quarta-feira, 3 de julho de 2019

David Tavares 2024

Ainda hoje durante o treino transmitido pela BTV, foi possível observar pormenores que não enganam!!! A afirmação do David vai ser feita com um ano de atraso, devido à lesão maldita, logo no primeiro treino da época anterior... tenho a certeza que mesmo com Rui Vitória, teria sido aposta, ainda por cima com as dificuldades que o Gabriel teve no início...!!!
Com 7 jogadores para duas posições (Samaris, Florentino, Gabriel, Taarabt, Gedson, Dantas e o David), não acredito que fiquem todos no plantel... suspeito que o Tiago Dantas, poderá ser o 'sacrificado', mas tenho quase a certeza que o David vai ficar...!!!
Temos inclusive plantel, caso o treinador assim o determine, par jogar em 433! Sem o Félix, sem uma 'cópia' do Félix no plantel até poderia existir a tentação para mudar o 'esquema', mas muito sinceramente não acredito...!!!

Sabe quem é? Um 'sheik' sem hárem - Caio Lucas

"Aos 17 anos estava para deixar o futebol, japoneses não o deixaram; Não veio para o FC Porto, veio para o Benfica

1. Nasceu, por Abril de 1994, em Araçatuba (que, no interior paulista, se conhece como a Cidade do Boi Gordo) e por lá se lançou ao futebol na escolinha do América. Não tardou que o desafiassem para o São Paulo FC. Vendo-o chegar com metro e meio de altura, passaram a chamar-lhe Baixinho. Por lá andou seis anos (na sua equipa jogava Lucas Moura) - e, dum instante para o outro, o seu sonho parece tornar-se cinza.
2. Acabara de fazer 16 anos - e foi como se o céu desabasse sobre a sua cabeça: «No São Paulo falavam desde o começo que eu não tinha tamanho para ser jogador e, então, arrumaram esse motivo para me dispensar». Amargurado com a guia de marcha, ainda se aventurou a teste no Santos e no Palmeiras - e, em ambos os casos, a resposta que não, não o queriam.
3. Achando a esperança a fugir-lhe por entre os pés, deu a um amigo e material de futebol que tinha e atirou-se à busca de trabalho «em qualquer coisa que pegasse». O destino deu-lhe, desconcertante, futuro outra vez: «Ouvindo falar de japoneses que façam temporada por ali, meu pai insistiu que fosse a um jogo em Birigui, cidade ao lado da minha, com esse tal colégio de Chiba. Peguei as minhas chuteiras de volta ao meu amigo e fui ao amistoso com eles. Com dois toques na bola, logo me quiseram...»
4. A proposta soltou-se-lhe no final do jogo: ir para o Japão jogar e estudar - e já lá fez 17 anos. «Fui com Breno, não sabíamos falar nada. Quando a japonesada falava com a gente só dávamos risada. Com sete meses lá, já me virava. Na escola, não jogava só, não estudava só. Por exemplo, éramos nós, os alunos, que lavávamos os banheiros do colégio em esquema de revezamento. Ali, quando chegava a minha vez, eu dava uma escapada com a malandragem brasileira. Quando não tinha jeito para isso, jogava uma água lá, mas não esfregava, não...»
5. Fulgor que espalhou nos torneios escolares pelo Chiba Kokusai levou a que, aos 20 anos, o Kashima Antlers (onde Zico jogara) o desafiasse para lá. Logo ganhou a Taça do Imperador. O seu treinador era Toninho Cerezo - que dele disse: «Criativo, alia a técnica à rapidez. Não fica preso a marcações, gosta de ter bola, com ela nos pés nos pés procura sempre tabela e infiltração, das duas deambulações ela esquerda resultam golos, muitos golos».
6. Não, já ninguém o tratava por Baixinho, tratavam-no por Neymar Japonês (e não só pelas tatuagens) - e, no ano seguinte, foi o craque que arrastou o Kashima Antlers à vitória na J-League. A Champions da Ásia perdeu-a para o Jeonbuk Motors (e a mágoa maior foi não poder fazer o que imaginara: foto ao lado de Cristiano Ronaldo e de Marcelo quando com eles jogasse o Mundial de Clubes).
7. Desafiado a tornar-se japonês, ficou de pensar. Em 2016, o Al Ain deu três milhões de euros pelo seu passe. Casado com uma japonesa, a hipótese de jogar pela selecção do Japão perdeu-se pelos Emirados Árabes Unidos. Em Abu Dhabi virou, um fogacho, ídolo do clube - o fascínio que causou num ápice o arrastou a grande reportagem vestido de sheik (e, deliciado e brincalhão, ele revelou-o: «Sheik sim, mas diferente - pois vim para cá com a minha esposa e a minha vida não tem essa história de harém, não...»
8. A história repetiu-se: pelo Al Ain (onde se cruzou com Rúben Ribeiro) também ganhou o campeonato e taça - e em 2018 jogou, finalmente, o Mundial de Clubes (só que, apanhando o Real Madrid em Abu Dhabi já lá não tinha o Cristiano Ronaldo). Aliás, não jogou apenas o Mundial de Clubes, resplandeceu nele: golo seu arrastou à eliminação do River Plate (e o túnel que fez a Enzo Pérez correu mundo no frenesim do Youtube). A final perdeu-a para o Real - ele saiu de lá com a Bola de Prata (a de Ouro coube a Gareth Bale). E foi nessa altura que se começou a falar de si para o FC Porto (achando-se que pudesse repetir em novo encanto a história de Hulk).
9. Para Portugal veio mas não foi para o FC Porto - foi para o Benfica (a custo zero, com salário de 1,2 milhões de euros ao ano e prémio de assinatura que se insinuou ter andado próximo dos 3 milhões). Ao chegar à Luz, na quinta-feira largou o aviso, num clamor: «Venho para ser campeão! Sou um jogador com muita velocidade. Tento marcar golos e ajudar nas assistências. Vontade e garra não vão me faltar, podem ter a certeza»."

