sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

Os nomeados

"Na semana em que foram conhecidos os nomeados para os Galardões Cosme Damião, o meu primeiro destaque vai para o Atletismo e para mais um título. No passado sábado, na Figueira da Foz, Samuel Barata, Duarte Gomes, Alexandre Figueiredo e Samuel Freire representaram o Sport Lisboa e Benfica no campeonato nacional de corta-mato curto e fizeram-no de forma brilhante. Este quarteto, que tanto tem dado ao Clube, conquistou o primeiro lugar e mais um título para o nosso museu. Estáa ser uma época em grande para o Atletismo, e espero que continue no próximo fim de semana, nos campeonatos nacionais de pista coberta, em Braga. Uma referência muito especial para a prestação das nossas seis equipas das Casas do Benfica nesta competição em que participaram 134 clubes. 
Abrantes, Algueirão, Figueira da Foz, Portalegre, Reguengos de Monsaraz e Torres Vedras merecem a nossa admiração. Tal como merece um louvor a Casa de Algueirão pela vitória dos veteranos. Ana Oliveira não se cansa de ganhar, e a certeza que temos é de que no próximo fim de semana iremos para ganhar. É este espírito que está patente nos 37 nomeados em sete categorias dos Galardões Cosme Damião. No próximo dia 4 de Março, na Gala do 116.º aniversário do Clube, conheceremos s vencedores dos nossos óscares. Todos os nomeados são merecedores de admiração. A votação será disputadissima, sobretudo no futebol. Porquê? Porque estamos a falar de excelência. Todos são atletas, treinadores e equipas de eleição. Todos eles conhecem bem a fórmula referida pelo presidente no discurso - nunca desistir, nunca baixar os braços, nunca vergar."

Pedro Guerra, in O Benfica

Racismo e sangue

"Semana difícil esta, que começou com as palavras racismo e sangue.
A primeira palavra, racismo, manifestou-se na sua expressão mais vil e primária, com a cor da pele a marcar a diferença e a justificar, uma vez mais, a injustiça, a crueldade e a violência gratuita. Escrevo estas linhas a olhar pela janela do estádio para uma estátua especial de um monstro sagrado, o nosso Eusébio, o 'King' de todos! Não era branco, nem ligava a isso, a imortalidade trouxe-lhe o bronze, oxidado, escuro como ele, mas as mãos do povo, de todos os povos, acariciam-no no correr dos dias e dos anos, descobrindo um dourado luzidio que lhe revela a alma de ouro! Nem imagino a sua reacção se, no tempo daquele Portugal triste e injusto, que remetemos às memórias do passado, o apupassem no campo. Mas isso não acontecia, nem no extinto Portugal colonial. Veio a acontecer nos nossos dias, no Portugal evoluído e solidário que afirmamos ser, talvez para nos abrir os olhos e convocar a mudar comportamentos! Pela nossa parte, temos vários projectos que combatem o racismo e a xenofobia em todo o país junto de milhares de jovens.

A segunda palavra, sangue, não ecoou pelas redes sociais, mas chegou até nós em apelos sofridos de responsáveis de unidades de saúde a pedir ajuda na recolha de sangue. Os stocks nacionais estão perigosamente baixos, e os incidentes repetem-se. Desta verdadeira urgência nacional pouco se diz pelas vozes do mundo, por isso muito há a fazer por todos nós. O Benfica sabe bem disso e lançou uma campanha de apelo à doação de sangue, encabeçada por um jogador do plantel A, com um pedido simples: Dê sangue: há uma vida à sua espera!
Nós sabemos o valor da vida e também sabemos que só juntos podemos resolver este problema e salvar a vida de cada um com o sangue de todos. Iguais ou diferentes, nestas alturas nem aos racistas importa, porque todos sabemos que indiferentemente à cor que nos cobre a cara, a cor que nos vai nas veias é vermelha como o Benfica. É que ouro por dentro, só mesmo o eterno Eusébio!"


Jorge Miranda, in O Benfica

De vez e sem dó


"Que ninguém tenha dúvidas. O assunto não se circunscreve no âmbito desportivo, não é uma matéria que possa restringir-se à esfera da competitividade, e muito menos poderá ser reduzido a uma questão de clubismos. O que aconteceu em Guimarães, num estádio e durante um desafio de futebol, foi mais um gravíssimo sintoma de uma doença civilizacional que se tem desenvolvido lavarmente, perante a estranha, longuíssima e generalizada passividade de todas as nossas estruturas sociais e políticas.
O que é incrível é que, de acordo com as lições que a História nos deixou, nem mesmo antes dos alvores da nacionalidade, quando ainda nos confrontávamos com outras pessoas de outras origens que então nos dominavam politicamente e civilizacionalmente, os nossos antepassados que aqui viviam nesse longo período de gestação da identidade colectiva souberam acolhê-los, assimilando até, dessa convivência, a sabedoria e as conveniências possíveis de que ainda hoje, nove, dez, onze séculos mais tarde, mantemos vestígios e marcas culturais bem patentes.
Do modo ainda mais evidente, é também absolutamente óbvio para todos nós que se, depois de completada a definição das nossas fronteiras, não tivessem os nossos governantes e os nossos heróis, durante o momento histórico da Expansão portuguesa, buscado expressamente outros horizontes e outros identidades, outros homens e mulheres, com costumes e perfis completamente diferentes dos que levámos na extensa Viagem, não seríamos hoje o que hoje somos.
Bem podem agora oportunistas ou demagogos de todos os quadrantes e naturezas vir com as teorias esdrúxulas que quiserem, para se tentarem aproveitar das tristes circunstâncias que a espuma dos dias infelizmente lhes concede... De nada lhes servirá. Eles não conseguirão entortar a Grande História que, afinal, nos determina a todos: se o caminho comum dos portugueses tivesse sido o exclusivismo, da xenofobia ou do racismo, este país não seria este país.
Por outro lado, além desses populistas sem pudor, também é tempo de serem naturalmente identificáveis e isolados e punidos de vez, sem dó, os marginais que, nas curtas franjas da poderosa corrente inclusivista comum, lhes tomam boleia daquelas vergonhosas ideias passando a miseráveis práticas de coacção e violência, se ousarem prosseguir as suas indecorosas bravatas numa viagem de metro, num ajuntamento político ou num estádio de futebol qualquer. Em todo o caso, que não nos venham, outros, com histórias: se, evidentemente, estamos juntos com Marega, nós não esquecemos do que, muito antes, aconteceu com Mantorras, nem do que fizeram a Nélson Semedo, nem do que disseram de Renato, por exemplo."

José Nuno Martins, in O Benfica

Desvantagem pode ser rectificada na Luz

"Se dúvidas havia sobre o estado anímico e a estratégia do Benfica tais não se confirmaram

Ponto prévio
A significativa representação do futebol português na última fase desta cada vez mais competitiva Liga Europa não branqueia a precoce eliminação do FC Porto e mais tarde também do Benfica da bem mais importante Liga dos Campeões. Antes traduz e espelha a realidade que, contrariamente ao brilhante desempenho da nossa Selecção, remete os mais importantes clubes nacionais para um plano secundário no panorama do futebol europeu.

Benfica igual a si mesmo
1. Depois de meses vitoriosos, quebra de rendimento e consequente perda da vantagem pontual na principal competição nacional criavam expectativa acrescida quanto ao desempenho do Benfica em tão importante jogo. Se dúvidas havia sobre o estado anímico e a estratégia da equipa, tais não se confirmaram, surgindo em campo um Benfica igual a si mesmo, quer no plano táctico, quer em relação à ideia de jogo, com disponibilidade e ousadia.

