sexta-feira, 19 de julho de 2019

Dicas para o João Félix triunfar

"Esta é a primeira vez que escrevo sobre o João Félix desde que foi confirmado oficialmente como reforço do Atlético Madrid. O puto que aos 18 anos já marcava ao Sporting. O craque que parecia um jogador de PlayStation em Alvalade e no Dragão. Os sortudos dos espanhóis levaram o nosso menino. Aos 19 anos lá vai ele à conquista do mundo. Li alguns comentários no Instagram e, sinceramente não compreendo o sentido daquelas mensagens. 'Força, Félix, és um craque!', 'Sem medos, puto, jogar muito'. Malta, isso ele já sabe. Estão apenas a ser chatos. Há pensamentos bastante mais úteis para lhe transmitir. Aos 19 anos, a viver sozinho em Madrid e a jogar num clube como o Atlético, o conselho que lhe podemos deixar é para se deitar cedo, usar sempre preservativo e pouco mais.
Para bem do João, temos de pensar mais como os pais dele e menos como adeptos. E para bem do Benfica, devíamos aprender a fazer filhos como o Sr. Carlos e a Dona Carla. Eu estou disponível para integrar uma turma de aprendizes. Circulou imensa informação em relação a esta transferência. Eu ainda me vou fazendo de entendido no que diz respeito ao jogo - até porque tenho no currículo uma Liga dos Campeões conquistada com o Tourizense no FM 2012. Em questões financeiras nem sequer me atrevo a intervir. Deixo essas apreciações para quem realmente percebe e confesso que fiquei um pouco alarmado com algumas análises. Tem-se debatido tanto o destino dos 126 milhões de euros que o Atlético vai pagar, que eu até já começo a ficar convencido de que para os cofres do Benfica só devem sobrar aí uns 50€. Eu sugiro que sejam investidos em Cerelac para que os garotos não passem fome nos EUA."

Pedro Soares, in O Benfica

Obrigado, Craque!

"Na passada enviei a crónica antes do anúncio oficial da despedida de Jonas, pelo que acabei por escolher outro tema. Mas é sempre boa altura para falar do craque brasileiro, que já nos deixa saudades.
Chalana era o meu ídolo de infância, e desde então talvez não tenha desenvolvido uma admiração tão grande por um jogador de futebol como por Jonas. Foi - e ainda me custa utilizar o pretérito perfeito - o melhor avançado que alguma vez vi jogar de Manto Sagrado, e seguramente o mais completo jogador do Benfica deste século. Juntou a magia de Aimar à eficácia de Cardozo, a influência de Simão, ao perfume de Gaitán, a fogosidade de Di Maria ao carisma de Luisão. Sagrou-se campeão em quatro dos cinco campeonatos que disputou em Portugal, e ninguém me tira da cabeça que, não fosse a inoportuna lesão na fase final da época 2017 - 2018 (que o retirou do decisivo Benfica - FC Porto), teria alcançado o pleno.
Faltou-lhe a consagração europeia, deixando ainda assim a sua marca no percurso internacional do clube, com os decisivos golos obtidos, por exemplo, frente ao Zenit em 2016, ou diante do Dínamo Zagreb nesta última temporada. Mas foi no campeonato português que mais intensamente brilhou, com para lá de uma centena de golos em somente cinco épocas.
Toda a sua história no Benfica é um verdadeiro conto de fadas, desde a forma como chegou até ao dia em que partiu - deixando a Luz em lágrimas a aplaudi-lo de pé, coisa que não se via desde a despedida de Rui Costa. Não vai ser fácil substituir Jonas. Jogadores deste nível não aparecem todos os dias. Fica a lenda, e um eterna gratidão."

