domingo, 30 de junho de 2019

Viseu como pontapé de saída

"Algumas vozes, poucas, não entenderam a homenagem a João Félix. Se fosse numa qualquer junta de freguesia de Lisboa era um momento.

1. No mesmo berço se nasce e se morre. Nasci em Viseu, cresci entre Viseu e Lisboa, vibrei com Viseu e Benfica e o Académico de Visei, acompanhei o Lusitano de Vildemoinhos e os Repesenses. O nosso berço é a nossa alma e a nossa âncora, o nosso refúgio e a nossa esperança, o nosso reencontro e a nossa memória. Nesta semana o nosso João Félix foi justamente homenagem pelo Município de Viseu e pela mão e voz do seu Presidente, Almeida Henriques, outorgado como Embaixador de Viseu. Algumas vozes, poucas, não entenderam a cerimónia. Se fosse numa qualquer Junta de Freguesia de Lisboa era um momento. Em Viseu, nessa pátria do interior que sofre, era uma perplexidade. O certo é que, no Rossio que tanto frequentei, estavam jovens e menos jovens que partilhavam a alegria que se sentia e que expressava o reconhecimento de Viseu a um jovem que está a pôr a nossa cidade no mapa da visibilidade contemporânea. E João Félix e a sua Família ao aceitarem esta homenagem e este reconhecimento mostraram que sabem e sentem que «no mesmo berço se nasce e se morre». Nós que conhecemos a Cava de Viriato e sabemos que Viseu viu nascer o nosso Rei D: Duarte, nós que percorremos o Fontelo e a Sé monumental, nós que estudámos o Senhorio de Viseu - em particular D. Constança Manuel - e que temos orgulho no percurso do Bispo Alves Martins gostamos que milhares de espanhóis e outros amantes do futebol conheçam, a partir de João Félix, a nossa cidade e a secular nosso identidade, a nossa história e as nossas gentes, os nossos heróis e as nossas referências. E nestas estão nomes grandes do nosso desporto e da nossa literatura, da Monarquia e da República, da nossa vida cívica e da nossa vida religiosa. E é este orgulho do que fomos e a certeza do que somos que se sentiu esta semana em Viseu. A homenagem a João Félix foi, também ela, um duplo pontapé de saída. Antecipou a oferta que o Atlético Madrid fez chegar ao Benfica - em rigor à Benfica SAD - e antecipou o arranque da pré-época do futebol europeu. E numa semana em que se disputou a primeira pré-eliminatória da Liga Europa. Com clubes de Andorra e San Marino, do Luxemburgo e do País de Gales, entre outros. E com o clube de Andorra, o Engondany, a ser treinado por um português, Filipe Busto! É mesmo o pontapé de saída da época 2019/2020!

2. Para além do pontapé de saída nos relvados vivemos tempos de saídas nos diferentes plantéis da Europa. Num momento em que o Mundial feminino que decorre em França conhece os semi-finalistas, o CAN fica a saber, a partir de hoje, as qualificados na fase de grupos e na Copa América também já temos nota das selecções que marcam presença nas meias-finais. E com os clubes titulares dos jogadores a saberem que eles só lhes chegarão no princípio de Agosto. Ou seja, em muitos casos, nas vésperas do arranque das respectivas Ligas ou, até, na antevéspera do primeiro jogo de acesso à atractiva fase de grupos da Liga dos Campeões. E se na Europa, e com a excepção masculina do Europeu de sub-21, é tempo de arranque, no Brasil e no Egipto é tempo de decisivos encontros para a conquista das duas principais Taças continentais. Com o Brasil com lugar garantido nas meias finais e o Egipto disputando hoje com o Uganda o primeiro lugar do grupo A do CAN. Uns dão o pontapé de saída da nova época e outros estão a dar os derradeiros pontapés da época 2018/2019. Mas é tempo de desfrutarmos com o futebol que se joga. Com estádios cheios - no Mundial feminino de França - e com outros meio vazios como no Brasil e no Egipto! Singularidades e especificidades destes tempos!

