quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

Travar o vento com as mãos?

"Um hotel em Innsbruck, Áustria, em quarentena, outro em Tenerife, Espanha, também, um palácio flutuante em Yokohama a servir de incubadora de vírus, o Extremo Oriente em estado de emergência e a Europa, com a Itália como epicentro, cada vez mais em estado de sítio.
A incapacidade manifesta para travar a progressão do coronavírus - poucas são as notícias que referem expectativa de vacina ou qualquer droga milagrosa que atalhe a maleita - deve preparar-nos para alguns meses de convulsão social, alterações de hábitos e crise na economia.
As manifestações de massas estão a ser proibidas ou limitadas, um pouco por todo o lado, e o desporto, que arregimenta regularmente multidões como nenhum outro fenómeno, vai ter de adaptar-se para ultrapassar esta fase crítica.
Na China, pura e simplesmente, todos os eventos foram cancelados, em Itália há adiamentos de jogos das mais diversas modalidades e jogos à porta fechada (Juventus - Inter, que pode decidir o scudetto), o ministro da Saúde irlandês pediu o cancelamento do Irlanda - Itália, do Torneio das Seis Nações e, finalmente, o Comité Olímpico Internacional já veio levantar a hipótese de não haver Jogos em Tóquio, pelo menos nas datas previstas. E falta perceber os riscos que corre o Euro-2020...
Por cá, onde, felizmente, os casos suspeitos ainda não passaram disso mesmo, o microcosmos do desporto deverá ter em carteira planos B e C para uma eventual italianização da nossa situação. Porque, apesar de todas as medidas e cuidados, a verdade é que em plena era de globalização ninguém consegue travar o vento com as mãos."

José Manuel Delgado, in A Bola

Fundamental não sofrer

"Entradas de Weigl e Samaris equilibraram o meio-campo e estabilizaram a águia

Mudanças no Benfica
1. Novidades no onze do Benfica a começar. Weigl de regresso, titularidade de Samaris, Rafa na esquerda, talvez mais fresco do que Cervi. Com estas mudanças, o Benfica mostrou respeito pelo Gil Vicente, uma equipa difícil, cheia de bons jogadores. O Benfica preencheu o meio-campo com outros jogadores, e libertou mais Taarabt, um jogador que procura sempre desequilíbrios e muito agressivo.

Lage ganhou com Samaris
2. O Benfica ganhou mais força com Samaris. Com Weigl e o grego a suportarem a defesa, Pizzi, Rafa, Taarabt e Carlos Vinícius tiveram mais liberdade atacante. O ritmo de jogo não foi elevado, mas o golo do Benfica foi justo. A equipa ficou mais equilibrada, não necessariamente mais defensiva, mas não permitiu tantos espaços a meio-campo como em partidas anteriores. Weigl e Samaris foram importantes. Pela forma seguram a defesa, mas também pelo apoio que conseguem dar ao ataque.

Hugo Vieira trouxe rapidez
3. Comportamento diferente do Benfica na segunda parte, com uma entrada mais intensa, a querer terminar logo com o jogo. Mas o Gil Vicente teve muita disponibilidade física, criou oportunidades, mas Vlachodimos voltou a estar a nível fantástico, muito concentrado. A entrada de Hugo Vieira trouxe maior rapidez ao jogo do Gil Vicente. É um jogador bastante criativo, soube colocar-se no apoio a Sandro Lima. Aqui o Gil Vicente criou oportunidades, mas Vlachodimos foi decisivo. Se o Gil Vicente tivesse empatado, o Benfica ia ter muitas dificuldades para voltar à vantagem. Mas o Benfica soube preencher bem os espaços, e soube controlar todas as investidas do Gil Vicente. O lado emocional também foi importante, e o apoio dos adeptos com Barcelos ajudou os jogadores. Homem do jogo? Carlos Vinícius pelo golo apontado, foi fundamental pelo trabalho que deu ao Gil Vicente.