Equilíbrio q.b.
2. Uma primeira parte que consideramos globalmente equilibrada e com nível técnico aceitável fica marcada por dois factores que favorecem o Shakhtar: maior agressividade na recuperação da bola e positiva verticalidade do sei: jogo de ataque. Factores esses que se traduziram em mais momentos de finalização e de maior perigosidade para os ucranianos, que por esse motivo poderiam inclusivamente ter chegado ao intervalo em vantagem.

Justificação
3. Aumento da pressão, superioridade numérica e controlo do espaço interior, com alterações do centro do jogo do meio para a esquerda, aliados a grave erro individual, levaram a conjunto de finalizações, a vantagem justificada e à vitória do Shakhtar. Sendo merecida, não compromete a possibilidade de o Benfica rectificar na Luz, como desejamos!

Gestão
4. Gestão conservadora e de continuidade, eficaz no plano interno, é do meu ponto de vista questionável e merece reflexão. A intensidade diferenciada destes jogos põe novos problemas, que a não serem devidamente equacionados têm vindo a penalizar as equipas lusas e previsivelmente continuarão a fazê-lo."

Manuel Machado, in A Bola

O Benfica Faz-me Bem

"Comecei o ano com uma visita a Guimarães, a minha segunda vez no Afonso Henriques. Assim que pus um pé no Estádio vi um amigo meu (daqueles que encontras jogo sim, jogo sim, na roulote do lado) que acabou por me dizer "Gostei de te ver, o Benfica faz-te bem!". Quase dois meses depois aquelas palavras ainda ecoam na minha cabeça.
Depois de Guimarães já tivemos altos e baixos. Já tive mais jogos em casa com bons e menos bons resultados, mais deslocações épicas... Já tive mais pilhas de nervos com o Benfica do que gostaria. Mas ainda assim, o Benfica continua a fazer-me bem.
Hoje, após um resultado menos bom na Ucrânia, a única coisa de que tenho pena é de não poder segunda-feira subir até Barcelos para apoiar o Benfica. Exactamente pelo que estão a pensar, porque o Benfica faz-me bem.
Eu sou a pessoa mais feliz do mundo no pré-jogo, no meio de copos, no meio de gargalhadas, no meio de lembranças do Vietname. Sou a pessoa mais feliz do mundo quando chego ao meu lugar e já tenho os meus colegas de bancada (que não conheço de lado nenhum a não ser do sector 12 da Sagres) a cronometrar os minutos em que já chego atrasada.
Sou feliz com o Benfica, com as pessoas que fazem o meu Benfica.
O Benfica, que brevemente comemorará mais um aniversário, faz-me sempre bem. Porque o Benfica é amor, é paixão, é aquele querer e aquele nervoso miudinho. É aquele frio na barriga ou o murro no estômago.
O Benfica é a essência da nossa vida, esteja como estiver.
O Benfica está acima de todos.
O Benfica está em mim, está no meu Pai, está em ti que estás a ler isto.
Podem não acreditar, mas o Benfica faz-vos muito bem.
Saibamos nós ter presente o bem que o Benfica nos faz e como é um privilégio ser Benfica e viver todos os dias para o ver. Para o acompanhar, na Luz, no estrangeiro, na derrota, nas vitórias. Saibamos nós dignificar o vermelho e branco e o emblema que temos no peito.
Afinal de contas, no fim "We will always have You, Benfica".
E sabem porquê? Porque no meio da insanidade que é a vida, o Benfica faz-nos bem!"

Shakhtar Donetsk x Benfica: Exibição medíocre a deixar a eliminatória em aberto

"Já íamos numa sequência de 3 jogos sem ganhar. Talvez fosse hora de acordar e de fazer uma boa exibição. Pelo menos uma exibição eficaz, à semelhança daquela contra o Galatasaray na Turquia, na época passada. O adversário, o Shakhtar Donetsk treinado pelo português Luís Castro. Para além do jogo ser no estádio do Metalist Kharkiv, a 300 KM de Donetsk, não jogavam um jogo oficial desde 14 de Dezembro.
O onze era o esperado, tendo em conta o que se tem visto na Europa. Foi só aplicar Ajax para limpar, antes fosse o clube holandês, e a montra estava pronta para a exibição. Estranho só a ausência de Jota no onze, que parece estar queimado pelo treinador. Tino entrou para o lugar do suspenso Weigl, Chiquinho para o lugar de Rafa e Seferovic para o de Vinícius.
A primeira parte foi miserável. Se ainda não viu o filme Parasite veja, dura cerca de duas horas, três primeiras partes do Benfica devem chegar para ver o filme. Sempre tem mais emoção. O Shakhtar também não acelerou muito mas o Benfica conseguiu a proeza de não rematar à baliza. Os ucranianos marcaram ainda um que golo viria a ser invalidado pelo vídeo-arbitro. Podíamos ter ido para o intervalo a perder por 2 ou 3, mas fica apenas a bonita homenagem a Marega da parte dos jogadores do Benfica, que se recusaram a jogar futebol.
Quanto à segunda-parte, pasme-se, não jogámos nada. Nos primeiros 15 minutos, o Shakhtar mandou ao poste, obrigou Odysseas a fazer duas excelentes defesas e chegou mesmo dos pés de Alan Patrick. Apesar do nome que podia ser da época do Vietname, perante a passividade da defesa encarnada, rematou para o golo aos 56’. Se o “pasme-se” anterior foi irónico, este não o é. Pasme-se, cinco minutos depois o Benfica chegou ao golo através de uma excelente iniciativa de Tomás Tavares, que acabaria com a bola nas redes adversárias, mas que viria a dar penalti após possível fora-de-jogo, que seria convertido por Pizzi. Se esta explicação foi confusa, o golo também o foi e ainda não percebemos qual foi a decisão tomada pelo árbitro. Aos 69’, sai o cepo suíço para a entrada de Vinícius. Em nome do Benfica Independente, peço a todos que se tiverem vídeos dos treinos de Seferovic mandem para o Twitter @slbindependente . Talvez estes justifiquem a sua utilização. Ou isso ou tem nudes do Lage mas isso já não vos peço. Três minutos depois, duplo erro crasso de Rúben Dias na defesa a terminar golo dos ucranianos. Justíssimo, diga-se. Aos 81’ entrada de Rafa para o lugar de Chiquinho que não mudaria absolutamente nada. O ritmo continuava fraco, a qualidade de jogo era mínima, à semelhança dos últimos jogos do Benfica. Apenas uma equipa procurava o golo e não era a nossa. Aos 93’, entrada de Samaris, que apesar do tempo diminuto em campo, mostrou mais uma vez que merece jogar mais minuto pois não lhe falta intensidade, algo que o Benfica necessita atualmente. Contudo, num jogo em que se está a perder 2-1, tirar Pizzi para colocar Samaris demonstra a mentalidade sportingada do Benfica Europeu, cujo treinador “sentiu que era preferível segurar o resultado”.
Se está a pensar seguir a sugestão dada acima sobre o Parasite, pense também em ver o filme 1917. O filme dura duas horas e parece ter sido gravado de seguida enquanto que o Benfica actualmente, não consegue jogar 10 minutos de futebol seguidos. Mais uma desilusão dada pelo Benfica e pela direcção. Esta sequência de resultados é culpa dos jogadores, do treinador e da direcção. A exibição foi miserável e das umas das piores esta época. O resultado acaba por ser o melhor deste jogo e deixa a eliminatória em aberto. O Benfica não tem demonstrado vontade nenhuma nos últimos jogos. Urge reagir com uma vitória já na segunda, frente ao Gil Vicente em Barcelos. Quanto aos adeptos presentes, obrigado a todos, foram os únicos a honrar a camisola.

