domingo, 12 de maio de 2019

Eventos desportivos de grande dimensão (II)

"Portugal, será, em Junho, o país que irá acolher a fase final da UEFA Nations League. Conforme já demos conta neste espaço, a realização de um evento desportivo de grande dimensão implica a coordenação de várias entidades e, muitas vezes, a introdução de regimes legais especiais ou de excepção em determinadas matérias.
Por despacho do Secretário de Estado da Juventude e do Desporto de 8 de Abril, publicado no dia 28 do mesmo mês em Diário da República, sob o n.º 4381/2019, foi reconhecido o interesse público do evento. Esta é uma possibilidade prevista na Lei de Bases da Actividade Física e do Desporto.
Nesse Despacho é dito, em suma, o seguinte: «No total, entre atletas, equipas técnicas, árbitros, elementos da organização e profissionais de comunicação social, prevê-se o envolvimento de, no mínimo, 1 milhar de participantes. Estima-se igualmente que se desloquem aos recintos desportivos, durante os jogos desta competição, mais de 140 mil pessoas. Prevê-se ainda que as cidades envolvidas recebam um número elevado de visitantes nacionais e internacionais, o que gerará um significativo impacto económico das mesmas (...). A organização de uma competição com esta relevância no nosso País constituirá também um claro estímulo para o aumento da prática desportiva (...). A fase final da Liga das Nações terá igualmente uma forte projecção mediática (...), assumindo-se como elemento potenciador da afirmação do País enquanto local privilegiado para a realização de grandes eventos desportivos e representando uma oportunidade de promoção do património histórico e cultural das localidades envolvidas, em particular, e do País, em geral (...)»."

Marta Vieira da Cruz, in A Bola

Um outro campeonato

"A Liga dos Campeões mostra que as grandes equipas não nascem só dos milhões

Espero que o Benfica seja campeão. Mas, neste momento, ainda nada está ganho. Há, no entanto, um campeonato que já tem um vencedor: o campeonato da resistência contra as múltiplas tentativas de desgastar a imagem do clube. E esse vencedor é o presidente Luís Filipe Vieira. Pela coragem e determinação com que, muitas vezes sozinho, saiu a terreiro para defender o Benfica.
Por isso quero felicitá-lo agora, antes do fim do campeonato. Por isso e porque há um outro campeonato que ele ganhou: o de impor uma estratégia baseada na formação, a escolha de um novo treinador e a aposta nos jovens (por favor não lhes chamem meninos) que são o fruto do trabalho realizado no Seixal. Há ainda outro campeonato que eu espero que Vieira vença, que é o de manter e preservar os talentos que toda a gente cobiça e que alguns gostariam de vender já.
A Liga dos Campeões, o exemplo do Ajax, mas também do Liverpool e do Tottenham, mostra que as grandes equipas não nascem só dos milhões: nascem do talento, da garra, da mística e do sentido de festa que o futebol deve ter. Assim já foi o Benfica europeu. Assim tem de voltar a ser. Sei que é essa a visão de Luís Filipe Vieira. Espero que ele tenha em si a força suficiente para a tornar realidade e fazer de novo o Benfica um grande da Europa."

Manuel Alegre, in A Bola

Hotéis...

"A equipa do SL Benfica está, à semelhança do que sempre acontece nas suas deslocações ao Norte do país, hospedada no hotel Holiday Inn, em Vila Nova de Gaia.
Sabem quem, curiosamente, esteve lá hospedado duas noites esta semana? O presidente do FC Porto, Pinto da Costa.
Terá ido de férias para Gaia? Ou terá ido garantir uma "boa recepção" à comitiva benfiquista?

PS: Qualquer notícia que seja publicada no Polvo das Antas é, antes, confirmada em, pelo menos, duas fontes distintas e, preferencialmente, que não tenham relação directa entre si. À hora em que foi feita esta publicação não tínhamos essa confirmação relativamente ao que agora, devidamente confirmado , acrescentamos ao corpo da notícia.
No mesmo hotel, num desses dias, Pinto da Costa, Alexandre Pinto da Costa, Luís Gonçalves e Fernando Gomes estiveram reunidos com Augusto Inácio, treinador do Desportivo das Aves. Estamos atentos."

