terça-feira, 22 de outubro de 2019

A Pantera nunca engoliu o elefante

"O Luxemburgo veio jogar a Portugal... e, de imediato, lembrei-me de Eusébio

Coitado do nosso amigo sr. Ferreira: tinha um elefante do tamanho do Luxemburgo para engolir e nunca engoliu.
É que foi frente ao Luxemburgo, precisamente que teve a sua primeira oportunidade de jogar com a camisola dos cinco escudos azuis, a da selecção nacional. E do mal, o menos: marcou logo um golo.
Fase de qualificação para o Campeonato do Mundo de 1962, no Chile: Portugal estava no Grupo 6, com Inglaterra e Luxemburgo.
Realizara dois jogos em casa: vitória sobre o Luxemburgo (6-0); empate com a Inglaterra (1-1). Os ingleses tinham feito melhor: 9-0 e 4-1 ao Luxemburgo. Portugal estava assim, e para já, em desvantagem.
A imprensa gostava de chamar ao Luxemburgo a Cidade das Fadas ou Cidade de Opereta, por causa daquela arquitectura barroca, tão especial.
É uma cidade bonita, a Cidade do Luxemburgo.
O primeiro jogo de Eusébio por Portugal foi um dia triste. Muito triste para ele. Acreditem. O próprio mo contou.
Dia 8 de Outubro de 1961: a selecção nacional de Fernando Peyroteo era uma equipa de risca ao meio. Isto é: defesa à base do Sporting; ataque à base do Benfica. À frente de Costa Pereira, jogavam Mário Lino, Morato, Lúcio e Hilário, todos do Sporting. No meio, um benfiquista, Coluna, e um sportinguista, Pérides. Eusébio jogava na frente, com Yaúca, do Belenenses, Águas e Cavém.
Era o tempo de o 4-4-2 substituir por completo WM.
José Augusto e Santana tinham ficado em Lisboa. Fora de forma, justificara Peyroteo, agora um pouco surpreendentemente no cargo de seleccionador.
Aos 56 minutos, era o escândalo completo: um hat-trick de Schmidt; 3-0 para o Luxemburgo!!!
Ora batatas!

Que vergonha!
Eusébio vivia minutos tão tristonhos como toda a equipa, tolhido pela incapacidade de ultrapassar o vigor e o entusiasmo luxemburguês. Só que o seu talento inesgotável lançava-o para além de uma vulgaridade que se prendia aos gestos individuais e colectivos como um nevoeiro pegajoso das charnecas da velha Inglaterra.

A oito minutos do fim, arranca pela direita, junto à linha lateral, e vai levando a bola para o centro, driblando primeiro um, depois outro, e ainda outro adversário. O remate de pé esquerdo é tremendo: golo. De pouco serve. Hoffmann faz 4-1; Yáuca, 4-2.


Ingleses atentos!
No dia seguinte, a imprensa derrete a selecção.

E com razão, convenhamos.
Perder desta forma bruta contra os amadores do Grão-Ducado não lembrava ao mais pintado.
Peyroteo ainda solta um grito desesperado: 'Vamos ganhar a Inglaterra!'
Nenhum anjo bondoso o ouviu.
Eusébio não foge às críticas duras: que lhe falta experiência; que sem os remates fulminantes não disfarça faltas importantes; que não conseguiu ser o interior de ligação que teria sido, certamente, Santana. Vindo em peso do outro lado da Mancha para espiar o próximo opositor da selecção inglesa, a imprensa britânica não parece ter a mesma opinião. O prestigiado jornalista Peter Lorenzo, enviado-especial ao Luxemburgo, escreve no Daily Herald: 'O desfecho deste encontro é um dos maiores choques do futebol europeu e mundial. (...) Eusébio, o novo jogador-maravilha dos campeões europeus, começou a jogar como um mestre e marcou um soberbo golo de vinte e cinco metros'.
A paixão dos ingleses por Eusébio começava aí. A sua exibição em Wembley, quinze dias depois, torná-la-á ainda mais forte. Irá durar para sempre.
O Chile ficava agora demasiado longe.
Portugal confrontava-se com a pequenez do seu futebol: não havia gente capaz de substituir José Augusto e Santana; ninguém estava à altura do lesionado Germano.
Eusébio estava profundamente triste.
Mas foi sempre um campeão, nunca se resignou.
Poucos dias depois estrear-se-ia em Wembley, perante o exigente público britânico e com chusmas de jornalistas loucos para o verem ao vivo.
A sua desforra não tardaria a chegar.
O rapaz de Moçambique entraria em Londres como um rei. Retinta e divinamente negro!
(continua na próxima edição)"

Afonso de Melo, in O Benfica

Quem diria?...

