segunda-feira, 21 de outubro de 2019

Estabilidade, precisa-se. Mas como?

"Aqueles que apertam o cerco a Frederico Varandas são sócios do Sporting, o clube não está a ser alvo de ataque externo

Alverca agudizou a crise sportinguista e as ameaças a Frederico Varandas, que teve de recorrer a protecção policial após um jogo de futsal no pavilhão João Rocha, elevaram a contestação a novo patamar, ainda mais explosivo. Fazendo um diagnóstico da situação, José Roquette apontou a estabilidade como única fórmula para ultrapassar o caminho das pedras que está a ser percorrido, e devolver a normalidade ao reino do leão. A razão, incontestada e incontestável, que assiste ao antigo presidente, embate, porém, frontalmente, numa realidade em que os contestatários de Frederico Varandas não querem saber de qualquer argumento racional, e aqueles que o têm defendido se encontraram cada vez mais desmotivados, fruto dos erros em série que têm sido cometidos, da banalização da troca de treinadores à construção, em cima do joelho, de um plantel que perdeu metade dos jogos oficiais que disputou, sem esquecer a falta de fluidez do presidente ao exprimir-se em público e a inépcia da comunicação institucional do Sporting. O próximo jogo, em casa, dos leões, com o Rosenborg, para a Liga Europa, deverá dar, novamente, palco de uma oposição formada pelas franjas mais radicais das claques, que viram o negócio definhar devido à acção corajosa da direcção de Frederico Varandas e pelos brunistas que sonham com o regresso do caudillo, uns e outros apostados apenas em potenciar uma política de terra queimada. Para Varandas - que tem a legitimidade de quem venceu eleições e quer cumprir o mandato - recuperar o controlo da situação, é imperioso que a equipa de futebol comece a somar resultados positivos, e num clube que chega a parecer ingovernável.
E que dizer do protesto dos leões, relativo a uma eventual utilização irregular de um jogador do Alverca na recente partida da Taça? Do ponto de vista formal, não haverá nada a obstar, cada clube tem o direito de defender os seus pontos de vista e os órgãos jurisdicionais da FPF são o sítio próprio. Mas, do ponto de vista do orgulho, para cada sportinguista deve ser uma dor de alma ver o seu clube recorrer à secretaria para ganhar ao Alverca, do terceiro escalão, o que foi perdido, sem espinhas, dentro das quatro linhas. Tudo fruto dos tempos de uma necessidade óbvia, mas... muito embaraçoso.

Ás
Gianluigi Buffon
Se não viu, veja. Procure no YouTube, puxe para trás a televisão, vá ao Google, mas não perca a extraordinária defesa de Buffon, no derradeiro suspiro do Juventus - Bolonha, a salvar os três pontos que a Vecchia Signora já via a fugirem borda fora. São momentos destes que fazem crescer os mitos e eternizam os heróis do futebol.

Ás
Vasco Matos
Depois de uma longa carreira (455 jogos) de futebolista, a decisão de enveredar pelo exigente ofício de treinador mostrou-se plenamente ajustada, porque não são muitos os que, liderando equipas do terceiro escalão, eliminaram um grande da Taça. Parabéns a Vasco Matos, aos seus jogadores e ao Alverca...

Duque
Jorge Silas
Deixou o nome ligado a uma das mais humilhantes derrotas da história do Sporting, numa noite de escolhas mais do que questionáveis e fraca inspiração. A partir de agora passa a patinar sobre gelo demasiado fino, susceptível de quebrar-se ao mais pequeno impacto. A vida de Silas no reino do leão complicou-se muito.

O inconfundível charme dos tomba-gigantes
«Há quem diga que é um milagre, mas é um conto de fadas. Venha quem vier, é um marco histórico na vida do clube....»
Dinis Delgado, presidente do Sintra FC
O goiano Élvis Fernandes, 28 anos, empilhador de caixas e paletes num armazém, virou herói em Sintra ao marcar dois golos ao V.Guimarães, numa surpresa, como só a Taça é capaz de proporcionar. Sete grandes eliminados (Sporting, Aves, Boavista, V. Guimarães, Portimonense, Tondela, Marítimo) e honras maiores a Alverca, Sintra FC, Chaves, Académica, Farense, Beira-Mar e Feirense!

O céu não quis esperar
Ao chamar a si Rui Jordão, a equipa do Céu ganhou um reforço de peso para disputar o campeonato da eternidade. Com os que partiram mais recentemente, que timaço: Bento, Damas na baliza; Artur, Alhinho, Bastos e Gilberto; Arnaldo e Coluna; Jordão, Eusébio, Yazalde e Vítor Baptista. Todos deixaram este mundo cedo de mais, mas a marca indelével de cada um permanece em nós. Rui Jordão, multifacetado artista dentro e fora das quatro linhas, fica na história como um dos mais extraordinários futebolistas, felino, letal e elegante. Descanse em paz.

Norte-Sul nas meias do Mundial de râguebi
Inglaterra - Nova Zelândia e Gales - África do Sul, hemisférios norte e sul frente a frente nas meias-finais do Mundial do Japão. Gales teve muita sorte no duelo com a França e a África do Sul acabou com o sonho japonês. Irlanda e Austrália não tiveram argumentos para Nova Zelândia e Inglaterra. Grandes espectáculos!"

José Manuel Delgado, in A Bola

Rui Manuel Trindade Jordão

"O bis ao Feyenoord; a estreia com o Chipre; os golos em Alvalade; as leis da física; o golo à URSS e os golos à França. Passou a ser eterno.

Estávamos a 22 de Março de 1972 quando deu o primeiro sinal de futuro brilhante: dois golos ao Feyenoord. Aos 31 e aos 87, como enguia, fugiu por entre holandeses e marcou dois golaços. Depois, festejou correndo, desenfreado, pelo relvado de braços erguidos ao céu e executando espécie de skipping alto. Nas bancadas da Luz, mais de 70 mil pessoas confirmavam aquilo que sabiam do último ano e meio: Rui era um jogadorzão.

Sete dias depois, a 29 de Março de 1972, estreou-o de quinas ao peito. O adversário era o fraquinho Chipre, mas a equipa portuguesa era quase uma constelação. Havia (ainda) Eusébio e (já) haviam Nené, Artur Jorge, Humberto Coelho, Jaime Graça, Peres, Dinis e Toni. Além, claro, de Manuel. Que fechou a goleada por 4-0. Ainda com 19 anos e já ele marcava pela Selecção. Depois, como sempre, festejou correndo, desenfreado, pelo relvado de braços erguidos ao céu e executando uma espécie de skipping alto.

