quinta-feira, 12 de março de 2020

UEFA, COI, FIFA silêncio inaceitável

"A UEFA tem um Campeonato da Europa para realizar, uma Champions e uma Liga Europa para completar. O Comité Olímpico Internacional tem uns Jogos Olímpicos à porta e, ambos, têm como prioridade satisfazer os seus milionários amigos e parceiros, que lhes garante vida folgada e duradoura riqueza nos cofres. Por isso, ainda não se tinham dado conta da existência de um vírus universal, mais poderoso do que o dólar, mais forte do que o mais forte dos seus sponsors, mais universal do que eles. Chama-se coronavírus, mata pessoas, fecha países e deixa a população mundial numa angústia sem precedentes.
A UEFA soube, ontem, o que o mundo inteiro já sabia. Ficou contrariada quando a Roma lhe fez saber que a Espanha não aceitava a excepção de deixar aterrar ou levantar voos de e para Itália. Por isso, não lhe restou outra solução que não fosse alinhar umas curvas e bizarras linhas para, friamente, declarar que teriam de ser adiados os jogos da Liga Europa entre Sevilha e Roma e entre o Inter e o Getafe.
É ensurdecedor o silêncio da UEFA, e também da FIFA, sobre a pandemia declarada pela Organização Mundial de Saúde. Tal como é irresponsável a forma como o Comité Olímpico Internacional varre milhares de mortos e uma previsão de alarme universal para debaixo do tapete de Tóquio-2020.
Não é aceitável que as três maiores instituições desportivas do mundo resistam a tomar uma posição, a definir um plano, a encontrar uma solução que seja objectivamente aliada de todas as organizações mundiais e das autoridades de saúde, que tentam diminuir perigos e minorar consequências na vida da humanidade."

Vítor Serpa, in A Bola

Pizzi | O reflector da realidade encarnada

"A noite de passagem de ano costuma ser um período temporal quase impermeável quanto ao poder humidificante do realismo, o chamado ‘banho de realidade’ – a total independência entre a realidade e a consciência de cada um de nós, já bêbedos de esperanças e champanhe em promoção.
As promessas vãs que se fazem nesse dia são definidas como “tradicionais” pela tentação de mudança anual e facilidade do adjectivo, apesar de sabermos que a esperança fútil num futuro melhor será apenas um falsa ilusão que nos agarra perante o vazio existencial. “Muito dinheiro!” é muitas vezes procedido do ternurento “que o meu chefe valorize o meu trabalho”, que contrasta com o imediato “ah, e muita saúde” – num reflexo bonito de altruísmo e vontade puritana, para não nos tornarmos materialistas também aos olhos de Deus ou quem quer que lá esteja em cima.
Não se sabe onde estava Pizzi nesse dia, nem onde festejou o Reveillón (ainda que não tenha tido muita liberdade para o fazer, com o treino aberto realizado no dia 1), mas supõe-se que tenha passado em boa companhia e num lar inundado de alegria, onde familiares e amigos o sufocaram com elogios quanto ao seu rendimento na temporada.
Os agradecimentos que soltou, com risos orgulhosos à mistura, foram proferidos sobre uma confortável almofada onde os 19 golos e as dez assistências acomodaram a paciência do Terceiro Anel nas 24 aparições vistas até esse momento. Era o rosto de um Benfica dominador, a luz gerada por uma eficiente máquina que fazia valer a sua qualidade individual e colectiva para atropelar todos com quem se encontrava dentro de portas.
Estava no primeiro lugar e tinha atingido as meias-finais da Taça de Portugal, os principais objectivos internos, e a recente aposta na dupla Taarabt-Gabriel a meio-campo tinha elevado sobremaneira a nota artística. Em Dezembro, os encarnados jogavam um futebol próximo daquele que se vira em 2018-19, com a final consolidação da dupla e do onze base.
Só no campeonato, Luís Miguel contava onze golos e sete assistências em 14 jogos, números que o tornavam no melhor e mais preponderante jogador da Liga. Na Champions League, faz duas assistências e marca por três vezes – o que sextuplica a sua influência em golos na prova.
Em toda a sua carreira, era habitual a qualidade futebolistica de Pizzi ofuscar-se quando ouvia o fantástico hino interpretado pela Orquestra Filarmónica Real de Londres no perfilar dos onzes: em 30 jogos, tinha um único golo.
Podemos então supôr que aos 29 anos, o médio português tinha finalmente encontrado a disposição certa para enfrentar a pressão de um desafio continental, num claro processo de evolução até ao Ubermensch profetizado por Nietschze: um dos passos essenciais, para o filósofo alemão, seria a reavaliação de ideais antigos e a criação de novos, suportados por uma ambição desmedida e pela incomensurável vitória sobre o niilismo. Foi a definitiva vitória do português sobre si próprio, numa demonstração de força espiritual e que fazia supor uma época ainda mais inesquecível que a anterior. 
Suposição que a chegada de Julian Weigl fortaleceu. Impensável no Verão passado, a chegada do internacional alemão foi uma lufada de ar fresco no plano de transferências de Luís Filipe Vieira e uma mudança de paradigma. Adicionar um craque internacional alemão a um grupo com Fejsa, Samaris, Florentino e a dupla que até aí vinha comandando o Benfica a um reencontro com as boas exibições era panóplia luxuosa para Bruno Lage organizar.
É fácil afirmar que a introdução de Julian de forma algo apressada possa ter levado a um interregno na criação de rotinas e na estabilização dos titulares, ainda que não haja provas concretas quanto a isso.
O certo é que a equipa entrou em espiral negativa, começou a cair de rendimento e a maioria das peças que até aí se exibiam a bom nível começaram a desistir da carreira como jogadores de futebol – Pizzi, em especial, viu-se em Janeiro apoquentado por uma gigantesca quebra física, ainda mais que noutras temporadas. A acompanhá-lo com grande destaque teve Ferro e Grimaldo, os dois a meio caminho entre o colapso emocional e a desaprendizagem total das suas competências.
Mas o foco, enquanto grande figura da equipa, recairá sempre sobre os ombros do médio direito. Tal como outros craques, será sempre o reflexo de todos os elementos que o acompanham no onze – Gabriel, sim, é o responsável e o único com a competência devida para pôr a máquina a trabalhar.
E, se podemos afirmar com clareza que a ausência do brasileiro tem continuamente efeitos nefastos na consistência do onze (como foi visível na parte final de 2018-19), o rendimento do português alia-se às boas e más fases da equipa, de mão dada com a avassaladora capacidade ofensiva demonstrada entre Novembro e Dezembro ou com a monumental inépcia de Fevereiro.
O que é visível assinalar é a ligação entre a sua produção ofensiva e a estabilidade no duplo-pivot. A sua melhor fase começa precisamente a 2 de Novembro, na recepção ao Rio Ave (2-0), quando Florentino e Gabriel assentavam arraiais na titularidade, e a reconhecida capacidade de leitura de jogo e reacção à perda da dupla permitiam a Pizzi uma liberdade que Taarabt não lhe consegue oferecer. 
Ainda assim, a qualidade do marroquino no capítulo ofensivo ajudou Pizzi a chegar à sua melhor forma de sempre. Tudo começa em Leipzig (2-2), a 27 de Novembro, quando Lage o introduz como novo companheiro de Gabriel e mantém a parceria durante o último mês do ano, até ao jogo em Guimarães (0-1) a 4 de Janeiro – foi o melhor mês de sempre para Pizzi, com seis golos e cinco assistências em sete partidas, entre Champions League, Primeira Liga e Taça de Portugal.
Desde aí, os números do craque português caíram a pique. Desde a desarrumação táctica provocada pela chegada de Weigl e a lesão de Gabriel, o português contabiliza sete golos e duas assistências em 15 jogos realizados. O que são números razoáveis quando não esmiuçados perante as circunstâncias: na Liga, os três golos foram de penalty; na Taça de Portugal, finaliza mais uma vez de penalty e marca em Famalicão de bola corrida; na Liga Europa, repete de penalidade em Kharkiv, marcando bonito golo na Luz em boa jogada individual. Em termos de passes para golo, não oferece em território nacional qualquer oportunidade desde 14 de Janeiro (!!!), na vitória frente ao Rio Ave para a Taça.
É tentador então discernir que o rendimento de Pizzi é proporcional à estabilidade da dupla do meio e das suas qualidades. Enquanto a importância de Gabriel na recuperação se torna essencial no sistema de Lage, com provas várias nesse sentido, o parceiro que melhor complementou as suas qualidades foi Taarabt, parceria que alavancou toda a frente de ataque e escondeu fragilidades defensivas que são, agora, constantemente postas à prova. Pizzi servirá sempre como reflector dos momentos da equipa: o protagonismo de diferenciador e peça essencial do xadrez será sempre entregue a Gabriel. 
Com a lesão do brasileiro, a 6 de Fevereiro, foi visível ainda mais a quebra de uma equipa já à beira do precipício e o jogo no Dragão, dois dias depois, foi a estocada final num grupo de jogadores longe da sua melhor forma."