"Uma diseuse que viria a ser primeira dama e dois jovens pianistas que se tornariam nomes maiores da música portuguesa

No final do ano de 1957, a Secção Cultural do Sport Lisboa e Benfica promoveu um 'Grande Festival de Arte'. A imprensa aplaudiu: 'O Serão de Arte do Benfica apontou afinal, e de maneira eloquentíssima, o grande exemplo: aos clubes pertence também educar e as musas não fazem mal ao Desporto, antes o sublimam com lufadas de espiritualidade que elevam a grei que o serve'.
O Cinema Império foi o palco desse 'Grande Festival', que teve lugar às 21 horas e 30 minutos do dia 10 de Dezembro. 'A elegante casa de espectáculos da Alameda foi pequena para a multidão que ali afluiu'. Nem as 'altas figuras da vida nacional' faltaram. 'Do seu programa, conscienciosamente elaborado', faziam parte as actuações da orquestra da Emissora Nacional e do orfeão do Benfica, declamação de poesia e um recital de piano. Foi 'uma grande noite benfiquista!' O que a maioria dos presentes não poderia adivinhar é que nessa noite subiriam ao palco três artistas que se viriam a ser figuras de relevo no panorama cultural português.
No recital de piano, o professor Campos Coelho - para além de tocar com Paulino Gomes Júnior, seu antigo aluno e então director do jornal O Benfica - brindou o público com a apresentação de dois jovens intérpretes. 'Dois dos meus mais talentosos alunos', afirmou. Os 'dois pequenos grandes pianistas que a «fábrica Campos Coelho» produziu para regalo de quantos apreciam a difícil, mais incomparável arte de «bem tocar piano»' eram, nada mais nada menos, que Maria João Pires e António Victorino de Almeida, então com apenas 12 e 17 anos, respectivamente.
E a artista que naquela noite 'encheu o palco com a sua maneira especial de interpretar' os poemas de Álvaro de Campos, Nazim Hikmet, Fernando Pessoa e Pablo Naruda, entre outros, era já considerada 'uma das maiores revelações artísticas da moderna geração': Maria Barroso, a mulher que viria a ser durante 10 anos primeira dama - o seu marido, Mário Soares, foi presidente da República entre 1986 e 1996.
O Benfica assumiu desde cedo o compromisso de contribuir permanentemente para o fomento da cultura. Na área 16 - Outros Voos, do Museu Benfica - Cosme Damião, pode saber mais sobre a relação histórica do Clube com diferentes polos da cultura."

Mafalda Esturrenho, in O Benfica

Regresso da Champions

"Amanhã, às 20 horas, terá início o Benfica–Lyon da 3.ª jornada da fase de grupos da Liga dos Campeões. Só a vitória nos interessa, num grupo em que, previsivelmente, impera o equilíbrio no futebol jogado e em que está tudo em aberto.
O nosso próximo adversário empatou com o Zenit em França e venceu o Leipzig na Alemanha nas duas primeiras jornadas, somando quatro pontos. É líder, em igualdade pontual com o Zenit, e um triunfo da nossa equipa recolocar-nos-á na luta pela passagem aos oitavos de final.
Este é o único cenário que queremos antecipar, pois a exigência é máxima num clube como o nosso e acreditamos no valor da nossa equipa, pois já demonstrou que tem valor para fazer mais e melhor. O apoio será fundamental e por isso apelamos à forte presença dos Benfiquistas amanhã no Estádio da Luz e que estejamos com a nossa equipa em campo do primeiro ao último minuto.
Será o segundo jogo do ciclo intenso de sete partidas em 23 dias. À recepção ao Lyon seguir-se-ão três jogos para o Campeonato, com Tondela, Portimonense e Rio Ave, e a visita a Lyon. No dia 9 de Novembro será a vez da deslocação aos Açores para defrontar o Santa Clara, antes de nova paragem para as selecções.
Nota ainda para duas equipas do Benfica que entrarão em acção ao longo da tarde que antecede a partida frente ao Lyon. Os Sub-19 jogarão às 15 horas, no Benfica Campus, frente à sua congénere do Lyon. Procuramos a terceira vitória, em três jornadas, no Grupo G da UEFA Youth League. E às 17h30 será a vez do basquetebol, que defrontará o ZZ Leiden, da Holanda, no Pavilhão Fidelidade, a contar para a primeira jornada da fase de grupos da FIBA Europe Cup.