Dois anos e dois dias depois, a 31 de Março de 1974, o Benfica foi a Alvalade bater o velho rival por histórico 5-3. Aí, deu nas vistas em dois lances fantásticos: pegando na bola a meio-campo e, numa mistura de dança, velocidade e talento, passou por todos os leões que lhe apareceram na frente. Talvez Vagner, talvez Nélson, talvez Alhinho. Depois, como humilde que era, Trindade ofereceu o golo a Nené, que quase se limitou a encostar para o 2-1 na baliza de Damas. Quase a abrir a segunda parte, lançaram-lhe a bola e ele correu. Correu, correu, correu e, à saída de Damas, deu subtil toque na bola e fez o 4-2. Depois, como sempre, festejou correndo, desenfreado, pelo relvado de braços erguidos ao céu e executando uma espécie de skipping alto.

Quase nove anos depois, a 30 de Janeiro de 1983, desafiou todas as leis da física. O Sporting - FC Porto terminou empatado (3-3) e o momento mais alto de todos os momentos altos, aconteceu ao minuto 36. A bola veio cruzada da esquerda, a meia altura, para a área portista. Talvez por Mário Jorge. Ou Oliveira, Ou Xavier. Era impossível marcar golo dali. Até porque Jordão estava a correr na direcção na bola e a baliza estava cada vez mais a ficar para trás. Como é possível estar a correr na direcção oposta da baliza e em busca do contacto com a bola e, mesmo assim, fazer golo? Impossível, claro está. Para muitos, menos para RMTJ. Correu da marca da pequena área, onde sabia que a bola iria cair, e depois, de repente, instintivo, marcou de calcanhar na baliza de Amaral. Fugiu de João Pinto. E de Simões. E de Eurico. E de Inácio. Depois, como sempre, festejou correndo, desenfreado, pelo relvado de braços erguidos ao céu e executando uma espécie de skipping alto.

Nove meses depois, a 14 de Novembro de 1983, num Portugal - União Soviética, ficou sozinho frente a Dassaev. Onze metros a separá-los e 100 mil a rezar na Luz. Pegou na bola, bateu-a três vezes na relva empapada e colocou-a na direita da baliza. Depois, como sempre festejou correndo, desenfreado, pelo relvado de braços erguidos ao céu e executando espécie de skipping alto. Fez o mesmo sete meses e nove dias depois, a 23 de Junho de 1984, num França - Portugal. No Stade s de Marselha perante Bats. E Domergue. E Battiston. E Bossis. Braços ao céu mais altos que nunca, espécie de skipping mais alto que nunca. A partir daí, deixou de haver dúvidas. Passou a ser conhecido pelo nome completo: Rui Manuel Trindade Jordão. Como Cristiano Ronaldo dos Santos Aveiro. Ou Eusébio da Silva Ferreira. Ou Luís Filipe Madeira Caeiro Figo. Ou Fernando ALbino de Sousa Chalana. Ou Paulo Jorge dos Santos Futre. Ou Mário Esteves Coluna.Ou Rui Manuel César Costa. Ou Manuel Galrrinho Bento. Ou António Simões Costa. Ou Hernâni Ferreira da Silva. Ou Vítor Manuel Afonso Damas de Oliveira. Ou João Manuel Vieira Pinto. Ou António Luís Alves Ribeiro Oliveira. Ou Feranndo Baptista de Seixas de Vasconcelos Peyroteo. Ou Tamagnini Manuel Gomes Baptista. Ou Fernando Mendes Soares Gomes. Ou Hilário da Conceição. Ou Sebastião Lucas da Fonseca. Ou José António Barreto Travassos."

Rogério Azevedo, in A Bola

Claques oficiais - a falsa realidade

"O anterior governo andou preocupado com a legalização das claques organizadas dos clubes de futebol. Não chegam a cinco mil registos, sendo que mais de três mil são do Sporting, mesmo de mil do FC Porto e o número marginal que resta deverá ser dividido por outras vinte e seis claques, o que dá mais ou menos a lotação de um autocarro por cada clube. A realidade oficial é tão obviamente falsa, que se torna inevitavelmente ridícula.
No entanto, o governo, ou seja, o actual governo, que é o da evolução na continuidade, deve preocupar-se, a sério, com o problema. Não apenas com o controlo da aplicação da lei, tornando-a, pelo menos, credível, mas com o problema maior da violência que algumas dessas claques geram na mais inadmissível das impunidades.
Um dos casos mais preocupantes é o do Sporting. É compreensível que as suas claques manifestam insatisfação pelos resultados desportivos da equipa de futebol profissional e que procurem responsabilizar os responsáveis máximos do clube, mas não é aceitável que ameacem constantemente a integridade física desses dirigentes, sem que esses actos sejam devidamente avaliados e punidos.
Quando um conjunto de juízes do Tribunal da Relação relativiza impropérios e ofensas morais entre protagonistas num jogo de futebol, considerando o mundo à parte, onde se consente a ilegalidade, abre, de par em par, as portas à violência e, concretamente, à impunidade da sistemática violência das claques. O que torna não só inútil, mas até desprezível a existência de uma Autoridade para a Prevenção e Combate à Violência no Desporto."

Vítor Serpa, in A Bola

Cadomblé do Vata (breve recordação!)

"A recente sapatada do Alverca no Sporting CP trouxe à memória colectiva dos Gloriosos fãs de futebol, a primeira vez que o SL Benfica se esparramou ao comprido contra uma equipa de escalão inferior, ou como se recordou naquela fatídica tarde, "o dia em que Gondomar deixou de ser só a metade final de uma gaffe do Valentim Loureiro". Aquele que na altura foi comentado pelos adeptos do SLB como "a sério que ainda não batemos no fundo, porra?", acabou por se tornar no melhor pior momento da nossa centenária História.
Quando Jesualdo Ferreira mandou o Benfica entrar em campo com Andrade (o que actualmente comanda a nossa equipa feminina e fala à imprensa com jeito de quem está sob influência de qualquer coisa) e Petit no meio campo para defrontar uma equipa da extinta 2ª B, antes de procurar recuperar no resultado com a entrada de Anderson, o Maior do Mundo vivia esculachado numa seca de títulos e auto estima sem precedentes. Vínhamos de um 6º e de um 4º lugar no campeonato e enfrentávamos pelo segundo ano consecutivo uma época sem competições europeias, ou como se dirá hoje de modo mais positivo, caminhávamos alegremente para 2 anos sem derrotas na Europa.
Foi neste cenário apocalíptico que Cílio Souza decidiu entrar no vocabulário colectivo do SLB e retirar-nos da modorra em que pasmávamos. O s'tor Jesualdo não resistiu ao desastre caseiro e após um curto interlúdio Chalanesco, arribou na costa gloriosa o castelhano Camacho, destinado a ensinar LFV a organizar um clube. Ao segundo jogo já entrava em Alvalade com o revolucionário esquema táctico 4-4-salir-a-ganar, guiou-nos de regresso à pré-eliminatória da Champions e ao fim de 1 ano levantou a Taça de Portugal no Jamor. Mas mais importante que tudo isto, deu a primeira estocada no Monstro Benfiquinha.

