltar a reunir ali naquele mesmo sítio. Cada dia que passa... é menos um dia que falta. Tenhamos paciência, coragem e fé. O mais importante é ultrapassarmos este período negro, que a todos ameaça, e podermos voltar a fazer aquilo que gostamos. E para quem gostamos. Mesmo que cada um esteja, por agora, em sua casa, esta vitória será conseguida da mesma forma que foram todas as outras: Juntos!
Jardel, capitão do Sport Lisboa e Benfica"

Cadomblé do Vata (Campeões do Covid-19!!!)


"Apenas e só porque o FC Porto faz questão de manter o tema na ordem do dia, permitam-me opinar acerca da questão "Campeonato Nacional de Futebol": a menos que sejam garantidas condições sociais e sanitárias para disputar as últimas jornadas com adeptos, o campeonato deverá ser anulado. Qualquer outra forma de definição de campeão (play off, classificação actual ou classificação no final da primeira volta) será desvirtuar a essência fundamental da competição.
O SL Benfica tem que assumir isto publicamente com a máxima brevidade. E quem queira ficar com o caneco noutras condições que não contemplem o término normal das 34 jornadas, que fique com ele. A esse clube assentará que nem uma luva o título de Campeão do Coronavírus. Agradeço solenemente que não seja o SL Benfica a cometer tamanha estupidez. Não é esse 38 que os adeptos pediram ao longo do ano. Os Benfiquistas têm que dar uma demonstração cabal, de que não aceitarão ser campeões nestas condições."

Cadomblé do Vata (Dia de São Trap...)



"Superliga 04/05 - 33ª Jornada - 14/05/2005 - Estádio da Luz
SL Benfica 1-0 Sporting CP
1. Só falta 1 ponto, 1 reles pontinho, a merda de 1 ponteco... o equivalente classificativo do peso do Liedson.
2. É vergonhosa a forma como o cinema italiano é subvalorizado na cena cinéfila mundial... veja-se por exemplo como Alfred Hitchcock é considerado o "Mestre do Suspense", quando a Península Itálica deu ao mundo Giovanni Trapattoni.
3. Lance do golo que pode resumir o futuro próximo de 2 clubes: saída em falso do Ricardo e cabeceamento vitorioso do Luisão... Benfica perto de conquistar o caneco de "Campeão Nacional" e Sporting à beira de apenas festejar o título de "Roubamos-vos o Labreca".
4. Entre duas equipas com semelhantes limitações, venceu a que melhor as soube disfarçar... nós ganhamos com um ponta de lança sem rótulas, eles perderam com o Pinilla.
5. Nas últimas semanas, muito se tem falado nas limitações físicas do Simão, mas só hoje ficou à vista o estado em que ele se encontra... quando o capitão nem ao Sporting consegue marcar, é porque está mesmo de rastos. Parabéns Grande Mestre "Trap"."

Hoje só escrevo sobre bola!

"Durante algum tempo, desaparecem de Portugal os três efes: Fátima, futebol e fado! O mais grave, o futebol! As mulheres têm finalmente os maridos vinte e quatro horas em casa, mas, sem futebol, eles não vão ficar a bater bem da bola!