A razão de Sacchi e os braços imensos de Oblak

"Nunca Arrigo Sacchi teve tanta razão, Sacchi, lendário treinador italiano, coisa irónica ser do país mais castigado da Europa com este vírus maldito, disse ele aquela frase do futebol ser apenas a coisa mais importante entre as menos importantes da vida, percebemo-la hoje melhor que nunca e soam mais absurdos ainda os insultos no desporto a quem não é da nossa cor, seja da pele ou do cachecol, que o futebol é apenas algo que nos pode emocionar, não é coisa que nos salve. E o futebol pára para que a vida continue, porque, à hora que escrevo, há um infectado no Real Madrid, outro na Juventus, isto chega aos ídolos que parecem intocáveis, Ronaldo procura refúgio mais seguro na ilha onde nasceu, Tom Hanks foi contaminado, depois de Luis Sepúlveda, eles como uma adolescente sem problemas anteriores conhecidos mas que inspira agora cuidados a sério numa cama do Hospital de São João no Porto, ninguém está verdadeiramente seguro, nenhum de nós se pode sentir a salvo perante este agressor sem rosto. O futebol de tantas horas de debate inútil, alimentado de propaganda profissional e ódio pessoal, está despido da sua superficial relevância e profunda omnipresença. Acertou Sacchi, enganou-se definitivamente Bill Shankly: o futebol não é caso de vida ou morte, é mesmo muito menos importante que isso.
No futebol que resta, vénia a Oblak, que será o melhor guarda-redes do mundo, o mais eficaz, o mais decisivo. Com ele, o Atlético de Madrid eliminou o campeão continental Liverpool, algo que nunca teria conseguido sem o esloveno que os portugueses conhecem bem. Poucas vezes num jogo só foi tão fácil perceber a diferença que um guarda-redes pode fazer. Do outro lado, a defender os de Anfield Road, esteve Adrián San Miguel, experiente espanhol que é santo de nome apenas, não mais que um conformado suplente de Allison. Estivesse o brasileiro na baliza e Klopp ainda sonharia com a repetição do título europeu. Oblak não terá a elegância de Allison, o carisma de Neuer, as acrobacias de Keylor Navas ou o jogo de pés de Ter Stegen, não é propriamente bonito na baliza, concedo, ligeiramente corcunda e com aqueles braços aparentemente mais compridos que os de um homem comum, mas não falha em nada do que é essencial na função. Fortíssimo no um para um quando perante avançados isolados, exibe reflexos absurdos para defesas impossíveis, parece ter sempre as soluções mais simples para problemas complexos e acrescenta o que é essencial para atingir o nível de topo: um controlo exemplar do tempo e espaço, o que o faz estar onde é preciso no momento certo. Em Oblak, nada é excessivo, com exceção da qualidade. Faz tudo com aquele ar tranquilo, de burocrata competente, nada preocupado em brilhar, antes com a certeza de que não pode mesmo é falhar. Não aprecio o futebol do Atlético de Madrid, que há muito me desagrada o resultadismo em geral e o cholismo em concreto, naquela ideia absurda de que é possível estar mais perto de ganhar jogando pior ou de marcar atacando menos. Tal não me impede de valorizar a vitória do Atlético perante a melhor equipa mundial do momento, mas sobretudo me obriga a sublinhar o contributo decisivo de um homem que nasceu para viver numa baliza: Oblak, o bloco de gelo de braços imensos.

