quarta-feira, 17 de julho de 2019

O regresso da bandidagem

"De cada vez que um animal destes tem acesso a um recinto haverá 5 ou 10 pessoas que não vão lá

No particular Académica-Benfica, um bando de delinquentes (daqueles pequeninos, sem importância social mas ainda assim impactantes na arte de destruir) criaram uma série de incidentes nas bancadas do Estádio Cidade de Coimbra.
A alteração aconteceu ainda na primeira parte e levou à interrupção da partida durante seis minutos.
Vou repetir: um jogo de futebol amistoso - que, ainda assim, envolve mais valores do que o valor do mero entretenimento - foi temporariamente suspenso, porque a sua continuidade poderia afectar a segurança momentânea dos seus principais agentes.
A natureza do jogo torna aquele momento em algo ainda mais vergonhoso e inacreditável.
O futebol português, que têm tem tentado lutar contra esta maré de criminosos, ainda não descobriu a fórmula exacta para afastar, de vez, energúmenos deste calibre.
Estamos de acordo que essa é uma meta muito difícil, altamente sensível e extremamente dispendiosa. Depende de muitas variáveis (não apenas da força e união da indústria, mas também da forte cumplicidade do poder político), mas deve continuar a constar no topo de todas as prioridades.
Coimbra voltou a mostrar porquê.
De cada vez que um animal daqueles se solta, disfarça-se de humano e vai a um estádio (ou pavilhão) para permitir o bem-estar dos outros ou magoar alguém, os maiores dos valores do desporto ficam gravemente beliscados.
De cada vez que um animal destes tem acesso a um recinto desportivo (seja de que modalidade for), haverá cinco ou dez pessoas de bem que tomam a decisão (sensata e compreensível) de não voltar lá.
A história recente mostra-nos que, em matéria de comportamentos, muitos dos nossos adeptos (ainda assim uma minoria, felizmente) não sabem estar no jogo. Será assim em todo o lado, é verdade, mas o que nos importa é cuidar da nossa casa, não banalizar condutas desviantes porque eles também acontecem na casa dos outros.
Por cá e como bem sabemos, já morreram adeptos em estádios e em estradas que os circundam. Já houve invasões pacificas a centros de treinos de árbitros e invasões graves a centro de estágios de jogadores. Várias foram as ocasiões em que ocorreram graves confrontos físicos antes, durante e após determinados jogos. Já houve sérios prejuízos em automóveis, habitações e estabelecimentos comerciais de vários agentes desportivos. À porta de alguns estádios, há (aqui e ali) confrontos entre gente sem escrúpulos, cujos danos colaterais alastram-se a famílias inocentes, a adeptos de verdade. A pessoas que vão - ou iam - à bola pelo prazer que isso lhe dá (ou dava).
Por cá, há dezenas de agressões a árbitros e a treinadores, todas as épocas. Uma atrás da outra.
Não façamos deste cantinho precioso um oásis em matéria de comportamento. Não é verdade.
Há muito coisa para erradicar, muito marginal para afastar e muito malandro para mandar, com bilhete só de ida, para os confins do inferno.
A nova época está à porta e a pequena amostra que vimos foi muito feia. De uma vez por todas, vamos lá a lutar contra isto. Já chega, caramba."

Duarte Gomes, in A Bola

O risco de Perin

"Mattia Perin é um guarda-redes de qualidade indiscutível, com um impressionante currículo, que por si só justifica que seja visto como um verdadeiro reforço para o Benfica. Mas a contratação do italiano no actual contexto acarreta riscos, sobretudo porque só poderá entrar nas contas de Bruno Lage já com a época em andamento. Na Luz, acredita-se que estará disponível ainda durante o mês de Agosto, uma previsão mais optimista da que é feita em Itália, mas nestas coisas de recuperação de lesões... nunca há certezas absolutas.
Vlachodimos vai começar como titular e, perante o investimento feito em Perin, seguramente que tem consciência de que a sua posição no onze estará a prazo, talvez ao virar da esquina de um erro. E qual será o efeito que isso terá nas actuações do guardião grego, que foi de férias convencido de que continuaria a ser o número 1? E imagine-se um cenário em que tudo vai correndo bem a Vlachodimos: como se justificará a entrada de Perin, contratado e pago a peso de ouro, no onze?
Em futebol, o tribunal que decide tudo chama-se resultados. Será isso, no final da temporada, a determinar se a opção arriscada de contratar um guarda-redes de qualidade em fase final de recuperação de uma lesão foi um grande movimento no mercado de transferências ou um grande tiro no pé."

Cadomblé do Vata (Despedidas...)

