segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

No Belenenses? Impossível acontecer...

"Nunca o Clube de Futebol Os Belenenses se calaria se o seu treinador se queixasse de ter sido agredido. Assistimos ao silêncio dos cobardes...

São conhecidos os argumentos do Clube de Futebol Os Belenenses e da empresa que gere a SAD, os tribunais já se pronunciaram e parece claro, para lá outros considerandos, que a Codecity tem direito a apresentar uma equipa, a B-SAD, na Liga, enquanto que a denominação Belenenses, o emblema da Cruz de Cristo, o hino e o lema «com a certeza de vencer» pertencem ao clube fundado há cem anos pelos rapazes da praia.
Mas, se alguma confusão houvesse quanto à natureza destas entidades, o recente caso do túnel do Jamor serviria para dissipá-las. E como? Ao nível dos princípios.
No intervalo do jogo B-SAD - FC Porto, verificaram-se incidentes graves e o treinador da equipa da casa acusou alguém, a quem se referiu em termos que me escuso a reproduzir, de tê-lo agredido a soco. Por isso, das duas uma: ou Pedro Ribeiro, como assegurou e a SIC captou o desabafo, levou mesmo um soco, e será preciso apurar os factos, até às últimas consequências; ou Pedro Ribeiro não levou soco algum, e o que importará será perceber que razões poderiam tê-lo levado a mentir.
Sérgio Conceição, treinador do FC Porto, que tinha trocado razões com Pedro Ribeiro, e tem surgido, neste caso, no olho do furacão, optou, até agora, pela estratégia do silêncio, limitando-se a um «não estou preocupado» para definir o seu estado de espírito. Não é uma defesa convincente (antes pelo contrário), mas não é a ele que compete o ónus da prova.
Coisa diferente passa-se com o técnico do B-SAD. Então clamou, alto e bom som, que tinha sido agredido a soco e depois cala-se? Não faz sentido, por nenhuma boa razão, pelo menos. E não só. Fosse ele treinador do Clube de Futebol Os Belenenses e teria a apoiá-lo a instituição em peso, receberia a solidariedade dos sócios e simpatizantes e sentiria a força centenária do Belenenses a exigir que a ofensa não ficasse sem reparação. Como joga sob a égide de uma Sociedade Anónima Desportiva, sem peso social e histórico, o único apoio que recebeu foi o de um silêncio ensurdecedor, com o qual acabou por pactuar. Mas porquê, pergunto, se, como gritou, tinha sido agredido a soco? Aos 34 anos, Pedro Ribeiro tem pela frente um desafio complicado: se, depois do que disse, vacilar (como está a fazer), a dúvida que se levantará não será quanto a atributos técnicos, mas sim quanto ao carácter...

Ás
Bruno Lage
Além de ter renovado contrato até 2024, o técnico encarnado conseguiu (finalmente!) estabilizar um onze com cabeça, tronco e membros, que começa a parecer-se com a equipa que fez a festa no Marquês em Maio passado. E se 2020 promete inúmeros desafios 2019 ainda reserva mais um, frente ao insondável SC Braga.

Ás
José Mourinho
O Tottenham reagiu bem à chicotada psicológica que colocou José Mourinho como homem do leme e já está em posição de atacar os lugares de Champions, na próxima jornada, quando receber o Chelsea. O desafio continua a ser exigente, mas parece que quem vaticinou o ocaso do special one, falou cedo demais...

Duque
Ricardo Sá Pinto
A época do SC Braga está a ser feita numa montanha-russa, tão depressa sobe aos píncaros da Europa, como logo a seguir se afunda até mais não na Liga doméstica. Esta bipolaridade carece de explicação e, para já, os arsenalistas atingiram a 14.ª jornada a 21 pontos de líder. Dr. Jekyll e Mr. Hyde, em versão minhota

Dar sempre tudo pela camisola que se veste...
«Foi estranho não virar à esquerda para o balneário do Benfica e sim para a direita, para o dos visitantes?»
João Rodrigues, hoquista do Barcelona
Profissionalismo o clubismo estão condenados a ser conceitos incompatíveis. João Rodrigues, depois de nove anos de águia ao peito, regressou à Luz como adversário do Benfica e fez o que se esperava, defendeu a camisola blaugrana sem limites nem restrições. Nestes momentos, os sentimentos contraditórios só aparecem antes ou depois dos jogos. Nunca durante.

O Campeão voltou
A pouco e pouco, Cristiano Ronaldo começa a levantar fervura, golo aqui, golo ali, e ontem mais um par à Udinese, numa Juventus que, depois de várias sessões de meu futebol, está finalmente a arriscar no tridente Cristiano/Higuaín/Dybala, com resultados muito satisfatórios. Quem se der ao trabalho de avaliar as performances de CR7 nas últimas épocas, deparar-se-á com momentos de abaixamento físico, normalmente coincidentes com o fim do ano civil, que são revertidos, a partir de Fevereiro, de maneira a atacar a fase decisiva da temporada em grande condição. Um padrão que está a repetir-se, esperando nós que o auge da forma de CR7 coincida com o Euro-2020...

PS - Pelé e Maradona não se discutem; Di Stéfano e Cruyff também não, muito menos Eusébio. Discutir CR7 e Messi? Coisa de incautos...

Flamengo que tal um passo de cada vez?
Ao sentir-se o pulsar da nação rubro-negra percebe-se que a euforia de Lima ainda anda no ar e o que importa é o jogo com o Liverpool. Calma, minha gente! Antes da final (seja contra quem for...), o Flamengo tem de medir forças com o Al Hilal e não parece boa ideia menosprezar a equipa saudita, feita por JJ..."

José Manuel Delgado, in A Bola

Liga Europa: Shakthar...

Como se costuma dizer nestas ocasiões: podia ser melhor, mas também podia ter sido pior!!!
O Shakthar é uma equipa competente, com rodagem Europeia, tem vários jogadores talentosos, quase todos brasileiros, mas disputa uma Liga pouco competitiva, e vai estar sem ritmo em Fevereiro...
Não é fácil fazer uma antevisão de uma eliminatória, dois meses antes, ainda por cima com uma janela de transferências pelo meio!
Mas olhando para o calendário, não será nada fácil, ir à Ucrânia, imediatamente a seguir do jogo no antro dos Corruptos, e da recepção na Luz do Braga... com a deslocação a Barcelos, no meio dos dois jogos Europeus, praticamente 'obriga' o Lage a 'rodar', e com o actual plantel, já vimos que isso é receita para a desgraça!!!
Será fundamental ter todo o plantel disponível nesta altura... Em relação ao relvado, o estádio em Karkhiv, costuma aguentar bem o Inverno!



Wolverhampton-Espanhol
Sporting-Basaksehir
Getafe-Ajax
Bayer Leverkusen-FC Porto
Copenhaga-Celtic
APOEL-Basileia
Cluj-Sevilha
Olympiacos-Arsenal
AZ Alkmaar-Lask
Club Brugge-Manchester United
Ludogorets-Inter Milão
E. Frankfurt-Salzburgo
Shakhtar-Benfica
Wolfsburg-Malmö
Roma-Gent
Rangers-Braga

Inacreditável como a única equipa portuguesa que não foi cabeça-de-série acabou por ter em sorte o adversário mais acessível!!!