Nota colectiva: Leipzig e Atalanta A aparência pode ser a inversa, a de que equipas com menores orçamentos e inferiores recursos individuais têm de se proteger taticamente – sem eufemismos, defender mais – perante os grandes colossos que dominam o futebol europeu. Acontece que a realidade tem dito o contrário. No ano passado o Ajax, agora Atalanta e Leipzig, ninguém apostaria neles, uns meses antes, como integrantes da elite dos oito melhores da Europa. E todos diferentes, todos iguais, ou seja, os modelos de jogo são muito distintos, mas há um traço comum determinante que é o da audácia. Qualquer deles joga para ganhar, indiferente ao ambiente e ao rival. Que seja uma lição para tantos outros que se conformam com a impotência internacional. Até porque equipas assim, por várias razões, só podem fazer bem ao futebol.

Nota individual: Jamie Vardy Unânime nunca será mas a mim encanta-me, o homem e o seu sonho: da subida a pulso a partir de divisões inferiores, na capacidade de ser goleador sempre e até ao topo. Há-de ser dele a fotografia mais justa para ilustrar o crescimento deste Leicester que um dia contaremos aos netos. Hoje, nos azuis, delicio-me com a qualidade construtora do turco Soyuncu, o futebol empolgante do miúdo Barnes, mais ainda com o talento natural de Maddison, mas nada me emociona mais que uma arrancada de Vardy, ainda uma seta aos 33 anos e sempre um bombardeiro com mira calibrada. Reconheço nele quase um lado místico, como via em Jardel, num estilo oposto, como se o golo chamasse por eles. E confesso que me rendo sempre a um ponta de lança que remate mesmo bem, que quando enquadra a baliza já não vacile, como exemplarmente faziam Shearer ou Batistuta. Vardy não tem o mesmo talento mas também nunca vacila. É um jogador raro numa história irrepetível."

Sentido de responsabilidade

"A Organização Mundial de Saúde confirmou ontem estarmos perante uma Pandemia que já infectou mais de cem mil pessoas em todo o mundo com características de contágio galopante.
Mais do que nunca, é fundamental que cada um siga as recomendações emitidas pelas autoridades de saúde e adopte as melhores práticas de prevenção.
Desde o primeiro momento, o Sport Lisboa e Benfica adoptou um rigoroso e vasto Plano de Prevenção e Contingência, de acordo com as recomendações da Direcção-Geral de Saúde e decisões das Federações e Ligas das diferentes modalidades.
Ontem, ficou a conhecer-se a suspensão das competições de Hóquei em Patins, Basquetebol e Voleibol e a decisão de se realizar à porta fechada os próximos jogos de Futsal e Andebol, podendo ainda existir alterações no que respeita a estas modalidades. No caso do Andebol, o jogo entre Benfica e Passos Manuel a contar para a Taça de Portugal, que estava agendado para sexta-feira à noite na Luz, foi adiado nesta quinta-feira por acordo entre os clubes.
Também ontem, em actualização de novas medidas adoptadas, anunciámos a suspensão imediata de todas as actividades desportivas dos escalões de formação de todas as modalidades (incluindo o Futebol), até data a determinar, existindo o cuidado de garantir o acompanhamento, por nossos meios, da deslocação dos atletas que vivem nos nossos centros de treino para as suas residências. 
Internamente, no vasto conjunto de medidas estabelecidas (informativas, preventivas, operativas, regras de deslocação, etc.) foi determinado um rigoroso plano de definição de serviços que possibilitou o imediato envio para casa de cerca de 200 funcionários que funcionarão em sistema de teletrabalho.
Nesse sentido, sensibilizamos os nossos sócios, adeptos, Casas do Benfica, parceiros e prestadores de serviços a reduzir os contactos directos ao mínimo necessário, evitar drasticamente qualquer tipo de concentrações em massa ou em grupos, de acordo com as recomendações consideradas prioritárias na redução dos riscos de contágio.
Esta pandemia é um desafio individual e comunitário de bom senso e de acção em função dos conselhos das autoridades de saúde.
Sem alarmismos, mas com a consciência de que o sucesso da diminuição dos riscos e controlo desta propagação muito dependerá do mais elevado sentido de responsabilidade de todos e cada um de nós!"

Pedrinho

O Benfica oficializou hoje a contratação do Pedrinho. Médio-ofensivo vindo do Corinthians, que vai reforçar a equipa na próxima época. Na minha opinião, chegou 1,5 mês 'atrasado'!!! Devia ter 'entrado' na 'janela' de Janeiro...!!! Desconheço as 'complicações' que ocorreram nas negociações, mas nem o jogador beneficiou deste 'atraso' já que neste arranque de época no Brasil, tem tido alguns 'problemas'...!!!

