sábado, 4 de janeiro de 2020

O 11 da década no Futebol Internacional

"A década de 2010 ficou marcada por uma evolução tremenda no futebol, principalmente pela quebra de recordes por parte de dois astros, que já teriam aparecido uns anos antes, embora o auge de ambos tenha decorrido durante os últimos dez anos. A viragem da década é um sinal de que o fim de Cristiano Ronaldo e Lionel Messi está perto e será durante esta década que as botas serão penduradas.
Basta parar para pensar que Iniesta está no Japão para terminar a carreira, Xavi já não joga, Xabi Alonso também não, Drogba, Eto’o, Robben, Lampard (é o treinador do Chelsea!) e tudo tão rápido. Parece que ainda ontem estava sentado no sofá a ver Iniesta a decidir o Mundial 2010 no prolongamento, ou a ver Drogba a empatar a final da Liga dos Campeões perto do final e todos sabem o que aconteceu a seguir. Assim como um ano depois o mágico pé esquerdo de Robben resolveu a final da mesma prova aos 88 minutos.
De seguida, surge o domínio de Real Madrid, com o Barcelona a fazer comichão,no entanto, foi mesmo Ronaldo e companhia que dominaram a Europa com estrondo, ao vencer quatro Liga dos Campeões em cinco anos. Foi também nesta década que os portugueses viveram um momento duma vida… Éder! Quem diria? Vai ficar para a história, ver todo o banco sofrer, liderados pelas lágrimas de Ronaldo a puxar as quinas para a glória. A década termina com o futebol magnífico imposto por Guardiola, como sempre o fez nas suas equipas, e com um Liverpool que certamente terminará no lote das melhores equipas de sempre.
É surreal a maneira como jogam e dominam as partidas. E quem se lembra do memorável jogo entre a Alemanha e o Brasil? Da reviravolta do Barcelona contra o PSG, depois de perder 4-0 na primeira mão e ainda sofrer um golo em casa e passar? E as aulas do Barcelona nos El Clasico contra o grande rival? A manita do Lewandowski em 9 minutos? Enfim… São tantos momentos que é impossível recordar todos, mas certamente a emoção que o futebol carrega é maior do que qualquer episódio de racismo ou corrupção, ou o que seja, porque o desporto-rei continuará a ser consumido por milhões de pessoas que o vêem por vício, paixão ou lazer, e ficam marcados pelos momentos emotivos. 
Consultem as escolhas do melhor onze da última década.
Guarda-Redes
Manuel Neuer Apesar de ter sofrido lesões recentemente, não há nenhum guarda-redes mais influente nesta década do que Neuer. Marcou uma era da posição e certamente acabará nos lugares cimeiros dos melhores da história entre os postes. Prova disso, é o facto de ter sido nomeado o melhor guarda-redes pela IFFHS (International Federation of Football History & Statistics) quatro anos seguidos, entre 2013 e 2016. Neuer distingue-se pela leitura de jogo acima da média, qualidade com os pés e segurança e conforto nas ações realizadas.
Melhor momento: Depois de conquistar o triplete com o Bayern Munique em 2012/2013, no ano seguinte venceu o Mundial 2014 pela Alemanha, o que lhe valeu uma nomeação para a Bola de Ouro. Completou o pódio, atrás de Leo Messi e Cristiano Ronaldo.
Lateral-Direito
Dani Alves Além de estar presente no melhor onze da década, o brasileiro é discutivelmente o melhor lateral-direito da história do futebol. O maior argumento para sustentar este pensamento é o número de troféus conquistados. Daniel Alves é o jogador mais titulado na história do futebol (40). Venceu no Sevilha, Barcelona, Juventus, PSG e ainda colectou duas Liga dos Campeões com o Barcelona. É considerado um modelo ou referência da posição, muito devido ao seu auge no Barcelona. Era um autêntico extremo, tinha um rendimento ofensivo acima da média e combinava na perfeição com Leo Messi.
Melhor momento: Aos 36 anos, vence a Copa América com o Brasil e é considerado o melhor jogador do torneio.
Defesa-Central
Sérgio Ramos É uma escolha lógica deste onze, devido à quantidade de títulos ganhos, tanto no Real Madrid como na selecção espanhola e assumiu-se como um líder na defesa de ambos. É o capitão do clube e da selecção neste momento, o que quer dizer bastante sobre o respeito incutido por Sérgio Ramos.
Destaca-se por ser um defesa goleador e um homem de grandes jogos, devido à quantidade de vezes que decidiu e salvou os merengues. A raça e vontade impostas dentro de campo são preponderantes para esta faceta do central espanhol, vencedor de um Mundial, um Euro e quatro Liga dos Campeões esta década. E uma delas especial…
Melhor momento: Foi em Lisboa, no Estádio da Luz, na final da Liga dos Campeões de 2013/2014. O Real Madrid perdia por uma bola a zero contra o rival Atlético de Madrid, quando aos 93 minutos e 48 segundos, Sérgio Ramos sobe ao quinto andar, na sequência de um pontapé de canto e empata a partida, levando os adeptos à loucura. Os blancos viriam a vencer a partida no prolongamento. 
Defesa-Central
Gerard Piqué O defesa espanhol liderou o Barcelona no setor defensivo durante uma série de anos, desde a saída de Carles Puyól – o melhor professor que podia ter. Nesta década, venceu sete das suas oito ligas espanholas e duas das três Liga dos Campeões. Durante a maior parte dos anos, nunca teve um central de raiz ao seu lado, o que torna o seu trabalho ainda mais valorativo. Na Espanha, alcançou as mesmas conquistas que o parceiro da defesa e rival a nível de clubes, Sérgio Ramos. Venceu o Mundial 2010 e o Euro 2012. Actualmente, Piqué já não faz parte da selecção roja e actua pela Catalunha.
Melhor momento: Em tom de provocação, mostrou os 5 dedos à bancada do Real Madrid, naquele que foi um dos melhores jogos da história do Barcelona. A equipa orientada por Pep Guardiola derreteu o maior rival, aplicando chapa 5, e Piqué não se esqueceu do gesto. Coisas que também fazem parte da bola…
Lateral-Esquerdo
Marcelo Tal como Dani Alves, marcou uma era da sua posição e é considerado um exemplo para muitos jovens futebolistas de tenra idade, devido à sua qualidade técnica e à magia proporcionada durante os jogos. Por vezes, parece uma brincadeira para ele, no entanto quando sobe naquele flanco esquerdo, é certo que vai criar desequilíbrio. Desde a conquista da primeira Liga dos Campeões do Real Madrid em 2014, Marcelo foi o melhor lateral esquerdo do mundo seguramente até 2018. Actualmente, existe concorrência forte: Andy Robertson.
Melhor momento: Entrou aos 59 minutos na tal final de Lisboa e deu forças aos merengues, principalmente no prolongamento para a conquista da Liga dos Campeões, aquela que deu início à hegemonia europeia madridista.