3. A pré-época do Benfica - onde a palavra de ordem tem de ser humildade já que faltam mais de cinquenta jogos para a confirmação da reconquista nacional e para a afirmação da reconquista europeia, desígnio estratégico, na minha opinião, na época que amanhã arranca! - vai receber cinco jovens que a Academia do Seixal desenvolveu, potenciou e acarinhou. Pedro Álvaro (defesa-central), Nuno Tavares (defesa esquerdo), David Tavares, Tiago Dantas e Nuno Santos (todos médios) estarão sob directa observação de Bruno Lage que, aliás, bem os conhece. Acredito que o Benfica, este Benfica cujas acções atingiram esta semana um novo máximo, terá nestes jovens, para além de efectivas promessas, indiscutíveis talentos na linha dos outros seis - Rúben Dias e Ferro, Zlobin e Jota, Florentino e Gedson  - que ajudaram o Benfica à reconquista. E esta mistura de talento e disponibilidade, de sagacidade e humildade, de vontade e de fé, de convicção e de paixão, terá de ser, uma vez mais, o factor para um vitorioso pontapé de saída da nova época. Derrubando e eliminado a palavra euforia e proclamando que cada jogo um final e que depois de cada jogo o que se programa é o jogo que se segue. E sabendo que mesmo quando se vence há erros que se cometem e quando não se ganha há momentos que devem ser reconhecidos e, até, enaltecidos. Desta forma se consolida o colectivo, se afirma o espírito de grupo e se fortalece o balneário. Que é, afinal, o ponto de encontro e, sempre, o porto seguro!

4. No domingo passado o Casa Pia, os gansos pretos, conquistaram o Campeonato de Portugal. Cândido de Oliveira foi uma dos grandes impulsionadores dos gansos e o Casa Pia era, nas décadas de 30 e 40 do século passado, um dos grandes de Lisboa, a par do Benfica, do Sporting e dos Belenenses. O outro finalista foi a União Desportiva Vilafranquense. E, aqui, e acompanhando as lúcidas e sempre sagazes análises históricas do Professor Alcino Pedrosa - vale a pena conhecer! - direi que a biblioteca da União foi, num determinado período, dirigida por Alves Redol, um do grandes escritores do século XX. E a biblioteca que acolhia livros proibidos chegou a ser dividida, para efectiva segurança e salvaguarda, pelas casas de diferentes dirigentes e os livros, estes livros, eram lidos e conhecidos. E este sinal de resistência, que se multiplicava em outras instituições desportivas, tem de ser conhecido e reconhecido. Nestes tempos em que só se fala em intromissões ilegais - e que intromissões Deus meu! - e em comissões legais. E que comissões! Mas o que reafirmo é que «no mesmo berço se nasce e se morre». Sou viseense e com orgulho. Como também disse, numa humildade que registo, o meu conterrâneo João Félix. Boa sorte! Muitas felicidades!

5. A chegada do antigo internacional português Tiago à Cidade do Futebol e, em concreto, à estrutura técnica das Selecções Nacionais de formação é uma boa notícia. Diria, mesmo, uma grande notícia. Conheceu o futebol português e o grande futebol europeu. Sentiu o dinamismo em grandes clubes - Braga e Benfica, Chelsea e Juventus, Lyon e Atlético Madrid - e envergou por 66 vezes a camisola da nossa selecção. Sabe o que é o futebol de hoje e conheceu o futebol por dentro e um tempos de mudanças. É um bom momento federativo. É um instante de reconhecimento e com a consciência que Tiago vem acrescentar valor. Um dos vectores estratégicos da Federação Portuguesa de Futebol: acrescentar valor! Boa sorte! Muitas felicidades!"