Esta noite sonhei que tinha telefonado ao Frederico:
- Olá, como estás? Tudo bem contigo?
- Mais ou menos, como podes calcular. Nem queiras saber como vim encontrar o nosso clube!
- Imagino. Diz-me lá, como é que foi aquela história dos 10 milhões pelo Rúben Amorim? Disseste numa entrevista que o dinheiro não prejudicava o Sporting? Que do Sporting não saía nada. Então como é que vais pagar 10 milhões?
- O Sporting não vai pagar nada. Pagaram pelo Sporting!
- Quem é que pagou?
- Não te posso dizer. O dinheiro veio do Norte. Veio de uma zona entre Aveiro e Braga. Não posso acrescentar mais nada. E eu, que me queria ver livre do Silas, aproveitei. Fiquei com um grande treinador, de borla.
- Então, quer dizer, isto foi tudo para obrigar o LFV a ficar com o Lage?
(Desligou-me o telefone)
Acordei a suar! Que sonho mais idiota!
Li, algures, que o presidente do Sporting ia pedir um adiantamento de duzentos e tal milhões à Nos sobre as transmissões dos jogos até 2029! (Estou a citar de memória). Este também já não anda a bater bem da bola!
Aliás, com esta histeria causada pelo vírus, corre-se o perigo do país inteiro não ficar a bater bem da bola! Desde a frase do cantor Nel Monteiro ("Sempre fui fã do Salazar. Foi um grande governante!"), até aos artigos e discursos do André Ventura, que parecem cópias das oratórias de Goebbels e Speer, do III Reich, o país corre o perigo de ver muitos dos seus cidadãos recorrerem à psiquiatria, e ficarem internados! A bater mal da bola!

Em cima
Aos médicos, enfermeiros e todos os técnicos de saúde, muito obrigado.

Em baixo
Tudo. Ou quase tudo!"

Futebol não é prioridade

"Face à situação global a que se chegou, vergados a uma pandemia de consequências por enquanto imprevisíveis, mesmo sendo importante, não é a primeira prioridade das nossas vidas.

Quando no dia 25 de Abril de 2003, na Assembleia da República, no decorrer da sessão comemorativa da efeméride festejada nessa ocasião o então Presidente da República, dr. Jorge Sampaio, perante a crise económica que pairava no horizonte, avisava os responsáveis políticos que “há mais vida para além do orçamento”, estaria certamente longe de imaginar a repercussão que tal afirmação viria a atingir pelo tempo fora.
Pois bem, chegou o tempo em que também no futebol esse princípio deve ser replicado.
O futebol é hoje, a nível global, uma indústria importante em todas as sociedades: arrasta multidões, suscita paixões e, muito importante, tem um efeito considerável sobre muitas economias, a diversos níveis. Face à situação global a que se chegou, vergados a uma pandemia de consequências por enquanto imprevisíveis, mesmo sendo importante, não é a primeira prioridade das nossas vidas. 
Estamos, no entanto, num tempo em que se cumpria a fase quase final de uma grande parte das competições, tornando-se imperiosa a tomada de decisões que são tão difíceis quanto indispensáveis. 
Hoje, para começar, numa reunião alargada às 55 federações europeias, a UEFA vai tomar uma decisão que certamente suscitará uniformidade, ou seja, o adiamento do Campeonato da Europa, previsto para Junho, mas que só deverá ter lugar no decorrer do próximo ano.
Mais tarde, o mesmo poderá acontecer em relação aos Jogos Olímpicos agendados para o Japão, havendo porém ainda a possibilidade de o seu calendário ser cumprido.
O mesmo já não acontece, em vários países, com os campeonatos nacionais de futebol, na sua maioria em fase terminal na Europa. E, por isso, a grande questão que se coloca tem a ver com decisões que vão ser tomadas, muitas delas influenciadoras das competições internacionais do próximo ano.
Porque a UEFA não dispõe de autonomia para decidir sobre essa matéria, as dúvidas sobem exponencialmente.
É importante, mas há mais vida para além do futebol, pelo que as nossas prioridades têm forçosamente que apontar noutro sentido.

PS. Notícias de ontem à noite davam conta do mau momento que Jorge Jesus está a atravessar, no Brasil, longe da família e dos amigos. É forte, e vai ultrapassá-los, com certeza. Todos ficamos a torcer pelo seu sucesso."

