quarta-feira, 20 de novembro de 2019

Andreas Samaris: um glorioso Spartan encarnado

"Poderá algum benfiquista não gostar de Samaris? Chegou no Verão de 2014 ao Sport Lisboa e Benfica e desde aí já conta com cinco épocas de águia ao peito, estando agora na sexta.
Um médio todo-o-terreno que nunca se conseguiu fixar definitivamente em nenhuma posição do campo. Surgiu como um 6 e foi perdendo o lugar para o Fejsa. Em Abril de 2016 perdeu a titularidade e a partir daí, já sob o comando de Rui Vitória, foi desaparecendo aos poucos da equipa principal do SL Benfica, tendo-se eclipsado totalmente no segundo semestre de 2018.
Foram dois anos e meio onde apesar de ter havido pouco Samaris no SL Benfica, nunca faltou SL Benfica em Samaris. Nunca deixou de respeitar o clube e muito menos de vibrar intensamente com os jogos dos seus companheiros de balneário. Nunca desistiu, nunca virou as costas ao relvado e sempre que entrou deu tudo o que tinha.
E quando tudo parecia perdido, quando já não havia luz que o iluminasse de camisola encarnada, quando já todos esperavam por ver o seu contracto expirar, Samaris entrou de rompante no 11 titular, agarrou o seu lugar e foi uma das caras da revolução encarnada e do título de 2018/19. Em Janeiro, já com Bruno Lage, o grego viu os seus constantes esforços recompensados e como um verdadeiro guerreiro escalou o fosso em direcção ao céu.
Não, o grego não é um jogador extraordinário. Tem uma polivalência nascida do seu esforço e capacidade de aprendizagem e assim pode ocupar qualquer posição do meio-campo e ainda actuar no centro da defesa. É o suficiente para ter muito mais impacto nas escolhas dos seus treinadores. Até porque com Samaris o SL Benfica tem mais personalidade e uma maior identidade.
O momento actual do grego – um novo desaparecimento – deve-se ao paradoxo das suas qualidades. Em meses, passou de zero a titular indiscutível e agora a jogador de reserva. Esta descida do céu à indiferença é o resultado natural do futebol actualmente praticado pela equipa.
Pelas alterações de Julho – vendas de jogadores, mudanças tácticas e surgimento de novos jogadores – o contexto da equipa de Lage mudou drasticamente e Samaris – tal como Seferovic – foram os mais prejudicados. Há uma coerência no seu baixar de rendimento.
Bruno Lage já abordou a utilidade de ter um jogador com a polivalência de Samaris e assim não se percebe como o grego tanta vez nem convocado é. O treinador do SL Benfica referiu que não convoca um médio que possa substituir o Florentino… Mas porquê? Qual o sentido disso? Não fará mais falta no banco um suplente para mexer no meio-campo do que um terceiro central? E com Samaris tem-se opção paras as duas posições. Não tem lógica Jardel empurrar Samaris para a bancada.
Qual a diferença do Samaris da época transacta para a época actual? A diferença está precisamente naquilo que lhe é pedido e lhe é oferecido. Em Janeiro, o futebol encarnado transfigurou-se com a alteração ocorrida no cento do terreno. O Benfica passou a jogar com dois médios de pressão e de bola e também com um segundo avançado a procurar o jogo interior e o futebol entre-linhas.
Samaris e Gabriel sem bola fizeram uma dupla temível, porque dão à equipa uma capacidade imensa de pressão sobre o adversário, condicionando o seu jogo e permitindo à equipa recuperar a bola mais depressa e mais subida no terreno. Com bola, além de serem dois jogadores que sabem tratar a “redonda”, que a sabem receber, temporizar e passar e que sabem ler o jogo e movimentar-se para os espaços certos, ainda tinham um apoio central que lhes permitia jogar curto e subir em progressão. Era neste futebol que Samaris funcionava. Era possível ter a sua personalidade em campo enquanto as suas principais qualidades eram exploradas. Não era um ‘6’ nem um ‘8’, e muito menos um ’10’. Samaris era parte de uma dupla de médios.
Nesta época, o que foi pedido a Samaris, e o que lhe é pedido quando entra, é que se imponha por si dominando uma posição especifica do terreno. Ou no lugar de Florentino, como número ‘6’, sendo o jogador responsável pelas compensações defensivas, ou ao lado do Florentino, como número ‘8’, sendo o principal responsável pela construção do jogo encarnado. Neste contexto, já se pede mais ao grego do que aquilo que pode dar, e ainda se lhe retira o apoio frontal que tinha para o jogo curto e de progressão, o que o obriga a um constante procurar do passe longo.
Depois de um mau arranque, no pouco que tem jogado nem se tem exibido a mau nível. Gostava de ver Lage reeditar a dupla de médios da época passada, aproximando o futebol da equipa ao melhor futebol da época 2018/19. Isso também iria exigir um redescobrir de um segundo avançado – Chiquinho poderá estar a evoluir nesse sentido. Mas, pelo menos, quero Samaris no banco. Tem de ser opção para mexer no jogo. A sua qualidade, a sua polivalência e o seu espírito fazem falta ao Sport Lisboa e Benfica."

Beto ou uma carreira numa fotografia!

"Peçam uma fotografia marcante de um jogo de futebol...
A do calcanhar de Madjer...a da corrida insana de Carlos Manuel após marcar aquele golo no Neckerstadion de Estugarda...a das lágrimas de Eusébio, a sair de Wembley confortado, após ruir o sonho Mundial de 66... ou então, a do mundo ao contrário!
Chamo-a assim, desde o momento em que a vi! Um momento brutal, de imensa alegria para o público benfiquista, que pôde, graças a ele, prosseguir na Liga dos Campeões até aos quartos de final, frente a um galáctico Barcelona... mas, com a confirmação que vivíamos num mundo do avesso quando Moretto defendeu uma grande penalidade de Ronaldinho Gaúcho.
Mas... voltemos à foto! Beto exulta, colocando o dedo no ouvido, perante a desilusão de Ryan Giggs! 
Não deveria ser ao contrário?
Beto, um médio determinado, raçudo, daqueles que antes preferiam quebrar do que torcer, na boa linha de homens como Binya ou Fernando Aguiar, chegou aos encarnados no momento em que o clube resgatava um título que lhe fugia há 14 anos.
Orientado por Ronald Koeman, dificilmente entenderia os pressupostos de futebol total, que, ainda, hoje o holandês implementa na sua selecção.
Porém, nem por isso deixou de ter um lugar na história, que merece ser lembrado hoje que cumpre mais uma Primavera... um lugar imortalizado por uma fotografia que, quando um arqueólogo escavar a história do futebol português irá aparecer!
Mas, já era o mundo do avesso... o Gilberto Galdino dos Santos, o homem que deixou Recife para ganhar cartel no Paços de Ferreira e no Beira Mar a ressalvar numa fotografia com Giggs... Momentos!"