Fórmula para o futuro
4. Depois de seis jogos a sofrer golos sucessivos, acho que o principal objectivo do Benfica era o de não sofrer golos. Por isso creio que Bruno Lage colocou Weigl e Samaris para dar mais estabilidade à equipa. Talvez esteja aqui uma fórmula para o futuro. Era fundamental que o Benfica não sofresse golos. Depois, tem jogadores que fazem a diferença a atacar. É preciso defender bem e atacar melhor. O Benfica dava muitos espaços na perda da bola, e faltava mais apoio a meio-campo."

Álvaro Magalhães, in A Bola

Importante vencer, o resto virá depois

"A boa notícia para o Benfica é que, enfim, ganhou um jogo que era, realmente, muito importante ganhar. É verdade que esteve longe de o ganhar com autoridade e com a consistência própria de um campeão, mas ganhar, e que diga o FC Porto que também ganhou o seu jogo a poucos minutos do fim, num pontapé divino.
Tudo está bem quando acaba bem? Não creio. Mais do que a convicção mostrada pelo Gil Vicente de que seria possível não perder o jogo, a atitude receosa, trémula, mentalmente frágil de um Benfica que teve momentos de equipa pequena, sem dimensão e sem estatuto de campeão.
Deve-se, porém, perceber o contexto. Vindo de onde vinha, o Benfica precisava, acima de tudo, de inverter a tendência desastrada de derrotas sucessivas e ganhar um jogo que nunca seria fácil perante um adversário com bons jogadores e, sobretudo, com um treinador que sabe mais de futebol a dormir do que a esmagadora maioria dos técnicos acordados.
A exibição, portanto, é menos significativa. Tal como se deve compreender a atitude assustada e ansiosa da equipa. Seria difícil, no actual contexto, exigir uma exibição de domínio absoluto, sem dar margem ao risco. A partir daqui, deste regresso à liderança, deverá ser outro o nível de exigência à equipa de Bruno Lage que, aliás, teve a humildade de reconhecer a necessidade urgente de ganhar consistência defensiva e equilíbrio global, com a entrada de Samaris.
Volta, assim, o Benfica à liderança do campeonato, o que também trava o sentido único de ascensão de um FC Porto que, percebe agora, não terá tarefa fácil na luta pelo título."

Vítor Serpa, in A Bola

Benfica eSports

"A contratação de Zezinho, considerado um dos melhores jogadores do jogo de consola FIFA a nível mundial (no domingo passado venceu a prova de FIFA 2020 FUT Champions IV, em Paris, praticamente garantiu o apuramento para o Campeonato do Mundo e ascendeu ao terceiro lugar do ranking), assinalou a entrada do Benfica no esports, a indústria do desporto electrónico em forte expansão e à qual já se associaram inúmeros clubes e a própria FIFA, além dos milhões de entusiastas que a cada ano se vão multiplicando.
Ainda desconhecido por muitos, o esports encontra nas gerações mais jovens o seu terreno natural e assinalavelmente fértil para o crescimento. Os números são impressionantes e o Sport Lisboa e Benfica, cujo eixos de desenvolvimento incluem a inovação e o fortalecimento da marca, não poderia deixar passar a oportunidade de acompanhar este fenómeno.
Estima-se que, desde 2016, o crescimento médio anual das audiências no esports (adeptos ocasionais e entusiastas que assistem regularmente a jogos em plataformas de streaming) rondou os 15%, prevendo-se que, em 2021, o número total supere os 500 milhões (situou-se acima dos 300 milhões em 2017 de acordo com vários estudos).
O número de transmissores (streamers) tem vindo a aumentar significativamente, sendo que as plataformas Twitch e YouTube são líderes neste domínio, com 1,13 milhões e 0,43 milhões por trimestre, respectivamente. Relativamente ao primeiro, a média de canais a transmitir em directo simultaneamente é um pouco mais de 50 mil, o que demonstra inequivocamente o interesse gerado por esta indústria.
Globalmente, as receitas geradas pelo esports chegaram aos 906 milhões de dólares, das quais cerca de 75% provêm do investimento de marcas (40% patrocínios; 19% publicidade; 18% direitos de transmissão; 13% produção de jogos; 10% de merchandising e bilhetes).
Estes dados são reveladores e, para o Benfica, a aposta no esports está relacionada com a potenciação do envolvimento dos jovens adeptos numa actividade que tem gerado enorme paixão e interesse. Ainda numa fase experimental, a aposta será fortalecida com a contratação de mais jogadores. A indústria pode ser um veículo de afirmação do Benfica em vários mercados, atrai patrocinadores, gera prémios interessantes e possibilita a forte associação a outras marcas, estimulando, assim, o potencial de incremento das receitas.
Este é apenas mais um exemplo de que é no presente que se prepara o futuro do Benfica, dotando o Clube de cada vez mais trunfos, eliminando barreiras e atraindo cada vez mais jovens para as modalidades tradicionais, demonstrando que é possível conciliar gostos e diferentes práticas de entretenimento e desporto.
#PeloBenfica