Nota: Por lapso não inclui de início o video especial do camachismo. Segue abaixo:

"

A política deve meter-se no futebol?

"O pedido de Francisco Varandas, presidente do Sporting, para que o Estado intervenha na questão das claques levanta uma velha questão: deve a política interferir no futebol? A resposta tem sido sempre "não" e, julgo, voltará a ser "não".
No mundo do futebol das claques morrem jovens (como aconteceu em 2017 a um adepto do Sporting assassinado em confrontos com adeptos do Benfica), espancam-se pessoas e ameaçam-se dirigentes. Esta é apenas uma faceta de um problema muito maior.
As claques são também um negócio de bilhetes, de viagens, de venda de produtos clubísticos. Mas há mais (como qualquer adepto de qualquer clube sabe, pois essa realidade passa à frente dos olhos de toda a gente), o mundo das claques é um mundo de tráfico de droga e de organização da violência.
O crime ou as práticas social e moralmente condenáveis no futebol vão muito para além das claques que, face a essa realidade, acabam por ser um mal menor.
A traficância de jogadores, a fuga ao fisco, o enriquecimento ilícito, os resultados combinados, a falsificação de jogos por causa das apostas e o pagamento de luvas para garantir a organização de grandes campeonatos são quase uma regra em todo o mundo do futebol, muito para além de Portugal, e já levaram à condenação recente por corrupção de um Presidente da FIFA e de um Presidente da UEFA.
Os nossos actuais dois maiores heróis desportivos do futebol, Cristiano Ronaldo e José Mourinho, foram apanhados em Espanha na fuga de milhões ao fisco; as contas dos clubes de futebol portugueses são estranhíssimas, nalguns casos nem as regras básicas de fairplay da UEFA cumpriram; e as transferências e cláusulas de rescisão, inflacionadas, praticadas nos negócios do futebol indiciam pagamentos de comissões e luvas de valores que deveriam ser investigados pela polícia.
Na verdade a questão de a política se meter no futebol é uma falácia: a política já se meteu há muitos anos no futebol, tal como o futebol se meteu muito cedo na política.
No fascismo, quando a oposição democrática acusava Salazar de usar o futebol como ópio para o povo, os êxitos do Benfica e da Selecção eram usados para glorificar o regime e até a possível transferência de Eusébio para Itália motivou uma intervenção política para a tentar impedir.
Na democracia, vários dirigentes desportivos usaram os seus clubes para entrar na política ou para influenciarem os seus negócios e, por outro lado, muitos políticos usaram o futebol para garantirem palco mediático que lhes desse a notoriedade que lhes faltava. Do antigo exemplo de Valentim Loureiro até ao mais recente caso de André Ventura não faltam casos de mistura de carreiras futebolísticas e políticas.
Depois não faltam políticos e juristas nos órgãos dirigentes dos clubes que servem de autênticos idiotas úteis que caucionam a vida duvidosa dos clubes, dando com o seu nome prestígio e respeito institucional ao que deveria ser criticado e, muitas vezes, investigado e levado à justiça.
E até no parlamento há deputados de todos os partidos associados por clubes.
Os intelectuais são também cúmplices da degradação dos mais básicos compromissos de civilidade no fenómeno futebolístico, ao desculparem ou ao relativizarem e tentarem diminuir o impacto do futebol no resto da sociedade, com a desculpa que a selvajaria é admitida por este ser um jogo de paixões, de emoções, de irracionalidade admitida - isto é o mesmo que aquelas leis que ainda no século XX vigoravam a não punir os maridos que matavam as mulheres por ciúmes: era precisamente a paixão e a irracionalidade accionada pela infidelidade conjugal que levava ao perdão de um assassinato.
Porque é normal ver nos estádios, não só jovens das claques, mas políticos, banqueiros, gestores, juristas, jornalistas a gritarem, desvairados, insultos aos árbitros?
E depois há os comentadores e jornalistas que fizeram carreira a trabalhar na análise política e que, fruto do seu prestígio pessoal, aceitam convites para comentarem futebol em defesa do clube do seu coração, contribuindo assim para o reforço de credibilização de um mundo moralmente degradado e que contagia a sociedade, no caso das claques, com hábitos de violência organizada que terão um dia, certamente, repercussão na vida política - são inúmeros os relatórios policiais e do SIS que, desde há anos, associam as claques de futebol à violência organizada por grupos de extrema-direita, racista e xenófoba.
O futebol contribui com 400 a 500 milhões de euros anuais para o PIB português, segundo uma estimativa de 2017. O futebol português é um valor económico que deve ser tratado com cuidado e, se possível, melhorado.
Mas a economia não é tudo no mundo e a infecção de violência e da corrupção com que o futebol contamina o resto da sociedade tem um custo muito mais elevado do que a contribuição económica que ele dá ao país - o futebol, se a política séria e a justiça com meios não actuarem, vai dar cabo, por contágio dos seus péssimos actos, de toda a sociedade.
O Estado não pode ser indiferente ao jogo, deve respeitar a liberdade dos clubes mas tem de impedir que a liberdade de todo o país seja afectada pela violência e pela corrupção do futebol.
O futebol não pode continuar a ser juiz em casa própria."

Segunda derrota?!!!

"O Sporting sempre primou pela vivência em realidades paralelas, defendendo coisas que nem a maioria dos seus adeptos acreditam. Depois da mirabolante luta pelos 22 campeonatos, lutam agora para eliminar na secretaria o Alverca, coisa que não conseguiram fazer em campo.
Desta vez, no entanto, nem o amigo Meirim os poderá ajudar. Os regulamentos são claros e objectivos e não deixam margem para dúvida. Artigo 40 do regulamento disciplinar da FPF:
“1. A sanção de suspensão por jogos oficiais aplicada a jogadores é cumprida na competição em que foi aplicada e no decurso da época desportiva em que a decisão que a aplicou se tornar executória."
A título de curiosidade Hugo Machado, jogador do Loures que foi expulso no mesmo lance que Luan com o Alverca (!), fez ontem 120 minutos frente ao Benfica de Castelo Branco e marcou 2 golos. Será que o Benfica de Castelo Branco vai protestar?
São inúmeros os casos nos últimos anos. Deixamos a dica ao Amora para protestar o jogo desta eliminatória com a Sanjoanense devido à expulsão do Bilu, por exemplo.
Para terminar, se a hipocrisia matasse não havia banco que os salvasse. Época 2016/2017, Sporting – Praiense para a Taça de Portugal. Breno tinha sido expulso na semana anterior é titular em Alvalade e o regulamento foi cumprido.
Desta vez não houve protesto. Porquê? Fica a pergunta."