Luís Fialho, in O Benfica

We are Benfica

"A presença do Sport Lisboa e Benfica na International Cup (ICC) é altamente prestigiante para o futebol português. Estamos a falar do torneio de pré-época de maior dimensão a nível global. Na ICC marcam presença 12 clubes de classe mundial, com 18 jogos nos EUA, Europa e Ásia. Desde a sua estreia, em 2013, mais de 4,8 milhões de adeptos já assistiram a jogos desta competição. Mais de 150 milhões de pessoas assistem ao torneio em todo o mundo.
Para o SL Benfica, disputar este torneio nos EUA é uma excelente oportunidade para estarmos junto dos milhares de benfiquistas que vivem e trabalham na Costa Leste e na Califórnia. Seguramente iremos jogar em casa, com o SL Benfica a ter a preocupação de transportar para cada um dos estádios todo o ambiente de festa e apoio que sentimos em qualquer campo onde jogamos em Portugal.
O SL Benfica faz dos EUA um dos países onde quer estar no futuro, não só pela ligação aos seus adeptos e às 11 Casas, mas também pelo enorme potencial que o futebol tem neste grande país. E com um aspecto curioso - sempre que participámos na ICC fomos campeões nacionais. Assim aconteceu em 2015, com Rui Vitória ao leme, defrontámos o PSG (derrota por 3-2), empatámos com a Fiorentina (0-0), perdemos com os NY Red Bulls (2-1) e empatámos com o América (0-0). No final da época, conquistámos o 35.º Campeonato. Na última época, defrontámos três grandes clubes europeus e perdemos apenas um jogo - Borrusia Dortmund (2-2), Juventus (1-1) e Lyon (2-3). No final da temporada, conquistámos o 37.º Campeonato. Acredito que acontecerá o mesmo no final de 2018/20."

Pedro Guerra, in A Bola

Bola

"Ir às aulas, estar com atenção e estudar aproveitando a inteligência toda que se tem. Pelo caminho, criar um bom ambiente na escola, na família e no bairro. E jogar, jogar à bola, muito e bem! São coisas simples que muitas vezes escapam aos jovens quando perdem a perspectiva de si próprias e do seu valor por entre as encruzilhadas da vida, que, mais cedo do que devia, lhes prega rasteiras e os põe à prova como não faz a muitos dos adultos que leem estas linhas.
Nessas alturas, a família é um suporte indispensável, mas, infelizmente, nem todos a têm em condições de dizer 'pronto' quando mais dela precisam. Por isso, muitas adolescências são vividas em sobre-esforço pelos jovens, tentando conhecer o mundo e navegar solitariamente nele sem mapa nem bússola, contando apenas consigo próprios e com uns tantos colegas. Nessas alturas, pertencer a um grupo forte e coeso torna-se num património de valor inestimável. Ter um suporte e uma confirmação social, aprender a cair e ter onde cair, é de uma importância extrema para todos nós, mas acentua-se na adolescência, como quase tudo nas nossas vidas. Uma equipa, pares solidários e lideranças fortes e inspiradoras são uma das principais armas do projecto 'Para ti Se não faltares!'. Uma arma que actua em cima de um poderosíssimo princípio activo chamado futebol. E assim se transformaram angústias em acção, armários em lideranças, esforço em prazer e, claro está, crianças em homens ou mulheres, e ambos em cidadãos.
É isto que se consegue fazer com uma simples bola cheia de ar: encher vidas de sonhos e lançar caminhos individuais para a sua concretização. É tal o poder do futebol, que se torna um privilégio trabalhar na Fundação de um clube como o Benfica porque se conquista a possibilidade de o canalizar para a valorização pessoal e daí para a transformação social do país!"

Jorge Miranda, in O Benfica

Bestas - fora do futebol

"Na semana passada, os portugueses mais ligados ao desporto, e em especial ao futebol, voltaram a ser sacudidos com nova investida da brutalidade cega. Num jogo que era (e foi) amigável, no específico contexto da preparação da temporada para ambas as equipas, a que os adeptos - já com saudades da competição a sério - comparecem tanto de um lado como do outro, para conferirem as suas certezas com as suas novas expectativas, eis que, de repente, sem qualquer razão para o justificar, alguém toma os mosquitos por cordas e faz despoletar uma violenta batalha generalizada em determinado sector da bancada, com as infelizes consequências que, escassos minutos depois, sobraram sobretudo para outra vítima inocente, desprevenida e muito infeliz.
A festa - designadamente a festa dos adeptos benfiquistas ali presentes em número significativamente superior ao dos antagonistas - não ficou definitivamente estragada, apesar dos perigos incidentais surpreendentemente detonados, porque a polícia e o sistema de segurança do estádio rapidamente souberam pôr cobro ao despropósito dos provocadores e defender os incautos adeptos que, sem mais cautelas, tinham acorrido ao chamamento dos seus clubes e ao fascínio pelo grande futebol. Nada, nunca, absolutamente nada e jamais pode gerar ou justificar uma bandeira daquelas. E se num qualquer jogo de campeonato já é intolerável que situações desta natureza se continuem a verificar tão frequentemente nas bancadas dos estádios portugueses, ainda é mais absolutamente inacreditável que a bestialidade tome as rédeas na boca dos irracionais que se dedicam a tais práticas quando se trata de um jogo sem intenção competitiva, podendo ser disputado com maior acento na performance e no sentido do mais puro futebol.
Daí que eu releve, por um lado, a correctíssima decisão tomada pelo árbitro Vítor Ferreira (AF Braga), ao suspender a partida por longos sete minutos, logo que - aos 39' quando o Benfica já se havia adiantado ao marcador - se apercebeu da gravidade da inesperada situação. E, por outro lado, que saliente a atitude claramente condenatória assumida por Bruno Lage, logo nas suas primeiras declarações após o final do jogo: o nosso treinador voltou a demonstrar que mantém uma ideia clara e justa sobre o que deve ser o espírito desportivo essencial a nortear o comportamento dos atletas, dos dirigentes e do próprio público do futebol.
Assim espero eu que a própria decisão adequada do árbitro tenha correspondido não apenas a um  desígnio pessoal do juiz naquela triste circunstância, mas um ditame do Conselho de Arbitragem e das entidades que tutelam a disciplina no futebol que, de futuro, passem a ser menos complacentes com circunstâncias como as que tristemente se viveram na tarde de Coimbra."