P.S.: Parabéns aos três futebolistas portugueses incluídos na lista de trinta candidatos a vencer, este ano, a Bola de Ouro, o prestigiado prémio instituído pela publicação France Football. Cristiano Ronaldo tem lugar cativo entre os nomeados e já foi o vencedor em cinco ocasiões. Bernardo Silva e João Félix foram nomeados pela primeira vez e Félix está igualmente entre os dez nomeados para o melhor jogador Sub-21 do ano. A inclusão de Bernardo Silva e João Félix acaba por ser, também, um reconhecimento do excelente trabalho desenvolvido na nossa formação, o que nos congratula e motiva para persistir na busca pela excelência neste e em todos os domínios. A sua presença são um motivo de enorme orgulho para todos os Benfiquistas."

Cadomblé do Vata (Félix e azias!!!)

"João Félix está entre os 30 nomeados para a Bola de Ouro. Desde que Ricardo Carvalho, Maniche e Deco estiveram na lista em 2004 e o nome de Rui Patrício apareceu nos seleccionados em 2016, que nenhum jogador da Liga Portuguesa atingia tamanho desiderato. Dando como certo que tal honra não teve origem em façanhas europeias (apesar do hat trick contra o Eintracht) como no brilhante caso dos portistas, nem se deveu a um título ao serviço da selecção (mal grado aquela hora contra os suíços na Liga das Nações) conforme sucedido com o guardião do Wolverhampton, deverão todos os apaniguados azul esverdeados que hoje se espumam de azia, sentir enorme orgulho no viseense, por ter sido ele a demonstrar que marcar golos ao FC Porto e ao Sporting CP, afinal dá prestígio internacional. Alex Apolinário e Lourency já procuram locais para festejar a integração na lista dos 30 em 2020.
Quem também não deverá conseguir esconder a felicidade é a Sra. Dra. Ana Gomes, que viu ontem confirmada a sua sensação de que o valor da transferência do dispensado das escolas do FCP para o Atlético de Madrid era negócio de lavandaria. O SL Benfica vendeu para Espanha um dos melhores 30 jogadores da temporada passada, com margem de progressão incrível, por 120 milhões de euros. Dito assim, foi um valor limpinho, limpinho nas lavandarias 5 à Sec, que foi como ficaram muitas gargantas quando ontem saiu a lista. Até porque que se saiba, não foram perdoados 100 milhões aos madrilenos, que ficaram ainda encarregados de pagar 1,2 milhões de euros ao FC Porto ao abrigo do Mecanismo de Solidariedade, valor que vai dar muito jeito para pagar nos próximos anos, as rendas mensais de 500,00€ pelo aluguer do Centro de Estágio do Olival.
Só para terminar, referir a presença de Bernardo Silva na já referida lista, o que coloca a formação do SLB em luta ombro a ombro com Ajax e Liverpool como clubes com mais jogadores formados na lista. Não é que seja algo de especial relevância, mas ainda sou do tempo em que estas curiosidades faziam capas de jornal. Isso e as listas dos Médios Mais Goleadores da Europa. Tudo muito anos 80, pelos vistos."