Jordão era um dos que estavam lá quando tudo começou. E, na hora da sua morte, o futebol que ele quis esquecer lembrou-o como merecia

"Nas suas crónicas deliciosas, o saudoso Duda Guennes reservava um lugar especial para o Íbis Sport Clube, o “pior time do mundo”. Ao contrário dos grandes clubes do mundo, a lenda do Íbis alicerçava-se nas suas derrotas, contínuas, imparáveis. A perder, o clube de Pernambuco era imbatível. As suas vitórias eram fenómenos astronómicos, cometas que raramente visitavam o nosso planeta. Os seus desaires recorrentes valiam quase tanto como a Libertadores. Por muito que se esforce, nenhum clube poderá destronar o Íbis do título que alguns jornalistas espirituosos lhe outorgaram e que o Livro do Guiness ratificou. E se há um clube que se tem esforçado para suceder ao pequeno clube brasileiro é este Sporting de Varandas, Hugo Viana e, agora, sabe-se lá até quando, Silas.
O adversário entra em campo, olha para aqueles onze indivíduos com o mítico símbolo do leão rampante e esfrega as mãos de contente. Está na hora da paparoca. Um Alverca afundado no campeonato de Portugal (é o nosso terceiro escalão, para que não restem dúvidas) lança-se à jugular do tímido leão como gato a bofe, sente-se um Barcelona e os seus jogadores, mesmo que abençoados por algum talento, jogam com a confiança de craques eternos. Viram aquele golo de Apolinário? E o movimento soberbo num remate de bicicleta que o pobre Max defendeu por instinto para não levar com a bola na cara?
A sensação de que qualquer equipa pode disputar o jogo olhos nos olhos com o Sporting é terrível para os adeptos, mas não é melhor para os jogadores. Silas diz que quer um Sporting mandão, a dominar os jogos e a construir de trás, segundo a cartilha em vigor dos táticos modernos, que é a saída a três. É bonito que Silas confie na sua filosofia, mas tais requintes lembram um homem a morrer à fome que se queixa ao cozinheiro do tempero. Antes de mostrar as credenciais de gourmet, Silas tem de realizar a tarefa básica de alimentar a equipa. As ideias podem ser perfeitas no papel e, à partida, não é censurável a decisão de apostar nos jogadores com quem trabalhou nas últimas duas semanas, mas se estas ideias, executadas por estes jogadores, não chegam para ganhar a uma equipa da terceira divisão numa noite chuvosa em Alverca, a quem é que o Sporting poderá ganhar? Nem ao Íbis.
Rafa Castanheira, capitão do Alverca, falou curto e grosso no fim do jogo: “Não me venham com desculpas que eles estão numa má fase. Os jogadores que estão ali têm mais do que qualidade para nos ganhar.” A verdade é que não ganharam e nunca estiveram perto de o fazer. Assim que a bola chutada por Apolinário entrou na baliza do Sporting toda a gente sentiu que o destino estava traçado. E esse sentimento de impotência, de pavor de pesadelo, começa nos jogadores, cresce nas bancadas e termina simbolicamente no banco onde está sentado um treinador mudo por decreto.
Dá pena ver Silas naquele imobilismo regulamentar, naquele silêncio de secretaria, um silêncio de estátua nível III. Se a coisa fosse propositada teria uma certa grandeza. O hierático Silas seria como um capitão sensato e digno que, perante o naufrágio, reconhece que são fúteis os impropérios lançados aos vagalhões indómitos. Diz a Bíblia, em Provérbios 17:28, que até o tolo, quando se cala, é reputado por sábio. Confrontados com o silêncio voluntário do treinador os adeptos das tarjas e dos lenços brancos diriam: “ali mora um sábio.” Só que este silêncio não é voluntário. É uma imposição. 
Silas está proibido de falar. Não pode dar instruções para o campo. Está condenado a assistir à derrocada das suas ideias em silêncio. E não esboçou o mínimo gesto de protesto. Poderia tê-lo feito. Poderia ter arriscado uma multa, uma suspensão e gritado com os seus pupilos, prometendo-lhes sevícias e torturas escabrosas assim que o jogo terminasse. Não. A chuva caía e Silas manteve-se resguardado e impávido. Se, por um acaso bíblico, o estádio se tivesse afundado e a terra tivesse tragado jogadores e árbitros poupando apenas os bancos de suplentes, creio que Silas estaria lá até hoje, sem mexer uma palha, à espera que do quinto dos infernos se ouvisse um apito diabólico a dar por encerrada a partida.
Quando se diz que há demasiado ruído à volta do futebol ninguém está a pensar na necessidade de silenciar os treinadores. Um treinador mudo, um treinador-estátua, enquanto não se inventa uma forma telepática de comunicação, acaba por ser a personificação do descalabro impotente. Silêncio bom, inteligente, superior foi o de Rui Jordão, falecido na passada sexta-feira. Quando pendurou as chuteiras, cortou para sempre com o futebol e tornou-se pintor. Numa era em que existir se confunde com aparecer, foi comovente ver as reacções à morte de Jordão, como se ele tivesse deixado de jogar ontem, como se aqueles dois golos em Marselha tivessem sido marcados há minutos, como se tivesse abandonado o antigo Estádio de Alvalade há poucas horas, como se as suas derradeiras aparições naquela equipa do Vitória de Setúbal composta por velhas glórias e assinalada pelo mítica publicidade à Ariston estivessem mais vivas do que memórias mais recentes de outras estrelas.
Nem trinta anos de silêncio puderam apagar a elegância de Rui Jordão nos relvados. Aliás, a sua ausência deliberada reforçou a memória dos seus movimentos incomparáveis, dos seus festejos que também eles eram bailado. De todos os nomes de futebolistas que marcaram a minha infância – Romeu, Eurico, Shéu, Bastos Lopes, Bento, Damas, Gomes, Vermelhinho, Pietra – há dois que se destacam e que foram, por assim dizer, o início de tudo: Chalana e Jordão. Por acaso, ou não, os dois artífices dos golos contra a França na célebre meia-final do Velódrome. Sobre o avançado do Sporting, escreveu a jornalista Paula Caeiro Varela as palavras definitivas: “Eu nem sabia que ele se chamava Rui. Era o Jordão. E isso era tudo o que bastava. Não me lembro de outro jogador antes dele, todos os outros vieram depois.” Para a minha geração, Jordão era um dos que estavam lá quando tudo começou. Na hora da sua morte, o futebol que ele quis esquecer lembrou-o como merecia."