José Nuno Martins, in O Benfica

O pecado!

"Resta ao Benfica esperar que não se confirme a sabedoria popular, segundo a qual «o que torto nasce, tarde ou nunca se endireita»

Pode Mattia Perin ser um guarda-redes fantástico ou, no mínimo, como disse o internacional português Miguel Veloso, um guarda-redes que é «um autêntico gato». Mas a verdade é que, bem pior do que ter contratado um guarda-redes que já teve lesões graves nos dois joelhos e acaba de ser operado a uma clavícula, é o Benfica ter, afinal, contratado um guarda-redes que toda a gente sabe que foi contratado para ser titular e só pode contar com ele, na melhor da hipóteses, lá para Dezembro, como ficou a saber-se ontem, ao final do fia, depois dos testes médicos feitos, em Lisboa, ao jogador. E porque é que é pior a emenda do que o soneto?
Porque admitindo, como temos de admitir, que o Benfica sabe que está a contratar um guarda-redes que, apesar de toda a novela, vai acabar por estar fisicamente em condições de competir ao mais alto nível quando regressar, em Dezembro, repito, à Luz, a verdade é que o Benfica vai exigir ao jovem guarda-redes Odysseas Vlachodimos que seja titular até Perin estar apto e se resigne, depois, a ser suplente quando Perin estiver, por fim, em condições de ser titular porque foi para isso que foi contratado.

Ou seja: o Benfica contrata para titular um guarda-redes que ainda está longe de poder ser titular e diz a Odysseas que vai, mais tarde ou mais cedo, deixar de ser o titular, mas que por mais algum meses precisa que seja ainda o titular. Parece esta uma situação bem resolvida? Não, claro que não!
É, pois, a contratação de Perin já um romance de cordel - como chamavam às antigas novelas mexicanas - mesmo antes de se saber se virá ou não a ser uma boa história encarnada, e é, a propósito, bastante difícil de não nos lembramos do que sucedeu também no Verão de 2018 então com o Sporting, então com o também italiano Sturaro, então, também, com a Jiventus, com a única diferença de Sturaro ter sido então emprestado ao Sporting.

Recordo que Sturaro também chegou a Lisboa ainda a recuperar de lesão, regressou a Itália com a promessa que voltaria aos leões quando estivesse recuperado e acabou por nunca fazer sequer um treino entre os verdes e brancos.
No caso, agora, do Benfica, a questão é, porém, mais complexa, porque não se trata apenas de saber o que vai acabar por suceder com Perin; trata-se, também, queira-se ou não, de saber o que vai suceder com Odysseas Vlachodimos. Pior do que não poder contar até Dezembro com Perin será, porventura, para o Benfica, não saber que Odysseas Vlachodimos vai passar a ter a partir de agora. Resta ao Benfica esperar que não se confirme a sabedoria popular, segundo a qual o que torto nasce, tarde ou nunca se endireita.