P.S.: Muito importante a mobilização dos benfiquistas para o desafio com o Shakhtar Donetsk no Estádio da Luz, amanhã, quinta-feira, às 20 horas. Perante um difícil adversário, o forte apoio à nossa equipa poderá fazer a diferença!"

Deixar para mais tarde: paciência, ou resignação?

"Há quem diga que Bruno Lage não tem olho para as substituições, ou que quando as resolve fazer, já o jogo está demasiado perto do final para que tenham real impacto. Será verdade o que por aí se apregoa?

Quantas vezes teve o leitor vontade de gritar ao treinador do Benfica, "Ó Lage, faz qualquer coisa! Mete alguém, refresca a equipa!!"? E no entanto lá continua ele, mãos na boca, à espera que alguém se lesione para fazer uma substituição...
Em Julho do ano passado, em plena pré-temporada, Bruno Lage afirmou querer um plantel curto e competitivo, para "dar oportunidades a todos para lutar por um lugar na equipa", e para que "quando não forem a primeira opção, tenham vontade e estímulo para evoluir e conquistar o lugar".
Em Janeiro, o treinador reiterou esta sua vontade de querer "uma equipa competitiva", em que não houvesse "mais do que dois jogadores por posição".
Neste contexto, as opiniões dividem-se. Se o treinador quer um plantel reduzido para que haja luta por lugares no onze titular, então é porque os escolhidos serão aqueles que lhe dão melhores indicadores durante os treinos semanais. Por outro lado, se quer tentar encontrar uma equipa base, e ir trocando as "peças" em jogos específicos, não faz muito sentido ter um plantel curto. As palavras do treinador do Benfica dariam a entender que era admirador da primeira vertente. Os números dizem outra coisa.
Na época que agora decorre, apenas 9 jogadores jogaram mais de metade dos minutos totais que poderiam ter efectuado em 39 jogos oficiais. É igualmente revelador que 14 jogadores tenham jogado mais minutos que a média de minutos jogados pelo plantel. Ou seja, o plantel do Benfica tem 24 jogadores (27, se contarmos com Morato, David Tavares e Tiago Dantas, que já jogaram esta época), mas apenas 14 têm mais de metade da média de minutos jogados pelo plantel. Quer isto dizer que Bruno Lage aposta sobretudo nestes (11 + 3) jogadores, isto é, numa equipa base, o que contradiz aquilo que veio dizendo nas janelas de transferências. Mas há mais.
Por três ocasiões, Bruno Lage não gastou as substituições que tinha para fazer, e por quatro vezes fez a 1.ª substituição nos 10 minutos finais da partida. E esta preferência pela permanência dos jogadores que entram em campo é mais notória na próxima estatística: 40% (!) de todas as substituições do Benfica nesta temporada ocorreram depois dos 80 minutos de jogo, e perto de 60% das substituições foram efectuadas nos últimos 15 minutos. Bruno Lage fez igualmente 14 substituições para lá do tempo regulamentar, ou seja, depois dos 90 minutos.
O treinador do Benfica tem aqui um problema, que se torna evidente a todos os que vêem os jogos: há jogadores a acusar desgaste físico nesta fase da temporada, que se adivinha fundamental para as nossas aspirações. Aliás, o Benfica é o único clube que tem mais de um jogador nos 10 mais utilizados na Primeira Liga: Rúben Dias, Vlachodimos e Grimaldo!
Estas substituições tardias (quando as faz) bem como a insistência nos mesmo jogadores, levam-nos a pensar uma de duas coisas: ou o treinador é um homem paciente, ou está resignado ao plantel que lhe foi dado. Mais do que tirar ilações do que ele diz, podemos inferir das suas acções que Bruno Lage vê uma discrepância de valor nos jogadores que apresenta em campo, e nos que tem no banco. Não fosse assim, haveria mais rotatividade, e mais minutos distribuídos por mais jogadores. E não me admiraria que os jogadores se apercebessem do mesmo. Que é irrelevante treinarem mais afincadamente durante a semana, ou apresentarem melhores índices durante os jogos, que o treinador irá irremediavelmente escolher (quase sempre) os mesmos, e fazer as mesmas substituições…
Estamos quase em Março, e o Benfica continua em 3 frentes de batalha. Refrescar a equipa para resguardar jogadores na fase decisiva do campeonato, é algo que não se adequa ao modus operandi do Bruno Lage. É por isso que o Benfica devia seriamente reconsiderar mudar a hashtag desta época para #JogarAtéEstoirar."

