sexta-feira, 25 de outubro de 2019

O (mau) exemplo

"Não é preciso ir muito longe para vermos um clube de pantanas. Basta atravessar a 2.ª Circular.
As razões para o momento por que passa o nosso vizinho e rival são muitas, e não nos dizem respeito. Mas temos o dever de aprender com o que vemos, e um dos dados a reter é o poder desmesurado que alguns presidentes do Sporting (e não apenas um) conferiram a uma pequena facção radical com mais músculo do que cérebro.
Tenho para mim que as claques são o grande cancro do clube de Alvalade.
Enchem e desestabilizam assembleias-gerais, invadem centros de estágio, impedem treinadores de tornar posse, agridem membros de órgãos sociais, enfim, destroem o clube em razão dos privilégios de que se julgam credores - os quais vão muito para além daquilo que é a pura paixão clubista.
Na nossa casa também existe uma pequena minoria barulhenta, que se faz notar em assembleias-gerais e, sobretudo, no espaço virtual - sendo que aí a mensagem surge amplificada pela utilização de perfis falsos e multiplicados sabe-se lá por quem. Julgam-se donos do Benfica e mais benfiquistas do que os outros, ignorando que o clube é composto por cerca de 230 mil sócios espalhados pelo país pelo mundo, e não por 30 ou 40 jovens imaturos dos arredores de Lisboa.
Até agora, as vitórias e os títulos têm ajudado a conter essas movimentações autodestrutivas. Devemos, porém, estar preparados para o dia em que, por qualquer motivo, dentro de campo a bola bater na trave. Caberá então à imensa maioria dos sócios do Benfica, com maturidade, memória e gratidão, defender o Clube dos maus caminhos que outros tão bem exemplificam."

Luís Fialho, in O Benfica

Um exemplo

"Numa hora de euforia por mais uma vitória na Liga dos Campeões que nos faz sonhar de novo, permitam-me dedicar este triunfo a um homem muito especial - João Sequeira Andrade. Com 91 anos, partiu, deixando um enorme legado. Conheci-o por causa do nosso jornal e jamais esquecerei os seus conselhos sempre lúcidos. Sequeira Andrade respirava Sport Lisboa e Benfica por todos os poros. Aprendi muito com ele e confesso que nas horas mais difíceis o João conseguia apresentar sempre um ar de confiança e entendia que as dificuldades ajudavam-nos a crescer.
Porquê? Porque ele amava o clube do seu coração como poucos. O seu percurso de vida fala por si e a sua dedicação ao SL Benfica fica como um exemplo para todos nós. Sequeira Andrade completaria, no próximo ano, 75 anos de associado do Glorioso e iria receber o tão merecido Anel de Platina. Proposto para sócio por Joaquim Rosales, Sequeira Andrade foi aprovado como associado em Agosto de 1945, com 17 anos de idade. O Atletismo era uma das suas paixões e tornou-se um verdadeiro expert desta modalidade ao ponto de ter exercido funções de grande responsabilidade no Conselho Técnico da Associação de Atletismo de Lisboa e na Federação Portuguesa de Atletismo. Tal como desempenhou funções na Federação Portuguesa de Andebol. No SL Benfica foi secretário da Comissão Central de Fomento e Propaganda, mas seria na direcção do jornal O Benfica que mais se destacou aos olhos dos benfiquistas. Durante mais de dois anos desempenhou-o com muita competência, dedicação e inteligência. À sua família e aos seus amigos, os meus sentidos votos de pesar."

Pedro Guerra, in O Benfica

Um cartão positivo

"O cartão branco, lançado pelo IPDJ para as competições no âmbito da formação em diversas modalidades, tem vindo a crescer em implantação e uso. A ideia é simples e muito funcional: consiste em premiar atitudes excepcionais de fair play por parte de atletas, técnicos, dirigentes e até públicos. Esta valorização positiva e reconhecimento por todos os intervenientes ajuda a criar uma pressão social positiva em torno dos atletas que muito contribui para a sua formação integral. É por isso que o desporto escolar é um grande dinamizador desta iniciativa do PNED - Plano Nacional de Ética no Desporto, levando a ideia de forma activa pelas escolas de todo o país. A Fundação Benfica reconhece a importância estratégica do trabalho educativo e sabe que é por aí o caminho a seguir. Por isso, também, resolveu atribuir um prémio anual à escola cujas equipas vejam exibidos mais cartões brancos em competições do desporto escolar como forma de valorizar o fair play e incentivar as atitudes positivas, individuais e colectivas, no desporto. Desta vez, descemos até ao Algarve, a Vila Real de Santo António, onde o trabalho e o projecto educativo exemplares do Agrupamento de Escolas constrói, dia após dia, uma comunidade escolar ao mesmo tempo ética e competitividade, valorizando o resultado e a atitude, como deve ser no verdadeiro desporto. O kit de material desportivo foi muito apreciado, seja pela sua variedade e dimensão, seja, sobretudo, pelo reconhecimento dos seus méritos por uma instituição tão vasta e prestigiada como o Sport Lisboa e Benfica pela mão da Fundação.
É de manter e vencer jovens! Assim ganham duas vezes..."