Ventura, (é só mais) uma persona mediática promovida pelo futebol

"«Passo a palavra agora ao nosso convidado Professor Neca para falar sobre alterações climáticas.» Ou: «Esta semana, o Professor Henrique Calisto vai abordar a ascensão económica do Sudoeste Asiático, mas já a seguir a um curto intervalo Toni analisa a questão curda.»
Não se ouve disto nas nossas televisões, pois não?
Na verdade, não se vê em que medida tal opção será mais despropositada do que ceder tempo de antena a rodos a políticos, advogados, empresários, enfim, que peroram de cátedra sobre futebol. 
Aliás, Neca até pode falar com propriedade sobre as Maldivas, um dos países mais ameaçados pelas mudanças climáticas, onde foi durante anos seleccionador. Poderia até explicar como o arquipélago tem uma ilha destinada apenas ao tratamento e reciclagem do lixo – como dizia, entre outras curiosidades, num recente almoço com jornalistas promovido pelo Boavista.
Por sua vez, Calisto treinou durante uma década no Vietname, antes de experiências na Tailândia e na China, enquanto Toni trabalhou num clube de Tabriz, bem perto do Curdistão iraniano.
Ainda assim, não nos soa a natural, não é?
No entanto, em termos comparativos, é bem mais absurda esta proliferação de tribunos versados no debate parlamentar ou no argumentário jurídico que se dedicam a discutir penáltis e foras de jogo.
É nessa janela mediática, que se foi abrindo aos poucos até ser escancarada, que são forjados os Andrés Venturas deste país.
Vem o assunto a propósito da carta aberta assinada por um grupo restrito de benfiquistas a exortar o clube a demarcar-se do agora deputado recém-eleito para a Assembleia da República.
Por muito ilustres que sejam os seus propósitos, este intento coloca o Benfica quase no papel de vítima, fazendo aparentemente pouco caso do facto de os clubes terem muito que ver com criação desta e de outras personas mediáticas.
Como podem os clubes demarcar-se destes comentadores se muitas vezes existe uma relação umbilical entre criador e criatura?
Venturas e afins são uma fabricação que conta com a sua contribuição activa; são pontas-de-lança mediáticos prontos a debitar qualquer cartilha – neste caso em concreto, de forma assumida até.
O objectivo é simples: captar tempo de antena e difundir determinada mensagem de modo a influenciar a opinião pública.
Se há clubes que usam estas personagens, há também algumas delas, um pouco mais espertas, que, assim que entram no circuito, aproveitam a exposição mediática para dela tirarem o devido proveito, usando-a como degrau para dar o salto para outro patamar.
No caso concreto de Ventura, o discurso futeboleiro colado ao emblema, o apoio (por vezes explícito) de algumas figuras encarnadas na sua última candidatura autárquica (aqui o PSD de Passos Coelho também assumirá a sua quota-parte da paternidade) ou o lastro como promotor da candidatura de Luís Filipe Vieira à presidência do Benfica, tornou evidente que o futebol ajudou a promover um candidato da extrema-direita a chegar ao Parlamento.
Mesmo que o actual extremismo de direita português seja mais «facho de fachada» do que fascista na verdadeira acepção da palavra, tal não o torna, ainda assim, menos perigoso para a democracia.
A referida carta aberta seria, no entanto, uma derradeira oportunidade para o Benfica se demarcar publica e inequivocamente de qualquer instrumentalização da sua imagem por parte deste agora deputado. 
A forma como, perante a preocupação de tão ilustres adeptos, o clube reagiu, socorrendo-se da resposta mais vaga possível, não deixa de ser reveladora.
Quem lá atrás ajudou a dar o pontapé de saída, agora só quer chutar o assunto para canto."