Médio-Centro
Xavi Hernández Um terço daquele que foi possivelmente o melhor meio-campo da história do futebol, juntamente com Iniesta e Busquets, nos tempos de glória do Barcelona. Xavi era magia pura e uma das principais referências do desporto-rei.
Sempre que se falava em Xavi, vinha o nome de Iniesta atrás e a sua ligação era tão grande, que pareciam o mesmo jogador. Messi tem de valorizar muito o que estes fizeram por ele, e a importância que tiveram durante largos anos, no seu rendimento.
Xavi era o mestre em descobrir e explorar os espaços, e de cabeça levantada orientava o jogo dos catalães, assim como da selecção espanhola. Foi uma das peças fundamentais do domínio da sua equipa e pelas conquistas da “La Roja” nas provas internacionais.
Melhor momento: É difícil eleger o melhor momento de Xavi e podia ser simplesmente toda a sua carreira. Isto porque o médio tinha uma consistência soberba e é praticamente impossível apontar-lhe uma má exibição. Ficamos então com a goleada do Barcelona no Bernabéu por 2-6, com quatro assistências de Xavi Hernández!
Médio-Centro
Andrés Iniesta O outro elemento do tal meio-campo de sonho do Barcelona. Como referido, a química entre Iniesta e Xavi era gigante e ambos levaram o Barcelona à conquista de inúmeros títulos. Iniesta apareceu pouco depois de Xavi e foi evoluindo até se tornar tão importante como ele e foi adquirindo uma experiência imensa, até ser a principal figura desta equipa depois de Messi. Aprendeu com os melhores e definiu, tal como os colegas do sector, o estilo de jogo dos catalães, especialmente na era de Guardiola. O médio espanhol tinha as características perfeitas, reflectidas na responsabilidade no sucesso do Barcelona.
Não foi deslumbrante a nível de estatísticas, mas foi mágica a forma como ditou o jogo do Barcelona durante anos. Ao longo da década, arrecadou cinco La Liga e duas Liga dos Campeões.
Melhor momento: Iniesta também fez parte nos anos de ouro das proezas espanholas. Teve uma carreira repleta de grandes momentos, embora o que se sobressaiu foi o golo que deu a vitória à Espanha no prolongamento da final do Mundial 2010, frente à Holanda. Na discussão pelo momento da década.
Médio-Centro
Luka Modric A principal razão, quer seja considerada justa ou não, é que Luka Modric foi o primeiro homem a destronar Cristiano Ronaldo e Leo Messi na conquista da Bola de Ouro. Desde 2008 até 2017, os dois astros dominaram a vitória do prémio. Quando Modric chegou ao Real Madrid demorou a mostrar o rendimento esperado e foi votado no jornal Marca como a pior contratação da época na liga espanhola. Pois o croata calou todos os críticos e alcançou um nível tremendo, sendo agora considerado um dos melhores de sempre dos merengues. Com passagens pelo Tottenham (embora sem títulos) e Real Madrid (palmarés considerável), Modric sempre pautou o jogo ao ritmo que ele gosta e com a sua classe assumiu-se como o patrão do meio-campo.
Melhor momento: A principal razão para ter vencido a Bola de Ouro em 2018, foi devido ao estrondoso Mundial realizado no mesmo ano, depois de vencer a Liga dos Campeões ao serviço dos blancos. Levou a Croácia à final da competição, uma seleção que certamente não estaria no lote dos favoritos antes da prova iniciar.
Extremo-Direito
Lionel Messi Um jogador que compete à parte, não é deste planeta. Messi desafia as leis da física, com as aulas dentro de campo. Tanto ele como Cristiano Ronaldo eleveram a fasquia daquilo a que o mundo do futebol estava habituado a nível de números e quando aparecerem jogadores a colocarem boas estatísticas, possivelmente não vão ser tão valorizados como deviam, por causa destes dois astros a marcarem mais de 50 golos por ano, como se fosse normal. Só nesta década, Messi esteve envolvido em quase 800 golos. É o melhor marcador da história do Barcelona, da La Liga, da Argentina, apresenta uma média de quase um golo por partida e à medida que os anos foram passando, aumentou as assistências realizadas. Isto deve-se ao facto de o argentino ter adaptado a sua posição ao longo dos anos, alterando as funções dentro de campo.
Messi é de momento mais um jogador de equipa e é o melhor playmaker do mundo. Tudo isto, conseguindo ser o melhor marcador da Europa na mesma. Fantástico!
Melhor momento: São inúmeras possibilidades e Messi escolheu qual o melhor da sua carreira. Foi o golo na final da Liga dos Campeões contra o Manchester United, no entanto, não foi esta década. Há uma quantidade enorme de momentos, como o golo da vitória no Bernabéu aos 92 minutos, seguido do mítico festejo da camisola, ou a exibição na final de 2011 contra o Manchester United. Enfim, é de outro mundo.
Extremo-Esquerdo
Arjen Robben O seu clássico movimento de puxar para o pé esquerdo marcou esta década. Depois de ganhar espaço, já se sabia qual era o destino da bola. Robben realizou campanhas esplêndidas ao serviço da selecção, principalmente nos Mundiais 2010 e 2014, nos quais chegou à final e meias-finais, respectivamente. Ao serviço do Bayern de Munique venceu todos os títulos possíveis a nível nacional e ainda uma Liga dos Campeões.
Melhor momento: Foi precisamente na Liga dos Campeões conquistada, que teve o episódio da carreira. Robben deu a vitória à sua equipa num duelo contra o Borussia Dortmund, na final da competição, com um golo perto do final da partida.
Avançado
Cristiano Ronaldo Partilha o título de extraterrestre com Lionel Messi. São os dois jogadores mais mediáticos e muito possivelmente os dois melhores da história do futebol. Bateram uma série de recordes de golos e juntos têm um total de 11 Bolas de Ouro. Se por ventura existisse apenas Ronaldo, qual seria a quantidade de títulos individuais e colectivos que possuía? Por outro lado, a competitividade entre ambos ajuda a melhorar a motivação para querer ainda mais. Cristiano apresenta uma média de praticamente um golo por jogo nesta década e venceu quatro Liga dos Campeões, além de uma série de títulos como Real Madrid e actualmente com a Juventus, onde busca a glória europeia.
Melhor momento – É o jogador mais difícil de escolher o melhor momento, tendo em conta a quantidade de memórias que Ronaldo proporcionou. A escolha de qualquer das formas recai para um episódio emocionante, que o próprio atleta nem estava a jogar. Foi na final do Euro 2016, com Cristiano obrigado a sair no início da partida devido a lesão e, juntamente com Fernando Santos, orientou, sofreu e festejou a glória europeia portuguesa."

