quarta-feira, 4 de março de 2020

Nexos de causalidade para 'saída limpa'


"A competitividade (?) doméstica não prepara os 'nossos europeus' para os jogos da UEFA. De facto, o título é, cada vez mais, uma luta a dois, às vezes com a intromissão do SCP


1. Na relação entre causas e efeitos, a dúvida não está, muitas vezes, na sua concretização, mas mais no tempo de ela acontecer. Por outras palavras, a questão não é tanto o se, mas muito mais o quando.
Vem isto a propósito da crescente insignificância dos clubes portugueses nas competições europeias. Há um nexo de causalidade entre as más práticas internas e os resultados externos. Bem sei que, na aleatoriedade do jogo jogado, se pode disfarçar durante mais ou menos tempo o que à vista de todos são as causas de debilitação competitiva. Adaptando aqui a célebre asserção do presidente Abraham Lincoln, os clubes portugueses podem disfarçar a fraqueza durante algumas épocas, podem mesmo enganar, mas, não é possível iludir sempre todos, durante todas as épocas.
Entre os muitos modelos de causalidade, há pelo menos dois que se aplicam ao que se passou na quinta-feira negra da saída limpa dos clubes portugueses: o efeito dominó e o circulo vicioso. O primeiro tem a ver com o abaixamento do ranking dos clubes, os montantes a receber como prémio de presença, piores sorteios em potes mais desfavoráveis, efeitos no prestígio e na capacidade transaccional futura, desvalorização de jogadores, agravamento da situação de falência técnica do FCP e SCP. Quanto ao segundo, e apesar da melhoria a acontecer em 2021/2022 por força de uma presença ainda mais negativa dos clubes russos, é legítimo prever que, desta feliz circunstância, venha a resultar uma maior dificuldade global do desempenho das nossas equipas, e consequentemente de uma menor representatividade futura, e assim sucessivamente.

2. Longe de ser exaustivo, gostaria, aqui, de apenas referir alguns pontos que têm contribuído, directa ou indirectamente, frontal ou larvarmente, para esta relação de causa-efeito. Há, evidentemente, múltiplas causas que estão no centro do furacão perdedor a nível internacional, algumas das quais dificilmente são revertíveis, como é o caso de os nossos melhores atletas migrarem para ligas mais exigentes e retributivas. Aliás, é isso que explica a aparente contradição entre a decepção dos clubes e o bom desempenho da Selecção na qual há apenas residualmente jogadores da nosso Liga. Mas também há jogadores que foram dispensados e que têm feito excelentes carreiras por outros países (o exemplo mais elucidativo são os portugueses do Wolves), trocados por jogadores estrangeiros apenas sofríveis e bem mais caros. Isto é o reflexo de, na construção de plantéis, ser dominante o papel excessivo da intermediação e do seu principal objectivo de gordas ou multiplicáveis comissões.
Outro ponto importante tem a ver com a mentalidade que, por cá, faz lei. Entretidos que andamos com as nossas fracas competições internas, não damos conta que, noutros países, se aprende a trabalhar com uma atitude bem diferente. Muitas equipas que nos derrotam conseguem-no, não porque, em tese, tenham jogadores mais habilidosos e dotados, mas porque lhes são incutidos propósitos fundamentais de intensidade e concentração, tais como o do primeiro minuto ser igual ao último, o não haver estados de alma de vitórias a meio de um jogo ou de derrotas praticamente consumadas. Foi assim, aliás, que o Sp. de Braga foi eliminado quando, com 2-0 em Glasgow, entrou em fase de descompressão contra uns desajeitados escoceses, que mesmo com esse resultado não desistiram e não olharam para os ponteiros do relógio.
Também noutros campeonatos não há lamurias constantes de se jogar de 3 em 3 dias que aqui se ouvem amiúde, como se profissionais muito bem pagos tivessem de ter somente um jogo por semana.
Esta saída das equipas portuguesas da segunda divisão europeia evidencia outros aspectos negativos. Há jogadores medianos ou até medíocres, como vimos agora nos seus adversários, que lutam desalmadamente, correm sem aparente cansaço, jogam simples, acreditam sempre até ao fim. Foi assim que uns ceguinhos turcos de um clube de que jamais conseguirei dizer o nome deu quatro ao Sporting. Foi assim que uma mediana equipa alemã deu um notório baile à equipa de Sérgio Conceição e um ignoto clube russo, o Krasnodar, a eliminou com três golos no Dragão.

3. Outra vertente que ainda não foi superada, salvo excepções episódicas, é a de se pensar diferentemente consoante as partidas são em casa ou fora, em regra jogando-se defensivamente no campo do adversário e tudo apostando no jogo no seu reduto. Uma equipa que queira ter uma boa carreira europeia não pode pensar assim. Para se ter um estatuto categórico, não se podem encarar jogos fora de casa temerosamente. Onde chegariam Bayern, Liverpool, Barcelona e outras equipas a jogar assim? O Benfica foi eliminado não tanto na Luz (onde fez um jogo até razoável e desperdiçou os dois momentos em que esteve apurado), mas porque jogou medrosamente na Ucrânia, e, ao invés, o Shakhtar veio à Luz (ainda que com alguma felicidade nos momentos em que virou a seu favor a eliminatória), sempre com os olhos na baliza encarnada. E o Bayer Leverkusen ganhou no Dragão, com a forte mentalidade de que tanto faz estar a jogar em casa ou fora dela. Por outro lado, a regra ainda existente - e, a meu ver já injustificada - de um golo fora poder desempatar um confronto a duas mãos, leva a que, quando a primeira mão é em casa, haja mais o temor de sofrer do que a vantagem de marcar. Também nas estafadas conferências de imprensa antes dos encontros, se fala mais do valor (medo) dos adversários do que da competência das suas equipas, seja o confronto com o campeão europeu ou com... o Carcavelinhos.
A competitividade (?) doméstica não prepara os nossos europeus para os jogos da UEFA. De facto, o título é, cada vez mais, uma luta a dois, às vezes com a intromissão do SCP. Depois, temos o SC Braga, o Vitória Sport Clube e mais uma ou outra equipa que se destaca numa ou noutro temporada. Sobram fez, onze equipas que jogam sobretudo para não descer de divisão e para as quais qualquer 0-0 é bem-vindo. E a inércia corporativa mantém uma injustificável divisão com 18 clubes, em vez de uma profunda reforma para reduzir o seu número e aumentar os confrontos entre os melhores. Por isso, não admira que nestes 1/16 avos, em oiro jogos, os quatro clubes, perderam seis, empataram um e venceram ou outro, e sofreram 19 golos (!). E, nesta temporada, a acção europeia do Benfica e FC Porto resumiu-se assim: SLB, 8 jogos, 2 vitórias, 2 empates e 4 derrotas, 14 golos marcados e 16 sofridos. FCP, 10 jogos, 4 vitórias, 1 empate e 5 derrotas, 13 golos apontados e 17 consentidos.