É tudo uma questão de comer gelados. Há quem os coma com a boca, há quem os coma com a testa

"Uma das frustrações de um árbitro é a de constatar, jogo após jogo, que raramente vê reconhecida a qualidade do seu trabalho. Como sabemos, é raro o elogio público, a unanimidade em relação à competência, a admiração face à postura, personalidade e idoneidade de um juiz de campo. Acontece sim, pontualmente, mas poucas vezes. E é pena. É pena porque qualquer profissional precisa dessa motivação para manter o caminho para a excelência.
Sejamos honestos: quem não gosta de ver o seu trabalho valorizado, sobretudo se o que faz é tão difícil, determinante e mediatizado?
Diz-se que os árbitros têm a única função no mundo em que já são malandros, corruptos e vendidos, antes mesmo de começarem a trabalhar. Basta que entrem nas instalações do estádio para que chovam assobios, insultos e ameaças, vindas pela voz inebriada da meia dúzia de candidatos a sapiens que os esperam à porta da garagem. Não é queixa, não é vitimização, não é lamento de gente carente. É uma constatação de facto. Uma mera constatação de facto.
Se pensarmos bem - e pensar bem é despir a camisola, deixar o sentimento de lado e assumir o papel de ser pensante - esta hostilidade é um disparate. Não faz sentido nenhum. E na prática, vale (quase sempre) zero. É que, ao nível do futebol profissional (onde um árbitro só chega depois de muitos anos a virar frangos), ninguém se deixa influenciar por assobios, isqueiros ou bruás violentos. É até ofensivo pensar-se que esse tipo de pressão, verdadeiramente terceiro mundista, pode materializar-se num resultado positivo para quem quer que seja.
Mas, supondo até por instantes, que sim... que um ambiente mais agressivo e infernal pode fazer vacilar o subconsciente de um árbitro mais inexperiente, digam-me:
- Ganhar assim é ganhar a sério? Vencer com base num subterfúgio tão imoral, tão batoteiro e pequenino... é vencer com dignidade? Com justiça?
A reflexão fica para quem acha que sim. E para quem, semana após semana, ainda entende que o "vale-tudo" é a única forma de se superiorizar ao adversário, num jogo que tem que se vencer dentro das quatro linhas.
Para esses, um minuto de silêncio.
Pronto. Já está.
Naturalmente que não se pedem aplausos e "holas" para as equipas de arbitragem. Também não se pede às pessoas que anulem uma tradição histórica de desabafar, gritar e libertar a tensão numa partida de futebol. O jogo não é uma missa e as emoções não se empacotam numa caixa. Certo. Certíssimo.
Mas o ideal é que houvesse, pelo menos, um bocadinho (um niquinho só) de mais respeito. O mesmo que, por exemplo, merecem treinadores e jogadores. Claro que também eles são criticados e tantas vezes injustiçados, mas bolas... não são "ladrões" assim que começam o aquecimento. Não são corruptos quando falham um golo a meio metro da linha de baliza. E não são gatunos quando fazem a substituição errada no momento menos indicado.
Esta evolução cultural não é fácil.
O árbitro é o "desmancha-prazeres" do jogo desde que o jogo deixou de ser jogado sem regras, como ainda hoje se faz, por carolice, no recreio com os colegas. Mas tem que haver, algures por aí, uma coisa chamada meio termo. Algo semelhante ao que se vê, por exemplos, nalguns campeonatos (não muitos, infelizmente), onde o desabafo daquela hora e meia nunca ultrapassa ... a hora e meia. Nunca se arrasta durante semanas, nunca persegue, raramente difama, não rotula e não inflama.
É o que é, fica ali e entra na memória perdida pouco depois. Nesses campeonatos, é pouco comum usar os erros de arbitragem como arma de arremesso para empoeirar os olhos dos adeptos. As más arbitragens não servem de pretexto para justificar fraquezas próprias, incompetência de gestão ou resultados menos conseguidos.
É tudo uma questão de comer gelados. Há quem os coma com a boca, há quem os coma com a testa... e há quem pense que o mundo é todo otário.
Incrível, não é?
Bem, mas está na hora de darmos um passo em frente. O povo tem que ganhar mais educação, para aumentar a sua cultura desportiva. E quem está deste lado tem que dar perceber que ganhar com isenção e lançar a confusão são coisas que rimam, mas que nunca se podem confundir."

Portugal é favorito no Euro 2020?

"Apesar da vitória em 2016, Portugal parte novamente como um dos outsiders. Mas se olharmos para o passado recente, correr por fora até pode ser útil.

Numa conferência de imprensa, Joachim Löw referiu algumas das selecções candidatas ao triunfo no Euro 2020 (em opinião própria, claro), e não colocou Portugal nesse lote. Em abono da verdade, Löw exclui a própria formação da Alemanha do grupo de grandes favoritos à vitória final. Diz o seleccionador alemão que quem parte na frente são equipas como Inglaterra, França, Espanha, Itália, Bélgica e Holanda, porque «já fizeram uma transição de gerações», dando a entender que a Alemanha está nesse processo e, portanto, terá menos condições de partir em busca da vitória. Talvez faça sentido.
Mas, então, e Portugal? Será que o técnico alemão tem razões para ter omitido a equipa de Fernando Santos?
Por um lado, defenderam imediatamente alguns, Portugal é o campeão em título. Automaticamente, deve ser visto como um dos favoritos à vitória - tem um grupo talentoso, e, lá está, venceu a edição anterior e acima disso não há nada. Esta é uma visão lógica e que se aceita - e por aí talvez se explique alguma indignação nas redes sociais contra Löw por se ter «esquecido» da equipa lusa. Mas vamos olhar de outros ângulos.
Em 2008 alguém via a Grécia como grande favorita, depois da vitória inesperada em 2004? Claro que não - e os gregos até saíram com zero pontos. Ora, o triunfo português em 2016 não é comparável ao da Grécia (ou até ao da Dinamarca em 1992), porque estamos a falar de uma equipa com talento em todos os sectores, com um dos melhores do mundo a aparecer em momentos decisivos, etc etc etc. O que já sabemos. Ainda assim, não se pode dizer que uma vitória em 2016 seria expectável, principalmente depois das pálidas prestações na fase de grupos.
Ao mesmo tempo, é impossível ignorar que a qualificação foi de serviços mínimos. Será praticamente unânime sublinhar que a campanha não foi vistosa, foi sim pragmática porque Portugal chegou lá (e isso é que interessa, defenderão alguns). Pelo meio, uma vitória na Liga das Nações, que foi importante, mas mais valorizada internamente do que no circuito internacional. E que não faz esquecer os empates com Ucrânia e Sérvia, e a imagem menos conseguida do último jogo no Luxemburgo. Ou seja, realmente, olhando à prestação nos grupos de apuramento, Portugal surgirá numa espécie de segunda linha de candidatos, porque a Inglaterra jogou mais, a França jogou mais, a Espanha jogou mais, a Bélgica jogou mais, a Itália jogou mais… E a Alemanha, mesmo com as palavras do seleccionador, é sempre a Alemanha.
E aí está, mesmo com o triunfo de 2016 no bolso, Portugal vai surgir novamente como uma espécie de outsider (a palavra da moda nas fases finais), ao lado de equipas como a Croácia ou a Holanda, mas claramente acima de muitas outras que até se mostraram na qualificação - como Turquia, Suíça, Polónia, Suécia ou Rússia… Mas que estão nitidamente abaixo das capacidades lusitanas.
E será que interessa verdadeiramente a Portugal ser visto como um grande favorito? Historicamente, quando as expectativas são muito altas, parece existir alguma tendência para quebrar. Nos Mundiais 2002 e 2014, por exemplo, Portugal surgia sempre referenciado como eventual vencedor, mas caiu cedo e com estrondo.
Além disso, o estilo de jogo que Portugal exibiu em 2016 é um «convite» venenoso às equipas mais fortes - pode efectivamente não interessar nada ter o rótulo de candidato, se isso se traduzir em maiores cautelas defensivas das equipas teoricamente mais poderosas. E a equipa de Fernando Santos até se sente confortável a gerir o jogo com pragmatismo e concentração defensiva, para depois explorar o erro de um adversário que quer assumir o jogo. Portanto, será Portugal favorito no Euro? Talvez não, mas se calhar até dá mais jeito assim."