Fernando Seara, in A Bola

O futuro do Félix

"No futebol poucas coisas há que me irritem mais do que as algarviadas dos idiotas da objectividade, aqueles idiotas de objectividade do Nélson Rodrigues que nunca se deixam levar para além dos factos concretos ou das ideias fechadas - e que não percebem que o encanto do futebol se faz do mistério que é ele não ter de viver de obviedades ou de certas verdades (que às vezes são mentiras a embuçarem-se).
E sim: alguns desses idiotas da objectividade têm andado em frenesim por causa do João Félix. Ou melhor: do futuro do João Félix - insinuando (ou pior) que a sua decisão de ir para o Atlético Madrid lhe pode amachucar esse futuro, porque outro deveria ser o seu destino (o City de Guardiola, por exemplo). Ouvindo-os nos seus clamores, não largo de pensar no que o Hemingway descobriu (ao tentar escapar dos alçapões que o atormentavam)
- Um homem nunca se deve pôr em posição de perder o que não se pode dar ao luxo de perder.
E, não: não acho que no Atlético Madrid, o Félix se vá dar ao luxo de perder o que não pode perder: a sua imortalidade. E quando acho que não a vai perder, acho-o por não ter grandes dúvidas de que nele o futebol nunca deixará de nascer na cabeça (sem pressão) que põe nos pés com que joga qualquer jogo dentro do jogo (mesmo tendo jogá-lo dentro da ideia que o Simenoe gosta de dar ao seu jogo). De que nunca deixará que lhe roubem as virtudes de poeta que o seu futebol tem: criatividade, fantasia e coração (tudo em fogo de artifício). De que nele entre a luz e a sombra, ganhará sempre a luz - e entre o laço solto e o nó cego, a alma nunca se enganchará no nó cego. É isso o ser craque - e é isso que o Félix é. E sendo-o, sê-lo-á em Madrid, como o seria em Manchester (ou, para onde mais o levassem - flor em botão).

PS: Sim, também é minha convicção que foi através de um desses idiotas da objectividade (de  um ou mais que um) que o João Félix escapou do FC Porto para a imortalidade que o espera (airosa)."

António Simões, in A Bola

Sobre a beleza e outros assuntos feios

"Não há nenhum vencedor feio, é uma regra. A vitória embeleza ou torna a beleza menos urgente.

Beleza e iniciais
1. A beleza dos atletas e do movimento físico sempre foi alvo do olhar de cineastas, pintores e outros artistas, além do interesse da publicidade, claro. Há exemplos evidentes de beleza como o do ex-futebolista DB ou da tenista MS, entre outros.
E diga-se, se há alguma coisa que caracteriza a beleza é ela não ser incógnita. Mas é simpático manter os nomes das pessoas belas assim, com iniciais. DB, MS, etc. Tenho a certeza de que sem dificuldade as iniciais se transformam para os leitores em nomes. Fica a proposta.

Os feios
2. Mas sim, disse Jonathan - um amigo cínico - podemos pensar na beleza incógnita, na beleza muito bem disfarçada. No limite, a fealdade é isso: uma beleza que está muito bem escondida. Tu não és feio, tens é uma beleza escondidissima, poderíamos dizer. Quanto mais feio é alguém mais bem escondido tem a sua beleza. Um possível elogio alternativo é, portanto, diante do rosto terrivelmente desinteressante, dizer: há que elogiar a forma profunda como foste, ao longo dos anos, capaz de esconder no rosto o mais breve e mínimo indício de beleza.

A fórmula
3. Seria interessante, aliás, ver a relação entre patrocínios, beleza e vitória em competições. Provavelmente, não há uma relação assim tão directa e objectiva, por exemplo, entre um atleta estar mais acima no ranking de ténis e os apoios que recebe de publicidade. Diríamos que, no referente a valor de patrocínios, a beleza individual provavelmente é equivalente a dois ou três triunfos no Grand Slam, pelo menos.
Poderíamos até - disse Jonathan, o amigo cínico - tentar encontrar uma fórmula que permitisse calcular  valor previsível dos patrocínios, para cada atleta. Seria algo, provavelmente, deste tipo:
SD x B/2
Ou seja: Sucesso Desportivo vezes Beleza a dividir por dois.
Uma fórmula possível, disse Jonathan.