Jorge Miranda, in O Benfica

João Sequeira Andrade (1928-2019)

"Deixou-nos, já muito frágil, com os seus formidáveis noventa e um anos que até ao fim viveu João Sequeira Andrade, sempre com o mesmo singular espírito lúcido e vivo e com a dedicação inteira e profunda ao Sport Lisboa e Benfica. Curvo-me perante a sua memória.
Viveu, por sua conta,, setenta e quatro anos de Benfiquismo puro, até poucas semanas antes de ser consagrado com o Anel de Platina - a insígnia que, para si, depois do que eram agora o seu Cartão de Sócio e o Red Pass sob o n.º 426, talvez viesse a ser o mais título importante da sua vida.
João Sequeira Andrade foi o décimo quinto director do nosso Jornal, e na altura cumpriu irrepreensivelmente a sua missão durante centro e vinte edições consecutivas, entre os números 2609 e 2728, que foram publicados de 14 de Outubro de 1992 - ainda o Presidente Jorge de Brito não tinha chegado a metade do seu único e infeliz mandato - até 21 de Janeiro de 1995, quando Manuel Damásio completava o primeiro ano do primeiro dos seus dois erráticos consulados.
O Jornal oficial do Sport Lisboa e Benfica era então publicado às quartas-feiras; tinha um formato diferente (apenas vinte e quatro páginas, mas sete centímetros mais 'comprido') do que é hoje; já era graficamente composto em computador, embora - característica do tempo - constituísse o único meio regular da comunicação oficial do Clube.
Nessa altura ainda não havia SAD, e muito menos estava então criada a SGPS, que só mais tarde ainda - em Fevereiro de 2001 - viria a assegurar o sagrado principio de que o Clube havia de deter para sempre o controlo da Sociedade para o Futebol... Os tempos era outros e bem mais difíceis do que são hoje.
É nessa fase conturbada e desportivamente nada fértil que o experiente jornalista Sequeira Andrade se vê obrigado, pela sua consciência, a aceitar a missão de dirigir o Jornal O Benfica, no seguimento dos serenos mandatos dos seus antecessores directos, José Respício (117 edições) e António Ramos Gomes (interino, 3 números).
Em face do que se passava no universo do Clube e sem grandes motivos para manter olimpicamente o registo sempre elogioso do Jornalismo do semanário, propõe uma decisiva alteração estratégica do modelo: João Sequeira Andrade leva a que a Redacção do Jornal se passe a concentrar de modo prioritário na descrição mais objectiva e enxuta dos jogos, das equipas, dos jogadores e atletas (ah, o seu Atletismo!...), privilegiando a sobriedade descritiva de desempenhos, perfis e resultados dos conjuntos e protagonistas, em detrimento do tom meramente eloquente e predicatório das narrativas dos repórteres e dos espaços de opinião, até então sempre usuais nos textos das primeiras cinco décadas do nosso Jornal. Naquela época tão difícil e incaracterística do Glorioso, essa sábia e hábil intervenção que, com a sua experiência, Sequeira Andrade inculcou na Redacção revelar-se-ia oportuna e decisiva para resgatar o essencial desempenho informativo do Jornal O Benfica e a sua recredibilização junto dos leitores. E, ao assegurar definitivamente um novo registo de rigor quanto aos factos e dados jornalísticos, Sequeira Andrade talvez não imaginasse quão determinante essa sua 'marca de água' viria a tornar-se, relativamente às futuras aventuras do Centro de Documentação e Informação e do próprio Museu Benfica - Cosme Damião, no Grande Benfica do séc. XXI."

José Nuno Martins, in O Benfica

A realidade para lá das vitórias

"A melhor notícia da ronda europeia foi o salto dado por Portugal, no ranking da UEFA, aumentando para mais de um ponto a vantagem sobre a Rússia. Assim, fica mais perto a possibilidade de engrossarmos a contingente na Champions e na Liga Europa, o que representa abrir a válvula da pressão no topo da tabela. Esta boa nova deve ser, porém, complementada com o aprofundamento das conversas quanto à centralização dos direitos televisivos, meio de criar condições para que haja um melhor nível médio no nosso futebol. Porque, apesar dos sucessos de SC Braga (que grande campanha!), Benfica e Sporting (o FC Porto empatou um jogo que podia ter caído para qualquer dos lados e o V. Guimarães não merecia a crueldade por que passou no Emirates), ficou à vista a dificuldade dos nossos clubes em aguentar a intensidade de jogo dos opositores. E isso é algo que se consegue tão mais facilmente, quanto se tenha um bom nível na competitividade interna.
Por razões por demais conhecidas, o jogo de Alvalade concitava atenções generalizadas pelo que podia acontecer dentro e fora do campo. Mais uma vez ficou provado o poder do resultado no futebol. Apesar de ter realizado uma exibição sofrível frente a uma equipa medíocre, o Sporting ganhou e esse facto apaziguou uns e dissuadiu outros, contribuindo para mais uns dias de acalmia no reino do leão. Segue-se o V. Guimarães, e depois o Paços de Ferreira, episódios de uma guerra de nervos em que ninguém quer fazer prisioneiros. Frederico Varandas saiu vencedor do primeiro round, mas a volatilidade do futebol deve impedi-lo de cantar vitória. E permanecer atento..."

José Manuel Delgado, in A Bola

Cadomblé do Vata (Chinesices...!!!)