4. Há, ainda, a magna questão da arbitragem. Nas competições da UEFA, temos futebolistas que fazem jogos com a ilusão de que estão no nosso campeonato. Mas logo se apercebem quão diferente é tudo. Cá joga-se através da arbitragem, lá luta-se sem dela depender. Não se vêem discussões sobre as decisões arbitrais, nem a pressão à volta dos árbitros que, aqui, se banalizou. Os artistas que por cá abundam, com perdas de tempo, falsas lesões, simulações de faltas, percebem que, na estranja, tais práticas batoteiras não compensam. Imagino o que, por exemplo, aconteceria no jogo no Porto, se fosse uma partida interna. Mal-habituados com certos VAR habilidosos, o que se discutiria com o primeiro golo dos alemães invalidado e depois validado? Ou com tentativas de penáltis que, lá fora, não ousam fabricar? E alguém cá se atreveria a expulsar o avançado Soares que deu uma cotovelada num adversário? Ou mandar repetir um penálti, neste caso contra o FCP?

5. Tudo isto é potenciado pelo circo comentarista que grassa em certos programas dos canais noticiosos CMTV, SIC N e TVI 24, com a honrosa excepção do canal público RTP 3. Há de tudo, em algumas personagens ligadas aos clubes e até jornalistas que se fingem equidistantes (que não todos, evidentemente): ambiente conspirativo, elogio da mentira da batota, descoberta de casos levados à apolexia pretensamente especulativa, impropérios e fingimentos de zangas para aquecer o ambiente e garantir audiências, empaturrados escrutínios arbitrais com imagens, ampliações e frames de toda a espécie, ruído de tasca em que ninguém ouve ninguém, palhaçadas e disputas clubísticas obsessivamente doentias, excitação em dizer mal dos outros como principal base de argumentação, gozo de serem ou de se acharem populares no café dos seus tifosi, indução de rancores depois ampliados pelas redes sociais.
E; claro está, para falar de futebol propriamente dito, não há tempo, nem interesse é estimular toxicamente o futebol-ópio. Continuem todos nesse caminho e depois não se queixem ou se armem em sereníssimos Pilatos...

P.S. Uma última linha a tempo de parabenizar os 116 anos do Sport Lisboa e Benfica, alcançados no passado sábado e de lhe agradecer as tão saborosas e inesquecíveis alegrias que me deu ao longo da minha vida e também alguns momentos de tristeza que também me ajudaram a amar ainda mais o meu clube."

Bagão Félix, in A Bola

Penalizado pela ineficácia

"Faltou alguém no corredor central que impusesse velocidade e criasse desequilíbrios

90 minutos em ansiedade
1. O Benfica apenas se pode queixar de si próprio nesta igualdade frente ao Moreirense, sendo transversal a ansiedade que se apoderou dos seus jogadores, sobretudo no momento da finalização. Só na primeira parte contei cinco claras ocasiões de golo que não tiveram o melhor desfecho. Este foi o principal adversário com que o Benfica se deparou e para o qual não encontrou solução eficaz para a contornar no decorrer dos 90 minutos,

Meio que não desequilibrou
2. O Benfica não entrou bem no jogo e somente criou o primeiro lance de perigo passavam mais de 20 minutos do início do encontro. Nesta fase, sentou muitas dificuldades para ultrapassar a grande organização defensiva do Moreirense, que contava com duas linhas muito fechadas. Apesar disso, nunca esteve em causa o domínio do Benfica na partida e os lances para marcar. Perante a necessidade de contestar o bloco defensivo do Moreirense, ao Benfica faltou alguém no corredor central que tivesse outra capacidade de proporcionar velocidade e, consequentemente, instalasse desequilíbrios na defesa do Moreirense, provocando ainda maiores dúvidas nas marcações. O Moreirense viveu largo tempo a defender, mas encontrou momentos para se mostrar na frente, essencialmente em contra-ataques e ataques rápidos, dois deles chegando muito perto da baliza de Vlachodimos, que evitou que o Moreirense se adiantasse mais cedo no marcador.

Desconforto no jogo directo
3. O Benfica teve uma entrada muito forte na segunda parte. Exemplo disso foi o lance que deu origem ao primeiro penálti falhado por Pizzi e, logo a seguir, ainda muito pressionante, chegou a um golo, que seria invalidado. Percebendo a dificuldade em chegar à baliza de Passinato, Bruno Lage habilitou Dyego Sousa, apostando em dois pontas de lança- Aborda a partida, então, a partir de um 4x4x2 - ainda a faltar um médio-ofensivo - e a abusar do jogo directo, estilo ao qual o Benfica não se sente confortável a jogar. De certa forma, esta mudança deixou o Moreirense ainda mais cómodo. Isto tudo não invalidou que o Benfica tivesse continuado a ter oportunidades de marcar.

Obstáculo Pasinato
4. Novamente numa situação de ataque rápido, partindo de um bloco baixo, o Moreirense adiantou-se no marcador. A ansiedade do Benfica acentuou-se e, desde então, passou a jogar mais com o coração, chegando justamente ao empate. O Benfica, repito, foi muito penalizado pela ansiedade, que se traduziu numa enorme ineficácia. E ainda se deparou com a figura de jogo: Mateus Pasinato. O guarda-redes do Moreirense fez várias defesas a evitar o golo do Benfica, segurando o empate em condições difíceis."