Tiago Dantas: o jogador do novo milénio

"Foi um imaculado beijo entre o destino e a modernidade futebolística. Tiago Filipe Oliveira Dantas, natural de Lisboa, não poderia ter nascido noutra altura. As ideias retrógradas do conservador século passado não se coadunam com as características do pequeno lisboeta, num claro sinal da mudança dos tempos: os 170 centímetros de Tiago, aliados aos 58 quilos, tê-lo-iam tornado num dispensado efémero de qualquer clube regional no século XX, na era dos cânones físicos como primordiais para a prática da bola.
Naquela consoada de 2000, além da simbologia sacra, o pequeno génio nasce já a bombar talento e Benfica no coração. Alista-se aos quatro anos nas fileiras encarnadas e desbrava caminho por todos os escalões, tendo o cérebro como aliado no grande rendimento que o confirmaram precocemente como um dos prodígios do Seixal.
As ideias em constante mutação do novo milénio tiveram em Pep Guardiola o definitivo pioneiro na mudança de paradigma, na valorização da inteligência sobre a força. O seu Barcelona foi a pedra no charco e o grito de Ipiranga para todos os Dantas, para os que foram vitimizados pelos tractores arcaicos e por aqueles que poderiam ter sido; Tiago, então, teria obrigatoriamente que esperar para nascer na mesma era. Em termos de talento puro, assume uma posição ao mesmo nível de Bernardo Silva e João Félix como os melhores trequartistas a sair da formação encarnada desde Rui Costa. 
Como o último, sente-se mais confortável como construtor puro, pautando o jogo a partir da linha média com espaço de progressão para se envolver no último terço. Com visão 360º, exímio no passe curto e longo e com boa chegada à área, compensa a fragilidade física com doses cavalares de inteligência nas movimentações e grande agilidade, num constante jogo do gato e do rato com os opositores. Prepara-se para assumir um lugar na equipa principal, sentando-se na sala de espera ao lado de David Tavares e Gedson, ambos um ano mais velhos.
Estreou-se profissionalmente pela equipa B do Benfica na primeira jornada da Liga Pro da época passada, com 17 anos e 230 dias, e às ordens de Bruno Lage: nos 13 jogos do treinador setubalense na Liga Pro, Dantas participou em 12, claro sinal da confiança do técnico nas potencialidades do atleta. Esta época, e com Renato Paiva no banco de suplentes, Dantas jogou todos os sete jogos, assumindo a titularidade em todos eles: uma melhoria assinalável e sinal da sua evolução, num processo de aprendizagem necessário num contexto ultra-competitivo como é a segunda liga.
Em Julho deste ano, renovou o seu contrato com a instituição por mais cinco temporadas, fixando-se a cláusula de rescisão agora nos 88 milhões de euros, um sinal da confiança que se deposita em si. Depois de fazer a última pré-época com a equipa principal, o que lhe deu até oportunidade de substituir Jonas no seu jogo de despedida, 2019-20 afigura-se como a época de preparação para o assumir definitivo de um lugar entre os grandes na próxima temporada. A camisola ’10’ espera por si."

Os 5 melhores brasileiros ao serviço do SL Benfica

"Muitos são os jogadores que integraram o Sport Lisboa e Benfica nos seus 115 anos de história. Atletas que marcaram golos, desenharam jogadas de fazer levantar o estádio (e troféus) e, sobretudo, honraram o manto sagrado!
Bem, hoje falarei dos cinco melhores jogadores brasileiros que vi a actuar no SL Benfica. Alguns são verdadeiras lendas dos encarnados e são eternamente lembrados pelos benfiquistas. Confira a lista no top que se segue.

1. Jonas O brasileiro mais desejado na Luz… Quem me dera que houvesse um Jonas eterno! Sem clube, encontrou no Benfica uma oportunidade de prosseguir a sua carreira. E que passagem esta: 182 jogos, 137 golos e 35 assistências depois, o avançado construiu a sua própria história e deixou a sua marca em todos os benfiquistas. Um verdadeiro herói da Luz. Jonas era um senhor dentro das quarto linhas. Marcava golos de qualquer lado, de pé direito, pé esquerdo, cabeça (enfim, com o que estivesse mais à mão). Que saudade deixa Jonas!

2. Luisão Com o número 4 nas costas e a braçadeira no braço esquerdo, Luisão defendeu o Sport Lisboa e Benfica, com garra e ambição, ao longo de 552 jogos (15 temporadas de águia ao peito): um verdadeiro senhor, o nosso capitão! A “girafa”, como era também conhecido, é o jogador da história do clube com mais títulos e é também o estrangeiro com mais jogos com a camisola dos encarnados. Durante o seu tempo no SL Benfica, muitos fizeram parceria consigo no eixo defensivo, mas só ele ia ficando. Obrigado, capitão!

3. EdersonO melhor guarda-redes que já vi no Sport Lisboa e Benfica! Ederson Moraes seria o guardião que escolhia para defender as redes do glorioso. O guardião brasileiro distinguia-se pela frieza mostrada entre os postes, pela rapidez na saída à bola e, sobretudo, pela sua exímia capacidade de passe longo. Simplesmente fantástico. Actualmente a jogar no Manchester City de Pep Guardiola, sendo titular indiscutível, Ederson representou os encarnados em 58 ocasiões. Na sua passagem pelo Benfica, ajudou o clube a ganhar dois campeonatos nacionais, uma Taça de Portugal, uma Taça da Liga e uma Supertaça.