"1. Domingos Soares Oliveira disse que "o emblema do Benfica está bom para mim, mas não para quem está na China"... ficamos assim a saber, que em relação ao nosso emblema, os chineses são mais exigentes do que os sportinguistas.
2. Aparentemente, o problema do Glorioso emblema é ter muitas cores e não ter o nome do Benfica lá gravado... portanto, nem tudo é mau para o administrador da SAD do SLB, mesmo que e os sócios não aprovem a mudança de emblema, continuamos a ter mercado junto dos chineses daltónicos e analfabetos.
3. A afirmação de DSO levanta questões quanto à capacidade do departamento de marketing do Benfica... estamos a falar de gente que não consegue vender um clube que equipa de vermelho e tem uma águia dourada, num país com bandeira vermelha decorada com estrelas amarelas.
4. Ainda durante o discurso acerca deste tema fracturante, o homem para quem o emblema "está bom", garantiu que esta questão não está em agenda para o próximo ano... com sorte, deixa-se isto para quando ganharmos o 50º título, metemos 5 estrelas amarelas em cima do emblema e ganhamos 1,400 milhões de adeptos sem mexermos no que é Sagrado.
5. Entretanto, ficou-se hoje a saber que a lesão contraída contra o Lyon, vai obrigar a paragem prolongada do Rafa... esta seria uma boa altura para ele ir à China "apresentar o novo emblema" ao preparador físico do Marega."

Estádio da Memória

"No aniversário do Estádio da Luz.
O João lembra-se do céu cinzento, da camisola colorida e do sorriso. O sorriso do seu pai. Não esquece aquele dia, nunca.
- Ainda não nasceu o sol, pai. Não quero sair da cama, por favor, pai.
- Cala-te, vai valer a pena, acredita.
- Mas custa tanto, pai.
- Deixa-te de fitas e vai para o banho.
- OK, pai.
O pai prepara-lhe o pequeno-almoço. Corta a fruta, aquece o leite, prepara os cereais, até esconde um pequeno chocolate no casaco para o filho comer na viagem. Deixa o rádio ligado nas notícias e corre para o quarto para escolher a roupa. Pega numa camisola nova, vermelha e macia, daquelas que se guardam no baú, das memórias. O filho aparece-lhe à frente e sorri. Sorriem ambos. Entram no carro 15 minutos à Benfica depois. Está frio. O carro está frio, a cidade está fria, as palavras são frias.
- Onde vamos, pai?
- É surpresa, mas vais gostar muito.
- OK, pai.
Andam mais de uma hora, talvez duas. A cabeça do João cai várias vezes, mas ele insiste que não está a dormir. O Luís entra no jogo e finge que acredita. Chegam a Benfica antes das sete. Está tudo vazio e sereno, no meio do cinzento-escuro que pinta o céu acaba sendo uma manhã bonita. O João agarra a mão do pai e pergunta «estamos mesmo aqui?»
- Sim, é o teu presente.
- Mas é o teu dia, pai.
- O meu dia só existe porque tu existes.
Sorriem. Andam uns metros e aproximam-se do estádio, que ainda está adormecido. Tentam forçar uma porta e nada. Tentam saltar um portão e o resultado é igual. O Luís não está habituado a derrotas, é defeito de clube, diz. Vê um segurança, sussurra-lhe algo, sorriem.
- Consegue-se tudo na vida com um sorriso, ouviste?
- Sim, pai.
Abre-se uma das portas laterais. Vêem um túnel escuro e uma luz. É a metáfora perfeita. Caminham sorrateiramente e entram numa imagem que o João nunca esquecerá: o estádio da Luz vazio, a relva a reluzir e o sol rasgando o topo nascente. Aperta a mão do pai, recebe um beijo na cabeça, e sorri. Um sorriso abre muitas portas.
É o Sport Sorriso e Benfica."

Bruno Lage e a fórmula Jesus

"Jesus conquistou o Brasil. Vai ser campeão, festa que os adeptos do Flamengo andam a adiar desde 2009, e, sabendo-se que Béla Guttmann nunca orientou o clube de Zico, até tem 50% de possibilidades de ganhar a Taça dos Libertadores, depois de ter liderado, a partir do banco, a noite épica dos 5-0 sobre o Grémio, que rendeu o apuramento para a final da competição.

Para os flamenguistas, Jesus é o Messias. Há muito que não se via um Flamengo assim, tudo é euforia e espanto, quando, há apenas seis meses, a contratação do português mereceu críticas duras. Depressa converteu os cépticos. Porque é competente, rigoroso, apaixonado. E fortíssimo na organização defensiva, o segredo para as suas equipas soltarem tanta genialidade no ataque.
Também tem muitos defeitos, menos um: o de permitir ingerências na hora de escolher o onze. No Flamengo, tem um plantel rico, factor indispensável à missão de ressuscitar o gigante. No Benfica também foi um pouco assim, tendo contado com os plantéis mais caros da história das águias, numa altura em que Luís Filipe Vieira já tinha como estratégia apostar nos talentos gerados na barriga do Seixal. Na diferença de ideias para se chegar ao êxito acabou por residir a verdadeira razão para a saída da Luz.
De 2015 para cá, o Benfica manteve, em campo, um modelo muito próximo daquele que Jesus utilizava. Quando Rui Vitória mudou para 4x3x3, perdeu. Vieira chamou Bruno Lage. O técnico usou os "mandamentos" de Jesus (4x4x2) e a coisa correu melhor, também porque recuperou a experiência e a influência de jogadores como Samaris e Pizzi. Anteontem, na vitória milagrosa da Champions, diante do Lyon, Pizzi começou no banco e Samaris nem se viu. O Benfica fez um jogo pobre, não restando dúvidas que, só com os miúdos do Seixal, há de continuar a somar desempenhos medíocres. Bruno Lage tem, nesta altura, um problema de método e de afirmação para resolver, sendo que ao adoptar a estratégia de Vieira na hora de escolher 11 jogadores estará sempre mais perto de perder. Se partir para a ruptura, ganhará mais vezes. E, quem sabe, terá sempre o seu Brasil."


PS: A sério, o Judas permite ingerências na escolha do onze?!
A sério, o Tino, o Rúben, o Ferro e o Tomás não foram dos melhores jogadores com o Lyon?!