O pote indesejado do Europeu

"A nossa selecção foi atirada para o pote três, claramente o menos desejável por arrastar consigo enormes dificuldades para os comandados de Fernando Santos.

Concluiu-se ontem o apuramento de vinte selecções que estarão presentes no próximo Campeonato da Europa, às quais se juntarão posteriormente mais quatro a apurar no play-off que terá lugar em finais do próximo mês de Março, fase para a qual se habilitaram outras 20 selecções.
Quanto a Portugal, a única dúvida que permanecia também se desfez após a jornada de ontem. Dependendo do resultado da Holanda, que venceu facilmente a Estónia por 5-0, a nossa selecção foi atirada para o pote três, claramente o menos desejável por arrastar consigo enormes dificuldades para os comandados de Fernando Santos.
Os potes um e dois incluem equipas poderosas, de elevado nível competitivo, algumas das quais se apresentarão como sérias candidatas à vitória final da mais importante competição europeia. Basta citar como as mais relevantes a Alemanha, Itália, Espanha e França, sem menosprezo por outras às quais se reconhece a mais elevada qualidade.
Haverá, por tudo isto, razões para que Fernando Santos encare desde já a defesa do título com justificadas preocupações? Claro que há razões, mas tantas quantas os nossos possíveis adversários terão na altura do tiro de partida em relação a um conjunto forte, constituído por jogadores de elevada craveira e detentor do título que vai tentar defender.
Separados por sete meses do início do Campeonato da Europa, a disputar em 12 cidades de outros tantos países, temos pela frente um mar de dúvidas que só o tempo ajudará a desfazer.
A maior dos nossos jogadores vão ser submetidos a um enorme desgaste nos campeonatos nacionais em que tomam parte, havendo também a possibilidade de virem a registar-se lesões impeditivas de tomar parte na fase final.
Fernando Santos já se expressou de forma clara relativamente às nossas aspirações: a selecção de Portugal não é favorita, mas cabe-lhe apresentar-se como séria candidata.
E é nessa condição que vai preparar-se para a longa caminhada, na qual, a partir do mês de Junho, vai ter a companhia de muitos milhões de portugueses."

Jesus, o Flamengo, candomblé e mandinga: as finais revelam faceta sombria do mister

"O Flamengo disputa a Copa das Libertadores contra o River Plate. O que aconteceu em outras finais? Porque é que o paraguaio Oscar Cardozo deu um chega para lá em Jorge Jesus no Benfica?

O treinador Jorge Jesus colocará à prova – na decisão da Libertadores da América entre Flamengo e River Plate em Lima no sábado – a “maldição”da final. Por duas vezes, chegou à decisão do título da Liga Europa e por duas vezes perdeu, em condições que podem ser vistas como cruéis.
O temor de que Jesus tenha sido amaldiçoado remonta à passagem do treinador húngaro Béla Guttman pelo Benfica, o clube português ao qual JJ levou por duas vezes à disputa do título da Liga Europa.
Bela Guttmann (1899-1981) foi um treinador de sucesso. Entre 1933 e 1974, dirigiu clubes na Hungria, na Romênia, na Itália, no Brasil e na Argentina, entre muitos outros lugares. Alcançou a glória em Portugal, dirigindo o Benfica, depois de passar pelo Porto, com o qual também venceu uma liga portuguesa.
Na equipe de Lisboa, ele tinha um dos melhores jogadores da história: Eusébio, o "Pantera Negra". Com o Benfica, conseguiu vencer duas Copas da Europa da época. Na primeira, em Berna em 1961, venceu o Barcelona. No ano seguinte, venceu o Real Madrid.
A controvérsia envolvendo o húngaro bicampeão nasceu no início dos anos 60. Embalado pelo sucesso, Guttman pediu um aumento salarial, que foi recusado pela direção do Benfica. Enraivecido, o treinador pediu demissão e praguejou: "Sem mim, o Benfica não ganhará uma taça da Europa daqui a 100 anos ou mais."
O Benfica disputou então oito finais europeias desde 1962 e perdeu todas as oito. Cinco da antiga Taça da Europa (1963,65,68,88 e 90) e duas da UEFA / Europa League (1983, 2013 e 2014).
No comando do Benfica, o português Jorge Jesus esteve muito próximo de conquistar um torneio continental duas vezes, nas temporadas 2012/13 e 2013/14. Foram campanhas que levaram o clube às fina is da Liga Europa, mas as derrotas para o Chelsea, de Rafa Benítez, e Sevilla, de Unai Emery, foram "doídas", como deixou claro o técnico na colectiva após o 5 a 0 sobre o Grêmio, que levou o Flamengo à grande decisão da Libertadores.
“É verdade que é minha terceira final muito importante. Já estive duas em que perdi, infelizmente. Não me esqueço. Uma nos pênaltis, outra aos 92 minutos. Vamos ter a terceira. Só perde e ganha quem chega. Entre a desilusão e a satisfação, há muita proximidade. Em Portugal, dizemos que vamos à final para ganhar. É assim que pensamos”, disse Jesus.
As decisões costumam revelar uma face sombria de Jorge Jesus. Em 2013, além de perder o título para o Vitória de Guimarães na Copa de Portugal, o então treinador do Benfica quase saiu aos tapas com o atacante paraguaio Oscar Cardozo.
O jogador empurrou o técnico quando os dois se dirigiam para o vestiário lamentando o terceiro vice-campeonato em 11 dias naquele ano.
Jorge Jesus saberá assim contornar à maldição das finais que o parece cercar?