Vítor Pontes, in A Bola

The night is dark and full of terror 🎬

"L/S Benfica 2016/17 Home (player edition)
Acho que o Benfica e o Game of Thrones têm muito em comum. Apaixona e faz vibrar milhares de pessoas, ao mesmo tempo que choca outros tantos com as reviravoltas no argumento. Heróis passam a vilões, vilões passam a heróis. Há sempre aquele desejo dos "todos nus" que fica sempre aquém do esperado. Mas esperemos que não acabemos todos mortos no fim.
Não podemos negar que vivemos tempos negros e de algum terror, tendo em conta o passado recente. Podíamos ter saído do Dragão com 10 pontos de vantagem no campeonato e com possibilidade de rodar para conquistar a Europa para estarmos atrás 1 ponto e eliminados pelo Shakthar.
Mas não é isso que me traz hoje aqui. No passado dia 28 celebrou-se o primeiro aniversário da plataforma Benfica Independente, juntamente com os 116 anos do nosso Benfica. Não podia deixar de parabenizar e uma vez que já trouxe aqui a minha camisola número 1 do Benfica, achei por bem mostrar-vos a minha camisola número 116.
Esta é a versão de jogador (adizero) de manga comprida da camisola principal do Benfica da época 2016/17, que começou com uma vitória por 3-0 ao Braga na Supertaça, seguindo-se a conquista do inédito tetra e culminou com a vitória na Taça de Portugal pernte o Guimarães. (eu diria que este seria o padrão mínimo de época à Benfica).
Em relação à camisola, além da particularidade das agora extintas mangas compridas, este modelo distingue-se dos demais por ter os tamanhos numerados (4, 6 e 8 em vez de S, M e L) e marca "adizero" (em vez de "climacool") em baixo. Além disso, está desprovida de patrocínios.
Lembram-se da história que aqui contei do Pay it forward?
Recebi inclusive uma chamada desse meu amigo que, perante esta camisola à venda nas bancas à entrada da Luz, me perguntou se era de aproveitar ou não.
Amigo esse que acaba de abraçar um novo desafio pessoal, abandonando a Lisboa que também foi sua nos últimos 11 anos, com o qual partilhei (e vou continuar a partilhar) grandes momentos de Benfiquismo. Fez o seu último jogo em casa na passada 5ª feira com o Shakthar (porque agora sempre que vier a casa, na realidade estará em modo "jogos fora" - conceito chamado de away Home days, que será abordado numa oportunidade futura) e imaginem que camisola ele escolheu? Precisamente a minha camisola 116, em véspera do aniversário 116 do nosso clube. Coincidência claro, não somos nenhuns anormais e pensar que isto é um sinal de alinhamento cósmico aliado aos 38€ de gasóleo gastos na carrinha de mudanças.
Para ele, um forte abraço, desejos de sucesso pessoal e profissional e um até já, seja em Portimão, na Luz ou num dos 723 grupos de whatsapp que temos em comum.
Para nós, além de estarmos de parabéns por sermos do Benfica em geral e por fazermos todos parte deste projecto do Benfica Independente em particular, temos que nos agarrar a tudo o que nos possa acreditar que podemos ser felizes no fim. Porque é isso que faz sentido e é isso que nos faz ser Benfica. A ganhar. Sempre e sempre!
"Winter is coming", mas "no matter how cold the winter, there's a springtime ahead".
Estamos vivos, Vamos ganhar!
A título de curiosidade:
- Esta foi a minha camisola nº 116 do Benfica;
- É uma camisola 100% vitoriosa: foi usada na vitória 2-0 ao Guimarães na época 2017/18 e em 2018/19 na vitória caseira sobre o AEK por 1-0;
- Este ano será vestida no próximo jogo no Estádio da Luz (Benfica x Tondela), esperando uma vitória inequívoca para superar a derrota com o Braga e o empate com o Moreirense.
Game of Thrones - https://www.imdb.com/title/tt0944947/?ref_=nv_sr_srsg_0"

A alternativa defensiva | Promover ou Adaptar?

"O SL Benfica tem vivido momentos atribulados nesta fase da temporada. No espaço de um mês, perdeu toda a vantagem que tinha na tabela classificativa do campeonato, tendo sido ultrapassado pelo seu rival FC Porto, para além de ter sido afastado das competições europeias, ao ser eliminado pelo FK Shakhtar, do português Luís Castro. Um mês negro nas aspirações encarnadas e a maré de azar chegou mesmo ao quadro clínico do clube da Luz, não havendo agora uma clara alternativa defensiva.
Os encarnados emprestaram Gérman Conti ao Atlas e oficializaram a venda de Lisandro López ao Boca Juniors. Até aqui, nada de mal, não fosse o facto de não terem contratado nenhum activo para o centro da defesa, deixando Jardel como única opção para Bruno Lage.
Se planear o que resta da temporada com apenas uma alternativa para uma posição tão importante já era arriscado e difícil, o que dizer agora que Jardel se lesionou gravemente e Ferro e Rúben Dias são os dois únicos centrais de raiz no plantel do glorioso.
Assim, resta a Bruno Lage remediar esta situação com as opções que tem disponíveis. Claro que poderá recorrer à formação secundária para colmatar uma possível lacuna no eixo defensivo, mas a sua opção deverá recair nas soluções existentes no plantel.
No Benfica B existem opções como Kalaica, Pedro Álvaro ou Morato, sendo que o primeiro é o que dá mais garantias. Kalaica tem estado em bom plano na segunda liga portuguesa, mas por alguma razão ainda não teve uma oportunidade de se mostrar a Bruno Lage. É um nome a ter em conta e poderá mesmo começar a treinar com a equipa principal.
Embora não tenha mais nenhum central disponível na formação principal, tanto Samaris como Weigl são alternativas viáveis para desempenhar a posição de defesa central. Ainda assim, penso que, em caso de necessidade, será Samaris a primeira escolha, uma vez que Julian Weigl é importante no meio campo encarnado, para além de que Samaris já desempenhou esta função no SL Benfica.
Weigl poderia recuar no terreno e ocupar o eixo defensivo, no entanto, jogar a central foi uma das razões pelas quais deixou o Dortmund, pelo que voltar a desempenhar esse papel não deverá agradar ao jogador. No clube alemão, o médio germânico chegou a realizar alguns jogos como defesa, mas era visível que aquele não era o seu papel dentro de campo.
Andreas Samaris já demonstrou, por várias vezes, a sua versatilidade e, numa temporada em que não tem sido opção recorrente nos planos de Lage, esta poderá ser uma oportunidade para ter mais minutos.
A lesão de Jardel veio comprovar que devia ter sido contratado um central no defeso de inverno, no entanto há soluções na estrutura encarnada para resolver um possível problema com Rúben Dias ou Ferro, quer seja físico ou disciplinar.
A verdade é que Jardel também não estava a ter muitos minutos nesta temporada, contudo, é necessário ter sempre uma alternativa para eventuais contratempos.
Promover ou adaptar? Eis a questão."

Nota à comunicação social

"A Sport Lisboa e Benfica – Futebol SAD e o seu Presidente do Conselho de Administração confirmam a realização esta manhã de buscas às suas instalações, reafirmando a sua total disponibilidade, como sempre, em colaborar com as autoridades no esclarecimento de todas as questões que venham a ser suscitadas no âmbito deste ou de qualquer outro processo."