Jorge Jesus, o líder espiritual da maior Nação do Brasil

"A “Nação”, como é apelidada a base de apoio do Flamengo, está rendida a Jorge Jesus, que colocou a equipa brasileira na final da Libertadores, algo que já não acontecia há 38 anos. Aos 65 anos, o treinador português está a deixar uma marca indelével no Brasil

Penso que a minha opinião sobre Jorge Jesus já é conhecida: é um treinador fantástico! As equipas pelas quais passa tendem a personalizar a sua ideia de jogo e a cumprir as directrizes a que são obrigadas quase ao milímetro. Se ele assim o é - fantástico -, é-o porque tem o conhecimento que separa os melhores dos bons: o técnico, ou, se quiserem, o táctico.
Poucos têm mais conhecimento táctico do que o treinador do Flamengo, passe o exagero. E são menos ainda os que conseguem operacionalizar de forma tão fiel o que lhes vai na cabeça. Se o jogo dependesse do treinador, seria tudo muito fácil, mas não; o jogo depende do entendimento e posterior reprodução em campo por parte dos jogadores daquilo que o treinador lhes tenta passar. É isto que Jesus oferece como muito poucos: aprendizagem célere dos processos de jogo.
Por isso nunca concordei quando foram dizendo em Portugal que a Jesus faltam aptidões na comunicação. Não concordo, porque percebo que ele consegue transmitir exactamente o que quer, com maior ou menor dificuldade na linguagem. Os jogadores entendem, a equipa técnica e todo o staff do clube entende, os jornalistas entendem e o público que o ouve e dele faz chacota (pelo mau português) também entende.
Nunca ficam dúvidas do que ele quer, quis, ou quererá dizer; e isso, amigos, é comunicar bem: a mensagem passa. As suas conferências de imprensa, que complementam o comportamento da sua equipa em campo, são fantásticas para quem quer saber mais, para quem quer um conhecimento mais profundo do jogo. Foi assim comigo: como à Lázaro, Jesus despertou-me e comecei a andar. Está a ser assim no Brasil: estão todos espantados e a querer perceber como é que um treinador pouco cotado na Europa, em tão pouco tempo consegue uma vantagem tática tão grande em relação a todos os outros.
Há, obviamente, mais treinadores de qualidade no Brasileirão, mas nenhum deles tem a capacidade de priorizar os conteúdos certos no treino para que, no jogo, a sua equipa apresente, regularmente, os comportamentos do seu modelo de jogo.
Como é também evidente, o Flamengo tem qualidade individual acima dos adversários, mas é sobretudo um futebol bem mais evoluído nos momentos defensivos que o distancia dos rivais. Há grande capacidade na transição ofensiva, nas bolas paradas e o ataque posicional, apesar de não ser o mais brilhante, por força da fragilidade tática dos treinadores no Brasil tem funcionado na maior parte dos jogos.
Jorge Jesus, como treinador de grande nível que é, tem bem definido o que quer, quando quer, e como quer. Para o ataque e para a defesa. Para cada uma das onze posições em campo. Sabe do que quer abdicar, e sabe o que é realmente importante para ele. E, por isso, na hora de escolher o seu plantel, de escolher o seu onze inicial, coloca os jogadores a competir dentro daquilo que é a exigência dele.
E o que Jesus mais exige aos seus jogadores é a velocidade a que se cumprem os movimentos ofensivos e defensivos. É uma exigência mental, primeiro, mas, depois da percepção do estímulo, sobretudo física. Com ele, os mais rápidos a ocupar os espaços, os mais agressivos a atacar as linhas de passe que ele quer, vão jogar mais vezes. Os mais fortes a atacar a primeira bola, os mais agressivos no 1x1 (ofensivo ou defensivo), os que jogam constantemente em alta rotação, serão quase sempre os escolhidos.
As primeiras escolhas dele, assim possa escolher, estarão sempre dentro destes parâmetros. Dessa forma, vai desenvolvendo o seu modelo de jogo, no qual a exigência física é fundamental para a concretização da sua ideia. Em Portugal, o actual treinador do Flamengo acabou por esgotar a influência que tinha, por força de um enorme conhecimento que todos passaram a ter dos seus processos, pela forma como marcou os treinadores por cá e todos passaram a olhar para ele como uma referência, e por não ser um treinador tão capaz de furar blocos baixos (e relativamente bem organizados de forma zonal) como os que ele passou a enfrentar.
Na Terra do Samba, por força de um futebol muito virado para as individualidades e pouco focado nas acções colectivas, Jorge Jesus está a ter uma passagem absolutamente arrebatadora, porque tem qualidades que encaixam como uma luva numa escola de futebol que produz os maiores talentos do mundo, mas que do ponto de vista colectivo está 20 anos atrasada no tempo - é caso para se dizer que em terra de cegos quem tem olho é rei!
Jesus promete transformar-se em Messias, o salvador profetizado pela “Nação” do “Mengão”, assim consiga cumprir a expectativa de vitória no Brasileirão e na Libertadores.



Por cá, já distribuía conhecimento há muitos anos... como se comprova nesta “aula” de Março de 2013."

