quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

Os primeiros sinais de Weigl

"A contratação de Julian Weigl custou 20 milhões de euros ao Benfica. Uma contratação na faixa pequena-média para a Europa dos ricos, mas uma contratação cara para o futebol português. Terá sido, por isso, uma contratação bem pensada e avaliada ao nível técnico e ao nível da gestão. Aliás, registe-se que a contratação de Weigl ao Borrusia Dortmund, onde não era, propriamente, um suplente, constituiu uma surpresa pela invulgaridade de um clube português conseguir pescar em águas navegadas pelos big five.
Lage ficou contente e a prova disto é que ainda o alemão não se tinha ambientado ao Seixal e à Luz e já jogava como titular, o que é um sinal óbvio de confiança no jogador. No primeiro jogo, Weigl substituiu Taarabt, que estava impedido de jogar e, nesta terça-feira, rendeu Gabriel, embora acabasse por ocupar o lugar de Ferro, como defesa-central.
Daquilo que se conseguiu ver, parece indiscutível a sua qualidade técnica e táctica. Um jogador competitivo, maduro, que sabe pisar o campo e que compreende facilmente o jogo. No entanto, será curioso reflectir sobre uma evidência: sendo Weigl um médio muito forte na transição de jogo em transporte e capaz de funcionar como um êmbolo na zona central do campo, percebe-se que, dada natureza do futebol português, não muitas vezes Weigl terá oportunidade de fazer o que melhor o pode diferenciar de um Florentino ou, mesmo, de um Gedson, que acaba de assinar pelo Tottenham, de José Mourinho. É verdade que também pode fazer, e bem, de central, o que, no actual momento de Ferro, pode torna-se numa providencial virtude."

Vítor Serpa, in A Bola

Em cheio, à 6.ª-feira!

"Dragão e Alvalade: muito 'a doer'. Apontando ao dérbi: esqueçam o abismo de 16 pontos... Porém, soluções de Jorge Silas face às de Bruno Lage...

Noutra mirabolante cena de retorcido/obtuso calendário, dia em cheio... numa 6.ª-feira! Nada menos do que Sporting - Benfica e FC Porto - SC Braga - nos últimos anos, claramente os 4 mais fortes do nosso campeonato (bracarenses estão agora um degrau abaixo, por grande mérito do intromedtisíssimo Famalicão; vai daí, mau grado estupenda carreira europeia, lá partiu Sá Pinto, mais um treinador insuficiente no conceito presidencial, dando a vez a surpreendente aposta no estreante Rúben Amorim).

Sporting. Alvalade terá estranhissimo arranque do dérbi: abismo de 16 pontos entre eles! Óbvias razões de tal acontecer. Porém, há tão-só duas semanas, ali um Sporting vitiminado esteve perto de travar - até derrotar - o FC Porto... E, a par disso - para não frisar que acima de tudo... - surge o outro lado lunar...: o modestíssimo objectivo para este campeonato então anunciado por Silas (ultrapassagem ao Famalicão... - ou como foi tão realista quando ingénuo na forma de se expressar...) vale zero ao pé da importância de vencer... o Benfica. Magna questão de pergaminhos em secular rivalidade (hoje muito mais sentida por sportinguistas do que por benfiquistas, face a tantos anos que estes levam a discutir grande maioria de títulos com... FC Porto).
Neste dérbi, esqueçam lá isso do abismo de 16 pontos; teremos Sporting hipermetido em brios e Benfica, líder com FC Porto à perna, muita necessitado de vencer.
Prognóstico? Dá para sorrir...
Prevejo, sim, 2 graves baixas sportinguistas. A de Vietto, inevitável, ao que se tem dito, por lesão. Decerto também a de Coates, pois não acredito que pegue o recurso contra o 5.º cartão amarelo (nada a ver com a recente, e justíssima, despenalização de Bolasie - árbitro assumiu flagrante erro; agora, erro, se houve, flagrante não foi).
Silas sem pilar da defesa; e sem o avançado mais dinamicamente criativo. Muito duro, num plantel com alternativas que convincentes não têm sido.
Bruno Fernandes: pela última vez, o mais poderoso trunfo. Passava pela cabeça de alguém que o seu adeus tivesse sido na mesquinhez de circunstâncias em que o Sporting foi a Setúbal?! Claro que estará no dérbi. Ainda mais ímpeto querendo transmitir ao seu enorme talento, no dia da despedida. Esta tinha mesmo de acontecer. Quanto a mim, repito-me, não ter sido na pré-época foi mau para Bruno Fernandes e nada bom para o Sporting... tão necessitado de dinheiro para construir mais equilibrado plantel.
Quanto ao onze que Silas vai escolher (Ilori rendendo Coates), avanço duas dúvidas: Acuña salta da defesa para, na ausência de Vietto, mais vincadamente ser força atacante?; ou meio-campo reforçado, Doumbia-Battaglia-Wendel, explosão pela ala esquerda entregue a Bruno Fernandes?

Benfica. Ferro recupera de lesão? (por causa dela o mau rendimento face ao Rio Ave?). Se não recuperar, lá terá Weigl, médio recém-chegado, de ser defesa-central... (outra hipótese: adaptação de Samaris...). À direita, capitão André Almeida, mesmo só um jogo tendo feito após longa baixa clínica?; miúdo Tomás Tavares aproveitou para pedir meças, exibindo consistência de alta qualidade, aos 18 aninhos.
No meio-campo, aquisição de Weigl sugere incremento de qualidade. Se Bruno Lage mantiver apenas dois médios centrais (se...), cerrada disputa entre Gabriel, Taarabt e Weigl (Samaris à espreita...; o talentoso Florentino, que Lage lançou, tanto dele gostando, atravessa eclipse, quiçá natural aos 20 aninhos...).
Não creio que Rafa, vindo de grave lesão, possa já ser titular; nem na esquerda (nesta altura, seria tremenda injustiça para o galvanizadíssimo Cervi), nem em vez de Chiquinho, a quem ainda falta golo...; mas muito importante tem sido na movimentação ofensiva - mais fortes ajudas à linha média.
Vinícius, ou Seferovic embalado pelos decisivos 2 golos? Surpresa seria... ambos. O que, de início, implicaria risco de súbita mudança estrutural no modelo de jogo...

Pois é... No todo, o potencial de qualidade para alternativas de que Bruno Lage dispõe é bem superior ao de Jorge Silas. O mesmo, garantidamente, é verdade para Sérgio Conceição; por isso, em Alvalade, chegado o tempo de treinadores chamarem suplentes, o FC Porto acabou por se impor. Outra verdade: o primeiro, e melhor, onze do Sporting foi capaz de 20 minutos pertinho de vencer... E, fundamental!, dérbi é dérbi."

Santos Neves, in A Bola

De roubo em roubo até ao Jamor...!!!

"E é isto. De fininho, sem que ninguém fale em público. Mais uma eliminatória e mais um roubo do tamanho dos Clérigos a favor do Calor da Noite. Isto depois da eliminatória passada onde Veríssimo nos brindou com um ataque de cegueira a um empurrão ostensivo dentro da área de Corona a um jogador do Santa Clara.
Ah, e contra o Varzim o árbitro foi aquele que eles dizem que os prejudica e não tem condições para arbitrar na 1ª Liga! Isto já depois deste mesmo árbitro lhes ter marcado o penalti em Portimão em que o jogador corta a bola com o peito e lhes ter prolongado o jogo até marcarem o golo da vitória!
😂 
Rir, rir muito.

https://www.cmjornal.pt/desporto/futebol/detalhe/fc-porto-ataca-arbitro-rui-costa"


PS: Apesar de tudo, temos que dar mérito ao autor desta crónica, pois a maioria dos jornaleiros e expert's apitadeiros, acobardaram-se e mentiram na análise no 1.º golo dos Corruptos, afirmando que o Mbenba tocou na bola no lance com o Ruiz!!!
Os mesmos expert's e jornaleiros, no jogo da Luz, com o Aves, primeiro criticaram a BTV por não mostrar repetições da recuperação de bola do Ferro no 2.º golo do Benfica; e mesmo sem a tal repetição 'garantiram', quase todos, que o Ferro fez falta, e o VAR devia ter anulado o golo do Almeidinhos!!! Portanto, ficaram com dúvidas, não viram, mas ficaram com a certeza que o golo devia ter sido anulado!!!
Sendo que as imagens do André Bello, por acaso, confirmam que não houve qualquer falta, e que o Ferro cortou claramente a bola...!!!