António Simões, in A Bola

Ascot

"1. Aí está a nova temporada (para já em lume brando). À atenção dos interessados, há navios de guerra alemães à venda no eBay.
2. «Senti o meu corpo a rebentar por todos os lados», disse Fernando Pimenta após ganhar uma medalha. Mas podia ser Sérgio Conceição depois de o FC Porto perder Bruma para o PSV.
3. Há quem tenha o coração no Boca (Salvio) e há quem tenha o coração na boca. Podemos elogiar Megan Rapinoe por muitos aspectos, mas dizer que não se pode ganhar o Mundial de futebol feminina sem gays na equipa é negar o que defende e representa.
4. Depois da factura desportiva (pior época em 20 anos), o Real Madrid paga a factura financeira (mais de €300M já gastos, recorde absoluto). Florentino Pérez não podia ser guarda-redes, falta-lhe golpe de vista (CR7).
5. Carlos Queiroz diz que «o VAR é uma criança a começar a andar». Por cá estamos na fase da troca de fraldas.
6. Caro Sporting, o ecletismo termina onde começam as exibições de pião (ou ioiô ou berlinde ou derivados).
7. Parabéns aos atletas portugueses medalhados nos Jogos Europeus. Não festejava assim desde os Jogos sem Fronteiras com Eládio Clímaco.
8. A saída de Bruno Fernandes está mais lenta que as filas da Loja do Cidadão e as ofertas são mais fracas que a memória de Vítor Constâncio. Já lhe chamam o Bruno do prédio Coutinho.
9. A experiência de Jesus no Flamengo assemelha-se, até ver, à corrida de cavalos de Ascot. Está tudo a olhar para os chapéus das senhoras.
10. Não sei o que é mais estranho: Venus Williamns perder com tenista de 15 anos ou a McDonald's lançar hambúrgueres portugueses na Malásia.
11. Depois dos míticos 15 minutos à Benfica, teremos os 15 minutos à Bruno de Carvalho (se ele for). Talvez termine com um: «Não encaixa no meu feeling».
12. Apareceu-me aqui em casa por engano um dos arguidos da invasão de Alcochete. O que faço?"