4. David Luiz É um central dotado de uma capacidade técnica bastante apreciável, útil no início processo ofensivo da equipa e muito astuto na defesa. Tudo isto a juntar à sua velocidade, agilidade e força, levam a que este brasileiro seja um dos meus centrais de eleição. Após a sua saída da Luz, representou o Chelsea FC e o PSG e actualmente actua no Arsenal FC. Pelo Benfica disputou 130 jogos, tendo marcado seis golos e assistido para nove. A hipótese de um “regresso a casa” não está completamente posta de parte, uma vez que o central canarinho ainda está no activo.

5. Lima É, sem dúvida, um dos melhores brasileiros que vi a actuar pelo glorioso. Com um faro de golo incrível, Lima foi uma das peças-chave do Benfica de Jorge Jesus para conseguir o bicampeonato e, posteriormente, aquele que viria a ser o primeiro tetra da história do clube a Luz. Pendurou as botas ao serviço do Al-Ahli, dos Emirados Árabes Unidos, para onde se transferiu em 2015. Ao serviço das águias realizou 145 jogos, tendo apontado 70 golos e feito 24 assistências. Um verdadeiro craque, que merece um lugar nesta lista."

O espectáculo - A variável esquecida (IV)

"Terminamos a abordagem desta variável esquecida – o espectáculo –inserindo-a num sistema muito poucas vezes abordado mas que permitirá compreendermos melhor a sua função.
Se a mais antiga referência escrita sobre uma competição data de 776 a.C., quer se desenrolasse no ginásio, na palestra, no estádio ou no hipódromo, em Olímpia, a mesma já implicava a presença de espectadores. Se o desporto sem competição não é desporto, também poderemos afirmar que o desporto sem espectáculo não é desporto. Este espectáculo evoluiu ao longo dos séculos e hoje já não é aquele que se encontrava presente na Grécia Antiga, na época vitoriana ou na modernidade. Em qualquer uma das épocas históricas o homem teve as suas manifestações corporais, atléticas e desportivas utilizadas para outros fins que não a prática ou a competição em si.
Actualmente verificamos a existência de um fosso enorme entre a prática antiga e o desporto pós-moderno, ao mesmo tempo que constatamos também a existência hoje em dia de um outro fosso entre os ideais proclamados pelo desporto e a realidade quotidiana que apresenta no espectáculo a sua face visível.
Atribuem-se ao desporto finalidades de grandes dimensões (valores) que não correspondem em nada à prática que é realizada quotidianamente mas que está inserida num meio determinado pela mercantilização num sistema capitalista.
O desporto apresenta-nos um marketing com linguagens de sedução e uma publicidade com imagens de tentação porque… o espectáculo desportivo é negócio. Não só o negócio da venda de bilhetes, de lugares cativos, de venda de camisolas e cachecóis, dos direitos televisivos, da transferência de jogadores, do naming dos estádios… Repare-se que no futebol já tivemos a Liga Sagres e a Liga Vitalis, a Liga Zon Sagres e a Liga Orangina, a Liga CTT, NOS ou MEO, a cerveja oficial do râguebi português – a Super Bock – patrocinou a selecção nacional designando-a por All-Bocks, enquanto o futebol se fica pela Sagres... e pela “Fome de Vencer” de um grande grupo económico onde efectuamos compras todos os dias.
Temos as antevisões dos jogos na televisão, as entrevistas pré e pós desafios de futebol em que se exprimem dirigentes e jogadores, muitos sem nada dizerem de proveitoso… Estas entrevistas em directo são obrigatórias antes e depois das transmissões dos eventos porque não se podem realizar sem apresentar alguém (dirigente, treinador ou jogador/atleta), embora o mais importante não seja esse alguém ou o que diz mas sim o que se encontra por detrás dele – o painel publicitário que subliminarmente faz entrar no espírito dos telespectadores dúzias e dúzias de logotipos e marcas. E aqui reside o grande cerne da questão: o espectáculo desportivo é necessário para nos levar a consumir os produtos cujas imagens são veiculadas nos painéis que circundam o campo, nos outdoors, nos painéis por detrás dos pódios, nas costas das camisolas… tudo isso porque conscientemente não damos conta mas o nosso cérebro capta e regista.