Outra fórmula
4. Jonathan, o amigo cínico, disse ainda o seguinte:
- Claro que a vitória transforma a fealdade em beleza inequívoca. Não há nenhum vencedor feio, é uma regra. A vitória embeleza ou torna a beleza menos urgente, digamos. E a derrota, por seu turno, torna a beleza ligeiramente menos atractiva.
- Também podemos pensar, acrescentou Jonathan, numa fórmula quem no desporto fizesse a equivalência, ainda mais detalhada, entre a beleza de uma pessoa bela e a beleza negativa de uma pessoa feia e os seus sucessos ou insucessos atléticos. Seria algo do tipo, por exemplo, e é só um exemplo:
PB + 5D = PF + 5V
Ou seja, disse Jonathan: uma Pessoa Bela (PB) com Cinco Derrotas (5D) seria tão bela como uma Pessoa Feia (PF) com Cinco Vitórias (5V). Um empate, portanto, diz Jonathan, o cínico.

A pergunta
5. A poesia serve para quê, perguntaram uma vez ao escritor Jorge Luís Borges. Ele respondeu com outra pergunta: para que serve a beleza do pôr do sol?

Adília Lopes
6. Ainda sobre o mesmo assunto. Olhemos para a escritora portuguesa Adília Lopes. Há uma história dela chamada a Sereia das pernas tortas, que, num tom de narrativa de princesa e príncipes, mas de cariz politicamente bem incorrecto, começa assim:
«Era uma vez uma mulher que tão depressa era feia como era bonita.
Quando era bonita, as pessoas diziam-lhe:
- Eu amo-te.
E iam com ela para a cama e para a mesa.
Quando era feia, as mesmas pessoas diziam-lhe:
- Não gosto de ti.
E atiravam-lhe com caroços de azeitona à cabeça.
A mulher pediu a Deus:
- Faz-me bonita ou feia de uma vez por todas e para sempre.
Então Deus fê-la feia».
E a história continua depois neste extraordinário tom, politicamente incorrectíssimo. Quem estiver interessado leia, vale a pena."

Gonçalo M. Tavares, in A Bola

O 'fair play' financeiro (II)

"Em Novembro de 2018, demos conta da decisão do CAS, proferida no caso do Milan contra a UEFA.
Recorde-se que a UEFA excluiu, num primeiro momento, o clube da participação da próxima competição de clubes da UEFA, para a qual, de outra forma, se qualificaria nas próximas duas temporadas (ou seja, em 2018/19 ou 2019/20) por incumprimento das regras do fair play financeiro, decisão que foi revertida pelo CAS.
Então, o Colégio Arbitral do CAS entendeu que o caso devia baixar à UEFA para que fosse proferida uma nova decisão de acordo com as regras da proporcionalidade, porquanto alguns elementos relevantes não foram devidamente avaliados pela UEFA, ou não puderam ser devidamente avaliados no momento em que a decisão foi proferida, em 19 de Junho, em particular que a actual situação financeira do clubes estava melhor.
Assim, a UEFA reanalisou o caso e emitiu uma decisão excluindo o Milan se não conseguisse cumprir os critérios de equilíbrio até 30 de Junho de 2012. O clube recorreu, também, desta decisão para o CAS.
Em 2019 o clube registou novamente problemas relativos ao cumprimento das regras para o ano de 2018. A UEFA solicitou, então, que o Milan fosse excluído das competições europeias em 2019/2020, e o clube aceitou esta sanção.
Deste modo, em 28 de Junho de 2019, e a pedido das partes, o CAS ratificou o acordo a que as mesmas chegaram, no sentido de pôr termo aos processos pendentes naquela instância arbitral e de impedir participação do Milan nas competições europeias em 2019/2020.
Face a esta decisão, outros clubes participantes da Série A, poderão, eventualmente, ter a oportunidade de aceder a competições europeias."

Marta Vieira da Cruz, in A Bola

Ninguém vai apenas ver um jogo...

