quinta-feira, 2 de janeiro de 2020
O Ano Velho
"Neste texto limito-me a um balanço vocabular de futebolês e a enunciar os acontecimentos nacionais que mais me significaram
1. Quis o calendário que eu escrevesse esta crónica no último dia do ano. Salvo erro, a 52.ª de 2019, pois não me dei férias nesta página de A Bola. Como também já aqui referi, ainda me surpreendo com o facto de sempre haver assuntos que selecciono para abordar. Raramente tive a conhecida angústia do dia anterior, qual seja a de ainda não ter nada sobre que escrevinhar. O desporto, e em particular o futebol, dão sempre pretexto, mesmo se para uma qualquer minudência transformada em assunto de gala.
A propósito da passagem do ano, nunca alinhei na ideia de satisfação ou de alegria compulsivas. Por uma questão de calendário, mandam as regras administrativas da sociedade que tenhamos cara alegre na passagem de ano e cara de palhaço no entrudo. Ora, a minha disposição tem o seu calendário próprio, não programável à distância. A alegria exuberante não se clica como uma tecla de um qualquer telemóvel dito inteligente. O meu tempo não é, necessariamente, o tempo de uma qualquer convenção. Posso fazer esforço para me adaptar a esse tempo que me é exterior, mas basta esse esforço para tornar deslocada a fantasia da satisfação.
Quanto mais verdadeiro se é consigo e com os outros, mas difícil se torna a sintonia entre os sentimentos de dentro e os acontecimentos de dentro e os acontecimentos por fora. Por vezes, acontece mesmo que, por instinto de defesa ou de autenticidade, se fica possuído de um estado de espírito oposto ao decretado pela norma, pela tradição ou pela convenção. Quantas vezes se fica melancólico na alegria distribuída em festins com hora marcada, quantas vezes se fica abúlico na euforia do artificial. No primeiro dia de Janeiro, limito-me a poupar tempo para os outros trezentos e sessenta quanto ou cinco dias do novo ano.
2. Em cada termo de um ano civil, é costume fazer-se o balanço desportivo. Não o contabilístico que, esse para as SAD, coincide com a sua metade e não com o seu término. Mas o dos acontecimentos e protagonistas. Por regra, estes balanços são influenciados pelo maior ou menor tempo decorrido, porque a nossa memoria tende a desconsiderar mais ou meses iniciais valorizar os meses finais. Neste texto corrido, limito-me a um balanço vocabular do futebolês e a enunciar os acontecimentos nacionais que mais me significaram.
Quanto a palavras a expressões no plano desportivo, 2020 trouxe-nos palavras novas, ressuscitadas, ampliadas e erradas. Seleccionei dez delas, sem qualquer preocupação de ordenação. Começo pela expressão «mengão» (1), vocábulo associado à equipa do Flamengo, que Jorge Jesus tão bem soube aportuguesar. »Dormir com bola»(2) é uma frase soporífera para quem a ouve e, certamente, uma atitude inteligente de um treinador com boa imprensa (isto no futebol masculino, pois no feminino não fará tanto sentido). Depois do «losango invertido» e outras figuras mais ou menos trapezoidas que marcaram anos atrás, chegámos ao primado do «ataque à profundidade» (3) (ou será ataque na profundidade, pois que ataque à profundidade pode dar cabo dela...). Crescentemente, temos os famosos «blocos» (4) que recuam ou avançam e se afastam ou juntam consoante se esteja na «primeira fase de construção», «no último terço», ou «em basculação», favorecendo ou prejudicando a criatividade «entrelinhas» (reconheço que, neste texto, escrevo algumas coisas também nas entrelinhas, faltando-me, porém, os blocos). Por sua vez, continua no top-ten o «à condição» (5), como uma das mais pobres expressões de preguiça linguística e de que já aqui tratei amiúde. Em forte concorrência com esta, temos, em expansão endémica, um modismo (em forma de adjectivo) expectável» (6), que me lembra outro que há anos se dizia, por dá cá aquela palha, o «incontornável». Agora é tudo expectável, mesmo que já tenha acontecido. Por exemplo: «Foi um resultado expectável». Assim vamos ouvindo e lendo até fartar que seja expectável que o expectável desapareça e possamos voltar ao velhinho e mais adequado «esperado(a)». A «chicotada psicológico» (7) rejuvenesceu nesta época com mais de metade dos 18 clubes primodivisionários a dela tentaram extrair melhorias, havendo até treinadores que, de uma hora para a outra e em jeito de «economia circular», conseguem passar de chicoteados e incumbentes de chicote. Nas palavras seleccionadas pela Porto Editora para a palavra de 2019, há uma que se pode analisar, também, do ponto de vista do futebol: «seca» (8). No caso de seca de água, associamo-la ao aquecimento global. No caso de jogos chatos, conversas de treta e outras manifestações pueris da futebolândia, a seca exige »esquecimento global». Outro vocábulo, melhor dizendo um neologismo muito a propósito, é «varíssimo» (9), uma combinação de Veríssimo VAR e de VAR veríssimo, qual deles mais influente na distorção dos acontecimentos.
