quinta-feira, 17 de outubro de 2019

Ferro 2024

Renovação, por mais um ano, provavelmente com actualização salarial, já que a cláusula de rescisão já era alta e vai manter-se...

Já 'existe' uma teoria, de que o mau momento desportivo da equipa principal do Benfica, deve-se ao facto de praticamente todos os jogadores terem renovado o contrato, e assim estarem 'seguros' até 2024... e portanto não ser necessário 'suar' para a 'renovação'!!! Pessoalmente, acho que não faz muito sentido, porque alem da ambição normal de ganhar tudo que a pressão do Manto Sagrado provoca, existe sempre a possibilidade de novas renovações...!!!

O Ferro fez alguns jogos 'estranhos', na minha opinião está a precisar do regresso do Tino... mas o potencial está lá!!!

Cadomblé do Vata (Finanças, Feminismos, Jejuns e Salvadores da Treta!!!)

"1. Saiu o R&C da FC Porto SAD e ficou tudo chocado com o valor dos prémios monetários do Conselho de Administração... já há quem diga que são o segundo Conselho mais bem pago pelos azuis e brancos, logo a seguir ao Conselho de Arbitragem.
2. Disputa-se este fim de semana na Catedral da Luz o primeiro derby de futebol feminino e é esperada uma enchente de Gloriosos adeptos... pede-se é o favor aos No Name Boys de não cantarem a "1904 lalala... 1904 lalala", porque ouvida ao longe pode parecer "metam-nas de 4 lalala... metam-nas de 4 lalala" e daí até arranjarmos problemas com os puritanos de serviço, é um pequeno passo.
3. Ontem no A Bola dava-se destaque ao golo de Seferovic pela Suiça na terça-feira, afirmando que o avançado do SLB tinha "colocado termo a longo jejum, porque não marcava pela selecção desde Novembro de 2018"... claro que isto dito assim, nem parece que foram só 4 jogos sem molhar a sopa. 
4. Rui Santos insiste que a solução para os problemas do SL Benfica na Liga dos Campeões, será a contratação de Jorge Jesus... nada como contratar um treinador que passou 1 vez da fase de grupos e ficou 2 vezes em último em 7 participações na Liga Milionária, para resolver o drama de uma equipa que nos últimos 4 anos só atingiu 2 vezes as fases a eliminar da competição.
5. Através da Holdimo, Álvaro Sobrinho reprova a reestruturação financeira do Sporting CP que contempla perdão de dívida do Novo Banco... confesso que entendo a posição dele: eu também não gosto de ver o Sporting CP a ser goleado... é o chamado síndrome "parem lá com isso, porque essa puta é minha"."

Reforço da ‘pole position’

"No último ano, Luís Filipe Vieira renovou contratos com mais de uma dezena de jogadores, garantindo estabilidade no plantel e força negocial a médio prazo. Com mais três de uma vez (Ferro, Grimaldo e Jota), o Benfica garante que nenhum dos jogadores jovens do núcleo duro fica com um vínculo a expirar antes de 2023.
O último Relatório e Contas da SAD encarnada mostrou um aumento de 29 milhões de euros em custos com o pessoal, quase 59 por cento do total de gastos (um rácio muito idêntico ao do exercício anterior). É o preço a pagar por esta estratégia. Mas vale sempre recordar uma pergunta algumas vezes feitas por Bruno Lage: quanto custaria contratar futebolistas de valor semelhante? Seguramente muito mais.
Olhando para a realidade dos rivais no futebol português, o Benfica tem cada vez mais a faca e o queijo na mão. Sem os apertos financeiros que se vivem em Alvalade e no Dragão, com maior capacidade de gerar receitas ordinárias e uma gestão desportiva forte na manutenção dos principais activos, o clube da Luz vai aumentando a vantagem na ‘pole position’ em Portugal. Mas num Mundo cada vez mais global, os encarnados precisam de dar um passo firme para lá de Badajoz; porque ser o maior em Portugal não é sinónimo de estar entre os maiores."

Se imaginasse a inveja que tenho de si

"Lembro-me de um dia, no quarto do meio de casa dos meus avós, devia ter uns três anos, ter perguntado ao meu pai qual era o melhor clube. Ele respondeu-me e esse passou a ser o meu clube. 
Enquanto soube o que era gostar de um clube, fui sempre um apaixonado por aquelas cores.
Depois veio o jornalismo, e tudo mudou.
O jornalismo é um assassino. Come-nos o coração. É um romanticida. O jornalismo mata-nos o amor pelo Benfica, pelo FC Porto ou pelo Sporting. Mata-nos a vertigem da paixão.
Uma pessoa entra no jornalismo e acontece-lhe mais ou menos como a Teixeira de Pascoaes, quando viu uma inglesa por quem se apaixonou. Meteu-se num barco para ir atrás dela, mas quando chegou a Inglaterra e conversou com ela a primeira vez percebeu que a paixão tinha morrido.
Quando se vê passar o futebol, fica-se apanhadinho de todo. É amor à primeira vista. Depois entra-se no jornalismo, conversa-se com o futebol, tem-se a primeira chatice, a segunda e a terceira, percebe-se que as pessoas são menos simpáticas do que pareciam, menos prestáveis e menos divertidas, vê-se os adeptos sempre zangados com os jornalistas, e a paixão morre também.
Acredite, leitor. É verdade.
Por isso hoje já tenho dificuldade em lembrar-me do que era ser adepto, do que era sofrer por um clube, do que era ficar entusiasmado com as vitórias e desiludido com as derrotas.
O que para um pai, é terrível.
Antes de ser jornalistas, eu sou pai. Gostava por isso de um dia dizer aos meus filhos qual é o melhor clube do mundo. Gostava de os poder levar à bola, de comungar com eles a mesma paixão, de construir num estádio algumas das melhores memórias que um pai pode ter ao lado de um filho.
Um campo de futebol é um campo fértil. Sem muito esforço crescem sentimentos bons, como o afecto, o fascínio e a emoção.
Há amizade e há partilha. Há comunhão, há identidade, há humanismo. Há camaradagem. Há solidariedade e fraternidade. Há empatia. 
Num campo de futebol há lágrimas e abraços sem fim.
Infelizmente eu já não vou ao futebol sem ser em trabalho. E mesmo que fosse, não ia valer a pena. Ia estar o tempo todo à procura de um ângulo para um artigo, a tentar racionalizar o jogo.
Ora o amor por um clube não é racional, bem longe disso. É até bastante irracional. Visceral e violento. O amor por um clube não se explica: vive-se à flor da pele.
Eu já não sei o que isso é, mas sei que dificilmente o vou viver ao lado do meu filho.
Se o leitor imaginasse a inveja que tenho de si."