Antevisão Vitória SC – SL Benfica: 2020 arranca a alta rotação

"Deslocação encarnada de nível Europeu em jornada de clássico
O Sport Lisboa e Benfica desloca-se a Guimarães para defrontar aquela que é a equipa com maior potencial ainda por explorar em Portugal.
O Vitória Sport Clube é um gigante no D. Afonso Henriques onde qualquer jogo tem o carimbo de uma bancada efervescente que eleva a qualidade da sua já muito boa equipa. Testemunhas disso já foram o FC Steaua Bucareste, o Royal Standard de Liège, o Arsenal FC e até o próprio Eintracht Frankfurt e.V., apesar de este ter vencido.
Além desta derrota os vimarenses contam só com uma outra nos restantes treze jogos que disputaram em casa – com o SC Braga. Um registo caseiro de oito vitórias, quatro empates e duas derrotas.
O Vitória SC está no quinto lugar e de olho tanto no FC Famalicão – em quebra – como no Sporting CP que irá defrontar o FC Porto. É uma posição impressionante tendo em conta que até há 20 dias estava envolvido em jogos europeus de alta exigência e nos quais conseguiu impressionar jornada após jornada.
No SL Benfica a grande questão prende-se com as opções de Bruno Lage, as quais tanto nos podem dar um excelente futebol como mais uma triste e enfadonha exibição. Em 2019 Bruno Lage apresentou-nos duas equipas totalmente opostas, tudo como consequência da maior ou menor criatividade e iniciativa que optou por dar ao meio-campo.
Também a maior eficácia ofensiva tem sido decisiva e é aí que surge Vinicius que marcou “só” seis golos nas últimas quatro jornadas do campeonato.
Esta época o confronto directo dos dois clubes deu-se num contexto de Taça da Liga. Aqui o Vitória SC levou vantagem tendo conseguido não só um empate no Estádio da Luz como ainda acabou por vencer o grupo sem grandes dificuldades, apurando-se assim para a Final-Four e deixando os encarnados pelo caminho.

Como jogará o Vitória SC?
O desempenho dos pupilos do Ivo Vieira tanto no Emirates Stadium como no Commerzbank-Arena, é um sério aviso daquilo que esta equipa é capaz de fazer em desafios de maior grau de dificuldade. Jogando num 4-3-3 a variedade de opções de qualidade (no banco deverão ficar jogadores como o Rochinha, A. Pereira, J. C. Teixeira, O. John, Poha e B. Duarte) permitem a Ivo Vieira tanto construir uma equipa de maior domínio na posse como de transições rápidas pelas alas.
Neste jogo prevejo que procurem um meio-campo capaz de preencher os espaços e cortar as linhas de passe entre os médios mais criativos adversários. A isso aliarão uma saída rápida e eficaz para o ataque, explorando o espaço existente na frente da defesa encarnada. Com o Tapsoba a comandar a defesa vimarense e o M. Agu no eixo do meio-campo defensivo, Lucas Evangelista pelo meio e Edwards pela direita serão os responsáveis por criar oportunidades de finalização aos avançados Bonatini e Deividson.

Jogador a ter em conta
Marcus Edwards – O extremo inglês que chegou esta época a Guimarães trouxe consigo um futebol de classe, perfume e fantasia. É o jogador mais criativo e desequilibrador do futebol do Vitória SC e tem demonstrado ser capaz de desmontar toda uma defesa só com a sua capacidade técnica. A jogar a partir da direita poderá aproveitar os desposicionamentos do Grimaldo e o maior nervosismo do Ferro para encontrar os espaços necessários para ingressar com perigo na área encarnada.

XI Provável:
4-3-3 – D. Jesus, V. Garcia, Tapsoba, P. Henrique, R. Soares, M. Agu, Pêpê, L. Evangelista, M. Edwards, Davidson e L. Bonatini.