Lumiar, Setembro de 1993: o dia em que (,,,) levou um soco em cheio no nariz

"Lumiar, Setembro de 1993.
Tinha 20 anos de idade e era árbitro, há dois anos, nos distritais da AF Lisboa. O jogo, de seniores, foi na "casa" do CD Charneca (do Lumiar), colectividade que entretanto extinguiu-se em 2005.
O adversário foi o Recreativo Águias da Musgueira, um histórico de Lisboa que ainda hoje transpira vitalidade.
Meus amigos, foi rasgadinho.
Lembro-me que o pelado era "engolido" pelas bancadas, dispostas de uma forma atípica. Parecia uma espécie de arena de toiros, em que, dentro das quatro linhas, todos se sentiam algo vulneráveis. Expostos. Mas a verdade é, naquele dia, o perigo não veio dali, dos adeptos.
O relógio marcava 85, 86 minutos de jogo. Na sequência de um pontapé de canto e sem que nada o fizesse prever, um jogador da equipa visitada correu na minha direcção e, do nada, deu-me um soco na cara.
Aliás, aquilo não foi bem um soco. Foi mais um sopapo de mão fechada, meio desajeitado, que acertou no olho, nariz e bochecha. Ali pelo meio.
Não sei se têm essa noção, mas na vida real os socos são diferentes daquilo que vemos no cinema. Não há aquela perfeição técnica ou aquele efeito devastador. Não há estética nem glamour. Há um gesto abrutalhado, seco, rude. Força bruta soprada por um impulso irracional.
Não caí, não sangrei, não fiquei KO. Não desmaiei, não chorei, não rebolei no chão. Fiquei de pé, meio desequilibrado, surpreendido e dorido.
Reparei logo que o rapazito não tinha ficado satisfeito com o desfecho épico da coisa, porque voltou à carga. Antes que pudesse repetir a gracinha, afastei-me. Dei uns passos atrás e levantei a perna, num movimento ainda mais desengonçado do que o murro que levei.
Num ápice, estava toda a gente à nossa volta: jogadores, treinadores e dirigentes. Os meus colegas, miúdos como eu, puseram-se à minha frente, formando uma espécie de colete à prova de balas. Foi um gesto incrível, que ainda hoje me emociona. É que também eles estavam com medo que aquilo descambasse... no entanto, não hesitaram. Não pensaram duas vezes.
A força de uma verdadeira equipa é insuperável, de facto.
O jogo acabou ali, obviamente. Quando chegámos ao balneário, lembro-me de pensar: "Acabou! Acabou mesmo! Não quero mais isto para mim".
A decisão imediata nada teve a ver com o soco, em si, mas com a reflexão imediata que ele suscitou: senti-me revoltado e magoado. Senti-me culpado. Senti-me humilhado.
Reparem, era apenas um miúdo. Um miúdo que podia estar em qualquer outro lado, a fazer aquilo que os miúdos faziam naquelas idades: sair com amigos, passear com a namorada, estar com a família, descansar...
Mas a parte pior, a parte realmente catastrófica, nem foi essa. A parte pior foi saber que, naquela manhã (vá se lá saber porquê) tinha insistido muito para que a minha mãe fosse ver aquele jogo. E ela... foi.
Imaginem a angústia. Imaginem a preocupação, a dor e sensação de impotência. Dos dois.
Como em tudo na vida, o tempo acabou por ser bom conselheiro. Esfriei, distanciei-me de emoções mais fortes, serenei. Reflecti.
Ouvi o apelo sincero de muitos colegas e amigos, escutei a voz da razão, pesei prós e contras e... continuei. Continuei porque houve, na altura, quem me fizesse ver algo importante: quando nós desistimos, eles ganham.
Foi, sem dúvida, a melhor e mais acertada decisão que tomei na vida. Tive que passar por um momento-limite para chegar lá, para valorizar as pessoas que estavam comigo, para perceber que há coisas que dão trabalho a conquistar, para entender que é preciso muita resiliência para se chegar onde se quer, porque nada de valioso surge sem luta, sem dedicação, sem sacrifício.
Nada na vida é fácil, nem a vida em si, mas há duas coisas que são imbatíveis: esperança e coragem. Quem as tem... tem tudo o que precisa.
Nesta fase, é só disso que precisamos."