"Aqui vai uma frase sem qualquer impacte na opinião pública: “ninguém vai apenas ver um jogo, mas “torcer” (perdoam-me o brasileirismo?) pelo clube da sua simpatia”. O fenómeno acontece até com pessoas da elite intelectual e portanto habituadas, noutras situações, a um admirável rigor hermenêutico. Conheci, em tempos idos, alguns belenenses de certa relevância social que, durante os jogos, sobravam-lhes pretextos, para descobrir um “penalty” (ou dois, ou três), a favor do Clube da Cruz de Cristo. Num domingo da década de cinquenta (se bem me lembro), que perdemos, no Restelo, por 0-1, com o Caldas, regressei a minha casa, com “boleia” de um destes “doentes”. Logo no parque de estacionamento do Estádio do Restelo esporeou o carro com uma tal violência que o fez bater noutro carro, também estacionado, como o cavalo a quem a dor enfurece. Voltou-se para mim e decretou sem apelação: “Sabe quem é o culpado disto tudo? O árbitro que, na segunda-parte, não marcou aquele “penalty” sobre o Matateu”. E profundamente desgostoso: “Deixou-me possesso”. Nos dias de hoje, os comentaristas desportivos, em certas estações televisivas, agridem-se com palavras que talvez estejam incursas no Código Penal, principalmente pelas mesmas razões daquele meu consócio – as exibições dos árbitros, que agradam quase sempre a quem ganha, que desagradam sempre a quem perde. Até as lucidíssimas prosas de alguns entendidos, nestas coisas do futebol, não deixam de aguçar arestas, para que se faça do árbitro o “bode expiatório”! Só que alguns árbitros parecem indestrutíveis. Ou, então, indiferentes. Aquela obstinação na raiva, no rancor, aquelas frases despropositadas de espectadores e de críticos profissionais – nada daquilo pode dizer-lhes respeito. E enfrentam os desafios, os ardis, o clubismo faccioso, com uma aparente apatia que, para mim, se confunde com a coragem. Os árbitros, principalmente os árbitros do futebol, são meus mestres na arte de superar qualquer forte sensação de incomodidade. Daqui lhes agradeço a lição!
Um ponto que me interessa salientar, também: a análise estatística. E sem qualquer ressalto de espanto. De facto, já o Sr. José Maria Pedroto, nas nossas habituais conversas, me referia a necessidade da análise estatística, no estudo do futebol. O Prof. José Neto era o seu adjunto que desta área se ocupava. Até na análise estatística José Maria Pedroto foi um pioneiro. Sem os contributos maravilhosos da Quarta Revolução Industrial – mas foi um pioneiro, sem dúvida. Luís Cristóvão, sobre este assunto, escreve na revista do Expresso, (2019/6/22): “O futebol é cada vez mais um jogo de números. Uma dimensão que, é certo, sempre lhe foi próxima. Da contagem das superioridades à contagem dos golos, o futebol poderá ser o desporto onde o “mais um ou menos um” é mais fundamental, tendo em conta a possibilidade de um só golo decidir campeonatos inteiros”. Daí, a necessidade de “analistas que potenciam o conhecimento do jogo e transformam os mais pequenos pormenores em grandes vantagens competitivas (…). É uma linha constante na forma como a estatística entrou no mundo do futebol. A aliança entre tecnologia, o conhecimento científico e a paixão e a experiência pelo jogo permitiram modificar comportamentos que se notam, à vista desarmada, na forma como abordamos as apostas desportivas, os jogos de computador ou o entendimento daquilo que se passa no campo”. Quero dizer que o artigo do Luís Cristóvão me parece oportuno e bem fundamentado. Na Sociedade do Conhecimento, com o conceito de complexidade, ressoa a frase do Hegel: “A Verdade é o Todo”. Mas, na Sociedade do Conhecimento, não interessa tão-só conhecer mais, interessa também conhecer melhor. Atravessamos a Quarta Revolução Industrial e 17% da população mundial ainda não viveu a Segunda Revolução Industrial! Ou seja, 1,3 mil milhões de pessoas ainda não têm acesso à electricidade. Também uma observação deverá fazer-se, em relação à Terceira Revolução Industrial: 4 mil milhões de pessoas ainda não têm acesso à internet. Enfim, a diferença entre países ricos e países pobres não deixa de acentuar-se…