Notas de jogadores:
Odysseas: 8 
O melhor do Benfica, com larga distância. São jogos a mais com Odysseas como MVP...
Tomás Tavares: 6
Talvez o segundo melhor a par de Taarabt. Se a eliminatória está em aberto bem que podemos agradecer à genialidade de Tomás no lance do golo. Tem que ser titular.
Rúben: 5
Também um dos menos maus. Tirando o erro infantil, esteve seguro e mostrou raça, algo que foi raro.
Ferro: 5
Ainda não está a voltar à forma mas foi uma exibição melhor que as últimas. Fora um erro numa abordagem, não esteve mal.
Grimaldo: 2
Sinto que estou a fazer paráfrase sempre que faço a nota individual do Grimaldo. Que miséria...
Tino: 4
Que não se espere grandes exibições de alguém que conta com 160 minutos nos últimos 2 meses. Precisa de ganhar ritmo.
Taarabt: 6
Dos poucos a ter iniciativa e a mostrar vontade de ganhar, levando o jogo para a frente.
Cervi: 4
Tentou, como tenta sempre, mas parece muito limitado tecnicamente para a função que desempenha. Sou apologista de recuar Cervi para lateral-esquerdo.
Pizzi: 4
Para o Benfica jogar bem, Pizzi tem de jogar bem. A queda de rendimento individual tem sido notória e coincide com a queda de rendimento da equipa.
Chiquinho: 5
Não achei que estivesse mal. Chiquinho podia ser experimentado na direita. Acho que tem características para jogar lá, permitindo a Pizzi jogar a segundo-avançado visto que este último tem golo.
Seferovic: 3
Tem uma forma triangular, 2 riscas brancas e o fundo laranja."

Quantos mais escravos vão continuar a levar ​​​​​​​o futebol às costas?

"Cruzo-me muitas vezes com eles quando vão a caminho do estádio, embrulhados em frio pois aqueles casacos coisa-nenhuma nunca chegam a ser bons. Na roupa, como em tudo o resto, o dinheiro vai tantas vezes para todo o lado menos para onde devia.
Um dos destinos é esta droga legal, o jogo do clube, a claque, a principal razão de ser de uma vida. É a bola que pauta o ritmo de um quotidiano tantas vezes insuportável de horas e horas na fábrica, no vazio do desemprego, na treta de um fim do mês que nunca compra grandes alegrias. Excepto os golos, a felicidade mais barata que há por aí.
À entrada dos estádios transparece esta verdadeira estratificação social: camarotes com estacionamento e gente de bom porte; cadeiras marcadas para a classe média e famílias; e os topos atrás das balizas para as classes C e D.
São exactamente estes últimos que dão corpo, voz e ânimo aos estádios. Eles, os com-fome de tudo, os que mimam jogadores milionários chegados de lugar nenhum e já a rumar para o clube seguinte, à mesma velocidade, esses estão lá sempre. Sem eles também não há espectáculo.
Esta devoção é antagónica ao conteúdo: no futebol tudo está à venda menos o tal emblema, tatuado por dentro de tantos milhões de adeptos anónimos. Esta inebriação mágica fá-los dizer o que for preciso em gritos colectivos, mesmo sem nexo, sem lei, com total ódio ou sem ele, em função do momento do jogo. Um circo quase sempre sem consequências, mas simbolicamente representativo do que ferve por aí de mais fácil: racismo, xenofobia e desejo de uma violência que não tem para onde ir.
Até um dia. O "Vitória" é conhecido pela violência de uma parte da claque. Que o digam jornalistas, treinadores do próprio Vitória e jogadores. "Alcochete" esteve muitas vezes nas bordas de acontecer. Não calhou. Ou não soubemos.
Quem são estes adeptos do que se designa como o "quarto clube" português? Trabalhadores da têxtil e do calçado? Desempregados? Gente "normal"?
No domingo foram centenas e centenas, quase um estádio inteiro a imitar os símios na bancada, numa manifestação de puro gozo sem desculpa - excepto a da falta de educação básica que a vida do Vale do Ave não tem ensinado transversalmente. Vão agora aprender à força. Diferente do Dragão, Alvalade ou Luz? Talvez em nada. 
Mas enquanto esbracejamos para falar do racismo visível-invisível, o gigantesco elefante na sala faz-nos esquecer outro enorme escândalo: a desigualdade social que cada jogo de alto futebol representa. Como pactuamos com uma indústria tão escandalosamente opaca e de salários sem tecto nem nexo?
Já toda a gente quis discutir quão superior é a remuneração de um líder de uma grande empresa por comparação ao funcionário no fundo da pirâmide. "Escândalo", dizemos quanto a "Mexia versus EDP" ou "banqueiros versus bancários". Mas, no futebol: quantas vezes mais pode ganhar o craque da equipa por comparação ao seu colega de plantel mais humilde? Quão maiores podem ser os "grandes" clubes por comparação aos outros com quem competem e sem os quais não existiriam campeonatos? E a questão central: quantos vidas inteiras de rendimento representa cada craque no relvado por comparação a estes adeptos (seres humanos) das bancadas?
Estas são as perguntas mais pequenas. Porque as maiores estão ainda no início, numa mudança social que terá de acontecer. Basta ver o que sucedeu por estes dias ao Manchester City, afastado da Liga dos Campeões por ter violado as regras do fair-play da UEFA. Vai mesmo passar a haver alguma moralidade/transparência? E, já agora, a origem e legitimidade do dinheiro alguma vez contará?
A UEFA e FIFA vivem sentadas em cima dos milhões dos acontecimentos planetários - Mundial, Europeu e "Champions" - o mesmo sucedendo com alguns clubes das ligas inglesa, espanhola (e em parte da alemã, francesa e italiana). Banqueteiam-se com receitas televisivas que têm representado perdas de milhões para as operadoras que investem nesta espiral.
Pergunta-se: porque não existe na Europa um modelo claro e transparente de remuneração de jogadores e de receitas de forma a que a sociedade possa evitar o fluxo de milhões de euros para fora da economia e do bem comum?
Podemos dizer que sim, é a história do mundo: os gladiadores, os artistas, os jogadores. Não... nada se compara a esta espiral de loucura. Messi, Ronaldo, Neymar, ou os cem mais bem pagos jogadores da Europa, seriam o mesmo tipo de jogadores se ganhassem segundo uma tabela máxima por competição. Parte das suas remunerações poderia contribuir igualmente para um "Fundo dos Grande Jogadores", gerido em função da economia e de causas e não apenas da pura especulação ou acumulação estéril.
Na NBA há tectos para salários, o mesmo sucedendo no "soccer" americano - e os norte-americanos são dos mais liberais do mundo. A razão é evidente: sem regras financeiras, a competição é cada vez mais desigual, como se vê, aliás, nos jogos entre ingleses e espanhóis versus os outros na Liga dos Campeões; e o mesmo se passa entre gigantes e minúsculos nos campeonatos internos. Como pode a repartição de receitas continuar a ignorar tanto os pequenos clubes? A NBA tenta evitar isso a bem da competitividade e em parte consegue-o.
É nesta espiral milionária que, paradoxalmente, os "miseráveis" apoiam (ou insultam) os gigantes da arena - mas continuam a dar-lhe o seu sangue-suor-e-lágrimas em função de uma simples ilusão geométrica apaixonante: uma bola que baila sobre o ar e a relva até cruzar linhas de cal e suscitar a glória ou o desespero.
Foi num cenário de guerra tribal que apareceu Marega a dizer que era, tão só, aquilo: um homem.
Por momento, trememos. Ficamos espantados porque lá em baixo há seres humanos. E paramos para pensar.
Só que o futebol também precisa de um outro estremecimento, a partir do topo, que acabe com a escalada imparável dos seus milhões de milhões. E que reconheça que há seres humanos na bancada, ou no sofá de casa, incapazes de pagar cada vez mais e mais pelo amor da sua vida. Tem de haver um limite para a ganância no futebol. Tem de haver um limite para a vergonhosa desigualdade que o futebol fomenta entre seres humanos de todas as cores, em todos os continentes."