Por fim, uma palavra (nome= que me diz muito, Félix (10), e que agora em função do jogador João Félix tem suscitado a questão do modo como se deve pronunciar. Não vem mal ao mundo pronunciar-se «félis» ou «felics». Mas, se quisermos ser rigorista, a pronúncia certa é «félis». Aliás, no Benfica, que eu me lembre já tivemos nos anos 50 um defesa de nome Felix e uma grande dirigente dos primórdios do clube que foi Félix Bermudes, sendo que, neste caso, o Félix era nome próprio e não apelido. Não conheço ninguém que pronunciasse os seus nomes como «félics». Claro que, noutras línguas, Félix se pronuncia terminando em cs (caso do francês e inglês), mas já não no italiano (Felice).
Se consultarmos o Ciberdúvidas, podemos lá ler a explicação: «a grafia latina aconselharia a pronúncia em /ks/, mas a palavra entrou no português muito cedo, ainda na fase de formação da língua, aparecendo já no século XI registada como Felici e Felice, sendo, pois, esta a pronúncia que existia e perdurou, mesmo quando se recomeçou a grafar Félix».
Há dias, li em A Bola a excelente entrevista do nosso Golden Boy. Quando o entrevistador Nuno Reis lhe perguntou como pronunciava Félix, ele respondeu (rindo-se) «Félicse», pelo que - concluiu o jornalista - «com dois pais professores, a dúvida estará finalmente desfeita», ao que João Félix rematou com um «exactamente». Tudo bem, como atrás disse, há uma certa margem de facultavidade que deve ser familiarmente respeitada que deve ser familiarmente respeitada e, jogando agora em Espanha, «félics» faz sentido. Só não compreendo por que razão o entrevistador proclama urbi et orbe que «a dúvida estará finalmente desfeita»...
3. Por falta de espaço, enuncio, tão-só, os factos que, apenas em Portugal, elegeria para o top-ten de 2019 (também aqui a ordem é arbitrária):
- A Reconquista do título nacional pelo Benfica, assim alcançando um penta em 6 campeonatos, através de um quase inigualável trajecto que Bruno Lage conseguiu;
- A transferência de João Félix para o Atlético de Madrid por 120 milhões de euros;
- A vitória do FC Porto na UEFA Youth League 2019;
- A vitória de Portugal no Mundial de hóquei em patins, o que já não acontecia há 16 anos e logo na Catalunha;
- As conquistas do Sporting na Liga europeia de fusal e de hóquei em patins;
- A entrada da equipa do Benfica na Champions de voleibol;
- A qualificação de Portugal para a fase final do europeu de andebol, 14 anos depois;
- A vitória de Portugal na primeira edição da Liga das Nações em futebol;
- A consistência e competência profissional de dois jogadores portugueses: Pizzi e Bruno Fernandes;
- O êxito assinalável de treinadores portugueses no estrangeiro, aqui simbolizados pelo tremendo sucesso de Jorge Jesus num país ao qual chamamos irmão mas que, muitas vezes, desvaloriza e ridiculariza os nossos melhores;
Esta lista foi, propositadamente, elaborada à medida que ia escrevendo. É, como tal, produto da minha primeira intuição (normalmente a que, dentro de nós, é mais genuína) e, obviamente, terá deixado injustamente de lado outros acontecimentos ou protagonismos.
P.S. Ainda vou a tempo do meu 11.ª destaque: a atribuição ao Benfica do prémio da melhor Academia do mundo (a par da do Ajax), assim se reconhecendo a excelência ímpar do sonho de Luís Filipe Vieira.
Contraluz
- Salto: O salto de Ronaldo, 2,56m acima do solo, foi fantástico e notável, até atendendo aos seus quase 35 anos. Li que Mozer chegou - quase silenciosamente - aos 2,78m...
- Sorteios: Mais um, o da Taça de Portugal. Quiseram as bolinhas que Benfica e Porto só se possam encontrar na final. Com a diferença de as 3 equipas secundárias se poderem encontrar com o FCP e as três equipas da divisão principal se poderem cruzar com o SLB. Uf! Ao menos safamo-nos do temido Canelas!
- Primeiríssimo: A nível dos campeonatos nacionais, o Benfica de Bruno Lage teve, na Europa, o melhor percurso em 2019. Em resumo: 31 jogos, 29 vitórias, 2,85 pontos/jogo e 3,3 golos marcados/jogo. Ano para sempre recordar!