Calma, são só “15 gajos” a dançarem

"Vamos em nove edições do Mundial e os bravos galeses podem tornar-se, apenas, na sexta selecção a jogar uma final, roubando um pouco de marasmo ao torneio se vencerem a África do Sul. Na outra meia-final, as ingleses que, provavelmente, têm a defesa mais fiável da competição, jogam contra a Nova Zelândia, que não derrotam há sete anos e cujo jogo começa no reputado haka, que pode intimidar muita gente, mas não Eddie Jones, o seleccionador inglês: "Nessa altura do jogo, podiam estar a tocar as Spice Girls que eu não reparava"

São muitos tipos musculados, bestas humanas de força, a esbugalharem os olhos, a esticarem a língua para fora, a fazerem caretas assustadoras; dão chapadas no próprio corpo, batem com os pés na relva, sincronizam a brusquidão dos seus gestos e berros de um idioma incompreensível; compondo este cenário e cobrindo-se todos com vestimenta integralmente negra, é verdade que podem assustar. 
Tendo-os a coisa de 10 metros, vociferando gritos guerreiros, minutos antes de um jogo onde o contacto físico não faz cerimónia e senta-se logo à mesa, James Haskell via “15 gajos a dançarem” que lhe davam vontade de “ir para o campo e lutar contra eles”.
Soa a aligeiramento forçado do haka, dança do povo maori, nativo da Nova Zelândia, que os All Blacks fazem, religiosamente, antes de cada encontro. Mas, pensando mesmo como escreve, ou forçando o seu eufemista interior, James Haskell, um pedregulho de flanqueador que somou 77 jogos pela Inglaterra, é da opinião que “a não ser que tenhas o coração do tamanho de uma ervilha”, o enfrentar o haka “devia motivar-te”.
O ritual maori vence ninguém, as vitórias não começam na dança, nem os All Blacks ganharam 80,4% dos jogos contra os ingleses por culpa de um ritual. “Muitas pessoas pensam que é sobre o que estás a fazer aos adversários”, já explicou, mais de uma vez, Kieran Read, capitão da Nova Zelândia, “mas, na verdade, tem a ver com as sensações que retiras de quem tens à tua frente, atrás de ti ou ao teu lado”.
Os neozelandeses incendeiam-se com os gritos, as caretas e os gestos, que despertam reacções, no fundo, crentes que um paradoxo pode ser eficaz: o haka não dá pontos ou ensaios, mas podem-se inventar estratégias para o contrariar.
Os franceses já avançaram contra eles, formados em ‘v’, antes da final do Mundial, em 2011, quatro anos depois de os enfrentarem, na cara, entrando-lhes na cabeça e eliminando-os. Os galeses mantiveram-se imóveis, nem uma pestana mexida, mais de um minuto contado depois do ritual terminar, em 2008, obrigando o árbitro a intervir. Em 1997, o inglês Richard Cockerill deixou-se inflamar, colou a cara a Norm Hewitt, inventou uma provocação à qual ceder e ouviu um companheiro de selecção a tremer a voz: “O que foste tu fazer?”.
As probabilidades dirão que os ingleses presentes no estádio de Yokohama, no sábado (9h, Sport TV2), gastem cordas vocais no “Swing Low, Sweet Chariot”, gritando para abafarem o haka com a canção que elevaram quase a hino do râguebi inglês, unindo-se num uníssono parecido ao de 2012, em Twickenham, como da última vez que ganharam à Nova Zelândia.
O tanque humano que move em Manu Tuilagi estava lá, a marcar dois ensaios, a ser fonte primordial de corridas embaladas com bola a quebrarem a linha da vantagem, como a Inglaterra ainda o tem e espera ter, outra vez. O samoano naturalizado inglês vê o haka como a maioria dos jogadores, “uma honra e um desafio para ser aceite”, vendo os neozelandeses batíveis pela força construída, em quatro anos, pelos ingleses.
O exigente Eddie Jones que lhes pegou, na ressaca do Mundial anterior, entregou o que as expectativas lhe auguraram. A Inglaterra tem a defesa mais sólida do torneio, constante na cobertura de rucks, muralhada contra bolas jogadas à mão, o centro (Tuilagi) mais perigoso em corrida e, com George Ford confirmado a 10 e Owen Farrell desviado para 12, voltará a ter dois aberturas na sua linha de médios.
Em Ford terá o par de mãos mais criativo e improvisador dos ingleses, em Farrell mantém as placagens duras do capitão em campo, neles está a ideia de ter dois organizadores de jogo na equipa, ideia replicada pela Nova Zelândia com Richie Mo’unga a 10 e os sprints explosivos de Beauden Barrett a 15, com mais espaço para embalarem.
É a presença deste neozelandês atleta atrás da linha dos três quartos que aconselha cautela no jogo ao pé dos ingleses. Pontapear muito a bola para fora da área de 22 metros, logo na primeira ou segunda fases, quando pressionados, será depositar-lhe oportunidades para correr contra uma equipa desalinhada.
O truque, se é que os há frente à selecção com tiques de omnipotência e sem pontos fracos evidentes, será tentar atrasá-la na reciclagem da bola. Puxar pelos manos Vunipola e os restantes seis avançados para, nos rucks, impedirem perdas de bola e tentarem emperrar os dois ou três segundos que Aaron Smith, o médio de formação com os braços mais velozes a passar a bola, costuma demorar a esvaziar a bola do chão.
Os avançados que passam a bola como médios, a vertigem como que saem de rucks, o faro com que atacam a mínima desorganização no adversário, a constância com que jogam a abrir, fazem dos All Blacks temíveis máquinas compressoras de râguebi, até para a Inglaterra, mais robótica e menos espetacular do que o primeiro par de anos com Eddie Jones, mas, com George Ford, Owen Farrell, Manu Tuilagi, Billy Vunipola ou Johnny May, sustenta a seleção que maior dano lhes parece poder causar.
Danificados, traumaticamente, ficaram os galeses, há quatro anos, quando sofreram um ensaio com muitos quês de desconcentração infantil, a cinco minutos do fim, nos quartos-de-final do último Mundial.
O número oito Duane Vermeulen ficar com a bola de uma mêlée, fixar o único galês que cobria o lado fechado, passá-la com uma mão, pelas costas, e Fourie Du Preez correr 10 metros para o ensaio parece ser o tipo de erro evitável que o País de Gales aprendeu a evitar.
Há quem lhe chame experiência, outros falarão em maturidade, pode-se ir pelo simples lado da concentração, certo é que, na última competição em que é treinada por Warren Gatland, a selecção galesa é a outsider para conquistar o Mundial. Algures lá em cima, para onde tantas bolas são batidas por Dan Biggar ou Gareth Davies, a gravidade ou os deuses dos azares fizeram descer infortúnios para lhes dificultar um pouquinho mais a vida.
O segunda linha Josh Navidi lesionou-se e não jogará mais. Um tornozelo torcido, durante um treino, roubou-lhes Liam Williams, o arrière das pernas arqueadas, maior motivo que faria os sul-africanos matutarem em dúvida, por segundos, antes de chutarem uma bola à procura de território. No seu caso, há o luxo Leigh Halfpenny para ser erguido do banco, mas, caso Jonathan Davies, um dos centros titulares, não recuperar da lesão, mais costuras terão que ser cozidas na selecção galesa que já chegou remendada (sem Taulupe Fauletau e Gareth Ascombe) ao Mundial.
Lá vão os galeses, desafiadores habituais da má fortuna - em 2015, chegaram a ter oito lesionados -, para a meia-final com a África do Sul, nação do hemisfério sul mais dependente no poderio dos seus avançados, com quem se espera um jogo onde a bola seja pontapeada amiúde, muitos tu-cá-tu-lás em busca de território a serem trocados.
Não é, por definição, um jogo atraente ao olho, mas é provável que, acordar cedo no domingo (9h, Sport TV1), assistirá a muitos pontapés vindos dos médios galeses, reforçados agora pelo pé de Halfpenny, a aliviarem-se de pressão na área de 22 metros. E que tenham a resposta de Faf de Klerk, o formação sul-africano, em tempos elogiado pelas corridas espontâneas com que fugia de trás dos rucks, agora algo criticado tantos chutos dados na bola.
A apetência da África do Sul para afastar os adversários do seu campo, à primeira ou segunda fases de jogadas, com pontapés para fora, ou chutos nas costas das linhas atrasadas, não é causal.
A estratégia fê-los sofrer apenas nove ensaios nos 10 jogos que leva em 2019 (incluindo dois contra a Nova Zelândia) e De Klerk é um fiel apologista: “É verdade que chutamos muito, mas tentamos ler o jogo e encontrar um balanço favorável. É positivo porque ganhamos território. Nem sempre temos um plano de pontapés definido. Lemos o jogo e ouço o que o Handré [Pollard] me diz”.
O abertura dir-lhe-á que continue a chutar à vontade, respeitando o modo de viver da África do Sul, que pode voltar a jogar uma final e prolongar o entediante costume de vermos sempre as mesmas nações a decidirem um Mundial.
É a regra tácita do hábito, pois menor será o espanto quanto mais repetições houver de determinada coisa. Pensamento não escrito, mas dito, o ano passado, por Eddie Jones, que encolheu os ombros e aplicou o raciocínio ao haka: “Na altura do jogo em que acontece, podiam estar a tocar as Spice Girls que eu não reparava”. Enganador ou não, é, pelo menos, um bom disfarce."