Se considerarmos a primeira época que fez no Benfica como emprestado pelo Atlético de Madrid, Salvio era, actualmente, o mais antigo jogador do Benfica, o jogador com mais jogos (266 e mais de 60 golos), o jogador com mais títulos (14 no total, cinco dos quais como campeão da Primeira Liga) e, seguramente, o jogador com mais classe e experiência internacional.
Correm nos bastidores duas versões sobre a saída do argentino, como quase sempre sucede nestas circunstâncias; a de que foi Salvio a querer ir-se embora do Benfica e a de que foi o Benfica a querer que Salvio se fosse embora. Em bom rigor, será sempre difícil saber qual delas é a verdadeira versão, ou, no mínimo, qual delas está mais próxima da história real. Em qualquer caso, o que a saída de Salvio acentua é o debate sobre a perda de tão importantes referências no plantel, como já foi o caso de Luisão no final do Verão de 2018, ou mais recentemente o de Jonas, podendo ainda o Benfica vir a perder Fejsa. É muito experiência junta perdida em tão pouco tempo.
Uma equipa que luta por títulos precisa no balneário de carisma, espírito e, sobretudo, a tal experiência. Viu-se na parte final do último campeonato, quando discutia o título quase palmo a palmo com o FC Porto como foi importante para a equipa saber que podia, a todo o momento, contar com a experiência de Jonas ou de Salvio. Todos nos lembramos de alguns jogos (com o Portimonense, na Luz, por exemplo) em que os mais jovens quase respiraram de alívio quando puderam ter os mais velhos em campo.
A experiência e a classe dos mais velhos não se nota apenas em campo, quando eles puxam dos galões para serenar espíritos, acalmar tensões e sossegar ansiedades. Nota-se também, e provavelmente mais ainda, no trabalho que não se vê, no dia a dia dos treinos e no dia a dia do balneário, naquilo que se passa de exemplos, comportamentos, compromissos e atitudes.
Não sei se foi Salvio que quis ir embora ou se foi o Benfica que, de algum modo, empurrou Salvio para fora da Luz. Creio que Salvio foi sempre um exemplo de profissionalismo e carácter no Benfica, elogiado por tudo e por todos, e admito que Salvio quisesse continuar na Luz se o treinador contasse com ele (como parece que contava, nem que fosse a lateral-direito...; é forçoso, por outro lado, admitir igualmente que Salvio tenha acabado por se sentir feliz com a mudança para o Boca Juniors porque não apenas regressa ao país natal como vai para uma equipa onde se sentirá francamente desejado.
O que falta saber é se o Benfica está a avaliar bem as possíveis consequências de deixar de contar no balneário da Luz com jogadores com o peso de Salvio ou Jonas, já para não falar da perda (que teria sempre de acontecer) de um peso pesado como foi Luisão.
Não pode o Benfica impedir que Luisão ou Jonas decidam terminar a carreira. Evidentemente que é normal chegarem ao fim determinados ciclos de jogadores como Salvio (com oito anos de clube) ou Jardel (também com oito) ou mesmo Fejsa (com seis anos de Luz). O problema é se se fehcam ao mesmo tempo muitos dos ciclos de jogadores com o peso de balneário que tiveram ou tinham agora jogadores como Luisão, Jonas, Salvio ou Fejsa, que ainda não deixou a Luz mas é tudo como baixa para a nova época.
Nenhuma grande equipa se constrói apenas com talento e nenhum balneário de uma equipa grande sobrevive ao excesso de juventude. É preciso talento, mas também experiência, carácter, compromisso, disciplina e atitude. E isso só se ganha com o tempo."

João Bonzinho, in A Bola

Ganhar com respeito

"Para quem vê jogos na TV, seguindo a sua equipa apenas nesses dias, torna-se difícil perceber o que está por detrás do ecrã. Mesmo quem acompanha treinos tem, por vezes, dificuldade em perceber como se preparou o jogo. Ou seja, não tem exacta noção do trabalho entre momentos competitivos.
As equipas crescem e desenvolvem-se em torno de princípios e valores. Questões que não podemos abdicar, mesmo que em última instância isso possa colocar em risco a vitória. Contudo, a realidade do futebol profissional passa, num crescente número de casos, por ganhar a qualquer custo. A falta de respeito pelo adversário está a torná-lo no inimigo. Algo que infelizmente tem cobertura mediática, porque o importante é vencer, mas que não pode servir de exemplo para os treinadores da formação. É importante formar a ganhar. Os campeões fazem-se com vitórias. Mas nunca um jovem pode crescer sem respeito pelos adversários.
Quem não percebe que só com três boas equipas temos bom jogo, está claramente fora de jogo. Por muito que queiram ganhar a qualquer custo, recorrendo ao condenável, tornando o adversário inimigo, dessa forma justificando os métodos usados, estão a condenar o jogo ao insucesso.
A velocidade e quantidade da informação ajuda a criar, por vezes, problemas adicionais a quem trabalha com jovens, seja no futebol ou noutra modalidade. O eu sobrepõe-se ao nós com demasiada facilidade. O importante para a grande máquina financeira são as figuras, quando estas só existem se existir colectivo. Os valores da equipa têm que ser respeitados por todos, caso contrário não temos equipa, temos um grupo, mais ou menos amigável. O respeito pelo adversário é fundamental para nos respeitarmos a nós próprias, seja como equipa, seja individualmente. Não vale tudo para ganhar, e que não quer dizer que não queiramos ganhar sempre."