O erro do modelo

"Quando o Benfica não renovou com Jorge Jesus e foi buscar Rui Vitória, o objectivo era simples: mudar o modelo de plantéis do clube. Jorge Jesus tinha desperdiçado jogadores como João Cancelo e Bernardo Silva. O Benfica não queria desperdiçar as gerações que vinham a seguir nomeadamente as geração de 97 (Rúben Dias, Renato Sanches, Ferro, João Carvalho, Diogo Gonçalves), de 99 (João Félix, Jota, Florentino e Gedson), de 2000 (Tiago Dantas, Pedro Álvaro e Nuno Tavares) e 2001/02 (Kokubo, Tomás Tavares, Rafael Brito, Paulo Bernardo, Ronaldo Camará [2003], Tiago Gouveia e Gonçalo Ramos). O modelo consiste em ter uma base de jogadores experientes (Jardel, André Almeida, Samaris, Grimaldo, Gabriel, Taarabt, Pizzi, Rafa, Seferovic) e ir lançando jovens que estão já com alguma experiência de Segunda Divisão. A ideia é boa e os resultados apareceram com ela. Desde da saída de Jorge Jesus, o Benfica ganhou três dos quatro Campeonatos. Mas há um erro particular no modelo que depois do último mês começa a ficar mais visível.
Com Rui Vitória, o Benfica não entrou em ‘full-mode Seixal’, isto é não começou a viver quase exclusivamente do Seixal, mas a verdade é que apareceram Ederson, Lindelof, Rúben Dias, Nélson Semedo, Renato Sanches e Gonçalo Guedes. Todos estes jogadores, excepto Rúben Dias e Gonçalo Guedes, foram essenciais nos dois títulos de Rui Vitória. Todos esses jogadores tinham em comum uma coisa na época que Rui Vitória não ganhou (2017/2018). Não estavam lá. Sendo que o maior problema não foi o facto de não estarem lá, mas sim o facto de nunca terem sido devidamente substituídos, excepto Lindelof que foi substituído por Rúben Dias. O Benfica vendeu Ederson em 2017 e só em 2018 foi buscar Vlachodimos. O Benfica vendeu Nélson Semedo e ainda não foi buscar um lateral direito decente para equipa principal desde então. O Benfica vendeu Renato Sanches em 2016 e só dois anos depois foi buscar Gabriel. João Félix não foi substituído. É no ano a seguir a vendemos Ederson, Lindelof, Nelson Semedo que perdemos o Campeonato para o Porto. Cada vez mais parece que é no a seguir a não substituirmos João Félix que vamos perder o Campeonato para o Porto.
O ano passado fizemos uma recuperação incrível. Mas só depois de despedir Rui Vitória e promover Ferro, Florentino e Jota. Além de começarmos a utilizar João Félix como deve ser. Este verão vendemos João Félix, uma peça fundamental do título do ano passado e acabámos por não o substituir. Ao mesmo tempo, a equipa tem tido dificuldades exactamente nas funções que João Félix fazia, que era aparecer no espaço entre linhas, criação de espaços e finalização. Bastaram as lesões de Gabriel e André Almeida, e os resultados caíram a pique. Fomos eliminados da Liga Europa, por pouco não fomos eliminados na Taça de Portugal e ainda perdemos 8 pontos em 12 possíveis no Campeonato. Tudo no espaço de pouco mais de um mês.
É aqui que o modelo do Benfica falha. O Benfica falha nas transições de época para época. Os jogadores jovens regra geral nunca estão mais de duas épocas na equipa principal e se não houver ninguém pronto a dar o salto, ou não se contrata, ou então promove-se alguém à pressa.
1. Ederson. Ederson saiu no verão de 2018. Na altura na equipa B andava Ivan Zlobin, que não oferecia grandes garantias. Não havia nenhum guarda-redes que parecesse que poderia assumir um lugar na equipa principal num futuro próximo. Era obrigatório ir buscar alguém fora do Seixal. O clube tentou contratar André Moreira e para suplente foram recuperar Bruno Varela, que tinha feito uma boa época no Setúbal. Quando o Atlético pediu 10 milhões pelo André Moreira, o Benfica devolveu o jogador, que já andava a treinar no Seixal, contratou um miúdo belga muito promissor e acabou por entregar a baliza a Bruno Varela quando o plano inicialmente era ser suplente. O substituto de Ederson só chegou em 2019 quando Vlachodimos chegou ao clube.
2. Nélson Semedo. O Tomás Tavares é um jogador com potencial. Mas antes de se estrear na equipa principal num Benfica-Leipzig, tinha três jogos na equipa B. Porque é que foi lançado já? Porque desde que o Benfica vendeu Nelson Semedo, tivemos Pedro Pereira, Douglas, Mato Milos, Corchia e Tyronne Ebuehi. Nenhum correspondeu. Tomás Tavares seria uma aposta para 2021, na melhor da hipóteses para 2020. Este era o plano inicial do Benfica. Mas acabou por ser promovido logo em 2019 a meio do verão quando a estrutura percebeu que Ebuehi não servia. Nessa altura, Tomás Tavares estava no Europeu S19. Se o Tomás Tavares fosse o plano inciial do Benfica, nem sequer tinha ido ao Europeu S19. O Benfica podia ter pedido para o jogador não ir, como fez com o Tiago Dantas e com o Nuno Tavares que fizeram a pré-época com a equipa principal. Mas não pediu porque a aposta ia ser Tyronne Ebuehi. Em vez contratar alguém por empréstimo, o Benfica optou por promover logo Tomás Tavares à pressa. O resultado está à vista.
3. Victor Lindelof. Há pouco a dizer aqui. Foi uma das poucas transições bem feitas. O Rúben Dias quando foi promovido à equipa principal já tinha 58 jogos na equipa B. Algo particularmente inédito.
4. Renato Sanches. O Renato surge no Benfica depois de Rui Vitória ter testado cinco ou seis duplas de centrocampistas no onze inicial. Testou Samaris-Talisca, André Almeida-Talisca, Samaris-André Almeida, Fejsa-Pizzi, Pizzi-Samaris e Fejsa-Samaris. Eventualmente, depois de três derrotas com o Sporting, no Cazaquistão nasce a dupla Samaris-Renato Sanches. Oito meses depois, o Renato é vendido, num verão onde o Talisca e o Gaitan também saem. Na equipa B/juniores começava a aparecer Gedson e Florentino. Mas ainda não tinham experiência suficiente. O Benfica contrata André Horta, Filipe Augusto e Guillermo Celis, mas quem acaba por substituir Renato Sanches é o Pizzi que é adaptado a médio centro e faz a época praticamente toda com Samaris e Fejsa. No ano seguinte contratámos Krovinovic, depois de vendermos Celis e emprestarmos André Horta e Filipe Augusto. Quando o Krovinovic se lesiona, voltámos às adaptações com Zivkovic a fazer a posição. Só quando Gabriel chega ao clube, dois anos depois da venda de Renato Sanches, é que voltámos a ter um grande médio centro.
5. João Félix. O Félix assumiu um lugar no 4-4-2 do Benfica como segundo avançado, depois de Bruno Lage assumir o clube e acabar com o 4-3-3 de Rui Vitória. Na altura o Benfica não tinha outro segundo avançado. Logo, ainda antes de vender João Félix, o Benfica já estava a precisar de outro segundo avançado. Contratámos Chiquinho, mas não chegou mais ninguém. Muito provavelmente por causa de Gonçalo Ramos, um miúdo de 2001, que - imagino eu - o Benfica não quis tapar contratando alguém já, que deverá ser hipótese já no início da próxima época. O resultado está à vista de todos. Andámos a época toda a jogar com jogadores adaptados a segundo avançado quando o Chiquinho estava lesionado ou numa fase menos boa.
Este é o erro do Benfica. Vendemos jogadores mais rápido do que os conseguimos formar. E quando os vendemos, ficamos à espera até formarmos alguém. Somos muito lentos a substituir os jogadores que vendemos e a equipa sente-se. As soluções para isto são óbvias:
1. Não vender passado seis meses. O Benfica podia perfeitamente ter aguentado João Félix mais uma temporada e quando o vendesse já poderia promover Gonçalo Ramos. O mesmo é válido para Renato Sanches que também nem um ano fez na equipa principal.
2. Contratar por empréstimo. Se Tomás Tavares não estava preparado já para 2019, devíamos ter contratado alguém por empréstimo. Não precisava de ser muito bom. Mas pelo menos cumprir. Ao mesmo tempo, Tomás Tavares iria crescendo na equipa B e seria aposta em 2020 ou 2021.
3. Contratar em definitivo. Quando o Ederson foi vendido, o Benfica não tinha nenhum jovem guarda-redes a aparecer. Se não íamos ter ninguém porque demorámos um ano e abdicámos de um potencial penta para ir buscar o seu substituto? Parece sempre que temos x nomes para numa lista de contratações e se não conseguirmos nenhum desses, não contratamos ninguém. Ainda neste inverno andámos o mês de Janeiro todo atrás do Bruno Guimarães. Quando não contratámos o brasileiro, acabámos por não contratar ninguém.
4. Não ter jogadores banais a ocupar espaço. Filipe Augusto ocupou um lugar que poderia ter sido de Pêpê. Caio Lucas tirou minutos que podiam ter sido de Jota. Ferro foi tapado por Lema e Conti. Alfa Semedo tapou a ascensão de Florentino. Quando há jogadores banais a ocupar lugares de jogadores de formação, corremos o risco de perder jogadores muito talentosos ou de pelo menos atrasar a sua progressão.
No fundo é tudo um erro de planificação."