Racismo, política, tribunais, futebol e os viveiros de estupidez humana

"Por definição (bem redutora, diga-se), racismo é o preconceito e/ou a discriminação de (alegadas) diferenças biológicas entre povos.
Política é a arte ou ciência da organização, direcção e administração de Estados ou nações. Tribunais são os órgãos a quem compete a resolução de litígios, cujas decisões têm eficácia de coisa julgada. E futebol, bem... futebol é futebol.
Não precisa de apresentações, porque o seu conceito confunde-se com o nosso. Está entranhado em nós. Nasce connosco. Estas são quatro realidades aparentemente distintas mas que, nos últimos tempos, insistem em cruzar-se. Perigosamente. Vertiginosamente.
O problema não está no conceito que cada uma encerra, em si. Não está naquilo que cada uma representa. O problema está, como sempre, nas pessoas.
Nas pessoas que são racistas e em algumas pessoas que estão na política, que têm poder nos tribunais e que fazem parte do futebol. A pausa (longa, aborrecida e, aos olhos de todos, desnecessária) dos campeonatos despertou o nosso foco para outras realidades. Para realidades que nos devem fazer pensar e que nos devem levar a agir.
Comecemos intra-muros.
Como já foi noticiado, a 9.ª Secção de Juízes do Tribunal da Relação de Lisboa emitiu um acórdão onde se lê, com todas as letras, que o futebol é um espécie de lugar de excepção no que diz respeito a ofensas, injúrias e difamação.
"No contexto futebolístico (...) são absolutamente incapazes de pôr em causa o carácter, a reputação e o bom-nome do visado".
Esta foi uma das muitas justificações que os senhores juízes encontraram para justificar as palavras ordinárias que um delegado de uma equipa disse ao treinador de outra: "Vai prá barraca, vai mas é pró car... seu filho da put...".
Com esta decisão (sublinhe-se, em sede de recurso), ficámos a saber algo muito importante: a partir de agora e desde que se esteja dentro de um estádio, qualquer agressão verbal é lícita.
Podemos ofender adeptos, árbitros, treinadores, presidentes de clubes, jogadores, polícias, políticos, juristas e, claro... magistrados.
Esta é a conclusão clara e inequívoca do referido acórdão sobre o que é permitido dizer-se no futebol. No mesmo futebol que tem obrigação de ser uma referência ética e uma escola de valores para os mais novos. No mesmo futebol que conta com a luta permanente de gente boa para passar mensagem oposta.
Artigo 181' do Código Penal, que prevê pena de prisão até 3 meses ou de multa até 120 dias?!? Naaa... esqueçam lá isso. Lá dentro há plafond. Descoberto Autorizado. Como disse alguém... é uma espécie de offshore.
Estejamos atentos ao precedente.
Mas se cá dentro estas limitações são uma constante que a poucos surpreende, lá fora há grunhos que não ficam atrás.
Só na última semana, houve jogos interrompidos devido à presença de drones não autorizados (aconteceu no Dudelange/Qaarabag da Liga Europa, quando o referido objecto pairou sobre o relvado, com uma bandeira da Arménia pendurada, enfurecendo os jogadores azeris); houve também jogadores a fazer saudações militares quando festejavam os golos da sua selecção (alguns atletas da Turquia mostraram assim o seu apoio à invasão unilateral que Erdogan ordenou ao norte da Síria); e houve ainda uma série de vândalos búlgaros que passou todo o tempo a fazer saudações nazis e a entoar cânticos racistas na direcção de vários jogadores ingleses que, no relvado, faziam (e bem, seis vezes bem) o seu trabalho.
Este viveiro de estupidez humana - nuns casos por manifesta dependência e subserviência, noutros por loucura ideológica ou malvadez de carácter - é cada vez mais recorrente.
O seu combate não é tarefa fácil mas é necessário: o futebol é demasiado puro para ser usado como arma de arremesso político ou rampa de lançamento de ideais extremistas.
Mais. É demasiado grande para contar com a conivência desnecessária de pessoas que deviam ter na independência de opinião e integridade de carácter a sua força maior.
A politização da indústria não é de hoje mas o seu poder e crescente mediatismo tem-no tornado apetecível para quem não olha a meios para atingir os seus fins.
É preciso impedir que isso aconteça. Rapidamente."