Sobre a formação dos treinadores

""Toda a instituição passa por três estágios - utilidade, privilégio e abuso."
François Chateaubriand

Não chega aprender com quem sabe. Tem de se aprender com quem sabe ensinar, com quem sabe fazer e, principalmente, com quem sabe fazer ser! E não é por decreto que quem presumivelmente terá de saber, saber fazer e saber fazer ser passará a ter competências pedagógicas, competências formativas!
Como disse Maquiavel, “os homens são tão simples e submetem-se a tal ponto às suas necessidades presentes que aquele que engana encontrará sempre alguém que se deixe enganar.”
Isto porque, à semelhança da formação de treinadores, um dia destes poderá ser promulgada uma lei em que para se pintar com lápis de cor seja preciso fazer um curso. Sim, porque um afia-lápis possui uma lâmina e, sendo um objecto potencialmente cortante, é preciso evitar acidentes e é preciso evitar que essa lâmina seja usada com outros fins... Para além disso, um lápis bem afiado pode ser uma arma mortal (não sabiam? Claro que sabiam!!!). 12 lápis de cor são 12 armas!!! E agora, vamos afiar o lápis amarelo e pintar com o amarelo...
Logo, só pessoas devidamente credenciadas (terão de fazer um curso e, para isso, pagar uma inscrição no mesmo) poderão afiar e pintar com lápis de cor. Claro que só poderá ministrar esse curso uma empresa devidamente certificada... Depois de terem frequentado esse curso, depois de terem feito um estágio e terem sido aprovadas terão de pagar a “licença de utilização” dos lápis de cor e dos apara-lápis... E agora, vamos afiar o lápis azul e pintar com o azul...
Mas atenção: nos três meses seguintes terá de se frequentar uma acção de formação (e lá temos de novo os €, as £ ou os US$) sobre os diferentes modelos e utilizações dos apara-lápis consoante o diâmetro dos lápis... E nos seis meses posteriores uma acção de formação sobre contornos e preenchimentos (mais uma vez os €, as £ ou os US$)… E nove meses depois outra acção de formação (outra vez os €, as £ ou os US$) sobre a sobreposição e a mistura de cores com os referidos lápis. Adivinhem agora quem vai dar essa formação! Claro, a tal empresa certificada, a qual irá cobrar inscrições para a acção de formação aos utilizadores dos apara-lápis e dos lápis de cor... E agora, vamos afiar todos os lápis e pintar com os lápis todos...
O resultado dependerá, como diz o povo, do pintor. O pintor que pintou Ana também pintou Leonor. Se a Ana é a mais bela, a culpa é do pintor.
Há no entanto, aqui, um pormenor importante: aqueles que já são artistas, aqueles que já têm obra exposta, publicada e/ou vendida – e um quadro pintado com lápis de cor pode ser uma bela obra de arte – não terão de frequentar o referido curso, pois poder-lhes-á ser homologada a referida habilitação – mas nada os ilibará de pagarem na mesma uma taxa (sempre os €, as £ ou os US$) .
Mas ser um bom pintor não implica ser um bom professor de pintura com lápis de cor. E nada os impedirá de serem como o pintor que pintou Ana e Leonor… ou de formarem novos pintores como este último."

Decisão na Luz

"Mesmo considerando ter-se tratado de um jogo disputado na Ucrânia, com muito baixa temperatura, frente a um adversário que, como o Benfica, lidera o seu campeonato, chegou à Liga Europa via fase de grupos da Liga dos Campeões e apresenta legítimas pretensões de chegar o mais longe possível na prova, o resultado obtido ficou aquém do pretendido.
No entanto, a derrota, por 2-1, deixa tudo em aberto na eliminatória (não surpreendendo, face à qualidade do adversário, que assim seja) e acreditamos na capacidade da nossa equipa para, na próxima semana, dia 27, na Luz, alcançar um triunfo que permita a qualificação para a ronda seguinte.
Tal deve-se ao valor comprovado da nossa equipa e às incidências da partida, em que reagimos muito bem à desvantagem, empatando através de um golo de Pizzi (o 23.º na presente temporada) e, depois, não esmorecendo na sequência da contrariedade de sofrermos o segundo golo durante a nossa melhor fase do jogo e continuando em busca do empate, demonstrando competência e personalidade.
Bruno Lage, Cervi, Pizzi e Taarabt foram, após o jogo, os porta-vozes do sentimento partilhado por todos no balneário: a eliminatória está em aberto e temos capacidade e ambição para, na Luz, ultrapassarmos este difícil obstáculo.
O nosso historial de participações nas competições da UEFA demonstra a indefinição que este resultado representa. Nas quatro ocasiões em que fomos derrotados, por 2-1, na primeira mão de uma eliminatória, jogando fora, passámos duas vezes. Desta feita, que seja a terceira!
Mas antes ocorrerá a deslocação complicada a Barcelos. O Gil Vicente, no seu reduto, já derrotou FC Porto e Sporting, além de ter empatado com o SC Braga, nesta época. Estamos todos cientes da importância da partida e, por isso, voltamos a apelar aos Benfiquistas que marquem presença em Barcelos e apoiem a nossa equipa naquela que será a primeira de 13 finais rumo ao 38.
#PeloBenfica"

Bastidores da Gala

"A dimensão e a necessidade de realizar a Gala anual do Benfica num grande espaço e que seja uma transmissão televisiva de enorme produção requerem a mobilização de enormes meios e serviços. Este ano, a mesma acontece no dia 4 de Março, no Campo Pequeno.
A exemplo do que acontece em todos os eventos desta dimensão, exige a contratação de serviços que vão do reforço da equipa de organização nas funções de recepção, hospedeiras, parking e zonas técnicas de produção, e também dos denominados “figurantes” de produção televisiva para quando os convidados e premiados sejam chamados ao palco existam equipas de acompanhamento e o seu espaço seja ocupado e referenciado.
É apenas isso que acontece, e nada mais, até porque, felizmente, ano após ano, a nossa Gala reafirma-se como um sucesso e o espaço torna-se cada vez mais exíguo e limitado, apesar das suas grandes dimensões face às centenas de atletas, quadros, Sócios e convidados institucionais presentes que abrangem um universo de cerca de 2600 pessoas.
No sentido de o Clube proporcionar que este grande momento possa ser acompanhado pelos milhões de Sócios e adeptos do SL Benfica, ao longo do dia 4 de Março, quarta-feira, a BTV estará em sinal aberto para transmitir todos os diferentes momentos da Gala."

Quando saiu, o comentador explicou que Seferovic teve uma noite difícil, desamparada. E nós, Caneira? Quem nos acode?

"Vlachodimos
Esqueçam a Vieira de Almeida, a MLGTS e a PLMJ. A única estratégia de defesa capaz de salvar o Benfica está nas luvas de um grego.

Tomás Tavares
A descontracção que admiramos ver em lances ofensivos é a mesma que nos causa suores frios sempre que Tomás Tavares é obrigado a defender. Já teve grandes momentos esta época, mas ontem chegou a dar ares de quem vai abrir um bar de praia antes dos 30 anos. Não é um visual que o favoreça em mais uma noite de depressão europeia.