O Benfica de Bruno Lage

"Algo assim em Portugal só o fizeram equipas do Benfica em 1971/1972 e 1972/1973 e do FC Porto em 2009/2010 e 2010/2011

O Benfica lidera o campeonato com 39 pontos (ou 26, se as vitórias valessem ainda dois pontos) com o melhor ataque e a melhor defesa. Apenas não ganhou um jogo, quando perdeu, na Luz, com o FC Porto (0-2). Só três equipas na história do Benfica tinham mais pontos à jornada 14. Uma por década: 1960/1961 (27 pontos com Guttmann), 1972/1973 (28 com Hagan) e 1983/1984 (27 com Eriksson). Visto por este prisma, o Benfica de Bruno Lage está a ter o quarto melhor arranque de sempre. Alargando a perspectiva ao rendimento de FC Porto e Sporting, continua a sê-lo, pois nunca lesões e dragões chegaram a esta jornada com 39 (ou 26) pontos. Fabuloso.
Podemos alargar ainda mais o nosso campo de visão. O Benfica de Bruno Lage leva 33 jogos entre 2018/2019 (últimos 19) e 2019/2020 (primeiros 14). Ganhou 31, empatou um e perdeu outro. Soma, pois, 94 pontos. Repetimos: 94 pontos. As melhores pontuações a 34 jornadas são as do Benfica em 1990/1991 e do FC Porto em 1994/1995 (ambos com 91 pontos, atribuindo três por vitória). O Benfica de Lage tem mais três pontos e menos um jogo. Ou seja, nunca uma equipa, numa só época a 34 ou 38 jornadas, fez o que este Benfica está a fazer. Ainda mais fabuloso.
Abramos, ainda mais, esta análise. E em 33 jornadas divididas, por exemplo, em duas ou mais épocas, houve alguma equipa a fazer algo parecido? Sim. O Benfica de Hagan fez melhor: 45 jogos entre as jornadas 9 de 1971/1972 e a 23 de 1972/1973 com nada menos de 43 vitórias, um empate e uma derrota. E no FC Porto de Jesualdo e Villas Boas: 36 jogos entre as jornadas 23 de 2009/2010 e a 28 de 2010/2011 com nada menos de 24 vitórias e dois empates. O Benfica de Lage continua, assim, a ser fabuloso.
Façamos, agora, um pequeno enquadramento. O Benfica de Hagan tinha jogadores como José Henrique, Bento, Artur Correia, Humberto Coelho, Messias, Rui Rodrigues, Vítor Martins, Toni, Shéu, Jaime Graça, Simões, Artur Jorge, Eusébio, Jordão, Nené e Vítor Baptista. O FC Porto de Jesualdo e Villas Boas tinha jogadores como Helton, Beto, Bruno Alves, Otamendi, Fucile, Álvaro Pereira, João Moutinho, Fernando, Guarín, James Rodriguez, Falcao, Hulk, Varela e Farías. Hagan chegou às meias-finais da Taça dos Campeões Europeus (eliminado pelo Ajax por 0-1 e 0-0). Jesualdo atingiu os oitavos de final da Champions (eliminado pelo Arsenal com 2-1 e 0-5) e Villas Boas venceu a Liga Europa (1-0 ao SC Braga). A diferença de qualidade, sobretudo em profundidade, entre o Benfica de Hagan, o FC Porto de Jesualdo Ferreira/André Villas Boas e o Benfica de Bruno Lage parece abismal. Quantos jogadores de Lage entrariam nos dois onzes de que temos falado? Nenhum no Benfica de Hagan, talvez Pizzi e Grimaldo no de Jesualdo/Villas Boas.
Passemos à tese. Qual a razão por que o actual Benfica está a ser esmagador internamente e (para já) muito discreto na Europa. Pela qualidade do plantel. Insuficiente (para já) para chegar longe na UEFA, mas mais do que suficiente para marcar a diferença para 17 dos 18 adversários na liga. O que nos leva À segunda tese. Mesmo com quatro equipas nos dezasseis avos de final da Liga Europa, o nível do campeonato português está a baixar cada vez mais. Só assim faz sentido que à 14.ª jornada haja 15 pontos (pelo menos) entre primeiro e quarto. É a maior diferença dos últimos 36 anos. E; para termos uma incoerência nesta tese, o grande SC Braga europeu (segundo equipa mais pontuada na fase de grupos da Liga Europa) está a 21 pontos do Benfica: 21!!!"

Rogério Azevedo, in A Bola

Lage resolveu o 'puzzle' (para já)

"Ainda é muito possível que Lage fracasse neste segundo ano. Muito possível, mas não tão provável assim.
A Champions terá sido para muitos um rotundo insucesso. Porque o Leipzig não é um Bayern, embora seja o maior candidato a quebrar a hegemonia bávara na Bundesliga. Porque o Lyon está longe do poderio do que foi heptacampeão francês no início do milénio, mas ainda apresenta jogadores que Portugal não consegue seduzir na flor da idade, como Depay ou Aouar. Porque o Zenit fica aquém daquele multimilionário que não olhava a gastos para comprar craques, apesar de ainda assim ser o mais forte candidato ao título russo. Sim, o Benfica não foi competente, mas também não jogou sozinho.
Houve incapacidade para substituir um fora de série in the making (Félix). A formação nunca chegará para tudo e o mercado foi pouco condizente com os sonhos continentais. Além disso, a fórmula vencedora também tardou. Não foi só preciso esperar por Gabriel, mas também que Cervi tapasse os vazios deixados por Grimaldo, que Chiquinho gerasse química com Vinícius, que Taarabt imitasse os comportamentos do ex-Leganés na pressão e na transição defensiva, que Pizzi assumiesse toda a sua dimensão em grandes jogos e que o miúdo Tomás crescesse em confiança.
A explicação do afastamento é mais complexa do que a utilização ou não de André Almeida ou Samaris, que não são duques ou ternos, mas estão longe de ser ases de trunfo. Era necessário tempo para a conjugação de diversos factores e mesmo assim poderia nem ter sido suficiente. Por muito que use o exemplo do Ajax para tudo e mais alguma coisa, desta vez até os holandeses falharam.
Lage continuou a acreditar nas suas ideias e resolveu mais um puzzle, o mais difícil até aqui. O Benfica pode acreditar que tem treinador e equipa para crescer."

Luís Mateus, in A Bola

Um brasileiro e um marroquino entram no meio-campo

"O meio-campo. A “sala de máquinas” de uma equipa, o sector onde se ganham e perdem os jogos. O meio-campo desempenhou um papel fundamental na grande recuperação operada pela equipa de Bruno Lage. A dupla Samaris-Gabriel ajudou a dar uma solidez defensiva da qual o SL Benfica não dispunha antes desta parceria. O carácter físico de ambos os jogadores deu mais músculo ao sector intermédio das águias e permitiu mais liberdade aos criativos à sua frente.
No final da época, Gabriel lesionou-se, dando lugar no onze a Florentino. Esta dupla Florentino-Samaris foi visivelmente inferior tecnicamente e no momento de construção, mas uma equipa embalada e em grande forma permitiu disfarçar as fraquezas do sector.
No início da nova época, a corrida aos lugares do meio-campo estava aberta. Os jogadores que agarraram a posição foram Florentino e Gabriel. Parecia que era nesta dupla que Bruno Lage depositava mais esperanças. Contudo, logo no primeiro jogo oficial, Gabriel lesionou-se com alguma gravidade e terminou logo ali a parceria predileta do treinador do Benfica.
Nos jogos seguintes, seria Samaris a ocupar o lugar do médio brasileiro. Repetia-se a mesma dupla do final da época transacta. As debilidades desta parceria continuaram a existir (agora ainda mais evidentes devido ao menor apoio do setor ofensivo) e foram expostas de forma evidente sobretudo frente ao FC Porto, naquele que foi um desastroso jogo destes dois atletas. Face à forte pressão dos azuis e brancos, o meio-campo encarnado sentia muitíssimas dificuldades para fazer chegar o esférico ao último terço. Florentino tem ainda grandes debilidades do ponto de vista da construção e Samaris aparecia, ainda, muito longe da forma da época passada.
Depois do desaire frente ao rival do Norte, Bruno Lage apostou na entrada de Taarabt no meio-campo, mantendo Florentino no onze. O marroquino trouxe mais criatividade ao meio-campo encarnado e capacidade de construção, tendo feito excelentes exibições nos jogos que se seguiram. No entanto, Florentino lesionou-se muito pouco tempo depois, o que levou à entrada de Fejsa na equipa.
No início da temporada, Fejsa parecia estar fora das opções do treinador encarnado, mas agora o camisola 5 via-se numa posição de titular. Porém, as evidentes dificuldades de construção e a execução sobre uma forte pressão ofensiva eram evidentes no médio sérvio, tendo estas falhas prejudicado o SL Benfica, que sofreu um grande decréscimo exibicional.
Nas partidas subsequentes, o Benfica foi oscilando a dupla de meio campo, tendo tido, igualmente, desempenhos e exibições oscilantes. No jogo frente aos alemães do RB Leipzig, Bruno Lage apostou em Taarabt e Gabriel, uma dupla até à data pouco testada. Apesar do resultado negativo, as águias realizaram uma boa exibição, muito graças ao rendimento desta nova dupla.
A criatividade de Taarabt é perfeitamente balanceada com o poder físico e capacidade de passe longo de Gabriel: um meio campo reactivo (Taarabt melhorou imenso no capítulo da transição defensiva), mas igualmente criativo, com capacidade para construir a partir de trás ou esticar o jogo na frente. 
Muito do sucesso desta dupla deve-se à recuperação de Chiquinho e à maior ocupação de espaços interiores por parte de Pizzi. Chiquinho vem acrescentar à equipa o tão desejado elemento de ligação entre o sector intermédio e o sector ofensivo. Em momento de construção, o jovem português junta-se ao meio-campo encarnado, formando, sensivelmente, um 4-3-3, dando sempre uma linha de passe interior. Por vezes, baixa ainda mais no terreno, permitindo ou a subida de Taarabt para terrenos mais adiantados ou as derivações de Pizzi para o meio, onde as suas qualidades brilham com mais intensidade.
Pizzi, que está num grande momento de forma, alinha como um falso extremo. O camisola 21’ procura muito o espaço interior, deixando a busca da profundidade para o lateral. Esta interligação e trocas posicionais, no meio campo, permitem ao Benfica ter um jogo muito mais dinâmico e criativo, mas mantendo sempre uma consistência defensiva notável.
Samaris tem-se apresentado a um nível muito mais baixo daquele a que nos habituou a época passada. O médio grego atravessa um momento complicado. Florentino começou lentamente a desaparecer das opções de Bruno Lage. O camisola 61 das águias traz qualidades defensivas à equipa que mais ninguém pode trazer, mas a sua capacidade ofensiva ainda precisa de ser muito melhorada. 
Os momentos menos bons destes jogadores permitiram que Taarabt e Gabriel agarrassem os lugares. Todavia, este sucesso deve-se muito às novas dinâmicas que Bruno Lage implementou na equipa e à cresceste confiança que o plantel vai adquirindo.
A equipa vai embalando e os resultados vão acompanhando a qualidade das exibições. Teremos de esperar por maiores desafios para ver como este novo meio-campo “a 4” do SL Benfica se comporta."