Portugal

"Portugal já está de calculadora na mão, tem que vencer os dois próximos jogos com a Lituânia e Sérvia, contudo ninguém nos garante que o consiga fazer. Portugal é o actual campeão da Europa e da Liga das Nações, mas está com dificuldades em se apurar. Portugal perdeu na Ucrânia e está em risco de classificação.
Antes do jogo o habitual excesso de confiança e o nosso treinador Fernando Santos não esteve bem. O empenho e a pressão dos ucranianos, aliada à rapidez e atitude dentro do campo, contrastou com uma certa apatia e lentidão nas transições de Portugal, levando a perder o jogo que era fundamental vencer.
Portugal jogou mal na defesa e principalmente na primeira parte, depois corrigiu esses erros, mas já era tarde.
Fernando Santos não optou pela melhor táctica e algumas escolhas foram inapropriadas para este jogo. Jogar sem um ponta-de-lança de raiz junto a Ronaldo foi um erro enorme. Ronaldo sozinho na área é uma presa fácil. A escolha de João Mário foi infeliz, Portugal em vez de ter médios que abrissem o jogo pelas alas, teve médios que iam mais para dentro e o jogo de Portugal não era fluido e amplo, mas muito previsível.
João Félix deveria ter entrado de início, dar-lhe algum tempo e minutos para se adaptar a jogar com Ronaldo.
Esta campanha tem sido uma desilusão e contra adversários mais fortes claudica, perde ou empata. Contra a Ucrânia perdeu e empatou, em casa empatou com a Sérvia.
A nossa sorte é que a Sérvia vai jogar com a Ucrânia e isso pode ajudar-nos nas contas, se a Ucrânia empatar ou vencer atrasa definitivamente a Sérvia.
Deste modo, Portugal ou fica segundo ou é repescado para um play off por ter sido vencedor da Liga das Nações.
Acredito que Portugal esteja presente no Euro 2020, mas até lá, vai sofrer muito e vai ter que voltar a pegar na calculadora.
Nesta campanha Portugal não tem estado cómodo e muito inconstante. Portugal a espaços mostrou que é muito melhor que a Ucrânia, mas depois não vem ao de cima essa capacidade e o seu rendimento é muito fraco.
Ronaldo marcou o golo 700 que é histórico, mas para a história fica a derrota de Portugal e a desilusão que tem sido nesta fase."

Parceiros que nos prestigiam

"Reconhecimento e gratidão foi o que esteve em causa, ontem, no evento Corporate realizado no Benfica Futebol Campus, que vai já na sua décima edição.
Recentemente, o Presidente Luís Filipe Vieira confidenciou que, não obstante, desde que chegou à presidência, os muitos feitos desportivos alcançados, os lucros sucessivos, a recuperação dos capitais próprios da SAD e dos fundos patrimoniais do clube, a profissionalização da estrutura, a edificação e modernização de infraestruturas (em que se destaca o Benfica Futebol Campus) e a devolução da Benfica Estádio e BTV ao Clube, o grande título do Sport Lisboa e Benfica nestes 16 anos foi, na sua opinião, a credibilização do Clube junto da banca e demais parceiros.
Sem credibilidade, pouco ou nada do que foi feito teria sido possível e essa foi conseguida com muito trabalho, inexcedível empenho e inabalável seriedade na relação com os nossos parceiros e patrocinadores. 
Não chegavam a 100 há 15 anos e ultrapassam, hoje, os 500 (no último ano verificou-se um crescimento de cerca de 15%). Esta é uma prova inequívoca do extraordinário potencial da marca Benfica que, no presente, tem sido rentabilizada com inegável sucesso.
As empresas querem trabalhar com o Benfica porque sabem o retorno que essa relação lhes dá. Conforme disse ontem o presidente, "juntos conseguimos, ganhou o Benfica e, em consequência, ganharam os nossos parceiros".
Alguns dados que importa reter são a renovação e celebração recente de novas parcerias comerciais, nomeadamente com a Emirates, SCC, Uber, PlayStation, EA Sports; Nutella, Inimigo, Medicare, Saúde Viável, entre tantos outros que representam também vantagens directas para os nossos associados. E o lançamento do novo programa "Mais Vantagens", ou do novo projecto de Loyalty em parceria com a SIBS.
Ao nível da bilhética, 4,5% dos lugares existentes no Estádio destinados ao Corporate já representam 39,2% da nossa receita, o que demonstra o crescimento e a mais-valia para as marcas de estarem associadas ao nosso Clube. E é significativo do prestígio global que temos que 9 dos 11 dos nossos principais patrocinadores sejam grandes marcas internacionais.
As cerca de 500 marcas que hoje constituem o nosso universo de parceiros e patrocinadores, nas mais variadas áreas, são uma vantagem no seu todo para o Clube, mas também para cada um dos nossos sócios individualmente, pelo que o encontro de ontem visou deixar uma palavra de reconhecimento pelo trajecto conjunto que têm feito connosco por um Benfica cada vez maior e melhor! #PeloBenfica"

Vitória em Setúbal...

Benfica 33 - 25 Setúbal
(21-10)

Jornada atrasada e 'trocada', jogada em Setúbal, com o Benfica a 'arrasar' no 1.º tempo, e a descomprimir no 2.º tempo... até porque no Sábado temos jogo em Gaia!

Ficámos ontem a conhecer o adversário Europeu, e dentro das possibilidades, até não correu mal! Vamos defrontar uma boa equipa Croata, o Nexe,  melhor que a 'última' que defrontámos, mas jogando no máximo do nosso potencial, temos tudo para chegar à fase de grupos...