Voltemos ao artigo de Luís Cristóvão: “Existem posições em campo que saíram muito beneficiadas, pelo advento da análise estatística”. O caso do N’Golo Kanté, atualmente no Chelsea, é um exemplo. “Formado em clubes de escalões secundários franceses, passou, em anos consecutivos, da terceira divisão francesa, para o título de campeão da Premier League, com o Leicester. A base do seu recrutamento foi a análise estatística”. No entanto, “os dados não mataram a estrelinha no futebol. A bola que bate no poste, o craque que tem um dia mau, o adversário que se adapta de forma mais rápida a uma mudança, no contexto do jogo, continuarão a ter uma presença forte no resultado final”. Quando o desporto moderno (e o futebol, portanto) surgiu, concebido e publicitado pelas universidades britânicas, constava da lista dos seus incontáveis benefícios a prática do “fair-play”, da generosidade, do companheirismo, da coragem. Resumindo: o futebol era sinal de progresso físico, cívico e moral. E os desempenhos dos atletas, nos estádios, eram tudo isso, a um só tempo. Com o correr dos anos, o desporto (e o futebol, mais do que nenhuma outra modalidade desportiva) vem reproduzindo e multiplicando as taras da sociedade capitalista, como a mania do rendimento, da medida, da competição, do recorde, do mais antipático individualismo e dos mais alienantes imperativos do mercado e onde, inevitavelmente, a quantidade predomina sobre a qualidade, onde há triunfadores e perdedores, onde o espírito lúdico mal se divisa num “jogo de futebol”. Em Portugal, futebolisticamente falando, ninguém vai apenas ver um jogo, mas “torcer” pelo clube da sua simpatia. E, neste futebol, já se diz por aí que somos os melhores. Com efeito, o melhor jogador do mundo é português, treinadores portugueses já são inumeráveis os melhores do mundo, somos campeões europeus e conquistámos o primeiro lugar, na Taça das Nações. E de árbitros só não é nosso o melhor do mundo porque a FIFA não quer. Temos que deixar algum troféu, para os outros. É uma questão de “caridadezinha”. Mas também, no mundo da arbitragem, já caprichámos. O actual presidente da Liga, Dr. Pedro Proença, quando árbitro internacional, houve quem lhe reconhecesse qualidades incomparáveis.
Venho de ler uma separata da Revista Filosófica de Coimbra, com um texto maravilhoso do Doutor Luís Umbelino, professor do departamento de Filosofia da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. O seu autor teve a bondade de mo oferecer. E assim o resume: “O problema do membro-fantasma formula-se de modo simples: trata-se de saber como se faz a experiência, no presente e como real, de uma parte do corpo fisicamente ausente”. E da neurofisiologia e da filosofia, após a leitura do Doutor Umbelino, transitei para a história do desporto português. E senti, como uma dor que me tomasse, a ausência de alguns dos pioneiros do desporto em Portugal, que eu conheci pessoalmente e cheguei a fazer amizade. O triunfo imperial de um certo espectáculo desportivo, ou não conheceram, ou conheceram mal. Digamos mesmo: não podiam conhecer. Um espectáculo a beneficiar de uma superinformação e do advento da mais sofisticada tecnologia, rodeado de sábios especialistas e de certas peculiaridades do “pensamento único”, que já regulam também o desporto – a tanto não podiam eles chegar. Mas continuo a encontra-los a cada passo, pelo seu exemplo, por algumas das suas ideias (não de todas evidentemente, pois reflectiam um tempo que não é o nosso) e, acima de tudo, pelo seu testemunho de vida. As personalidades carismáticas agora são outras: jogadores, dirigentes, empresários, com Imprensa favorável e um crédito financeiro espantoso. Pensar é problematizar e, para problematizar o futebol de hoje, são outras as variáveis e outras os condicionalismos. E, porque os problemas persistem nas soluções (de facto, uma solução não tem sentido independentemente da problemática que a fez nascer) problematizar o futebol conduz a uma determinada cultura – a cultura da sociedade de mercado! Mas não só: quando a selecção nacional joga, Portugal deixa de ser uma “sociedade de classes”, todos nos sentimos iguais – portugueses apenas. Um milagre do futebol! E isto num país onde ninguém vai apenas ver um jogo, mas “torcer” pelo clube da sua simpatia."