- Diferença: Em todo o ano de 2019, B. Lage fez mais 13 pontos que S. Conceição: recuperou 7 de atraso, ganhou a Liga com 2 de avanço e terminou o ano com 4 na dianteira. Cristalinamente!"
Bagão Félix, in A Bola
Lage - o sucesso da dignidade
"Quando Bruno Lage pegou na equipa principal do Benfica, nos primeiros dias de Janeiro de 2019, a equipa estava com sete pontos de atraso em relação ao que parecia ser um imparável FC Porto. Rui Vitória tinha chegado ao fim da linha, durante o mês de Dezembro falou-se na possibilidade de regresso de Jorge Jesus, que estava a comandar o Al Hilal, mas a opção do presidente Luís Filipe Vieira acabou por ser a aposta num dos seus treinadores da formação. A maioria dos adeptos benfiquistas ouviram, pela primeira vez, falar no nome de Bruno Lage.
Era, no entanto, uma aposta calculada e com carácter transitório. Vieira não escondia que Lage iria ser o treinador interino, o treinador da transição, num campeonato que estava perdido.
Pois bem, a equipa subiu rapidamente de rendimento, começou a juntar vitórias a exibições consistentes, com um futebol de ataque exuberante e eficaz, e o interino passou rapidamente a treinador definitivo.
Depois, sabe-se o que se passou neste ano verdadeiramente surpreendente, em que o Benfica recuperou os sete pontos de atraso, foi campeão nacional, com um percurso imaculado, sendo, agora, na viragem do ano civil, sensivelmente a meio da prova, o líder, com quatro pontos de avanço.
O prémio que A Bola atribuiu a Bruno Lage tem, pois, como base, razões objectivas, sendo que uma escolha é sempre subjectiva. Trata-se, porém, de uma opção pensada e que contempla um jovem (43 anos) que tem uma profunda paixão pelo jogo, que o estuda em pormenor, que o renova, que o honra com um trabalho de sucesso e qualidade, ao qual junta um discurso libertador e, sobretudo, digno."
Vítor Serpa, in A Bola
Adeus 2019, olá 2020!
"Inicio de ano, tempo de olhar para o que se passou no último ano, o que não foi pouco. Dentro e fora de campo foram muitos os acontecimentos que marcaram a agenda mediática, que encheram noticiários, jornais e redes sociais. De seguida apresentamos, mês a mês, um pequeno resumo do que de mais importante de passou em 2019.
Janeiro
O SL Benfica iniciava o ano com uma derrota em Portimão, resultado que ditaria o fim de linha de Rui Vitória e a entrada em cena de Bruno Lage. Então a 7 pontos do líder, o Porto, iniciava-se um percurso que se antevia muito duro e com muitas dúvidas em seu redor.
Rui Pinto é detido em Budapeste, na sequência de um mandado de detenção europeu emitido pelas autoridades portuguesas, por "tentativa de extorsão, acesso ilegítimo e exfiltração de dados de algumas instituições, inclusive do próprio Estado".
Olhando aos sucessivos ataques de que o SL Benfica era alvo, de todos os quadrantes possíveis, e perante a inoperância do Clube, nascia o Polvo das Antas. Objectivo único: lutar pelo Benfica.
Fevereiro
Em mês de aniversário o SL Benfica não faz por menos e alcança dois resultados brutais. Vai a Alvalade ganhar 4-2, num jogo em que a vantagem peca por escassa, e dias mais tarde soar de uns quantos ignóbeis. 10-0 ao Nacional no Estádio da Luz são o pretexto para certos iluminados saírem da toca e virem falar do prejuízo que este tipo de resultados traz ao campeonato nacional. Pois bem, o que estes iluminados querem, ou gostavam, sabemos bem nós.
A nação benfiquista começava a acreditar que o título era possível, e recuperou alguma da desvantagem pontual que trazia na bagagem, mas continua atrás.
O Polvo das Antas chega ao Facebook.
Março
Dando sequência ao bom momento, e dissipando todas as dúvidas que ainda pudessem existir, o SL Benfica inicia o mês de Março com uma categórica e extraordinária vitória no terreno do Porto, assumindo assim a liderança da competição. Diz-se que é mais fácil correr atrás, o mais difícil é aguentar a liderança. Seguiriam-se meses de bastante stress, que colocariam à prova o coração de todos os benfiquistas.
Rui Pinto, o hacker responsável pelo acesso à correspondência interna do SL Benfica, e sua divulgação em colaboração com Porto e Sporting, é extraditado para Portugal.
Abril
Enquanto que o escândalo do conhecimento antecipado das nomeações de árbitros era discutido, a comunicação social informa que o Diogo Faria do FC Porto viajou até Budapeste e pernoitou a escassos metros da residência de Rui Pinto. Após um grupo anónimo de Benfiquistas ter descoberto e denunciado que ambos foram caloiros e colegas na mesma faculdade, e do ex-Presidente e Director de Comunicação do Sporting terem sido apanhados numa discoteca em Budapeste, este era mais um rude golpe na estratégia da Santa Aliança. Mesmo os mais cépticos começavam a abrir os olhos. Demasiado evidente.