Como jogará o SL Benfica?
O Sport Lisboa e Benfica irá ao D. Afonso Henriques actuar no sistema que tem vindo a cimentar nos últimos jogos. Depois de Bruno Lage ter desistido de insistir em Raul de Tomas como segundo avançado a equipa com Chiquinho abdicou do 4-4-2 e adaptou-se a um 4-2-3-1 com um futebol mais apoiado, mais criativo e mais dominador.
Com Taarabt, Pizzi e Chiquinho a explorarem o jogo interior, a equipa ganha em criatividade, imaginação e rasgo e os espaços nas defesas adversárias começam a surgir com maior naturalidade. Para este futebol também muito tem contribuído Alejandro Grimaldo que esta época surgiu como um lateral nº10.

Jogador a ter em conta
Pizzi É o jogador em maior destaque no líder do campeonato. Luís Miguel Fernandes lidera a tabela dos melhores marcadores com 11 golos e é o jogador com maior número de assistências (já vão sete, tantas quantas tem o Bruno Fernandes) tendo feito uma assistência por jogo nas últimas cinco jornadas do campeonato nacional. Além disso é o principal municiador de bolas na destruição das defesas adversárias.
Apesar de um outro jogo menos conseguido (a par do colectivo da equipa) Pizzi tem constantemente sido o jogador mais decisivo da época. É até ao momento o melhor jogador do campeonato e em Guimarães a sua inspiração será o centro do futebol encarnado.

XI Provável:
4-2-3-1 – O. Vlachodimos, T. Tavares, R. Dias, Ferro, Grimaldo, Gabriel, Taarabt, Pizzi, Chiquinho, Cervi e Vinicius."

Vantagem pontual não significa muito

"No último ano por esta altura, Sérgio Conceição, Homem do Ano para A Bola, dava entrevistas prevendo êxitos que não aconteceram

A saída de 2019 foi com a sapatinho cheio para os lados da Luz. Weigl, chegado do Borussia de Dortmund, promete qualidade, o valor do jogador é garantia raras vezes vista nas contratações do futebol português.
Comprar jogador desta classe ao gigante alemão coloca, por si só, o Benfica num patamar importante. O Benfica está economicamente e financeiramente onde poucos conseguem, e onde era impensável estar há dez anos.
A entrada em 2020 mostrou um treino aberto com mais de vinte mil pessoas, garantia de confiança e exigência para um plantel que inicia o ano com o jogo mais difícil (conjuntamente com a deslocação ao Dragão) que terá até ao final do campeonato. Mais que a dimensão do clube mostrou a dimensão da exigência e ambição.
Este fim-de-semana é importante para o futuro deste campeonato. O Benfica visita Guimarães, num campo onde costuma ter sorte contra a (talvez) melhor equipa do campeonato. Será difícil, muito difícil o jogo em Guimarães.
O Porto joga onde costuma ter azar, contra adversário debilitado, e tudo indica que desta vez será tarefa fácil.
Neste regresso à competição temos um jogo bem mais complicado que o rival. A vantagem pontual do Benfica não significa muito. No último ano por esta altura, Sérgio Conceição, Homem do Ano para A Bola, dava entrevistas prevendo êxitos que não aconteceram.
Este ano, Bruno Lage, na mesma posição que o colega na última época (até os 4 pontos de diferença eram iguais), alimenta a esperança dos benfiquistas numa entrevista com cautelas e confiança.
É bom conhecer a história do último ano, para que ela não se repita este ano.
Bruno Lage, em A Bola, explicou de forma conseguida que o único conforto existente no Benfica é o trabalho para conseguir o êxito.
Estas paragens prolongadas não costumam ser boas para as equipas a passar melhores faces e o Benfica era a melhor equipa antes do interregno de Natal.
Boas notícias parecem ser as recuperações de André Almeida e Rafa porque os melhores fazem sempre falta.
Na janela de mercado aberta em Janeiro, convém esperar pelas confirmações porque notícias de saídas e entradas nos diversos clubes são às dezenas por dia.
Para já desejava apenas a entrada de três pontos na tabela classificativa. Isso sim era um reforço."

Sílvio Cervan, in A Bola

O calendário

"Fez algum sentido não haver jogos da principal divisão de futebol masculino nas últimas semanas do ano? Não. Faz algum sentido parar novamente o campeonato para a final a quatro da Taça da Liga? Não.
A organização e a coerência continuam a ser problemas graves para quem escala o calendário nacional de futebol. Queremos ser competitivos quando enfrentamos equipas de outros campeonatos, e isso não rima com paragens por tudo e por nada. Enche-se a boca a falar de paixão pelo jogo mas o SL Benfica tem mais gente no estádio a assistir a um encontro do que todos os outros, em todos os campos.

Querem trazer gente de volta às bancadas? Evoluam. Peguem, na fase final da Taça da Liga, por exemplo, e joguem-na no Dia de Natal, façam dessa uma festa da família, sem olhar a quem são os apurados. E quanto à comunicação social, os órgãos que tenham respeito por quem lhes paga o ordenado com audiências, cliques, vendas me banca e notoriedade - acabem com o lavar de roupa suja em directo, todos os dias, a toda a hora. É assim tão difícil de perceber que, aliado às escandaleiras, corrupção e incompetência dos árbitros, tudo em contribuído para afastar espectadores dos estádios? Se calhar, quando acordarem, os adeptos mais novos já só vão ser adeptos de equipas estrangeiras."