Mandinga e Candomblé
Ex-treinador da selecção brasileira, João Saldanha (1917-1990) costumava dizer que, se maldição ou mandinga ganhasse campeonato, o torneio na Bahia, terra do candomblé brasileiro, só poderia terminar empatado.
Os adeptos do Flamengo não costumam ser menos míticos do que seus adversários tradicionais. Assistir a todas as partidas com a mesma camisa - ou até a mesma roupa íntima- torcer sempre com o mesmo grupo, no mesmo bar ou no mesmo sector do estádio, por exemplo, são decisões individuais que os torcedores tomam acreditando que possam influenciar no resultado do jogo colectivo - por vezes a quilómetros de distância do suposto torcedor que influenciaria o resultado.
Muitos dizem não acreditar em superstição, ao mesmo tempo em que alimentam crendices irracionais. Quando o Brasil venceu a Copa do Mundo de 1994, numa apertada disputa de pênaltis em que o craque italiano Roberto Baggio desperdiçou a última cobrança e assim encerrou um jejum de 24 anos de títulos mundiais, logo apareceu uma explicação sobrenatural.
O israelense Uri Geller, autodenominado vidente, explicou: “Baggio errou o pênalti porque 70 milhões de brasileiros estavam usando seus poderes telepáticos contra ele” . Seria óptimo se fosse verdade, mas as copas do mundo paralisam o Brasil, e os poderes telepáticos já não funcionam há quatro mundiais.
Que poder telepático é esse? Se isso contar, o Flamento tem 40 milhões de torcedores acreditando que Jesus superará a maldição da final no sábado.
Para a salvação de Jesus, o futebol é um espaço profano em que a mística aparece mais como diversão do que como fé.
O sociólogo alemão Anatol Rosenfeld escreveu um clássico sobre o futebol brasileiro em 1956. Em “Negro, Macumba e Futebol”, ele afirma que o futebol configurou-se como objecto de culto, factor de transcendência e redenção.
Numa actividade esportiva em que tanta coisa depende da sorte ou do acaso, entende-se que os times procurem apoio nas esferas sobrenaturais irradiadas pela imensa carga de paixão das torcidas de futebol.
É como se essas forças manifestamente míticas trouxessem um estímulo benéfico à equipe e, ao mesmo tempo, ocasionassem um desfavor demoníaco ao adversário. A conclusão de Rosenfeld é que o efeito da superstição se dá mais nos torcedores do que no espectáculo.
"O futebol leva a uma catarse das massas, a uma descarga do ser animal –e a uma sublimação de tensões que contam, no Brasil, com uma abundância extraordinária de pontos de cristalização e de condensação".
Quando a mãe de Jesus morreu, de cancro em 1994, o treinador passou dez anos vestindo-se de preto, em sinal de luto. Assim, quando entrar em campo com a equipe do Flamengo em Lima, repetindo o fato preto que usa preferencialmente, Jesus sinalizará ainda ser um homem de fé, mas que no futebol precisa superar crendices e maldições porque tem um trabalho excelente a mostrar."

A grande piada de Jorge Jesus

"Contava o Raul Solnado que a maior ovação que teve na vida aconteceu no Brasil, no programa de televisão de Chacrinha.
«Vocês lá em Portugal também contam piadas de brasileiros?», perguntou o apresentador.
Sem deixar cair, Solnado respondeu: «Não, não… Nós não precisamos.»
À resposta, de uma simplicidade desarmante, seguiram-se segundos de silêncio que irromperam numa sonora gargalhada e na tal interminável salva de palmas da plateia.
Faça-se a justiça de salientar que quando Jorge Jesus chegou ao Brasil, o portuga já não era o estereótipo das anedotas: dos homens de tamanquinhos e das mulheres de buço, numa gradação que ia do ligeiramente inocente ao profundamente burro.
Ainda assim, não deixa de impressionar a forma como em cerca de cinco meses um português tenha marcado de forma tão indelével o «país do futebol».
Jesus tem cânticos e até um samba. Tem milhões de fãs e até um sósia. Tem detratores também. De Renato Gaúcho a Joel Santana, passando por Paulo César Carpegiani… A lista é longa, só para falar de técnicos brasileiros que nos últimos tempos foram tentando menorizar os feitos daquela que está bem perto de se consagrar como uma das melhores equipas da história do Flamengo.
Jesus pegou, à 10.ª jornada, numa equipa com oito pontos de atraso do líder e à 34.ª (com um jogo a mais) leva 13 de avanço sobre o segundo classificado. Quando faltam ainda disputar quatro rondas do Brasileirão, já igualou o recorde de pontos no actual formato (81), que era do Corinthians, bateu o de maior número de vitórias (25) e está em vias de fazer o mesmo com os registos de menor número de derrotas (4, neste momento tem três) e mais golos marcados (77, tem 73), entre outras marcas arrebatadoras.
Porém, mais relevante do que estes registos, são os títulos… E o que poderá acontecer no próximo fim-de-semana. O Flamengo pode, no sábado, 38 anos depois, vencer a segunda Taça Libertadores da sua história, na final em Lima frente ao River Plate, e no dia seguinte, caso o Palmeiras não vença o Grémio, pode também comemorar antecipadamente a conquista do seu sexto campeonato brasileiro. 
Sendo verdade que o «Fla» tem um plantel repleto de opções de qualidade, isto haver um treinador estrangeiro que pega no mais popular clube do futebol do Brasil e em menos de meio ano faz uma das campanhas mais bem-sucedidas de uma história centenária é coisa para colocar em cheque toda a corte de treinadores brasileiros que se revezam a cada época entre si.
Perante tal façanha, seria de esperar que o «JJ» que todos conhecemos inflasse o seu ego para lá do Cristo Redentor.
Ao invés, no último domingo, após mais uma vitória sobre o Grémio de Renato Gaúcho – desta vez em Porto Alegre e com uma equipa de recurso – Jesus apareceu aos críticos com as sandálias da humildade. Quando podia pô-los «deste tamanhinho», deu a outra face, com a simplicidade de um «não vim para ensinar» e de «não sou pior nem melhor do que ninguém».
Se em campo mostrou ser tacticamente mais sagaz, fora dele adoptou com perspicácia a estratégia de abdicar da fanfarronice que o tramou durante épocas a fio.
Subitamente, lá fora, Jorge Jesus mostra ter inteligência emocional até para saber cair em graça. É como se, de repente, aos 65 anos, ele tivesse descoberto a sábia vantagem de saber rir por último.
No fundo, no meio desta epopeia, a grande piada é bem capaz de ser essa."

O castigo de Bernardo Silva e o triunfo dos puritanos (alguém se lembra do tempo em que fomos todos “Charlie”?)