Uma Liga às moscas

"Num país onde existem três clubes e o resto é paisagem – para o bem e para o mal que isso possa significar – é incompreensível como se agendam partidas para depois das 21 horas e fora do fim de semana. Com clubes espalhados, felizmente, ao longo de todo o país, o adepto é o mais prejudicado na hora de se deslocar ao estádio.
Recorrendo aos dados oficiais da Liga, nestas 16 jornadas foram disputadas 144 partidas divididas da seguinte forma: cinco na quarta-feira, três na quinta-feira, 17 na sexta-feira, 46 no sábado, 60 no domingo e 13 na segunda-feita.
São 38 jogos durante a semana contra 106 no fim-de-semana. Seria, apesar de tudo, um rácio agradável se não fizéssemos ainda a meio da competição… A este ritmo, podemos ter 70 partidas fora durante a semana onde os adeptos terão maior dificuldade em comparecer ao estádio, prejudicando os clubes não só na falta de apoio, mas também nas bilheteiras.
Se mais questões houvesse quanto à preferência do adepto comum em relação ao dia ideal para assistir ao vivo ao seu clube, as médias de assistências comprovam-no e dissipam qualquer dúvida. Até à décima sexta jornada, a assistência média nos jogos da quarta-feira ronda os 13500 espectadores. Tendo em conta que um dos cinco jogos envolveu um dos três “grandes”, é muito pouco.
No caso das partidas realizadas à quinta-feita, a média pouco passou dos 4000. Paupérrimo. À sexta-feira, a média dos espectadores no estádio sobe quase até aos 7000, mas nada se compara às de sábado e domingo. Ainda que a maior parte dos jogos se realizem nesta data, incluindo os três grandes em suas casas, também os clubes de menor dimensão registam subidas nos números de bilhetes vendidos, como são exemplos claros o Boavista FC ou mesmo o Vitória FC.
Ao sábado, a assistência média nos estádios da Primeira Liga ronda os 14500, ao domingo os 11000 e à segunda-feira os 7200. Os casos excepcionais de quarta e quinta-feira devem ser ignorados nesta contabilidade por se tratarem, claro está, de excepções. Assim sendo, os dias da semana são, de longe, os piores no que toca a assistência, mas para o saber não era preciso fazer disto um caso de polícia.
Mas se ao fim-de-semana pelo menos um dos três grandes joga em casa e até juntando um SC Braga ou um Vitória SC, porque é que a assistência média continua a ser tão fraca? No topo dos clubes com maior assistências está o SL Benfica. De longe. Sem surpresa. Nas nove partidas realizadas em casa até ao momento, os encarnados registam uma média de 53800 espectadores. Acima dos 80% da capacidade do seu estádio.
Trata-se, provavelmente, do clube português com mais adeptos em Portugal e não admira que encha constantemente o seu estádio. Esta média é estragada pelos clubes que se seguem nesta lista. Ou melhor, nem todos; FC Porto, Sporting CP, SC Braga e Vitória SC não apresentam registos assim tão maus quanto isso.
Seguindo a ordem dos clubes que mais adeptos levam aos seus estádios, surge bem atrás o FC Porto, com média de 35000 espectadores. De seguida surgem o Sporting CP com 32100 e os rivais do Minho; Vitória SC com perto de 18000 e SC Braga com média de 9395. Pode argumentar-se que uns receberam grandes equipas e, por isso, conseguiram mais enchentes, mas esta é a contabilidade até ao momento.
No extremo oposto, o pior cenário da Liga e nem em pesadelos se esperava pior, está o caso do Belenenses SAD, que registou as três piores assistências da Liga. Nas jornadas quatro, seis e dez, o estádio Nacional do Jamor recebeu 1213, 821 e 1170 adeptos, respectivamente. Os três registos juntos não enchiam o estádio João Cardoso, em Tondela, aquele com menor lotação da Primeira liga. Dá que pensar…"

Jogo importante

"Amanhã, às 21h15, menos de 72 horas após o término do jogo com o Rio Ave, a nossa equipa voltará a entrar em campo para disputar mais uma partida, desta feita em Alvalade, com o Sporting, fechando a primeira volta do Campeonato Nacional. Naquele que é, de acordo com o histórico, o jogo com resultado mais imprevisível do futebol português, só há uma certeza: independentemente do resultado, a nossa equipa sairá de Alvalade na liderança do Campeonato.
De facto, nos 85 encontros do Campeonato em que visitámos o Sporting, vencemos 33, empatámos 21 e perdemos 31. O equilíbrio faz-se notar também nos golos: 124 marcados; 123 sofridos (nota: estes são os registos correctos – há um erro amplamente difundido que está relacionado com a temporada 1951/52, em que a ordem dos jogos de ambas as voltas é erradamente apresentado).
Além do histórico, existem as circunstâncias. As mais salientes têm a ver com a classificação actual do Campeonato, nomeadamente a nossa liderança e a diferença pontual para o Sporting, além da possibilidade de a nossa equipa obter a 17.ª vitória consecutiva fora de portas em jogos do Campeonato, o que, caso aconteça, será a melhor série de sempre.
Mas se há característica que distingue um Sporting-Benfica para o Campeonato é que nem o histórico, nem as circunstâncias costumam deixar antever o que se passará numa partida em particular. Já vimos grandes equipas do Benfica a perder em Alvalade, assim como obtivemos grandes vitórias em épocas de menor fulgor.
O que sabemos é que o jogo tem todas as condições para ser muito disputado, naquele que é o confronto com maior tradição no futebol português (o primeiro dérbi já aconteceu há mais de 112 anos; houve 435 jogos, 345 dos quais em competições oficiais).
Além disso, independentemente da competição, do adversário ou do local de realização de um jogo, o objectivo do Benfica passa sempre por vencer. Para tal, ainda mais por se tratar de um forte oponente, um grande do futebol português, necessitaremos de concentração, humildade, ambição e muita competência.
Resta-nos apelar ao desportivismo, ao respeito entre ambas as equipas e adeptos e que todos estejamos à altura de um dos jogos mais apaixonantes do futebol português. Os dados estão lançados. Que o sejam a nosso favor! 
#PeloBenfica

P.S.: A presença do Sport Lisboa e Benfica, representado por Luisão, Rodrigo Magalhães (coordenador técnico da iniciação do Futebol de Formação) e Filipe Coelho (treinador dos Juvenis), na Convenção de treinadores da United Soccer Coaches – a maior associação de treinadores do mundo – que decorre esta semana em Baltimore, é mais um sinal do reconhecimento generalizado, a nível internacional, da competência do trabalho desenvolvido no Benfica Campus. Rodrigo Magalhães e Filipe Coelho apresentam sessões práticas e teóricas focadas no programa do Benfica “De promessa a profissional”."

Desmontar mais uma mentira...



"Aí está o fundo a ser escavado ainda mais...estamos longe de lá bater enquanto os intervenientes no futebol continuarem a ser as personagens da estirpe dos JMarques.
Hoje foi colocado a circular umas imagens de Rui Costa a trocar umas palavras com Artur Super Dragão à saída dos balneários da Luz no intervalo do jogo de ontem. O grave disto é atribuírem a Rui Costa palavras que ele nunca disse e que, obviamente, servem os propósitos da campanha de intoxicação, mentira, calúnia, condicionamento e conspurcação levado a cabo pelos peões do Calor da Noite e do Cashball, sintonizada na famosa Cimeira Anti-Benfica no 12.º andar do hotel Altis Altis em Maio de 2017 – uma reunião em que participou também Manuel Tavares, director-geral do Calor da Noite Media. Esta inicialmente secreta reunião rapidamente foi divulgada e denunciou os participantes para aquilo que viria e continua a ser o maior ataque sem escrúpulos da história do futebol Português a um clube. Mas este foi um pequeno grande aparte, apenas.
Porque aquilo que vos queremos falar hoje é a nojice de um ser como Manuel Fernandes que mente como quem lava os dentes. Um filho da puta, basicamente. Perdoem-nos o palavreado mas para lixo deste não há outras palavras.
Está nas vossas mãos deixarmos esta gente sem o pão para a boca pelo que é vital que o programa desportivo em questão da SICN (assim como outros, aliás), com lixo de gente desta, não tenha o contributo de Benfiquistas para audiência.
Ainda assim, e porque ainda temos alguma consideração por Paulo Garcia, moderador do programa, e ainda o temos como gente idónea, não esperamos mais do que um pedido de desculpas públicas aos citados e ao clube Benfica pela mentira rasteira que fez com que todos os intervenientes tenham ocupado tempo do programa do qual é moderador a falar de uma mentira cobardemente plantada por um filho da puta."