Ricardo Santos, in O Benfica

Feliz 2020, com muita música

"Estimado leitor, desejo-lhe um 2020 pleno de saúde, felicidade e como encontrá-lo em Maio com a mesma dose de borracheira que tomou conta de si na noite da passagem de ano. Aliás, espero que já esteja recuperado, não se esqueça de que amanhã já temos jogo em Guimarães e há uma bancada para encher. A minha noite foi óptima. Lá em casa havia tanto vinho, tanto champanhe e tanta música, que por momentos eu já estava na dúvida se aquilo era o Réveillon ou o aniversário da esposa do Uribe.
No início do ano há imensa gente cheia de genica, com vontade de mudar alguns hábitos e criar novas rotinas. Há sonhos, crenças, desejos. Começa a operação verão para uns, outros deixam de fumar. Por cá, eu espero que Bruno Lage mantenha esta excelente ideia de entregar um instrumento musical a cada jogador antes de entrar em campo, o que tem permitido que a equipa ofereça autênticos recitais aos adeptos.
O Taarabt com a guitarra, o Gabriel com a bateria, o Chiquinho com o saxofone. Assim, não só se criam cantigas mais animadas, como é repartida a mesma responsabilidade entre todos os elementos da banda. Veja-se o exemplo do Sporting: é muito complicado formar uma orquestra quando o Bruno Fernandes anda sozinho a carregar o piano. Por falar nisso, espero que o piano esteja bem afinado do domingo.
O Benfica arranca 2020 com uma visita a Guimarães. Ainda não passou sequer um mês desde que o Vitória venceu o Eintracht Frankfurt no mesmo estádio onde fomos eliminados da Liga Europa na época passada. É óbvio que vai ser complicado, é óbvio que o Benfica tem de estar no seu melhor e é óbvio que já pus de lado o gorro e as luvas: vemo-nos amanhã no D. Afonso Henriques."

Pedro Soares, in O Benfica

Um ano à Benfica

"Não há balanço do ano de 2019 que possa ser feito sem invocar a doce reconquista. Tratou-se de facto de uma campanha inesquecível, quer pelos recordes batidos (pontos, golos, etc.), quer pela qualidade de jogo apresentada, quer pelo difícil ponto de partida (4.ª lugar a 7 pontos da liderança).
O ano iniciou-se com uma derrota em Portimão, mas desde aí, com Bruno Lage no banco, a nossa equipa partiu para uma impressionante sequência de 31 vitórias em 33 jogos da principal competição nacional, conseguida paralelamente com a valorização de jovens talentos formados no Seixal (João Félix, mas também Ferro, Florentino ou Jota, e já na nova temporada, Tomás Tavares, Nuno Tavares, David Tavares e Zlobin). Um Campeonato e uma Supertaça depois, a saga continua.
No plano internacional, o ano civil saldou-se por 5 vitórias, 2 empates e 5 derrotas, ficando um sabor a pouco, quer na eliminação da Liga Europa em Frankfurt, quer, depois, no 3.º lugar do grupo da Champions, embora num e noutro caso o prestígio internacional do Clube tenha quedado intacto.
Nas modalidades, o destaque vai para o voleibol, que depois de um triplete em 2018-19, e da Supertaça a abrir a nova temporada, conseguiu fazer história ao intrometer-se entre as maiores equipas da Europa para disputar a fase de grupos da Champions League - onde está a bater-se com toda a dignidade.
Também o futsal e o atletismo registaram títulos nacionais absolutos. Enquanto, no sector feminino, futebol, hóquei e futsal esmagaram a concorrência.
O ano de 2019 foi, pois, de muitas e diversificadas alegrias. Esperamos que 2020 seja pelo menos igual."

Luís Fialho, in O Benfica

Benfica Campus

"Tenho dificuldade em expressar o que sinto após a distinção, pela segunda vez, como a Melhor Academia do Mundo. O prémio que recebemos em conjunto com o Ajax é a confirmação de uma política, de um projecto e de um grande obreiro. A política é conhecida - aposta na formação. O projecto, idem - a construção e o melhoramento do nosso Centro de Formação e Treino. O obreiro, quanto a esse, ninguém tem dúvidas - Luís Filipe Vieira. Lembro-me bem quando o presidente anunciou que o SL Benfica ia passar a apostar na formação. Lembro-me bem as vezes em que foi gozado por ter feito essa aposta, e lembro-me ainda melhor daqueles que passaram a vida a desdenhar acerca da valia das nossas pérolas 'Made in Benfica'. Tal como me lembro das vezes em que o presidente, quando lhe perguntaram por reforços, disse que estavam no Seixal. A reconquista deve sentir-nos de lição. Se olharmos para o plantel que nos levou ao Marquês de Pombal, para festejar o 37.º título, estão lá nove bons exemplos - Rúben Dias, Ferro, Florentino Luís, Gedson Fernandes, João Félix, Jota, Alfa Semedo, Yuri Ribeiro e Zlobin. Nesta época, em que vamos rumo ao 38.º, são vários - Zlobin, Tomás Tavares, Rúben Dias, Ferro, Morato, Nuno Tavares, Florentino Luís, Gedson Feranndes, David Tavares e Jota. Dez provas de qualidade. O espaço deste artigo não chega para enumerar a quantidade de jovens jogadores que são os nossos maiores embaixadores. Repare neste onze: Ederson; Nélson Semedo, Lindelof e João Cancelo; Hélder Costa, Renato Sanches, André Gomes e Bernardo Silva; Gonçalo Guedes, Ivan Cavaleiro e João Félix. Um 3x4x3 fabuloso!"

Pedro Guerra, in O Benfica

Um ano em cheio

"Há anos assim, que nos preenchem os dias e desafiam o corpo e a alma. Mas quando chegamos a Dezembro, sossegamos na pausa da lareira, olhamos para trás e relembramos o trabalho feito, sobrevém um sentimento morno de dever cumprido. Foram tantos os desafios, que se vai esgotando a lenha pelo meio das recordações. O ano levou-nos pelas longínquas paragens do rio Buzi, na selva inundada dos nossos irmãos moçambicanos da Beira, que abrem sorrisos de acolhimento na desgraça e nos abraçam em português, agradecendo a comida e vibrando com a camisola vermelha. Levou-nos pelos caminhos de Portugal a ensinar valores de terra em terra porque somos um clube de valores. Mas também a dar a mão aos jovens nos seus desafios e ajudá-los a aproveitar a sua inteligência e a evoluir como pessoas, mesmos nos sítios mais difíceis e nos recantos da sociedade onde a esperança às vezes é difícil de manter. Levou-nos pelos caminhos do ambiente, da floresta, de deficiência, da violência, da exclusão, do envelhecimento, dos dramas familiares e dos sonhos. Na maioria dos casos, desafios a que preferíamos não ter de atender, mas, quando chegou a hora, lá soubemos dizer presente mesmo que a enormidade ou a compactidade da tarefa nos exigisse a superação da equipa e de cada um. Afinal, é isso o Benfica, portanto a Fundação não poderia ser senão isso, também. Agora, que venha de lá 2020 porque, do nosso lado, estamos prontos para as chamadas que venham pela frente. Oxalá poucas ou nenhumas, mas, se tiver de ser, cá estaremos porque o Benfica está sempre cá para o país e para o mundo. Feliz 2020."