Gala Cosme Damião

"No âmbito das comemorações do 116.º aniversário do Sport Lisboa e Benfica, realiza-se hoje, a partir das 21 horas, no Campo Pequeno, em Lisboa, a já tradicional Gala em que se distingue e homenageia aqueles que mais se destacaram no serviço ao Clube durante o ano transacto.
Como nas edições anteriores, a Gala será uma excelente oportunidade para reunir parte da Família Benfiquista, nomeadamente os atletas, treinadores e staff de apoio das várias modalidades, os dirigentes e os profissionais dedicados que diariamente se empenham na construção de um Benfica cada vez melhor e maior.
Viver-se-ão certamente muitos momentos de exaltação do benfiquismo e serão distribuídos os Galardões Cosme Damião, entre os quais sete cuja responsabilidade de escolha dos galardoados pertenceu aos Sócios do Sport Lisboa e Benfica registados no sítio oficial, a saber: Futebolista; Treinador; Revelação futebol; Atleta de alta competição; Modalidades; Revelação modalidades; Formação. Ao todo, foram 37 os nomeados.
Será, sem dúvida alguma, uma noite recheada de emoção e benfiquismo, à semelhança da bonita e sempre emocionante cerimónia anual de entrega dos anéis de platina e emblemas de dedicação realizada no passado sábado.
Com a presença de milhares de benfiquistas no Pavilhão n.º 1, foram 3225 os sócios homenageados ao longo dessa manhã. 70 receberam o anel de platina (75 anos de filiação clubística), 155 o emblema de ouro (50 anos) e 3100 o emblema de prata (25 anos), em mais uma demonstração cabal de vitalidade associativa do maior clube português.
Temos um passado glorioso que tanto nos honra e orgulha e é com enorme optimismo que encaramos o futuro, ao constatarmos a pujança desportiva, associativa, financeira e patrimonial que caracteriza actualmente o nosso Clube.

P.S.: Parabéns à nossa equipa de Sub-19 pelo excelente triunfo obtido ante o Liverpool, por 4-1, e subsequente apuramento para os quartos de final da UEFA Youth League, constituindo-se como mais um sinal de confiança no futuro."

Futuro risonho...


Benfica 4 - 1 Liverpool


Excelente jogo, com uma equipa 'reforçada', mas que até tem poucas rotinas, já que estes jogadores estão 'distribuídos' por quatro equipas (A, B, sub-23 e Juniores)... com um Pedro Álvaro que regressou de uma lesão longa, com o Tiago Gouveia ainda fora de forma após lesão, e ainda sem o Umaro... e com o Tomás Tavares fora por 'opção'!

É verdade que o Liverpool jogou sem alguns dos seus jogadores mais promissores, mas a diferença foi brutal, o resultado justo teria sido um 8-1... até deu para desperdiçar um penalty!!!

Nos Quartos-de-final vamos defrontar o vencedor do Bayern - Dínamo Zagreb... ambas as equipas com tradição na formação! Estamos a um jogo da Final Four da Suíça!

Estamos na Final Four da Taça de Portugal

Barreirense 70 - 108 Benfica
20-24, 16-31, 16-30, 18-23

Chuva de Triplos, com uma vitória confortável, apesar de mais uma razia de lesões: Coleman, Hollis, Micah além do Tomás!

Há um F a mais em Ferro e agora que há jogos à porta fechada, (...) espera que a coisa escale até ser impedido de os ver pela TV

"Vlachodimos
Se eu estou farto dos erros defensivos, imaginem o guarda-redes com a maior percentagem de remates enquadrados defendidos nas principais ligas europeias.

Tomás Tavares
Assobiar Tomás Tavares é juntar o inútil ao desagradável. Todos sabemos que o miúdo ainda não está ao nível pretendido e ninguém sabe se ele vai lá chegar, mas tenho a certeza que apupar um rapaz de 18 anos atirado aos cães não é o melhor incentivo.

Rúben Dias
Repôs a verdade após as declarações de Bruno Lage, que anunciara Samaris e mais dez, algo factualmente incorrecto. Foi Rúben, Samaris e mais dois ou três.

Ferro
Agora que os jogos à porta fechada chegaram a Itália e Espanha, tenho esperança que a coisa escale de tal forma que sejamos impedidos sequer de ver os jogos pela televisão. Seja como for, há um F a mais no nome do nosso rapaz.

Grimaldo
Hoje vi uma sondagem no Twitter em que se perguntava quem é o melhor lateral esquerdo do mundo e o nome de Grimaldo aparecia entre Marcelo, Alphonso Davies e Jordi Alba. Não sei quem se intoxicou mais nas últimas 24 horas, eu ou o tipo responsável por este tweet. Samaris Grande remate ao ângulo na flash interview quando afirmou que este empate é uma derrota. Todos sabemos que as palavras não ganham jogos, mas, se bem empregues, conquistam o coração dos adeptos. Talvez o grego possa começar a escrever uma ou outra newsletter para o clube.

Weigl
Curiosamente fez alguns passes progressivos, coisa que pouco ou nada se tem visto nele, mas o saldo continua a ser curtinho para a nossa expectativa. Eu celebro baby steps quando vejo o meu filho caminhar ou quando vejo o Tomás Tavares tirar um cruzamento, não quando vejo um alemão de 24 anos fazer aquilo para que foi pago.