Vácuo e (a)normalidade

"Quase um mês sem a principal competição, para depois se concentrarem 3 jornadas em 8 dias, encavalitadas em provas europeias

1. Estamos em pleno vácuo no que ao campeonato diz respeito. Uma originalidade muito portuguesa e que vai contra os interesses dos clubes associados de uma Liga que os deveria defender. Quase um mês sem a principal competição, para depois se concentrarem 3 jornadas em 8 dias, encavalitadas em provas europeias para os clubes nelas representados (onde precisamos de melhorar o ranking para ter mais e melhores acessos), e para os clubes não europeus deixando um buraco de alguma receita perdida entre o interromper e o retomar da competição. E se a semana passada até se percebe por causa do calendário imposto para os torneios de apuramento entre selecções (eles próprios artificiosamente inchados para, no fim, deixar apenas de fora Gibraltar, Andorra, Liechtenstein, Ilhas Faroé, São Marino, países bálticos e mais uns poucos de quinta divisão), quanto às outras semanas de interrupção é o disparate geral. Por exemplo: opta-se por uma primeira eliminatória da Taça de Portugal com os clubes da 1.ª divisão a jogarem com equipas dos escalões secundários a um nobre fim-de-semana, ficando uma jornada dos campeonatos nacionais entalada a meio da semana entre duas outras jornadas. Não seria mais lógico e adequado ser ao contrário: a dita eliminatória da Taça ser na tal quarta-feira e as jornadas dos campeonatos irem para o fim-de-semana? Como também não fez sentido não ter havido uma jornada no fim-de-semana eleitoral, ou será que alguém de juízo perfeito pensa que por haver jogos num dia arcaico chamado de reflexão aumentaria a abstenção já de si elevadíssima ou obnubilaria a votação de uns tantos? Aos pinguinhos e aos soluços ainda temos de, esparsamente, aturar uns jogos da Taça da Liga, num calendário sem nexo nem sentido, com adiamentos ou antecipações à vontade do freguês. Nesta edição está até a acontecer uma situação absolutamente caricata: a de num dos quatro grupos (o do Sp. Braga) se ter realizado em primeiro lugar a... segunda jornada! Originalidades marcantes do nosso futebol. Como verdadeiramente insólito é, numa eliminatória da Taça de Portugal, se terem repescado 21 equipas das 55 eliminadas, de tal modo que, pelo destino aleatório do sorteio, se voltam agora a defrontar uma equipa que, antes, havia eliminado a que volta a encontrar.

2. A nível de selecções nacionais, Portugal é campeão europeu, venceu a Liga das Nações, tem conquistado vários títulos a nível das equipas mais jovens e está construindo um conjunto de seleccionáveis que tem todas as condições para continuar na senda dos triunfos no pós Cristiano Ronaldo. Mas, a nível de clubes, não podemos dizer o mesmo. A última jornada europeia foi elucidativa: Benfica e Porto perderam com equipas apenas medianas (o Benfica tendo sofrido no jogo contra o Zenit tantos golos como nas 7 jornadas do campeonato e o Porto sofrendo metade dos 4 golos consentidos na Liga), o Vitória de Guimarães, que embora jogando benzinho, foi naturalmente derrotado por uma equipa germânica, o Sp. Braga empatou e o Sporting, com muita felicidade, derrotou uma equipa austríaca completamente desconhecida. Valha-nos que a federação à nossa frente - Rússia - ainda está pior, pelo que até poderemos alcançar a sua posição no ranking, o que permitirá dois clubes directamente apurados na Champions e um clube no play-off. Não esqueçamos, porém, que a Holanda se está a aproximar perigosamente, muito impulsionada pelo rejuvenescido Ajax, mas não só.
Voltando à diferença entre selecção e clubes, é por demais evidente que resulta (embora não apenas) de Portugal ser um país exportador de talentos (portugueses e de estrangeiros que, por cá, se mostraram ao mundo e brilharam), e o mesmo já está a verificar inusitadamente com adolescentes que não resistiram ao el dorado britânico ou continental. O nosso seleccionador tem ao seu dispor um leque de jogadores que, quase totalmente, jogam em equipas estrangeiras.
Na Selecção que jogou contra o limitado Luxemburgo, o que vimos? Dos 25 jogadores inicialmente convocados, só 6 jogam em Portugal (Danilo, Pizzi, Rúben Dias, Rafa, Bruno Fernandes e Pepe). Os restantes são os nossos estrangeiros e actuam em 9 países diferentes (Inglaterra - 5, Espanha - 4, Alemanha, Itália e Grécia - 2 cada e Turquia, França, Rússia, Holanda - 1 cada). Por clubes, os mais representados são, com 3 jogadores, o Benfica e... o Wolves! Uma outra perspectiva interessante é a de, face à mesma convocatória, dos 19 jogadores que actuam no estrangeiro haver 17 que, mais atrás ou mais recentemente, saíram dos quadros dos 3 grandes (Sporting - 8, Benfica - 5 e Porto - 4). Em suma, o futebol português não está bem, o que está excelente são os jogadores portugueses que jogam fora de Portugal.
Também pude ver uma estatística agregada dos recentes convocados para os próximos jogos de todas as nossas selecções (Selecção principal, sub-21, sub-20, sub-19, sub-17 e sub-15): 45 são do Benfica, 26 do Porto e 21 do Sporting. Parece aqui revelar-se, com alguma nitidez, uma das expressões dos bons efeitos da política de formação no Benfica.
No meio da clubite aguda em que se vive, haja, nisto, ao menos um ponto bem positivo: acabou a guerra entre benfiquistas, portistas e sportinguistas, reclamando de um seleccionador a maior fatia de jogadores...