Jorge Miranda, in O Benfica

A 'Grande Máquina'

"A virada do ano trouxe novas evidências que provam a força da 'Grande Máquina' em que hoje está transformado e é mais universalmente reconhecido o nosso Sport Lisboa e Benfica, por força de determinação que um Presidente visionário soube implantar desde há dezasseis anos.
No plano internacional, no quadro da 11.ª edição dos Dubai Golden Soccer Awards - um evento que, a par dos Best FIFA Football Awards - um evento que, a par dos Best FIFA Football e do Ballon d'Or da revisa francesa France Football, de ano para ano se tem afirmado como uma das mais interessantes, concorridas e importantes celebrações do Futebol -, o Benfica Campus volta a ser galardoado, pela segunda vez, como a Melhor Academia de Futebol do mundo, neste caso, ex aequo com a Formação do Ajax de Amesterdão.
No plano interno, antes da agitação forçada pela intensidade com que, a cada janela de mercado, os jornais, as rádios e as TV se afadigam em projectar carradas de supostas novas contratações e dispensas do Benfica, a oportuna abertura do Estádio para que os Sócios e simpatizantes pudessem assistir a um treino da Equipa de elite constituiu outra manifestação da grandeza do Glorioso.
O Benfica evolui, nacional e internacionalmente, no sentido do Futuro: à intensificação da expansão dos afectos com a sua gente, corresponde, em harmonia, a nova dimensão adquirida pelos projectos consistentes que Luís Filipe Vieira soube desenhar para o Grande Clube.
Ambos os eventos são resultantes muito diferentes de um coerente modelo de gestão que constantemente se define pela dualidade que vai do coração forte à força da razão. Assim, nem os Benfiquistas deixam de se sentir cada vez mais unidos e mais fortes - no que o convívio com os nossos representa para o poderoso desenvolvimento da nossa autoestima, nem nenhum verdadeiro Benfiquista pode desmerecer o crescente reconhecimento que - consagrado de fora, pelos nossos próprios congéneres e antagonistas - é atribuído ao modo nos soubemos, quisemos e pudemos posicionar à medida dos dias em que vivemos, no estrito contexto dos dias do Futuro no Futebol europeu e mundial.
E, por falar em Futuro conservando os pés no chão... em nome de todos os profissionais e colaboradores do nosso Jornal, aproveito a ocasião para terminar este texto com os melhores votos para o Novo Ano, expressamente dirigidos aos dedicados leitores de O Benfica: que 2020 seja, mesmo, para todos um ano repleto de 'vintes' nas duas épocas desportivas que o vão compor!"

José Nuno Martins, in O Benfica

Vulnerabilidade gera preocupação

"De acordo com o Público, citando a empresa de monitorização Sportradar, que trabalha, entre outras entidades, com a FIFA, a UEFA, ou a NBA, o futebol português gerou um movimento, em apostas desportivas, no mercado asiático, na época 2018/2019, de 10,6 mil milhões de euros.Mergulhando no pormenor, ficou a saber-se que há, em média, apostas no valor de 22 milhões em cada jogo da Liga; de 11 milhões na Taça de Portugal; de 7,5 milhões na Liga 2, de dois milhões da Liga Revelação e de 111 mil euros, no Campeonato Nacional de Seniores.
Para além do facto de nem um cêntimo deste montante (que corresponde a cinco por cento do nosso PIB) entrar nos cofres do Estado ou dos clubes, a vulnerabilidade das nossas competições deverá gerar todas as preocupações. A desproporção entre o que gira em torno de cada jogo (onde é possível apostar em quase tudo...) e o nível salarial praticado, expõe uma situação de fragilidade intolerável. É verdade que a FPF, a Liga de Clubes e o Sindicato dos Jogadores, honra lhes seja feita, têm exercido acções informativas e pedagógicas sobre esta matéria. Mas o escrutínio sobre as entidades dirigentes não será o mais apertado (como se viu, por exemplo, no caso do Atlético Clube de Portugal) e é com frequência inusitada que somos confrontados com vendas de SAD, a quem ninguém parece dar muita importância. Em Inglaterra, por exemplo, dizem, com orgulho, que nem quiser investir num clube é mais escrutinado do que qualquer candidato ao Parlamento. Por cá, pelo menos que estes números arrepiantes tenham o condão de colocar o futebol nacional em alerta máximo."

José Manuel Delgado, in A Bola

Linhas e leis

"Pepe Mujica, 84 anos, presidente do Uruguai durante cinco anos e auto declarado resistente toda a vida, diz que a lei é a congelação de uma ideia dum determinado período de tempo para a eternidade. Ao ouvi-lo lembrei-me da lei do fora de jogo e da sua aplicação cada vez mais rigorosa por força da recente introdução das linhas do VAR que determinam a sua aplicação ao milímetro - veja-se o golo anulado ao Wolverhampton frente ao Liverpool. Na génese da introdução da lei do fora de jogo esteve o pretender impedir-se que os avançados tirassem claramente benefício da sua posição em relação aos defesas para marcarem - nos primórdios, havia quem se plantesse na área à espera que a bola chegasse para a empurrar para a baliza, com participação activa no jogo apenas e só nesse momento. Isso deixou de acontecer, claramente, com a introdução da norma e na última alteração, nos anos 90, ficou determinado que o jogador que estava em linha deixava de estar off side. Face à introdução da tecnologia, este último item é praticamente impossível de acontecer, pois só por uma máxima coincidência dois corpos em movimento estarão exactamente alinhados na mesma posição. Além disso, estou convencido do que um avançado que esteja, por exemplo, cinco centímetros adiantado em relação ao penúltimo defensor da equipa contrária não está a beneficiar da sua posição para atacar a baliza.
Uma das verdades absolutas do futebol passa por o International Board ser extremamente avesso à mudança. Ainda assim, nos últimos anos tem-se registado uma significativa evolução no habitual conservadorismo da IFAB e já que os senhores acederam à introdução da tecnologia também podiam pedir estudos para se atestar cientificamente as margens em que os avançados beneficiam das suas posições em relação aos defesas. É porque as leis podem congelar um determinado período de tempo, mas o fulgor dos adeptos está sempre em efervescência e quanto menos dúvidas surgirem melhor. Para todos."