"Salvio foi de boca... literalmente. Restam-nos assim, apenas 3 tetra-campeões no plantel. Parece pouco, mas a constatação de que nos nossos rivais não sobra 1 único jogador que tenha assistido nos lugares seguintes do pódio ao início dessa caminhada histórica do Glorioso, é um bom início de explicação do sucesso do Benfica nos últimos anos, numa prosa que pode facilmente passar em revista a forma airosa e descomplexada como temos conseguido substituir os Generais condecorados, por soldados rasos sem medalhas ao peito, obtendo resultados iguais.
A saída do argentino é também um exemplo de como temos sabido substituir os nossos por novatos, tão naturalmente que ninguém tem notado diferença: sai Toto que foi operado 2 vezes aos joelhos e estoirou um braço, entra Mattia Perin que foi operado 2 vezes aos joelhos e esbardalhou um ombro. As máquinas de fisioterapia do Eduardo levam uma passagem de pano do pó e 3 pingas de óleo nas juntas e entram logo em acção com o guardião italiano.
Enquanto eterno apreciador das qualidades futebolísticas e Benfiquistas do nosso (ainda) nº 18, é com muito agrado que o vejo partir. Sinto fundamentalmente, que o futuro dele de Águia ao peito lhe iria reservar as habituais reacções emocionais de uma plateia habitualmente com memória selectiva. Iriam recordar os seus primeiros 3 meses no Benfica, onde não passou de mais um estafermo com uma namorada gira, que nos foi impingido pelo Atlético de Madrid e os último ano da carreira Gloriosa, quando perdida a capacidade de aceleração, já nem a auto-cueca de costas para o adversário funcionava. Todo o brilhantismo que mediou estas duas fases, preparava-se para cair na penumbra do esquecimento.
Num ápice, dizemos adeus a 2 personagens importantes da História recente do Sport Lisboa e Benfica. A Jonas e Salvio devemos muito e temos que agradecer. Mas na hora da despedida, podemos também fazer uma última exigência: tenham filhos... muitos... e mandem-nos para cá a ver se aproveitamos algum. Não deve ser difícil, tendo em conta o ADN Benfiquista que irão herdar dos pais."