Gonçalo Guimarães, in A Bola

O mercado parece não ter pressa...

"O mercado, nesta janela de verão, anda preguiçoso, como se não houvesse pressa de definir os plantéis. É verdade que muitos dos melhores negócios se fazem em cima do risco da meta, mas os principais clubes não podem esperar até tão tarde. Nesta altura, está tudo à espera que Pogba, De Ligt, Neymar, Bale, Griezmann, Eriksen, Dembelé e Coutinho se definam, para que, a seguir, com o dinheiro a girar, a economia do futebol conheça a animação prometida.
À escala portuguesa, logo que João Félix seja apresentado em Madrid e Raúl de Tomás se oficialize na Luz, o Benfica terá uma espécie de troca consumada; ficará a faltar, aos encarnados, um substituto para Jonas, e isso não é nada fácil de conseguir. E, talvez porque a última época foi feita pelo caminho das pedras, não tem sido suficientemente enfatizada a importância do brasileiro, na Luz. O Benfica precisa de olhar com muita atenção para o investimento que vai fazer para encontrar alguém com qualidade suficiente para calçar os sapatos de Jonas. Ainda na Luz, uma questão já colocada na segunda metade da época passada: não fará falta uma alternativa a Seferovic?
Já o Sporting permanece refém da indefinição por Bruno Fernandes. Enquanto não houver uma certeza relativamente ao futuro do talentoso médio, Marcel Keizer não pode definir o tipo de futebol dos leões, na certeza de que ter ou não ter Bruno Fernandes faz toda a diferença.
O FC Porto, por seu turno, o primeiro a entrar em competição, tem um contrarelógio exigente para disputar. E, apesar da chegada de Zé Luís, há muito trabalho a precisar de ser feito no Dragão. E pouco tempo..."

José Manuel Delgado, in A Bola

O multiverso de Chiquinho

"Chiquinho assina pelo SL Benfica depois de uma grande época em Coimbra.
Chiquinho assina pelo SL Benfica depois de um grande época em Moreira de Cónegos.
Chiquinho é o clone de Pizzi.
Chiquinho é o clone de Candeias.
Chiquinho integra o plantel para a próxima época.
Chiquinho é dispensado.
Chiquinho vale 690 mil euros.
Chiquinho vale 9 milhões.
O Benfica não recebe um tostão pelo Chiquinho.
Um universo de possibilidades, um multiverso de realidades em volta de Francisco Silva Machado. 
Se não fosse a questão temporal estaríamos realmente a falar em realidades paralelas. Contudo a junção destas possibilidades permite-nos criar duas realidades dentro do mesmo universo, duas realidades somente separadas por 12 meses e ligadas pelo factor somatório dos valores monetários – Chiquinho custou ao SL Benfica 690 mil euros + 4,5 milhões (50% do passe e 750 mil condicionantes do apuramento para a Champions). Portanto saiem dos cofres da Luz mais de 5 milhões euros e entram zero.
As negociatas e gestão do plantel na época transacta são as grandes críticas a este negócio. Chiquinho sempre teve valor para o SL Benfica e é incompreensível a sua dispensa após 20 dias de águia. Comprar um jogador para depois o ceder a custo zero – prática já usual – e ainda o ir buscar 11 meses depois por quase sete vezes esse valor… é algo transcendente.
A questão nem está no valor do jogador, a questão está no facto de um clube gastar 4,5 milhões para adquirir um jogador seu que deveria estar emprestado. A roda dos milhões é o grande buraco negro neste universo com um espaço temporal de apenas um ano.
Agora esquecendo os acontecimentos do Verão passado.
Chiquinho chega à Luz por 4,5 milhões de euros (750 mil por objectivos prováveis) sendo que lhe é atríbuido um valor de 9 milhões euros. Uma excelente compra por parte do SL Benfica. O resgate deste jogador é uma das grandes noticias do defeso encarnado.
É que o multiverso de Chiquinho estende-se também aos relvados.
Chiquinho não é o clone do Pizzi mas pode sim jogar na sua posição. Tal como na posição do Félix. Tal como do outro lado onde tem vindo a actuar mais o Rafa. Tal como o terceiro médio num regresso táctico ao passado. O Chiquinho é jogador da bola, trata bem a redonda, finaliza, serve os colegas, lê e interpreta o jogo. O Chiquinho é mais um talento para o carrossel de ataque Lagiano. E com a saída de João Félix e Jonas, Chiquinho é uma lufada de ar fresco para todos os benfiquistas. 
Vale os milhões por ele pagos e não deve ser nunca sobrecarregado com o peso dos erros e negociatas de quem dirige o clube.
Chiquinho é mais um motivo para a bola sorrir no Estádio da Luz. Um péssimo negócio.
Uma fantástica contratação."