Contas de sumir responsabilidades

"Tudo começou - vale a pena recordar - com a mais vigorosa indignação do treinador da equipa que de Belenenses SAD achou nome. Um incidente que poderia ter ficado no segredo dos DDT (deuses disto tudo), mas que câmara improvável da SIC registou, criando um facto de indiscutível interesse público. A dúvida legítima que se gerou foi se um treinador de futebol profissional, agrediu um seu colega de profissão, durante uma desavença entre o campo e os balneários.
Havia uma pergunta simples que os jornalistas tinham obrigação de fazer: Verdade ou mentira? E havia uma resposta simples que os protagonistas teriam de dar: Sim ou não!
Os jornalistas fizeram o seu papel e fizeram a pergunta. Os protagonistas recusaram a resposta. E se um dos casos - o do presumível agressor - tem uma justificação que se inclui no direito à sua defesa, já o silêncio do acusador, do indignado agredido, levanta as mais pertinentes suspeitas.
Mas mais grave do que o silêncio do suposto agredido, foi a intempestiva e desorientada intromissão do presidente da SAD da sua equipa, trazendo a público umas despropositadas contas de resultados que não fazem qualquer sentido, no que respeita à simples questão colocada. Nunca esteve obviamente em causa a seriedade profissional dos jogadores e dos treinadores da equipa do, ainda, Belenenses SAD. Está em causa - e agora de forma mais evidente - haver ou não haver um sombrio conluio e interessantes obscuros que se conjugam para esconder a realidade de factos ou a sua firme negação.
No contexto conhecido, as contas apresentadas parecem apenas contas de sumir... responsabilidades."

Vítor Serpa, in A Bola

Líder

"O Benfica venceu, de forma categórica, o terceiro classificado da Liga, naquela que foi a 200.ª vitória, a contar para o Campeonato Nacional, neste Estádio da Luz. O Famalicão era – e continua a ser – a equipa-sensação deste Campeonato. Foi mais um jogo que serviu para confirmar a subida de qualidade neste ciclo de jogos mais recente. Leipzig (F), Marítimo, Boavista (F), Zenit e, agora, Famalicão.
Neste conjunto de cinco jogos, o Benfica venceu quatro e empatou um. Marcou 17 golos e sofreu três. Nos três jogos em casa (no novo relvado), o Benfica venceu todos os jogos que disputou, com o seguinte saldo de golos: 11-0.
Os números de Bruno Lage, em jogos da Liga, são um feito inédito, cada vez mais impactantes: vencemos 31 dos seus primeiros 33 jogos efectuados em ano de estreia na I Divisão.
Com Lage, desde 6 de Janeiro, somámos 94 pontos em 99 possíveis. O ano está fechado – em termos de Liga – e ficou a faltar um jogo a esta equipa técnica para chegar aos 34 e “concluir” um Campeonato Nacional. Se assim fosse (e se estes dois “meios campeonatos” se pudessem fundir), o Benfica passaria a deter um máximo que jamais viria a ser ultrapassado. Fizemos a melhor segunda volta de sempre numa edição de um Campeonato (16V, 1E) e vencemos em todas as deslocações (15 vezes, igualando o segundo melhor registo de sempre).
Na actual edição do Campeonato, o Benfica apresenta, à semelhança da anterior desde que Bruno Lage assumiu o comando técnico da equipa, números reveladores de muita qualidade e consistência. As 13 vitórias nos primeiros 14 jogos só foram superadas pelo pleno de triunfos em 1972/73 e conseguidas anteriormente em 1960/61 e 1983/84.
À 14.ª jornada, temos apenas cinco golos sofridos, o nosso melhor desempenho de sempre, em igualdade com outras quatro temporadas (1972/73, 1980/81, 1988/89 e 1990/91). As dez jornadas em que não sofremos golos tratam-se também de um recorde nesta fase da época (é a sétima vez), que não era alcançado desde 1990/91. E, no ataque, temos 37 golos marcados em 14 jogos (o segundo melhor registo dos últimos trinta anos).
O ano está fechado relativamente ao Campeonato. Vem aí, no entanto, um jogo dificílimo, e de enorme importância, já na quarta-feira, frente ao Sporting de Braga – que só venceremos se conseguirmos estar a um nível alto. Mas mesmo muito alto!
Há muito mérito da equipa técnica e dos jogadores para se ter chegado a esta fase da temporada nesta situação, mas existe a perfeita consciência de que nada está ganho. Ou melhor, está. Mas é apenas a Supertaça.
Tudo o resto ainda está por fazer. E é tanto o que ainda falta.
Nota final para João Félix, que recebe hoje, em Turim, o prestigiado prémio Golden Boy. Só existem três clubes que, até hoje, formaram dois Golden Boys: Ajax (Van der Vaart e De Ligt), Mónaco (Martial e Mbappé) e Benfica (Renato Sanches e João Félix). E contra factos…
E referência também para o triunfo, por 0-2, da nossa equipa feminina em Braga, com golos de Geyse e Darlene, frente a um dos candidatos ao título.

P.S.: O sorteio da Liga Europa ditou que o Benfica encontrará o Shaktar Donetsk, liderado por Luís Castro, nos 16 avos de final. Os dois clubes já se encontraram na fase de grupos da Liga dos Campeões, em 2007/08, com uma vitória para cada lado."

Cadomblé do Vata (retomas!!!)