Plantel 19/20 - A minha aposta após o fim da primeira parte da pré-época

"Acabou a primeira fase da pré-época. Nestas primeiras duas semanas, o plantel não só não estava completo, como vários jogadores da formação foram chamados para preencher vagas. Agora já houve alguma filtragem.
Os cortados:
- Pedro Álvaro e Nuno Santos voltaram à equipa B.
- David Tavares talvez até fosse aos EUA, mas com a lesão regressa mais cedo à equipa B
- Jhonder Cádiz lesionou-se e fica em Portugal. Não é claro se vai ou não ser emprestado ao Belenenses
- Filip Krovinovic foi emprestado ao West Bromwich
- Yuri Ribeiro saiu para o Nottingham Forest
- Jonas oficialmente reformou-se
Se amanhã o mercado fechasse, a minha aposta para o plantel seria esta:
Guarda-Redes:
Mattia Perin (ex-Juventus), Mile Svilar e Ivan Zlobin
Saídas: Odysseas Vlachodimos (vendido/emprestado)
Nem todos os jogadores que são noticiados acabam no Benfica (na verdade muito poucos acabam). Mas todos os jogadores que o Benfica contrata foram noticiados antes. No caso do Mattia Perin já são muitos jornais a confirmar o fecho das negociações tanto em Portugal como em Itália. Odysseas Vlachodimos, de acordo com o que tem sido noticiado, quer continuar a jogar. Como tal sairia por empréstimo ou em definitivo. Mile Svilar ganhava assim mais uma oportunidade. É um guarda-redes jovem. Ainda nem 20 anos tem. Se o Benfica acredita nele, faz sentido que aqui esteja, até porque pelo historial de lesões de Perin, o belga vai certamente ser chamado algumas vezes e vai ter minutos. Ivan Zlobin fica como terceiro guarda-redes. O número de estrangeiros na Liga Russa é limitado. O Benfica pode fazer um encaixe financeiro significativo aqui.
Lateral Direito:
Tyrone Ebuehi e André Almeida
Saídas: Sébastien Corchia
Corchia veio para colmatar a lesão de Ebuehi. Com Ebuehi recuperado, o francês regressou ao Sevilla. André Almeida é um jogador importante pela versatilidade e liderança no balneário. Logo teria sempre o lugar assegurado. Já Ebuehi, ainda nenhum benfiquista o viu jogar. Mas ele já esteve a treinar com a equipa no final da temporada passada e o Benfica não anda a procura de um lateral direito neste momento. Logo o nigeriano deve dar garantias a Bruno Lage.
Defesa Central:
Jardel, Rúben Dias, Ferro, German Conti e Pedro Álvaro (ex-equipa B)
Nada surpreendente aqui. A única dúvida era se o Kalaica iria ou não ter uma hipótese depois da boa época na equipa B, mas não teve. Temos quatro centrais sólidos. Pedro Álvaro deverá ser chamado à equipa principal caso algo aconteça. 
Lateral Esquerdo:
Alex Grimaldo e Nuno Tavares (ex-equipa B)
Saídas: Yuri Ribeiro (Nottingham Forest)
Ainda não parece que vá ser neste mercado que Alex Grimaldo sai, e ainda bem. Para o ano terá a concorrência daquele que é o melhor lateral esquerdo que saiu do Seixal até agora. Nuno Tavares alia poder físico a uma grande capacidade ofensiva. Tem algumas limitações defensivas, como Grimaldo, mas no contexto do Benfica, isso não é tão relevante. Yuri Ribeiro foi uma boa aposta, vinha de uma excelente época no Rio Ave, mas nunca conseguiu fazer nada de mais.
Médio Centro:
Gabriel, Adel Taarabt, Andreas Samaris, Gabriel, Florentino Luís, Gedson Fernandes, Tiago Dantas (ex-equipa B) e David Tavares (ex-equipa B)
Saídas: Ljubomir Fejsa (rumor: Fenerbahçe ou Galatasaray) e Filip Krovinovic (emp. West Bromwich)
Como seria de esperar, não houve mexidas muito radicais aqui. Krovinovic foi emprestado a um clube onde deverá garantir bons minutos. Fejsa, ao que tudo indica, está de saída para a Turquia. Taarabt, Gedson, Florentino, Gabriel e Samaris vão ser os jogadores que vão ter mais minutos nesta posição. David Tavares e Tiago Dantas devem jogar na equipa B e treinar com a equipa principal, esperando uma oportunidade caso haja lesões ou castigos.
Médio Direito:
Pizzi e Caio Lucas (ex-Al-Ain)
Saídas: Toto Salvio (rumor: Boca Juniors)
Pizzi é o titularíssimo da posição. Eduardo Salvio, ao que tudo indica, vai regressar à Argentina. Caio Lucas, uma das revelações no último Mundial de Clubes, vai concorrer com Pizzi pelo lugar. É um jogador diferente. Joga mais colado à linha, faz menos combinações com a equipa, mas parece ter uma boa capacidade de drible. Pode fazer a diferença em certos jogos. Gedson, Jota e Chiquinho são jogadores que devido à versatilidade poderão ter alguns minutos aqui, além dos médios esquerdos. 
Médio Esquerdo:
Rafa e Franco Cervi/Andrija Zivkovic
Saídas: Franco Cervi/Andrija Zivkovic
Aqui na prática não mudou muita coisa. O Salvio não fazia muitos minutos na esquerda. Rafa é dono e senhor da posição. Franco Cervi e Andrija Zivkovic vão ser as alternativas. Acho que não está fechada a hipótese de um deles sair. Caso se confirme uma saída, não me espantaria que o Benfica contratasse Pedro Neto e o colocasse na equipa B a trabalhar em proximidade com a equipa principal ao género do que parece que vai acontecer com Pedro Álvaro, David Tavares e Tiago Dantas. 
Segundo Avançado:
Jota e Chiquinho (ex-Moreirense)
Saídas: João Félix (Atlético Madrid)
Aqui tudo mudou. Com a venda de João Félix, parecia que íamos contratar alguém para esta posição. Mas pelo que foram as decisões de Bruno Lage nos dois amigáveis até agora, creio que as opções já estão dentro de casa. Jota vai passar de vez da ala para o centro do terreno. Chiquinho vai jogar um pouco mais avançado no terreno em relação ao que fez nos últimos dois anos no Moreirense e na Académica. Bruno Lage tem acertado nestas decisões.
Ponta de Lança:
Haris Seferovic e Raul de Tomas (ex-Rayo Vallecano)
Saídas: Jonas (reforma)
O melhor jogador da década do Campeonato reformou-se. Haris Seferovic vai ter a concorrência de Raul de Tomas. Podem jogar em simultâneo em certos jogos principalmente naqueles últimos minutos de jogos mais apertados, mas não acredito que o façam na maioria dos jogos no onze inicial. Acho que além do guarda-redes e de eventualmente do lateral direito, esta é a única posição que poderá ter uma cara nova. Nenhum dos avançados da equipa B (Daniel dos Anjos, Pedro Henrique ou Luís Lopes) parece-me dar garantias."

Por que Bruno Fernandes continua “verde”?