Hugo Forte, in A Bola

A década do centenário

"Nestes segundos dez anos do presente século, a FPF comemorou o seu centenário. Fundada em 1914, iniciou nesse ano um percurso que a tornou a mais importante federação desportiva nacional. A sua implantação foi crescendo ao longo do século, mas estes últimos anos ficarão como os que marcaram o fim do quase que ganhamos para o vencer efectivamente. Isto sem nenhum desprimor para a fantástica campanha de 1966, que só não nos permitiu aumentar as possibilidades de vencer o Mundial, pela cedência que o nosso poder politico e desportivo teve para com a Inglaterra. Não devíamos ter abdicado de jogar a meia-final em Liverpool. A visão de um interesse pontual, infelizmente não se percebeu a dimensão de jogar a final de um Mundial. Igualmente as campanhas nos Europeus de 1984, em França, 2000 na Holanda/Bélgica e a de 2004, em Portugal, bem como o Mundial de 2006, merecem referência especial. Mas foi em 2016, com a vitória no Europeu, que concretizámos o sonho há tantos anos perseguido, e esta época voltamos a vencer a primeira Liga das Nações. Se juntarmos a isto as campanhas de todas as outras equipas nacionais, da formação masculina ao futebol feminino, no futsal ao futebol de praia, de reconhecimento dos treinadores, jogadores e dirigentes, chegamos à conclusão que vivemos o período de maior sucesso das equipas nacionais.
Ao longo destes anos, este percurso também realizado pelas equipas de clube, criou outro tipo de problema. A globalização permitiu o estabelecimento de diferentes relações, passámos a ser exportadores de excelência, com todas as vantagens inerentes, mas por outro lado o mercado interno enfrenta questões estruturais que só terão solução com uma visão de conjunto. Esse é o maior desafio para a nova década. Estamos a entrar nos anos vinte, talvez seja bom não esquecer os vinte século passado, só como ensinamento histórico."