Cadomblé do Vata (calendário)

"Nas conferências de antevisão e pós SL Benfica - Rio Ave FC, Bruno Lage falou do horário do jogo, mostrando não entender a marcação de um jogo dos quartos de final da Taça de Portugal para uma terça feira às 21h15 e pedindo reflexão. No dia seguinte, os adeptos aceitaram o repto do técnico setubalense e reflectiram: os benfiquistas reflectiram longamente sobre o penalty não assinalado sobre o Chiquinho que culmina no segundo golo rio avista; os anti-benfiquistas reflectiram sem parar na falta não assinalada sobre Taremi que teria valido o segundo amarelo a Rúben Dias.
O que parece um parágrafo a condenar os adeptos de futebol portugueses, é na verdade um dedo no nariz do treinador do Benfica. Pode até ter falado bem, mas não no tom indicado para os fãs do pontapé na bola nacional. O que Bruno deveria ter dito era "por intervenção de Carlos Xistra, a Liga portuguesa é a que menos jornadas tem disputadas entre as principais ligas europeias (temos 16 jornadas e há quem já vá em 20). Mesmo assim, Fábio Veríssimo não conseguiu arranjar um filho da mãe de um fim de semana para se disputarem os quartos de final da (suposta) Prova Rainha do futebol português. Desta forma, não restou alternativa a Jorge Sousa senão marcar o FC Porto - Varzim SC para as 18h00 de uma terça feira e Soares Dias teve que agendar o SL Benfica - Rio Ave FC para as 21h15 do mesmo dia. Como Hugo Miguel deixou o calendário futebolístico altamente entupido de fins de semana sem jogos, Rui Costa viu-se obrigado a marcar o FC Porto - SC Braga da 17ª jornada da Liga para as 19h00 de uma sexta feira, dia em que João Pinheiro mandou disputar o Derby Eterno às 21h15. Agora reflictam".
Na semana passada, vi a longa-metragem pastilha elástica "Treinador Carter". Num daqueles guiões de drama americano, Samuel L. Jackson vai perguntando a um atleta ser "Sr. Cruz, qual é o seu maior medo?". Não recordo a resposta do miúdo, mas sei que se a mesma questão fosse colocada a um adepto de futebol, a resposta seria: o meu maior medo é que um génio da robótica invente um árbitro biónico e infalível. Nesse dia o futebol perde a piada toda para mim."

A culpa é nossa

"Vem este texto a propósito da mais recente vitória do Sport Lisboa e Benfica sobre o Desportivo das Aves, na qual os encarnados muito sofreram e venceram por 2-1 um adversário que, sejamos francos, pouco parecia ter para oferecer. Mas ainda bem que trouxe dificuldade acrescida ao jogo. Entre tantos outros motivos, serve para que o espectáculo tenha maior interesse e, sobretudo, para que o Sport Lisboa e Benfica não durma na sombra da sequência de vitórias que actualmente ostenta e recorde que cada jogo vencido é um jogo a menos na lista de batalhas rumo ao 38.
Mas a crónica do jogo jogado, essa, deixo-a para os mais entendidos.
Este jogo, após o final do mesmo, voltou a gerar aquilo que apenas as vitórias do Benfica conseguem gerar: alegria imensa (e alívio!) em 6 milhões de pessoas, e uma frustração e destilar de ódios e disparates imensos por parte de adeptos rivais. Unidos num propósito maior de que o bem-estar dos próprios clubes que apoiam (?) estes adeptos abraçam juntos a missão de pôr em causa todo e qualquer ponto conquistado pelo Benfica.
O expoente máximo desta postura tem reflexo nas figuras que diariamente opinam nos mais diversos espaços de comunicação onde insistem em fazer dos adeptos de Porto e Sporting aquilo que não são: burros.
O expoente máximo dos expoentes máximos é a figura do director de comunicação do Porto (e seus "adjuntos"). Segundo li esta semana, Janeiro leva 13 dias e esta pessoa publicou até ao momento 16 posts nas redes sociais. Destes, 15 sobre o Benfica.
Está mais que explicada, para quem ainda duvidasse, qual a utilidade deste cargo naquela estrutura. No Sporting existiu num passado recente cargo similar, cujo responsável, apesar de actualmente votado ao esquecimento, espero que possa um dia responder por tudo o que disse e fez. É incompreensível como a Liga pactua com a existência deste gente que orbita à volta do planeta Futebol afundando-o na lama e na podridão, sem qualquer interesse por um jogo mais limpo e cordial, sem qualquer interesse que não seja criar barulho, suspeição e ódio.
Calma, que no Benfica também os temos.
Mas também é incompreensível que Federação e Governo pactuem com a Liga neste olhar-para-o-lado. Numa era onde somos actuais campeões da Europa em futebol 11 e Futsal, campeões do Mundo em futebol de praia, temos os melhores treinadores do Mundo, melhor agente, melhor jogador do Mundo nestas 3 modalidades, continua a ser permitido este continuo rebaixamento da competição. Se a Liga não aproveita este momento para exportar o produto "Futebol Português", quando o vai fazer? De que tem medo o seu presidente? Ou de quem? Vivo em Espanha e aqui, simplesmente, não se fala de futebol português! Não tem interesse, ninguém quer saber, ninguém perde tempo. Alguém na Tailândia vai acordar às 04h para ver um Gil Vicente - Belenses SAD? ISTO é que devia preocupar a Liga.
Exigem-se medidas urgentes contra este tipo de comunicação assassina. Assassina do Futebol, do espectáculo, da sã convivência entre adeptos e, porque não assumir, dos lucros que o futebol gera e dos quais se alimenta. Dos quais esta gente se alimenta! Eles não querem saber. Amanhã dedicam-se a outra coisa e vem outro para o seu lugar.
Entretanto foram metendo o pão na mesa, mas os danos, esses, ficam. Eles não se preocupam se o seu clube voltar a ser patrocinado por uma empresa de azulejos ou por uma marca de queijo amanteigado, sempre e quando o Benfica perca os actuais patrocínios (valores económicos à parte, existirão poucas combinações no panorama actual do futebol tão apetecíveis como Adidas/Emirates).
Eles não se preocupam em serem adeptos de um clube que escreveu as páginas mais negras na história do Futebol, com repercussão nacional e internacional, com as consequências que todos conhecemos: uma assumpção de culpa, com a vergonha de saberem que apenas por meras formalidades não foram aceites em tribunal as provas que, num terceiro intento, os enviariam para a 2ª Divisão.
E a culpa de tudo isto é nossa. É dos adeptos. É das pessoas que religiosamente pagam os seus RedPass, é das pessoas que religiosamente assistem aos jogos nos estádios em casa e fora, que religiosamente se juntam ao domingo no Café Central da aldeia para ver o jogo. A culpa é de quem ainda dá clicks nestas insinuações assassinas que publicam os sites desportivos, a culpa é de quem, involuntariamente, permite que vá existindo dinheiro para pagar a esta gente.
No dia em que os adeptos faltarem ao jogo e faltarem aos clicks, nesse dia pode ser que o presidente da Liga perceba que o importante somos nós, são os adeptos. E que essa gente tem de ser expulsa. Para sempre.
Até lá, a culpa vai ser sempre dos adeptos."

Porto, terra de árbitros

"Há dias em que somos surpreendidos com convites antes impensáveis, como este, do JN! O que seria natural, para quem, como eu, nasceu no Porto e se habituou a ler o JN não fosse ser do Benfica, desde que nasceu!

E quem é do Benfica não pode ser conivente com tanta coisa que se passou e passa no futebol português! Ainda assim, da surpresa ao orgulho pelo convite, com a promessa de ser igual a mim mesmo. Combatendo pelo que acredito!!! Muito obrigado.
E para que não me digam que perco tempo com coisas menores, vem-me à ideia - reforçada pelas últimas nomeações de árbitros - que há quem julgue que o Porto tem uma queda especial para ter árbitros bons! Tal como há quem ache que, só pelo facto de ser português, um treinador será sempre muito bom, com consequências a nível de resultados (cada vez mais erradamente), também o Conselho de Arbitragem acha que o facto de ser do Porto fará de um árbitro um árbitro muito bom! Nada mais errado!
E como com a diminuição da competitividade do futebol português todos vão arranjar desculpas com os árbitros, isso aconselharia a uma maior exigência com essas escolhas! Chega de erros de base assentes em princípios errados! Porque o Porto só poderá ter os melhores árbitros de Portugal - os que merecem ser nomeados para todos os jogos - numa perspectiva... azul e branca! Mas o melhor é ficar por aqui que a coluna tem de durar muito tempo!!!
Bom ano!!!

Em cima
Seferovic está de volta aos golos! E o Benfica bem precisa dele, atendendo aos jogos que aí vêm. Antes era Vinícius, agora é o suíço que brilha em poucos minutos em campo! "Sorte" de quem põe os adversários preocupados com quem joga de início!

Em baixo
A morte de Paulo Gonçalves no Dakar. Todos ouvimos contar sobre isso, em cada ano que passa. Até percebermos que, de mera estatística, a morte, também no Desporto, nos pode surpreender a cada curva da estrada, a cada recta do deserto!"

