"Talvez por ser como era na sua genialidade (e na sua rebeldia) Romário disse-o, desconcertante:
- Treinador bom é treinador que não atrapalha.
Concordo (ou se calhar não). Para mim, treinador bom é o que é capaz de pegar numa equipa e levá-la, através do seu espírito e seus saberes, do sítio onde a apanhou para sítio bem melhor (cada vez melhor). Foi o que Bruno Lage fez no Benfica - e continua a fazer. E continua a fazê-lo por ser capaz de mostrar que o bom futebol (e o bom resultado) também é feito de algo que não se vê no campo mas existe, decisivo: da alma que injecta a paixão, da inteligência que torna mais eficazes ideias e talentos, das empatias que não criam engulhos ou corpos estranhos quando se desafia o destino.
Mostrando o seu suave coração, Vicente del Bosque atirou-o a sete ventos:
- O meu estilo de liderança é de líder amável. Não acredito na liderança agressiva, estou convencido de que se conduz melhor um grupo através das boas maneiras do que através da agressividade, seja onde for, com quem for...
Por ser assim também é que Bruno Lage tem (depois da vitória em Alvalade e do harakiri do FC Porto com o SC Braga) mais um campeonato ganho - não é tanto por ter atrás de si a «estrutura» que tem, não é tanto por ter clube a beneficiar de «colinho» ou de «VAR aberto». E por ser assim é que Lage é ainda mais: o «excelente treinador» que se vê na filosófica tirada de Alex Fergusson:
- Um bom treinador consegue que os seus jogadores acreditem nele. Um excelente treinador consegue mais: consegue que os seus jogadores acreditem neles mesmos, neles próprios...
PS: Na vida, como no futebol, há nos perdedores uma característica primordial: o reclamarem muito, o queixarem-se mais - de erros alheios, de infelicidades, de injustiças. E sim: estou a pensar no FC Porto (e em Pinto da Costa e em Sérgio Conceição) - porque isso ainda é pior em quem já foi vencedor e vai deixando de o ser por culpas próprias, sobretudo..."
António Simões, in A Bola