3. Pegando o fio da meada, fui ver quantas nacionalidades de jogadores que não a portuguesa, há nos três grandes. Sendo exportadores de talentos, existem duas hipóteses de contrabalançar esse movimento: ou importando jogadores ou produzindo novos talentos nacionais. Há uma visível tendência para melhorar este segundo braço da solução. Acontece, porém, que ao mesmo tempo tem aumentado a velocidade de circulação de dentro para fora, ou seja, é cada vez mais difícil manter jogadores portugueses de qualidade. Por seu lado, tem aumentado a presença de jogadores estrangeiros em Portugal, como fulminante roda giratória para outros voos (sobretudo de jogadores sul-americanos e africanos) e para ganhos financeiros de clubes e terceiros entre a compra e alienação dos mesmos. Enfim, um certo círculo inicialmente virtuoso tende a virar em círculo mais vicioso (círculo e não ciclo, como tantas vezes se lê e ouve...).
No plantel do Benfica há dez nacionalidades, além da portuguesa: Brasil(2), Grécia(2), Argentina(2), Espanha(2), Sérvia, Rússia, Nigéria, Bélgica, Suíça, Marrocos. No FC Porto há onze: Brasil(3), Argentina(2), Colômbia(2), Senegal(2), Espanha, Japão, México, Mali, Cabo Verde, Bélgica, Camarões. No Sporting há dez: Brasil(5), Argentina(3), Uruguai, França, Espanha, Macedónia, Colômbia, Costa do Marfim, Equador, Congo. No conjunto das três equipas, temos vinte e três nacionalidades, além da nossa. É obra! Balneários Torre de Babel é o que não falta!

Dever acima de tudo
Dois bancos, um deles - o Novo Banco - para o qual ainda todos nós estamos a apgar os desvarios do seu predecessor BES (quase 9 mil milhões e ainda não se chegou ao fim...), dão-se por satisfeitos em perder 70% de 135 milhões disponibilizados há anos ao SCP (e sem pagamento de juros). Certamente, com um argumento aparentemente racional: antes receber 30% do que zero. Nada garante que, daqui a uns anos, não se contentem com 20%, 10% ou até menos... Continua, pois, a saga dos grandes devedores, sejam eles especuladores financeiros, coleccionadores de arte, clínicas dentárias, futebol ou outras actividades igualmente beneméritas ou de rasgados elogios dos poderes estabelecidos. Nada tenho a dizer sobre o objectivo do SCP, que, evidentemente, faz pela vida. Mas, quem se lixa sempre é o mexilhão. Seja como contribuinte, seja como minúsculo devedor, a quem tudo lhe é hipotecado ou penhorado. Os autores e cúmplices de tais rombos continuam a passear-se como grandes senhores e grandes mestres da arte de (mal) gerir. Nada lhes acontece. A culpa morre ou ressuscita cada vez mais solteirona. O silêncio (às vezes cúmplice) é sepulcral, se o compararmos com a vozearia comunicacional por um qualquer fora-de-jogo. O país assiste a tantos casos destes que parece já estar anestesiado, quase achando tudo normal. Prefere dedicar-se a epifenómenos rocambolescos de coisa pública e do telejornal de ocasião. Se calhar tem o que merece. Entretanto, com este perdão ou garantia de maioria na SAD sem custos, ou seja lá o que eufemisticamente lhe quiseram chamar, os dadores de sangue, perdão de crédito, passam sob a capa de anonimato ou de oportuna opacidade. O jornalismo pactua com isto sem pestanejar. E, já que neste caso estamos no mundo do futebol, dirão pois que se lixe o mercado e a sua sempre proclamada exigência de sã concorrência, e bem-vindo, em todo o seu esplendor, o benefício do infractor, não na relva, mas na verba. Qualquer dia se transformará em norma obrigatória uma das atitudes mais contumazes, «ó pai, eu quero dever dinheiro, e quanto mais melhor!», ou em versão mais tecnocrática «ó banco, eu quero-te como meu accionista diluído em água oxigenada»."

Bagão Félix, in A Bola

Beijinho

"1. Por mais que isso incomode o clube, André Ventura é made in Benfica. Pai é quem cria. Já agora, quem pagou os seguranças com que Hugo Gil, Pedro Guerra e Carlos Janela se apresentaram há dias em tribunal?
2. Eliud Kipchoge fez história ao correr a maratona abaixo das duas horas, mas foi um recorde criado em viveiro, uma corrida artificial. Assim até Frederico Varandas dava um bom presidente, passe o exagero.
3. As AG de Benfica e Sporting são mais animadas que as festas da selecção mexicana e mais polémicas que os prémios nas selecções africanas.
4. Francisco J. Marques partilhou dados interessantes: a primeira volta da nossa Liga dura 162 dias e a segunda 112 (menos 50 dias). Em Espanha a diferença é de 16 dias, em França 12, na Alemanha 8, em Itália 4 e Inglaterra 2. Os outros é que estão mal, claro.
5. Depois do autogolo com o caso Bernardo Silva, a Inglaterra goleou o verdadeiro racismo em Sófia, frente à Bulgária. Percebem a diferença?
6. Olhando para Jorge Jesus com um bolo, poso criticar por vezes a cobertura e os enfeites, mas a massa e o recheio são realmente muito bons. O Flamengo caminha para tornar-se na confecção mais doce da sua carreira.
7. Já ninguém se lembrava do reforço Fernando, mas lá dizia Descartes: «Tenho uma virose, logo existo».
8. É absurda essa história de nos clubes (e não só) os sócios mais antigos e igualdade. Nas legislativas ou autárquicas os pais têm mais votos que os filhos porque nasceram primeiro?
9. A SAD do FC Porto precisa de €65 milhões em mais-valias até Junho. Podem começar por baixar os salários e prémios obscenos de PC e companhia.
10. Termino com uma música de Frederico Varandas. Perdão, de Herman José: Ora dá cá um e a seguir dá outro, depois dá mais um que só dois é pouco, aí eu gosto tanto e é tão docinho, e no entretanto dá mais um beijinho..."

Gonçalo Guimarães, in A Bola

PS: Os supostos 'segurança' do Hugo, do Guerra e do Janela, não os vi, nem foram destacados nos mérdia, agora os seguranças do Bernardino Barros foram bem fotografados e tem todos cadastro, será que o senhor jornaleiro que vendeu a alma ao diabo, para garantir um salário, ficou com os olhos trocados?!!!!