Ruben Dias
Era só o que nos faltava, dois centrais com crise de confiança. Uma espectacular paragem cerebral quando a equipa mais precisava dele.

Ferro
Tirando meia dúzia de ocasiões em que foi ultrapassado e deu a sensação de ter escolhido a profissão errada, esteve bastante bem. 

Grimaldo
Soltei uma ou outra gotinha, mas nem foi dos piores jogos.

Florentino
Como um académico muito palavroso mas incapaz de chegar a sítio algum, Florentino passou o jogo inteiro a dar-nos esperança com as recuperações de bola, apenas para a perder pouco depois. Desembucha, Tino.

Taarabt
Exibição esforçada de quem já não sabe jogar de outra forma. A par da CMVM, é dos que mais tem feito por acautelar os interesses do clube.

Pizzi
Marcou um golo precioso que nos mantém na eliminatória. Não sei se devo agradecer ou insultá-lo.

Cervi
Participação muito activa nos 12 minutos em que o Benfica pareceu capaz de discutir a eliminatória. Chiquinho O que é feito do Jota?

Seferovic
Quando saiu, aos 68 minutos, o comentador da SIC explicou que teve uma noite difícil e esteve muito desamparado. E nós, Caneira? E nós? Quem nos acode?

Vinicius
Tinha como missão fazer melhor do que Seferovic. Atingiu esse objetivo, mas a fasquia era tão baixa que nós nem nos apercebemos da melhoria.

Rafa
Entrou aos 81’ certamente para agitar o jogo, 10 minutos antes de entrar Samaris para segurar uma derrota pela diferença mínima. E perguntam vocês: ok, mas qual é a piada? Eu respondo: nenhuma. 

Samaris
Prémio justo depois da demonstração de garra no final do jogo contra o Braga: 5 minutinhos em campo com a missão de não perder por muitos. Pobre Andreas. Pior do que ter figurantes na Gala Cosme Damião só mesmo ser-se figurante nas competições europeias."

O abominável futebol nas neves

"Lisonjeira a derrota por apenas 2-1 do Benfica na Ucrânia frente ao Shakhtar perante 90 minutos de tão pouco futebol. A eliminatória está em aberto, mais culpa do desperdício da equipa de Luís Castro do que dos méritos de um Benfica inofensivo na frente e errático na defesa

Faz frio por estes dias na Ucrânia, o campeonato está parado, paredes de gelo e neve adornam as laterais dos relvados que não vêem ação vai para dois meses. Também faz frio por estes dias no futebol do Benfica, um frio cortante nas últimas semanas, aliás, e é possível que a derrota por 2-1 trazida de Kharkiv, a Donetsk emprestada, seja um resultado lisonjeiro, tal a superioridade do Shakhtar, principalmente na 2.ª parte. Um Shakhtar que, recordemo-nos, não jogava de forma oficial há um par de meses e que mesmo assim ganhou o duelo físico e tático à equipa portuguesa.
Depois de uma 1.ª parte jogada a ritmo quase tão baixo quanto a temperatura, mas em que o Shakhtar foi quase sempre a equipa com mais iniciativa, o início da 2.ª parte colocou desde logo o Benfica em grandes apuros. Mesmo sem esplanar em campo o seu habitual jogo de posse a toda a largura do campo, foi logo imediatamente a seguir ao regresso dos balneários que equipa ucraniana teve mais facilidade em trotar meio-campo defensivo do Benfica adentro, face a geral apatia encarnada. Aos 46’, Junior Morais aproveitou um erro de abordagem de Ferro para rematar, com Vlachodimos a salvar. Cinco minutos depois, foi a vez de Tomás Tavares falhar um corte, com Ismaily a rematar cruzado, rente ao poste.
Não foi à primeira, não foi à segunda, seria à terceira: aos 56’, com todo o espaço do mundo, o ataque do Shakhtar teve autorização para trocar a bola, com Alan Patrick, à entrada da área, a rematar em jeito, colocadíssimo junto ao poste esquerdo de Vlachodimos.
Com o golo do Shakhtar, vislumbrou-se uma tímida reação do Benfica, que aos 67’, graças a uma boa jogada individual de Tomás Tavares, ganhou uma grande penalidade que Pizzi converteu.
Mas os erros individuais voltariam para assombrar o Benfica: aos 79’, Rúben Dias perdeu o duelo corpo-a-corpo com Taíson junto à linha de fundo, o brasileiro deixou para Junior Moraes que de forma imediata cruzou para Kovalenko. O ucraniano rematou cruzado, fora do alcance de Vlachodimos, deixando o Shakhtar de novo com uma vantagem merecida e até escassa face ao futebol quase sempre paupérrimo do Benfica em termos colectivos e aos inúmeros erros individuais, com Florentino, Tomás Tavares, Ferro e Rúben Dias a comprometerem.
À equipa de Luís Castro faltou mais cabeça fria no último terço. Com ela, talvez o Benfica tivesse saído de Kharkiv com a eliminatória definitivamente perdida. Mas o golo de Pizzi, de grande penalidade, num dos poucos remates enquadrados do Benfica durante todo o jogo, dá uma hipótese de redenção à equipa de Bruno Lage. Mas, em Lisboa, é preciso fazer muito mais para a merecer."

Benfica – Curtas, Noite fria na Ucrânia

"Regresso da Europa para o Benfica, e sem que os encarnados se tenham conseguido dissociar do difícil momento interno que atravessam

1º parte
- Benfica no seu habitual 442, com Pizzi a fazer de segundo avançado, e Chiquinho no corredor – Provavelmente por não conseguir o transmontano garantir segurança nos momentos defensivos. Pizzi e Seferovic tentaram sempre fechar o espaço nas suas costas, para que o jogo interior do Shakhtar fosse desde cedo interrompido. Apesar disso foi sempre a equipa de Luís Castro quem foi protagonista, saindo desde trás ligando fases de forma consecutiva;
- Dificuldade do Benfica para chegar e encontrar os seus jogadores mais avançados, sobretudo entre criação e finalização, contando apenas com um remate de Pizzi na 1ºparte, em mais uma exibição pobre em termos de criação;
- Em momento de organização defensiva, Benfica sempre muito curto, linhas juntas, sem muito espaço entre linhas, mas demasiado passivos a encurtar distancias na portador da bola – para além de demasiado frágeis nos duelos… Defender não basta estar bem posicionado se no bom posicionamento não há imposição;
- Demasiado evidente o momento menos bom que Ferro atravessa, sendo demasiado fácil passar por ele, voltou a demonstrar enormes dificuldades quando adversário está em 1×1. enquadrado e em progressão em velocidade;

2ºparte
- Shakhtar mais rápido a circular bola, e com os seus jogadores a recorrerem a mais momentos de condução e drible, com isto os jogadores do Benfica foram demasiadas vezes ultrapassados, obrigados a coberturas sucessivas ao colega ultrapassado e acabaram por suceder oportunidades para finalização por parte dos Ucranianos – Diferença muito notória no talento individual dos diversos jogadores das duas equipas;
- A equipa de Luís Castro , sempre mais competente em org ofe, mas foi através de mais um erro individual que chega ao 2-1, com Rubén a facilitar num lance nada habitual no central do Benfica. 

Destaques
- Alan Patrick – demasiado fácil jogar com ele, encontra soluções, têm chegada apra finalizar, um verdadeiro médio completo;
- Chiquinho – chamado ao corredor, foi sempre dos mais equilibrados, ajudando Tomás, e com critério para sair quando ganhava bola;

Resumo
- É urgente uma revisão da matéria, na equipa de Lage, 4 jogos com exibições menos conseguidas, que ditam resultados que já não se viam algum tempo. Numa fase critica da época, é um Benfica desequilibrado e com demasiados erros individuais, e muita passividade. Será uma tarefa árdua reverter a desvantagem no Estádio da Luz."