Vítor Frade, o grande influencer

"Vítor Pereira é um dos discípulos óbvios, Carlos Carvalhal também, Jorge Jesus teve-o na equipa técnica em Felgueiras, Fernando Santos, concede o próprio, mudou os conceitos de treino devido a ele, Mourinho e Villas-Boas conheceram-no de perto, Luís Castro tornou-se amigo para a vida, Paulo Fonseca é marcado por Jesus mas admite que todos aprenderam indirectamente com o velho mestre, e a lista seria interminável. De uma forma ou de outra, a conclusão é a mesma: ninguém como ele influenciou tantos e tão profundamente. Chama-se Vítor Frade o maior revolucionário silencioso do futebol português.
Pepijn Lijnders, hoje braço direito de Jurgen Klopp no Liverpool, chegou ao Porto vindo do PSV para mudar o futebol jovem dos dragões. Mudou ele próprio também. Holandês, carregava a influência forte de Johan Cruyff – como não? – mas também de Wiel Coerver, histórico técnico do Feyenoord, igualmente apóstolo de um jogo de iniciativa e sedutor, e que deixou o legado de um método de treino a que deu nome. «Frade está nessa categoria, de Cruyff e Coerver», disse há dias. E não há elogio maior. Lijnders reconhece em Vítor Frade o homem que lhe transformou ideias em princípios e o fez perceber que é preciso treinar como se quer jogar. Muito jovem, o holandês que chegou cá como especialista do desenvolvimento individual, partiu convicto de que o essencial é colectivo. 
Antigo futebolista de gama média, com passagem pelo Boavista, Vítor Frade jogou também voleibol, antes de se tornar preparador físico de tantos – históricos como os portugueses Mário Wilson e José Torres, o brasileiro Pepe, o croata Tomislav Ivic e o inglês Bobby Robson, mas também Henrique Calisto, João Alves, Jorge Jesus, Carlos Brito e Fernando Santos – e mais tarde, ironicamente, o maior negacionista de que a preparação de um atleta possa ser essencialmente física. A par do trabalho de campo, estudou, na junção que mais qualifica, entre o saber livresco e o empírico, e criou, criou mesmo, uma metodologia, já lá vão 35 anos, a hoje universalmente difundida «Peridização Táctica». Em termos lineares trata-se da subordinação dos períodos de treino a uma matriz sempre táctica (do jogo que se pretende jogar) mas reveste-se de uma complexidade que motiva teses de doutoramento em vários pontos do mundo e não seria fácil de traduzir nestas linhas. Um bom início, todavia, é perceber o conceito de especificidade: se o futebol é um jogo em concreto, a preparação desse jogo tem de ser específica e não comum à de outras modalidades. Futebol é futebol. E jogo e treino não se separam.
E porque se fala tão pouco dele em termos públicos? Por duas razões fundamentais: porque não é efectivamente simples o entendimento completo da metodologia que criou e, por via disso, do efeito provocado, mas também por ser avesso à publicidade, pois recusa quase todas as entrevistas. Claro que outros antes trabalharam o treino e o jogo, e nenhuma justiça seria feita sem referir, desde logo, Jesualdo Ferreira e Carlos Queiroz, mestres do estudo e da prática, que o futebol só parcial ou tardiamente reconheceu. Ainda assim, têm ambos hoje esse reconhecimento público, que o tempo é a grande peneira da justiça e eles aí estão, um a caminhar para os 70 anos e outro já para lá deles, mas a dirigirem seja uma das principais selecções mundiais (Queiroz, na Colômbia) ou um dos maiores clubes do Brasil (Jesualdo, agora no Santos).
Frade viveu sem esse mediatismo, fez a revolução por dentro, ligando o cheiro a bálsamo dos balneários ao aroma do giz na ardósia, na faculdade onde deixa aulas lendárias, longas exposições em que o vernáculo tem sempre lugar, próprias de orador em ebulição constante, torrente de conhecimento com conceitos cruzados que importa da filosofia, da psicologia, da medicina e concretamente das neurociências que tanto o estimulam por estes dias. Recusa escrever livros, selecciona antes artigos, a que apensa anotações à mão, muitas vezes em rima, para distribuir como sebentas informais por uns quantos felizardos, ainda hoje. Chamam-lhe ortodoxo, mas é sobretudo convicto, humilde sem ser modesto, que sabe o muito que sabe, mas também desce ao terreno da discussão com um conhecedor comum, desde que o motive. E adora ser desconcertante, pelo que compra controvérsias sob a forma de perguntas para lançar debates singulares durante horas. É um ser raro, irrepetível. Nuns 75 bem vividos e mentalmente invejáveis, é elementar dizer em voz alta, neste tempo que é os dos infuencers de tudo e nada, que ninguém em Portugal e muito poucos na história do jogo o influenciaram tanto, em particular nas últimas décadas, quanto o homem de Vila Franca da Beira que se tornou portuense para sempre. Chama-se Vítor Frade e é um imperativo de consciência valorizá-lo. Que o futebol e país o saibam fazer, que ele não o irá nunca reclamar.

Nota colectiva: Quique SetiénAleluia: O Barcelona vai voltar a ter um treinador à Barcelona, daquelas que acreditam no jogo posicional, de risco, que valorizam o contacto com a bola e não negoceiam estilos para conciliar perfis. Por isso a nota é colectiva, que o homem traz uma ideia para um grupo. Autor da frase lapidar “é quase certo que tereis razão, mas, se não vos parecer mal, prefiro equivocar-me á minha maneira”, surge com promessas de jogar bem e um lastro de que já o conseguiu, no Las Palmas e no Bétis. A maior dúvida é se vai dotar a equipa do equilíbrio táctico que é indispensável às grandes vitórias, mas a principal certeza é que o Barcelona deixará de ser uma coisa indefinida, dependente da inspiração dos seus craques. Pode gostar-se ou não, mas vai ser muito fácil distinguir o que é.

Nota individual – Uros Racic Está no meio campo do Famalicão um dos melhores projectos de craque que o futebol português exibe esta época. Chegou como 6 e a impressionar pelo físico, mas Racic está longe de ser o tradicional médio posicional vocacionado para o combate. Pode fazer mais que uma posição porque, sem renegar o esforço, sabe ter a bola, progredir e passar, perceber se é hora de agredir ou pausar, chegar à área para participar da finalização. Internacional jovem titulado pela Sérvia, está no Minho por empréstimo do Valência, pelo que não será fácil que o vejamos por cá muito mais tempo. Ainda assim, não duvido, entraria fácil no plantel de qualquer dos grandes e o futuro só pode ser risonho."

Benfiquismo (MCDXIII)

Real Casa Pia, 1897
Com 7 futuros Benfiquistas!

Calendarização, melhorar é preciso

"Com serenidade, sem dramas nem insultos, há que concluir que a calendarização do futebol português deixou, esta época, muito a desejar, interrupções da Liga que obrigam os adeptos a um esforço de memória para recordarem o estado da classificação; horários que não servem o futebol, apenas agradando aos operadores televisivos; e, mais recentemente, esta jornada dupla dos quartos-de-final da Taça de Portugal (FC Porto-Varzim e Benfica-Rio Ave), encavalitada na ronda que fecha a primeira volta da Liga, por ser turno em cima da final four da Taça da Liga...
Para a temporada em curso não valerá a pena chorar mais sobre o leite derramado, mas já de olhos postos na próxima época fica a convicção de que é possível fazer bem melhor, de forma mais harmoniosa e equilibrada.
E enquanto não chega a centralização de direitos televisivos, instrumento de progresso em toda a parte onde foi aplicada, Itália é o caso mais recente de sucesso retumbante (por cá, creio que vai sendo melhor continuarmos a esperar sentados...), talvez não fosse pior respeitar mais o espectador que vai ao estádio, que é a alma do jogo e não merece ser tratado com partidas a desoras, condições de segurança periclitantes e preços exorbitantes para um ordenado mínimo que é metade do praticado nos países dos big five (Espanha à parte, onde é apenas 30 por cento mais alto). A elitização, pela segregação económica, dos estádios é um perigo que não pode ser desvalorizado. Ninguém tem o direito de esquecer que o futebol é o que é a nível planetário pela forma como se afirmou, apaixonando as classes trabalhadoras no pós revolução industrial."