Maio
O SL Benfica conquista o 37º título de campeão nacional e cimenta a sua posição dominante. O País e o Mundo são pintados de vermelho e branco, a felicidade pairava no ar. Dias felizes e merecidos, chegava ao fim uma época desportiva que levou os benfiquistas à exaustão mental, pelas mais variadas razões, de índole interna mas sobretudo por todo o ruído causado pelos inimigos, tudo valeu para tentar que o SL Benfica não voltasse ao seu lugar: de campeão.
Simultaneamente, no decorrer do último jogo no estádio do Dragão, o Porto dava mais uma prova da sua natureza criminosa e má perdedora, exibindo uma tarja onde, ironicamente, apontava como campeões nacionais diversos árbitros, figuras políticas de relevo, magistrados, dirigentes desportivos, etc. Situação grave, certo? Infelizmente, ou curiosamente, para que avaliou o caso foi uma situação absolutamente corriqueira.
Junho
Após ter visto o SL Benfica sagrar-se campeão nacional, ter perdido a Taça de Portugal, eis mais uma enorme derrota do Porto. No famigerado Caso dos Emails o Porto (Clube, SAD, Media, e Francisco J. Marques) é condenado ao pagamento de 2M€ de indemnização ao SL Benfica pelos danos causados. Foi ainda obrigado toda a correspondência que tivesse em sua posse, ficando naturalmente proibido de divulgar publicamente o seu conteúdo. Mais uma derrota do Porto.
Passados mais de seis meses, e perante esta condenação, a FPF já desencadeou o processo de suspensão do Porto das competições oficiais?
Os regulamentos são claros.
Julho
O Caso Cashball, sobre um notório e explicito esquema de corrupção montado pelo Sporting para vencer o campeonato de andebol de 2016/17 era arquivado pela FPA. Disse a Federação em comunicado que não foram encontrados "indícios" que fundamentassem uma participação disciplinar "contra qualquer clube ou agente desportivo". As imagens e áudios divulgados são imaginação de todos nós certamente.
A mui nobre Ana Gomes vai visitar Rui Pinto à prisão, continuando a defender que o mesmo é um denunciante e não um criminoso. Cara Ana Gomes, tentativa de extorsão = crime, acesso e divulgação de correspondência privada = crime...
Agosto
A época desportiva iniciava-se, e o inicio foi em grande estilo. Vitória na Supertaça ante o Sporting, uns claros 5-0 para pôr em sentido toda a gente, e que augurava uma época cheia de sucessos.
Setembro
Rui Pinto é acusado pelo Ministério Público de um total de 147 crimes. 75 de acesso ilegítimo, 70 crimes de violação de correspondência, 1 de extorsão na forma tentada e outro de sabotagem informática.
Num outro processo, o E-Toupeira, a SL Benfica SAD não foi conduzida a julgamento. Foi apenas o corroborar de decisões já tomadas em instâncias inferiores, ficou evidenciado que a SL Benfica SAD não tinha qualquer responsabilidade nos factos descritos pela acusação do Ministério Público. As investigações do MP e PJ foram humilhadas no Acordão emitido, o procurador Valter Alves procurava um buraco para se enfiar.
Uma pequena vitória para o SL Benfica.
Outubro
Em 9 de Outubro, a Sporting CP SAD comunica a todos os seus investidores que “procedeu à regularização de todas as obrigações pecuniárias vencidas, encontrando-se assim em cumprimento perante os bancos”. Com a confirmação que anteriormente incumpriam com a banca, a Sporting SAD informa no mesmo comunicado que renegociaram condições com os Bancos e reestruturaram a dívida com o BCP e NB obtendo um perdão de uns inacreditáveis 94,5 Milhões de euros. O maior indecoroso perdão da história do futebol português. Muitas famílias e empresas portugueses não partilharam o mesmo fado. O tratamento especial estará também relacionado com o facto dum membro do Conselho de administração do Novo Banco ter sido Presidente do Sporting?
Novembro
Em 18 de Novembro de 2019 foi conhecido o anúncio preliminar de uma OPA sobre o equivalente a mais de 28% do capital social da SL Benfica SAD. A ofertante foi a Sport Lisboa e Benfica SGPS, SA que já detinha o controlo de 66,9% das acções. O efeito imediato foi a valorização dos títulos que se aproximaram do preço da oferta – 5 euros.
O conhecimento da operação foi seguido de forte polémica envolvendo o prémio, superior a 80%, os outros accionistas de referência e potenciais vendedores, eventuais conflitos de interesses e o momento escolhido.