""Benfica continua em retoma"... "Vitória da confirmação"... "Jorge Jesus adiado". Não será admiração para ninguém, se disser que estes foram os comentários mais escritos e ditos à 11ª vitória consecutiva do Benfica na Liga Portuguesa. Os sinais são portanto positivos e animadores: a equipa que até à viagem à Alemanha só tinha conseguido 28 vitórias em 30 jogos, recompôs-se em terras teutónicas e lá conseguiu atingir os 31 triunfos em 33 partidas. É possível que a epifania de Bruno Lage na Alemanha Oriental tenha salvo o Benfica de ficar atrás do Sporting CP no final do campeonato, mas só em Maio saberemos. Do que certamente nunca livrará a equipa é da contestação e do irritantezinho "sim... mas...".
Se excluirmos aquele bloqueio das reservas no topo da Serra, o Benfica vem de 4 amassos bem conseguidos na Liga e na Champions. Naturalmente, tal não serve para afastar as nuvens que pairam sobre o treinador. Quanto muito, dão para "adiar Jorge Jesus", que trará finalmente poder ofensivo a um lote de jogadores que este ano, só tem média de 2,6 golos por jogo e consistência defensiva a quem já chupou valentemente com 5 marretadas na baliza. A vida de Bruno Lage em Portugal, seria bem mais fácil se fosse frontal e se estivesse a cagar para o facto de ter só mais 5 golos marcados do que o destroço existencial de Alvalade. Infelizmente para ele, lidera a única equipa cujo nível exibicional merece escrutínio, que sai de cada goleada a espalhar claras sensações de estar mais perto de perder pontos e que tem um balneário a ferro e fogo na luta pelo título de melhor marcador, dividido entre o apoio a um brasileiro com a mania que é o Deus Grego Kostas Viniciou e um Fernandes bragantino a querer ser o herege pária nacional que destrona o Fernandes maiato.
Tendo vencido 13 dos 14 jogos até agora disputados, o Benfica corre o sério risco de terminar o campeonato com 33 vitórias em 34 jogos. Será no entanto um pecúlio que levantará dúvidas sobre a valia da equipa. Um ano de futebol a golear consecutivamente, poderá ajudar a encontrar o caminho da "retoma", mas não chegará para a atingir. Mesmo que nas 24 partidas que faltam ganhar, se atinja uma média de 5 golos marcados e 0 sofridos, a seguir às parangonas do "Benfica Campeão", constarão longas e especializadas dissertações sobre o que falta ao treinador e aos jogadores para serem dignos da camisola que defendem. Haverá sempre qualquer coisa que faltará provar: a eficácia atacante... a consistência defensiva... a qualidade do futebol... o soco desferido por Bruno Lage num treinador adversário... qualquer coisa, menos a superioridade intelectual dos comentadores."

O mundo não se fez em dois dias

"Não querendo ficar fora do zeitgeist cinematográfico (é ainda cinema quando é Netflix?), este fim de semana vi o "Marriage Story", o filme mais nomeado nos Golden Globes. Foi, ao contrário do que me tinham antecipado, menos transcendente do que expectável e, também por isso, mais realista, assemelhando-se aí à série "The Affair". Não é, ao contrário do que o título indica, a história de um casamento, mas a história de um divórcio, mas o que é a história de um divórcio senão a história de um casamento?
Cada história é uma história e a nossa história nunca será igual à de alguém - é que nem mesmo à de quem a partilha connosco -, com altos e baixos, avanços e recuos, ânsias e lamentações. Nunca é óbvio onde começa ou acaba (o amor) e é por isso que facilmente nos identificamos com o filme. Não é óbvio, não é linear, não tem explicação fácil. É a vida.
Parecendo que não, isto (bom, pelo menos na minha mente - possivelmente distorcida, concedo) tem tudo a ver com futebol e, particularmente, com o contexto de um homem que nos tem mostrado ultimamente que a falta de linearidade às vezes é o melhor que nos pode acontecer. Chamaram-lhe gordo, bebêdo, preguiçoso; passou épocas a arrastar-se, sem chegar sequer à dezena de jogos; ripostou com comentários vingativos de que mais tarde se arrependeu; e, por fim, renasceu.
No Benfica-Famalicão, ao lado de Gabriel, Adel Taarabt foi o que nunca tinha sido, registando seis desarmes no jogo - o máximo da Liga portuguesa. O resto, já sabíamos que tinha: a bola nos seus pés é um poço de fluidez só ao alcance dos melhores e a verticalidade com que lhe dá sequência muda drasticamente o jogo colectivo da equipa.
Não sabemos bem como nem porquê, mas Taarabt recusou a sua própria obsolescência e, por arrasto, vai adiando a do Benfica de Bruno Lage, que entendeu que a história da equipa, esta época, tinha de passar por aqueles pés. É tudo uma questão daquilo que há cada vez menos (não só no futebol): paciência.

PS- Quando se quer dar tudo rápido e, na verdade, não se tem nada para dar, acaba-se a estragar vidas. Em Leiria, Vila Franca de Xira e em muitos outros sítios. Lá está, falta de paciência. Isto sim, uma vergonha."

Em memória de Rogério “Pipi” (1922-2019)