José Manuel Delgado, in A Bola

O adeus a “Speedy” Gonçalves

"Há perdas que tornam o mundo mais pobre. Esta é uma delas. Paulo Gonçalves perdeu a vida no domingo passado durante a sétima prova do Rally Dakar, que ligava Riade e Wadi-al Dawasir na Arábia Saudita, após uma queda a alta velocidade. O piloto português participava pela 13.ª vez na competição. As suas qualidades desportivas valeram-lhe uma excelente classificação na edição de 2015, tendo ficado em segundo lugar na competição.
Determinação, resiliência e bondade são os adjectivos que descrevem o carácter do piloto durante toda a sua carreira.
Em primeiro lugar, perseguiu sempre o sonho de um dia vencer a mais dura prova de todo-o-terreno do mundo. Em segundo lugar, para além de ser um piloto multifacetado e ter conquistado vários títulos nas modalidades disputadas, “Speedy” destacou-se sempre pela sua boa conduta moral cumprindo o código de ética existente entre os pilotos do Dakar: nunca deixar para trás um companheiro/amigo em dificuldades. Paulo Gonçalves, aventureiro, demonstrou vários exemplos de camaradagem. Por várias vezes o piloto interrompeu a sua prestação para auxiliar pilotos que sofreram quedas.
Na edição do Rally Dakar do ano de 2016, assistiu Matthias Walkner que era favorito à vitória. O piloto português era o líder da prova nesse dia e, ainda assim, optou por parar dez minutos e 53 segundos, o que lhe valeu o Prémio Ética no Desporto, do Instituto Português do Desporto e Juventude.
Resiliente pois, apesar de todas as adversidades, o piloto não desistiu e superou todos os obstáculos que lhe apareciam no caminho. Ainda relativamente ao Dakar, o piloto passou por uma fase infeliz sendo que em 2016, abandonou à 11.ª etapa, quando já contava com uma vitória em especiais, terminou em sexto em 2017, depois de ter liderado metade da corrida, e, em 2018, devido a uma lesão, nem chegou a começar a disputa. Em 2019, abandonou na quinta etapa, após uma violenta queda. Ainda assim, volta em 2020 com a intenção de se sagrar campeão na competição.
Apesar de o Dakar ter sido uma etapa muito importante da sua carreira, o percurso do piloto tem muita mais história por trás.
A paixão pelas motas surge desde cedo, graças ao seu pai e à sua oficina. Talentoso, as suas capacidades rapidamente foram reconhecidas. Inicia então nas corridas de motocross tendo sido um pequeno passo no que viria a ser a sua carreira.
Foi no motocross e no supercross que teve os seus primeiros sucessos, conquistando vários títulos nacionais. Nesta época, Joaquim Rodrigues Jr. era o seu maior adversário, quis o destino que mais tarde, aquele com quem disputava títulos, se tornasse seu cunhado.
A alcunha de “Speedy” Gonçalves advém da sua rapidez e da sua baixa estatura (1.68 metros) comparado com os adversários, que haveria de se tornar a sua imagem de marca, à semelhança dos desenhos animados de “Speedy González”. Mas, apesar da referida baixa estatura, o piloto compensava com a sua agilidade e capacidade atlética.
No início da década de 2000, acumulou o motocrosse com o Enduro, onde conquistou quatro títulos na categoria e um absoluto.
Foi na edição de 2006 que que se estreou no Rally Dakar com a vinda da competição para Portugal. Essa mesma edição do Lisboa-Dakar 2006 mostrou a fibra e tenacidade reconhecida ao piloto português. A sua determinação era tão grande que chegou a falar-se que, na altura, vendeu o seu Audi TT que tanto gostava para o ajudar no financiamento da sua primeira participação no Dakar. Uma queda logo na primeira etapa em Marrocos danificou bastante a mota. Acabou por passar parte da madrugada a tentar segurar as peças em cima da mota para conseguir chegar ao acampamento. 
Nesses dois anos em que a prova passou por território português, os resultados não foram brilhantes, (25.º e 23.º) mas aprofundou o seu gosto pela competição e foi acumulando experiência até chegar a realizar a prova na América do Sul.
A experiência acumulada começou a dar frutos e, em 2013, tornou-se no segundo piloto português a sagrar-se campeão mundial de ralis de cross-country.
Em 2015, conseguiu o seu melhor resultado no Dakar, ao terminar em segundo, tendo vencido uma especial.
Paulo Gonçalves era um benfiquista assumido e chegou a ser patrocinado pelo seu clube. Em 2019, trocou a Honda pela Hero onde encontrou o seu cunhado e grande rival de início de carreira, tornando-se companheiros de equipa.
Este ano enfrentou o Dakar com a mesma garra de sempre. Na terceira etapa, voltou a ter um ato de resiliência. Com o motor partido, o piloto esperou seis horas pelo camião de assistência e trocou o motor em plena etapa.
Paulo Gonçalves foi o 25.º concorrente a morrer em prova nas 42 edições do Rali Dakar. A morte do português causou uma enorme perturbação no mundo do desporto e não só. Muitas lágrimas foram derramadas no seu país por ter partido, muitas cerimónias e discursos em sua homenagem.
A sua morte levou, inclusive, Stephane Peterhansel, também piloto a competir no Rally Dakar, a questionar se a competição vale a pena o risco. Dúvida que fica no pensamento, não só de Peterhansel, mas de muitos desportistas, de muitos portugueses…
Após tantas quedas, tantos entraves a grandes vitórias, consecutivos problemas mecânicos, e após tantas soluções muitas vezes criadas com as suas mãos, o pior aconteceu. Paulo da Silva Gonçalves, deixa-nos aos 40 anos, enquanto um dos melhores pilotos de sempre do motociclismo português.
Que a sua alma descanse em paz.
Ficarás para sempre na nossa memória. O mundo do desporto motorizado ficou mais pobre. Até sempre, Campeão. Até sempre, “Speedy”."

Janeiro de emoções, confusões e milhões


"É compreensível a decepção e frustração do espanhol que quis voltar ao seu país. E fez bem o Benfica em o ter permitido

1. Jornada 16 com Benfica e Porto a sentir muitas dificuldades, mas a vencerem merecidamente. Aproximam-se jogos de grande importância que poderão ser decisivos, o primeiro dos quais é a ida do líder ao Estádio de Alvalade. Jogo sempre imprevisível, dada a sua natureza histórica e a ambiência que sempre o rodeia, independentemente das classificações ou ambições em disputa. Neste caso, com o Sporting a procurar salvar a época, que é, como quem diz, tirar pontos ao seu eterno rival, depois de por culpa própria não ter derrotado o Porto.
Contra o Desportivo das Aves nunca pensei que a vitória fosse tão difícil. Em abono da verdade e desde logo porque os avenses jogaram bem, amealharam um golo madrugador, não fizeram anti-jogo descarado e aguentaram-se sempre do ponto de vista físico e táctico. Vendo este jogo, custa perceber como estão desterrados no último lugar com apenas 6 pontos! Quanto ao Benfica, o seu desempenho foi quase exactamente o contrário do que teve em Guimarães. Lá, precisou de um remate para fazer um golo e foi gerindo o tempo, embora sem domínio. Cá, rematou 32 vezes, teve 16 oportunidades de golo, 17 cantos, tudo num modo de atacar rápido, diversificado e fluído. Concordo com as declarações de Bruno Lage, quanto às deficiências defensivas. Já não o sigo quanto a algumas rotações a que entendeu proceder. Se é compreensível a titularidade de André Almeida e a entrada de Weigl para o lugar do castigado Taarabt, não enxerguei a vantagem de Jota ter substituído Cervi e Seferovic tomar o lugar de Vinícius. Sobretudo Jota que, para mim, continua a não ter lugar no onze principal, que não defende (o golo e mais umas jogadas do Aves pelo seu lado não teriam tido a mesma sequência com Cervi...) e que não tem, como é visível, o mesmo entendimento com Grimaldo. O suíço tem um modo de jogar intrigante: faz coisas dificílimas e, muitas vezes, falha as fáceis. Foi o que sucedeu na sexta-feira. Quanto ao estreante alemão não se poderia ter exigido mais, mas mostrou que é jogador de qualidade inegável. Enfim, um jogo muito complicado, do qual há que tirar algumas ilações, a maior das quais é que certas rotações se devem fazer quando o resultado já está consolidado e não implicando uma corrida contra um resultado ingrato. Boa notícia, foi a de os centrais (únicos) não se terem lesionado.

2. Bem sei que os contextos e as restrições associadas moldam completamente os horários dos jogos de futebol. Tal passa-se por todo o lado, e, em particular, nos campeonatos mais exportáveis para fusos horários bem longínquos. A televisão e a imagem transmitida por variadas formas tudo condicionam. A sobreposição de dois jogos é, agora, uma raridade e quase se tornou num pecado mediático.
Em Portugal, acrescem aspectos relacionados com a aparente debilidade de planeamento das épocas. Por isso, temos fartos períodos em que não há nada para ninguém e outros em que tudo se acumula numa precipitação de todo injustificada. Vejamos o que vai suceder agora em pouco mais de uma semana: uma jornada do campeonato ensanduichada entre uma eliminatória da Taça de Portugal e os jogos finais da Taça da Liga, com a consequência de os finalistas desta terem de adiar a jornada que coincide(!) com aquela Taça. Mas não só. Numa altura em que o campeonato tem jogos que podem ser decisivos para o desfecho final, eis que, por exemplo, o Benfica vai a Avalade menos de 72 horas depois de ter enfrentado o Rio Ave numa eliminatória da Taça, que até pode vir a ter prolongamento. E porquê? Porque, inacreditavelmente, se privilegiaram os jogos das meias-finais da Taça da Liga e se secundarizou a jornada do campeonato de que, aliás, desde Julho do ano passado, já se sabia que contemplaria o clássico dos clássicos e até um FC Porto - SC Braga (neste caso, porém, os portistas após uma eliminatória muito mais acessível na Taça de Portugal). Assim, dois encontros de primacial importância são atirados para um dia de semana, sexta-feira, com a maior das indiferentes de organizações que existem para servir e promover o futebol português. É até falta de consideração pelos associados e adeptos que, muitas vezes, organizam a sua vida de modo e poderem assistir nos estádios aos seus jogos predilectos. No Sporting - Benfica passou-se de um sábado para uma sexta-feira sem se atender a estas circunstâncias ou outras.
Também relacionado com tudo isto, continua o verdadeiro quebra-cabeças dos dias e horas dos jogos. Uma semana certo jogo começa às 20 horas. Na seguinte às 20.30. Depois para variar é às 20.15, 20-45, 19.30, 18.30, etc, etc. No caso do Benfica, na sexta-feira passada, o jogo iniciou-se às 19 horas. Já hoje, contra o Rio Ave, tudo começa às 21.15 (o que, aliás, impede, como atrás referi, o Benfica de descansar 72 horas, antes do jogo do campeonato!) o que significa que, no melhor das hipóteses, o encontro terminará já depois das 23 horas (ou por volta da meia-norte, na hipótese de prolongamento e penáltis...). Já sobre os dias em que se joga, pior do que a sexta-feira é o degredo da segunda-feira. E depois queixamo-nos das assistências escassíssimas em certas partidas. Em suma e objectivamente, poderemos falar de decisões que desconsideram o respeito que deveriam suscitar todos quantos ainda têm a iniciativa de ver os jogos ao vivo.