PS: Esclareço a minha opinião: a Direcção cometeu um erro, o Chiquinho deveria ter sido emprestado sem cláusula (ou com uma cláusula alta), ou então vendido com uma cláusula de recompra baixa... este tipo de venda - 50% -, ficamos sempre dependentes de propostas malucas feitas por clubes ligados a determinados empresários...
Seria fácil agora, para não dar parte fraca, receber os 4,5M pela venda do jogador para a Rússia... mas isso na minha opinião seria cometer outro erro: o jogador, agora mais experiente, com ritmo de I Liga, provou ter muita qualidade, portanto o regresso, é a melhor decisão...
Em relação aos valores, são altos, para um jogador que era 'nosso', mas creio que o valor será abatido com jogadores emprestados, vamos esperar para ver...

Espanha voltou a casa

"No meio está a virtude é uma expressão popular que encaixa como uma luva num campo de futebol. Adaptada ao contexto, e se me é permitida a liberdade, será qualquer coisa como: no meio-campo estão os virtuosos. Poderá ser mais verdade numas equipas do que noutras, mas poucas dúvidas haverá de que a selecção de Espanha de sub-21 dá corpo a esta máxima com pinceladas de artista. Mais do que a conquista do Europeu da categoria, fica a impressão duradoura de um regresso a casa. 
Não consigo evitar uma viagem até ao Euro 2004 quando olho para o percurso da equipa espanhola em Itália. Tal como Portugal há 15 anos, entrou em cena com o pé esquerdo (derrota justíssima diante do anfitrião) mas teve a humildade e a astúcia de emendar a mão, retomando uma zona de conforto que coincide com o seu ADN. No caso de Luiz Felipe Scolari, essa teia genética chamava-se FC Porto, a Luis de La Fuente bastou-lhe recapitular lições passadas.
Em teoria, a cartilha do treinador que começou a carreira na equipa secundária do Athletic Bilbau tinha razão de ser. Compreende-se onde queria chegar quando disse, numa entrevista recente, que embora seja um admirador do jogo de posse, sente necessidade de dar outro tipo de respostas sempre que as circunstâncias o solicitam. Por outras palavras, as do próprio: “Quando temos de jogar directo, jogamos directo”.
Pois bem, o primeiro esboço dessa tentativa teve de ser rasgado - ou guardado com anotações na esperança de um aperfeiçoamento futuro. Para se agarrar à competição como a um helicóptero de resgate, De la Fuente virou a equipa do avesso: prescindiu de um avançado convencional (Mayoral) para jogar com um falso nove (Oyarzabal), dotou o tridente interior do meio-campo de mais critério e criatividade e juntou-lhe ainda dois médios suplementares (Olmo e Fornals) que criaram sempre mais por dentro do que pelos corredores laterais.
Em vez de uma overdose de corredor central, o que se viu foi uma capacidade adicional de explorar o espaço entre linhas, também por força do primeiro passe cirúrgico de Marc Roca ou Fabián Ruiz (eleito o melhor jogador do torneio). Foi uma multiplicação de linhas de passe que nasceu das trocas posicionais mais frequentes no sector, que também beneficiou dos timings de decisão de Dani Ceballos. Foi a criação de espaços onde pareciam não existir graças aos movimentos de arrastamento de Oyarzabal.
O primeiro golo da final é um exemplo perfeito desta relação quase telepática que as diferentes fornadas das selecções espanholas têm alimentado ao longo dos anos. Passe vertical a romper linhas, avançado a baixar e a atrair um central para combinar de primeira e deixar um dos médios em posse e de frente para o jogo. A chamada dinâmica do terceiro homem a funcionar na perfeição, abrilhantada por um remate tão espontâneo quanto certeiro.