Graças a quem? Graças ao desportista – ao seu corpo e também à sua mente. Abusa-se da saúde do desportista e molda-se, formata-se, a sua mentalidade. Resumindo: manipula-se o ser humano. Sempre com o objectivo do dinheiro. Ou de alguns minutos em que o humano se transforma em deus – mas sempre servindo alguém, em nome de uma imagem, em nome de uma marca, em nome de um logotipo.
Tudo isto é depois repetido até à exaustão, expandido, mais que divulgado (sempre com as tais imagens subliminares) em três ou quatro canais em horário nobre por pessoas que pouco ou nada pensam sobre desporto (o que é diferente de pouco ou nada sabem de desporto). A imprensa escrita colabora igualmente sob a forma de imagens, não havendo notícia que não tenha a sua.
O espectáculo é um factor tão interveniente no próprio terreno de jogo que numa partida de futebol realizada à porta fechada há uns anos e posteriormente transmitida pela televisão mostrava-nos que quando um golo era marcado nem os próprio jogadores festejavam.
Actualmente o espectáculo desportivo não pretende regularizar os comportamentos em sociedade pois a teoria da válvula de escape e a teoria catártica encontram-se realmente em desuso (comprovado já por estudos científicos)… Governantes, executivos, decisores e dirigentes desportivos apresentam uma maior preocupação com o direito como sendo a forma específica mais importante e eficaz para o controle social nas sociedades. O aumento progressivo de leis, de regulamentações, de sanções, de comissões de estudo, análise e/ou prevenção assim o demonstram…
Jean-Marie Brohm, para quem o desporto é um sub-sistema do sistema capitalista, mostra-nos que a história do desporto se inscreve totalmente no desenvolvimento do capitalismo e afirma mesmo que, sendo o espectáculo desportivo o ópio do povo, “o ópio é não somente a ilusão da comunidade, mas sobretudo a comunidade da ilusão” (1).
Num artigo de 2013, intitulado “Le spectacle sportif, une aliénation de masse” (2), este sociólogo apresenta o desporto actual como sendo a principal indústria do entretenimento e simultaneamente uma economia política real da cretinização das massas, defendendo que uma outra mistificação, ainda mais escandalosa, é a que sugere que o desporto é um factor de cidadania, de aproximação, de harmonia civil.
A sua pretensão é “a desconstrução do mito idealista do desporto «velho como o mundo» (dos gregos aos nossos dias)” (3). A teoria crítica do desporto de Brohm mostra-nos que “o espectáculo desportivo que os seus fanáticos apresentam sempre como uma «festa», uma fonte de «felicidade», uma oportunidade de «sonhar» ou uma «comunhão popular» é de facto - e muito mais prosaicamente - um enorme empreendimento de despolitização e de desapropriação de si no seio de identificações «fictícias» para com vedetas «míticas», para com dream teams «excepcionais» ou para com «equipas emblemáticas». O espetáculo desportivo não é mais do que um caso particular dessa alienação coletiva no consumo excessivo de imagens, de shows, de slogans, de gadgets e de mercadorias. (…) A mercantilização generalizada da devoção pelas estrelas das pistas e estádios (posters, maillots e outros produtos derivados), a representação televisa incessante de seus confrontos, ambições e decepções, a exibição de suas fortunas e suas infidelidades conjugais, o interminável voyeurismo desportivo tornam-se o conteúdo ideológico mediaticamente supervalorizado que suplanta todas as outras preocupações; o vazio, o efémero, o fútil e o grotesco, o trivial e o banal constituem então a própria realidade da uma falsa consciência. ”
Urge tomarmos consciência para que, na realidade, serve o espectáculo desportivo e quais as suas funções. Talvez então, a partir daí, a realidade na nossa consciência seja outra."