3. Não sei se Raul de Tomas é um bom jogador ou não. Vi que tem boa técnica e pareceu-me sempre um profissional seguro e contido. Não se pode dizer que não tenha tido oportunidades desde Agosto até agora, ainda que se possa questionar se jogou na sua melhor posição ou com os mais adequados parceiros no ataque encarnado. É claro que devemos ter em conta que uma coisa é jogar na mais retinta equipa ioió do sobe-e-desce de Espanha - o Rayo Vallecano -, com marcações menos impiedosas e jogando em contra-ataque, do que no campeão nacional português, em que a lógica de cada jogo é a inversa do clube dos arredores de Madrid, ou seja maioritariamente em ataque sistemático. A ele deve o Benfica, porém, estar na Liga Europa, pois o golaço que marcou em São Petersburgo reduzindo para 3-1 a derrota sofrida, possibilitou um critério de desempate favorável ao Benfica. E se aquela bola do meio campo não tivesse sido defendida pelo guardião do Leipzig e o resultado passasse, então, para 0-3, o que teria mudado no acesso aos oitavos-de-final da Liga dos Campeões e como o golo teria percorrido o mundo e valorizado o atleta. Sem dúvida,muitas vezes a fronteira entre um potencial sucesso e um envergonhado fracasso é da espessura de um fio de cabelo.
É compreensível a decepção e frustração do espanhol que quis voltar ao seu país. E fez bem o Benfica em o ter permitido, ainda por cima, com inegáveis vantagens financeiras no presente e, quem sabe, no futuro. Basta passar os olhos por alguns textos e ouvir alguns comentadores televisivos para neles perscrutar a indisfarçável azia por mais esta boa transacção do Benfica. Provavelmente estão a compará-la com outros negócios. Por exemplo: ao fim de 4 meses, RDT dos 20 milhões marcou apenas 3 golos e acaba por ser vendido pelos mesmos 20 milhões (que podem chegar a 22) por 80% do passe. Já Adrián López custou 11 milhões ao FCP (por 60% do passe), marcou 7 golos em muito mais tempo e saiu sem retorno financeiro. No SCP, o excelente atacante Bas Dost, que custou 11,85 milhões, fez 98 golos e saiu por... 7 milhões...

Contraluz
- Lamentável: Pese embora o quase heróico esforço dos jogadores do Vitória de Setúbal, o Sporting venceu numa caricatura desportiva contaminada por um vírus ético. O apostolado moral do presidente leonino não resistiu a este iníquo micróbio.
- Magnífico: O andebol português está a fazer um Europeu de grande qualidade, tendo até derrotado uma das selecções com mais títulos (França). Seja qual for a classificação final, é assinalável a evolução deste desporto no nosso país.
- Primeiros: A época desportiva está sensivelmente a meio, pelo que nada é definitivo. Até agora o Benfica - com a excepção do andebol - está em primeiro lugar das classificações: no futebol (masculino e feminino, sub-23 e escalões jovens), futsal, hóquei em patins, basquetebol e voleibol."

Bagão Félix, in A Bola

Só Lage tem pressão no dérbi

"O Benfica luta pelo título de campeão nacional, enquanto o Sporting apenas batalha pelo terceiro lugar

Depois do enorme susto que a águia apanhou diante do atrapalhado Desportivo das Aves e do pouco entusiasmo do leão frente ao adoentado Vitória de Setúbal não será de esperar dérbi empolgante na próxima sexta-feita, em Alvalade.
Argumentarão os mais condescendentes que ambos foram traídos por superficial abordagem competitiva perante oponentes que não só não suscitavam preocupações de tirarem o sono como sugeriam o resguardo de energias para outros compromissos de maior envergadura.
Replicarão os mais exigentes que nenhuma razão se vislumbrou para poupar no físico e na mente a seguir a prolongada paragem no campeonato para festejos natalícios. A não ser que demasiado descanso, concedido para baixar o tom dos lamentos de treinadores mais agitados, tenha efeitos perversos no rendimento dos próprios jogadores, como se não bastasse a toada pachorrenta que caracteriza boa parte dos jogos da Liga portuguesa.
O dérbi autêntico é sempre especial, imprevisível, fascinante. É o grande jogo, mas o próximo, ao nível da nota artística, prevê-se mais para o fraco. Intensidade haverá, com toda a certeza, como nos conta a longa e cativante história da rivalidade entre os vizinhos da capital. Neste em particular, porém, a pressão, esse papão assustador, está quase toda no lado de Bruno Lage, porque se sente obrigado a salvaguardar a ténue margem de segurança (quatro pontos) no primeiro lugar, sabendo que há duas semanas o FC Porto venceu em Alvalade, enquanto o objectivo supremo de Jorge Silas se esgota na vitória do jogo, por orgulho e pelo gozo que dará à família leonina, como é tradição. Ou seja, Benfica luta pelo título de campeão nacional, enquanto o Sporting apenas batalha pelo terceiro lugar.

O Sporting dá sinais importantes de mudança, de estar a projectar o futuro, em vez de correr à volta de uma mesa redonda, incapaz de escolher um novo rumo e defini-lo no recato do gabinete. Dois exemplos básicos para uma nova política:
Tomar medidas acertadas nas saídas e nas entradas de maneira a construir uma equipa forte, com esqueleto para quatro-cinco anos, vocacionada para discutir títulos mas sem os prometer para amanhã ou depois.
Dar mais oportunidades a gente nova que promete muito, como Rafael Camacho, Pedro Mendes ou Gonzalo Plata, comprar a tempo e horas, como parece ser o caso de Sporar, e aliviar a carga do que não interessa.
No Bonfim, verificou-se mais do mesmo, um Sporting demasiado dependente do talento do seu capitão, que é imenso, mas igualmente sujeito aos seus estados de alma, especialmente confusos, como se compreende, devido à sucessão de notícias que ora o colocam na Premier League, onde ele gostaria de alinhar, ora dizem que o negócio ficou adiado pela enésima vez. O que não é bom, nem para a imagem do clube, nem para a estabilidade do jogador, o qual, no entanto, tem sabido separar as águas. Com o Vitória sadino, mesmo em velocidade moderada, foi ele quem decidiu, o costume, e no dérbi de sexta-feira o desempenho da equipa leonina vai continuar a depender muito da inspiração de Bruno Fernandes, à semelhança do que se viu nos dois confrontos da Taça de Portugal entre os emblemas da Segunda Circular.

O Benfica atravessa uma fase de menor fulgor, apenas disfarçada pela especial aptidão de alguns dos elementos de referência, sem eliminar, todavia, o problema de fundo e que tem a ver com a míngua que se observa quando à sua capacidade concretizadora. É irrecusável que a equipa marca que se farta cá dentro, mas lá fora é outra conversa. O susto no jogo com o Aves teve o seu quê de inexplicável, admite-se, mas o que importa é averiguar se tantos remates deitados à rua foram obra do além ou consequência da falta de aplicação no trabalho diário: o remate treina-se e aprimora-se, tal como o passe ou a recepção.
A contratação do alemão Weigl prova que Bruno Lage está atento, e preocupado também. Tem as debilidades identificadas e quer eliminá-las, não sendo surpresa, pelo que tem sido divulgado, a celeridade na aquisição do brasileiro Bruno Guimarães: há o título para reconquistar e a UEFA para fazer boa figura.
Decisões necessárias no sentido de reforçar o eixo central da estrutura e fortalecer a coesão do grupo, embora insuficientes, na medida em que o Benfica de hoje revela menor poder argumentativo na frente de ataque devido às saídas de João Félix e Jonas. O investimento em Chiquinho não chega. É jogador que (ainda) não tem golo, como agora se diz, que (ainda) não exprime dimensão se clube grande e que, não conseguindo dar o que pretendem que dê, encurta o jogo e limita o poder de finalização.
Chiquinho não reúne atributos para se comparar a Félix, o que não quer dizer que não seja bom jogador, mas provavelmente não tão bom quanto o Benfica precisa que seja.
Bruno Lage pode ver nele um virtuoso, mas também sabe que tem de voltar a esticar a equipa, sem mais delongas, sob risco de falhar a reconquista do título, comprometer uma participação digna na Liga Europa e sabe-se lá que mais..."