José Couceiro, in A Bola

Futebol é do povo e de mais ninguém

"Há uns anos, em Manchester, onde estava para a cobertura de um jogo do United, deparei-me com uma fila imensa, que dava a volta a Old Trafford, onde milhares de adeptos dos red devils aguardavam pacientemente pela oportunidade de se inscreverem na lista de espera para acesso a lugares de época no mítico estádio. Aquela realidade, que traduzia um misto de fidelidade dos supporters e de estabilidade do clube, começa a haver um mínimo garantido de presenças nos estádios muito significativo e o facto do Benfica ter ontem encerrado a venda de red passes, depois de ter fixado um novo recorde em 45 mil unidades entregues aos sócios, não pode passar sem a merecida referência. Nestes dias em que a principal receita dos clubes vem da televisão, o espectáculo ao vivo, conservando a essência popular, é um bem a preservar. Os preços para o futebol não podem ser elitistas, sob pena de vermos replicados noutras latitudes os males da recente Copa América, que só teve nas bancadas quem podia pagar os preços estratosféricos, para a realidade brasileira, dos bilhetes.
Não são tão fundamentalista, como outras pessoas que muito prezo, quanto ao perigo de uma superliga europeia de clubes, algo que, com mais este ou aquele acerto na forma, será inevitável. No entanto, quando confrontado com a possibilidade do futebol ao vivo passar a ser só para os ricos, já me assusto e tempo pelo futuro. Desmond Morris dizia que os estádios deviam ser desconfortáveis, para os adeptos manifestarem, na provação, a sua fidelidade. Não irei tão longe. Mas compreendo. O povo é a alma do futebol."

José Manuel Delgado, in A Bola

O homem que levou Maradona à glória luta pela vida

"Carlos Bilardo foi campeão mundial com a Argentina em 1986

O treinador Carlos Bilardo, campeão mundial de futebol com a Argentina em 1986, está hospitalizado em estado grave, depois de uma intervenção cirúrgica ao cérebro, noticiou esta sexta-feira a agência AFP.
Bilardo, de 80 anos, que sofre de um problema neurológico, a síndrome de síndrome de Hakim-Adams, encontra-se há 48 horas na unidade de cuidados intensivos do Instituto de Diagnóstico de Buenos Aires.
"Tenho de lhe agradecer eternamente por nos ter incutido o respeito pela camisola da Argentina, o que significa pertencer à selecção", disse o antigo guarda-redes Sergio Goycochea, preocupado com o seleccionador que o levou ao Mundial 1990.
Médico de profissão, Carlos Bilardo assumiu a selecção argentina em 1982 e esteve no último Mundial conquistado pelo país, na famosa edição da 'mão de Deus' de Maradona, no México, e na final de 1990, em Itália, em que perdeu com a Alemanha."