"Diz a memória popular que Rogério Lantres de Carvalho foi o mais hollywoodesco jogador do futebol português. Criado em Chelas, filho e irmão de malta da bola, chega ao Benfica em 1942, a troco de 26 contos. Faz carreira auspiciosa, chega ao Brasil para jogar com a camisa alvinegra do Botafogo, voltando ao fim de oito meses por travessuras do lendário Heleno.
Um dos protagonistas da famosa Guerra do Bacalhau, sempre se assumiu como figura destacada da história encarnada. O casamento acaba em 1953, depois de Otto Glória preferir o profissionalismo – Rogério tinha 32 anos e percebeu a deixa. A imagem eterna a segurar na Taça Latina dignifica-o e faz parte do imaginário de todo o adepto, acabando poucos anos depois no seu original Chelas, hoje Oriental, a troco de… nada. Era por amor. No resto da sua vida, vendeu automóveis com a mesma facilidade com que desfazia adversários na ala esquerda.
Nasceu em Chelas. O seu pai fora fundador do clube com mesmo nome, que mais tarde passaria a Oriental, e o seu irmão dava pelo nome de Armínio França, destacando-se como um dos craques da equipa. Lá começou então Rogério a dar os pontapés, mas o peso do parentesco reforçou nele medos e traumas de falhanço monumental: seria sempre o “irmão do França”…
Fez o quarto ano de escolaridade e foi-se empregar no Grémio das Carnes. Aí faz amizade com… Fernando Peyroteo, que repara nas suas qualidades futebolísticas aquando de uma jogatana da malta do trabalho e leva-o para o Sporting CP. Faz um treino na equipa de reservas, mas não corre bem. Vítima de complô dos colegas, a bola poucas vezes lhe chegou e Rogério decide nunca mais lá voltar, até Peyroteo chamar a atenção da direcção leonina para o drama.
Dos homens de alta patente, vem a oferta de 25 contos. Os do Benfica, sempre atentos às movimentações adversárias dentro e fora do campo, sobem a parada em mais um conto e levam o menino de 20 anos para o recinto do Campo Grande, estádio predecessor da Luz. 16 contos de luvas para Rogério, 10 para o Chelas e um jogo amigável entre as equipas: acordo espontâneo.
Com a camisola berrante, estreia-se num sempre competitivo embate com “Os Belenenses”, nas Salésias, em Outubro de 1942: como extremo-direito, que só passaria ao lado contrário aquando da despedida de Francisco Valadas. Janos Biri assim decidiu, fazendo a quase totalidade da sua carreira nesses terrenos, apesar da sua má vontade: disse Rogério durante a vida fora que se tivesse sido… interior (ainda em alturas do WM) teria rendido o dobro. O dobro rendia ele sempre que o certame era a Taça de Portugal, sendo a prova-rainha a sua predilecta para causar estragos: em cinco participações na final, marca 15 golos e vence todas! Na sua estreia, o Benfica bate o campeão da II Divisão, Estoril, por expressivos 8-1… com cinco golos do prodígio.
No final dessa época de 1942-43, já se destacava como uma das figuras daquela equipa que faz a histórica primeira dobradinha. Irreverente, armador genial, finalizador de excelência, e o aprumo na aparência de uma figura da televisão. O penteado sempre impecável e a elegância nos gestos auguraram-lhe a alcunha de “Pipi”. A história começa na sua chegada: Gaspar Pinto, central e grande nome, vendo o seu aspecto alto e espadaúdo, tenta “Agulha”, que não pegou porque Francisco Albino, outro dos líderes de balneário, se chegou à frente com o “Pipi”, que era o que se chamava aos rapazes da moda, de casacos cintados e colarinhos altos.
Contextualiza Rogério: «Eu era um jogador muito elegante, gostava de vestir bem e, um dia, um alfaiate famoso convidou-me a posar, ofereceu-me um fato de gala e um sobretudo e chamou um fotógrafo de arte. Fui, para espanto meu, primeira página da revista ‘Flama’ (quinzenário da Juventude Escolar Católica, criada em 1937 e extinta em 1976, responsável pela eleição das rainhas da rádio e da televisão), como se fosse um artista de Hollywood. E como estava todo pipi…” . Era o seu estilo inconfundível.
A sua importância no seio da equipa era um pau de dois bicos. Em meados dos anos 40, alguns jogadores do plantel benfiquista decidiram, sob égide da mocidade despreocupada, fazer uma grande almoçarada antes de jogo decisivo contra o Sporting, num restaurante para os lados do Lumiar. As batatas com bacalhau, em excesso, só provocaram lentidão e inépcia nos benfiquistas, que se viram atropelados pela turma leonina. Diz-se que, apesar do 3-1 registado, a diferença de rendimento foi tanta que se não fosse a incomum azelhice dos avançados verde-e-brancos, a contenda teria números muito mais expressivos…
A direcção do Benfica, naturalmente incomodada com o sucedido, decide multar em mês e meio de salário a quem desconfiavam ter participado no convívio. Rogério sempre jurou a pés juntos que nunca lá estivera, mas a sua exibição, segundo registos da época, foi tão inconsequente que a direcção nunca conseguiu acreditar nele.
Diz Rogério que sempre jogou por amor à camisola e que o dinheiro sempre foi pouco. Com uma única excepção. Em 1947, o Botafogo queria combater a popularidade do Vasco da Gama junto da crescente comunidade portuguesa, fruto do impulso sentimental dado pelo nome. Solução? Ir buscar a mais cintilante estrela do futebol português da época. 40 contos de luvas, quando o salário se cifrava perto dos mil escudos na Pátria. 100 contos para o Benfica, única quantia que fez o presidente Tamagnini Barbosa aceitar.
«Por exemplo, em 1945, por nos sagrarmos campeões recebemos um prémio de 500 escudos. Pareceu-nos uma fortuna, porque, naquela altura, o ordenado mensal de um craque andava pelos mil escudos. Por isso, ninguém podia viver só do futebol. Eu jogava e trabalhava com o Peyroteo no Grémio das Carnes; no Grémio das Mercearias trabalhavam o Espírito Santo, o Jesus Correia, o Canário. O maior prémio na Taça de Portugal foi em 1954, na minha última vitória: cada um de nós recebeu dois contos de réis, que naquela altura davam para sustentar uma casa de família um mês inteiro. Em Portugal, não se enriquecia com o futebol. Quando fui para o Brasil recebia 18 contos por mês. Num ano ganhei mais do que ganhara em toda a minha vida. Deu para comprar um automóvel, no regresso, que então era o sonho de qualquer jogador de futebol. Com o dinheiro do Benfica comprei uma bicicleta, que utilizava para me deslocar para o quartel durante a tropa…»
Foi, então, a única vez que seria obrigado a jogar por amor ao dinheiro. Ele que sempre se habituara a honrar o símbolo ao peito, em tempos de futebol ainda romântico. Ora, como em todas as questões onde o coração não participa, a sua passagem pelo Rio de Janeiro foi efémera. Heleno, a grande lenda do Fogão, fez a vida negra ao português, por conta de invejas e outros quinhentos que o tempo fez o favor de apagar. Entretanto, a gravidez da esposa e o seu desejo de que o filho nascesse em Portugal precipitaram o regresso de Rogério ao seu coração. Foram oito meses, oito jogos e nenhum golo.
Em Lisboa voltaria a reencontrar a tranquilidade que lhe permitia explanar todo o seu talento. Vítimas das circunstâncias – ele e a equipa -, só voltariam a ganhar títulos em 1949-50. Depois do domínio avassalador dos Cinco Violinos, o Benfica meteu as mãos no troféu da I Divisão, o que lhe permitiu a epopeia na Taça Latina da época seguinte. O primeiro grande troféu internacional do futebol português teve episódio curioso: a famosa fotografia de Rogério Pipi nasceu dum acaso. O capitão era Moreira e assim se explica que tenha sido ele a ter o prazer de levantar o caneco. «Quando o jogo acabou, ficou tudo louco. Só sei que, por entre empurrões, voando sobre os ombros dos benfiquistas em quase histeria, cheguei à tribuna. O Presidente da República (Óscar Carmona) pôs-me a Taça Latina nas mãos. Ainda hoje não consigo descrever o que senti…»
Um dos aspectos da lenda que foi conseguindo construir à sua volta tratou-se do lado humano de Pipi. Na histórica final da Taça de Portugal de 1953, que opunha dois grandes mestres do futebol português (Ribeiro dos Reis como treinador do Benfica e Cândido de Oliveira como treinador do FC Porto), haveria um relógio de ouro para o primeiro marcador do encontro. Rogério, motivado por participar nos seus jogos preferidos, não teve medo de inaugurar as redes. Que fez ao relógio? Entregou-o à direcção do clube, para que o leiloasse e metesse o lucro da venda no fundo de financiamento das obras do futuro Estádio da Luz.
Figura desta estirpe não merecia um fim injusto, motivado pelos adventos do profissionalismo. Otto Glória chega em 1954 e faz um ultimato aos jogadores: o emprego ou a bola a tempo inteiro, nunca os dois. Com 32 anos, Rogério viu que já não tinha grandes condições de se manter no clube e abandonar o emprego seria impensável. Preferiu a segurança financeira da venda dos automóveis e voltou ao Oriental: recusou de antemão qualquer ordenado, dinheiro que muitos clubes lhe queriam dar. De gratidão estava cheio o coração de Rogério e nem quis ouvir outras ofertas. Com a camisola do Oriental, ainda foi a tempo de ser campeão nacional da II Divisão. Reencontro feliz.
A 8 de Dezembro, despediu-se para sempre do Quarto Anel, um dia depois de completar 97 anos. Junta-se a outros grandes do Olimpo benfiquista, figurando entre eles como alguém a quem a conduta nunca atraiçoou, que nos gestos e nas palavras representou sobremaneira os valores do clube. Se o rendimento desportivo o coloca como marco na história, o lado humano do craque eleva-o a figura de culto e lenda instantânea do nosso imaginário. Pena, assim, o triste ignorar do jornal O Benfica na sua capa de 13 de Dezembro: não se percebe o esquecimento ou desprezo, gravíssimo em qualquer dos casos e merecedor de atenção por parte da direcção. Urge homenagear quem nos fez grandes e como o hino original Avante P’lo Benfica canta,
E vós, ó rapazes, com fogo sagrado,
Honrai agora os ases
Que nos honraram o passado!"

A cobardia dos jornalistas

"As imagens em que o treinador do Belenenses se queixava de ter levado um soco também não permitiam segundas leituras: ninguém se queixaria naquele tom, de forma espontânea, se não tivesse havido nada.