"Dia após dia, há pelo menos três semanas, temos ouvido que o Manchester United está a preparar uma proposta, que a proposta chega dentro de dias, que os dirigentes do Sporting foram a Inglaterra, que Bruno Fernandes está de corpo e alma nos trabalhos de preparação da nova temporada leonina. É um sem-fim a rodar no éter enquanto não chega a hora que nunca mais chega.
Por piedade aos que sonham com uma venda milionária, ninguém se atreve a explicar que simplesmente não há dinheiro para comprar o melhor jogador da Liga portuguesa por valores semelhantes ou acima do que custaram De Jong, Kovacic, Ndombelé, Tielemans, ou mesmo o dobro de Fornals, Sarabia, Vlasic ou Lo Celso.
Para uma grande transferência ser possível é preciso fazer convergir o valor real, o preço na etiqueta e o dinheiro disponível - e neste caso as duas primeiras condições não se acertam e a terceira está claramente em falta. Já se percebeu em várias operações, incluindo as mais chorudas, de João Félix e Griezmann, que a falta de liquidez atrapalha até os mais poderosos.
Mesmo após a actualização do valor de Bruno Fernandes no final da época passada para 55 milhões no site de referência transfermarkt, cinco vezes mais que há um ano e já entre os 100 mais custosos do Mundo, os mercados internacionais continuam em negação, reservando-o eventualmente para uma época de saldos ou de vendas forçadas, mais perto do fecho deste período. E está longe de ser o médio de ataque mais desejado: Eriksen, Dele Alli, Havertz, Fekir, Isco, James Rodriguez ou van de Beek são concorrentes directos e com mais procura.
O melhor jogador português da actualidade nunca foi considerado prioritário nem causou qualquer corrida desenfreada e só poderia entrar no primeiro mercado europeu depois de Neymar, Pogba ou Bale serem transaccionados e insuflarem liquidez nos possíveis compradores, em particular o Manchester United. Outra dificuldade, porém, é que estes “centenários” também estão cotados muito acima do que valem realmente para os treinadores e, no fundo, colocados na mesma prateleira do capitão do Sporting, à espera que os apertos do final do prazo façam cair drasticamente os preços para o valor real perceptível, talvez menos de metade do que está a ser pedido por qualquer um.
São muito poucos os clubes europeus que podem pagar 50 milhões por um futebolista e quase todos já o fizeram neste defeso. Por 70 ou 80 milhões, como gostaria o Sporting, parece impossível.
Real Madrid, Barcelona, Atlético de Madrid, Bayern, Dortmund, Manchester City, Manchester United, Tottenham e Juventus já realizaram as suas compras acima dessa fasquia e só poderão fazer outras depois de vendas que tardam em conseguir concretizar.
Restam Paris SG, Liverpool, Arsenal e Inter com algum “desafogo”, mas todos fortemente apertados pelo controlo financeiro, sem esquecer os impedidos de comprar ou sem acesso aos fundos da UEFA, como Chelsea ou Milan.
Até a antecipação financeira das receitas da Champions ainda depende da definição do quadro final de participantes e da repartição das quotas de mercado televisivo, processo que também só fica concluído no final de Agosto.
E é este o problema de Bruno Fernandes. Teria mercado “fácil” por uma verba até aos 35 milhões da cláusula base do seu acordo com o Sporting, mas parece sem crédito entre os poucos que podem pagar muito acima disso. Como na fábula da raposa e das uvas, “está verde…”"

O repto sincero de (...), dirigido a adeptos e jornalistas, a dirigentes e comentadores, a árbitros, treinadores e jogadores

""O futebol vive, cresce e valoriza-se com a atitude das pessoas", defende o ex-árbitro Duarte Gomes: "Não se permitam ser manipulados, não sejam conformados, não falem pela voz dos outros"

Diz-se que "repto" é uma provocação. Uma acção desafiadora. Uma forma de incitar alguém a fazer alguma coisa. Pois bem. Hoje tenho então um repto para vos lançar.
Um repto sincero, dirigido a adeptos e jornalistas, a dirigentes e comentadores, a árbitros, treinadores e jogadores. Na verdade, este é um repto ao futebol português.
Um repto que não tem limites nem fronteiras. Estende-se de norte a sul do país, dos regionais aos profissionais, dos mais jovens aos mais veteranos.
O desafio é simples e depende de cada um de vós. De cada um de nós.
- Vamos, todos, tentar estar no futebol de forma mais séria, elevada e respeitosa. Vamos participar no jogo com mais desportivismo, sinceridade e educação.
Deixemos estratégias colaterais de fora. Deixemos cartilhas de lado. Deixemos a parcialidade do lado de lá da cerca.
Nos dias de hoje, qualquer cidadão decente, bem formado e com valores, sabe ver (a milhas, acreditem) quem está neste fenómeno de forma transparente e honesta... e quem está nele com subterfúgios manhosos e esquemas duvidosos.
Não duvidem. Eles sabem. Nós sabemos. Mesmo quando fingem não perceber. Mesmo quando escolhemos não ver. Tudo, mas tudo é claro e óbvio aos olhos de quem tem genuinidade no coração e bondade na alma.
Fica então este desafio. Este apelo.
Façam por ser íntegros a toda a hora. Na vitória e na derrota, na alegria e na tristeza. Respeitem-se uns aos outros. Elogiem quem merece ser elogiado. Critiquem, com fundamento, quem merece ser criticado. Denunciem, sem receios, quem tem que ser denunciado.
Não alinhem em jogos menos claros, em manobras cinzentas, em esquemas suspeitos. Sejam iguais ao que são em vossas casas, junto de quem mais amam: ajam sem filtros. Sejam puros, verdadeiros, humanos.
O futebol vive, cresce e valoriza-se com a atitude das pessoas. De todas as pessoas que o alimentam lá dentro e cá fora. De todos nós.
Não se permitam ser manipulados, não sejam conformados, não falem pela voz dos outros. Joguem um jogo limpo. Saibam comportar-se com decência. Aprendam a usufruir de um espectáculo que tem na indefinição constante da natureza humana a sua mais perfeita imperfeição.
Os adeptos têm que ser o rosto evidente do entusiasmo maciço. O apoio que todos os outros precisam. A luz, a força, a garra de quem "dá a vida" por eles, dentro de campo. Com fair play. Muito fair play.
Os dirigentes têm que ser enormes. Gigantes enquanto pessoas. Inimitáveis na integridade e no carácter. São o cérebro de tudo e os cérebros têm que ser tão inteligentes quanto límpidos. Não vendam a alma ao diabo. Não entrem em jogos que não vos define. Não sejam poucochinho quando a alternativa é ser muito, muito grande.
Treinadores, jogadores e árbitros são os criadores da obra. Os geradores de todas as emoções, de todas as alegrias e desilusões. Dêem o vosso melhor. Suem, transpirem, morram pela camisola que vestem. Sejam imunes a histerias exteriores e a tentações inferiores. Sejam viris na relva e grandiosos fora dela.
Jornalistas e comentadores... honrem o código que abraçaram, o trabalho para o qual vos contrataram. Informem-se com exatidão, falem com fundamentação, critiquem com elevação. Não sejam marionetes de ninguém, porque isso torna-vos fantoches de todos. Sejam profissionais, independentes, consistentes. A ideia é servir os outros, não servir-se a si próprios.
Assumam esse compromisso convosco. Assumamos, todos, este código de honra. Para dentro e para fora. Para nós e para os outros.
A atitude de um somada à atitude dos outros resulta naquilo que todos mais desejamos para o jogo que tanto admiramos. Tornemos as coisas fáceis. Tornemos o jogo fantástico.
A grande mudança depende de cada um de nós.
Vamos começá-la antes que se faça tarde."