Bom jogador, baixinho, driblador, rápido, gosta do um-para-um, joga de preferência na direita com o pé canhoto, mas pode jogar em qualquer posição no apoio ao ponta-de-lança...também me parece ser lutador e tacticamente disciplinado (comparando com outros jogadores brasileiros da mesma zona do terreno). Um Rafa, com melhor capacidade de 'proteger' a bola no drible...!!!

Temos poucos jogadores com estas características no plantel... Mas vamos ter que esperar, para verificar se a adaptação será fácil...



De que valem os milhões, se não formos campeões?

"Excelentíssimos membros da Direcção e da Sociedade Anónima Desportiva,
Numa fase em que chegamos à reta final de mais uma época desportiva, é imperativo, na minha modesta opinião, começar a fazer um balanço sobre o desempenho do SL Benfica na presente temporada.
No momento em que escrevo esta carta, constato que perdemos os sete pontos de vantagem que tínhamos para o segundo classificado, FC Porto, tendo os mesmos assumido a liderança do campeonato após um mês de Fevereiro completamente inenarrável para um clube com a dimensão do Benfica.
Gostaria de saber como é que é possível que um clube que respira uma saúde financeira invejável tenha preparado a época da maneira que preparou, sendo que o fruto dessa gestão é agora visível para todos os benfiquistas. Foi mais uma época vergonhosa a nível europeu, mais uma época a ser eliminados da Taça da Liga, podemos ter hipotecado o campeonato no mês de Fevereiro e, para variar, lá conseguimos chegar à final da Taça de Portugal. O plantel apresenta lacunas graves, especialmente no sector defensivo.
No entanto, preocupa-me o facto de que a Direcção apenas se preocupe com os resultados financeiros e que use os mesmos para se defender das críticas relativas à má gestão desportiva. Os craques vão saindo e os responsáveis teimam em não reforçar a equipa nas zonas em que esta fica mais desfalcada.
O plantel apresenta inúmeras lacunas, especialmente no sector defensivo, sendo o caso mais flagrante o dossiê sobre a lateral direita. Desde a saída de Nélson Semedo, em 2017, que o Benfica não comprou nenhum jogador para assumir o lado direito da defesa encarnada, sendo que os jogadores que por lá têm passado são atletas que já se encontravam no clube – e que não cumprem os requisitos para serem indiscutíveis num XI titular de uma equipa como o Benfica.
Termino esta carta com um simples pedido, excelentíssimos membros da Direcção: deixem de gerir o Benfica como se de uma empresa se tratasse, e comecem a focar-se na conquista de títulos, pois é isso que alimenta um clube de futebol e os seus adeptos.
Porque, no fim de contas, meus caros, de que valem os milhões, se não formos campeões? 
Cumprimentos,
Um sócio preocupado."

FC Porto SAD em falência técnica.

"A FC Porto SAD terminou o 1° semestre de 2019/2020 com um prejuízo de -51.85 Milhões de Euros.
No meio deste descalabro financeiro, quanto irá Pinto da Costa e a tropa-fandanga (Adelino Caldeira, Fernando Gomes e Reinaldo Teles) receber até ao final de 2019/2020?
Ninguém sabe.
O que sabemos é que esta mixórdia de dívidas levará obrigatoriamente à venda de vários jogadores da SAD, como Alex Telles, Marega, Otávio, Soares, Aboubakar, Sérgio Oliveira, Danilo, entre outros. Traduzindo em números, terão de realizar aproximadamente 100 milhões de euros em mais valias, ou cerca de 130 milhões brutos para amparar a falência financeira.
Como consequência dos prejuízos sucessivos ao longo dos anos, os artigos 35º e 171º do Código das Sociedades Comerciais são aplicáveis.
O artigo 35° indica que quando metade do capital social se encontra perdido, deve proceder-se de imediato à convocatória de uma assembleia geral e, desse modo, deixar para deliberação:
a) A dissolução da sociedade;
b) A redução do capital social para montante não inferior ao capital próprio da sociedade, com respeito, se for o caso, do disposto no n.º 1 do artigo 96.º;
c) A realização pelos sócios de entradas para reforço da cobertura do capital.
Perguntamos se já foi realizada a respectiva assembleia geral e qual a decisão da mesma? Supomos que não, uma vez que estamos em Portugal.
Dando seguimento à nossa análise minuciosa relativamente à situação da FC Porto SAD, verificámos que esta é tão grave que o relatório revela os seguintes factos:
1 - Novos financiamentos: «financiamentos concluídos ao longo do mês de Janeiro que possibilitarão um acréscimo de disponibilidade a rondar os 30 milhões»;
2 - Problemas de tesouraria: «A acumulação de défices de exploração desencadeou constrangimentos de tesouraria circunstanciais»;
3 - Renegociação de prazos de vencimento de dívidas correntes.
Como se isto por si só não fosse suficientemente grave, o FC Porto admite também ter prémios e gratificações dos jogadores, além dos seus direitos de imagem, em atraso:
- Prémios de competições pendentes de processamento: 9,5 milhões de euros;
- Direitos de imagem a liquidar: 523 mil euros.
Duas perguntas surgem quando analisamos estas dívidas relacionadas com valores por pagar aos seus jogadores:
1- Em relação à FC Porto SAD, haverá um tratamento especial em relação aos direitos/prémios no que a impostos diz respeito, ou seguiremos o (bom) exemplo de outros países?
Através do artigo que a revista Sábado adiantou, tomámos conhecimento de inúmeras buscas em várias SADs por suspeitas de crimes fiscais. O Record revela que a Autoridade Tributária reclama 21 milhões de euros aos dragões. Sendo isso verdade, significa que a SAD terá que constituir uma provisão de igual montante, agravando ainda mais o resultado financeiro da época! É preciso recordar que a justiça espanhola, recentemente, actuou com uma mão pesada precisamente por fugas ao fisco. 
Estamos, portanto, curiosos em ver o desfecho das buscas efectuadas à FC Porto SAD e aos vários jogadores do FC Porto.
2- Haverá um outro motivo para, em apenas 6 meses, pagar mais de 4 milhões de euros em direitos de imagem?
Ao dissecarmos o relatório, verificámos que a rubrica “Fornecimentos e serviços externos” contém um montante de 4,1 milhões de euros em direitos de imagem de atletas. O “Settlement Agreement” assinado em 2017 com a UEFA, aquando do incumprimento do fair-play financeiro, é claro:
a) The obligations set out in the Settlement Agreement require the Club to achieve defined break-even results, limit the aggregate cost of its employee benefits expenses (...);
b) The Club agrees that for the Reporting Period ending in 2018 and for the Reporting Period ending in 2019, the employee benefit expenses to revenue ratio and finance costs are restricted (...).
Em português, isto significa que o FC Porto concordou limitar e restringir os custos com o pessoal. Ora, se os direitos de imagem não aparecem na rubrica “Custos com o pessoal”, mas antes em “Fornecimentos e serviços externos”, quererá isto dizer que esta terá sido uma das formas que o FC Porto encontrou para contornar as restrições do Fair-play financeiro impostas pela UEFA? 
Recordamos que em 2014/2015, ao longo de 12 meses, a FC Porto SAD pagou apenas 601 mil euros em direitos de imagem. No entanto (e quiçá por magia), 5 anos mais tarde - em meros 6 meses - o valor aumentou cerca de 7 vezes, ou seja, para 4,1 milhões de euros.
Em suma e de forma clara e sucinta, a SAD do FC Porto quebrou vários artigos de normas e directivas financeiras da UEFA, desde o artigo 53° ao artigo 68°. Mais, em 2018/2019, de acordo com a UEFA, apenas cumpriu parcialmente com os objectivos definidos, pelo que outro novo incumprimento poderá significar um castigo pesado, como exclusão de competições europeias. Não há como enganar nem há artigos do “O Jogo” que desmintam a informação que aqui adiantamos. São factos.
Com o FC Porto com a corda na garganta, cabe ao Presidente do SL Benfica garantir que a desastrosa época de 2017/2018 não se repita, pois há muito em jogo."