José Couceiro, in A Bola

2019 Feliz. Feliz 2020! (com Tóquio na mira)

"Nesta altura do ano não há área relevante da sociedade em que não se façam balanços dos 12 meses anteriores e no desporto eles são frequentes e diversificados. Os resultados em campeonatos do mundo são um dos principais barómetros da competitividade do desporto de um país à escala global. E neste particular, se tem sido frequente a conquista de várias medalhas por ano no escalão sénior em disciplinas não olímpicas, os pódios nas disciplinas olímpicas são normalmente mais raros. Por exemplo, em 2018 apenas lográmos a conquista de uma medalha, através do brilhante título mundial de Fernando Pimenta em K1 1000m, em Montemor-o-Velho. Em alguns anos chegámos a dois pódios, por vezes a três.
O ano de 2019 foi diferente, único até agora.
Jorge Fonseca tornou-se o primeiro português campeão mundial de Judo, ao vencer na categoria de -100 Kg. O país vibrou ao ritmo da sua dança, que ficará na memória colectiva nacional. A prata de João Vieira nos 50 Km marcha teve tanto de inesperado como de merecido, tornando este atleta o mais velho medalhado em mundiais no Atletismo. Também vice-campeã do mundo, a judoca recém-naturalizada Bárbara Timo conseguiu finalmente, mas com o emblema nacional, provar que está entre a elite mundial nos -70 Kg. As medalhas de bronze do canoísta Fernando Pimenta em K1 1000m e de Rui Bragança na categoria de -58 Kg no Taekwondo comprovaram o alto nível destes dois categorizados atletas, já anteriormente medalhados em mundiais. O jovem Gustavo Ribeiro foi a grande novidade, conseguindo o bronze no Skate, modalidade que se estreará em Tóquio 2020.
Este total de seis medalhas para atletas portugueses em contexto de campeonatos do mundo de disciplinas olímpicas representa um número recorde, muito acima do habitual. O facto de ter sido conseguido em cinco modalidades bem distintas exponencia a sua importância.
Mas os bons resultados em 2019 não se ficaram por aqui. O quarto lugar de Pedro Pichardo (Atletismo), os quintos lugares de Joana Ramos e Patrícia Sampaio (Judo), o sexto lugar do K4 Masculino (Canoagem), os sétimos lugares de Antoine Launay (Canoagem), Frederico Morais (Surf) e João Paulo Azevedo (Tiro com armas de caça) e os oitavos lugares de Patrícia Mamona (Atletismo), Teresa Portela (Canoagem) e Nélson Oliveira (Ciclismo) elevaram para 16 o número de resultados entre os oito primeiros, em campeonatos do mundo em 2019, em oito modalidades.
Para além destes, tivemos mais 16 resultados entre o 9º e o 16º lugar, em seis modalidades. Mas neste quadro de honra não podemos omitir outros excelentes resultados em contexto europeu, em disciplinas onde não foi disputado campeonato do mundo, como foi o caso do Ténis de mesa, em que as nossas equipas masculina e feminina se sagraram vice-campeãs da Europa ou da Equestre, onde a equipa de ensino obteve um meritório 8º lugar e consequente qualificação olímpica. Assim como as 15 medalhas obtidas nos Jogos Europeus de Minsk, bem acima das dez conquistadas na primeira edição em Baku 2015 e num contexto de decréscimo de 21% do número total de eventos de medalha disputados. Dez destas medalhas foram conseguidas em disciplinas olímpicas, contra as sete de Baku.
No que diz respeito à qualificação para Tóquio 2020, terminámos 2019 com 29 atletas qualificados em dez modalidades: sete na Canoagem, seis no Atletismo, cinco na Natação, três na Equestre, dois na Vela e no Ciclismo e um na Ginástica, no Surf, no Ténis de mesa e no Tiro com armas de caça. 
Paralelamente, também já temos presença praticamente assegurada em Tóquio em três modalidades de qualificação por ranking, nomeadamente no Judo, Skate e Triatlo, estando o Ténis igualmente numa posição muito privilegiada para conseguir a qualificação.
Os resultados de 2019 permitem-nos fazer uma previsão de participação de 70 a 75 atletas em Tóquio 2020. É um número inferior ao da nossa participação no Rio em termos absolutos, mas, a confirmar-se, será da mesma ordem de grandeza de 2016, se não considerarmos os 18 atletas qualificados pelo Futebol em 2016, modalidade que, desta vez, infelizmente não se qualificou.
Teremos ainda que esperar pelo final dos exigentes períodos de qualificação para ficarmos a saber o número final de modalidades e de atletas que marcarão presença em Tóquio. Temos ainda cerca de uma dezena de modalidades a tentar juntar-se às 14 que parecem já praticamente garantidas, sendo, por isso, ainda possível chegar às 16 que participaram no Rio e, eventualmente, ultrapassar esse número.
Outro detalhe relevante é que 2019 permitiu também antever a possibilidade de, em Tóquio, haver um rácio de participação nacional feminina superior a 40%, não sendo impossível que esta possa ser a Missão com mais elementos do sector feminino, em termos absolutos. Neste contexto, o Atletismo e o Judo são as modalidades em que se perspectiva uma participação mais representativa de mulheres do que de homens.
Estaremos perante uma alteração do paradigma dos resultados desportivos lusos em contexto mundial? Se é inegável que 2019 deixou bons indicadores em ano pré-olímpico, com um número inédito de grandes resultados em contexto mundial, não é menos verdade que só dentro de alguns anos poderemos aferir se revelam uma efectiva melhoria da competitividade do nosso desporto de alto rendimento ou, por outro lado, se tratou apenas de uma excepção que confirma a regra.
Contudo, há um dado que não pode ser menosprezado: temos mais modalidades com possibilidades reais de conquista de resultados de relevo em contexto mundial. Há um aumento do espectro de atletas com pressupostos para chegar resultados de excelência. Há uma crença cada vez mais generalizada de que é possível chegar mais longe, mesmo em modalidades em que tradicionalmente Portugal não era tão forte.
O foco está agora na participação nos Jogos Olímpicos de Tóquio, entre 24 de Julho e 9 de Agosto. E tudo aponta para que estes Jogos tenham características especiais. Desde logo, as previsíveis condições de temperatura e humidade que condicionarão sobretudo as modalidades de exterior e de resistência, mas indirectamente também as restantes, apesar de em menor escala. Depois, o contexto de dispersão geográfica de várias modalidades (Ciclismo de estrada em Fuji, Ciclismo de pista em Izu, Vela em Enoshima, Surf em Tsurigasaki e a mais recente alteração das provas de marcha e maratona para Sapporo, a 800 Km de Tóquio), com aldeias satélite e necessidade de alojamento longe da Aldeia Olímpica, que fará destes Jogos, muito provavelmente, os mais complexos sob ponto de vista logístico para as Missões nacionais.
Será do grau de preparação dos atletas para as condições em que se disputarão as competições mas também da criação de rotinas, que potenciem a sua adaptação e a optimização da sua performance, que muito do nosso sucesso se jogará, como da generalidade dos países. O facto de Tóquio ter uma diferença horária de oito horas em relação a Portugal Continental obrigará a uma deslocação com maior antecedência, amplificando os efeitos da proficiência dessas mesmas rotinas.
O cenário está montado para que possam existir grandes surpresas. Talvez nunca como agora, os pequenos detalhes poderão fazer enormes diferenças nos resultados finais. Mas com a devida preparação e a correta adaptação ao contexto em que se vão desenrolar os Jogos, é possível fazer com que as difíceis condições em que as competições se irão desenrolar possam jogar a nosso favor. Só assim o que aparentemente pode ser visto como um obstáculo poderá ser transformado numa grande oportunidade.
É um facto que há ainda muitos aspectos a melhorar no sistema desportivo nacional tendo em vista ao aumento da quantidade e qualidade da nossa elite desportiva, base essencial para que consistentemente possamos ter um número relevante de grandes prestações em termos internacionais. Mas os resultados de 2019 dão-nos indicadores muito positivos quanto à qualidade dos nossos atletas e muita confiança para esta recta final rumo ao grande objectivo de Tóquio.
Os objectivos de resultados desportivos em Tóquio estão, desde o início de 2018, plasmados no Contrato-Programa que rege o actual Programa de Preparação Olímpica: a obtenção, no mínimo, de duas posições de pódio, de 12 diplomas e de 26 posições até ao 16º lugar. Se estes objectivos forem concretizados, estaremos certamente a falar de um dos melhores conjuntos de resultados de sempre das participações olímpicas de Portugal.
Que 2020 nos traga muita saúde, paz, amor, felicidade, prosperidade e sucesso. Mas, se não for pedir demasiado, que nos próximos sete meses e meio nos consigamos tornar ainda mais competentes, de forma a termos a capacidade de controlar as variáveis que nos poderão trazer um verão desportivo inesquecível, pelos melhores motivos.
Merecemos isso. Merecemos que, em Tóquio, possamos demonstrar a qualidade que já temos, desta vez em contexto de Jogos Olímpicos."