Sporting dividido em três

"De facto, ao despedir José Peseiro, primeiro, e ao dispensar Marcel Keizer, depois, Frederico Varandas criou a ideia de que a equipa podia fazer muito mais, só que estava mal orientada. Ou seja, enganou duas vezes os sócios. E ao prometer-lhes o que não era razoável, Varandas cavou a sua própria sepultura – estando agora a pagar as disparatadas expectativas que criou.

Neste momento, o Sporting não está dividido ao meio – está dividido em três.
De um lado, os apoiantes de Frederico Varandas, que são cada vez menos.
De outro lado, os apoiantes de Bruno de Carvalho.
Finalmente, os apoiantes dos candidatos derrotados, sobretudo João Benedito e José Maria Ricciardi, que são cada vez mais.
Diga-se que só os primeiros querem hoje que o Sporting ganhe; os outros fazem figas para que perca, para haver eleições ou para ficar claro que Bruno de Carvalho é que era bom.
Acontece que os apoiantes de Bruno de Carvalho deveriam estar calados. Por duas ordens de razões: porque foi ele que se suicidou, ao enveredar por um caminho sem saída, e porque é ele o principal responsável pelo estado a que o clube chegou. E não se vai levantar tão cedo. A nível emocional, a nível financeiro, a nível desportivo o Sporting está de rastos – e o descalabro foi sobretudo provocado por Bruno de Carvalho. Por isso, os seus apoiantes deviam ter hoje vergonha de aparecer à luz do dia. Deviam esconder-se.
Mas aqui começam as culpas de Frederico Varandas.
Tendo em conta o estado em que herdou o clube, o actual presidente devia ter exposto claramente a situação aos sócios e não dar-lhes a ilusão de que o Sporting estava bem e recomendava-se, a ponto de poder lutar pelo título de campeão.
De facto, ao despedir José Peseiro, primeiro, e ao dispensar Marcel Keizer, depois, Frederico Varandas criou a ideia de que a equipa podia fazer muito mais, só que estava mal orientada. Ou seja, enganou duas vezes os sócios. E ao prometer-lhes o que não era razoável, Varandas cavou a sua própria sepultura – estando agora a pagar as disparatadas expectativas que criou.
Quanto aos apoiantes de Benedito e Ricciardi, são apesar de tudo os que podem falar com mais à-vontade. Não lançaram o clube no caos nem foram responsáveis pelas más decisões deste último ano. Têm as mãos limpas.
E têm um futuro à frente, pois mais tarde ou mais cedo vai haver eleições, já que não é expectável que a equipa principal comece de um momento para o outro a ganhar tudo – e por cada derrota haverá mais lenços brancos em Alvalade. Assim, Benedito e Ricciardi terão em breve a oportunidade de se candidatar de novo.
Resta-me acrescentar que a sorte do Sporting é que ganhe o ex-banqueiro. Porque o momento é tão grave que não se compadece com boas vontades ou voluntarismos.
O Sporting vai lutar pela sobrevivência – e isso exige maturidade, personalidade forte e experiência da vida. Ora, nesse aspecto, o mais preparado é José Maria Ricciardi. Oxalá na altura em que Varandas cair ele ainda esteja interessado em pegar nos destinos do clube. Caso contrário, o futuro será negro."

Missão cumprida

"Na antevisão ao Cova da Piedade – Benfica, tínhamos vaticinado um Benfica focado e empenhado em fazer uma boa exibição para garantir a passagem à eliminatória seguinte da Taça de Portugal. Foi o que se passou na passada sexta-feira, com Bruno Lage a destacar a seriedade com que a nossa equipa abordou a partida ao longo dos noventa minutos.
Todos conhecemos as habituais dificuldades sentidas após as paragens para os compromissos das selecções e o nosso histórico recente frente a clubes de escalões inferiores na fase mais prematura desta competição (Montalegre, 1.º Dezembro, Real Massamá, entre outros, já para não referir a eliminação de sete primodivisionários nesta ronda, todos por clubes de escalões inferiores).
A nossa equipa fez o que lhe competia, contrariando a tendência dos últimos anos, e obtendo, assim, uma vitória confortável, marcando quatro golos e não permitindo sequer oportunidades de golo ao adversário. Foi uma vitória justa que, não obstante a facilidade, em teoria, da partida, deixou indicações positivas.
A rotatividade no onze promovida por Bruno Lage não afectou o rendimento ofensivo, nem a solidez defensiva da equipa. Houve vários jogadores, entre os menos utilizados, a terem a possibilidade de adquirir ritmo competitivo (destaque para regresso, após lesão, de Florentino). A destacar, também, a dinâmica ofensiva que permitiu a criação de muitas oportunidades de golo. E a veia goleadora de Pizzi e Vinícius (o primeiro já chegou aos dez golos esta temporada, o seu máximo numa época é quinze).
Mas houve muito Benfica neste fim de semana, com vitórias de todas as nossas equipas principais das modalidades de pavilhão e, também, dos vários escalões de formação de futebol (exceptuando os juniores que, com excesso de pontaria aos postes, empataram com o Sporting em Alcochete 2-2). 
Aconteceu também um marco histórico no futebol feminino português. A vitória concludente, por 3-0, frente ao Sporting no estádio da Luz foi presenciada por 12812 espectadores, estabelecendo o recorde de assistências em competições oficiais.
A vertente feminina do futebol está em franco desenvolvimento em Portugal e o Benfica está, como não poderia deixar de estar, na linha da frente desse percurso ascendente e irreversível que a todos nos deve motivar e orgulhar."

31 de Junho !!!