​O tempo das palavras

"Os nossos governantes não devem ter receio de ir além das palavras, mesmo tendo em conta que estamos em tempo de eleições.

O que aconteceu no estádio municipal de Coimbra no decorrer de um jogo amistoso em que se defrontavam a Académica e o Benfica, ficou como um aviso sério para aquilo que possa vir a acontecer na temporada que agora começa e que deve ser evitado a todo custo.
Como se recorda, um espectador ficou ferido com gravidade em consequência de uma agressão que lhe motivou uma lesão na coluna com fractura de uma das vértebras. Soube-se ontem que o agressor já está identificado e que, inclusive, já se apresentou às autoridades policiais da cidade do Mondego. 
Perante este incidente grave, o treinador benfiquista Bruno Lage teve palavras duras visando este e outros possíveis agressores, chamando a atenção para a violência que não deve ter lugar no desporto. 
“Temos de começar a prender esta malta, seja preto, vermelho, verde ou azul. Já chega, temos de tomar medidas urgentes”, foram as declarações do actual técnico encarnado.
Oportunas e premonitórias as palavras de Bruno Lage, que servem também de aviso para as entidades governamentais responsáveis, as quais têm revelado uma passividade inaceitável perante factos conhecidos, mas face aos quais têm feito ouvidos moucos.
O secretário de Estado do Desporto teve, aliás, acerca destes incidentes uma declaração difícil de entender: “Espero que as declarações de Bruno Lage sirvam de exemplo aos seus próprios adeptos”, afirmou João Paulo Rebelo.
Só? Perguntamos nós, acrescentando que mais do que palavras são necessárias acções. E o que fez até agora a Autoridade para a Prevenção e Combate à Violência no Desporto?
Os nossos governantes não devem ter receio de ir além das palavras, mesmo tendo em conta que estamos em tempo de eleições."

Balanço positivo

"O balanço da época 2018/19 no futebol e principais modalidades de pavilhão teve no Benfica o clube que conquistou mais títulos de campeão. Para além do título mais apetecido, a reconquista no Futebol, ganhámos também no Futsal e Voleibol, tendo o FC Porto conquistado os títulos de Andebol e Hóquei em Patins e a Oliveirense o Basquetebol.
Quanto ao desporto feminino, fomos também quem mais se destacou, com dois Campeonatos Nacionais (Futsal e Hóquei em Patins), enquanto Braga, no Futebol, Colégio de Gaia, no Andebol, Olivais FC, no Basquetebol, e Leixões, no Voleibol, foram os outros campeões.
No balanço global de títulos de campeões nacionais e comparativamente aos nossos principais rivais, conquistámos 5 títulos de campeão, FC Porto 2 e o Sporting CP zero títulos.
Balanço positivo, mas que assumimos, de forma clara, querer melhorar, aumentando o número de vitórias e conquistas na próxima época e é essa exigência e ambição que assumimos sob o lema – Pelo Benfica.
Numa visão mais global temos que, no futebol, a “reconquista” foi consumada. Era o principal objectivo e a equipa liderada por Bruno Lage, na sequência de uma segunda volta notável, celebrou o 37.º título nacional do palmarés benfiquista.
Nas modalidades de pavilhão, o Benfica dominou o Futsal e o Voleibol, tendo sido igualmente época de “reconquista” em ambas. Os futsalistas venceram ainda a Taça da Liga e os voleibolistas fizeram o pleno de conquistas, triunfando também na Taça de Portugal e Supertaça. O Andebol ficou-se pela Supertaça e o Basquetebol, apesar de nada ter ganho, melhorou relativamente à época anterior, chegando à final do campeonato.
Na vertente feminina, o desempenho das nossas equipas foi notável.
Na primeira época de existência da nossa equipa de futebol, o Benfica venceu o Campeonato Nacional da 2.ª Divisão, assegurando a subida ao escalão máximo, e celebrou no Jamor, ao ganhar a Taça de Portugal.
As nossas hoquistas e futsalistas venceram todas as provas nacionais que disputaram. No hóquei em patins, o Benfica é heptacampeão nacional. No futsal é tricampeão. Celebrou-se ainda, em ano de regresso ao voleibol feminino, o título nacional da 3.ª Divisão e, no andebol feminino, a subida à 1.ª Divisão 21 anos depois.
Nas restantes modalidades – o atletismo ainda não terminou a época – o Benfica celebrou diversos títulos, com destaque para a equipa feminina de polo aquático, cuja aposta recente já resultou num triplete em 2018/19.
A declarada ambição renovada da nossa equipa de futebol é partilhada por todas as equipas que nos representam. Não obstante ter sido o clube com melhor desempenho no conjunto destas modalidades na época passada, o Benfica assume o objectivo de tentar melhorar globalmente e, assim, enriquecer ainda mais o seu palmarés.
Ao mesmo tempo que reafirmamos, em todas as modalidades, uma forte aposta estratégica de garantir o futuro com base na nossa formação. Ganhar o presente, mas sempre com os olhos postos no futuro."