O planeta dos Grupos Organizados de Adeptos (um ponto de viragem na história, não só do Sporting, mas, sobretudo, do desporto nacional)

"Comportamentos, por vezes, selvagens e, tantas vezes, irracionais. Em casa, estão à solta. Fora de casa, ficam em jaulas. Não são todos mas são alguns. São demasiados. São demasiados que prejudicam os restantes que nesse grupo são incluídos e rotulados de igual forma. Grupos Organizados de Adeptos, os “GOA” ou as Claques.
Estamos todos familiarizados com estes termos, assim como estamos conscientes de tudo aquilo que significam para além do que consta do seu literal significado. Na teoria, são “conjuntos de pessoas, filiadas ou não numa entidade desportiva, que actuam de forma concertada, nomeadamente através da utilização de símbolos comuns ou da realização de coreografias e iniciativas de apoio a clubes, associações ou sociedades desportivas, com carácter de permanência”. Na prática, não são apenas isso. São muito mais. Por terem aquele significado “no papel”, seriam a estes grupos que a entidade desportiva concederia facilidades de utilização ou cedência de instalações, apoio técnico, financeiro ou material.
A verdade é que estes grupos já não eram só isto no passado e, seguramente, também não o são apenas desde 2009 (Lei n.º 39/2009, de 30 de Julho, estabelece o Regime Jurídico da Segurança e Combate ao Racismo, à Xenofobia e à Intolerância nos Espectáculos Desportivos). São tudo aquilo, mas também, em grande parte, grupos onde emergem associações criminosas de diversa índole, cuja expressão e dimensão permanecem arredadas do conhecimento público até as práticas criminosas atentarem contra a integridade física e moral.
A verdade é que os sucessivos casos que chegam ao nosso conhecimento, mediáticos ou não, não reflectem a pacífica realidade que os conceitos acima transcritos parecem descrever. É tempo de ponderar o que fazer com a verdadeira realidade e deixar de pactuar com uma situação em que as entidades desportivas são como escudos de um leque determinado de pessoas que vivem à margem da lei e que, em excessivo número de situações, nada mais fazem pelo desporto que não seja denegrir a sua imagem.
No passado dia 20 de Outubro de 2019 foi o dia em que o Sporting Clube de Portugal e a Sporting Clube de Portugal - Futebol, SAD informaram os sócios que haviam resolvido os protocolos celebrados com a Associação Juventude Leonina e com o Directivo Ultras XXI – Associação.
O ponto final nesta relação pode ser também um ponto de viragem na história, não só daquela entidade desportiva, mas, sobretudo, do desporto nacional. Pode constituir o mote para combater um problema que ganha contornos de enraizamento incompreensíveis, que levaram a que as entidades desportivas ficassem reféns destes grupos, ao ponto de temer confrontá-los com aquilo que nada mais são do que deveres básicos de vida em sociedade, linhas simples de civismo ou obrigações naturais de um protocolo entre duas partes.
Resta aguardar para saber se outras entidades desportivas têm a coragem de fazer o mesmo."