Semana (in)tensa

"Exceptuando Vlachodimos, terá convergido, em muitos titulares, a má forma

1. Sete dias passaram entre o momento em que escrevo a minha anterior crónica. E, em tão curto tempo, tanto coisa se passou no nosso futebol.
Começo pela vasta operação levada a cabo pelas autoridades judiciárias e fiscais, chamada Fora de Jogo, sobre eventuais práticas ilícitas nos principais clubes. Espero que, no fim, saia vitoriosa a ética desportiva, doa a quem doer. Mas, neste momento, em que nada sabemos, concordo com as críticas sobre a circunstância habitual, mas ilegítima de, antes de tudo e de todos, haver câmaras de televisão alertadas para estar à boca de cena. É uma prática que não enobrece as autoridades, ainda por cima em semanas difíceis de alegadas ilegitimidades ou ilegalidades no seu seio.

2. O Sporting mudou pela enésima vez de treinador no mandato do actual presidente, mas inovando no modo como o fez, num Portugal sempre diferente e que permite trocas de técnicos entre competidores directos, a meio da época. Quanto ao valor pago (com IVA serão 12,3 milhões!), só posse percebê-lo pela fezada messiânica e pela folgada situação financeira do clube, sobretudo depois de tudo ter feito para vender, por um valor inferior, o seu melhor ponta-de-lança dos últimos anos, Bas Dost. Como, com ironia, dizia um amigo meu, ao transferir-se de Braga para o Sporting, Rúben Amorim abdicou em definitivo da possibilidade de conquistar o terceiro lugar no Campeonato. E sendo o SC Braga o principal concorrente dos leões ao habitual terceiro lugar do pódio, os bracarenses já ganharam 20 milhões a 0 (os 10 milhões e os 10 que o SCP deixa de ter, fora o IVA).

3. Foram conhecidas, também, as contas dos três grandes relativas ao primeiro semestre da temporada e reportados a 31.12.2019. Será talvez assunto a que volte. Por ora, fica este quadro, que quase dispensa comentários:

Situação em 31 Dez. 2019
- milhões de euros
                                                                              SLB  -  FCP    - SCP
Activo .....................................................  609    -  358    -  283
Passivo ..................................................... 385    -  445    -  304
Activo/Passivo ........................................... 158%   -  81%    -  93%
Resultados ................................................. 104    -  -52    -    3  
Capital Próprio ........................................... 223    -  -87    -  -21
Capital Social ............................................. 115    - 112,5  -  67
Excedente
(deficiência de CP em relação ao CS) ................ +94%  - -77% - -31%

Como se vê, o Benfica tem uma posição bem positiva, que até agora jamais havia alcançado. Já o FC Porto e o SC Portugal encontram-se em situação muito negativa. A pior é a do FCP - Futebol SAD: capital social de 112,5 milhões de euros e capitais próprios de 87 milhões negativos, pelo que aquele já foi consumido em mais de metade (77,33%). Por isso, passou a estar sujeito ao estatuído no artigo 35.º do Código das Sociedades Comerciais, que reza assim:
1. (...) Quando metade do capital social se encontra perdido (...) devem (...) os administradores requerer prontamente a convocação de assembleia geral, a fim de nela se informar os sócios da situação e de estes tomarem as medidas julgadas convenientes.
2. (...)
3. Do aviso convocatório da assembleia geral constarão, pelo menos, os seguintes assuntos para deliberação pelos sócios:
a) A dissolução da sociedade;
b) A redução do capital social para montante não interior ao capital próprio da sociedade (...);
c) A realização pelos sócios de entradas para reforço da cobertura do capital.
Estas informações oficiais coincidem com a passagem do FCP para líder do campeonato. Por isso, naquelas bandas, no pasa nada... E; ao contrário, as boas contas do SLB são relevantíssimas, mas como e passou de 1.º para 2.º pouco interessam aos adeptos. O costume no nosso pobre futebol caseiro, com as consequências que, mais tarde ou mais cedo, virão.