Pizzi
Muito bonito o voto de confiança para que falhasse o segundo penálti da noite. Pizzi acabaria por marcar de recarga, para gáudio dos milhares de adeptos que não celebravam um golo com este entusiasmo desde o 0-2 do Porto na primeira volta.

Taarabt
#SLBMFC | 0-1 | 75' Substituição: sai Taarabt, entra Jota.


Rafa
treina com bola.

Vinicius
Agora somos nós que cruzamos os braços e perguntamos: então, Vini? Marcas tu ou temos que chamar o suíço para safar isto?

Jota
O momento pedia frieza, determinação, critério, paixão, inspiração e pontaria. Jota trouxe chuteiras. 

Dyego Sousa
Teve nos pítons de Rosic um penalty entregue numa bandeja mas optou por não se atirar para o chão de forma dramática, assim hipotecando qualquer possibilidade de ser o herói da noite. Fábio Veríssimo ainda perguntou a Dyego se tinha a certeza do que estava a fazer e o avançado encolheu os ombros. Não lhe resta outra opção senão marcar em todos os jogos daqui em diante e esperar que isso chegue.

Cervi
Vês, Dyego? É assim que se faz.

Dedicado ao Xico da Ladra e aos muitos amigos que continuarão a celebrar a sua memória em todas as festas de amanhã."

O desporto é mais do que o desporto

"O homem desportivo não se pode reduzir ao “homo ludens”, caro a Johan Huizinga (1938), para quem o jogo era uma acção livre e elemento motivador de cultura, a Guy Jacquin (1954), acérrimo investigador dos aspectos educativos do jogo, e a Roger Caillois (1958), que lançou as bases de uma sociologia a partir dos jogos. Segundo estes autores, a categoria de “prática desportiva” seria aplicada a uma realidade universal e invariável, fundada em disposições psicológicas e partilhadas por todas as culturas, que levariam o homem a se dedicar aos jogos e aos desportos desde que as necessidades de sobrevivência estivessem satisfeitas. Norbert Elias e Eric Dunning (1986) mostraram, de forma convincente, que é falso pretender que todas as sociedades conheceram um conjunto de práticas que se poderiam qualificar de desporto e que não podemos ligar os desportos contemporâneos, que a Inglaterra do século XVIII e sobretudo do XIX viu emergir, dos ancestrais directos e nos quais mergulhavam nas suas raízes. Com a introdução do constrangimento da regra permite-se organizar competições ao nível nacional e internacional, respeitando a igualdade de condições do confronto. A necessidade de fixar e garantir a boa aplicação desta regulamentação conduz à criação de estruturas administrativas (as federações nacionais e as instâncias internacionais). A “desportização” é o processo pelo qual os jogos tradicionais foram submetidos a pressões visando-os a se transformarem em desporto. O desporto tornou-se, assim, o novo terreno de confronto, pacífico e regulado, dos Estados. É a forma mais visível de mostrar a bandeira, de existir aos olhos dos outros e de estar presente no mapa do mundo. Quando a globalização parece apagar as identidades nacionais, o desporto torna-se o meio identificável, na esperança de uma vitória ou de uma proeza, de uma amplificação variável segundo os estatutos, as experiências históricas e as expectativas relativas. O desporto é, actualmente, mais do que o desporto. É uma manifestação das emoções, do prazer, das vibrações, dos momentos de desespero, de fraternidade, de partilha, da geopolítica, etc. É também o palco de muitas manifestações de racismo e de xenofobia."