Empresários xico-espertos? Que surpresa...!!!

"O grupo Global Media Group (do qual também faz parte o “jornal” “O Jogo”) não para de surpreender. Hoje, o Jornal de Notícias, que continua a manchar o nome dos seus fundadores ao estar ao serviço de outros interesse, tem como manchete “Empresário de jogadores do Benfica apanhado em fraude com transferências”.
Título nada inocente e claramente a tentar passar a imagem de que o SL Benfica está, de alguma fora, relacionado com fraude em transferências. É a deturpação, omissão e mentira característica desse grupo “jornalístico”.
Para ficar devidamente esclarecido, a empresa em questão é a LianSports que representa nada mais, nada menos, do que 75 (!) jogadores e 3 (!) treinadores. Dos 75 jogadores, apenas Seferovic faz parte do plantel actual do Sport Lisboa e Benfica.
A motivação desta manchete é tão óbvia que nem é preciso darmo-nos ao trabalho de a desmascarar."

Cadomblé do Vata (sem pica!!!)

""Bruno Esteves deve ter ido mudar a água às azeitonas". É este o exemplo de um discurso oficial de um dos principais clubes de uma indústria futebolística onde aparentemente se falham penalties de propósito, equipas são satélites de outras, os jogadores têm que aturar insultos porque isto não é para coninhas e árbitros são corrompidos a torto e a direito. Se o futebol fosse uma guerra a nível mundial, o futebol português era a maior vítima de "fogo amigo" da história militar. Com tanta gente a abrir buracos no casco pelo lado de dentro, esta Caravela afundava-se no Restelo, ainda antes dos velhos nativos terem tempo de a amaldiçoar.
Os Serrões, Venturas, Barrosos, Pinas, Guerras, Marques, Conceições, Guedes, Pintos da Costa, Vieiras, Brunos de Carvalho, etc. estão de parabéns. Plantaram a semente da imbecilidade no fértil terreno da bola, ela germinou alegre e prodigiosamente e deu frutos. Os imbecis controlam o futebol e fizeram da estupidez o bem mais essencial do léxico futebolístico. É de facto difícil de entender direitos televisivos tão baratos, patrocínios arrancados a ferro e fuga constante de "activos" para clubes estrangeiros, num negócio que tão bem se promove interna e externamente. Numa floresta de clubes endividados até ao tutano, nem vos consigo explicar o volume das minhas gargalhadas de cada vez que aparece um ingénuo a dizer que "as finanças dos clubes resolvem-se com investimento estrangeiro", partindo do principio que há otários endinheirados por esse planeta fora, dispostos a enterrar dinheiro "nisto".
O grande problema que estes imbecis criaram é que por maior abstracção que exista, é impossível não os ouvir ou ler. Por muito que nos tentemos apenas concentrar na modalidade mais espectacular do Mundo, a omnipresença das estúpidas individualidades paira sobre os adeptos e não só dá violentas machadadas na "tesão da bola", como também lhes corrompe o pensamento. Efectivamente, a "pica" vai desaparecendo, restando apenas desejar que ainda haja algum resquício reactivável quando esta gentinha desaparecer."