Eusébio Cup: o eterno golo do Benfica

"Quando em 1992 se erigiu uma estátua à entrada da Luz, simulando o pontapé mais perfeito da história do Benfica, o gesto tornou-se importantíssimo na simbologia e um passo vital rumo ao total agradecimento à maior figura da nossa história. Enquanto símbolo, a Pantera voa quase tão alto como a águia, à custa das asas duma memória popular que se mantém forte como aquele Benfica dos ’60. O passo dado em 2008, com o projecto Eusébio Cup, foi de igual importância na valorização da lenda. 
Se os clássicos europeus foi uma das marcas daquela equipa, fazia todo o sentido relembrar essas tardes-noite que tardaram (e tardam, oficialmente…) em repetir-se. Inter, Milão, Tottenham, Arsenal, Real Madrid, Ajax? A final injustamente marcada para San Siro? O carrinho de Pivatelli em Coluna, naquela tarde de Wembley? A vantagem corajosamente defendida em White Hart Lane? Os… 5-3? A passagem de testemunho entre Eusébio e Cruyff? Sim! Que se ponham as velhas gerações a marinar no oceano da memória e que se ponham os mais novos a marinar no da imaginação, como o fizeram estes jogos! É imperativo que haja um momento desta importância em cada Agosto, que a cada pré-época, já elas recheadas de sonhos, se sobreponham outros sonhos e se agradeça aos heróis da nossa história.
Quando, em 2014, Eusébio se despede e parte rumo ao Olimpo, num dia em que até o céu chorou, a importância e carga emocional da ocasião aumentou exponencialmente. O Rei foi demasiado cedo, seria sempre demasiado cedo. Tornou-se imperial manter e fortalecer a tradição, torná-la perpétua no calendário e discernir os «os valores mais altos que se levantam», como o Sr. Mário Wilson exaltou em certa gala. E se nesse ano ainda o relembrámos com a prestigiante presença do Ajax, fica a sensação dum certo… desleixo a partir daí. Em 2015, depois daquela pré-época atribulada pelas Américas, a homenagem é festejada em Monterrey sob pretexto de 10 (!) jogos de Eusébio com a camisola local. Conveniência? Se fica difícil argumentar contra essa ideia, como defender a ocupação do Algarve dois anos depois? Impossível. Se a ideia Monterrey tiver realmente sido com boas intenções, porque não continuar o projecto e deslocar a taça para Maputo, Tomar ou Toronto? De destacar a edição com a presença do Torino e o convite á Chapecoense, infelizmente recusado por motivos ainda dúbios, atitudes que engrandecem o nome da instituição e o de Eusébio e que se coadunam com os valores fundadores.
Apanhando a boleia da ideia de Tiago Pinto que, ainda este mês, afirmava que «ou se faz com dignidade ou não se faz», a Eusébio Cup é algo que tem de ser encarado como total prioridade para o planeamento benfiquista, garantindo com toda a antecedência as condições necessárias à exaltação da memória de Eusébio, ano após ano. A inexistência duma homenagem é uma situação que não pode nem deve repetir-se porque, como exalta o hino original,
E vós, ó rapazes, com fogo sagrado,
Honrai agora os ases
Que nos honraram o passado!"

Seja bem vindo ao seu lugar, Sr Gabriel Pires


"Depois de uma comprometedora lesão Gabriel está de regresso para ocupar o seu lugar no meio campo do Benfica, e embora num teste demasiado fácil, tornou-se bastante perceptível como está bem integrado no modelo de Lage, e que mais valias lhe traz.
No momento defensivo, a agressividade, disponibilidade fazem a diferença, em cima do assertivo posicionamento. A forma como sai na hora certa, sempre aumentando passada, reconhecendo timing de pressão permite-lhe recuperar inúmeras bolas, e as que não recupera vai obrigando ao erro.
Com bola, se tem espaço é um tratado. Já se percebe ser o médio brasileiro o responsável por dar saída na construção quando adversários bloqueiam os centrais, pela forma como baixa para receber. A partir do momento em que a bola lhe toca as botas, a magia acontece. Seja nas variações longas que transformam situações de grande densidade de pernas em momentos para o colega até então fora do centro de jogo acelerar em 1×1 com espaço, ou na forma como facilmente descobre os quatro mais adiantados no espaço central nas costas dos médios adversários, a preponderância que se prepara para assumir com bola é também ela bem visível."