Políticas públicas, desporto e racismo: abordagens, paradoxos e riscos

"No limiar da terceira década do século XXI assistimos a um recrudescimento de manifestações de racismo, assim como de outras formas de discriminação promotoras de exclusão social na sociedade em geral. Exemplo disso foi o que sucedeu este fim de semana num jogo de futebol e o jogador Marega do F.C. Porto.
Este simples facto deve-nos alertar para o fenómeno, não o circunscrevendo a este episódio lamentável.
Estas formas de discriminação, sucedem num contexto social de globalização crescente, de pessoas, capitais e culturas, com desvanecimento das fronteiras (globais) tornando visíveis e evidentes determinados traços socioculturais que, por sua vez, promovem o ressurgimento de movimentos de reafirmação de identidades culturais, podendo conduzir a comportamento xenófobos e radicalismos que conduzem a discriminações. A responsável das Nações Unidas para os direitos humanos, Navi Pillay, manifestou-se preocupada com o aumento do extremismo e do racismo retórico na Europa, avisando que a contestação à origem dos imigrantes pode conduzir ao abuso de direitos. Estes movimentos misturam uma ideologia neoliberal utilitária, que avalia os estrangeiros em termos de «utilidade» para a «nossa sociedade», com a construção de uma narrativa que atribui a pouca sorte ou à falta de êxito dos que se encontram no escalão mais baixo da escala social à sua diferença cultural e à sua falta de vontade de se «integrarem» na sociedade «ocidental» devido ao compromisso com os ideais religiosos ou culturais.
Sendo o desporto, as organizações desportivas e as pessoas que o integram (dirigentes, árbitros, treinadores, atletas, público), um microcosmo particular do contexto social mais abrangente, é natural que também se verifiquem estes fenómenos, nada justificáveis à luz de um quadro axiológico característico de sociedades desenvolvidas e num contexto específico que é o desporto, que deve ser encarado como um instrumento para promover a inclusão pelos valores éticos que promove.
Não obstante, o desporto tem a virtualidade de ser capaz de identificar os anátemas de exclusão em determinados contextos (1), procurar corrigi-los (2); e de funcionar como agente catalisador de mudanças sociais, globais (3), pela promoção da inclusão, no estabelecimento da igualdade de oportunidades, e na prevenção e luta contra o racismo e a violência e qualquer outra forma de discriminação, através do papel das organizações desportivas na criação de redes sociais produtoras de capital social, tal como acontece noutro domínios sociais, como a família, a escola, a igreja, etc. Estas redes permitem a aquisição de sentimentos de pertença, geradores de empoderamento e participação, com potencialidade de o capital social ser transformado em capital cultural e/ou económico, reforçando as capacidades pessoais e de desenvolvimento, quando bem orientada por princípios éticos (espírito de equipa, o autocontrolo emocional, a aceitação de regras comummente partilhadas, o empenho e determinação na prossecução de objectivos, o respeito pelo outro, e a amizade).
Possibilitam, ainda, a existência real de igualdade de oportunidades no acesso e no exercício de atividades dirigentes e técnicas, constituindo boas práticas a participação de pessoas sem qualquer tipo discriminação por motivos étnicos, religiosos, deficiência, género, orientação sexual, classe social ou outros.
Todos estaremos de acordo que muito se percorreu desde que Jesse Owens afirmou: “É verdade que Hitler não me cumprimentou, mas também nunca fui convidado para almoçar na Casa Branca.” Não obstante, ainda persistem fenómenos de racismo/xenofobismo/discriminação desmedido em diferentes países e desportos, que se estendem pela generalidade dos interlocutores no desporto. 
Devem preocupar-nos os fundamentalismos bacocos que contrariam a tese central do rendimento desportivo, que é sempre o resultado e a consequência de algo, acima de tudo de uma estrutura multifatorial que engloba variáveis que o determinam: psicológicas; fisiológicas; genéticas (potencial); sociais; contextuais, etc.
A exclusão de atletas pela presença identificada de características específicas, de acordo com a estrutura do rendimento que a assiste, com vantagens competitivas evidentes, pode conduzir segregacionismos no desporto, à imagem da exclusão social existente e que se pretende combater.
A decisão recente do Tribunal Arbitral do Desporto (TAD) sobre a validade das regras de elegibilidade da Associação Internacional de Federações de Atletismo para atletas com diferenças de desenvolvimento sexual, contestada pela bicampeã olímpica Caster Semenya são um exemplo. Com base neste pressuposto, atletas com condições anatomofisiológicas excepcionais como Michael Phelps, ou Usain Bolt teriam de ser reclassificados pois seriam portadores de factores de segregação por anomalias genéticas excepcionais, por estes e/ou outros factores étnicos!
Com base nestas evidências empíricas, os grupos étnicos deveriam ser, também, uma categoria de reclassificação pois são evidentes as excepcionalidades atléticas de uns grupos relativamente a outros, assim como se verifica no género, enquanto identidade.
A vingar este argumento do TAD, é o ponto de partida para o estabelecimento de regras da prevalência irrestrita, na procura da salvaguarda da integridade das competições, onde prevalece o princípio de condições equitativas, que provocará a prazo a existência de tantas classes quantas as características prevalentes e condicionantes do resultado desportivo. O desporto não pode ser ele próprio indutor de regras que possam favorecer as discriminações, em face ao critério da naturalidade do resultado, e que contrariam a sua própria natureza que se baseia numa estrutura complexa. A não ser assim, poderemos estar a assistir à criação de classes desportivas que sejam identitárias de uma natureza específica e mutuamente exclusiva: competições rácicas; competições religiosas; competições de género; competições naturais; competições artificiais, etc.
Neste âmbito, não será somente a divisão “natural” de provas/competições por género (masculino e feminino) e por idades/maturação (respeitando os níveis de desenvolvimento biopsicossocial), mas passaremos para a divisão e classificação por todos os que apresentam toda e qualquer vantagem competitiva resultante de factores biológicos intrínsecos. O desporto, não obstante a preocupação com a integridade não pode e não deve privilegiar a mediania do natural ao invés da excecionalidade do antinatural (potencial atlético), que não é o mesmo que o artificial (doping) e enveredar por intervenções artificiais, essas sim antinaturais e externas de normalização eugenista, com a segregação de potenciais atléticos que conferem vantagens competitivas visíveis.
Isso seria aliás contraditório com a própria natureza da evolução/selecção filogenética que confere vantagens competitivas na sobrevivência das espécies aos mais bem-adaptados em determinados ambientes e contextos reais. É óbvio que uma nova etapa no quadro ético de valorização axiológica no desporto irá florescer. A “criação” natural, por manipulação genética de atletas cujos fenótipos sejam vencedores naturais mesmo que artificialmente escolhidos. Talvez o futuro, não muito distante será esse. A pureza e a integridade da competição passar pela valorização da participação geral sem classes nem categorias, independentemente da raça, sexo, atributo, idade, género e/ou quaisquer características que possam indiciar vantagens competitivas, estilo OPEN e a existência de categorias com classes cujos critérios estejam dependentes dos valores normativos necessários para permitir que a aleatoriedade esteja dependente não das características potenciais do atleta, mas da naturalidade do seu processo de desenvolvimento, isto é do treino.
Mas aqui outra questão ética se equaciona. A do estímulo e a do mérito. (In)dependentemente do potencial atlético, o estímulo do treino é determinante para o resultado desportivo. Mas será ético: 
1. Em termos de integridade do resultado que diferentes procedimentos de treino (leia-se estímulos de treino) de diferente origem compagináveis dentro da legalidade, possam ser usados de tal forma que o mérito esteja dependente das condições proporcionadas?
2. Que, para além dos já citados factores ambientais de estímulo de treino, os factores socioeconómicos sejam um forte agente segregador, comprovado pela participação de grupos étnicos em determinados desportos (natação e atletismo, por exemplo). À escala global os negros ainda estão, na sua maioria, em níveis de baixo rendimento e com uma certa dificuldade de acesso às aulas de natação/piscinas, tendendo a procurar desportos mais baratos, como o atletismo, para a sua prática. 
Não. Nesta óptica, a única condição que proporcionaria a integridade dos resultados desportivos seria a competição sem treino!
Estes são os paradoxos que convém evitar, pois o absurdismo leva a fundamentalismos que vão inquinar o desporto e o seu quadro axiológico de referência. Medidas são urgentes, entre as quais: 
Medidas educativas/informativas:
1. Com acções de sensibilização para a população em geral, com a promoção dos valores axiológicos associados à prática desportiva em todas as etapas do processo de formação, usando as referências como exemplo;
2. Com a obrigatoriedade de formação geral regular para renovação de cédula de treinador sobre temáticas associadas com o combate a fenómenos de exclusão social e discriminação no desporto; 
3. Com a obrigatoriedade de existência de formação dirigente regulada e tutelada, condicionadora da certificação legal das organizações desportivas, como condição necessária para a participação em competições oficiais;
4. Com formação específica para atletas/treinadores/árbitros/dirigentes sobre comportamento de racismo e outras formas de discriminação e a forma de lidar;
5. Com a divulgação de acções de exemplo com praticantes (referência nacionais e internacionais) junto de organizações antirracismo como a ECRI (european comission against racism and intolerance);
Medidas mais estruturais:
1. A existência de um contexto global positivo com projectos integradores e de inclusão social para os mais desfavorecidos, e grupos de risco de discriminação potenciadora de exclusão social (sexismo; o racismo, xenofobia, as intolerâncias religiosas; homofobismo e transexismo), aproveitando os mecanismos de financiamento europeus existentes;
2. A criação de projectos multidesportivos, com atletas de referência, em zonas de maior complexidade social, bairros multirraciais e/ou sociais para criar a necessária ligação entre o mundo real e o mundo imaginário que só possível ser visto pela TV;
3. A existência de normas reguladoras do processo de certificação de clubes para participação em competições desportivas, nas quais a existência de dirigentes certificados sejam condição necessária para este processo.
Medidas repressivas:
1. A existência de mecanismos fáceis e intuitivos de prevenção e denúncia de comportamentos inadequados, para todos os agentes desportivos, são determinantes para desencorajar a intolerância ou a discriminação e promover o que o desporto tem de bom: os seus valores!
2. A existência de mecanismos regulares de punir com consequências desportivas actos de racismo e/ou discriminação, perpetrados objectiva e inequivocamente por dirigentes e/ou adeptos de clubes. 
Duas notas finais.
1. Não podemos, nem devemos banalizar os problemas de racismo e discriminações tratando por igual o que é diferente, e vice-versa, correndo o risco de assistirmos passivamente a um processo de consequências não antecipadas, como sucedeu com o conceito de racial colour blindness, cujo contramovimento provou que a desconsideração da “raça” na selecção de pessoas para a participação em actividades ou para a alocação de serviços era prejudicial às minorias em causa. A existência de quotas pode prejudicar a própria afirmação dos pressupostos que queremos afirmar.
2. A criação de categorias de classificação desportiva em qualquer desporto, deveria estar subjacente a um critério de incapacidade que atesta uma dificuldade acrescida para a tarefa, não a critérios de potencialidade que excepcionalizam os atletas: foi assim com as mulheres relativamente aos homens; deficientes relativamente a não deficientes; idades e graus de maturação; etc."