FK Shakhtar 2-1 SL Benfica: Derrota gelada que não apaga a esperança

"Não há como escapar. Em Kharkiv o Sport Lisboa e Benfica deu seguimento a mais um ciclo de maus resultados e más exibições. O resultado não é definitivo e abre espaço para o apuramento em pleno Estádio da Luz mas é uma derrota que poderia ter sido bem mais pesada. Independente das escolhas de Bruno Lage para o 11 titular, o que há a evidenciar são as fragilidades do colectivo encarnado que se têm reflectido jogo após jogo.
A primeira-parte trouxe-nos um jogo mais equilibrado com algum ascendente da equipa do FK Shakhtar. Ambas as equipas procuraram ter bola, procuraram construir jogo e evitaram correr riscos. A equipa de Luís Castro foi mais competente neste momento do jogo principalmente por conseguir ter um processo defensivo melhor trabalhado, o que levou a que o SL Benfica só perto do intervalo tivesse conseguido chegar com algum perigo, através de um lance de Pizzi, à baliza de Pyatov. O intervalo trouxe um nulo e uma sensação que se assim que os ucranianos acelerassem as redes encarnadas iriam balançar.
A segunda-parte trouxe-nos velocidade. Durante largos minutos a defesa encarnada teve imensas dificuldades em parar o jogo mais dinamico do FK Shakhar. Mais velocidade na pressão, mais velocidade na troca de bola e maior velocidade nas incursões na defesa encarnada. Vlachodimos salvou enquanto pôde e até não poder mais. Foram 10 minutos até Alan Patrick colocar a equipa da casa em vantagem. Um resulto justo para o que se passava em campo. A equipa encarnada tentou reagir, tentou subir as linhas mas não mostrou grandes qualidades para melhor o seu jogo. Mesmo assim, numa boa jogada de Tomás Tavares, Cervi acabou por ganhar o penalty que Pizzi concretizou para o empate. Um empate que durou 6 minutos até naturalmente surgir o golo da vitória do FK Shakhtar desta vez concretizado por Kovalenko.
Uma vitória justa, uma derrota que poderia ser mais pesada, uma exibição preocupante e uma eliminatória que continua totalmente em aberto. Foi um SL Benfica pouco criativo, com evidentes fragilidades defensivas e somente reactivo ao estado do marcador. Foi um Shakhtar notavelmente ainda à procura de encontrar o seu futebol, com qualidade colectiva e individual mas ainda sem a intensidade que é dada pelo ritmo competitivo.

A Figura
Ismaily Esta é uma distinção muito metafórica. Ismaily fez um excelente jogo e é interessante ver um nome que já andou na segunda linha portuguesa a jogar desta forma a nível internacional. Por outro lado foi a imagem tanto da sua equipa como um exemplo daquilo que também tem faltado ao Benfica – o Grimaldo capaz de fazer a diferença no ataque. Ismaily quando aumentou a velocidade do seu jogo fez abanar todo o lado direito da defesa encarnada. Ismaily ao contrário de Grimaldo, e sem precisar de guarda-costas, conseguiu constantemente criar desequilíbrios na defesa adversária – coisa que o espanhol tão bem fazia antes de andar tão condicionado. E apesar da qualidade ofensiva ainda foi capaz de manter o seu lado defensivo controlado.

O Fora de Jogo
FlorentinoVários jogadores tiveram uma exibição muito apagada. O Seferovic não apareceu em jogo. O Rúben Dias teve dois erros crassos no lance do 2-1. Florentino não foi pior que os seus colegas mas representou muito daquilo que falhou no jogo do Benfica. Um meio-campo mal trabalhado e no qual este médio-defensivo se sente completamente limitado na ocupação do espaço. Um processo defensivo que permite constantemente um buraco central em frente aos centrais. Uma tremenda falta de criatividade na posse de bola com o Florentino a ser mais um incapaz de segurar a bola e desequilibrar com passes inteligentes e de ruptura. O motor da equipa, o meio-campo, a falhar tanto no processo defensivo como no processo ofensivo. 

Análise Táctica – FK Shakhtar
Luís Castro não apresentou grandes surpresas. Lançou o 4-3-3 esperado e tentou colocar em campo o jogo que já lhe é conhecido. Dois laterais ofensivos a dar largura para os dois virtuosos extremos se soltarem nos seus movimentos. Um ponta de lança em sintonia com as incursões dos virtuososo vindos das alas. Dois centrais com qualidade na primeira fase de construção e devidamente apoiados pelo médio defensivo. E dois médios com qualidade para distribuir a bola, criar apoios e aproximarem-se das zonas de finalização. Marlos e Tyson são os dois craques desta equipa e bem sustentados foram sempre colocando a defesa encarnada em sobressalto.
Notou-se uma FK Shakhtar ainda sem grande capacidade de pressão e aceleração, principalmente para 90 minutos de jogos. Abordaram o jogo de uma forma mais cautelosa e dando mais importância à circulação da bola mas quando aceleraram, na procura do golo, foi quando a qualidade dos seus atacantes destruiu definitivamente a defesa montada por Bruno Lage.
11 Inicial e Pontuações
Pyatov (5)
Bolbat (5)
Krivtsov (6)
Matviienko (6)
Ismaily (8)
Stepanenko (7)
Alan Patrick (6)
Kovalenko (6)
Marlos (8)
Taison (7)
Júnior Moraes (8)
Subs Utilizados
Marcos Antônio (5)
Konoplyanka (-)
Tetê (-)

Análise Táctica - SL Benfica
Bruno Lage não surpreendeu apesar das novidades no 11. Sim, digo-o sem qualquer dúvida – Bruno Lage é neste momento um treinador à deriva. Não se percebe o que procura do jogo, as suas escolhas não favorecem o estilo de jogo que a sua equipa parece pretender praticar e as suas palavras não alinham com o fruto do seu trabalho – o treino. O SL Benfica actuou com o seu já usual 4-2-3-1 onde se insiste na ideia que o extremo da equipa deve jogar defensivamente de forma a proteger o seu lateral. A verdade é Cervi não lança Grimaldo, Cervi condiciona-o.
Quem tem de compensar as subidas do lateral é o médio e o central, algo que não acontece. Um 4-2-3-1 onde o médio mais defensivo tem o seu raio de acção perturbado. Um 4-2-3-1 onde os laterais não dão profundidade e os extremos não dão velocidade ao ataque. Um 4-2-3-1 com o melhor jogador da equipa no banco – Rafa. Um 4-2-3-1 com o melhor ponta de lança e o matador na equipa também no banco – Vinicius. A entrada de Seferovic no papel dá-nos a ideia que Bruno Lage procurou favorecer um futebol de apoio com entrados em tabelas pelo centro do terreno. Mas depois deixa Rafa no banco e remete Cervi para um papel mais defensivo.
Enquanto os ucranianos mantinham um ritmo de jogo mais reduzido a equipa de Bruno Lage foi mostrando intenções de também ela controlar a bola e construir com paciência o seu jogo – mas com total falta de laivos criativos para abrir a defesa adversária. Quando a equipa de Donetsk resolveu atacar com maior determinação a equipa encarnada abanou toda.
11 Inicial e Pontuações
Odysseas Vlachodimos (7)
Tomás Tavares (6)
Rúben Dias (3)
Ferro (4)
Grimaldo (5)
Florentino (3)
Taarabt (5)
Pizzi (6)
Chiquino (5)
Franco Cervi (5)
Seferovic (4)
Subs Utilizados
Vinicius (5)
Rafa (-)
Samaris (-)"