4. O Conselho de Disciplina multou o Vitória de Guimarães em 714€ (!), pelo comportamento de parte dos seus adeptos no jogo Marega (embora esclarecendo que essa verba não estava relacionada com os insultos racistas), na mesma semana em que foi conhecida a decisão disciplinar francesa de castigar com 6 meses o português Gelson Martins (Mónaco). Assim se vê a diferença para o que, por aqui, se passa, com clubes a auto-regulamentarem-se corporativa e defensivamente e, depois, a queixarem-se disso mesmo.

5. Por fim, o meu clube, que liderava a classificação, mesmo depois de ter desperdiçado 6 dos 7 pontos de avanço. Nos últimos 8 jogos para várias competições, dos quais 4 na Luz, o Benfica obteve uma única vitória, 4 empates e 3 derrotas, 10 golos marcados e 12 sofridos. Estranho desempenho para uma equipa que parecia segura, tendo tido 16 jogos consecutivos no campeonato em que foi cem por cento vitoriosa. Na minha opinião, em duas das derrotas (Porto e SC Braga), o Benfica não jogou mal e poderia até ter conseguido melhores resultados. Mas, a partir daí, as paupérrimas exibições justificaram os empates e a derrota na Ucrânia. Em Famalicão, conseguiu-se, é certo, o objectivo de chegar à final da Taça de Portugal, com um empate muito sofrido. Na semana passada, foi o que se viu, e é difícil encontrar justificação para tão pronunciada descida de desempenho colectivo. Em Setúbal, repetiu-se uma actuação claramente insuficiente. Exceptuando Vlachodimos, terá convergido, em muitos titulares, a má forma física e mental. Não entendo como, tão subitamente, desaba sobre a equipa uma tristeza, uma lentidão, uma previsibilidade, uma penosidade face a adversários acessíveis. Sei quanto a ausência de dois jogadores pode ter contribuído para isso. André Almeida está léguas à frente ao miúdo Tomás Tavares que, de facto, não tem ainda condições para ter titular do Benfica. Confiemos a formação e felicitamos os seus resultados, mas nem oito, nem oitenta. Acrescem a má forma de Ferro e também de Grimaldo, obrigado a jogar sempre por falta de concorrência. No meio-campo, falta, infelizmente por razões de saúde, o seu cérebro: Gabriel. Dava estabilidade, densidade, capacidade vertical ao jogo e um melhor entrosamento no espaço entre a defesa e os jogadores do meio-campo, que mais ninguém assegura. Se exceptuarmos Taarabt (e pusermos de parte a sua voluntariedade, por vezes, inconsequente e gerando contragolpes dos adversários), ninguém, actualmente, consegue verticalizar os movimentos e criar desequilíbrios.
A notável primeira volta dissimulou alguns problemas do actual plantel. Passado o romance do guarda-redes (felizmente, concluiu-se que Vlachodimos merece ser o escolhido), descurou-se a necessidade de ter quatro centrais à altura do clube, numa época que é muito longa, tendo em atenção a fase naturalmente descendente de Jardel. Na zona central do meio-campo, já houve todas as combinações possíveis, entre Florentino, Taarabt, Gedson, Gabriel, Samaris, Weigl e até Pizzi e Chiquinho, mas nenhuma se fixou e estabilizou naquela zona determinante. No ataque insisto no erro que foi ter deixado sair Salvio. Boa decisão tem-se revelado a entrada de Vinícius. No entretanto, Seferovic tem sido uma sombra do da época transacta. Rafa esteve vários meses fora de combate e tarda em estar em pleno. De Zivkovic, já nem falo, tal é a chulice com que recebe o ordenado mensal. Cervi é de uma vontade indomável, mas o Benfica precisa de mais categoria (e recordo que esteve para ser dispensado por troca com um tal de Caio Lucas, vindo lá das Arábias).

6. Pizzi: um jogador que muito aprecio e que é o barómetro da equipa. Se ele joga bem, a equipa também, se ele está apagado, a equipa ressente-se. Pizzi: o marcador dos penáltis. Longe de mim, crucificar um excelente profissional, que já me deu muitos momentos de alegria. Estou solidário com ele e sei quanto sofre quando desperdiça uma grande penalidade. Nestes dois últimos jogos em que o Benfica beneficiou de quatro penáltis, só um foi convertido (ou dois, se contarmos com uma recarga). Creio eu e pensará ele que se não tivesse falhado o 1-0 contra o Moreirense e o 1-2 no Bonfim, estaríamos ainda na liderança.
Sei que é fácil falar depois de tudo acontecer. Mas bastava olhar para Pizzi para ver quão tenso tem estado nas marcações. Um segundo penálti no mesmo jogo pelo mesmo jogador, em momentos delicadíssimos da época, é sempre um momento de enorme pressão. Seja como na Luz, depois de ter falhado o primeiro, ou em Setúbal após ter convertido a primeira ocasião. Isto não quer dizer que não haja confiança na marcação por Pizzi, mas talvez tivesse sido prudente ter mudado de marcador da segunda falta.
Aliás, este campeonato pode ficar marcado pelas penalidades falhadas. As do Benfica, as do FCP, na derrota contra o Braga, que, se convertidas, provavelmente teriam dado a vitória aos portistas (e, para contrariar o que atrás referi, neste caso até mudaram de marcador no segundo penálti...). E até a do ex-portista e agora portimonense Jackson Martínez, que, pela sua reacção imediata, são se terá maçado muito com tal falhanço.