"No início de 2015, uma parte significativa da equipa do "Charlie Hebdo" foi brutalmente assassinada por dois terroristas, que invadiram a redacção do jornal satírico em Paris de metralhadoras em punho. Embora representasse em concreto, na altura, a chegada em força à Europa do terrorismo promovido pelo Estado Islâmico, o ataque foi particularmente chocante por ter por alvo não os inimigos do Islão, de modo geral e indiscriminado, mas um dos pilares do mundo ocidental moderno, a liberdade de expressão: o atentado, que vitimou mortalmente 12 pessoas, visava desforrar as satirazinhas a que os desenhadores do "Charlie Hebdo" amiúde se dedicavam. Por solidariedade, fomos todos "Charlie" durante algum tempo. Até que, passado o choque, alguns desses Carlinhos – uma minoria, é certo – começaram a pensar: e se, em vez de andarem a pintar satiricamente aqueles maomés, os desenhadores tivessem ficado quietinhos, não teria sido melhor? Como o mundo, em 2015, ainda era suficientemente sensato, logo os inteligentes fizeram notar a estes mesmos Carlinhos que maomés pintados são como as minissaias: quem os pinta ou quem as veste não está a pedi-las.
Menos de 5 anos volvidos, o mundo mudou. Em alguma altura a inteligência que então prevaleceu há-de ter metido folga, pois aquilo que à data era inegociável, mesmo perante a ameaça terrorista, é agora reprovável. Por ter colocado uma fotografia de Benjamin Mendy ao lado de um boneco de uma conhecida marca de chocolates, sugerindo a comparação, Bernardo Silva foi acusado de conduta racista e acabou mesmo por ser castigado pela Federação Inglesa de Futebol. O teor do castigo (um jogo de suspensão, uma multa pecuniária e a frequência de sessões educativas sobre racismo) é aqui o que menos interessa. Igualmente desinteressante, a meu ver, é o argumento da amizade, à luz do qual ninguém tem nada a ver com o assunto pois Bernardo e Mendy são amigos e Mendy não se ofendeu com a brincadeira. O argumento não é falso, mas é insuficiente, até porque em causa não estava apenas o quão lesado Mendy se teria sentido. A acusação é mais ampla; é a de que, ao comparar um negro, amigo ou não, a um boneco de cor castanha, de traços exageradamente infantis, Bernardo terá contribuído para perpetuar estereótipos historicamente lesivos para os negros. E isso, argumentam correctamente os acusadores, diz respeito a toda a sociedade.
Ora, é aqui que reside o problema. As palavras e as imagens têm conotações, e há com certeza quem seja complacente com tais conotações quando as emprega. Mas assumir que todos os que as empregam de algum modo exercem essa complacência, e que só não recupera a conotação de tais palavras e tais imagens quem as evita de todo, é só estúpido. Um cego que pergunte a um coxo ‘Como é que tem andado?’ não tem necessariamente de estar a ser insultuoso. Assim como não é necessariamente insultuoso que o coxo replique dizendo ‘Olhe, como vê!’. Há qualquer coisa de particularmente estúpido em pessoas que evitam o verbo ‘andar’ ao falar com coxos e o verbo ‘ver’ ao falar com cegos. E, já agora, em pessoas que evitam a palavra ‘bicha’ para designar um grupo de pessoas em fila indiana à espera de serem atendidas numa qualquer repartição de finanças.
A famosa distinção filosófica entre uso e menção é aqui especialmente útil. Por vezes, quando damos representação verbal ou pictórica a uma ideia, não estamos a fazer uso pleno da ideia, mas apenas a mencioná-la. É o que acontece quando citamos outra pessoa, quando somos irónicos ou quando elaboramos uma piada, por exemplo. Em qualquer desses casos, os barulhos que proferimos não nos comprometem com o que quer que possam conotar. Devia haver uma fábrica que imprimisse e distribuísse pelos cidadãos pequenas réplicas do famoso quadro do cachimbo de Magritte (onde se lê ‘Ceci n’est pas une pipe’), para que pudéssemos todos admoestar, como fazem os árbitros àqueles jogadores que protestam por tudo e por nada, quem quer se ofendesse com citações, ironias e piadas. Sempre que alguém se insurgisse contra romances onde a palavra ‘nigger’ aparecesse citada (há actualmente edições d’As Aventuras de Huckleberry Finn nas quais todas as ocorrências da palavra originalmente escrita por Mark Twain foram substituídas pelo termo ‘slave’), ou contra uma dupla de guionistas de uma série de humor na qual um grupo de oficiais nazis presenteasse os prisioneiros judeus no campo de concentração de Birkenau com papel higiénico de folha dupla, ou ainda contra quem quer que dê em gracejar sobre um qualquer assunto, assim cometendo o descuido de achar que a liberdade de expressão lhe permite exprimir-se livremente, poderíamos então fazer notar, de Magritte em punho, que nenhum destes três tipos de cachimbo é, de facto, um cachimbo.
Citar palavras de cunho racista, ironizar acerca da desumanidade dos oficiais nazis nos campos de concentração ou, de modo geral, ensaiar um gracejo não constitui nunca, nem logicamente pode constituir, uma ofensa. Assim é, justamente, porque citar, ironizar ou gracejar são dispositivos retóricos no decurso dos quais quem cita, ironiza ou graceja não fala necessariamente por si. O que as personagens de Mark Twain dizem num romance de Mark Twain não corresponde necessariamente ao que Mark Twain pensa. A ironia dos oficiais nazis em Birkenau não corresponde ao que os guionistas da série de humor onde isso se dá pensam acerca de judeus, assim como ideia de que o problema da fome na Irlanda se resolveria se os pobres vendessem os filhos aos ricos para estes os comerem, assim aliviando os problemas económicos de uns e os problemas de nutrição de outros, não rotula de imediato Jonhathan Swift, que a defendeu famosamente num tratado satírico chamado A Modest Proposal, de insensível, classista ou canibal. E não, aproveitar-se de representações estereotipadas de pretitos, voluntária ou involuntariamente, para fazer uma piada acerca de outra pessoa, seja ela um amigo próximo que compreenda a piada e se ria com ela, seja antes um desconhecido que a não tolere, não diz rigorosamente nada acerca do carácter de quem o faz nem de modo algum informa acerca do alegado racismo, voluntário ou involuntário, dessa pessoa.
Para os mais desatentos, mas sobretudo para os que seguram já o fósforo na mão, a palavra ‘pretito’ utilizada acima foi especialmente escolhida para mostrar que o desaforo de proferi-la (note-se aliás que o desaforo está tanto na rejeição do eufemismo que outra palavra garantiria como na condescendência do diminutivo) não compromete quem a profere com nada. O corolário desta tese é o seguinte: não há piadas racistas. Nenhuma piada pode algum dia constituir um acto racista pelo simples facto de que uma piada não é um acto. Há piadas que se servem de ideias racistas ou que dão expressão a estereótipos racistas, mas isso não constitui em si mesmo um exercício de racismo. Tal como cachimbo de Magritte parece um cachimbo, mas não é, tais piadas parecem racismo, mas não são. Não quer isto dizer que os racistas que fazem piadas de teor racista não devam ser punidos pelo seu racismo; o que não podem é ser punidos pelas suas piadas. Se decerto são racistas, não o são pelas piadas que fazem, mas pelos actos que cometem.
A qualquer enunciado, verbal ou pictórico, subjaz uma intenção. E é essa intenção que determina o valor do enunciado. Quando se procura fazer uma piada, a intenção de fazê-la sobrepõe-se a qualquer outra coisa. Imaginemos que alguém está a cortar uma tábua com uma serra. Ao fazê-lo, essa pessoa não só está a cortar a tábua como está a fazer barulho e a produzir serradura ao cortá-la. É possível que essa pessoa tenha a intenção de fazer barulho ou de produzir serradura, e que a acção de cortar a tábua seja subsidiária de qualquer uma das outras acções. Mas, se aceitarmos que a intenção da pessoa é cortar a tábua, de que o barulho e a serradura são consequências inevitáveis, não podemos responder à pergunta ‘O que é que a pessoa está a fazer?’ dizendo que ‘está a fazer barulho’ ou que ‘está a produzir serradura’. O eventual racismo de uma piada como aquela que Bernardo Silva fez é aqui como o barulho ou a serradura: se a aceitarmos como piada, não podemos aceitá-la como racismo.
Há evidentemente quem se incomode com barulho e com serradura; o que acho difícil é que haja bases legais para proibir uma pessoa de cortar tábuas, a menos que o faça fora de horas ou em propriedade alheia. O mesmo se passa com uma piada: é natural que haja quem fique incomodado com ela; o que me parece absurdo é que esse incómodo se possa sobrepor legalmente à liberdade de expressão de quem a faz. O mundo é frequentemente um lugar incómodo. Quando um galo nos acorda de madrugada ou quando apanhamos uma chuvada, não gostamos. Mas isso não nos leva a querer a proibição dos galos ou a sanção das chuvas. A vida em sociedade funciona da mesma maneira: haver quem nos incomode com os barulhos que faz ou com a serradura que produz ao cortar tábuas ou quem nos incomode com as piadas que conta não é razão suficiente para que possamos proibi-los de cortar tábuas ou de contar piadas. A menos que essas pessoas nos decidam atirar com as tábuas que acabaram de cortar, incomodarmo-nos com pessoas a cortar tábuas não é coisa que nos aleije. O mesmo se passa com as piadas. Por mais violentas ou ofensivas que possam ser, arremessar piadas não aleija tanto como arremessar calhaus. Não é por acaso que as democracias pugnam pela liberdade de expressão, mas não pela liberdade de lapidação.
O argumento de que a piada, tendo sido feita em espaço público (por uma figura pública, numa conta de uma rede social pública), diz respeito à sociedade em geral e não apenas à esfera privada do autor e do amigo a quem se dirigia faz sentido. Mas o carácter público dessa piada não invalida que se trate apenas de uma piada. A liberdade de expressão, enquanto conceito, não tem aliás qualquer utilidade na esfera privada. Ela existe justamente para garantir que possamos exprimir-nos livremente em público. A piada de Bernardo Silva é pública, é verdade, mas é uma piada. A todos os que não compreendem isto é preciso gritar ‘Isto não é um cachimbo, pá!’.
A decisão da Federação Inglesa – é preciso dizê-lo com frontalidade – é profundamente política. Não têm sido raros os casos de marcas que, perante uma reacção pública adversa e a perspectiva de uma onda de indignação generalizada que afecte as vendas do produto que comercializam, decidem retirar do espaço público certas campanhas publicitárias mais controversas. À decisão comercial subjaz, em todos esses casos, uma posição política. Dado que o interesse maior dessas marcas é a prosperidade do negócio, a posição política adoptada é naturalmente aquela que considerarem menos susceptível de prejudicar tal prosperidade. Retiram campanhas publicitárias, e pedem desculpas por elas, para não hostilizarem os consumidores dos seus produtos. A velha lei de que até a má publicidade é publicidade deixou de se aplicar. Num mundo globalizado, no qual as ondas de indignação se propagam mais rápido do que nunca e chegam facilmente a todos os cantos do planeta, ser o mais politicamente correcto possível é hoje em dia entendido como uma estratégia competitiva sensata. 
Ora, a mesma lógica comercial presidiu à decisão da Federação Inglesa. Com receio de que o produto que vende perdesse interesse se não se associasse às causas do momento, o órgão tutelar do futebol em Inglaterra decidiu assim assumir a posição política mais conveniente. Quer isto dizer que a preocupação não foi com Mendy, nem com aqueles que verdadeiramente são vítimas de racismo. Bernardo Silva não foi castigado para alertar para o flagelo do racismo; foi castigado porque era do interesse da Federação Inglesa mostrar aos homens e mulheres da classe média por esse mundo fora que consomem o produto que comercializam, e aos patrocinadores de que também depende e que de igual modo receiam a hostilização dos consumidores, que o futebol inglês está do lado certo na luta contra as forças do mal. Ao aderir à mais puritana das preocupações hodiernas, a de não magoar a susceptibilidade daqueles aleijadinhos a quem uma piada traumatiza para a vida, a Federação Inglesa pensava menos em contribuir para a delicadeza entre os povos ou em educar para a virtude do que em acautelar o bem-estar ao consumidor médio em quem a retórica puritana toca na alma e às elites engravatadas que lhe entulham os bolsos e a vaidade.
Não se tratou, pois, de um castigo, mas de uma campanha de marketing. Mas a hipocrisia não fica por aqui. É preciso notar que a Federação Inglesa costuma ser hostil a toda e qualquer manifestação política de jogadores ou treinadores (recorde-se, por exemplo, que Guardiola foi punido por usar uma fita amarela em protesto contra a situação da Catalunha). Ao posicionar-se agora politicamente, usando aliás a posição política com uma finalidade comercial, é a Federação Inglesa, enquanto entidade com personalidade jurídica, quem afinal mais prevarica neste caso. Se alguém merecia castigo, era ela. Até porque, recuperando agora as reacções ao atentado terrorista na redacção do "Charlie Hebdo" em 2015, o que a Federação Inglesa acaba por sugerir indirectamente é que, ao pintarem aqueles maomés, aqueles desenhadores estavam de facto a pedi-las. Eis pois, no esplendor de uma decisão censória, o triunfo tão esperado do terrorismo."