Marco histórico

"Hoje celebra-se o 16.º aniversário do Estádio da Luz e no próximo dia 31 será realizado um jantar comemorativo desta efeméride, em que também será prestada homenagem a Mário Dias, antigo vice-presidente a quem o Sport Lisboa e Benfica muito deve, nomeadamente, pelo seu empenho, determinação, visão e capacidade de organização neste empreendimento que muitos julgaram impossível face aos inúmeros constrangimentos com que o Clube se debatia à época. O Estádio do Sport Lisboa e Benfica a todos nos envaidece e orgulha e, simultaneamente, nos motiva para que o futuro do nosso Clube seja ainda mais Glorioso.
A decisão da construção de um novo Estádio foi muito difícil, pois opunham-se os lados sentimental e racional. Passados 16 anos, sabemos que os sócios do Sport Lisboa e Benfica tomaram a decisão certa no momento certo. A recuperação desportiva e financeira do Clube está à vista e que não haja dúvidas que esta só foi possível depois de o Benfica ter voltado a ser credível junto dos vários parceiros, fornecedores e instituições.
Já vivemos grandes momentos neste Estádio da Luz, como a celebração de títulos ou o acesso a uma final europeia, além de vitórias memoráveis e golos formidáveis. Foram inúmeras as alegrias vividas, 310 as vitórias (302 em competições oficiais) e a última, frente ao Lyon, foi a ducentésima em competições europeias da UEFA, com o Benfica a tornar-se o oitavo Clube a atingir esta marca redonda, integrando agora um núcleo restrito, o qual integra apenas grandes nomes do futebol europeu: Barcelona (316 vitórias), seguido por Real Madrid (313), Bayern (263), Juventus (259), Liverpool (217), AC Milan (201), Ajax (200) e Benfica (200).
Um aniversário que surge na véspera de mais um fim de semana desportivo, onde todas as atenções estarão centradas na difícil deslocação a Tondela, que já tem lotação esgotada. O objectivo da nossa equipa passa por ganhar a partida e conquistar os três pontos. Se conseguirmos triunfar, será a 13.ª vitória consecutiva em deslocações no Campeonato Nacional (terceiro melhor registo da história do Benfica).
Este será o primeiro de um mini-ciclo de três jogos a contar para o Campeonato Nacional: Tondela, domingo, às 15h00, em Tondela; Portimonense, quarta-feira, às 20h15, na Luz; e Rio Ave, sábado da próxima semana, às 18h00, também na Luz.

P.S.: O Benfica foi destacado no Twitter oficial da UEFA por ter sido o primeiro Clube a usar a hashtag #EqualGame no seu equipamento. Esta iniciativa da UEFA, a que o Benfica se juntou desde o primeiro momento, visa combater a discriminação. Mais uma vez fomos pioneiros numa causa que desde a primeira hora faz parte da nossa identidade."

Dezasseis anos da “Catedral da Luz”