Liga Europa: ambição, sonho ou ilusão?

"No intervalo da eliminatória da Liga Europa, abordamos a postura do SL Benfica na competição e tentamos calcular qual será o ponto de rutura dos encarnados na mesma. A possibilidade de cair já nos 16 avos-de-final é bem real, mas nada está já perdido. A um dia da primeira decisão europeia para as águias em 2020 a pergunta que se impõe – ou que impomos – é a presente no título: para este Benfica, a Liga Europa é uma ambição, um sonho ou uma ilusão? 
Naturalmente, de momento o que podemos fazer é conjecturar, antever, prever, calcular e pouco mais. O que as águias pretendem fazer na segunda competição europeia de clubes ainda não é totalmente claro – o único suporte de análise é o jogo na Ucrânia. No entanto, já nessa partida foram deixados alguns apontamentos que poderão indiciar falta de comprometimento (pelo menos total) para com a competição.
A titularidade de Chiquinho e Seferovic, relegando Rafa e Vinícius para o gelado banco de suplentes, pode ser um indicador de que a Liga Europa será disputada com cuidado e em gestão, indo as águias com pouca sede ao pote. Claro que poderá ter sido uma situação pontual e estratégica – mas se o foi, saiu bem ao lado.
A contratação de Weigl levou-me a crer que o clube da Luz se preparava para assumir a Liga Europa como uma ambição para esta época. No entanto, essa crença cedo se desmoronou quando o mercado de inverno cerrou sem que um central fosse contratado para o principal plantel encarnado.
Encarar a segunda metade da época apenas com Rúben Dias (em sobrecarga de jogos), Ferro (em clara baixa de forma e com patentes dificuldades no seu jogo) e Jardel (mais fora do que dentro) foi, para mim, o assumir de que a Liga Europa não era, afinal, uma ambição, nem sequer um sonho, mas sim uma ilusão.
De momento, parece-me que o objectivo único do SL Benfica na competição é manter o equilíbrio – difícil – entre fazer os adeptos acreditar que se está nela para ganhar e fazer os possíveis para que ela não seja um empecilho na conturbada estrada para o “38”. Na primeira mão, já se notou essa tentativa, mantendo peças importantes no onze, mas fazendo descansar Rafa, Vinícius e até Samaris (que, acredito, seria titular já nesse jogo se fosse uma partida do campeonato).
E notou-se na própria abordagem ao jogo na Ucrânia. Se a ambição fosse grande, não haveria porque entregar a iniciativa de jogo à equipa de Luís Castro. Se, de facto, o SL Benfica tivesse viajado até à Ucrânia para vencer, teria procurado ter bola e imprimir um ritmo de jogo que não pudesse ser acompanhado por uma equipa vinda de dois meses de paragem.
Não o fez. Na primeira mão, vimos um SL Benfica de serviços mínimos. Veremos o que sucede na Luz, na quinta-feira, mas o primeiro embate não dá tranquilidade aos adeptos. Não pela falta de qualidade (que foi gritante), mas pela falta de vontade, de crença espelhada em campo. Está nas mãos do grupo de trabalho provar o contrário, provar que querem conquistar a Liga Europa. Caso o façam, cá estarei para me retratar, reponderar, reanalisar e, claro, celebrar."