Luis de La Fuente tinha a vantagem de já ter trabalhado nos sub-19 com nove dos jogadores da convocatória. Sabia o que podiam dar ao jogo e em que zona do terreno poderiam ser mais-valias. Sabia que, apesar de alguns terem sido obrigados a procurar além-fronteiras o espaço que lhes vedaram em Espanha, aliavam qualidade e maturidade em doses suficientes para fazerem a diferença.
Curiosamente, Espanha até terminou a final abaixo da Alemanha em muitos dos indicadores estatísticos mais relevantes, a começar pela posse de bola. Impôs-se, acima de tudo, pela objectividade dessa posse, construindo com mais critério e criando mais oportunidades reais do que o rival. Envolveu os laterais para dar largura (o esquerdino Junior foi o mais incisivo) e chegou com relativa facilidade a zonas de criação. Pecou aqui e ali na definição, é certo, mas também protagonizou um momento supremo com aquele chapéu de Dani Olmo já com a linha de baliza ao alcance de um braço.
Não deixa de assistir razão ao seleccionador quando alude à necessidade de adaptar o jogar da “sua” Espanha às exigências do jogo. Haverá momentos em que poderá fazer sentido, até como fonte de surpresa para o adversário. O que não faz sentido é tornar essa abordagem no plano A de um conjunto de estetas capazes de transformarem um jogo de futebol numa obra de arte em movimento. É tirar-lhes o pincel das mãos."

Defeso: perguntas, explosões e afins

"Quando não havia esta febre mercantil ainda era tempo para nos deliciarmos com o Tour de França ou a nossa exígua Volta a Portugal

1. Há 61 dias entre hoje e o fim de Agosto. Muita água (liquidez) vai correr por debaixo da ponte (defeso). Um tempo para ilusões e desilusões. Tenho para mim que não vale muito a pena ler os variados e fantasiosos «diários do defeso». No fim, logo se verá, depois de decantadas muitas partículas aparentemente noticiosas. Neste longuíssimo período tanta tinta retinta vai dar à estampa uma coisa e o seu contrário. Quando não havia esta febre mercantil, ainda era tempo para nos deliciarmos com o Tour de França ou a nossa exígua Volta a Portugal, ou ainda uma competição internacional de hóquei em patins. Agora é só bola, mesmo que para se concluir por «bolas».
O defeso passa por várias e distintas fases. Começa no modo perguntar, depois passa para a fase de arrolar uma longa série de jogadores estrangeiros que quase ninguém havia ouvido ou lido, até que surge a bomba de um nome indecifrável, acompanhado de um vídeo de meia-dúzia de momentos gloriosos e, obviamente, sem o resto. É o tempo em que ouvimos certos especialistas falar deste ou daquele craque como se os tivessem acompanhado desde pequeninos. Depois vem o modo quase, às vezes fungível com o modo abortar (o negócio). Pelo meio, há o mini-mercado de trocas e baldrocas onde empréstimos são muitas vezes uma forma de condicionar o mutuário face ao mutuante. Antes do fim, há o mercado secundário ou período de saldos, aproveitados avidamente pelos que não têm acesso ao mercado primário. Por fim, chega o modo mais excitante, qual seja o do leilão de última hora no dia 31 de Agosto, onde já não há tempo para manobras de diversão e espaço para especulações mediáticas e onde é, tão-só, pegar ou largar.
Neste mercado, há um ponto que sempre me intrigou. O de se concretizarem transferências que, afinal, não o irão ser. O clube A adquire o passe de um certo jogador, para nem sequer vestir o seu equipamento, pois logo é recambiado para um outro clube por empréstimo (que até pode ser o clube onde o atleta já estava...). Poderíamos chamar-lhe «transumância». Isto, evidentemente, quase sempre acompanhado de declarações arrebatadoras do jogador em causa com aquela pitada de amor eterno à camisola que (não) vai vestir... Porque mais atento ao Benfica, cito, por exemplo, Cádiz que veio do Vitória de Setúbal e que parece - a fazer fé nas notícias - irá jogar num terceiro clube, sem passar pela Luz.