Carlos Vinícius: uma força da natureza à beira da titularidade

"Estádio da Luz, minuto 64: o Benfica vai empatando a zero com um Vitória Futebol Clube muitíssimo recuado. Na sequência de um pontapé de canto batido por Grimaldo, no meio da confusão da grande área, o esférico sobra para Carlos Vinícius, que pica a bola sobre Makaridze e finaliza à meia volta de forma sublime, tendo este sido o golo que deu a vitória aos encarnados.
Este era o segundo golo de Vinícius no campeonato em apenas 68 minutos de jogo, mas o mais impressionante foi ter precisado apenas de dois remates para fazer as redes abanarem por duas vezes. Esta eficácia aparece como uma lufada de ar fresco para os adeptos benfiquistas, numa altura em que a dupla Raul de Tomas e Seferovic leva ainda poucos golos.
Mas, afinal, quem é Carlos Vinícius e o que motivou o Benfica a pagar 17 milhões de euros pelo seu passe? E estará o brasileiro pronto para a titularidade?
Vinícius começou a sua carreira futebolística ao serviço das camadas jovens do Santos, onde jogava, surpreendentemente, a defesa central. Transferiu-se subsequentemente para o Palmeiras, actuando na equipa B do “verdão”. Foi aqui que Vinícius, sem espaço no centro da defesa, foi avançando no terreno até chegar à sua posição actual – ponta de lança. No entanto, não se destacou no gigante brasileiro e seguiu para clubes de menor dimensão: Caldense e Anápolis.
Em 2017, chegaria a Portugal pela mão do Real Sport Clube – pequeno clube das freguesias de Massamá e Queluz-Belas -, que tinha sido recém-promovido à segunda liga. Na estreia em Portugal, Vinícius chegou, viu e venceu.
Os realistas viriam mesmo a ser a lanterna vermelha do campeonato, mas Vinícius foi o segundo melhor marcador da liga, com 19 golos (o Real marcou apenas 47), e foi mesmo eleito o melhor avançado do campeonato. Demonstrou, ao longo de toda a época, ter qualidade para integrar projectos mais ambiciosos, tendo características muito próprias.
Para mim, foi estranho não ter surgido qualquer interesse por parte dos três grandes no jogador, que demonstrou ter qualidade para, pelo menos, evoluir numa equipa B. No entanto, quem esteve bastante atento à sua época foi o Nápoles. O clube napolitano avançou para a sua contratação, emprestando-o posteriormente ao Rio Ave.
Ao mais alto nível em Portugal, Vinícius comprovou tudo o que lhe era apontado. Marcou 14 golos em vinte jogos, incluindo golos a cada um dos três grandes. No Dragão, recebeu uma bola em profundidade, deixou os centrais para trás, ultrapassou Casillas e colocou a bola no fundo das redes. Esta jogada resume na perfeição o que é Carlos Vinícius. Apesar do sucesso, o brasileiro ficaria apenas meia época no clube de Vila do Conde, tendo seguido para o AS Mónaco na janela de transferências de Janeiro.
No clube do Principado, Vinícius não se destacou tanto, tendo feito apenas dois golos em 16 jogos. Todavia, esta foi uma fase muito instável do clube monegasco, o que pode ter afectado negativamente o jogador. Esta segunda parte de época mais fraca não impediu o Benfica de abrir os cordões à bolsa e contratar o futuro camisola ’95’.
Vinícius traz ao Benfica uma série de qualidades e características distintas dos demais avançados do plantel encarnado.
A sua capacidade física é, provavelmente, uma das suas melhores armas. Um jogador incansável e muito trabalhador, que pressiona, sempre de forma muito agressiva, a primeira fase de construção da equipa adversária. Encaixa como uma luva na ideia defensiva de Bruno Lage. Ter jogado a defesa central, numa fase embrionária da sua carreira, deu-lhe uma capacidade de compreensão, acima da média, dos movimentos defensivos do adversário.
Apesar da sua boa estrutura física (1,90 metros de altura), Vinícius é surpreendentemente móvel. Sempre em constante movimento, aparece muitas vezes nos corredores laterais, podendo fazer diagonais, com muito perigo, em direcção à baliza do adversário.
A maior arma ofensiva de Vinícius é, precisamente, a procura do espaço. Muito forte e veloz na desmarcação, encontra, quase sempre, o espaço nas costas da defesa, procurando constantemente a profundidade, seja através de movimentos verticais ou diagonais vindo das alas. Esta procura do espaço pode ser aproveitada de forma positiva por Gabriel ou Pizzi, jogadores de qualidade no capítulo do passe longo. Neste sentido, o brasileiro é algo semelhante a Seferovic: ambos são avançados móveis que procuram frequentemente o espaço.
Com o espaço encontrado, Vinícius foi, ao longo de toda a sua carreira em Portugal, sempre extremamente eficaz em frente à baliza. Demonstra ter uma rara frieza no momento do um-para-um com o guarda redes, finalizando com categoria ou ultrapassando o guardião com relativa facilidade. O camisola ’95’ tem também habitualmente um bom sentimento posicional ofensivo, utilizando de forma eficaz a sua compleição física para ganhar posição. Tem um bom pé esquerdo, mas tem ainda muita margem de progressão com o seu pé mais fraco (o direito).
Daniel Ramos, treinador de Vinícius no Rio Ave, apontou o jogo aéreo como a área a melhorar por parte do jogador do Benfica. Apesar da sua elevada altura, Vinícius é ainda pouco efectivo com a cabeça. Tem poucos tentos de cabeça e tem uma baixa taxa de sucesso nos duelos pelo ar. É sem dúvida uma área a melhorar.
Outro ponto menos positivo (ou melhor, menos consistente) é a sua qualidade técnica. É um jogador capaz de conduzir a bola durante vários metros, ultrapassar adversários no momento individual e ter pormenores interessantes em frente à baliza, mas faltam-lhe ferramentas mais básicas do jogo. Vinícius tem ainda alguma dificuldade em receber a bola entres sectores. Muita desta dificuldade deve-se à forma como coloco os apoios (pés sempre muito paralelos), dificultando assim uma recepção orientada, vendo-se obrigado a efectuar um passe para trás ou mesmo a ceder o esférico ao adversário. Esta dificuldade na recepção e o fraco jogo aéreo fazem com que seja difícil a sua utilização como um avançado fixo e de referência, exigindo assim um companheiro mais técnico e menos móvel ao seu lado. Já lá iremos.
No momento da construção, Vinícius é também algo limitado, não sendo um exímio passador. Mesmo recebendo a bola de costas para a baliza, tem alguma dificuldade em combinar com os colegas de equipa. No entanto, creio que Vinícius tem condições para melhorar nestas aéreas e irá certamente consegui-lo ao serviço do Sport Lisboa e Benfica.
Vinícius traz ao jogo dos encarnados uma dimensão diferente de qualquer outro avançado: não é um jogador muito dotado tecnicamente, mas é exímio na finalização e trabalha imenso para a equipa. Pondo as suas características em perspectiva, parece poder formar uma boa dupla com Raul de Tomas. O espanhol pode colmatar as lacunas de Vinícius na recepção e na construção de jogo e o brasileiro pode explorar o espaço habitualmente criado por de Tomas. Ambos têm, igualmente, qualidade para colocar a bola na baliza inúmeras vezes.
A dupla parece boa no papel, mas terá que ser testada. Provavelmente, os dois jogadores irão a jogo frente ao Cova da Piedade, naquela que será a quinta dupla atacante dos encarnados.
Estará, neste momento, Carlos Vinícius preparado para assumir a titularidade indiscutível no Benfica? Creio que ainda não, mas tem certamente qualidade para lá chegar num curto espaço de tempo."