A fábrica de treinadores do Seixal

"Foi a 22 de Setembro de 2006 que decorreu a tão esperada inauguração do Caixa Futebol Campus. Pela mão do presidente Luís Filipe Vieira, era então criada uma academia que tanto servia de apoio ao futebol sénior como às camadas jovens.
Passado 13 anos, a “menina dos olhos” do presidente tem fornecido vários jogadores ao plantel principal e é hoje um caso sério de sucesso, sendo igualmente reconhecida como tal pelos quatro cantos do mundo. Contribui para isso o facto de vários jogadores made in Seixal serem hoje reconhecidos a nível mundial. Como exemplo temos hoje os casos de Bernardo Silva, João Cancelo, André Gomes, Ederson, Ronny Lopes, Mário Rui, Danilo Pereira, entre muitos outros.
O que não é um assunto tão falado é que pouco a pouco começa a ser notório que os treinadores de formação, além de contribuírem para o sucesso do Seixal, estão a crescer profissionalmente com a ajuda do Caixa Futebol Campus. Logicamente que não é possível falar destes treinadores sem mencionar o melhor caso de sucesso, o actual treinador da equipa principal, Bruno Lage.
No entanto, este texto pretende realçar dois treinadores que desenvolveram um trabalho de eleição dentro da fortaleza encarnada. Falo-vos de João Tralhão e Renato Paiva.
Desde muito cedo que João Tralhão teve o SL Benfica como a sua entidade patronal. Bem antes da existência da academia, já o mister dava os primeiros passos na sua carreira como treinador. Inicia a sua actividade como treinador estagiário na época 2001/2002 e, tal como Bruno Lage, ao longo de vários anos teve o seu irmão Luis Tralhão como colega de trabalho.
João Tralhão teve maior notoriedade nos últimos anos, tendo sido sucessivamente treinador de vários talentos nos sub-19 encarnados. Como destaque, obteve dois títulos nacionais de juniores e foi duas vezes finalista vencido na tão conceituada Youth League. Abandona o SL Benfica para abraçar um convite feito por Thierry Henry para ser o seu braço direito na equipa principal do Mónaco.
Pela mão da imprensa desportiva, foi dada a notícia como uma enorme surpresa, mas aqueles que estão mais atentos ao futebol de formação não ficaram surpreendidos com a mudança. Agora sem clube, espera seguramente pela melhor oportunidade para voltar ao activo e penso que a próxima oportunidade será o cargo de treinador principal numa equipa de Primeira Liga.
Renato Paiva é um treinador sobre o qual tenho uma grande admiração. Confesso que valorizo bastante o futebol praticado pelas equipas orientadas por si mesmo.
Chegou ao SL Benfica na época 2005/2006 e tal como João Tralhão, foi conseguindo pouco a pouco o seu espaço dentro do futebol de formação encarnado.
Nesta época desportiva, orientou pela primeira vez uma equipa de futebol profissional. Com a saída de Bruno Lage para a equipa principal, ficou um lugar vago na equipa B. Esse lugar foi logo ocupado pelo mister, que até ao momento orientava com sucesso a equipa de sub-19.
Os primeiros jogos não foram fáceis, uma vez que Renato Paiva viu-se privado de vários jogadores, tais como Ferro, Florentino e Zlobin, que tornavam-se presenças assíduas nas convocatórias de Bruno Lage. Mas pouco a pouco, jogo após jogo, Renato Paiva conseguiu impor as suas ideias e fez com que a equipa B terminasse o campeonato num honroso 4º lugar.
Foi agora notícia que Renato Paiva era uma das hipóteses para suceder a Abel Ferreira no comando do SC Braga. Acredito vivamente que a curto/médio prazo, irá abraçar um projecto com uma grandeza que faça dele uma referência do futebol português.
Este texto foi essencialmente dedicado a dois treinadores, mas bem que podia ser alargado a outros, como é o caso de Luís Nascimento (irmão de Bruno Lage), Luís Tralhão, Luís Araújo, Filipe Coelho ou Pepa, sem nunca esquecer o mister Bruno Lage."