2. Como atrás referi, há uma expressão muito curiosa e que agora é um modismo do defeso. Refiro-me ao verbo perguntar. Todos os dias há notícias sobre clubes que perguntam por jogadores (mais raro é jogadores perguntarem por clubes, antes perguntam por euros). No mercado, perguntar é, nã raro, um verbo usado para substituir a falta de um substantivo, a verba. Às vezes, creio que se pergunta não sei a quem. E, de vez em quando, dá a sensação que se trata apenas de perguntar por perguntar. Outras vezes pergunta-se para que outros deixam de perguntar ou continuando a perguntar o preçário pós-pergunta seja influenciado. Por exemplo, «O clube X perguntou pelo jogador A», é, cada vez mais, uma forma de fabricar uma novidade, de lançar um isco, ou de atiçar uma putativa concorrência. Perguntadores há muitos: é fácil, é barato e, às vezes, dá milhões. Emerge uma nova classe profissional: os perguntadores remunerados em função da sua maior ou menor língua de perguntador, mesmo que as perguntas sejam de algibeira (aqui no sentido literal). Neste contexto, vem-me à memória Vergílio Ferreira: «Uma pergunta não interroga: uma pergunta diz a resposta».

3. Divirto-me também com outro verbo: «explodir». «É este ano que este jogador vai explodir!», assim ouvimos e lemos amiúde, depois de devidamente decretado e certificado pelos magos do futebol. Eis em toda a sua explosão (ou será implosão?) o esplendor do defeso de Verão. Entre duas épocas, explodir é a mensagem e a esperança. A sorte e probabilidade. O preço e a pressa. O retorno e o entorno. Alguns explodem tanto no defeso que esgotam as munições e têm de mudar de ares para tentar explodir com novo oxigénio. Outros explodem de tal sorte que desaparecem. E ainda outros, coitados, explodem em jeito de fogo preso. É, por isso, que não sabem conjugar o verbo explodir, na primeira pessoa do singular do presente do indicativo, dizendo «explodo» em vez de expludo. Na explosão, como regra, não há fumo sem fogo e fogo sem fumo. É o que vemos com o fogo-de-artifício de quem dela beneficia. E, ao que leio, há clubes onde ainda não há explosões, mas há foguetório, com estampido.