Objectivamente, a concretização da OPA permitiria ao SL Benfica reforçar o controlo e acesso aos benefícios da sua principal actividade, o futebol profissional.
Situações de risco como a possibilidade de accionistas não alinhados com o SL Benfica elegerem pelo menos um administrador, ou utilizarem abusivamente informação nevrálgica do Benfica deixariam de existir.
Por outro lado, a concentração de capital social da SL Benfica SAD não beneficiaria interesses alheios ao Benfica, especialmente num período que confirma uma tendência constante de resultados positivos anuais superiores à dezena de milhões de euros, com os capitais próprios recompostos e um activo subvalorizado com crescente liquidez.
Por fim, tal operação permitiria outras soluções de financiamento do investimento no futebol, através de recursos próprios ou do aprofundamento da internacionalização da marca Benfica.
O resultado da OPA ainda não é conhecido.
Mas o tempo decorrido desde então confirma que um dos principais riscos, uma contra-opa, não se verificou. Já o investimento qualitativo no futebol profissional parece ser o traço saliente da transição de ano e década. O que pode ser uma mensagem boa para os adeptos de futebol e stakeholders da indústria e má para os investidores financeiros: a SL Benfica SAD vai aumentar o investimento em activos da modalidade. Se tal investimento se concretizar em aumento da qualidade do espetáculo oferecido, a OPA terá sido uma boa notícia.
Dezembro
O ano termina e o Sport Lisboa e Benfica chega ao final de 2019 isolado em 1° lugar, ficado provado e reconhecido o mérito de Bruno Lage e seus rapazes. Ninguém, no seu perfeito juízo, pode contestar ou alegar injusta a actual liderança do SL Benfica. Lá em cima, na invicta, por outro lado temos um treinador que em momentos chave perde a cabeça,sendo o escândalo ocorrido no túnel do Jamor um bom exemplo disso. São inúmeros os casos de insultos, má-educação, ofensas e agressões que ocorrem nos últimos meses, anos até, os quais foram alvo de uma tentativa de branqueamento pelo Canal 11, através duma entrevista que mais parecia encomendada. Uma clara tentativa de lavagem de imagem de um treinador com um perfil conflituoso e gerador de problemas, algo que não se pode aceitar, não só por se tratar do canal da FPF que não deveria promover este tipo de conteúdos, mas também por estarmos a entrar na segunda metade da época e poder representar uma tentava de condicionamento dos árbitros e adeptos em geral.
Vai valer tudo para tentar levar o Porto ao título, algo crucial para tentar dar a volta aos desastrosos resultados financeiros recentes, e resultados desportivos não muito melhores.
A equipa do Polvo das Antas deseja a todos os seguidores um feliz 2020, a nível pessoal e desportivo. Da nossa parte prometemos estar aqui para ajudar, na medida do possível, a promover a justiça e verdade no futebol português. Não queremos o regresso dos mais tenebrosos tempos, não podemos permitir que as práticas vigentes nas décadas passadas voltem a ser aceites como naturais e normais.
Agradecemos genuinamente todo o feedback que tivemos ao longo deste ano, e lançamos o repto para que continuem a divulgar a mensagem. Seguem-se meses certamente difíceis, stressantes e cansativos. Só para os mais fortes. Só para os benfiquistas.
Pelo Benfica!
Obrigado e até já."
Julian Weigl é do Benfica!
"Que bela maneira de terminar o ano! Tivemos hoje a confirmação que o Benfica e Borussia Dortmund chegaram a acordo para a transferência do médio alemão Julian Weigl por €20M numa transferência que surpreendeu tudo e todos, não só em Portugal como na Europa.
Não tenho informações para além das que foram transmitidas no comunicado oficial do clube à CMVM, mas tiro o meu chapéu e aplaudo de pé todos os que estiveram directa ou indirectamente envolvidos neste processo. O alemão poderia ter escolhido dezenas de clubes com mais dinheiro, envolvidos em campeonatos mais competitivos e com maior visibilidade, especialmente em ano de europeu, mas escolheu o nosso Benfica. Mais, Weigl não escolheu apenas um clube que, apesar de arredado da elite desportiva na Europa nas últimas décadas, continua a gozar de enorme respeito pela sua dimensão. Ele escolheu um projecto... e isso são óptimas notícias para todos nós!
Isto poderá significar que finalmente a estrutura decidiu equilibrar a balança entre aquilo que é a vertente desportiva e a lógica financeira do equilíbrio das contas. Tenho afirmado e volto a reafirmar: é possível conciliar a aposta na formação com a contratação de jogadores que tragam efectivamente mais valias em termos desportivos sem que isso coloque em causa o caminho traçado.