A Vida é Bela

"Há uma cena tão maravilhosa quanto perturbante no filme A Vida é Bela que não me sai da cabeça. Guido Orefice (Roberto Benigni) é levado com o filho Giosué (Giorgio Cantarini) pelos soldados da Alemanha Nazi para um comboio de mercadorias. Destino: um campo de concentração.
Quem viu o filme – se está a ler este texto e não o viu, por favor, aproveite o #FicaEmCasa e corrija assim que puder esse lapso – sabe que Guido usou os mais engenhosos, ternurentos e hilariantes argumentos para nunca deixar que Giosué soubesse o que se estava a passar. Sim, havia uma II Guerra Mundial.
Sim, a família Orefice era judaica e tinha sido identificada pelos vómitos do Terceiro Reich. Sim, Guido e Giosué iam ser transportados para um inominável centro de detenção.
E o que faz Guido, o pai, para a que o coração daquele menino de cinco/seis anos nada sofra, nada detete? Inventa um jogo e constrói uma narrativa de extraordinária humanidade e amor.
Para o pequeno Giosué, o objectivo é simples: chegar aos 100 pontos e ganhar um tanque de guerra. E é assim que pai e filho, de mão dada, entram no comboio da morte.
- ‘Nunca andaste de comboio, pois não? É fantástico! Toda a gente de pé, pertinho uns dos outros, e não há lugares sentados.’
- ‘Não há lugares sentados?’
- ‘Lugares sentados? Num comboio? Vê-se mesmo que nunca andaste de comboio. Não, toda a gente fica de pé, toda a gente apertada. Olha, esta é a nossa fila. Ei, ei, temos bilhetes, guardem espaço para nós!’
Um pai faz tudo por um filho. Faz tudo por quem ama, por quem pode. Nestes dias negros, podemos e devemos parar e reflectir sobre tudo aquilo que temos por garantido. O mundo faz-nos falta e este mundo, com todas as suas imperfeições, está a ser colocado pela primeira vez em causa às nossas gerações.
A certeza do primeiro café e de sair de casa para o emprego; o privilégio de ver o mar e beber uma cerveja bem fresca; os nossos pais que nos telefonam e nos dizem para comermos bem e levarmos agasalhos; os nossos filhos que acordam aos berros, passam os dias aos berros e berram antes de dormir, mas que quando sorriem são capazes de nos deixar o coração aos pulos; chegar a casa e termos a mulher que amamos à nossa espera; marcar uma futebolada ou um ténis com os amigos de sempre. Que vida tão bela nós temos. Uma vida tantas vezes maltratada pela mesquinhez sem sentido, o ciúme, a imperfeição que vemos nos outros e que os outros vêem não se sabe bem como em nós.
Que esta pandemia nos ajude a lembrar do que é essencial. Os outros, estar com os outros, celebrar-nos com os outros. Quanto a mim, tentarei ser um pouco de Guido para os meus Giosués.
No fim deste pesadelo sem paralelo, acreditem, vamos chegar aos 100 pontos e ganhar o nosso tanque de guerra. ‘Abbiamo vinto!’"