"O dia 25 de Outubro de 2003 ficará para sempre marcado na memória de milhares de Benfiquistas. Depois da sentida e triste despedida ao “velhinho” estádio da Luz, era agora tempo de voltar a casa. Uma casa nova, uma casa sem história, uma casa sem ícones, uma casa que ainda não era verdadeiramente uma casa.
Apesar de moderna, a nova catedral era bastante mais modesta, em termos de dimensão, comparativamente ao “gigante de betão” que era o antigo Estádio da Luz. A modernidade trazia novos confortos, no entanto, estes vieram acabar com tradições geracionais de “um dia de bola”.
A necessidade de levar uma almofadinha que acondicionasse o nosso corpo na gélida estrutura de betão ou, posteriormente, nos desconfortáveis bancos de plástico, enquanto se assistia a mais uma grandiosa arrancada de Simão Sabrosa, foi tornada completamente desnecessária pelas novas cadeiras rebatíveis. A cobertura quase total do estádio matou o hábito de assistir completamente ensopado, aos toques de carácter mágico, com que Rui Costa dominava o esférico. Os lendários jogos que tantos relataram ter visto a partir das escadas de acesso ao estádio, pois não cabia nem mais uma única alma nas sobrelotadas bancadas, desapareciam agora com os lugares marcados.
Apesar da extinção destas tradições e da enorme nostalgia que o desaparecimento da mítica casa do Benfica ainda proporcionava aos adeptos encarnados, o sentimento que dominava a massa associativa das águias, relativamente ao novo estádio, era sobretudo de orgulho. Orgulho por ter um estádio moderno ao nível da grandeza do clube. Finalmente o Benfica tinha uma casa moderna, finalmente os adeptos tinham o seu lugar naquele estádio.
Deixando de lado os sentimentos (impossível fazê-lo no desporto, mas vamos lá tentar), passamos ao jogo de estreia. Depois de um espetáculo de luzes e fogo de artificio ao nível da modernidade do estádio e de arrepiantes discursos, lá entrava a equipa do Benfica, que nesta noite defrontava o Nacional de Montevideo, do Uruguai. Moreira, Miguel, Hélder Cristóvão, Ricardo Rocha, Argel, Tiago, Petit, Geovanni, Nuno Gomes, Tomo Sokota e Simão Sabrosa foram os 11 primeiros jogadores a vestir o manto sagrado na nova catedral.
O SL Benfica sairia vitorioso por 2-1, tendo Nuno Gomes entrado para a história do clube encarnado como o primeiro marcar no novo estádio. A primeira alegria proporcionada naquele ambiente e um excelente presságio do que estaria para vir.
Passados 16 anos foram mais de 17 milhões as pessoas que encheram as bancadas do Estádio da Luz. Estes 17 milhões viram o Benfica entrar em campo por 457 vezes e vencer 303 desses duelos. Desde a inauguração do estádio, o Benfica conquistou 22 títulos: Sete ligas portuguesas, três Taças de Portugal, seis Supertaças e sete Taças da Liga.
Em termos de jogadores, foram nove os bola de ouro que pisaram o relvado da Luz: Zidane, Figo, Owen, Nedved, Ronaldinho, Kaká, Cannavaro, Messi e Cristiano Ronaldo. Houve também muitos astros inesquecíveis que vestiram o manto sagrado e deixaram tudo em campo pelo Benfica.
Como esquecer os 105 golos que Oscar “Tacuara” Cardozo marcou na luz. A magia de Pablo Aimar. Os 258 jogos de Luisão na catedral. A classe do eterno maestro Rui Costa e do goleador Jonas. Simão Sabrosa e os seus golos decisivos. As fintas de Nico Gaitan. Os gregos Karagounis e Katsouranis. As grandes defesas de Oblak, Ederson ou Júlio Cesar. A excentricidade e o cabelo de David Luiz. Os passes de letra de Di María. Os “baixinhos” Miccoli e Saviola. Entre tantos outros…
Tantas vezes as bancadas gritaram em uníssono “Golo” do fundo dos seus pulmões e saltaram das cadeiras como se tivessem molas. De grandes golos a golos históricos. De golos simples a golos de sorte. Desde o remate do “meio da rua” do Eliseu, frente ao Moreirense FC, ao volley “intencional” de André Almeida, há duas épocas frente ao Portimonense SC. Desde o “golaço” do Matic, no empate 2-2 com o FC Porto, ao remate de longa distância do Renato Sanches, contra a Académica OAF. O golo do Cardozo contra o Fenerbache SK e do Lima contra a Juventus FC que valeram as idas à final da Liga Europa. O golo do Luisão que deu o campeonato de 2005 ao Benfica. A grande corrida e subsequente golo do Cardozo, frente ao FC Porto na Taça da Liga. O golo de Rodrigo, na despedida do “Pantera Negra”. O remate em jeito do Jonas, que bateu o guarda redes do Paços de Ferreira. O golo cheio de classe de Aimar ao Sporting CP, na época de 2009/2010. A jogada mágica de Gaitan e a cabeçada de Lima na vitória frente ao Sporting em 2013. Foram muito golos, muita alegria. É de alegria e emoção que vive o futebol.
Então e momentos icónicos? Na ainda curta história do Estádio da Luz, o que não falta são momentos marcantes. Uns de memoria mais feliz do que outros, mas todos fundamentais na construção da história do Estádio da Luz, do Benfica e de Portugal. Da tristeza da partida do “rei” Eusébio à festa no jogo da sua homenagem. A derrota por 3-0 frente ao Sporting, mas com todo o estádio a declamar o seu amor incondicional pelo Benfica.
A final da Liga dos Campeões, marcada pelo golo nos já nos descontos de Sérgio Ramos. A final do Euro2004, de terrível memoria para os portugueses. As noites europeias. As celebrações de todos os campeonatos e do inédito tetra. A primeira vitória do futebol feminino na Luz. As despedidas de Rui Costa e Jonas. O jogo contra a pobreza. Tantos e tantos momentos, aos quais se juntam às experiências e histórias pessoais que todos os benfiquistas têm do Estádio da Luz.
Ao longo destes 16 anos, naquelas bancadas pintadas de vermelho e branco, foram derramadas muitas lágrimas, foram vistos muitos sorrisos de orelha a orelha, foram gritados os nomes de centenas de atletas.
Milhões de benfiquistas foram levados à felicidade ou caíram numa profunda tristeza naquelas cadeiras, que tantas histórias teriam para contar. Avós celebraram golos abraçados aos seus netos, amigos suspiraram de alívio com uma bola que passou a centímetros da sua baliza.
Tantos foram os desconhecidos que deixaram de o ser, fruto da única coisa que sabiam ter em comum: a paixão pelo Benfica. Milhares e milhares de pessoas saltam, todas as semanas, em uníssono das suas cadeiras, gritando euforicamente porque, lá em baixo no relvado, alguém conseguiu, simplesmente, colocar a bola dentro da baliza. Tão simples e tão puro que é o futebol e a felicidade que ele proporciona. No fundo, o futebol resume-se a isto: Paixão, e paixão é certamente o que não falta, nem nunca faltará naquele estádio.
O novo Estádio da Luz, pode ainda não ter a mesma história do seu “pai” (antigo Estádio da Luz) mas se há alguma coisa que corre nesta “família” é o sangue vermelho e a raça do Benfica."