Não nos podemos focar apenas nos jogadores da nossa formação porque ficamos perigosamente dependentes de jovens que podem ou não estar prontos para a exigência do nosso clube; de gerações não tão fortes (porque nem sempre é possível produzir craques de forma consecutiva) e da pressão externa que nos tira os melhores jogadores ainda antes de terem feito algo relevante pelo Benfica. Por outro lado, isto também não significa que daqui em diante iremos gastar rios de dinheiro em craques internacionais. O equilíbrio é a palavra-chave!
E Florentino, Gedson, Samaris e Fejsa?
Florentino é um jogador com um tremendo futuro sobre o qual todos temos enormes expectativas e esta contratação não muda isso. Aliás, a minha expectativa é que a chegada de Weigl permita retirar alguma da pressão que tem feito o nosso Tino vacilar em alguns momentos e dar-lhe tempo para evoluir em áreas do seu jogo que ainda não estão ao nível que todos esperamos, nomeadamente na fase de construção ofensiva.
Quanto a Gedson, já foi testado em várias posições do campo sem grande sucesso. Tenho uma fezada que poderia estar aqui uma solução muito interessante para a lateral direita, posição que nem lhe é estranha porque já ali jogou nos escalões de formação. É alto, rápido, gosta de transportar a bola, tem uma qualidade técnica assinalável e um sentido posicional razoável. Se assim não for, o empréstimo ou a venda é o destino mais certo porque temos vários jogadores melhores para as posições centrais do meio-campo.
Samaris e Fejsa são jogadores com os dias contados no clube, embora a níveis diferentes. Fejsa está claramente no fim da linha e a sua permanência no plantel deste ano foi até uma surpresa. Samaris esteve a um nível altíssimo na segunda metade da época passada mas tem tido algumas dificuldades em regressar a esse nível. É um jogador que poderá ser útil mais 1 ou 2 anos, mas a sua utilização dificilmente será relevante nos próximos tempos. Se o rumor da contratação de Bruno Guimarães se confirmar dificilmente terá lugar no plantel, mas uma coisa de cada vez. Seja como for, são 2 guerreiros que me dão muito gosto de ver com a nossa camisola vestida e espero que, qualquer que seja a decisão, se respeite a vontade e a dignidade de todos os envolvidos.
Para finalizar quero apenas acrescentar que a minha opinião sobre a contratação de Weigl não mudará caso o jogador não venha a confirmar a expectativa que nele depositamos, seja por dificuldades de adaptação, lesões ou outro motivo qualquer. O caminho é este e neste momento sinto uma tremenda alegria e orgulho no meu clube por demonstrar ambição e audácia, algo que vem faltando nos últimos tempos.
O futuro é nosso!
Vamos a eles e viva o Benfica!"
Vai Bulo
"Fernando Santos já foi deixando no ar a importância de ter quem faça diferente, quando se referiu a Renato Sanches.
Vitima de um passo totalmente errado na sua carreira – Saltou mais de um patamar competitivo – De um Benfica ao Bayern, vão muitos níveis intermédios de diferença, isto para além de outras também importantes condicionantes – O estilo de jogo de uma equipa que vive o jogo todo em ataque organizado, e que não privilegia as características de Renato, o português procura revitalizar a carreira em França.
Há três anos a escolha de carreira deveria ter passado por ai! À semelhança de Bernardo – Um passo de cada vez teria permitido mais tempo de jogo num contexto mais propício ao seu desenvolvimento.
O Bulo está a recuperar o estilo “desenvergonhado” que cativou a Europa do futebol quando ainda era júnior, numa aventura que o poderá levar de novo a uma grande competição Europeia."
Jorge Jesus "sociedade aprendente"
"A Comunicação Social não cessa de nos repetir uma afirmação convicta de José Saramago: “o homem mais sábio, que eu conheci, em toda a minha vida, não sabia ler nem escrever”. Cervantes escreveu o Dom Quixote, onde surge a figura do Sancho, que faz desta obra imorredoira uma alegoria magistral do permanente conflito entre a teoria e a prática. Eu, um permanente estudante de filosofia (e peregrinando também, com devoção, nos melhores literatos portugueses) já escrevi, em 1977, no meu livrinho A Prática e a Educação Física (Compendium, Lisboa): “De facto, a unidade prática-teoria constitui uma totalidade em que à prática assiste papel fundamental, pois é nela que se reconciliam e interfecundam o objectivo e o subjectivo”. Nas minhas aulas, sugeria aos alunos que “a prática é mais importante do que a teoria e a teoria só tem valor, se for a teoria de uma determinada prática”. E chegava mesmo a dizer-lhes: “Quem só teoriza não sabe, mas quem só pratica repete”. Propunha eu, assim, aos alunos a indissolúvel ligação prática-teoria, dando à prática especial relevância, pois que a prática, mal ou bem, transforma e a teoria, por si só, pode não passar de uma acumulação pomposa de palavras, sem quaisquer efeitos práticos. O que era (é) o conselheiro Acácio senão um palavroso, adulado, reverenciado pelo que dizia, mas simultaneamente de uma flagrante inoperância? Todo o teórico, sem ligação à prática, que julga que tem a Verdade e que a pode dizer, com irrefutável certeza, julga-se um Sol... mas anda na lua! A grande diferença, em Habermas, entre teoria tradicional e teoria crítica, reside no facto de a teoria crítica visar a emancipação do ser humano, mediada historicamente, ou seja, hoje, uma teoria deverá apresentar-se com um interesse prático de transformação. A teoria é necessária, indispensável, mas só como “razão prática”, no meu pensar, se torna visível.