Cedência de Jogadores para as selecções Nacionais

"Em semana de jogos das selecções nacionais vamos revisitar algumas das disposições constantes dos Regulamentos da FIFA nesta matéria, mais especificamente o 'Regulamento do Estatuto e Transferência do Jogador', que no seu anexo 1 regula a cedência de jogadores pelos clubes às selecções nacionais.
Em primeiro lugar há a destacar que existe uma clara distinção entre os princípios que, nesta matéria, norteiam o futebol masculino (art.º 1.º), o futebol feminino (art.º 1.º Bis) e o futsal (art.º 1.º Ter). Sendo que há algo comum a todos eles: todos os jogadores são obrigados a “irem” à selecção do país de que são nacionais quando convocados, sendo proibido todo e qualquer contrato mediante o qual um jogador acorde com o clube que renunciar à sua selecção.
O que os diferencia prende-se sobretudo com os diferentes calendários dos jogos e competições internacionais de cada um, bem como os prazos de regresso dos jogadores aos seus clubes para retomar a sua actividade.
Outro dos aspectos que é comum aos três regimes, prende-se com as temáticas financeiras e dos seguros (art.º 2.º), nos termos do qual os clubes cedentes nada recebem por ceder jogadores à selecções nacionais, com excepção nas fases finais das competições. Suportando as federações os custos de deslocação e alojamento que advierem da convocatória. Quanto aos seguros de acidentes de trabalho, serão utilizados os contratados pelos clubes que os jogadores representam, por incluírem os jogos da selecção no seu âmbito de protecção. Sendo que em caso de lesão grave que obrigue a uma paragem prolongada de um jogador, a FIFA indemnizará o clube nos termos do “Club Protection Programme”.
No que toca à convocatória dos jogadores propriamente dita (art.º 3.º), a respectiva federação deve notificar o clube e o jogador com uma antecedência de 15 dias face ao primeiro dia da convocatória/dia da concentração. Sendo, também, aconselhável fazê-lo à federação à qual pertence o clube onde o jogador joga, caso não seja a mesma da selecção nacional. Neste tipo de situações a FIFA pode intervir, caso a federação onde se encontra filiado o clube cedente, não tenha conseguido a libertação do jogador convocado para a selecção nacional e a intervenção da FIFA tenha sido requerida com cinco dias de antecedência face ao jogo para o qual foi convocado.
No que toca aos jogadores convocados que se encontrem lesionados, a federação (art.º 4.º) pode requerer ao jogador que o mesmo seja observado pelo departamento médico da selecção nacional, podendo tal exame ocorrer no pais onde actua.
Por fim, durante o período em que o jogador está convocado para a selecção nacional acrescido de mais cinco dias, o jogador não pode ser utilizado pelo clube, a não ser que tal tenha sido autorizada pela respectiva federação de que é nacional o jogador (art.º 5.º), sendo que qualquer violação às matérias anteriormente expostas, serão alvo de sanções pelo Comité Disciplinar da FIFA e nos termos do Código Disciplinar da mesma entidade (art.º 6.º)."

Cadomblé do Vata (Bola vs. Dinheiro!)