“É difícil curar ou mudar um racista, mas isto tem de deixar de ser normal, já não estamos para papar estas coisas”

“O que aconteceu com o Marega lembrou-me o que ocorreu no Estádio da Luz, num jogo entre o Benfica e o Barcelona, em 2006. Estava com o meu irmão e um grupo de amigos atrás da baliza do Benfica e mal o jogo começa, um grupo que estava ao pé de nós começa a imitar o som de macacos sempre que o Eto’o – que jogava no Barcelona na altura - tocava na bola. Eram pessoas normais, adultos. E não eram das claques. Dissemos-lhes para pararem com aquilo, que não era fixe. E eles responderam que faziam o que quisessem. Em menos de nada começou tudo à batatada e eu agarrei-me a um gajo que se agarrou a mim, caímos para o lanço de baixo da bancada, ele cai por cima de mim e desloquei o ombro. Nunca mais ficou bom e tive de ser operado. Aquilo não durou mais de cinco minutos mas não vi nada do jogo porque tive de ir para o hospital.
Infelizmente, por aquilo que tenho visto, especialmente em campeonatos como o de Itália ou da Rússia, a situação do Marega não me surpreendeu totalmente. O mais espantoso é que em vez de terem sido quatro ou cinco adeptos ter sido tanta gente a ter aquele comportamento. Ele fez o que tinha de fazer e as pessoas têm de perceber que este tipo de comportamento tem de ter consequências graves para quem os comete. Foi mais do que antidesportivo, foi mesquinho e vergonhoso, de uma baixeza incrível. E o Marega não esteve para estar ali a suportar aquilo. Fez bem.
Espero que alguma coisa mude depois disto e que os adeptos que imitaram macacos sejam identificados e castigados. Estamos em 2020, há câmaras por todo lado e se quiserem as autoridades podem identificar os responsáveis. Não digo que sejam banidos para sempre do futebol, mas por uns bons anos sim. Porque não?
Sabendo que existe muito racismo no futebol, como em toda a parte, também acredito que nem todos os que imitam macacos sejam racistas. Eu fui criado num ambiente machista em que era normal fazer piadas sobre gays e se quero ofender um gajo chamo-lhe paneleiro e não sou homofóbico. Por outro lado, não uso esse termo para ofender gratuitamente um gay. Alguns portugueses brancos também foram criados num contexto em que era normal fazer piadas sobre os pretos burros. Eu lembro-me que o Samora Machel morreu e no dia seguinte já se contavam anedotas na escola. Isso não faz de todos racistas, mas o chip está lá.
Para o Marega, ou para quem seja alvo daquele comportamento, isso não faz diferença nenhuma. Vai sentir-se sempre alvo de um insulto racista, com razão para tal, e tem de haver uma sensibilização forte para isto. É difícil curar ou mudar um racista mas isto tem de deixar de ser normal. É inadmissível e já não estamos para papar estas coisas. Tem de parar.”

Violência (no desporto ou fora dele): da inaptidão pessoal à validação social

"O inicio de Fevereiro trouxe, novamente, para o grande palco dos media, o tema da violência e da agressividade no Desporto - muito em particular no futebol (mais recentemente, em direcção a um atleta em particular), mas afinal um tema da sociedade em geral.
Seja qual for o contexto a considerar, na realidade estamos sempre a falar de um exercício de poder e dominância – alguém que de forma manifesta ou subliminar (entenda-se a “agressividade passiva” que passa nas “entrelinhas” mas cumpre o propósito de atingir alguém, muito frequentemente, num exercício de manipulação psicológica) procura impactar o comportamento do outro na forma de subjugação (a curto, médio ou longo prazo – aqui, se estivermos a falar na forma dissimulada que a manipulação pode assumir).
Curiosamente, o impulso agressivo, tal como podemos encontrar nos manuais mais antigos da Psicologia enquanto disciplina científica, cumpre o propósito de garantir a sobrevivência das espécies – com ele se molda o meio, se mata para comer e se adapta para fazer face às diferentes adversidades do contexto.
Por esta razão, não é de facto algo que se pretenda “banir”, mas sim que se aprenda a dirigir de forma construtiva para propósitos concretos, através de um adequado controlo (que pode e deve ser aprendido) dos impulsos ditos “agressivos”. Daqui se pode compreender que, confundir este tipo de expressão com a agressividade e violência gratuita, é o maior dos erros.

A Inaptidão Pessoal
Acontece que cada vez mais se observa um afastamento dos nossos instintos mais primários, onde, tal como se pode observar nos animais ditos “irracionais”, se faz uso do impulso agressivo como um “meio” de sobrevivência (portanto, um meio para um fim específico e, em boa verdade, legítimo), passando a usá-lo como um “fim” em si próprio, que se traduz na agressividade e violência gratuita, que só cabe existir em quem, acima de tudo, acaba por mascarar a enorme fragilidade que sente (sob a forma de auto-estima deficitária e/ou uma noção de competência pessoal, nas diferentes áreas de vida, baixíssima) numa espécie de “coreografia” de dominância – afinal, a única que conhece.
Os comportamentos de violência, de agressividade e de falta de respeito pelos direitos dos outros (humanos ou animais) encontram-se, desta forma, indubitavelmente associados, desde os tempos mais ancestrais, ao exercício de alguém que é deficitário na sua capacidade de regular as emoções que sente, muitas vezes sob a forma de Medo e encontra, por tudo isto, numa sociedade que privilegia o conhecimento técnico e tecnológico, a anestesia ou a hiperadrenalina como os únicos “estados emocionais” (que não o são) reconhecidos, terreno fértil para se alastrar rapidamente, como de se um incêndio de verão se tratasse.

Validação Social - Ferramenta de Aprendizagem
Em Portugal, desde há já alguns anos que este tipo de tema vem à praça pública sob forma de debates ou tentativas de medidas de coação que, em boa verdade, se percebe muito rapidamente que não estão a cumprir a sua função – se assim fosse, dificilmente veríamos dois fantoches “enforcados” numa ponte (em clara alusão à equipa de arbitragem e equipa adversária) antes de um grande dérbi nacional, como sucedeu recentemente.
Fenómenos destes e outros (como lançar tochas) acontecem por duas razões:
1) porque podem acontecer, ou seja as medidas de coação não estão a ser eficientes e...
2) porque recolhem validação social seja entre pares ou até nos media que garantiram tempo de antena (e de promoção) por tempo suficiente, para que daqui possa resultar uma noção interna distorcida de “dever cumprido”.
Compreender, contudo, a natureza destes comportamentos (por exemplo, os agora identificados), não é tarefa fácil pois, na realidade, este tipo de “produto” que a sociedade produz, resulta de uma ação global, onde todos temos um papel e uma cota alargada de responsabilidade – seja por participação, seja por conivência, ao não falar e não actuar na direcção contrária.
Alguns exemplos apenas:
- desde a criança que levanta a mão à avó ou mãe e o meio reage com complacência;
- à risota que surge quando essa mesma criança puxa a cauda ao gato ou pontapeia o cão, num claro exercício de instrumentalização de um ser vivo sem empatia pelo sofrimento que possa estar a causar, e a família reage com um “estava a brincar”;
- ou quando responde aos pais ou professores e a consequência surge com um “coitadinho, está com sono”;
- quando se escolhe educar para a competitividade com outro e não consigo próprio (no desporto, na escola com os tão afamados “quadros de honra”);
- quando um colega de turma está a ser vítima de bullying e é mais “cool” ficar do lado do agressor que até é um(a) tipo(a) que diz umas piadas com graça;
- quando o percurso académico valoriza apenas competências cognitivas e não de inteligência emocional, empatia, solidariedade e comunidade;
- quando numa mesa entre amigos alguém se torna mais abusivo a comunicar e o grupo não regula de imediato esse comportamento não permitindo a sua expressão achando apenas que “ele fica assim com uns copos”;
- quando assumimos ainda que “entre marido e mulher não se mete a colher” e, perante a evidência de comportamentos abusivos, escolhemos “fingir não ver”;
- quando nas empresas o director que leva o prémio mais “chorudo” para casa é o que reúne a sua equipa em exercícios de gritaria e humilhação sem fim ou quando pretendemos que colaborem entre si e saibam trabalhar em equipa mas as avaliações de desempenho reflectem apenas o comportamento individual;
- quando observamos nas redes sociais figuras públicas (via media ou rede digital) incitarem o ódio e a agressividade desresponsabilizando-se de todo (ou não tendo a mínima noção) do impacto que possam ter em quem os segue;
- quando se assiste, em prime time, a debates televisivos onde quem grita mais é quem tem mais “likes” (da estação e da audiência) ou, em última análise, até debates na Assembleia onde a falta de respeito impera em muitas apresentações que, por exemplo, deveriam ser imediatamente cessadas. 
Enfim... um sem número de exemplos, todos eles à nossa volta diariamente onde, não intervir é ser conivente e tornar aceitável cada um deles.
Não intervir é, por esta razão, Validar.