Digressão exemplar

"O périplo pelos Estados Unidos da América tem sido marcado pelo sucesso em várias vertentes. Enquanto a equipa de futebol tem treinado afincadamente com vista à preparação para a nova temporada, há um intenso programa social, empresarial e institucional que tem sido cumprido à risca.
Também aqui definimos o objectivo de dar um enorme salto qualitativo e projectar toda uma nova era, no que às digressões da equipa de futebol diz respeito, incluindo inúmeras actividades relacionadas com a partilha de experiências com organizações relevantes no desporto e com a promoção da marca Benfica, as quais têm decorrido conforme planeado.
Neste âmbito, mais visível ao grande público foi o encontro entre representantes do Benfica e dos San Francisco Giants, oito vezes campeões da Major League Baseball, que culminou com a recepção, a Rui Costa e Luisão, no estádio dos Giants, por lendas da equipa norte-americana antes da partida frente aos New York Mets.
O empenho nas frentes comercial e empresarial não dispensa, no entanto, o tradicional convívio com os muitos Benfiquistas residentes nos Estados Unidos da América. Este é mesmo o principal objectivo extra futebol.
Hoje, às 19 horas locais, será inaugurada a Casa do Benfica de San José, na Califórnia. Existem onze Casas do Benfica na América do Norte, entre as quais sete serão visitadas (incluindo a inauguração de outra, em New Bedford).
O treino à porta aberta realizado ontem, às 10 horas locais, em Stanford, foi uma excelente oportunidade para os Benfiquistas estarem perto da equipa e demonstrarem o seu fervor clubístico. O colorido nas bancadas e o apoio ao plantel marcaram a sessão de treino, cuja intensidade habitual foi elogiada pelos vários adeptos entrevistados pela BTV.
E, amanhã, o Benfica iniciará a sua terceira participação, em quatro temporadas, no mais importante torneio de pré-época de futebol, a International Champions Cup. O primeiro adversário será o Chivas, o segundo clube mais titulado do México. O jogo – o 39.º do Benfica no país – terá início às 21 horas de Lisboa (13 horas locais) e será mais uma oportunidade para rever os consagrados e avaliar os reforços e os vários jovens formados no Caixa Futebol Campus que integram o plantel.
A reputação e a notoriedade da marca Benfica sairão seguramente mais fortalecidas depois desta digressão num dos mercados prioritários na afirmação internacional do nosso Clube."

Cadomblé do Vata (lesões...)

"Stefano Sturaro era até ontem um excelente tema para início de conversa com um lagarto. Um italiano carregado de credenciais, que deixou o Sporting a palpitar de desejos, até chumbar nos testes médicos e ir recuperar da lesão para o clube de origem, sem cancelamento do acordo de compra. Foi um daqueles filmes com emblema do Sporting CP ao canto, abrilhantado pela direcção artística do homem da pior cerveja alguma vez produzida em Portugal e isto digo eu que no Festival Med de há 3 anos, bebi cerveja artesanal com medronho e nunca mais fui o mesmo.
Acontece que ontem o Benfica fez um "Sousa Cintra". Estivemos 1 mês de olhos arregalados a aguardar a chegada de um guarda redes internacional italiano (é impressão minha ou o único italiano que nunca jogou na selecção foi o Pesaresi?), na última semana descobrimos que estava lesionado até Setembro e após testes médicos ficamos todos a saber que não o vamos ver na relva antes de Janeiro. Em vez de avançarmos para outra opção, decidimos respeitar o contrato assinado com o muito respeitável clube do Calcio Caos e vamos atacar metade da temporada com Vlachodimos a prazo.
Por muito que odeie os campeões da Série B 06/07, tenho de os congratular pela forma hábil como conseguem vender lesionados a longo prazo aos clubes de Lisboa, sem que estes pensem sequer em cancelar os negócios quando os exames médicos dão raia, de forma avançarem para alvos saudáveis. Praticam esta arte com tal excelência, que se até final deste mês assinarem com o Mantorras, antes de 31 de Agosto vendem-no ao Belenenses SAD, ou quem sabe, ao Benfica pela cláusula de 18 milhões."