No último Domingo, o FC Porto empatou com o Belenenses no Jamor. No fim do jogo, interpelado sobre se tinha sido agredido por Sérgio Conceição, o treinador do Belenenses afirmou: “Não confirmo nem desminto”. E mais não disse, adiantando que estava ali para falar sobre o jogo.
No dia seguinte, a SIC transmitiu imagens captadas no intervalo da partida, em que o treinador do Belenenses gritava ter levado “um soco”. E repetia várias vezes a palavra “soco”, com ar indignado, chamando “boi” ao agressor.
Sérgio Conceição, nas declarações feitas no fim do jogo, não se referiu ao incidente.
O caso era gravíssimo, e logo surgiram de rumores de que teria havido um pacto entre Belenenses e FC Porto para “abafar” o caso. A hipótese fazia sentido, pois o presidente do Belenenses, Rui Pedro Soares, é adepto confesso do clube nortenho.
E, tudo somado, a questão não oferecia dúvidas. Toda a gente sabe - e os jornalistas por maioria de razão - o que significa a expressão “não confirmo nem desminto”: significa confirmação. E as imagens em que o treinador do Belenenses se queixava de ter levado um soco também não permitiam segundas leituras: ninguém se queixaria naquele tom, de forma espontânea, se não tivesse havido nada.
E, se dúvidas houvesse, elas seriam dissipadas na 4ª feira, quando um funcionário do Porto proibiu o treinador de falar do caso numa conferência de imprensa.
Pois bem: não houve um único jornalista desportivo, que eu visse, que tenha tido a coragem de dizer preto no branco: é evidente que houve uma agressão e que os clubes estão a tentar esconder o que se passou.
Nem um.
Mais: houve um (que eu vi) a dizer que era tudo mentira, porque uma “fonte próxima do treinador” dissera não ter havido qualquer soco. Ou seja, uma fonte anónima valia mais do que as imagens que todos tínhamos visto do treinador do Belenenses a queixar-se, do seu “não confirmo nem desminto” e da proibição feita pelo FC Porto ao seu treinador para falar do episódio.
Este caso é chocante. Claro que a agressão é grave. Gravíssima. Mas mais grave para mim é o silêncio dos jornalistas, a cobardia dos jornalistas, a falta de coragem dos jornalistas.
Na política, isto não seria possível. Haveria logo quem relatasse a verdade, quem a pusesse a nu. Mas no futebol há uma promiscuidade doentia entre jornalistas e clubes, que os leva a esconder os factos. E sobretudo quando se trata do FC Porto e do Benfica, além de promiscuidade, há também medo - medo de represálias, medo de serem colocados na “lista negra” dos clubes. Aliás, as expressões faciais de alguns jornalistas, quando interpelados sobre os acontecimentos, diziam tudo: pareciam comprometidos, quase envergonhados da sua falta de coragem para falar."

SC Braga 0-2 SL Benfica: Ia Uchendu, mas não foi

"Encontro à chuva entre campeãs e líderes termina com vitória das segundas e com a terceira partida sem vencer das primeiras. Depois da derrota frente ao Sporting CP e do empate em Ovar, as campeãs em título somam três jogos sem vencer na primeira volta e iniciam a segunda a oito pontos do líder Benfica.
Por seu turno, as encarnadas lisboetas seguram o primeiro lugar, com três pontos de vantagem sobre o Sporting, mantêm o registo imaculado (11 vitórias em 11 jogos) e voltam a não conceder golos (só o CF Benfica fez abanar as redes benfiquistas, por uma vez).
A partida inicia-se com um ligeiro ascendente das visitadas, que, aos 12 minutos, provocam o primeiro calafrio à defesa benfiquista. Um bom cruzamento de Uchendu encontra correspondência de Keane ao segundo poste, que atira ao lado. Três minutos volvidos e novo momento de perigo junto da baliza de Neuhaus, em lance que termina com falta assinalada sobre a guardiã brasileira.
A resposta das líderes da tabela ao domínio das campeãs surge aos 25 minutos, com Cloe, lançada em profundidade por Nycole, a não conseguir bater a guarda-redes arsenalista. Os restantes quinze minutos do primeiro tempo, pautados pelo equilíbrio, não encerram oportunidades de golo dignas de registo. Ao intervalo, marcador justificadamente inalterado.
O retomar do encontro traz um Benfica mais incisivo e um Braga mais perigoso. Uchendu regressa dos balneários decidida a continuar a fazer em água a cabeça de Daiane e na primeira oportunidade coloca em sentido a defensiva visitante. No entanto, o remate cruzado de pé esquerdo da nigeriana não segue para a baliza.
Na segunda oportunidade, o remate da 10 bracarense leva a direcção da baliza, mas encontra Dani Neuhaus. A brasileira defende para a frente e a bola é batida na frente pelas encarnadas de Lisboa. Passa o perigo e retorna o equilíbrio. Equilíbrio – palavra de ordem. Faltava um factor de desequilíbrio para movimentar o marcador. Luís Andrade pensou que Geyse poderia ser esse factor e… acertou.
Aos 60 minutos, a avançada brasileira entra e, aos 66 minutos, a avançada brasileira marca. Darlene transporta a bola da linha de meio campo até às imediações da área arsenalista, serve Geyse na direita e a recém-entrada finaliza com um potente e colocado remate cruzado pela relva.
Numa demonstração de carácter, a equipa da casa não quebra animicamente e carrega sobre as forasteiras, criando algumas situações de potencial perigo, marcadas pela ineficácia. Do outro lado, Geyse continua a minar a defensiva bracarense e ganha uma grande penalidade cometida por Jana. Chamada a bater, Darlene fá-lo de forma exemplar e amplia a vantagem benfiquista.
Aos 82 minutos, a sociedade brasileira Geyse-Darlene quase resulta no terceiro golo do Benfica. No entanto, a capitã das águias atira por cima, num cenário pouco habitual. Até final, nota de registo para um lance inusitado na área benfiquista, no qual as bracarenses não reduzem a desvantagem por mero acaso. O resultado não mais se alterou e, de forma ajustada, o Benfica sai de Braga com os três pontos na algibeira, pese embora a excelente réplica arsenalista.

Onzes Iniciais e Substituições:
SC Braga: Hourithan, Pratt, Jana, Diana Gomes, Rayane, Dolores, Ágata Filipa, Denali (Machia, 70′), Uchendu (Regina, 87′), Vanessa e Keane (Francisca, 87′).
SL Benfica: Dani Neuhaus, Daiane Rodrigues, Sílvia Rebelo, Raquel Infante, Yasmim, Andreia Faria, Catarina Amado (Geyse, 60′), Pauleta, Cloé Lacasse, Darlene (Lúcia Alves, 90′) e Nycole Raysla (Ana Vitória, 73′).

A Figura
Geyse Até à entrada da brasileira, Uchendu parecia ter na mão o “prémio” de figura do jogo. Aos 60 minutos, tudo mudou: a exibição benfiquista, o resultado e essa hipótese que se encaminhava para facto. O golo – que desbloqueou a partida -, o penálti conquistado – que “matou” a partida” – e a influência de Geyse no jogo vale-lhe a atribuição de figura do jogo.

O Fora de Jogo
Ineficácia bracarense Numa partida em que nenhuma individualidade nem nenhum dos colectivos se destacou pela negativa, só a ineficácia bracarense nas oportunidades de que dispôs se me afigura como aspeto negativo de um jogo bem disputado."

Vitória molhada, mas muito saborosa!!!

Braga 0 - 2 Benfica


Num campeonato, onde salvo uma grande surpresa, das equipas candidatas, só três tem capacidade para tirar pontos umas às outras, o campeonato 'decide-se' praticamente em 6 jogos: nos confrontos directos, entre Benfica, Braga e Sporting! Portanto, esta jornada, seria uma das mais complicadas e muito provavelmente decisiva... E com a nossa vitória, demos um salto gigante para o título!

Num jogo disputado em condições muito chuvosas, não estivemos bem na 1.ª parte, com o Braga a ser de facto a equipa mais perigosa. No 2.º tempo, com a entrada da Geyse, tudo mudou! A nossa extremo marcou um golo e ganhou o penalty que permitiu o 0-2! A Geyse tem um potencial enorme, técnica e fisicamente muito superior, mas 'decide' muitas vezes mal... mas hoje, foi 'decisiva'!!!

Vitória na Praia da Vitória...!!!

Fonte do Bastardo 0 - 3 Benfica
17-25, 17-25, 24-26

O ano passado, perdemos 'aqui', hoje, mais avisados, não demos hipóteses!
Na Quinta, na Luz, temos novo jogo da Champions...

Europa connosco

"Com estas nossas quatro equipas, e com um sorteio favorável, poderemos ter a ambição de nos aproximarmos da França no 'ranking'

1. Esta semana fui até Bragança. Na apresentação de um interessante livro, um jornalista perguntou-me se conhecia um cidadão da terra cujos primeiros nomes eram Luís Miguel. Olhei para ele e sorri. Respondi de imediato: Pizzi! Orgulho de Bragança, dessa terra fria e terra quente como o imortal Miguel Torga nos legou. Recordei-me daquele instante de memória ao longo do jogo de ontem frente ao Famalicão e de mais uma categórica exibição do Benfica e dos entusiasmantes golos do Pizzi. E também do golo do Vinícius após uma motivante jogada colectiva. Sem esquecer o de Caio o que é encorajante. O Benfica está bem. Colectiva e individualmente. Agora falta conhecer o adversário na Liga Europa e ultrapassar o Sporting de Braga na Taça de Portugal. Bruno Lage soube construir e soube resistir. E a prorrogação do seu contrato é um sinal. De justiça. E nestes tempos ser justo é um bem relativamente raro. E quando se concretiza merece registo e aplauso. Parabéns Bruno Lage!