António Paula Brito

"O Prof. António Paula Brito, que faleceu no passado dia 19 de Setembro, era uma figura mais do que conhecida no mundo da educação física e do desporto pois era uma pessoa muitíssimo estimada. Muitos dos, hoje, jovens de setenta e mais anos foram seus alunos no Liceu Camões. Estou-me, por exemplo, a lembrar do meu amigo e colega João Marcelino que, enquanto aluno do Prof. Paula Brito, conta estórias que, entre o humor e a pedagogia, deixaram para aqueles que as viveram ensinamentos que ficaram para o resto das suas vidas. Mas onde o Prof. Paula Brito marcou uma presença inquestionável foi no INEF, hoje Faculdade de Motricidade Humana. Gerações de alunos passaram pelas suas aulas que eram um misto de cultura desportiva, pedagogia activa e preparação para a vida.
O Prof. Paula Brito, enquanto académico, não escreveu muito. A sua marca sempre foi a do contacto com os alunos e os colegas. Ele, antes de tudo, era uma pessoa muito simples. Relacionava-se com os outros de igual para igual pelo que nunca foi pessoa de puxar pelos galões, como hoje vemos por aí alguns pavões, autênticos parasitas, alcandorados nos poleiros do poder. Um poder que nunca lhe interessou pelo que, para além do Laboratório de Psicologia Desportiva, jamais ocupou um lugar de liderança burocrática no INEF / FMH. Em contrapartida, a sua liderança afirmava-se pelo conhecimento e pela confiança que transmitia às pessoas que com ele conviviam.
Conheci o Prof. Paula Brito ainda nos anos setenta. Depois, quando, do ponto de vista profissional, concorri e prossegui a vida académica tive a oportunidade de com ele conviver nas mais diversas situações. A sua companhia era um encanto, desde as conversas de gabinete, almoços que se prolongavam pela tarde em conversas amenas que, para mim, eram um manancial de experiências e de conhecimento, até às actividades no âmbito dos desportos náuticos desenvolvidas no quadro da Licenciatura em Educação Física do ISEF/FMH, organizadas em Vila Nova de Mil Fontes ou as descidas do rio Guadiana, de Mourão a Mértola, nas quais, para além dos alunos, participavam apaniguados da canoagem como Eduardo Miragaia (jornalista) ou, entre tantos outros, Joana Marques Vidal (a tal).
Embora já estivesse à espera da morte do Prof. Paula Brito na medida em o colega Pedro Sarmento, que foi quem mais o acompanhou nos últimos anos, me telefonou a avisar, foi para mim um choque. Para além dos familiares próximos nunca a morte de uma pessoa me perturbou tanto. O Prof. Paula Brito será sempre para mim uma eterna referência e saudade.
Com a reserva que gosto de impor a mim mesmo acompanhei por breves momentos o velório e o funeral. Acabei profundamente incomodado ao ver uns burocratas pedantes, chegarem àquelas cerimónias que eram particulares, todos emproados, de viatura oficial e chofer.
Para além da ilegalidade da utilização em eventos privados de meios do Estado ou de organizações desportivas de utilidade pública, nem na hora da morte respeitaram alguém que, com a máxima competência, privilegiou a honestidade que preside sempre à simplicidade da vida. Aquelas tristes figuras só demonstraram que não aprenderam nada com o exemplo que foi a vida do Prof. Paula Brito.
Perante aquelas cenas do mais genuíno nacional parolismo, lembrei-me que o Prof. Paula Brito viveu a sua vida com simplicidade, mas, também, com um imenso humor. As suas atitudes, comentários e opiniões eram, geralmente, envolvidas num fino humor que, muitas vezes, os mais duros de espírito, como agora se comprovou, não tinham sequer capacidade para perceber. Por isso, esteja lá ele onde estiver, aqueles que ainda por cá andam e com ele privaram ao longo dos anos devem, como eu, estar a imaginar as piadas que, a propósito, o Prof. Paula Brito estaria a dizer ao ver aqueles olímpicos pimbas, a expensas do Estado ou de terceiras entidades, a chegarem às cerimónias do funeral de carro oficial e de chofer, inchados que nem uns sapos e sem a mínima consciência ético-moral dos seus tristes comportamentos.
Por ele sempre ter recusado qualquer homenagem ou cerimónia oficial relativamente a sua pessoa é, agora, tempo da FMH que, para o ano, comemora 80 anos, prestar uma justa homenagem ao Prof. Paula Brito. Uma homenagem que junte os seus amigos e colegas e dispense as nomenclaturas oficiais para as quais ele sempre olhou com um ar crítico e humorado."