7. Soares Dias, o iluminado, no penálti contra o Benfica no Dragão e na indiferença diante de agressão de Pepe. Soares Dias, o infiel, no penálti que não marcou a favor do Porto contra o Rio Ave. No 1.º caso, um silêncio ensurdecedor, no 2.º caso um berro ordinário do tamanho da Torre dos Clérigos."

Bagão Félix, in A Bola

É sempre o mesmo

"Pela proximidade dos jogos (Benfica-Moreirense e FC Porto-Rio Ave) deu muito nas vistas. Não me refiro aos erros dos árbitros, mas ao aproveitamento que deles se faz

Na jornada 23, o Benfica recebeu e empatou com o Moreirense a um golo, enervando os seus adeptos com medíocre desempenho. No entanto, por volta do minuto 61, explicou o antigo árbitro e comentador Pedro Henriques, em A Bola TV, que ficara um penálti por marcar a favor da águia. Na conferência de imprensa, Bruno Lage deu a seguinte resposta: «Nunca comentei lances e não será agora, que estamos sem vencer».
A propósito do mesmo lance, em oito linhas, escreveu Duarte Gomes, no seu espaço O árbitro de A Bola, o seguinte: «Rosic pisou, com o pé direito, o pé esquerdo do recém-entrado Dyego Sousa (...). Ficou pontapé de penálti por assinalar favorável à equipa visitada».
... E o Benfica perdeu a liderança, o árbitro realizou um «trabalho globalmente positivo», ainda segundo Duarte Gomes, mas o penálti que devia ter sido marcado e não foi depressa se varreu para debaixo do tapete.
Na jornada 24, o FC Porto recebeu e empatou com o Rio Ave, oferecendo aos seus adeptos uma actuação esforçada, mas pouco clarividente. No entanto, à passagem do minuto 56, Pedro Henriques, no programa de televisão A Bola de Sábado, identificou e fundamentou, com a clareza explicativa que o distingue dos restantes, um penálti por assinalar a favor do dragão.
Na conferência de imprensa, Sérgio Conceição deu o espectáculo que todos viram. Utilizou um discurso com ar esgazeado. Ao falar com falou e ao descarregar a sua ira na figura do árbitro, por acaso o mesmo que dirigiu o último FC Porto - Benfica, apenas reforçou a opinião de Justiça que, em entrevista à SIC, considerou que o futebol vive em ambiente de suspeição permanente e generalizada.
Sobre o mesmo lance, com direito a título («Erro com influência»), escreveu Duarte Gomes na edição de domingo, em A Bola (pág. 16), o seguinte: «Aderlan, já na sua área, chegou tarde e derrubou Marega (...). A infracção foi clara e óbvia (...). Soares Dias seguiu a trajectória do remate e terá, por isso, perdido esse instantâneo. Competia ao VAR dar-lhe a ajuda que se exigia».
... E o FC Porto não foi capaz de distanciar-se do Benfica em 100 minutos, mas o seu treinador foi célere em proclamar que o árbitro teve influência no resultado.
Duas situações idênticas no período de uma semana, envolvendo os dois candidatos ao título, dois resultados e dois lapsos idênticos, embora com tratamentos diferentes, a indicar que há erros de segunda (o da Luz) e de primeira (o do Dragão): sem importância no caso do Benfica, como se nenhuma influência pudesse ter no resultado final, escandaloso no caso do FC Porto, ou até mais do que isso, como se pode intuir do desatino de Conceição.
Dúvida minha: sei de práticas antigas e de vícios enraizados, mas será que insinuar, intimidar e fazer? Quero acreditar que não, mas o treinador do FC Porto deve pensar que sim. De outro modo não teria dito o que disse antes e depois do jogo com o Rio Ave. Ou será que, na perspectiva de especialistas e similares, erros na não marcação de penáltis são para esquecer se o lesado for o Benfica e, por outro lado, justificam tamanha gritaria se o prejudicado for o Porto? Ou porque o treinador de um é urbano no trato e coerente na palavra e o treinador de outro ferve em pouca água e quanto a coerência é consoante o jeito que lhe dá?
Há dois pesos e duas medidas, mas desta vez, pela proximidade dos jogos, deu muito nas vistas. Não me refiro, em concreto, aos erros de arbitragem, mas, sim, ao ignóbil aproveitamento que deles de faz. Olha-se em redor, e é sempre o mesmo.

A crise de resultado no Benfica é evidente, tendo esgotado o estado de graça de Bruno Lage e a paciência dos adeptos.
Sérgio Conceição deveria estar-lhe grato (à crise encarnada), pois foi nela que respaldou para no espaço de três jornadas chegar a líder isolado, prazer que neste campeonato ainda não tivera oportunidade de desfrutar. O que suscita, porém, outra questão e que tem a ver com a deficiente capacidade afirmativa portista em face da pronunciada e demorada quebra benfiquista. De aí, o descontrolo provocado pela empate diante do Rio Ave, impeditivo da descolagem esperada e que corresponderia a uma vantagem que daria ao Porto irrecusável conforto. Enquanto o Benfica andar a fazer de conta, Conceição terá a situação controlada, mas estes apagões nas equipas aparecem tal como desaparecem, quando menos se espera...
Com 30 pontos em discussão e, na teoria, com o calendário menos problemático, será altura de Bruno Lage começar a ver filmes para adultos e deixar-se de conversas inócuas e de comportar-se como paizinho dos jogadores a quem tudo se perdoa; aliás, os mesmos erros de Rui Viória e que conduziram à perda do título em 2018 e à sua saída meia dúzia de meses depois.
Lage precisa de inverter a situação fazendo o que tem de ser feito, que é pôr a equipa a ganhar, exigindo-lhe mais coragem e aplicação. A qualidade do plantel não é a desejável, mas é suficiente para não facilitar um centímetro que seja nas dez jornadas por disputar. O problema é que o próprio treinador tem-se enredado nos equívocos por ele gerados, contribuindo para que o colectivo pareça mais fraco do que na realidade é.
A lesão de Gabriel representa um dano irreparável, mas talvez com menos Taarabt se descortine solução com mais cabeça e se recupere a estabilidade que tem faltado. Além de, aproveitando como último exemplo o jogo no Bonfim, lage deve colocar ponto final na iniludível pouca disponibilidade de alguns elementos em tarefas de sacrifício: se querem ter bola é preciso lutar por ela e não temer nem os duelos, nem os contactos físicos."