"Seguem animados os dias do Sporting. Parece uma competição a ver quem prejudica mais o clube, e vão todos empatados em 1.º lugar. Não se salva ninguém: dirigentes, treinador, jogadores, departamento jurídico, adeptos, claques... Reparemos nesta sequência:
1. Silas, que precisa de tempo para implementar as suas ideias, manda antecipar o jogo com o Alverca.
2. Em vez de aproveitar o jogo para rotinar a equipa nas novas dinâmicas em ritmo competitivo, apresenta um onze de segundas linhas.
3. A equipa é eliminada com estrondo da Taça de Portugal, por 2 golos de diferença, frente a um clube do Campeonato de Portugal.
4. Silas acaba a mandar bocas ao melhor jogador, que jogou como quis e cagou no que era suposto ter feito, abrindo desde logo um foco de tensão que não pode resultar em coisa boa.
5. Os adeptos aumentam a contestação, há escaramuças em Alverca.
6. Como se não bastasse a derrota no campo, a direcção de Varandas tenta ganhar o jogo pateticamente na secretaria, contestando a utilização de um jogador do Alverca, baseando-se num regulamento que... não diz respeito à Taça de Portugal.
7. Numa partida de futsal, as claques presentes no Pavilhão João Rocha alheiam-se do jogo para invectivarem Varandas. Há relatos de invasão da tribuna, agressões, vandalismo do automóvel de um dirigente e reforço policial. Varandas sai escoltado do recinto.
8. O Alverca reage à queixa do Sporting com humor e superioridade, sublinhando o amadorismo de quem lavra o protesto.
9. Depois do sururu no pavilhão, o clube anuncia o rompimento do protocolo com as claques, num comunicado que repete o amadorismo de comunicados anteriores, inventando o dia 31 de Junho do calendário varandiano.
10. Claqueiros não se conformam com a perda dos privilégios e prometem, nas redes sociais, tornar a vida de Varandas um inferno. Nós terminamos esta sequência no ponto 10. O clube deve terminar, profetizamos nós, aí pelo 31."

A festa da Taça

"O Benfica encarou o jogo frente ao Cova da Piedade com a humildade necessária

1. A festa da Taça já determinou, até ao momento em que escrevo, a eliminação de cinco equipas da primeira Liga. Com estrondo foram afastados o Sporting e o Vitória de Guimarães. E por duas equipas, e dois clubes, que me dizem algo. O Alverca que há largos anos acompanhei em termos jurídicos e o Sintra Football que vi nascer e que tem subido, num ápice, nos diferentes escalões do nosso futebol. E ambos com direcções dinâmicas e apaixonadas e o Alverca com uma SAD que claramente quer apostar forte em termos de futebol português. Depois Farense, Académica e Feirense eliminaram Aves, Portimonense e Tondela o que evidencia uma competitividade crescente entre a primeira e a segunda liga e, diria, um equilíbrio que reflecte uma mudança de paradigma no nosso futebol. O Benfica encarou o jogo frente ao Cova da Piedade com a humildade necessária e mostrou que tem todas as condições para entrar, com confiança, no primeiro ciclo infernal de jogos que irá até aos primeiros dias de Novembro. Para já terá a final frente ao Lyon. Jogo decisivo para as legítimas aspirações europeias da equipa liderada por Bruno Lage. E tal como o Benfica a próxima semana terá que ser uma semana em que Portugal entre na Europa. Pelo menos em termos de futebol. Aqui tem de haver um Portugal in! Já que em termos britânicos o Brexit é mar de incertezas!

2. Esta terceira eliminatória da Taça de Portugal arrancou, com terrível estrondo, na quinta-feira em Alverca e termina hoje em Matosinhos no princípio da noite deste domingo. Terá nove jogos objecto de transmissão televisiva o que representa uma verdadeira revolução. Quatro foram repartidos pela RTP e pela Sport TV e os outros cinco, tal como já ocorrera na anterior eliminatória, foram (ou serão) objecto de transmissão pelo novo Canal 11, o canal da Federação Portuguesa de Futebol. E neste domingo, logo de manhã, teremos o Águias de Moradal - Vitória de Setúbal e no final da tarde o saudado Beira-Mar - Marítimo e o referenciado Leixões a defrontar o Praiense. Ou seja o 11, canal, vai ao distrito de Castelo Branco, a Oleiros, em rigor ao complexo do Ventoso - no Estreito - para levar a todos a prova rainha do futebol português. Como tinha estado na segunda eliminatória na pitoresca Rabo de Peixe, ali em São Miguel, para nos proporcionar uma disputada partida, onde o Académico de Viseu ganhou com dificuldade. Constatamos, assim, que a realidade televisiva está a mudar. Melhor se está a modificar como decerto o presidente Fernando Gomes teve oportunidade de referenciar se saúda - com os principais clubes portugueses. Além da competitividade do nosso futebol a questão da centralização dos direitos televisivos estará, de novo, na ordem do dia. E nas vésperas da apresentação das linhas programáticas do novo Governo e na antevéspera de uma reformulação europeia das competições de clubes com inevitáveis consequências nos respectivos exclusivos televisivos. O certo é que hoje só há Taça de Portugal no canal 11. Os quatro grandes já jogaram e, aí a RTP - para o ano a TVI! - e a Sport TV já transmitiram os respectivos jogos.

3. Na passada segunda-feira assisti, ao vivo, ao Ucrânia - Portugal. Graças à simpatia e à fraternidade do Arunas Pukelis, também vice-presidente da Federação de Futebol da Lituânia, e na companhia envolvente e sempre inspiradora do Bruno, do Pedro e do Paulo, e rodeado de apaixonados ucranianos, vibrei com o golo 700 de Cristiano Ronaldo e sofri com a derrota de Portugal. Mas percebi, desde a manhã desse dia, que seria um dia especial para a Ucrânia. A capital respirava festa e as bancadas amarelas e azuis eram milhares. Era feriado, decerto. E percebi, assim, informando-me, que era o Dia do Defensor da Ucrânia e que só é comemorado, por razões óbvias, desde 2015. O sentimento de patriotismo sentia-se em cada fila das bancadas. E percorria todo o estádio, totalmente esgotado. Os militares, através de altas patentes, estavam representados na primeira fila da tribuna presidencial. E percebemos que há, aqui, uma guerra entre a Ucrânia e a Rússia. Assumida e não ignorada. Há uma guerra que atingiu directamente mais de um milhão de pessoas e a Ucrânia sabe que é um estrangeiro próximo para a Rússia e um território que a União Europeia e a NATO não querem - não podem! - abandonar. A festa no final do jogo, com o apuramento directo da Ucrânia para o europeu de 2020, e logo com uma vitória face ao campeão europeu em título. Portugal, foi imensa e intensa. Houve fogo de artifício e um concerto no estádio de um dos cantores do momento da Ucrânia! Aquilo que os responsáveis ucranianos consideravam quase que impossível concretizou-se: a vitória e o justo apuramento. E tudo aconteceu nesse Dia do Defensor da Ucrânia. E, aqui, a palavra patriotismo é a palavra certa. Nós, aqui neste rectângulo onde o ponto mais ocidental do continente europeu (Cabo da Roca), não sentimos - e muitos não percebem e não entendem - este patriotismo que percorre alguns Estados da grande Europa. Foi graças ao futebol que, para além dos livros e das leituras, senti, antes na Lituânia e agora na Ucrânia, o sentimento profundo de Pátria. E nela está a bandeira e o hino, a língua a também a moeda, os símbolos e as referências. E devo, daqui, um agradecimento penhorado ao Arunas Pukelis, e à sua família. Na certeza que em meados de Novembro lhes proporcionaremos a possível retribuição. Nós que somos a marca da primeira vaga de globalização que o Mundo conheceu! E que no futebol estamos no topo!