Fernando Guerra, in A Bola

Cadomblé do Vata (Porteros!)

"As avaliações às contratações do Benfica são regra geral, por mim feitas à pressa, com uma margem de erro maior do que a distância que separa SL Benfica e Sporting CP no campeonato. Não vou enumerar aqui todos os casos em que me enganei, até porque o Raúl de Tomás foi comprado e vendido há bem pouco tempo, mas não posso deixar de vos atirar à cara que eu concordei com a contratação de outro guarda redes e fiquei empolgado com um Perín que ainda não sabia estar todo carunchoso dos ombros.
À data ninguém entendeu bem a obsessão de Bruno Lage em juntar mais um guardião à lista de jogadores do plantel e mais incrédulos têm ficado os adeptos vendo Vlachodimos (se eu tivesse um nome destes, batia em quem me chamasse Odysseas, óh Odysseas) jogo após jogo brilhar entre os nossos postes. Penso contudo, que a Taça de Portugal e a Taça da Liga têm servido sobremaneira para demonstrar que a ideia do técnico Benfiquista não era descabida de todo. Na Liga e na Champions apresentamos um Ferrari e nas taças nacionais colocamos em campo um Renault 5.
Confesso que nunca apreciei Zlobin. Via-o na equipa B e fazia-me "espécie". Aquela marreca não é natural e parece que o encolhe 30 cm. Tem mais pinta de armário russo do que guarda redes de elite e convenhamos, que de Ovchinnicov's já tivemos a nossa parte. Para piorar o cenário das alternativas ao greco-teutão, estragamos o Svilar. Tornamo-lo num guarda redes normal que defende umas bolas, mas apagamos-lhe a loucura distintiva que fazia dele um belo projecto futuro. O jovem que entusiasmou quando em Guimarães saiu a aliviar de cabeça um cruzamento entre os nossos centrais, fora da área, está-se a transformar num insosso robot dos postes, onde não é especialmente forte. Pegamos naquela única característica que o diferenciava do resto e colocamo-la na gaveta.
Não sendo de crer que haja por aí algum mago das luvas disponível para em Janeiro, embarcar numa aventura condenada ao banco na principal competição, dando de barato que ao russo e ao belga restarão 2 jogos nas meias finais da Taça de Portugal para justificarem ordenado e não vendo especial talento para a posição nos 2 escalões abaixo da equipa A, é de esperar que no gabinete de scouting já haja uma equipa encarregue de tratar do problema no Verão. Porque como sempre foi dito, não está em causa o caminho que Vlachodimos vai percorrendo no Glorioso... abaixo dele é que a estrada está em muito mau estado."

Florentino, Weigl e a moda da verticalidade

"Ir a um estádio de futebol pode fazer-nos pensar que o caminho para a baliza é em linha recta. "Para a frente!", grita-se a cada passe para trás ou para o lado. Marcar golo não é assim tão fácil, o que torna o jogo bem mais complexo. Há um adversário do outro lado, obrigando-nos a tomar decisões e a pensar qual a melhor forma para o desequilibrar. Quando não existe espaço, há que criá-lo. Assim sendo, facilmente se percebe que o processo de criação obriga a alguma (ou a bastante) paciência, sobretudo nas equipas que passam mais tempo com bola. Em 2020, ainda é comum avaliar médios pela quantidade de passes verticais que fazem por jogo, definindo a partir desse número se a exibição foi positiva ou negativa. Mas há outro critério essencial nos tempos que correm. Se só marcar dois golos na temporada, mesmo que seja um médio que recebe perto dos centrais, "tem de ser mais vertical e melhorar a finalização".
Como em tudo, importa perceber as características do jogador, as funções que assume na equipa, como se complementa com os parceiros do meio campo e se tem influência na execução do modelo pensado pelo treinador. Nos melhores colectivos, o papel dos 11 jogadores tem a devida importância para o funcionamento pretendido. Organizar, gerir o ritmo ou criar condições para que outros desequilibrem (atrair um adversário para depois entrar um passe vertical, por exemplo) também são qualidades e até demonstram que um determinado jogador está mais interessado no sucesso colectivo do que no protagonismo próprio.
Florentino, supostamente, deixou de contar no Benfica porque não acrescentava ofensivamente - isto é, não fazia passes verticais sucessivos, variações de flanco ou remates de fora da área. Apesar de reconhecer que o jovem português pode evoluir no capítulo ofensivo, está longe de ser o inapto que se pintou. Neste caso, além das características individuais, importa analisar a dinâmica ofensiva das águias no início da época, mecanizada e com escassos apoios frontais dentro do bloco adversário. Para se passar para a frente é preciso haver opções, a menos que a intenção seja perder a bola. Nesta altura, Taarabt é o principal responsável por fazer a ligação com o ataque, assumindo riscos constantes na procura do passe vertical pela relva. Gabriel, sem a mesma criatividade, aposta mais no passe em profundidade e nas variações de flanco. Ambos oferecem à equipa a tal verticalidade, mas também estão mais sujeitos a passes errados ou perdas de bola.
Além de ser o melhor médio do plantel encarnado a nível defensivo (leitura, capacidade nas coberturas, timing de desarme...), Florentino possui um perfil distinto e complementar com os restantes em termos de acções com bola, o que poderia ser benéfico. No fundo, deixou de contar para o treinador porque se esperava que fosse aquilo que não é. Weigl também não vai desequilibrar com arrancadas e passes verticais a toda a hora. Mas tem outros atributos. Jogar para trás e para o lado está subvalorizado. E não devia."

Paulo Gonçalves é tudo quanto sei sobre a moral e as obrigações dos homens

"A fazer fé de que o carácter de alguém se revela na adversidade, não haverá paisagem mais propensa à provação do que o deserto.
Na zona de conforto, muito bons somos nós, dando-nos ao luxo até de poder parecer magnânimos. Mas naquele expoente de solidão e vulnerabilidade, não.
Mais do que de uma entrevista, há uns anos, em que foi afável e disponível, como sempre era para quem o abordava, de Paulo Gonçalves recordo o dia 10 de Janeiro de 2012.
Quando Cyril Despres ficou atolado num lamaçal, Paulo esqueceu a corrida e voltou atrás para ajudar o colega. Assim que desatascou, o piloto francês acelerou a fundo, deixando o português com a moto enterrada na lama e abandonado à sua sorte.
A lição aprendida nessa etapa, que lhe custou 15 minutos de atraso, não lhe acicataria o cinismo. E quatro anos depois, quando liderava a prova, Paulo voltou a parar para assistir um colega. Dessa vez, o austríaco Matthias Walkner, vítima de uma queda aparatosa. O gesto fê-lo perder dez minutos até à chegada da equipa médica; e ganhar, meses depois, um prémio de ética no desporto.
Fair-play será um termo curto para definir aquilo que, no fundo, é integridade.
Num mundo desportivo repleto de estrelas egocêntricas, o «Speedy Gonçalves», esposendense de Gemeses, era um «working class hero» capaz dos mais belos gestos de altruísmo, mesmo quando envolvido na competição mais feroz.
Não há título mundial de todo-o-terreno ou pódio no Dakar que se sobreponha à conquista maior de ser exemplo. De ter um legado que se sobrepõe ao palmarés.
Chamem-lhe ética ou camaradagem, código de conduta ou lealdade.
Dizia Albert Camus: «Tudo quanto sei com maior certeza sobre a moral e as obrigações dos homens devo-o ao futebol.»
Tivesse o Nobel da Literatura franco-argelino visto estes audazes que cruzam as areias do Sahara ou do Atacama sobre rodas e seria ainda mais enfático na afirmação.
No passado sábado, foi Toby Price a parar. Fê-lo ao quilómetro 263 da etapa entre Riade e Wadi Al Dawasir.
«Cheguei a uma pequena duna e vi um piloto caído. Era o Paulo», recordou o australiano.
O vencedor da última edição do Dakar aguardou pela chegada da equipa médica e ajudou a transportar o corpo do colega até ao helicóptero. Só depois seguiu. Percorreu 250 quilómetros na sua moto e chegou à meta «desidratado de tanto chorar».
Sem ter imediata consciência disso, Toby terá feito a maior das homenagens a Paulo Gonçalves. 
Seguiu-lhe o exemplo. Aprendeu também com ele tudo o que é preciso saber sobre a moral e as obrigações dos homens."