O sorriso escondido do homem sisudo

"Abi Bain nunca foi peso-pesado mas inspirou Anthony Quinn para o papel de Mountain Rivera em Requiem to a Hevyweight

A Vigorosa e a Poderosa são gémeas. Pelo menos, eu gosto de vê-las assim, na sua simplicidade de aço. Fazem parte da minha paisagem corriqueira do trabalho-Bairro Alto, ao princípio da noite, depois casa-trabalho, no dia seguinte, às vezes nem reparo se lá estão, no seu poiso de cais, esperando pelos barcos que descarregam contentores no cais da Bica do Sapato, caixotes imensos enferrujados, de tempos a tempos com automóveis por cima. Não há porto mercante sem gruas. A Vigorosa e a Poderosa podem desaparecer de um dia para o outro, os nomes, a tinta, vão-se apagando com o correr dos anos dos seus braços inteiriços, mas continuarão sempre fiáveis num recanto da memória.
Abi Bain tornou-se um homem vigoroso e poderoso, mas sempre foi fiável desde menino quando os seus pais fugiram de São Petersburgo, na Rússia, para Cambridge, no Massachusetts, antes da revolução bolchevique. A América sempre recebeu os judeus com deferência e os Bain rapidamente se sentiram em casa, com vizinhos do mesmo credo. Abi não precisou do Bar Mitzvah para se iniciar na vida adulta. Sisudo, ensimesmado, não aturava brincadeiras próprias da maldade infantil. Resolvia os assuntos à força de punhos e de uma forma tão simplista que não tardou a ver-se metido num ginásio local onde pudesse dar vazão a alguns instintos recalcados que sempre se recusou a partilhar. 
No final dos anos 20, Abi Bain tinha nome para lá das fronteiras de Cambridge, Massachusetts. Dali até Nova Iorque a distância é curta e Bain percorreu-a depressa. A sua primeira grande vitória, no entanto, nasceu de uma derrota. Abi estava a ser espancado seriamente no ringue de Laurel Garden, em Newark, pelo Orgulho do Harlem, o retinto Jack McVey. O problema é que Jack levou longe demais a vontade de abater o judeu teimoso e calado que ia resistindo como podia aos seus ganchos e uppercuts sem dar parte de fraco. Se não estivesse tão obcecado em deixar Bain KO, teria ganho significativamente aos pontos e mandaria o insolente para casa também carregado de pontos. Mas abusou e foi desqualificado por ensaiar uns golpes abaixo da cintura. Seria um passo gigantesco para que Abi Bain viesse a disputar, três anos mais tarde, o título mundial de pesos-médios contra o campeão Maxie Rosenbloom, outro judeu, este do Connecticut, conhecido por Slapsie Maxie por dar murros de palma aberta como se fossem chapadas.
A vitória de Maxie, no Madison Square Garden de Nova Iorque, no dia 22 de Outubro de 1930, foi terrível para o orgulho imenso e contido de Abi. Percebeu, nesse dia, que não tinha capacidade para se bater com profissionais da categoria de Rosenbloom. E foi traído de forma canalha pela sua autoconfiança. Isto é, decidiu medir-se em ringue com pugilistas mais pesados.
Para surpresa geral, desafiou o candidato a campeão de pesos-pesados, Tony Galento, para um combate em Dreamland Park: nome mais falso. Galento era um tipo fanfarrão de Nova Jérsia. De cada vez que chegava atrasado aos treinos, encolhia os ombros e respondia, pachorrento: «Até cá chegar ainda fui entregar duas toneladas de gelo...». Não tardou em ganha a alcunha de Two Ton. Pesava quase mais dez quilos do que Abi e massacrou-o por completo. Não apenas por uma vez mas por duas, já que Bain teimou na desforra. A segunda tareia foi tão bruta que Abi passou umas semanas valentes no hospital com o crânio amolgado, os maxilares partidos e uma série de lesões nas costelas que lhe comprometeram um pulmão e o obrigaram a deixar o boxe para sempre. Corria o ano de 1935 e tinha apenas 28 anos.
Por falar em fiável, se algum ator da minha adolescência era fiável, esse era Antonio Rudolfo Oaxaca Quinn, natural de Chihuahua, México, nove anos mais novo que Abi Bain e seguidor da sua carreira estranha. Quinn teve sempre aquele toque de gajo feio e avilanado com coração de manteiga. Ouvir Giuletta Massina gritar «È arrivatoZampanó!» e ser, imediatamente corrigida a pontapé com um «Zampanó è arrivato!!!» é tão fantástico como ganhar um Óscar por apenas oito minutos de cena a fazer de Gauguin em Sede de Viver.
Abi Bain deixou os ringues e passou a ser figura de Hollywood, aparecendo em papéis menores, na sua maioria em filmes nos quais o boxe era o tema: Kig Galahad, TheCrowd Roars ou Golden Gloves. Depois inspirou o seu colega Quinn na construção da personagem de Mountain Rivera em Requiem for a Heavyweight, algo que Abi nunca foi. Numa das cenas Anthony Quinn combateu com Cassius Clay, que faz dele próprio, como não podia deixar de ser. Mountain Rivera e aquele que ainda não era Mohammad Ali alinham numa sequência fantástica filmada por Ralph Nelson logo no início. Jack Dempsey, outro campeão do mundo de pesos pesados, também tem o seu momento. E Abi, o sisudo, não terá deixado de sorrir por dentro."