O Bando dos Quatro | O salto para a equipa A encarnada

"Com um espetro de incerteza a pairar sobre a actual temporada, a próxima começa já a surgir no horizonte. Tendo precisamente a temporada 2020/2021 na mira, listo neste artigo os quatro produtos da formação do SL Benfica que julgo merecerem uma franca e cabal oportunidade na equipa A encarnada.
Jogadores como Svilar, Nuno Tavares e David Tavares não entram na selecção por serem já habituais convocados (ainda que não joguem). Também não entram na lista jogadores emprestados que possam vir a integrar o plantel, como Diogo Gonçalves – daria toda uma outra lista.
Assim, os quatro futebolistas presentes actuam nas equipas secundárias do clube na presente temporada e são os que me parecem estar num nível de qualidade/maturidade o mais próximo possível do desejável.
Outros jogadores terão, certamente, oportunidades futuras, mas, de momento, necessitam de crescer num contexto menos exigente. Luís Lopes deverá ser o ponta-de-lança de eleição da equipa B em 20/21, Morato e Pedro Álvaro deverão consolidar-se nessa mesma equipa, Rafael Brito deverá “ganhar calo” também nos Bês, entre outros excelentes projectos de jogador.
Posto isto, a lista é como segue e na ordem em que se apresenta.
1. Tiago DantasO que possa ser proferido sobre Tiago Dantas será sempre, em quantidade e em qualidade, curto para expressar o que este futuro senhor jogador expressa em campo. Ver o futebol de Tiago Dantas no seu estado máximo de pureza influi-nos uma corrente enorme de emoções variadas: alegria, espanto, admiração e até nostalgia. Para os adeptos do futebol “antigo”, para os profetas do “´Dantas` é que era bom”, o médio benfiquista é um oásis no deserto.
Reitero que tudo o que possa ser dito sobre o jovem de 18 anos e 1,69m é pouco, e que reduzir o seu futebol a uma palavra é minimalista. Ainda assim, há uma que, ainda que insuficiente, lhe assenta que nem uma chuteira: classe. O alfacinha conjuga uma extraordinária qualidade técnica, uma incomum visão de jogo, uma leitura em campo acima da média, uma cultura táctica crescente e uma capacidade de liderança que faz dele capitão da equipa de juniores na Youth League – onde tem andado a espalhar magia.
É um “10” à moda antiga. No entanto, ciente de que a moda é mesmo antiga, Dantas tem vindo a ganhar consistência nas restantes posições do meio-campo adiantado. Na próxima época, gostava de vê-lo disputar com Pedrinho a posição de apoio ao ponta-de-lança, relegando Chiquinho para a luta pela ala direita. Confluir na mesma equipa um fantasioso como Pedrinho e um maestro como Tiago Dantas, seria um sério aviso a toda a navegação e traria memórias de tempos em que o futebol era mais… Puro.
2. Gonçalo Ramos Com apenas 18 anos, Gonçalo Ramos já passou por uma evolução notável. Começou por pisar terrenos mais recuados, foi crescendo como homem de referência na frente e tem agora regredindo no campo, ocupando ora a posição de “8”, ora a de “10”, ora a de “9,5”, ora a de “9”, por vezes no mesmo jogo. A sua posição tem vindo a oscilar, mas a sua qualidade não.
De há uns anos para cá, fruto da experiência que tem adquirido ao alinhar em várias posições, em vários escalões (e nas selecções jovens), tem demonstrado um nível exibicional extraordinário. Do meio-campo para a frente, mostra conhecer tudo o que há para conhecer. Interpreta muitíssimo bem todas as funções dos homens mais adiantados e desempenha qualquer papel, nos últimos dois terços do campo, com categoria, classe e inteligência.
Este último é, para mim, o mais importante vocábulo do futebol actual. Não basta ter futebol nos pés, é vital tê-lo na cabeça. A formação do Benfica Futebol Campus tem prezado por aí. Tem criado futebolistas inteligentes. Gonçalo Ramos é um desses casos, não sendo de estranhar o algarvio ser aposta recorrente de Renato Paiva na equipa B. Pese embora a tenra idade, está pronto para dar o salto.
3. Ilija VukoticCom a chegada de Weigl e a permanência de Florentino e Samaris, aparentavam ser muitas as soluções para o meio-campo benfiquista. A verdade é que a lesão de Gabriel e as últimas partidas e exibições vieram provar que é até curto para o nível de exigência do clube da Luz. Já se diz que um dos cinco reforços desejados pelas águias para a temporada vindoura é um médio. Pode ser esta a oportunidade ideal para Ilija Vukotic.
O médio montenegrino, de 21 anos, está no ponto. Apresenta uma maturidade anormal para um futebolista que só esta época começou a ser aposta regular na equipa B, sem ter medo algum de assumir: assume as bolas paradas (livres, cantos, grandes penalidades, o que for), assume o jogo, assume a construção, assume a desconstrução. Tudo com uma naturalidade e uma tranquilidade quase assustadoras. Se passa alguma emoção por aquele homem durante a partida, ele esconde-a muito bem.
Além do maravilhoso pé esquerdo que possui, com o qual coloca o esférico onde bem lhe apetece, ostenta uma envergadura física impressionante para um futebolista tão tecnicista – 1,91m e 78 Kg. Nas três épocas de águia ao peito, apontou quatro golos, um número que pode melhorar nos próximos anos, dada a crescente qualidade que apresenta nos seus remates de meia distância, nos livres directos que bate e na chegada à área.
4. Branimir KalaicaO central croata de 21 anos chegou a ter oportunidades – escassas – sob o comando de Rui Vitória, mas ainda não lhe foi oferecida nenhuma por parte de Bruno Lage. O treinador terá as suas razões, mas a não aposta num defesa-central maduro, com qualidade, com golo, com capacidade de liderança, com capacidade de construção numa fase em que as opções para a posição escasseiam no plantel principal, é bastante surpreendente.
Neste momento, Kalaica estará já a amargurar na equipa B encarnada. A Segunda Liga não é já o contexto competitivo ideal para a continuação do crescimento do jovem jogador. Mais do que merecer, o croata precisa de dar o salto definitivo para a equipa A. Não será nos Bês que o central crescerá mais técnica, táctica ou emocionalmente.
Apesar de alinhar, habitualmente, pela direita do eixo da defesa na segunda equipa, acredito que Kalaica seria capaz de gladiar pelo lugar de Ferro, com o português e sair vencedor dessa batalha. A cruel verdade é que essa batalha não se afigura provável, visto que Bruno Lage parece ter estabelecido que, na hierarquia de centrais da formação, Morato surge na dianteira, ainda que não tenha a maturidade competitiva do croata."