"É facto reconhecido por quem gosta de bola, que em Portugal não se joga nada. Mais, os dois candidatos ao título, que por clara vantagem orçamental e individual deviam demonstrar um pouco mais de apega à qualidade de jogo, vão ganhando jogos sem qualquer ponta de brilhantismo, distribuindo nos jogos sal e pimenta em doses q.b., deixando ao 5º classificado o rótulo de "equipa que melhor futebol pratica cá no burgo". Mas será que a parca nota artística do grande e do Gigante do futebol português é caso único na Europa? Vejamos então...
Em terras de Nuestros Hermanos, malgrado o infindável investimento de Verão, o Atlético de Madrid é o maior soporífero do futebol mundial. Há até psiquiatras que desaconselham o visionamento de jogos colchoneros na cozinha, por excessiva proximidade com facas. O Barcelona lidera a La Liga agarrado a uma das duas anormalidades genéticas que vão maravilhando o futebol actual, o que não o impede de ter averbado já 3 derrotas. O Real Madrid segue na peugada dos catalães, meio sem saber nem como nem porquê, com um futebol que apenas entusiasma os rivais.
Saltando para Itália, tentando emular os gloriosos tempos do enfadonho catenaccio e agarrado à outra anomalia genética da bola, vai liderando a Juventus treinada por um adepto do Nápoles, com 7 vitórias pela margem mínima em 12 jogos. Segue-se um Inter comandado por um adepto da Juventus que só não sofreu golos em 4 jogos, andando o Nápoles liderado por um adepto do AC Milan em 7º e o AC Milan que já nem candidato é, em 14º comandado por um adepto do Inter.
Nos restantes campeonatos do Big Six, o crónico campeão alemão roubou mais uns quantos jogadores aos rivais mas descontente com o actual 3º lugar atrás do adversário do SL Benfica na Champions, já despediu Kovac e o Borussia Dortmund parece já não contar para o Totobola desta temporada, deixando ao outro Borussia (o dos Mossos Lá Debaixo) a liderança destacada da Bundesliga. Por terras gaulesas, o mega bilionário PSG já soma 3 derrotas em 13 jogos, deixando no entanto a 8 pontos o 2º classificado que é o Marselha com apenas 6 vitórias.
Resta assim que sem surpresas, só na Premier League há futebol de esbugalhar olhos, com Liverpool a distribuir espectáculo todos os fins de semana, numa tarefa em que já nem o Man. City o vai acolitando, deixando ao "Láixastér" tal pergaminho. Valha-nos ao menos que em Terras de Sua Majestade as amarras tácticas ainda são atadas a nó simples e a desinibição grassa nas mentes das equipas mais fracas, que "cagando de alto" para os golos que vão sofrendo, continuam a trabalhar forte e feio para que o circo não pare durante 90 minutos.
O dinheiro que jorra no futebol, deixou os campeonatos divididos em classe muito alta e classe muito baixa, num fosso que não pára de crescer. Os atletas dos grandes parecem ter dificuldades de motivação quando defrontam os rivais debaixo da tabela nacional e os grandes jogos ficam reservados para a Liga dos Campeões. Todos os dias se dão passos em direcção à Superliga Europeia, onde Benfica e FC Porto se vão esforçando por entrar... talvez sedentos de 10 ou 15 anos a fazer figura de Desportivo das Aves."

Regresso das competições

"Assegurada que está a qualificação directa de Portugal para o Campeonato da Europa a realizar no próximo ano (com Pizzi, autor de um golo, e Rúben Dias no onze titular em ambos os jogos) e obtida mais uma vitória na qualificação para o Europeu de Sub-21 que acontecerá em 2021 (Tomás Tavares, Florentino e Jota alinharam de início e os últimos dois marcaram), regressam agora as competições de clubes, com o primeiro de oito jogos, em 30 dias, da nossa equipa, agendado para o próximo sábado, dia 23, às 20h45.
O adversário será o Vizela, líder isolado da Série A do Campeonato de Portugal com nove vitórias, um empate e uma derrota em onze jornadas, numa partida a contar para a quarta eliminatória da Taça de Portugal e num campo que o Benfica nunca visitou (o jogo de 1984 foi disputado no estádio do V. Guimarães). Não surpreende, portanto, o interesse que o jogo está a despertar entre os muitos benfiquistas residentes na cidade minhota, situada numa região em que a forte implantação do benfiquismo é sobejamente conhecida.
Após a deslocação a Vizela, será a vez de Leipzig, onde a nossa equipa disputará a quinta jornada da fase de grupos da Liga dos Campeões. Seguir-se-ão a recepção ao Marítimo para o Campeonato Nacional (dia 30, às 18 horas) e, já em dezembro, mais duas deslocações: Covilhã (dia 3, às 20h15, para a Taça da Liga) e Boavista (dia 6, às 20h30, para a Liga NOS. Zenit, dia 10, Famalicão, dia 15, e V. Setúbal, dia 21, completarão o ciclo de oito partidas.
Note-se que os próximos quatro jogos serão relativos, cada um, a competições diferentes, nas quais o Benfica mantém intactas as suas aspirações. Depois de vencermos brilhantemente a Supertaça, lideramos isoladamente a Liga NOS com dez vitórias ao fim de onze jornadas, mantemo-nos em prova na Taça de Portugal e Taça da Liga, e continuamos a procuraremos passar para fase seguinte da Champions.
Registe-se ainda o facto de que jogaremos na Luz apenas uma vez nos próximos cinco jogos, levando-nos, por isso, a apelar aos benfiquistas para que mantenham os níveis de apoio, em qualidade e quantidade, à nossa equipa, a começar já em Vizela e em Leipzig. #PeloBenfica

P.S. A nossa equipa de basquetebol garantiu ontem, na penúltima jornada da fase de grupos, o apuramento para a segunda fase de grupos da FIBA Europe Cup. Hoje, às 20 horas, na Luz, será a vez de a nossa equipa de voleibol entrar em campo para disputar a primeira mão da terceira e última pré-eliminatória de acesso à fase de grupos da Liga dos Campeões. Trata-se de mais uma excelente oportunidade para apoiar o nosso Benfica!"

Qualificação garantida...

Benfica 85 - 66 PVSK-Veolia
19-6, 20-17, 34-23, 12-20

Vitória esperada, apesar da ausência do Micah (e ainda sem o Ireland)... mas com o regresso do Hollis, e com a boa forma dos Tugas, que têm aproveitado os minutos extra, devido às lesões dos companheiros, com bons registos...
O resultado acaba por ser 'enganador', porque deixamos de jogar no último período, senão a diferença teria sido muito maior!!!
Na última jornada, iremos decidir se ficamos em 1.º, ou em 2.º lugar...