4. O defeso é, de facto, muito imaginativo. Às vezes, até por não ter imaginação nenhuma. Ainda há dias, li as ousadas declarações de um craque recém-contratado que me impressionaram: «Posso acrescentar garra e vontade de ganhar» (coisa que até eu poderia acrescentar...). Li também uma notícia que assim rezava: «Reine-Adélaide colocado no radar». Ao princípio pensei que se tratava de uma rainha de ascendência francesa. Depois vi que se tratava se um jogador, só não percebi se era ele que ia para o radar ou se foi o radar que o detectou. Há outra figura do defeso que me faz lembrar uma involução matemática: refiro-me aos atletas que assinam para ficar num clube, mas saem, ou os que, não saindo, não assinam por onde ficam. Dois exemplos dos últimos dias, ainda a procissão vai no adro: «Miguel Oliveira renova e sai» (quase um paradoxo, a não ser que renova seja a referência a uma marca comercial de papel higiénico) e «Alef renova e é cedido» (coitado, neste caso nem sai, é apenas cedido). Li também que «Premier League não larga Marega», um título que tem a vantagem de não ser desmentido por nenhum dos 20 clubes da mesma.
Na semana passada, o MVP do defeso foi Bruma. Vejamos só algumas manchetes. 21 de Junho: «Bruma prefere o Dragão» (O Jogo). 22 de Junho: «Bruma desviado para a Holanda» (A Bola). 23 de Junho: «Dragões não desistem de Bruma» (A Bola). 25 de Junho: «Bruma quase Dragão. Oficialização do negócio iminente» (O Jogo), «Dragão ao ataque: Bruma assina pelo FCP até 2024. Prevaleceu a vontade do jogador» (A Bola). 26 de Junho: «Bruma volta a complicar-se» (A Bola), «PSV enviou emissário a Lisboa, mas não deu a volta a Bruma» (O Jogo). 27 de Junho: «... Bruma escapou para o PSV de madrugada» (O Jogo), «PSV desviou Bruma em raide nocturno» (A Bola), «Bruma fugiu para Eindhoven» (Record). Passando ao lado do tamanho dos caracteres na capa de O Jogo e Record que são bem eloquentes no anúncio da chegada e quase microscópios nos desmentidos seguintes, este caso - como tantos outros - é uma boa prova do carrossel de rumores, meias-notícias e variações ao minuto em que o defeso é pródigo para compensar a ausência de competições a sério. Isto para já não falar dos «mercados» e «transferências» televisivos onde é o mesmo, mas em escala logarítimica. Enfim, bruma não falta ao defeso. Entre a bruma nortenha e a bruma dos Países Baixos, o que contou foi a espessura do nevoeiro cerrado no sonho de uma noite de Verão.

Contraluz
- Citação (I): De Valdo notável e inesquecível jogador do Benfica nas décadas de 80 e 90: «Quando se fala em Benfica eu ponho-me logo de pé» (em A Bola de 30/6).
- Citação (II): De Jorge Jesus «Hoje o Fla é mais falado lá (em Portugal) do que os três grandes» (em A Bola de 30/6).
- Competição: Os Jogos Europeus, uma invenção recente de um acontecimento que, notoriamente, está a mais. Querendo, pomposamente, ser uma espécie de Jogos Olímpicos Continentais (tipo 2.ª divisão), descaracterizam alguns desportos (o atletismo é um deles) e não despertam grande interesse. Este ano, na Bielorrússia, com estádios às moscas e um notório desinteresse geral, num país de tradição autocrática. Valha-nos a boa prestação dos nossos compatriotas.
- Confusão: A portuguesa Fu Yu conquistou a medalha de ouro no ténis de mesa feminino nos Jogos Europeus derrotando a alemã Han Ying na final. Assim vão as nacionalidades desportivas...
- Discriminação: Vai começar o Campeonato do Mundo de Hóquei em Patins, na cidade de Barcelona. Dantes, era um acontecimento. Agora é um esquecimento. Tudo diminuído pelo futebol totalizante.
- Fiasco: A Copa América tem sido um completo fiasco. Jogos sonolentos, bancadas quase vazias no Brasil do futebol. Acresce essa estranha inovação de haver dois países asiáticos convidados (Japão e Catar) para acrescentar aos 10 países sul-americanos e substituir-se aos outros dois que nunca competem (Suriname e Guiana). Imagine-se se o Japão ou o Catar fossem mais que «damas-de-companhia» e vencessem a competição... sul-americana. O futebol até a geografia atropela!"

Bagão Félix, in A Bola