Jorge Jesus exige, para sua justa interpretação, o concurso de inúmeros factores, como é de uso fazer-se com uma figura pública e de grande relevo, como ele é (embora todos nós sejamos vários homens num homem só). O que me ocorre, desde já destacar é que, na sua profissão, é um “prático”: foi jogador de futebol e é, hoje, um treinador de futebol que o mundo começou a reverenciar. Os seus conhecimentos resultam da sua prática diária, quer como antigo jogador, quer como actual treinador. E é neles que ele acredita, porque foi com eles que chegou aos cumes mais altos do futebol nacional (é o treinador mais titulado, em Portugal, com 11 títulos em quatro provas) e internacional. No livro de Gustavo Pires e António Cunha, Agôn, Homo Sportivus – Estratégias & Estratagemas (Edições Afrontamento, Porto, 2017) sustentam os autores: “quando se trata da própria equipa, o treinador deve considerar os seguintes aspectos: o desenvolvimento pessoal de cada jogador; a dinâmica de relações, no grupo; a organização e o planeamento do trabalho; a partilha das derrotas e dos êxitos; o processo de autoavaliação e controlo” E continuam Gustavo Pires e António Cunha: “Nas organizações aprendentes (típicas da sociedade pós-industrial, onde as organizações se mostram capazes de criar sistemas de auto-aprendizagem) a espiritualidade da liderança, enquanto partilha de valores, de crenças, de perspectivas de vida e de auto-conhecimento colectivo, é uma realidade que pode determinar as condições propícias à organização da vitória”. Quando lhe cabe o encargo de uma conferência de imprensa, estes são assuntos de que pouco se ocupa o Jorge Jesus. Risonho, flamante, fala dos seus méritos que são muitos, de facto. Fala dos seus méritos... porque, como já o acentuei, é na sua própria prática que ele verdadeiramente acredita! Não tem grande cultura livresca, mas tem um conhecimento tão meticuloso e tão intensamente vivido dos problemas técnicos e tácticos do futebol, que imediatamente deslumbra os jogadores que, na sua esmagadora maioria, se rendem à sua teorização.
E, porque é um homem onde as “razões do coração” predominam sobre as “razões da razão”, dificilmente o seu comportamento merece uma concordância ou uma discordância generalizadas. No entanto, não é verdade que a grandeza de uma obra se mede mais pela pluralidade das reações que suscita do que pelo afinado e vulgar coro de mesuras, venenoso obséquio que mais empobrece do que enriquece um objeto de estudo? E, porque é cordialmente extrovertido, Jorge Jesus não sabe furtar-se ao risco de mostrar quem é e como é. Quem é? Um prático genial, que faz o que muitos (muitíssimos) letrados não sabem fazer: ser líder magistral de uma equipa de futebol de alta competição. Tendo chegado ao Benfica, já com mais de 50 anos de idade, fica na história deste Clube como o treinador de futebol que mais troféus conquistou: 3 Ligas, 1 Taça de Portugal, 5 Taças da Liga e 1 Supertaça. É verdade que o seu trabalho não seria tão vivo e fecundante, se não beneficiasse do apoio do presidente Luís Filipe Vieira que já logrou, no Benfica, obra de tamanho relevo, que a obra feita ultrapassa o criador e fixa-se na perenidade deste glorioso Clube. No entanto, a exuberante competência de Jorge Jesus também deixou embevecida e encantada a esmagadora maioria dos benfiquistas. Não há que negá-lo! Chegou, há meia-dúzia de meses, ao Brasil, para treinar o Flamengo e fez o que só um génio saberia fazer: venceu o Brasileirão (a 16 pontos do segundo classificado), conquistou a Taça Libertadores e jogou, de igual para igual, com o Liverpool, no jogo final do Mundial de Clubes. É, à sua maneira, um hermeneuta do futebol, como não sei se outro haverá no mundo todo. Como é? Emotivo até à raiz dos cabelos, romântico impenitente, cavaleiro andante de uma grande paixão pelo futebol, o actual treinador do Flamengo do Rio de Janeiro é, sem possível contestação, um treinador de grande improvisação e talento, de refulgente audácia e nervo. Uma ou outra palavra mais brejeira representava nele (já não representa hoje, porque o modo como se expressa, actualmente, é de muito melhor qualidade) o primado do conteúdo sobre a forma, ou seja, o que ele quer dizer da sua vivência do futebol parece não caber no alfabeto. O seu modo de interpretar o futebol é o que lhe interessa exprimir, salientar e cultivar. Recordo o verso de Régio: “mas eu que nunca principio nem acabo” é o que Jorge Jesus diz de si mesmo, ao falar de futebol...