A ponta do nariz, a unha do pé, o tamanho da bota e a sua influência no fora de jogo: a (nova) crise do futebol português

"Nestas coisas da bola cá do burgo, tem que haver sempre uma pedrinha no sapato para entreter a rapaziada. A mais recente é esta, por isso nada como pisar e repisar este assunto.
Ninguém terá duvidas: as linhas tecnológicas que avaliam foras de jogo têm sido, nas últimas semanas, a última Coca-Cola no deserto. A última bolacha do pacote. A arma de arremesso perfeita para que todos se divirtam a fazer o habitual: apontar o dedo ao demérito do adversário, evidenciar tremendos prejuízos desportivos e, claro, reforçar - assim de surra - a suposta má-fé de quem comanda a coisa, na sala dos videoárbitros.
A linha de pensamento e a forma de estar é a mesma há anos. Muda o tom e o conteúdo, mudam também os actores. What else is new?
Já aqui vos recordei daquela imagem muito distante (mentirinha, é da época passada, mas achei que o sarcasmo reforçava o teor da mensagem) em que todos brigavam, barafustavam e gritavam, por não haver linhas de fora de jogo ao dispor do VAR, na Cidade do Futebol.
Na altura, os lances eram avaliados a "olho nu" e isso gerou refilanços, suspeitas e guerrilha que todos bem dispensávamos. Lembram-se?
Por muito que se dissesse que essa lacuna devia-se a factores externos - falta de sistema credenciado e várias falhas técnicas e operacionais, relativa aos estádios e até às câmaras de TV - a verdade é que o mundo preferia a negação da razão e a valorização da emoção.
Dá mais jeito a quem lidera e afaga o coração do adepto que sofre.
A FPF ouviu e investiu (mais uma vez) e lá trouxe para o país uma linha absolutamente fidedigna. Leiam bem esta parte: a mesma que ainda hoje é usada pela UEFA e FIFA nas grandes competições internacionais. Percebido?
Pensou-se que as polémicas relativas à análise de offsides desapareceriam, mas o suposto ponto final não passou, claro está, de um novo ponto de partida.
A linha mais moderna que existe é, de facto, tecnológica, mas continua a depender de mão humana nas suas premissas mais importantes:
- o ponto exacto em que começa o toque na bola para o último passe e a fixação daqueles que correspondem à última parte do corpo de defesa e atacante em causa.
Essa indicação é dada pelo VAR ao seu Técnico de Imagem, em função da percepção mais honesta que tem sobre esses limites. É falível? Sim. Claro que é. E é porque o tal "olho nu" não tem a acuidade microscópica de frames televisivos, a que podem corresponder diferenças de vários centímetros.
Mas é falível em todos os jogos, de todas as equipas, em todos os momentos. E falível na liga portuguesa, inglesa, italiana, espanhola ou alemã. E é esta verdade incontornável que as baboseiras comunicacionais e a cegueira clubista impedem de ver.
Se antes a percepção visual de um nariz adiantado era um fora de jogo escandaloso que entregava títulos, hoje a mesma indicação ou é um atentado ao futebol (porque o jogo não se deve medir ao milímetro) ou resulta de clara má-fé de um VAR que está ali só para fazer um frete ao clube Y ou X. 
Honestamente... há quem entenda tamanha bipolaridade?
Dito isto, há uma verdade incontornável: se o futebol é hoje uma indústria de milhões e um golo marcado/sofrido pode alterar substancialmente as regras desse mercado, quanto mais credíveis e objectivas forem as regras, mais transparentes serão os resultados finais. Certo. De acordo.
Para falar disto a sério, sem as calimerices habituais que causam náuseas, a questão deve centrar-se na busca pelo ideal:
- será possível encontrarmos uma tecnologia de fora de jogo semelhante à que se usa, por exemplo, na linha de golo (como o Hawk-Eye)? Uma que não dependa de intervenção humana?
Será possível encontrarmos um sistema fidedigno que dê justiça total à Lei 11, sem que ela pese sobre os ombros de árbitros assistentes e VARs?
Estou convencido que sim.
Não há nada que não se consiga em termos informáticos e acho que estará para breve uma solução a este nível. A acontecer, ela nunca diminuirá o ruído estéril sobre "os adversários que são levados ao colo" ou "os árbitros que roubam sempre os mesmos".
Apenas obrigará a uma ginástica mental mais criativa, que transfira o choradinho estratégico para outras paragens.
O dinheiro que se investe a tentar melhorar o milímetro invisível que hoje gera tanta discussão devia vir, todinho, das multas que punissem exemplarmente condutas comunicacionais que semeiam a discórdia e arruínam o bom nome da indústria. São mal-intencionadas, ofensivas, condicionantes, profundamente parciais (estupidamente parciais) e semeiam o ódio, a confusão e a suspeição na opinião pública.
A única pergunta que cabe aqui fazer é: de que provas é que o futebol português precisa mais para travar de vez esta palhaçada?

Nota de rodapé - Há duas épocas (por aí) um jogador da Premier League postou uma foto no seu Instagram, com a seguinte legenda: "Ganhámos, mesmo contra 14". Foi multado com 50.000 libras (58.340€) e castigado uma série de jogos. O seu clube também condenou veemente a conduta. Argumento: colocou em causa a integridade da competição, contribuindo para desvalorizar o produto que todos querem elevar. Acham que ele repetiu a graçola?
Haja coragem, meus senhores."

2020, o que segue?


"Porque não são só os atletas que têm de preparar o futuro, e porque o futuro prepara-se assim: abrindo os braços ao desconhecido, inovando e procurando novas oportunidades. Fiquem atentos.  

Pavilhões cheios, espectadores que vibram com as nossas performances, transmissões de rádio, audiências históricas na TV, e, ainda assim… o trabalho de sonho de um atleta de alta competição é um trabalho temporário. Existe uma altura em que esse momento chega ao fim, e é hora de pensar numa nova vida, numa nova carreira.
O ano olímpico, o ano dos sonhos para muitos atletas, torna-se por vezes um pesadelo para outros. O ano das decisões, das pressões, das conquistas, das derrotas, da excelência e dos recordes, mas também um ano marcado pela angústia de não saber o que segue.
Devo terminar? Devo continuar? Como será a minha vida sem o desporto de competição? Será que vou conseguir preencher esse vazio? Como será a minha transição para um mercado de trabalho cada vez mais competitivo e exigente?
Estas e outras preocupações são frequentes em grande parte dos atletas, sobretudo no ano olímpico que é também um ano de transição para um novo ciclo, um ano em que muitos decidem e reflectem sobre o seu futuro.
No âmbito dessas mesmas preocupações, o “COI”, Comité Olímpico Internacional, criou a “Athlete365 Career+”, um programa que pretende ajudar os atletas olímpicos na sua transição para o pós-carreira, capacitando-os através de formações que os preparam para o futuro, aumentando a sua confiança e dando-lhes competências para que essa transição seja um processo o mais delicado e bem sucedido possível. Não será tempo de também as empresas e organizações se associarem a estas plataformas e colaborarem entre si nessas mesmas transições?
O “COI” tem vindo a insistir em iniciativas que pretendem dar voz aos atletas. Fê-lo com a criação da plataforma “Athlete365” onde os mesmos podem, entre si e através dessa rede, discutir tópicos tão importantes no desporto como o “fair-play”, o “doping”, a manipulação de resultados e as demais temáticas e preocupações presentes no mundo desportivo e de competição. Dessa forma, encorajam a comunidade a não se ficar apenas pelo desporto, mas também a debater os temas e a construir pontes que influenciem de forma positiva os que os rodeiam.
É precisamente no ano dos Jogos Olímpicos que essas vozes são mais ouvidas, e é nesse contexto que se proporciona a oportunidade de criar condições para que as inquietações, preocupações e angústias dos atletas possam ser atendidas.
Se uma instituição como o Comité Olímpico Internacional reconhece a importância de dar voz aos atletas, aos jovens e àquilo que estes representam dado que o futuro lhes pertence, não será este um exemplo que devemos adaptar nos vários contextos da nossa sociedade, não apenas no desporto, mas também nas artes, na cultura, na economia, na inovação, na agricultura ou na política?
A esse propósito, os Global Shapers do Hub de Lisboa tomaram a iniciativa de criar o projecto “100 Oportunidades”, que consiste numa lista uma lista de 100 jovens com menos de 35 anos, disponíveis para debaterem no espaço mediático português não como jovens, mas como especialistas, com credenciais e experiência sobre os mais variados tópicos.
100 jovens, escolhidos pelo seu percurso, e recomendados por especialistas e embaixadores nas suas áreas, independentemente das suas afiliações ou ideologias, mas com um foco absoluto na sua capacidade de acrescentar conteúdo e conhecimento, com o objectivo de enriquecer o espaço público.
Porque não são só os atletas que têm de preparar o futuro, e porque o futuro prepara-se assim: abrindo os braços ao desconhecido, inovando e procurando novas oportunidades.
 Fiquem atentos."