Fernando Guerra, in A Bola

PS: O principal erro do Benfica - Moreirense, nem foi o penalty sobre o Dyego, foi o golo anulado ao Pizzi: Duarte Gomes e Pedro Henriques reconheceram nas suas crónicas que nenhuma imagem demonstrou que a bola tivesse tocado no 'braço' do Pizzi, sendo assim, é inexplicável como é que o VAR inverteu a decisão da validação do golo, tomada em campo...
Também é fácil dizer que os jogadores não podem temer os contactos físicos, quando são agredidos repetidamente durante 90 minutos, sem qualquer consequência disciplinar para os adversários!

Novas de medida de prevenção e contingência

"No âmbito das medidas preventivas e de contingência à propagação da COVID-19, e na sequência do processo de rigoroso acolhimento e implementação das decisões e recomendações provenientes da Direcção-Geral da Saúde e demais organismos e entidades oficiais, a Sport Lisboa e Benfica – Futebol, SAD e o Sport Lisboa e Benfica informam sobre o conjunto de novas medidas que hoje foram determinadas:
1 – Todos os jogos das modalidades seniores femininas e masculinas que se realizem nas instalações do SL Benfica, até data a comunicar oportunamente, serão realizados à porta fechada;
2 – Todas as actividades desportivas dos escalões de formação de todas as modalidades (incluindo as Escolas de Futebol) serão suspensas até data a comunicar. Reiteramos que sempre que se justifique actualizaremos toda a informação."

Única prioridade conter o Covid-19

"Só decisões extraordinárias podem resolver problemas extraordinários e é nesta proporcionalidade que radica a aceitação de todas as medidas que estão a ser colocadas em prática para conter o Covid-19, à escala global.
O desporto, agregador de massas e veículo potencial de propagação do novo coronavírus, tinha, forçosamente, de ver com as suas manifestações limitadas e a sensação que fica é a de que medidas mitigadoras, como fazer jogos à porta fechada, serão, em breve, substituídas pela suspensão de competições, até estarem repostas condições de segurança para a saúde pública.
E não valerá muito a pena clamar contra incómodos e prejuízos, porque em causa está um bem superior. A economia, na qual o dinheiro nunca desaparece, passa, quanto muito, de uns para outros, encontrará, como sempre, o seu caminho para sair da espiral negativa provocada, desta feita, por uma pandemia (em 2008 o vírus chamou-se Lehman Brothers...) e os espíritos lúcidos devem chegar-se à frente e, com o pragmatismo do Marquês de Pombal depois do terramoto, preparar o day after desta crise.
Numa altura destas, a única coisa realmente importante é o que nos une e nos pode ajudar a recuperar a normalidade, tão cedo quanto possível. E é perante a dimensão desta ameaça que nos apercebemos, cristalinamente, como são ridículas e pequenas as guerras de alecrim e manjerona que ocupam larga fatia do espaço mediático do desporto português. Mas já Einstein os topava à légua: «Duas coisas são infinitas, o Universo e a estupidez humana. E ainda não estou absolutamente certo quanto à primeira»."

José Manuel Delgado, in A Bola

Cadomblé do Vata (Inter-Turmas!!!)

"Venci uma vez o Torneio Inter Turmas de Futebol de 5 da C+S de Almancil. Aconteceu no 9º ano e na verdade, o mérito deve ser atribuído a quem no início do ano escalonou as turmas. Juntaram numa só sala o Moita, o Landim, o Miguel, o "Jorinho", o Flavinho, acho que o Fábio, talvez o Acácio e mais uns quantos que à distância de quase 25 anos, não recordo e a partir daí, era só uma questão de iniciar o torneio. Não só éramos melhores, como também mais velhos, portanto foi natural que tenhamos vencido a final contra a equipa do Alentejano e do Pelé, que salvo erro tinha na baliza o Francisco, que podia ser o "Chico Gordo" mas não era.
Os jogos inter turmas não ocorriam apenas sob a oficialidade do torneio. Aconteciam durante todo o ano nos intervalos, horas de almoço ou faltas de professores. Mas debaixo da organização dos professores de Educação Física era diferente. utilizávamos os balneários para trocar de roupa e tomar banho no fim, o jogo era cronometrado, as balizas tinham redes e grande número de alunos acorriam ao cimentado que atravessava dois campos de basquetebol para assistir à partida, formando um anel humano em redor do rectângulo mágico, com as raparigas de ambas as turmas rivais, a fazerem o papel de histéricas de serviço, entre 3 cigarradas às escondidas.. Durante 1 hora os imberbes jogadores que lá dentro corriam, chutavam, defendiam e festejavam golos "à profissional", tinham os olhos da escola em cima deles... e sorviam alegremente cada segundo de atenção.
O futebol à porta fechada são jogos no intervalo das 10h20 às 10h35. Umas corridas rápidas, meia dúzia de pontapés, um guarda redes improvisado que nem ao chão vai, um resultado que ninguém vai apontar e uma angústia final de terminar a tempo de chegar à sala antes do 2º toque. Só não é mais estúpido, porque nos relvados profissionais, os atletas não correm o perigo de se cruzar com matulões de Reebok Pump nos pés, a jogar ao 31 no garrafão da tabela de basquete."