Almeida 2023



Renovação mais do que merecida... Um dos jogadores mais úteis da recente história do Benfica! Goste-se ou não, ninguém discute a sua dedicação, a sua garra e sua vontade de vencer!

E apesar de todas as limitações, tem sido consistentemente um dos nossos melhores 'assistentes' para golo das últimas épocas!!!

Oh, que raio, até o hacker lhes correu mal

"Contou-nos este jornal a meio da semana que o Sporting teme ver um seu jogador de 18 anos, Félix Correia, passar-se para o Benfica. O jovem em causa não terá ainda chegado a acordo para a renovação do seu contrato e pode assinar pelo rival, trocando Alcochete pelo Seixal. Os acontecimentos dos últimos anos, no que diz respeito às saídas para o estrangeiro de jogadores formados pelo Benfica, devem ter o seu impacto em todos os aprendizes de futebolistas do país. O sonho, para todos eles, é jogar lá fora, envergando a camisola de um qualquer gigante europeu em termos de historial e de poderio de orçamento. ou não é?
Do Manchester City ao Bayern de Munique, da Juventus ao Atlético de Madrid, do Manchester United ao renascido Ajax, não faltam nomes de grandes clubes que têm vindo pescar à formação do Benfica e com os seus anzóis dourados. Mais do que os hipotéticos vencimentos "pornográficos" - alegados como desculpa para a deserção do "Viriato de Ouro" do FC Porto para o Benfica -, o que incendiará a ambição de qualquer jovem futebolista tentado pelo Seixal será sempre a hipótese de, um dia, pôr-se na alheta, rumando a um daqueles clubes monstros que lutam todos os anos pela Liga dos Campeões. Félix Correia, o jovem futebolista do Sporting que parece estar inclinado a assinar pelo Benfica, não escapará a esta realidade. Para o Sporting seria um contratempo. Para o Benfica seria apenas fazer chegar outro Félix, na esperança de que aquele apelido, só por si, voltasse a dar resultados. E isto é que é sonhar alto. Lê-se esta semana na revista "Sábado" que "mais do que atacar clubes de futebol e empresários de jogadores, Rui Pinto é agora suspeito de piratear o Estado Português". A Policia Judiciária e o Ministério Público terão encontrado indícios de que o "hacker" entrou nos emails do antigo director do DCIAP, Amadeu Guerra, e da ex-procuradora - geral distrital de Lisboa, Maria José Morgado. Se, no nome honrado do combate ao crime, foi aprovada por muita boa gente a actividade e a legitimidade de Rui Pinto no assalto aos dados dos clubes, empresários e dirigentes, como justificar agora esta intrusão na correspondência electrónica de Guerra e Morgado? serão estas duas últimas vítimas do "hacker" Pinto gente que merece ser espiolhada à má-fila com o beneplácito de umas quantas organizações bem pensantes e sedentas de justiça? Oh, que raio, até o "hacker" lhes correu mal.
Não custou nada a António Salvador manter Abel Ferreira no posto de treinador do Sporting de Braga. "Não suscitou dúvidas nenhumas, foi fácil", disse o presidente do clube. Abel Ferreira não ganhou nenhum título referente à época de 2018/19, é verdade. Mas também nunca foi líder do campeonato com sete pontos de avanço sobre o 2º classificado. Deve ter sido facílimo para Salvador decidir como decidiu."

Caio Lucas – O reforço do SL Benfica

"Aos vinte e cinco anos a primeira experiência europeia de Caio Lucas, depois de ter crescido no futebol asiático, onde ao serviço do Al-Ain conquistou elevada reputação pela notoriedade dos seus golos e assistências.
Últimos 20 jogos

Cresceu a ter sucesso nas suas acções no no continente asiático, e é portanto um jogador que procura sucessivamente enfrentar situações de 1×1 (mais do que resolver os problemas com apoio dos colegas), situações essas onde é forte pelo drible curto e rápido. Também na passada é veloz, e tem gesto técnico capaz de ser bem sucedido mesmo em espaços curtos. Nos tempos mais recentes foi o jogador mais adiantado da equipa, onde também ai mostrou argumentos jogando de costas para a baliza a servir de apoio.


Muito para melhor na reacção à perda, e na capacidade para descobrir os colegas para poder ser um jogador completo, mas torna-se uma opção bastante válida para poder jogar numa das posições dos quatro da frente no SL Benfica."