Soluções?
Em boa verdade, com os meios tecnológicos necessários, que possibilitem um maior controlo sobre o comportamento das massas, é possível que a violência nos recintos desportivos possa vir a ser correctamente sancionada e ver diminuída a sua expressão, tal como se observou com as medidas implementadas face ao hooliganismo em Inglaterra – para tal, importa que clubes, federações, forças policiais e os diferentes organismos do estado possam reunir à mesma mesa (como o têm feito, talvez de uma forma ainda um pouco "tímida" e pouco colaborativa), no sentido de encontrar medidas verdadeiramente eficientes, do ponto de vista da regulação.
Mas este é um fenómeno muito maior. Extravasa o desporto, ou melhor, encontra-se enraizado na cultura e sociedade em geral, sendo o desporto apenas mais um campo da sua manifestação e que, na realidade, até contribui para que a sua visibilidade aumente e que possam ser consideradas medidas mais abrangentes.
O exemplo do sucedido com o atleta do FC Porto foi mais um exemplo disto mesmo, onde a falta de empatia e solidariedade, a falta de noção de “tribo” e comunidade se viu reflectida num atleta que abandonou sozinho um campo de futebol, permanecendo os restantes atletas em campo (sendo, portanto, “coniventes”). Colegas de equipa que, face ao evento, não tiveram o discernimento de se solidarizar, colegas de profissão (da equipa adversária) que também validaram este tipo de actuação ao não interromper de imediato a sua participação no jogo, adeptos de ambas as equipas que assistiram passivamente a todo este “circo”.. – enfim, todo um conjunto de pessoas que, em boa verdade, validaram no momento um comportamento (racismo) que, imagine-se, em contexto de redes sociais, certamente recriminaram.
A discriminação (entre raças, géneros, de classes, espécies, orientações sexuais, politicas ou religiosas) é tão somente uma “arma” de arremesso e subjugação que uma cultura que teme a diferença teima em promover, muitas vezes, até com a exibição de um “orgulho doentio” que mais não é do que a manifestação da maior das fragilidades: a falta de amor e respeito por si próprio, que só pode terminar na falta de respeito pelo “Outro”.
É na realidade, um “exercício de pequenez”, mas um exercício que pode e deve ser resolvido se enquadrado devidamente na sua verdadeira expressão: gerado geracionalmente por uma cultura que se instalou de forma involuntária e inconsciente, só pode ser combatido com medidas que transcendam todos os sectores da sociedade (do nosso lar, às escolas, clubes, empresas e organismos estatais e outros), também elas geracionalmente planeadas (logo, com expressão a curto, médio e longo prazo) e socorrendo-se de equipas multidisciplinares onde os egos não disputem uma melhor solução a curto prazo, mas sim estabeleçam como missão a possibilidade de vir a encontrar um conjunto de medidas e estratégias sistematizadas que possam erradicar este tipo de comportamentos do DNA de Portugal e dos Portugueses.
Este não é um tema de solução nem fácil nem rápida e, não sendo encarado desta forma, lamentavelmente, o “basta” de Marega será apenas mais uma “moda viral” que, com a brusquidão com que surgiu, também desaparecerá."

Tóquio 2020: estamos preparados!

"Faltam 153 dias para Tóquio ver acender a chama olímpica pela segunda vez na sua história.
O que nos move, o que nos entusiasma na participação de Portugal é concretizar o sonho, a ambição de muitos atletas, de técnicos, de dirigentes que tanto se empenham em confirmar as suas credenciais desportivas numa competição tão especial, que ultrapassa em muito, quer no plano mediático, quer no reflexo das respectivas carreiras, os Campeonatos do Mundo das respectivas modalidades.
Há poucos dias, Helena Cunha, uma atleta olímpica de Ginástica que participou nos Jogos de Roma de 1960, dizia que tinha o sonho de ir aos Jogos Olímpicos desde os oito anos. Esse sonho, mesmo numa altura em que o mediatismo dos Jogos não era o mesmo, era alimentado pelos valores do respeito, da amizade e da excelência. A sua concretização é recordada por todos os atletas olímpicos como o momento mais marcante das suas vidas desportivas.
Em 1960, as aldeias olímpicas ainda eram diferentes para mulheres e homens. O aprofundamento da relação entre os povos, um dos princípios de Pierre de Coubertin, inspirava atletas e colocava o acento tónico no romantismo da participação, mas premiando a competição.
Seguindo a evolução dos tempos, e com o reforço financeiro adequado, a preparação olímpica portuguesa para Tóquio 2020 tem seguido os objectivos a que atletas, treinadores, federações e Comité Olímpico de Portugal se propuseram.
Estamos, por isso, preparados para enfrentar os adversários e entrar com toda a força na dura competição que se fará sentir entre 24 de Julho e 9 de Agosto. Estamos preparados também com os nossos parceiros: empresas, instituições que se associaram há vários anos ao movimento olímpico e que, nesta altura, estão já a celebrar as qualificações dos nossos atletas ou as suas classificações mais relevantes. E que estarão muito junto deles no momento da competição olímpica.
Ontem reunimo-nos com todos os parceiros no Comité Olímpico de Portugal e sentimos a vontade comum de puxarem pela Equipa de Portugal nos Jogos. É um País inteiro que quer sentir o sucesso, que quer respeitar os atletas, que queremos que confirmem, nos Jogos de Tóquio, as marcas com que se apuraram.
O movimento desportivo reclama uma maior autonomia e menor dependência do financiamento público: é com estes parceiros que contamos para cumprirmos o objectivo de um envolvimento nacional, que rasgue com o sistema instalado.
Este sentimento de pertença a um País, de vibrarmos com as prestações desportivas dos nossos atletas, tem de passar de todos os envolvidos no fenómeno desportivo para os dez milhões de corações que não ficarão indiferentes a qualquer momento em que um destes magníficos atletas pisar o pavilhão, a pista, nadar, saltar ou surfar nas ondas do Pacífico.
Esta onda de entusiasmo tem de ser sentida pelos atletas, pelos parceiros, pelos Portugueses. A 100 dias dos Jogos, no próximo dia 15 de Abril, estaremos todos juntos, formaremos a Equipa Portugal e diremos a Portugal inteiro:
Estamos preparados."