Sísifo no monte Olimpo

"Quando alguém se convence que os deuses do Olimpo o investiram de poderes que, de modo próprio, ao estilo “magister dixit”, lhe permite cumprir o que julga ser um desígnio nacional é porque se está no domínio do absurdo. De facto, não há nada mais absurdo do que um gestor administrativo ou político que, na sua esquizofrenia e à custa do dinheiro dos contribuintes, ainda consegue levar atrás de si alguns dirigentes que, por um prato de lentilhas, não se importam de ser arrebanhados. 
Seria bom que, por esse mundo fora, os dirigentes que, para além da própria dignidade, ainda preservam alguma racionalidade social, atendessem às palavras de Camus quando nos diz que o absurdo exige revolta. E porquê? Porque estamos na presença da síndrome de Sísifo. Sísifo na mitologia grega era considerado o mais astuto de todos os mortais. Ele era verdadeiramente habilidoso na arte da malícia, da trapaça e do ódio aos outros pelo que, para os tempos futuros, ficou como aquele que, pelas suas malfeitorias, mais ofendeu os deuses. Em consequência, desencadeou a ira de Zeus. E o rei dos deuses, a fim de ajustar contas com Sísifo, ordenou a Tânatos o deus da morte para resolver a questão. Todavia, Sísifo na sua astúcia, conseguiu ludibriar Tânatos, aprisioná-lo e, assim, adiar por mais uma Olimpíada o seu destino.
Com Tânatos aprisionado e convencido do seu poder absoluto ao ponto de questionar os critérios das benfeitorias atribuídas por Zeus, Sísifo não perdeu tempo para engendrar novas e mais sofisticadas malícias. E resolveu confrontar Hades o deus da guerra. Mas como Hades, no que diz respeito à administração da morte, necessitava das competências de Tânatos, Sísifo saiu-se mal e acabou derrotado pela inexorável lei da vida que é a morte. E os deuses condenaram-no à terra dos mortos onde passou a empurrar uma enorme pedra até ao pique do monte Olimpo a fim de a largar montanha abaixo para, de seguida, iniciar tudo de novo.
Há dirigentes desportivos que já nasceram póstumos. Eles vivem na terra dos mortos sob o absurdo da síndrome de Sísifo, embalados por um esquizofrénico desígnio nacional que lhes é imposto. E repetem, ano após ano, os mesmos processos convencidos de que os resultados vão ser diferentes daqueles que sempre foram. E, na consumação do absurdo estão a destruir o desporto quando, cada quatro anos, de Ciclo Olímpico em Ciclo Olímpico, rolam penosamente a pedra monte Olimpo acima para, depois, ingloriamente, deixarem a dita rolar monte abaixo sem quaisquer consequências para além de a terem de a fazer rolar novamente monte acima.
Infelizmente, o desporto, no absurdo das políticas públicas, está transformado na mais alienante das paixões do mundo pós-moderno. Mas não é o desporto que é absurdo nem o próprio comportamento humano. O absurdo está naqueles que sendo detentores do poder e responsáveis pelas políticas públicas, ao privilegiarem o mundo do insano em detrimento de uma razoabilidade ético-deontológica, afastam o desporto do processo de desenvolvimento humano e do progresso das sociedades. Vítor Serpa expressou bem o absurdo das políticas públicas por esse mundo fora quando numa comunicação pública afirmou: “é a educação, estúpido”. (A Bola, 2015-11-06) O problema é que os estúpidos que controlam o desporto não foram capazes ou não o quiseram ouvir.
Esta situação, que hoje é vivida pelos mais diversos governos e organizações desportivas, trata-se de uma dissonância ética em que o discurso político, tanto das entidades públicas quanto privadas, consubstanciado em vários documentos (estatutos, projectos, programas, relatórios etc.) nada tem a ver com a realidade das políticas de todos os dias. Quer dizer, trata-se de uma disfunção ética profunda entre o discurso e a acção.
E, assim, na ausência de consequências verdadeiramente direccionadas para a base dos sistemas desportivos, o desporto moderno está a transformar-se num espaço de consumo do espectáculo do mais primário agonismo e a, compulsivamente, converter a sociedade num antro de leviano hedonismo. Um hedonismo sustentado na maior indolência moral como temos tido a oportunidade de verificar através do comportamento das hordas ululantes que frequentam e vegetam, real e virtualmente, à volta dos espectáculos desportivos. E, hoje, em muitas circunstâncias, os espectáculos desportivos, em primeiro lugar, estão transformados em locais de exploração económica da pessoa humana uma vez que são eles que sustentam as apostas desportivas que funcionam como impostos sobre os pobres e, em segundo lugar, como instrumentos promotores de um confrangedor vazio ideológico das pessoas, instituições e sociedades.
O que acontece é que, em matéria de desporto, tem vindo a ser instituída a morte do pensamento a fim de manter o desporto completamente arrebanhado ao serviço das oligarquias reinantes. Não existe nada de mais eficaz para ultrapassar um qualquer grave problema nacional do que um belo caso desportivo e se for da bola tanto melhor.
Em consequência, os dirigentes desportivos da generalidade das federações desportivas, tal como Sísifo, estão condenados à terra dos mortos onde, de Ciclo Olímpico em Ciclo Olímpico, no mais confrangedor silêncio crítico, vivem no absurdo de serem obrigados a transportar a enorme pedra monte Olimpo acima para, depois, a deixarem rolar monte abaixo.
Felizmente, como refere Camus, o absurdo pode ser ultrapassado com a revolta. Ora, é essa revolta epistemológica que todos aqueles que ainda acreditam na construção de um desporto melhor esperam dos dirigentes das federações desportivas que ainda acreditam ser possível construir um desporto melhor."