4. Sabemos todos que a vida é variedade. Como também a vida é um viajante. Esta semana deixou-nos o Senhor Rui Jordão. Vibrei com ele, e muito, no Benfica e sofri com ele envergando a camisola do Sporting. Aqui com uns colegas marcantes como António Oliveira e Manuel Fernandes. E num tempo em que Yazalde era uma referência em Alvalade. A gazela africana, de Benguela, acompanhou a minha transição do Colégio Militar para a Faculdade de Direito. Recordo um Sporting - Benfica - em Março de 1974 - com uma saborosa vitória do Benfica liderado por Fernando Cabrita por cinco a três com golos de Nené(2); Humberto, Vítor Martins e Jordão! E uma equipa onde estavam Toni e Simões, José Henrique e Diamantino, Vítor Baptista e Artur, entre outros. Ele que jogou, ainda, com Artur Jorge e Jaime Graça e que era de uma simpatia pessoal cativante. Como alguns dos seus quadros bem evidenciam. Já que cá ficam e neles está o seu traço e as suas cores, a sua vivência e os seus sentimentos. Que a sua pintura retrata e bem expressa. Mas jamais esquecerei aquela meia-final do Europeu de 1984 contra a França, que vivi ao vivo, e os seus golos, o prolongamento... e o golo que nos afastou da final... de Platini. Rui Jordão merece que aqui recordemos José Marti: «A morte é uma vitória, e quando se viveu bem o caixão é um arco do triunfo»!

5. Ontem no Estádio da Luz, um estádio emblemático, disputou-se um Benfica - Sporting em futebol feminino. Acredito que o mau tempo afastou muitos adeptos. Mas o que sabemos é que assistiram à justa e merecida vitória das benfiquistas 12.812 espectadores, ou seja, um recorde em Portugal no que concerne a jogos oficiais de futebol feminino. E na televisão, no referenciado Canal 11, foram decerto centenas de milhares a vibrar com o jogo e as suas incidências. Para alegria, merecida, da estrutura da Federação e da direcção do canal, e logo, do Tiago Craveiro e do Nuno Santos. Por mim a partir do sempre acolhedor e cativante Montebello Vista Alegre - que merece sempre uma nova visita e uma farta degustação! - fica a nota que o futebol feminino está a conquistar, a passos largos, novos e novas adeptas."

Fernando Seara, in A Bola

De vergonha em vergonha?

"O FC Porto não facilitou e despachou o Coimbrões, fazendo aquilo que um grande deve fazer quando defronta equipas que lhe são tão inferiores: entrou a todo o gás, resolveu nos primeiros 15 minutos e depois geriu. Juntou-se assim, o dragão, a Benfica e SC Braga na próxima ronda da Taça de Portugal, de onde caiu, com estrondo, o Sporting. Ou não? Soube-se ontem que pode, afinal, não ser bem assim. Terá encontrado o departamento jurídico dos leões uma nesga de esperança numa suposta utilização irregular de Luan, médio do Alverca que tinha sido expulso no jogo anterior, a contar para o Campeonato de Portugal. Haverá, é certo, adeptos do Sporting que se sentirão mais envergonhados por estar a Direcção a tentar ganhar na secretaria o que vergonhosamente perdeu no campo. Mas enfim, há regulamentos e, se o Sporting entende que não foram cumpridos e que por isso foi prejudicado, pode protestar, esteja do outro lado o Alverca ou o Benfica. A questão que se coloca, apresentada que foi a queixa, é se tem plena certeza Frederico Varandas (ninguém avançaria sem a sua autorização) que pode ganhar. Porque, convenhamos, se não lhe for dada razão, esta derrota na secretaria será ainda mais humilhante do que aquela que a equipa de futebol sofreu no relvado em Alverca...

PS - As claques leoninas voltaram ontem a manifestar-se contra Varandas, numa estratégia de guerra aberta que visa aproveitar o momento frágil do presidente. As razões para este ambiente são conhecidas. Espera-se, para o bem do Sporting e de todos os outros clubes, que, se tiver de cair, Varandas não caia por causa das claques..."

Ricardo Quaresma, in A Bola

O Funambulismo

"Em certas modalidades, em vez de se cronometrar a velocidade deveria cronometrar-se a lentidão

Marcha bem acima do solo
1. Leio que o «maior funâmbulo do século XIX foi Jean François Gravelet (1824-1897) que atravessou as cataratas de Niágara numa corda de 76mm». 76mm mal dá para pousar a parte de trás do pé. Trata-se, portanto, de colocar todo o peso em setenta e seis milímetros de solo pouco sólido, a corda. Porém, não pode ser, na verdade, todo o peso sobre a corda pois assim o funâmbulo cai. O peso tem de ser distribuído, mas de uma forma louca, demente: parte do peso cai sobre aqueles 76 milímetros, a outra pare do peso do corpo é dirigida para o ar, para o espaço vazio. Como é que o ar suporta peso? não sabemos. Como é que o espaço vazio, o velho ar não de deixa cair, a um sujeito que não é um pássaro? também não sabemos. Mas sim, é isso: uma corda de 76mm para Jean Gravelet, mais conhecido como Charles Blondin.
A corda, especifica ainda o livro dos recordes do Guiness, tinha 335 metros de comprimento.
Pois bem, não é corrida de cem metros, nem sequer uma corrida de velocidade de 335 metros porque as velocidades do funâmbulo, que esta 48,75 metros acima do nível das águas, ou melhor, a 48 metros acima do solo duro, não podem ser as mesmas de um velocista. Trata-se de uma corrida lenta. Uma marcha, uma marcha lenta.