A selecção e a amplitude térmica

"Fernando Santos não é o seleccionador mais empático do mundo. Não é o melhor treinador do mundo. Não é o pior treinador do mundo. Não é o mais audaz. Não é o mais inovador. Isto é o que o técnico da selecção de Portugal, na minha leitura, não é. Vamos, agora, àquilo que Fernando Santos é. É um treinador competente, que procura a rota mais segura para atingir o sucesso. É um treinador de equilíbrios, determinado, frontal. É um treinador com grande capacidade de análise. Quando ganha e quando perde.
Os portugueses são um povo inflamável, que tanto espalha um calor desmedido à luz da vitória, como ferve em pouca água na ressaca da derrota, por mais rara ou injusta que seja. Para o bem e para o mal, os portugueses são também um povo eternamente insatisfeito, que exige aos seus mundos e fundos, encavalitado na presunção de uma superioridade quase inata que nunca existiu verdadeiramente.
Sim, Portugal tem no futebol uma fonte de talento renovável e um filão competitivo como em muito poucas áreas do sector produtivo. Reconhecê-lo é um sinal de lucidez. É preciso aproveitar essa lucidez, porém, para ver também para além do nosso meio-campo e perceber que do lado oposto há todo um novo mundo a trabalhar com matéria-prima de qualidade e a incorporar algumas notas dissonantes na partitura da velha guarda do futebol europeu.
O desaire com a Ucrânia não é uma queda no abismo, nem tão-pouco um sintoma de quebra continuada de rendimento. Foi a vitória de uma selecção tremendamente competente em organização defensiva, que se sentiu como peixe na água depois de se ter colocado em vantagem num lance de bola parada que expôs algumas debilidades portuguesas na marcação. E que acabou por tirar partido da falta de critério do adversário em zonas de definição.
Falharam as escolhas do seleccionador português? Olhando estritamente para o resultado, é inevitável dizer que sim. Mas a equipa que usou e abusou das iniciativas pelo corredor central, afunilando em demasia o jogo (especialmente na segunda parte), foi a mesma que conseguiu explorar as costas dos laterais em diferentes momentos, mais graças às acções de Nelson Semedo do que de Raphael Guerreiro. E o desenho de maior mobilidade no eixo do ataque, com Ronaldo, Gonçalo Guedes, Bernardo Silva e até João Mário em constantes trocas posicionais, fazia todo o sentido no papel. Ainda que tenha faltado a capacidade de atrair no meio para libertar nas alas e assim desequilibrar o 4x1x4x1 ucraniano.
Tal como acontecera no embate entre as duas selecções no Estádio da Luz, em Lisboa, Portugal fechou as contas com significativamente mais remates, mais pontapés de canto e mais posse de bola. De pouco lhe valeu esse ascendente aparente, no entanto, porque durante demasiado tempo abusou de iniciativas individuais (Bernardo e João Félix) em detrimento das combinações pelos corredores laterais que tão promissoras se tinham revelado (foi assim que nasceram os dois cabeceamentos mais perigosos).
Foi a tomada de decisão no último terço que comprometeu o primeiro lugar do grupo - e não os caminhos escolhidos para lá chegar. É por isso que apontar baterias exclusivamente ao seleccionador, qualquer que ele seja, num contexto como este não é apenas imprudente, é totalmente descabido. 
Podemos discutir as ideias, a metodologia de trabalho, a estratégia, o modelo e o sistema de jogo que Fernando Santos preconiza. Pôr em causa a qualidade das prestações da selecção e entender que têm ficado muito aquém da real valia dos jogadores à disposição. Tudo isso é legítimo, mesmo que a subjectividade do tema provoque profundas divisões.
O que não devemos cair na tentação de fazer é lançar nuvens de fumo sobre a competência do único seleccionador que, até à data, permitiu que os debates em torno do êxito de Portugal no futebol tivessem também uma medição objectiva: um título europeu e uma Liga das Nações. É pouco? Pois bem, pelo menos por agora, é tudo o que temos para apresentar no palmarés."