Conheci Jorge Jesus, porque de mim se aproximou (ou melhor: do Homero Serpa e de mim), era ele então o treinador do C.F.”Os Belenenses”. E ficámos amigos, até hoje, até sempre. Durante um ano, fui seu adjunto e revi com particular atenção o que já aprendera com José Maria Pedroto e José Mourinho. Jorge Jesus, um profissional sem licenciatura universitária? Mas de prática sublime, quero eu dizer: não trabalha por imitação, ou por moda. Como Hegel dizia de si mesmo: “Eu fui condenado a ser filósofo”. Ele poderá dizer: “Eu fui condenado a ser treinador de futebol”. Ou seja, ele treina, porque não pode fazer outra coisa. É um grande treinador de futebol. Entre os melhores do mundo. Indubitavelmente. Muito ou pouco letrado, não importa! Ele é! E vai ser mais porque, após as vitórias no Brasileirão e na Libertadores, encontrou novas pistas e conexões e uma nova e nunca apaziguada certeza de que, esteja onde estiver, trabalhe onde trabalhar, será sempre um adestrado fazedor de vitórias. E a teoria que norteia a prática? A teoria, para ele, implica “aparição” na fenomenalidade da sua prática. É, porque pratica, que teoriza. Aliás, entre a instrução e o conhecimento a relação não me parece tão nítida, pois que o especialista, em qualquer área do saber, não se reduz à cognição. De facto, sem emoção não há aprendizagem. Quando Assman nos fala de “sociedade aprendente”, ele estabelece uma sólida relação entre vida e aprendizagem. A educação básica, universal e obrigatória; o ensino universitário… mas, na “sociedade aprendente”, a vida ensina mais do que a escola. O desenvolvimento da escola tem de radicar, actualmente, no desenvolvimento social e político. Também, quando penso e repenso a “motricidade humana”, concluo sempre que a acção é inter-acção. O “eu” não existe, se não for alimentado por um “tu”. Por isso, o desporto é naturalmente solidário. Como o Jorge Jesus.
Evoco, agora, o conceito de “horizonte” de Gadamer, já largamente utilizado por Nietzsche e Husserl e que, na “Verdade e Método”, Gadamer retomou: “Horizonte é o círculo da visão que alcança e encerra tudo o que é visível, desde um determinado ponto”. Com uma cultura empírica, experiencial, imediatista e pragmática, há quem saiba muito de futebol. O conhecimento científico é neutro, objectivo e objectivante. É indispensável, mas não é o suficiente para compreender um ser humano. Para compreender-se uma pessoa, necessário se torna uma relação vital com ela. Caso contrário, uma ciência empírico-formal basta. Só que a pessoa é sempre um sujeito, com algumas “razões da razão” e inúmeras “razões do coração”, para além de condicionalismos de vária ordem. No ato de conhecer, não existe um acesso directo à realidade, sem passar pelo sujeito. Perceber, para Maurice Merleau-Ponty, “é tornar presente qualquer coisa, com a ajuda do corpo”. Uma simples dor de dentes pode transformar-se num tremendo “obstáculo epistemológico”. Concluindo: sou eu, e não só a minha razão, quem compreende. Por isso, só interpreta quem compreende e só compreende quem interpreta. Um exemplo: o Jorge Jesus tem uma extraordinária leitura de jogo (extraordinária, podem crer) porque ama o que faz, como treinador de futebol. E, porque ama muito, compreende melhor. Etimologicamente “com-preender” sugere “com um sujeito” a quem se está (ou se fica) preso. Jorge Jesus compreende os seus jogadores, porque os ama e com eles sabe comunicar. Não há nele tão-só uma “racionalidade comunicativa”, mas uma entrega total, onde há matéria, vida, emoção (muita emoção) e espírito. Ele comunica com palavras, com os gestos, com o corpo todo e a alma inteira. Jorge Jesus, servindo-me das palavras de Cristo, “faz novas todas as coisas”. E porquê? Porque trouxe ao futebol um novo modo de ”estar”. Este é o segredo das vitórias de Jorge Jesus. Aliás, há muito eu venho dizendo: é o homem (ou mulher) que se é que triunfa no treinador que se pode ser. Reside aqui, se bem penso, o segredo das vitórias de Jorge Jesus."