Pedrinho: Um jogador de levantar a bancada

"Recentemente, o SL Benfica parece ter garantido a contratação de Pedrinho, extremo pertencente aos quadros do SC Corinthians. O jovem brasileiro, que chegará à Luz apenas no Verão, terá custado às águias 20 milhões de euros mais a cedência do passe de Yony González (o SL Benfica deverá receber cerca de três milhões pelo seu passe) ao clube paulista. O negócio deverá ser tornado oficial depois do Carnaval.
Pedrinho é um virtuoso criativo brasileiro de apenas 21 anos. O ainda jogador do SC Corinthians joga sobretudo na faixa direita, mas pode perfeitamente ocupar a ala esquerda (até porque o pé esquerdo é o seu pé mais forte) ou até mesmo zonas centrais perto do ponta de lança.
A maior arma do internacional sub23 brasileiro é a sua grande capacidade de desequilíbrio individual e a facilidade que tem no momento do um-para-um.
Virtuosidade é a palavra que melhor descreve o jogador. O toque de bola e a qualidade técnica abundam, sobretudo no seu pé esquerdo. O esférico parece nunca se afastar mais do que uns meros centímetros dos seus pés, tal é a qualidade de recepção e progressão com bola.
O seu baixo centro de gravidade (1.72m) permite-lhe atingir grande velocidade com e sem bola. Sendo um extremo que joga habitualmente “de pé trocado”, como se diz na gíria, procura sobretudo o espaço interior, onde é capaz de visar a baliza ou servir os seus colegas.
Pedrinho não é um extremo com muito golo, mas ainda assim tem uma boa capacidade de finalização e sobretudo de remate de longe.
O jovem brasileiro não é dado a grandes movimentos de desmarcação, preferindo sempre receber a bola no pé. No entanto, acho que este género de preferências ou dinâmicas dependeram sempre do contexto no qual o jogador está inserido.
Ao serviço da selecção olímpica do Brasil, no torneio sul americano de qualificação para os Jogos Olímpicos, Pedrinho teve um excelente desempenho. Para além de demonstrar todas as suas já conhecidas qualidades, deixou ainda muito boas indicações sobre a sua qualidade no momento do passe e a boa adaptação a zonas mais centrais do terreno.
A contribuição defensiva e a compreensão mais táctica do jogo, algo comum no jogador brasileiro, são características que não estão muito presentes no jogador. Contudo, a adquirição de experiência e mais uma vez o contexto serão fundamentais para que Pedrinho tenha uma boa adaptação ao futebol europeu.
Pedrinho é uma adição perfeita ao plantel encarnado. Dentro das opções de Bruno Lage, não existe um único jogador com grande capacidade de desequilíbrio individual, sobretudo nas alas. Por vezes, em jogos em que o encaixe táctico é evidente, a forma como jogadores como Pedrinho fogem à rigidez táctica pode ser o necessário para desbloquear a partida.
Creio que era esta a intenção quando Caio Lucas chegou à Luz, mas o extremo acabou por não ser bem-sucedido e regressou novamente ao Médio Oriente.
Pedrinho é típico jogador brasileiro com traços do futebol de rua. É o jogador que é capaz e fazer levantar as bancadas com a sua capacidade técnica. Obviamente padece dos problemas tipicamente associados ao menos organizado futebol brasileiro (comparativamente ao futebol europeu), mas Pedrinho tem quase tudo o que é necessário para ser bem-sucedido ao mais alto nível no futebol europeu (desde que a sua capacidade de trabalho acompanhe o seu enorme talento).
Uma grande contratação por parte dos responsáveis encarnados e que certamente irá trazer muita qualidade ao nosso campeonato."

RDT| Problema de adaptação ou de mentalidade?