Mattia Perin

"Odysseas Vlachodimos teve uma boa época no ano passado. Salvo raras excepções, foi segurando a baliza e podemos dizer que se estivesse lá outro qualquer guarda-redes do Campeonato em vez do grego, o Benfica teria sofrido mais golos do que sofreu. No entanto, a realidade do Benfica, neste momento, não se pode limitar ao Campeonato. O Benfica tem que ser mais ambicioso na Europa e depois do futebol praticado nos últimos seis meses, o Benfica partia para este verão a dois-três reforços cirúrgicos de ser uma equipa candidata a estar nos quartos-de-final da Liga dos Campeões, ou seja, uma das oito melhores equipas da Europa. Uma das posições onde é possível melhorar, é o guarda-redes. Não porque Vlachodimos seja mau, mas porque há uma diferença significativa entre um Ederson ou Oblak e o grego.
O Benfica desde início tem andado à procura de guarda-redes que estão tapados por outros grandes guarda-redes. Primeiro foi o Jasper Cillessen, que recentemente assinou pelo Valência. Depois foi o Keylor Navas que continua tapado no Real Madrid pelo Thibaut Courtois. Quando tudo parecia que íamos ficar até ao final de Agosto à espera que o Real Madrid cedesse no Keylor Navas, eis que Gianluigi Buffon decide regressar à Juventus e cortar por completo os minutos de Mattia Perin, que já estava atrás de Wojciech Szczęsny. Isto não faz do Perin um mau guarda-redes. Faz do Perin um guarda-redes que ainda não conseguiu corresponder às expectativas em Turin. Nos últimos anos o Benfica teve vários craques que clubes grandes dispensaram. Nomes como Jonas, Matic, Javi Garcia ou Rodrigo. O Mattia Perin há um ano era visto como um dos futuros melhores guarda-redes do mundo. E isso não mudou em um ano
 Há ainda uma externalidade positiva que Mattia Perin trazia que para mim não deveria ser desvalorizada. Mattia Perin já foi internacional italiano. Se o Benfica conseguisse fazer de Perin um internacional italiano outra vez e o levasse à seleção no Europeu 2020, isto poderia ter impacto noutras contratações que temos falhado. Há muitos jogadores que acreditam que se forem para um Campeonato fora do Top5 ficam fora do baralho dos seus seleccionadores. Mattia Perin poderia mudar isso.
Ao que parece o ombro do Mattia Perin tem mais problemas do que inicialmente poderia parecer. A recuperação vai ser demorada e o Benfica não está preparado para dar 15M por um guarda-redes que não sabe como irá recuperar. O Benfica estará a tentar alterar o negócio para um empréstimo com cláusula de compra obrigatória caso o jogador faça um número mínimo de jogos, e a verdade é que tudo isto faz sentido. É uma decepção bastante grande, mas é melhor não gastar 15M do que arriscar e poder ter o jogador no estaleiro os próximos cinco anos. Abrem-se logo à partida três caminhos diferentes:
1. Empréstimo com cláusula de compra. Era o ideal para o Benfica, mas não sei se é o ideal para a Juventus. No entanto, a verdade é que só se um clube quiser arriscar 15M é que os italianos têm uma alternativa melhor.
2. Esperar até Janeiro. O que é uma situação parecida com a do ponto 1. mas onde não garantimos que o jogador seja nosso, pois pode parecer outro concorrente, nem sabemos se o preço na altura é o mesmo. Pode também ter limitações a nível de inscrições na UEFA pois se a Juventus assim o quiser, podemos não o utilizar na Europa.
3. Avançar para outro. Neste cenário, o ombro do Mattia Perin está mesmo mal, e o comunicado do Benfica de ontem foi só para salvaguardar o activo da Juventus. Assim sendo, não sobram muitos guarda-redes do calibre de Mattia Perin. Do que se fala no mercado a nível europeu, só vejo mesmo duas alternativas: Keylor Navas, que o Real Madrid está a reter e que com 32 anos não é, para mim, o guarda-redes que deveríamos procurar (pese embora a carreira dos guarda-redes ser mais longa) ou Kevin Trapp, que não tendo um tecto tão alto como Mattia Perin, é mais barato, joga bem com os pés - que com os novos pontapés de baliza vai ser importante para Lage - e é também um guarda-redes muito bom. Se o objectivo é ter um guarda-redes com potencial para top10 do Mundo, não vejo outros que estejam disponíveis.

O que é que este cenários podem significar para os guarda-redes que temos in-house?
1. Odysseas Vlachodimos. O grego terá noção da sua qualidade e tem noção que isto é o Benfica, não é o Panathinaikos. No cenário em que Perin vem em Janeiro, se o grego tiver a mentalidade correcta, vai ver estes meses de avanço como um incentivo a que se supere. Só será titular do Benfica em Janeiro se tiver quatro meses de sonho e é para isso que terá que trabalhar. No cenário em que avançamos para outro guarda-redes, o grego deve ficar na mesma porque ainda iria juntar bons minutos no Benfica, na minha opinião.
2. Mile Svilar. Independentemente de qualquer cenário, Svilar deveria ser emprestado. É muito jovem. Tem apenas 19 anos. Tem um grande potencial. Precisa é de jogar.
3. Ivan Zlobin. É um guarda-redes que está longe de me convencer. Não sei como é que é visto internamente, mas se tiverem confiança nele, é deixá-lo assumir a segunda posição atrás de Vlachodimos, no tal cenário em que Perin só vem em Janeiro. Se vier outro guarda-redes, será o terceiro guarda-redes e para isso serve bem.
4. Quarto Nome. Caso o Benfica avance para um cenário onde Perin só regressa em Novembro/Janeiro e Bruno Lage e a sua equipa técnica não tenha confiança em Zlobin como número dois, acho que o Benfica deveria jogar pelo seguro e ir buscar um guarda-redes por empréstimo que ofereça algumas garantias. Um Helton Leite, por exemplo. Tenho muitas dúvidas que o Benfica faça isto, no entanto.
Nas próximas horas vamos descobrir o que afinal irá acontecer. Ou um novo comunicado cai na imprensa, onde o Benfica e a Juventus chegam a algum tipo de acordo, ou o Benfica vai avançar para outro guarda-redes. Seria demasiado irresponsável não fazer uma destas, pois iria contradizer tudo o que LFV tem dito desde do 37. O Benfica Europeu precisa de um guarda-redes melhor que Vlachodimos (que é bom, mas é possível melhorar). E não é por termos falhado Mattia Perin que essa necessidade vai desaparecer. Há bons nomes no mercado. Logo à partida Kevin Trapp. É só fazer acontecer."

