"1. O Benfica foi batido no clássico pelo FC Porto e Bruno Lage teve a ‘infeliz’ ideia de reconhecer o mérito ao adversário e até de dar os parabéns ao treinador rival pela vitória alcançada. A atitude do técnico dos encarnados foi tão impactante para larga franja dos adeptos como os três pontos perdidos, a surpreendente superioridade demonstrada pelos dragões e a falta de soluções das águias para contrariar o futebol mais compacto e fluído do opositor. Este é tão-só mais um triste exemplo de que quem vê o futebol da bancada ou sentado no sofá pouco ou nada gosta de desporto. Interessa apenas, em nome de um clubite acéfala, que o clube (seja ele qual for) destroce o antagonista, custe o que custar. Ou por que Sérgio Conceição não teve a mesma atitude na hora da derrota frente ou Benfica, ou por que é humilhante reconhecer a supremacia alheia, como se alguém estivesse destinado a ganhar sempre, ou por que a claque adversário fez ecoar ‘olés’, tudo serve de argumento para criticar alguém que se limitou a reconhecer o óbvio. Bruno Lage é dos poucos a quem o lado perverso do futebol ainda não corrompeu e que sabe distinguir um rival do inimigo. Não é infalível, apesar do quase milagre operado na época passada, mas tem, porventura, o mais importante: uma noção de fair play que devia fazer corar muitos que se comportam como autênticos energúmenos quando os jogos não lhes correm de feição. Bruno Lage sabe ganhar, o que também não é fácil, e sabe perder.
2. Entre os vários problemas reais que a partida com o FC Porto colocou a nu destaca-se o subrendimento de Raul de Tomas, algo que, aqui sim, Bruno Lage tem obrigação de resolver rapidamente. O espanhol, pelo percurso e pelas características que apresenta, deveria ser concorrente de Seferovic e não apoio dele. A compatibilização é possível frente a adversários que actuem com o bloco defensivo muito baixo, caso contrário, como aconteceu no fim-de-semana passado, o reforço benfiquista, a jogar de forma contranatura dez metros mais recuado, nem promove o jogo entrelinhas nem alarga a frente de ataque. Neste defeso, aliás, o Benfica foi buscar um ‘João Félix/Jonas’ (Chiquinho, agora lesionado) e dois ‘Seferovic’ (De Tomas e Vinícuis). Conviria definir melhor as prioridades... e não gastar 37 milhões de euros numa opção e na ‘opção para a opção’.
3. Fernando Santos escolheu 25 jogadores para o duplo compromisso da Selecção Nacional e desse extenso lote não figura um único ponta-de-lança de raiz... pelo menos é discutível que Cristiano Ronaldo o seja. Entre tanta redundância no que diz respeito a extremos e segundos avançados, em que há até espaço para dar oportunidade a Daniel Podence, Gonçalo Paciência, por exemplo, está condenado a assistir aos jogos pela televisão."