2. Foi uma semana de ouro para as equipas portuguesas na Europa do futebol. Quatro vitórias e uma derrota e a ultrapassagem definitiva da Rússia e a consolidação total do sexto lugar no ranking da UEFA, o que determina que Portugal voltará a ter três equipas - duas directamente e uma na pré-eliminatória - na edição 2012/2022 da Liga dos Campeões. O que fica desta época é a confirmação da pentarquia que domina o futebol europeu. Nos oitavos de final da Liga dos Campeões só estão clubes das cinco maiores ligas europeias. Espanha e Inglaterra (4), Alemanha e Itália (3) e duas equipas fancesas (PSG e Lyon). E estas duas são as únicas equipas francesas que resistem na Europa do futebol esta época! E o interessante é que das 19 equipas que estavam nos Campeões das cinco principais ligas, só três - Lille, Inter de Milão e Leverkusen - não chegaram aos oitavos de final. Já nos dezasseis anos de final da Liga Europa estão representadas 18 ligas e com a nota bem especial de Portugal ter a maior representação, com quatro equipas e três delas como cabeças de série para o sorteio de amanhã. A hierarquia do futebol europeu está a consolidar-se. Nos Campeões os grandes nomes e, por sinal, os mais valiosos. Conquista desportiva combina com o valor do plantel. E, por sinal, só no grupo do Benfica é que a proximidade entre os valores dos plantéis era maior. Mas com Leipzig e Lyon a superarem, apesar de tudo, um Benfica em efectivo crescimento de valor. Na Liga Europa a presença de 18 ligas representa um maior equilíbrio e uma efectiva representatividade. Com Portugal a ter quatro equipas e a Espanha, a Inglaterra e a Alemanha a terem, cada uma, três equipas no sorteio de amanhã. Com a Itália, a Áustria, a Holanda ou a Escócia, por exemplo, a marcarem presença com duas equipas. E com uma equipa deparamos com a Grécia e a Ucrânia - ambas com treinadores portugueses que, aliás, são os que mais equipas lideram nos oitavos e nos dezasseis anos de final, respectivamente, da Liga dos Campeões e da Liga Europa! -, Dinamarca e Suíça, Suécia ou a Turquia. É nesta época, e com estas nossas quatro equipas, e com um sorteio favorável, poderemos ter a ambição de nos aproximarmos, em termos de ranking, da França e, logo, olharmos, com legitimidade,para o quinto lugar. Na antevéspera de mudanças significantes na Europa do futebol. Desde logo em razão das consequências do Brexit para o futebol inglês e, também, das mudanças anunciadas nas competições europeias de clubes, com a introdução, por exemplo, de uma verdadeira Liga Europa 2.

3. Importa, no entanto, que acompanhemos uma disputa que se está a desenrolar em termos de futebol mundial. E que, de verdade, representa, do nosso prisma, uma guerra em surdina entre a FIFA e a UEFA. Em meados de Novembro o Presidente do Real Madrid foi designado Presidente de uma nova associação mundial de clubes (WFCA). Diria que em contraponto à ECA, a associação dos clubes europeus, liderada pelo homem forte da Juventus, Andrea Agneli, O que é expressivo é que a nova associação mundial nasceu sob o patrocínio da FIFA e do seu presidente Gianni Infantino. E sem o patrocínio da UEFA e do seu presidente Ceferin. E, assim, face ao projecto da UEFA de uma superliga europeia, nasce, sob o suporte da FIFA; um projecto de um largo mundial de clubes. Não tenho dúvidas que a disputa é real e que Florentino Pérez busca aliados de referência no espaço do futebol europeu. Acredito que o acabado de anunciar jogo solidário a 29 de Março, no Santiago Bernabéu, entre o Real Madrid e o Futebol Clube do Porto, é um encontro de grandes nomes dos dois clubes e com louváveis fins de inclusão social. Mas é um sinal de proximidade entre dois clubes num tempo de mudanças - e de alianças! - no futebol europeu e no futebol mundial. Por aqui vamos acompanhando esta luta de poder que marca o final deste ano de 2019 entre a FIFA e UEFA. Olhando nesta semana para o Mundial de clubes e para a presença de Jorge Jesus e do Flamengo e do Liverpool e de Jurgen Klopp! E sabendo que quem vencer esta competição receberá cinco milhões de euros! E sendo, depois da emblemática presença de Manuel José (2005 e 2008), Jorge Jesus o segundo treinador português a participar nesta competição que arrancou, sem grande aparato mediático, na quarta-feira e da entrada em jogo de Flamengo e, depois, de Liverpool tudo será bem diferente. E com a nota que a partir de 2021 serão vinte e quatro as equipas que marcarão presença nesta prova e com oito clubes europeus! E o futebol sul-americano com seis e com a China - como país sede desse novo Mundial - a ter direito a um representante! Europeu em 2020, Mundial de clubes em 2021 e Mundial de selecções e  2022. E, no meio, Liga dos Campeões e Liga Europa. E, por cá, a nossa Liga com a atenção de a época 2021/2022 permitir dois clubes com entrada directa na fase de grupos da Liga dos Campeões. Milhões e mudanças. Rivalidades internas e rivalidades externas. O mundo é mesmo feito de mudanças.

4. Uma nota de pesar. Com a consciência que no mesmo berço se nasce e se morre. Na quinta-feira morreu a cidadã Laurinda Lopes. Natural de Prime, freguesia de Fragosela (Viseu) foi a primeira mulher árbitra da Europa. Fica aqui o necessário registo e os sentidos pêsames à família. Com a recordação saudosa de alguns outonos vividos nas vindimas em Fragosela! Saudades da infância nestas vésperas de Natal!"

Fernando Seara, in A Bola

Pizzi conduz Benfica imparável

"Vitória categórica e inquestionável de Benfica mais forte em todos os momentos de jogo

Benfica está a crescer
1. O Benfica venceu de forma categórica e passa o ano tranquilamente na liderança do campeonato, isto numa altura em que continua a crescer como equipa graças ao facto de ter apresentado o mesmo onze nos últimos quatro jogos. É um Benfica em consolidação de rotinas, de dinâmicas, quer ofensivas quer defensivas. Neste jogo o Benfica casou o resultado com a exibição: ambos foram bons. Este já se parece mais com o Benfica de segunda volta da época passada em que conseguiu reduzir a desvantagem para o FC Porto e ser campeão. Agra não há João Félix, mas há um Chiquinho que assume cada vez mais protagonismo e começa de facto, a ser Chicão.

Dupla Pizzi/Chiquinho
2. O Famalicão apresentou-se na Luz fiel à sua filosofia de jogo e tentou mostrar logo os dentes na primeira jogada do encontro com uma entrada forte pela esquerda construída por Fábio Martins. Mas o Benfica foi respondendo gradualmente, dando largura através dos homens dos corredores laterais, com Grimaldo e Cervi muito bem na esquerda e Pizzi em super forma na direita e ontem também bem apoiado por Tomás Tavares. Creio que Pizzi é o grande maestro do Benfica nesta altura, combinando também muito bem com Chiquinho: conhecem-se ambos e sabem de forma perfeita os terrenos que têm de pisar quer por fora quer por dentro para ocupar os espaços entre o lateral e o central adversário.

Lage estudou bem o adversário

3. Voltámos a ver um Benfica muito mais agressivo na recuperação de bola, notando-se neste jogo que a dupla Gabriel/Taarabt jogava por vezes muito mais adiantada a condicionar o meio-campo do Famalicão e a não deixar que o Gustavo Assunção se virasse para pegar no jogo. Ou seja, o Benfica foi uma equipa sólida, consistente, forte com e sem bola e foi construindo o resultado de forma natural como no final também o treinador do Famalicão reconheceu. Não houve demérito do Fama ontem à noite - foi apenas o terceiro jogo e que não conseguiu fazer golos - houve acima de tudo muito mérito do Benfica da forma como Bruno Lage preparou o jogo, de forma estratégica como percebeu onde era os pontos fortes do adversário e os conseguiu anular. Resumindo este é um Benfica imparável liderado por um super Pizzi. Não sabemos onde poderá chegar, mas esteve bem Bruno Lage no seu discurso a travar euforias."