Luisão: homenagem por descobrir

"O Benfica não tem jeito para cerimónias. Seja por força do hábito ou não, a forma como tanto Jonas e Luisão, capitão do ressurgimento pós 2000 e com 15 anos de casa, se despediram denotam na organização uma total falta de brio. Entre uma despedida à pressa com a Luz vazia ou um adeus ás “três pancadas”, com direito a show-off presidencial pelo meio, qual delas honra mais as memórias de duas figuras centrais da nossa história recente?
Merecia mais, muito mais Luisão! Depois de 15 anos e tantos momentos de relevo, o brasileiro merecia todo um estádio em ebulição a despedir-se. Merecia uma melhor gestão da sua imagem, enfraquecida numa temporada 2017-2018 na qual o seu rendimento desportivo não era nem semelhante ao de anos anteriores. O seu estado físico já não permitia uma temporada ao mais alto nível, sendo esse um dos erros da gestão de Rui Vitória, impotente perante um assunto tão sensível no balneário. A pesada herança do seu currículo, as 538 toneladas de jogos traduzidas em seis Ligas, três Taças de Portugal, quatro Supertaças e sete Taças da Liga que o tornaram o jogador mais titulado de sempre do Benfica foram peso a mais para o treinador português, que nunca teve coragem de renovar as apostas iniciais.
Luisão assume-se como O gigante entre gigantes, superando Néné e Mario Coluna. Ingrata, no entanto, foi a forma como foi anunciada a sua retirada. Constituiu uma das falhas da estrutura, que nem o posterior cargo entregue de mão beijada apagou uma despedida cinzenta do Girafa do Benfica.
A memória, que nunca deve ser selectiva, vai de encontro ao conceito kármico e talvez ajude a explicar a retirada tão insonsa. Foram variadas as vezes em que Anderson Luiz da Silva veio a público com declarações que causaram burburinho junto da massa adepta. Experimente isto: na barra do Google, digite “Luisão quer sair” e atente no número de resultados: 57.900! Algarismos mais que suficientes para alguém tão ambicioso como ele, que se tornou uma lenda do Benfica por mérito próprio mas que ao mesmo tempo sempre cultivou um hábito peculiar pelos pedidos públicos de saída. Sinais de uma personalidade forte, sempre ácida mas fulcral em alturas que a equipa e o grupo se encontravam em cacos.
Se, apesar disto, Luisão merecia uma despedida com a Catedral cheia e em festa? Sem sombra de dúvidas. Se havia momento para a total reconcialização era esse. Comandou o Benfica na travessia no deserto, foi o seu principal representante e a sua carreira é uma obra gigantesca de Vieira que puxou dos seus mais honrosos pergaminhos na construção civil para construir este líder de uns incríveis 1.93 centímetros de altura e a largura de uma grande área.
Apesar de toda essa imponência, as suas naturais vontades em experimentar ligas mais fortes acompanhadas por uma frontalidade admirável, tornaram muitas vezes a figura de Luisão persona non grata junto de vários círculos de adeptos. A forma como Luisão se despede numa Luz vazia, num evento à pressa e depois de, três meses antes, ter renovado, demonstram que até na hora do adeus não existiu total tranquilidade nem sintonia entre todos. Uma tristeza que se torna inadmissível no Benfica actual, com uma estrutura tão elogiada por todos os que a conhecem e que continua a não dar importância aos timings, vendo-se atrapalhada para terminar ciclos de forma correcta.
Tanto Luisão como Jonas mereciam despedidas com muita mais pompa e circunstância, mereciam horas e horas de homenagem por tudo o que nos deram em termos desportivos e pela influência social que ainda têm. O tempo acabará por desvanecer os aspectos inúteis e extra-campo, fazendo sobressair as qualidades de dois críptideos da fauna benfiquista, mistificando-os ainda mais e guardando a sua imagem na galeria dos imortais da Luz."