O desporto e a sua autonomia

"Espectáculo, instrumento político, meio de educação, factor económico… o desporto é tudo isto. Ele tornou-se polissémico. A sua compreensão é tanto mais difícil quanto o pensamento dominante, neste mundo globalizado. Quais são os pontos comuns entre o desporto-espectáculo e o desporto-lazer? O desporto de elite tornou-se o mesmo que o desporto para todos? As federações desportivas estão ao nível dos objectivos proclamados? Como é que o desporto pode participar na coesão social? Várias questões que estão por responder. Uma táctica de evitação é geralmente adoptada, provavelmente por medo de se ver o “edifício” com fissuras.
A definição de desporto, como sistema de práticas e regras, ignora as numerosas interpretações que circulam nas sociedades. Uns, veem nele uma visão simbólica do mundo, das grandezas e fraquezas, das suas realidades e das suas representações; outros, não hesitam em fazer do desporto uma religião, em que cada um tem de se submeter, sob pena de ser excluído por blasfémia. Manifestamente, tudo isto não nos leva a uma compreensão satisfatória do desporto. As imagens que o desporto-espectáculo nos dá também não ajudam. Esta desilusão é ainda maior quando somos confrontados com o discurso encantatório de alguns dirigentes (políticos, desportivos) sobre o desporto, referindo que ele é portador de muitos valores (disciplina, camaradagem, lealdade, responsabilidade, etc.).
O desporto não é uma acção mágica, que age por si mesmo. Exige aprendizagem, instrução e educação. É quando estas condições estão presentes que o desporto pode servir para transmitir valores que são úteis para o desenvolvimento das sociedades. Na realidade, o desporto sucumbe muitas vezes a uma moda simplificadora, capturando os “espíritos”. O desporto não é melhor nem pior do que outras actividades humanas. É na condição social que encontra a sua utilidade. Nesta prática singular e universal há um longo caminho a percorrer e a explorar."