Vítor Manuel, in A Bola

O reencontro com a estética

"Se ainda subsistissem dúvidas acerca da retoma exibicional do Benfica a goleada frente ao Famalicão tirou-as, uma por uma. Uma equipa que jogou em todo o campo, foi intensa na recuperação da bola e harmoniosa quando atacava. A melhor forma de aferir o estado de saúde de uma equipa de futebol é olhar para as caras dos jogadores. E o que se vislumbra em Pizzi, Vinícius, Gabriel ou Taarabt são expressões de tipos que estão realmente a ter um enorme gozo no que estão a fazer. Porque mais do que o resultado, o Benfica parece ter-se reconciliado com a estética, reencontrando-se com o legado criado por Bruno Lage. O treinador das águias teve algumas dificuldades para devolver aos seus adeptos o nível de espectacularidade da segunda volta de 2018/2019 mas todos já perceberam que encontrou a fórmula para, finalmente, substituir João Félix: não podendo encontrar um igual, juntou Taarabt, Gabriel e Chiquinho para darem a mesma criatividade do actual jogador do Atl. Madrid e libertarem Pizzi para aquela que poderá vir a ser a melhor temporada do internacional português. Já não foi a tempo para conseguir uma qualificação para os oitavos de final da Champions (era um objectivo perfeitamente exequível) mas chega e sobra para manter-se líder um campeonato médio-baixo ao nível da qualidade de jogo. Seria positivo para a competição que esta retoma exibicional das águias obrigasse os seus mais direitos rivais a subirem a fasquia, a bem de espectáculo e de um campeonato que se orgulha de ser o mais representado na Liga Europa. Mas talvez seja pedir muito. E por isso o Benfica parece ser, agora mais do que nunca, o grande candidato ao título."

Fernando Urbano, in A Bola

Pizzi e melhor

"O que é que tenho visto? Tenho visto o Pizzi a jogar cada vez melhor, destralhando o seu jogo daquilo que ele possa ter de mais espúrio (ou transformando, em campo, becos sem saída em linhas de fogo) - e através disso a pôr a equipa melhor também.
Tenho visto o Pizzi a jogar cada vez melhor com a alma a chamar-lhe o coração aos pés onde não há medo e há flor, não há toleima e há golo - e através disso a pôr a equipa melhor também.
Tenho visto o Pizzi a jogar cada vez melhor extraindo mais veleidades de menos desconcertos e mais argúcias de menos negrumes - e através disso a pôr a equipa melhor também.
Tenho visto o Pizzi a jogar cada vez melhor sem que a pressão ou o desafio lhe entortem os pés ou o encalhem em falhanços ridículos ou golpes disparatados - e através disso a pôr a equipa melhor também.
Tenho visto o Pizzi a jogar cada vez melhor moldando a dinâmica do seu jogo em mais iluminados processos de ataque e em menos desleixados processos de defesa - e através disso a pôr a equipa melhor também.
Tenho visto o Pizzi a jogar cada vez melhor em busca da baliza sem se perder por atalhos e a romper, em fogacho, com aquilo que noutros seriam lances rotineiros, chatos ou inócuos - e através disso a pôr a equipa melhor também.
Tenho visto o Pizzi a jogar cada vez melhor a iludir adversários e a destruir marcações, fazendo-o com génio e perspicácia (e com furor e fulgor) - e através disso a pôr a equipa melhor também.
Por isso já disse que quando o Pizzi joga bem, o Benfica joga melhor. E quando o Pizzi joga mal (o que é cada vez mais raro), o Benfica joga pior. Contra o Famalicão, voltei a ver o melhor do Pizzi num Benfica melhor.
(E ainda vi algo desse melhor Pizzi a aparecer, sorrateiro, outra vez, nos pés e na cabeça do Vinícius que, espantosamente, continua a ter lá também um pedaço de Eusébio - e por isso é que ele está no lugar certo à hora certa, nem que seja um segundo apenas)."

António Simões, in A Bola

Agradecimentos, conduta e sorte (provérbios aplicáveis à vida e ao desporto)

"Sem um bom adversário, todos os animais no mundo, todos os clubes, todos os atletas, todos os artistas, seriam fraquíssimos lentíssimos e bem estúpidos.

A quem agradecer quando se ganha
1. - A bom gato bom rato.
- Pois. Como explica esta frase, excelência?
- Se Vossa Excelência tem um rato forte e ágil e astuto e inteligente que o incomoda, o que deve procurar?
- Isso é fácil.
- Diga, excelência.
- Devemos, procurar um gato forte e ágil e astuto e inteligente.
- Exactamente.
- E portanto..?
- E, portanto, pode ter a certeza de que se domesticar um gato forte, ágil e astuto e inteligente e se não existir rato, o tal gato forte, ágil, astuto e inteligente ficará irritado porque não tem rato forte e ágil e astuto e inteligente que possa caçar.
- Isso, compreendo. Fica irritado. Até eu já estou a ficar com essa repetição.
- Mas a questão não acaba aí.
- Não?
- Não.
- À irritação segue-se a aceitação.
- Aceitação do gato.
- Aceitação por parte do gato forte, ágil, astuto e inteligente - do facto de não ter um rato forte, ágil, astuto e inteligente para caçar.
- Ok, compreendi.
- E depois de aceitar essa situação o gato forte, ágil, astuto e inteligente ficará mais mole, mais preguiçoso.
- Levanta-se mais tarde, mexe-se menos - para quê mexer-se?
- ... fica menos atento, adormece em cada canto, começa a engordar um pouco.
- Ui.
- Ou seja?
- Ou seja...
- O gato, que era forte, ágil, astuto e inteligente, sem um rato forte, ágil, astuto e inteligente, começa a ficar um gato fraco...
- ... lento...
- ... pouco atento...
- .... e pouco esperto.
- Sim?
- Sim, sem dúvida.
- Em poucos meses o gato que ficará fraquíssimo, lentíssimo e muitíssimo estúpido.
- Que chatice.
- Moral da história?
- Sem um bom adversário, excelência, todos os animais no mundo, todos os clubes, todos os atletas, todos os artistas, seriam fraquíssimos, lentíssimos e estupidíssimos.
- Ou seja, agradeça ao seu adversário: todas as qualidades que vossa excelência tem foi ele quem as aperfeiçoou.
- Quase sempre, no fundo, quando se ganha, os agradecimentos estão errados.
- Sim.
- Agradece-se a quem esteve do nosso lado, quando se deveria agradecer aos inimigos.
- Isso, isso mesmo.

Conselhos sobre conduta.
2. - Acender uma vela a Deus outra ao diabo.
- Sim, é melhor ir pelos dois caminhos.
- Não esquecer nenhum dos lados.
- Se não for a bem, vai a mal.
- Mais: se não for a mal, vai a bem.
- Eu diria: no limite, vai mesmo a bem.
- Em certos contextos, utilizar a bondade e os bons comportamentos... só mesmo se for necessário.
- Sim, só em última defesa.

Sobre a importância da sorte.
3. - Para o amor e para a morte não há cosia forte.
- Pois.
- Podes exercer toda a tua força sobre a morte e nada. Não vences a morte; nem num jogo de xadrez nem com a força do pulso.
- Nem por via da mente e do intelecto nem por via muscular e bruta.
- Nada, a morte não se vence pelo argumento nem ao murro.
- O mais forte é bem fraco perto da morte.
- Sim.
- O mais inteligente é boçal e estúpido diante da simples morte.
- Sim.
- E depois há o amor.
- Para o amor e para a morte não há coisa forte.
- Ou seja, só há coisa fraca.
- Diante do amor, tudo é lingrinhas e frágil.
- Pois.
- Mas se colocas amor e morte em ringue de boxe, nada a fazer. A morte vence sempre.
- Proposta de alteração ao provérbio: só a morte é coisa forte para o amor.
- Ou ainda...
- O amor, a morte e a sorte, não há nada mais forte. Um acrescento.
- A sorte, a sorte. Na vida e no jogo. Sim, não nos esqueçamos dela. A forte sorte."

Gonçalo M. Tavares, in A Bola