"Raúl de Tomás. É o nome do homem que nos últimos seis meses conseguiu a proeza de elevar expectativas, desiludir e posteriormente, surpreender a generalidade dos adeptos do futebol. O hispano-dominicano formado no Real Madrid prometia golos e vinha com estatuto de promessa à espera do salto na carreira, mas no SL Benfica não passou de “fogo de vista”. Foi preciso um regresso ao país que o viu nascer para voltar a ser feliz.
Em apenas cinco jogos ao serviço do RCD Espanyol, leva já cinco golos. Na primeira metade da temporada marcou por três vezes em dezassete jogos (!), diga-se. Este paradoxo leva-nos a questionar: o que correu mal na estadia de Raúl em Portugal? A posição em que jogava no sistema de Bruno Lage? Terá sido um problema de adaptação, de confiança ou de mentalidade?
É complicado abordar este tema, sem mencionar outros nomes que fizeram da sua passagem pelo futebol português, um “trampolim” para outras paragens, com sucesso. No caso de RDT foi praticamente o oposto. Ainda que, financeiramente não tenha dado prejuízo ao clube da Luz, a nível desportivo não teve o desempenho esperado. Rodrigo Moreno e Ezequiel Garay (ambos do Valência CF), Javi García (Real Bétis), curiosamente, todos fruto da formação merengue, precisaram de dar um passo atrás, para dar dois à frente.
E agora, com este desempenho recente, leva o adepto comum a questionar: “então, não serve em Portugal, mas já serve para a La Liga, teoricamente mais competitiva e de maior qualidade?”. Ou “não é jogador para um clube que lute por títulos e é apenas um bom jogador para equipas de segundo plano?”. A meu ver, tudo isto se deveu a um conjunto de fatores. Começando pelo sistema tático, passando pela mentalidade, e por fim, um avançado vive de golos, logo a confiança não abunda, e nem todos lidam da mesma forma com a situação.
Primeiro, Raúl de Tomás sempre foi um número nove – capaz de preencher uma frente de ataque sozinho e com grande amplitude. Como se sabe, a maioria das vezes que jogou no Benfica, actuou como segundo avançado. Além disso, desde que chegou a terras lusas e principalmente dentro das quatro linhas, parecia um jogador algo desconectado da equipa. Não sei se devido à infelicidade que foi tendo, ou a algum problema dentro do plantel, mas a verdade, é que sempre pareceu com o “corpo num sítio e a cabeça noutro”.
Até que no mercado de inverno, os periquitos, aflitos, no último lugar da tabela classificativa decidiram avançar com 20,50M por 80% do passe do atleta, mais 1,5M por objectivos atingíveis. Em Barcelona encontrou também um treinador novo no clube (Abelardo), com a principal tarefa de retirar o clube de “zona perigosa” do campeonato. Num sistema de 4-2-3-1 ou 4-4-2, Raúl joga normalmente como ponta de lança móvel, em cunha com o argentino Jonathan Calleri.
Há que referir ainda que o Espanyol, apesar da época pouco conseguida a nível interno, mantém-se na Liga Europa, onde foi goleado pela “armada portuguesa” dos wolves, por quatro bolas a zero. Neste momento, RDT encontra-se lesionado, porém, a média de um golo por partida, antevê-lhe um regresso em pólvora à competição."

Narrativas de migração: desporto e entretenimento

"Em 2018, a França venceu o campeonato do mundo de futebol masculino. Foi uma das equipas europeias mais etnicamente mistas. Kylian Mbappe, uma das estrelas da selecção francesa, nasceu nos arredores de Paris, filho de pais dos Camarões e da Argélia. Mbappe, em resposta à vitória, afirmou: “É a vida que queríamos, temos orgulho de fazer felizes os franceses”. O seu companheiro de equipa, Paul Pogba, um muçulmano de ascendência guineense, comentou: “É um sonho desde miúdo, espero ter deixado vocês orgulhosos”.
Com milhares de seguidores no Instagram, estes dois jogadores relataram as suas histórias, as jornadas que levaram ao sucesso da equipa e os seus sentimentos de pertença nacional. A música inovadora e emocionante de Stromae, um belga de ascendência congolesa e belga, também ganhou fama mundial.
A popstar tem milhares de seguidores no Instagram. Ele narra os aspectos da sua história familiar de migração, da sua identidade belga e (complexo) sentimento de pertença através da sua música e da autorrepresentação. Estes desportistas e ícone pop têm um enorme impacto junto do público. Eles oferecem uma narrativa colectiva de migração muito diferente das poderosas representações dos meios de comunicação social sobre os refugiados empobrecidos que chegam a uma Europa generosa ou sobre os muçulmanos fanaticamente religiosos com relações conservadoras de género que surgem desde 2000.
É necessário existirem projectos que identifiquem as ideias, os símbolos e as imagens que são repetidas(os) nas histórias das figuras como Mbappe, Pogba e Stromae. É preciso estudar o potencial destas narrativas (e de outras) para compreender as múltiplas e complexas perspectivas nas narrativas de migração, concentrando-se nos desportos e no entretenimento."