Oliver Torres e os craques que estão a chegar

"Não partilho do entusiasmo com que nos diversos programas televisivos diários dedicados ao Mercado de futebolistas se projecta invariavelmente os alvos estrangeiros dos principais clubes como grandes estrelas, do presente ou do futuro.
Parto do princípio que se fossem tão bons como os pintam não vinham para Portugal.
E a análise primária diz-nos que os mais jovens não têm experiência que assegure alto rendimento imediato e os mais velhos vêm em busca de relançamento das carreiras, todos procurando apenas servir-se do prestígio dos nossos três grandes clubes como alavanca para a vida profissional.
Defendo a tese de que 80 por cento dos contratados sofrem desvalorização irreversível ao fim do primeiro ano. Não digo que todos sejam “flops”, mas são claramente inflacionados pela manha dos agentes, pelo oportunismo dos “scouters”, pela incompetência dos dirigentes e pela conivência dos media. E acabam a sair pela porta pequena, deixando um rasto de prejuízos na proporção inversa dos lucros obscenos dos negreiros envolvidos.
Se, por exemplo, Oliver Torres estivesse a chegar a Portugal neste momento por 20 milhões de euros não haveria limite para as hipérboles descritivas do seu enorme talento. E no entanto, na hora de saída, com desvalorização de quase 50 por cento e críticas carregadas de cinismo a justificar o “bom negócio” do FC Porto, ninguém ousa recordar que chegou campeão europeu de sub-19 e tendo estreado na primeira equipa do Atlético de Madrid com apenas 17 anos. Apesar do razoável rendimento desportivo, foi apenas mais um da enorme maioria que não se valorizou e não conseguiu corresponder ao investimento feito nem às promessas dos olheiros que o avalizaram.
Quando tinha apenas 19 anos, alguém descreveu Oliver Torres como um “criativo dono de uma técnica apuradíssima, um desequilibrador nato, de grande classe, que faz a diferença pela superior qualidade técnica no drible e condução de bola, e pela assinalável precisão no passe, velocidade de execução e acerto na tomada de decisão”.
À chegada, em 2014, lia-se no site oficial do FC Porto: “Oliver Torres tem alma de artista. Às vezes pinta, outras desenha e dança quase sempre”.
À partida, em 2019, ouve-se no Porto Canal: “Só foi verdadeiramente útil para Sérgio Conceição quando os outros médios não podiam jogar”.
O caso do espanhol que sai do Dragão sem brilho - mas chega a Sevilha, ironicamente, reabilitado como um grande craque - nada tem de excepcional, antes é um paradigma do que acontece aos mais pintados neste carrossel da fama.
Mas a quem aparece num espaço mediático destinado a criar esperança, será muito difícil levantar dúvidas ou prever o fiasco de determinado jogador, ainda mais com “pedigree” internacional como tinha este espanhol há cinco anos, num contexto de entusiasmo irracional dos espectadores e adeptos em momento de decisão no processo de renovação dos bilhetes de época. Nem sequer se pode perder tempo a contextualizar o espaço que cada candidato a estrela pode, efectivamente, disputar na galáxia do novo balneário.
A inclusão de determinado jogador estrangeiro, até por valores completamente desajustados, já não se destaca em plantéis em que os portugueses estão em minoria. Os estrangeiros são recebidos tão bem, que nem precisam de se evidenciar, pois as facturas são entregues e pagas antes da mercadoria. Neste negócio, ganha-se antes de produzir: é um craque estrangeiro, dá cá 20 milhões!
Passaram os tempos em que os jogadores estrangeiros eram excepções e ninguém tinha margem de erro no momento de contratar. O início da internacionalização do futebol português coincidiu com a Revolução de 1974, com o fim da “lei de opção”, com a liberdade social e com a reabertura de Portugal ao Mundo: encerrou o filão das colónias africanas e descobriu o El Dorado sul-americano. 
Lembro-me da contratação de Cubillas pelo FC Porto como um momento realmente extraordinário, fosse pelo preço, então decantado pelos jornais ao centavo - salvo erro eram 11 contos (55 euros) por dia - fosse pela classe do jogador peruano, um dos dez melhores do Mundo, na altura. E também recordo a primeira venda de um clube português por valores que hoje seriam classificados de “estratosféricos”, no caso a transferência de Yazalde do Sporting para o Marselha, a seguir ao Mundial de 1974.
Cubillas e Yazalde eram internacionais de nível mundial, estrelas de brilho intenso, como raramente voltámos a ter nos clubes portugueses, devido à massificação descontrolada que a liberalização dos mercados e o negócio das percentagens veio potenciar no final do século passado.
No início dos anos 80, o Benfica também acabou com a norma anacrónica de só alinhar portugueses e eu próprio, já como jornalista, lembro-me de ter feito a primeira entrevista a Filipovic, o primeiro “realmente estrangeiro” e igualmente uma vedeta internacional, em pleno relvado da Luz, sem holofotes, nem “directos”, nem atropelos mediáticos.
Os negócios eram feitos à margem do grande público e surgiam na imprensa de verão à cadência dos trissemanários - toda a gente tinha mais que fazer do que acompanhar o vai-vem dos craques à velocidade do twitter.
O engraçado é que ninguém se atrevia a adjectivar um Yazalde, ou um Cubillas, ou um Filipovic com metade dos superlativos que hoje acompanham as fichas dos “alvos” do mercado, para enquadrar os milhões do transfermarkt. Não havia Youtube, nem sequer VHS, só autêntico prestígio internacional, provas dadas ao mais alto nível e seriedade."