Benfiquistas pelo mundo: de Portugal à Argentina

"O Sport Lisboa e Benfica, como já é habitual, tem uma longa lista de jogadores que estão contratualizados com o clube, mas que estão ao serviço de outros emblemas. Sem espaço no plantel, estes jogadores são emprestados para que possam ter mais oportunidades e para evoluírem as suas capacidades. Mas, como estão a correr as temporadas destes atletas?
Bruno Varela não se está a dar bem na “terra das tulipas”. Actualmente ao serviço do AFC Ajax, o guarda-redes de 25 anos ainda não soma qualquer minuto de jogo na presente época. No clube holandês, Varela está “tapado” pela jovem promessa Andre Onana, que é totalista na baliza do Ajax. Sem oportunidades, Bruno Varela deverá voltar ao SL Benfica, pois os holandeses não deverão activar a opção de compra estabelecida nos três milhões de euros.
Lisandro López está ao serviço do Boca Juniors desde Janeiro e já disputou 24 partidas pelo clube argentino. Confirmando a alcunha de central goleador, o jogador já apontou quatro golos e fez uma assistência. O Boca Juniors tem opção de compra sobre o argentino e deverá exercer a mesma, uma vez que as boas exibições têm convencido o clube “xeneize”.
Cristian Lema – que esta temporada está ao serviço do Club Atlético Newell’s Old Boys por empréstimo dos encarnados – conta com dez jogos disputados e já facturou por três vezes. O central de 29 anos está a realizar uma temporada interessante, mas não deverá ser suficiente para se tornar indispensável para o SL Benfica.
O jovem Pedro Pereira é outro dos emprestados dos encarnados nesta temporada. Actua pelo Bristol City, da segunda divisão inglesa. Com dez jogos realizados e um golo marcado, o jovem defesa direito não entra, para já, nos planos das águias, embora esteja a realizar uma boa temporada.
Alfa Semedo conseguiu chegar ao plantel do Sport Lisboa e Benfica, onde realizou dezasseis jogos, mas não se conseguiu afirmar. Após uma passagem, também por empréstimo, pelo Espanyol, o jovem médio foi emprestado, nesta temporada, ao Notthingam Forest. Ao serviço do emblema britânico, Alfa já disputou nove jogos e apontou um tento. Será desta que volta a ser opção para a equipa principal do Benfica?
O médio Filip Krovinovic está emprestado ao West Bromwich Albion e o bom rendimento no Championship está a convencer o clube inglês. O jogador de 24 anos até já se tinha consolidado de águia ao peito, mas uma lesão grave afastou-o dos relvados por bastante tempo. Quando regressou, não era o mesmo, o plantel não era o mesmo e o seu lugar estava ocupado. Assim, a solução foi emprestar o croata ao West Bromwich Albion para ganhar ritmo de jogo, para voltar ao que era. Nesta temporada já disputou nove partidas e fez duas assistências para golo.
O português Diogo Gonçalves, actualmente ao serviço do Famalicão, é mais um dos atletas contratualizados ao Benfica que se encontra emprestado. Pela equipa surpresa da primeira liga portuguesa, o jovem extremo já realizou nove partidas e fez uma assistência. Regressará aos encarnados em Junho do próximo ano, certamente, com o intuito de recuperar o lugar que outrora ocupou no plantel encarnado.
Os avançados Jhonder Cádiz e Oscar Benítez estão emprestados ao FCO Dijon e Atlético de San Luís, respectivamente. Ambos os jogadores têm tido épocas discretas nos clubes que representam. Cádiz participou, até agora, em seis jogos e apontou apenas um golo (ao PSG), enquanto Oscar Benítez tem um registo mais abonatório, ao já ter disputado 24 partidas desde Janeiro passado, tendo marcado um golo e assistido para outro.
Por último, temos a situação de Facundo Ferreyra, que actualmente representa o Espanyol. O argentino já disputou 15 jogos na presente temporada, tendo feito uma assistência e sete golos, em todas as competições. O Espanyol pode activar a opção de compra que está estabelecida nos oito milhões de euros e adquirir os serviços do jogador em definitivo.
Assim, são vários os jogadores que o Sport Lisboa e Benfica tem emprestados por várias equipas. Uns estão a obter mais sucesso que outros nos seus clubes adoptivos e pretendem, certamente, chamar a atenção do clube encarnado."

Em defesa de um “Estatuto do Adepto”

"Numa semana normal do calendário futebolístico, milhões e milhões de europeus assistem aos jogos dos principais campeonatos.
Este facto é só por si revelador do fenómeno social e cultural que o futebol representa no velho continente. As vitórias ou derrotas dos clubes são vividos por muitos adeptos como seus, gerando um vínculo “para a vida” e que muitas vezes se transmite de geração em geração.
Portugal não é excepção: o futebol é, para bem ou para mal, um elemento central da nossa sociedade, com um imenso significado para a identidade nacional (como foi bem visível nas celebrações da conquista do Campeonato Europeu). A par deste carácter social e cultura do futebol há uma vertente puramente económica. Na verdade, no início do século XXI, o futebol passou a ser visto como um grande negócio e os adeptos como consumidores. O futebol tornou-se então no mercado que nós conhecemos: um mercado não só de jogadores, mas sobretudo de publicidade, direitos de transmissão, bilhética, etc.
Ora este “futebol moderno” como nós o conhecemos atravessa nos dias de hoje, em Portugal, uma séria crise provocada, também, por diversos factores externos: a violência e a falta de segurança nos recintos desportivos, a corrupção e o clima de suspeição, a interferência dos política no futebol para sua auto-promoção, o empobrecimento da população, entre outros.
Muitas tentativas de reformar o nosso futebol têm vindo a ser feitas ao longo dos últimos anos. Enfim, tem-se procurado encher os nossos estádios estão vazios, tornar a nossa liga competitiva, etc. 
Na minha modesta opinião, a discussão tem de passar, também e sobretudo, em torno da figura do “adepto”. E não estou a falar nos grupos organizados de adeptos. Refiro-me aos adeptos “comuns” que compram o seu bilhete ou um lugar anual para assistir e apreciar jogos de futebol. São os adeptos que formam o substrato humano dos clubes e sem eles não há futebol. É simples e parece óbvio. Os adeptos deveriam ser o centro de todas as preocupações de quem gere o nosso futebol.
Vemos com frequência o legislador a criar cada vez mais leis sobre todos os meandros do futebol, todavia no meio dessa “teia legislativa” não encontramos um diploma sólido e conciso que confira uma protecção jurídica adequada e condigna aos adeptos e que lhes permita conhecer os seus direitos e deveres. E à semelhança do Instituto Nacional de Defesa do Consumidor, deveria existir um organismo nacional de defesa do adepto.
É que ser adepto não pode significar apenas o dever de comprar o bilhete pelo preço que lhes é imposto para entrar no estádio e sujeitar-se a ser revistado à entrada. Diga-se mesmo que o “ir ao futebol” em Portugal é efectivamente caro e nem tão-pouco tem o retorno merecido tendo em consideração a pouca qualidade da nossa competição.
Mas, ser adepto significa também, por exemplo, saber que na eventualidade de ser vítima de um acidente durante um evento desportivo, tem o direito de ser protegido pelo seguro que o estádio ou o pavilhão estão obrigados a ter.
Ora a criação legislativa de um “Estatuto de Defesa do Adepto” visaria sobretudo tornar os adeptos titulares de um conjunto de direitos de forma a que possam reivindicá-los pela via jurídica junto das federações, associações e clubes.
E estes Estatuto não pode limitar-se apenas a conferir aos adeptos melhores condições de segurança nos estádios ou preços de bilhética mais justos e acessíveis. Pode e deve introduzir uma maior transparência na forma como o futebol, e o desporto em geral, é conduzido no nosso país, na medida em que deveria permitir aos adeptos obter maior informação sobre os contornos contratuais das transacções dos jogadores, relatórios de arbitragem, etc.
Urge pois dignificar de uma vez por todas a figura do adepto e deixar de o tratar como um mero instrumento de consumo do “produto futebol”."