Corridas de lentidão
2. Em certas modalidades em vez de se cronometrar a velocidade deveria registar-se a lentidão. E sim, há certas sujeitos, certos atletas, certos jogadores de futebol tão lentos que não fazem corridas de velocidade, mas sim de lentidão. De qualquer maneira, não vamos dizer os nomes.
Na verdade, é curioso pensar-se nisso: o mesmo instrumento, o cronómetro, mede e contabilidade a velocidade e a lentidão. O que é quase inaceitável, diz Jonathan, um amigo. Deveria existir um cronómetro para medir a rapidez e um outro aparelho completamente diferente para medir a lentidão. Por exemplo, uma ampulheta já é um instrumento mais apropriado para medir a lentidão.
A corrida de certas atletas seria contabilizada pelo cronómetro, enquanto a de outros atletas mais lentos seria registada pela ampulheta, eis uma proposta. Ou mesmo, no limite, para os muito, muitíssimo, lentos, as suas corridas seriam medidas pela luz do sol. A velocidade do sol basta para os muitos lentos.
Sol: uma espécie de cronómetro antigo que funciona sempre, não avaria; cronómetro sem motor e sem uma precisão por aí além, mas sol é sol.

O recorde de Baldwin
3. Pois, mas voltemos a essa corrida lenta, o funambulismo: andar em cima de uma corda muitos metros acima do solo é uma corrida, ou marcha, que quer ao mesmo tempo percorrer 335 metros de comprimento e não cair. E de facto é isto: uma corrida que quer evitar a queda passa a ser mais mental do que física. Não acelerar mais do que um limite perigoso, tal exige uma concentração absoluta.
Um dos mais velhos funambulistas, talvez o mais velho, foi um tal de William Ivy Baldwin (1866-1953) «que atravessou South Boulder Canyon, Colorado, USA, num arame com 97,5 metros de extensão, sobre um abismo de cerca de 381 metros» no preciso dia do sei 82.º aniversário: 31 de Julho 1948. Uma notícia que impressiona. E uma idade que impressiona ainda mais.

Envelhecer em cima do solo
4. - É curioso pensar nisto - diz o meu amigo Jonathan - à medida que se vai envelhecendo o andar diminui de velocidade e, no limite, o solo torna-se semelhante a uma corda colocada bem acima do chão. O solo parece que fica mais alto e a queda mais perigosa. O muito idoso caminha no solo parecendo que vai cair; corre um certo perigo e por isso transforma-se, de certa maneira, num funâmbulo sobre o solo, um funâmbuo rodeado de chão por todos os lados. E sim, em redor do idoso muito vagaroso, há perigo, o perigo da queda.
Para todos nós, a vida um pouco isto: envelhecer é semelhante a uma aprendizagem de funâmbulo: aprende a andar com cautela, senhor e senhorita, como se o solo fosse uma corda estreita.
Eis o envelhecimento: a arte do funâmbulo."

Gonçalo M. Tavares, in A Bola

Senhor Jordão

"Caro Rui Jordão (aliás, Sr. Jordão).
Ao ouvir a notícia da sua mort, as primeiras ideias que me apanharam foi a da sua imortalidade e a de poder dizer o que Galeano disse de Muller sendo uma coisa a razão de outra:
- ... disfarçado de avozinha, ocultos os caninos e as garras, sem que, às vezes, alguém desse por isso, deslizava, lobo mau, até à grande área, diante das balizas lambia os beiços, a rede era a renda de noiva de uma menina irresistível - e, liberto do disfarce, lançava a mordida...
Estranho (ou não) logo se soltou, de dentro da minha cabeça, voz a lembrar-me gente que julgava mais marcante do que você (no futebol português):
- Do Ronaldo e do Eusébio, do Figo e do Chalana, do Futre ou do Deco nem é preciso falar...
e, como se me atordoasse com o rol, foi atirando, no seu clamor, ao rodopio:
- ... e ainda há o Artur José Pereira e o Pinga, o Peyroteo e o Travassos, o Águas e o Matateu, o Coluna e o José Augusto, o Hilário e o Simões, o Alves e o Humberto, o Oliveira e o Bento, o Nené e o Gomes, o João Pinto e o Vítor Baía, o Paulo Sousa e o Rui Barros, o Couto e o Rui Costa, o João Vieira Pinto e o Pauleta, o...
Não, não lhe permiti mais, perguntei-lhe apenas (a essa voz vinda do fundo menos emocional de mim) se se esquecera do Woody Allen ter dito, certa vez:
- Eu não quero alcançar a imortalidade através da minha obra, eu quero tornar-me imortal sem ter de morrer...
e rematei a questão como você rematava a bola que lhe chegava aos pés em flor e de lá saia em fogo nunca fátuo, exclamando-lhe (a essa voz vinda do fundo menos emocional de mim):
- Nesse meu recanto em que o coração tem razões que a razão pode não compreender (ou não querer compreender) Jordão já vivia imortal sem ter de morrer. E assim continuará, por lá, sem que eu esteja interessado em descobrir, caro Rui Jordão (aliás, Sr. Jordão), em que número ou que escala você está nessa imortalidade - a jogar eterno em mim como Galeano pôs Muller na sua poesia."

António Simões, in A Bola

Lei da Segurança no Desporto (II)

"A semana passada demos conta de algumas novidades trazidas pela Lei n.º 113/2019, que procede a alterações ao regime jurídico da segurança e combate ao racismo, à xenofobia e à intolerância nos espectáculos desportivos. Uma das principais novidades é a introdução do artigo 16.º - A, que institui a criação de zonas com condições especiais de acesso e permanência de adeptos.
Diz o artigo que nos recintos onde se realizam espectáculos desportivos integrados nas competições desportivas de natureza profissional considerados de risco elevado, são criadas zonas com condições especiais de acesso e permanência nas zonas referidas são reservados apenas aos adeptos detentores de título de ingresso válido e do cartão de acesso a zona com condições especiais de acesso e permanência de adeptos. Estas zonas especiais devem ter entrada exclusiva, não permitindo fisicamente a passagem dos espectadores para outras zonas e sectores, e garantir o acesso a instalações sanitárias e serviços de bar.
A utilização de megafones e instrumentos productores de ruídos, bem como de bandeiras, faixas, tarjas e acessórios, de dimensão superior a 1m por 1m, é permitida nas zonas com condições especiais de acesso e permanência de adeptos, sendo que a utilização destes materiais é sujeita a aprovação conjunta por parte do promotor do espectáculo desportivo e das forças de segurança e serviços de emergência.
O incumprimento destas regras implica, para o promotor do espectáculo desportivo, a realização de espectáculos desportivos à porta fechada, sanção a aplicar pela Autoridade para a Prevenção da Violência no Desporto."

Marta Vieira da Cruz, in A Bola

Normalíssimo...!!!


PS1: E só não ganhamos em Juniores, no relvado de Alkacete, (2-2), porque enviámos três bolas aos ferros, e a Lagartada marcou um golo metros em fora-de-jogo!!!

PS2: Destaco também a vitória do Rugby sobre o Técnico...!!!