O futebol não é para ser tratado com os pés

"God, mais conhecido por my God! nos seus templos modernos (chamados estádios), existe, é anglo-saxão, humorista e inventou o futebol. Este, aliás, é inglês até dizer chega - ou o leitor chama-lhe pedibol? Vem de foot, não do português pé. E é justamente chamado football, ou futebol, porque é desporto que nunca pode ser jogado com os pés.
Tanto é assim que o maior messias dessa convicção religiosa se chama Messi e só tem pé esquerdo. O outro é cego e, por fanatismo, nunca toca na bola. Football, de pé mais bola; não feetball, de pés mais bola. Ainda bem que assim é, senão chamar-se-ia "fitebol" nas terras de Garrincha e de Cristiano Ronaldo e "fítbol" na terra do já citado Messi. Futebol seria ciciado, pouco varonil e nunca chegaria ao êxito planetário a que estava destinado.
Isto está tudo ligado desde que o Universo - então chamado Football Association - foi criado em Londres na Freemason's Tavern, a 26 de Outubro de 1863, uma segunda-feira. Desde aí, o futebol joga-se todos os dias da semana (terças, quartas e quintas nas taças europeias, e fins de semana nos campeonatos nacionais) e quase nunca à segunda que é o dia do my God! descansar nos estádios.
A Freemason's Tavern era um lugar público que por ser maçónico tinha os seus símbolos expostos: da letra "G", que é o sinal do Divino Geómetra, ao olho dentro de um triângulo, que é a imagem do Olho da Providência. Eis como uma fundação contemporânea do DN inicial, tão antiga, já previa nos tempos vitorianos os dias de hoje: o "G" de então representa hoje o símbolo do ritual mais louvado daquele culto: "Goooolo!!!" E o olho que vê tudo anunciava o moderno VAR... Como é que em 1863 se adivinhou tudo isso?
Como já eu disse, isto anda tudo ligado: a histórica taberna londrina onde se criou o futebol foi, décadas antes, a sala onde a Sociedade Antiescravatura britânica se reunia. A organização teve um papel fundamental na abolição da escravatura mundial, isto é, foi dali que se criou um dos pilares do mundo moderno.
Vejam esta sucessão de passes mágicos: a Anti-Slavery Society indignava-se em 1823; no mesmo local, 40 anos depois, a Football Association fundava-se; na década de 1960, o mulato Mário Coluna mostrava no relvado que o patrão de uma grande equipa europeia, o Benfica, era ele; e, nesta semana, um branquelas apanha-bolas pôs uma bola na bandeirola de canto, um mulato teve um rasgo de génio, fingiu que não fazia e fez, e um negro marcou golo. Havia ainda um alemão paternal com cara de Alex Ferguson e um egípcio em Ramadão que mostrava, no peito, a táctica aos seus: "Nunca desistas." Se isto não é o mundo que nós queremos, qual é ele?
Oh, o golo 4, na Liverpool do outro quarteto fabuloso! Os fiéis puseram-se a rezar em uníssono como os apóstolos locais John, Paul, George e Ringo, descreviam em Penny Lane a sua cidade natal. My God! Tão lindo. Voltem a enumerar: um trabalhador braçal célere, um intelectual que pensa, um artesão que executa, um patrão que comanda e uma vedeta que não podendo actuar empurra os seus...
Quando as empresas (os países?) têm uma equipa que os galvaniza assim, respondem. Eu sei que não tenho o saber do treinador Jürgen Klopp, nem o dote de prestidigitação de Alexander-Arnold, nem a presteza do apanha-bolas Oakley Cannonier - football são eles - mas sei que me sentiria em association, se tivesse estado lá, nas bancadas do estádio Anfield. Com um sentimento de pertença. 
Não com o desconforto de assistir a pobres diabos que, tendo sequestrado o futebol, por cá discutiam, nas televisões portuguesas, à hora daquele milagre em Liverpool, as alegadas traficâncias de clubes para chantagear árbitros e jogadores. Falavam de amantes de árbitros e de futebolistas insultados por analfabetos que tiravam a camisola para mostrar bíceps, os órgãos por onde raciocinam.
Comparem as duas imagens: o coro derreado de prazer em Anfield, o tão bom de estar numa glória colectiva e limpa, agradecendo a quem a construiu, os artistas; e, noutro estádio (com portistas, mas podia ser, e já foi, de forma similar, com benfiquistas e sportinguistas), os guinchos de um autodenominado Macaco, rodeado de seus iguais, a ousar pedir explicações a artistas. Com a técnica do telecomando é possível assistir às duas cenas em simultâneo.
De Liverpool, a meus ouvidos e meus olhos, chegavam-me razões para admiração. E, ao lado, à distância de um toque de telecomando, a vergonha de estúdios televisivos nacionais (não, não só o reles) entretidos com ascos que nos empequenam a alma. Em ambos os casos, aparentemente, o mesmo assunto: futebol. Mas que identificação absurda!
Recorro a um tema simples, belo, amado por tantos, para alertar sobre como podemos ser corrompidos por gente estúpida e má. Desta vez, não se trata de calcular o impacto orçamental de uma medida política, nem de saber que tipo de floresta devemos ter, desta vez não temos desculpa por nos enganarem. Falo de uma coisa que foi inventada para nos dar prazer e nós amamos. E trata-se que estamos a ser desapossados do futebol."

Pinto da Costa e os árbitros, outra vez

"O campeonato ainda não acabou, o campeão está por apurar, falta disputar um par de rondas, onde tudo pode acontecer e, alimentando insensatamente o "suspense", o líder persiste em assinar exibições bipolares que autorizam todos os devaneios aritméticos ao seu perseguidor.
Contrariando este conjunto indesmentível de factos, vimos esta semana Pinto da Costa a assumir em público um discurso de derrota, um discurso estranhamente prematuro de derrota, atirando para cima dos homens que se vestem de negro e "andam de apito na boca" - os árbitros - a culpa pelos dois pontos de atraso que o FC Porto leva do Benfica e a autoria moral de um presumido desfecho da Liga desfavorável às suas pretensões.
O que Pinto da Costa pretende com esta conversa será justificar perante os sócios e adeptos do FC Porto o inacreditável esbanjamento daqueles sete pontos de avanço que o actual campeão nacional chegou a deter sobre o Benfica à entrada do Ano Novo. O presidente do FC Porto aponta a malévolos factores externos - os árbitros, outra vez - a responsabilidade pela sequência de insucessos de ordem exclusivamente interna que permitiram ao seu rival Benfica atingir a penúltima jornada do campeonato na condição de comandante e detentor de uma magra, magríssima vantagem.
No entanto, nem os mais empedernidos e fundamentalistas adeptos portistas acreditam nesta pataratice com que o seu presidente os pretende entreter. Nem o próprio "Macaco" acredita numa coisa destas. Por isso mesmo, mantém hoje as suas hostes viradas contra o treinador, contra os jogadores e, condoidamente, tem-se até abstido de publicar fotografias de árbitros ensanguentados como o fez o ano passado impunemente - "este não rouba mais..." -, lembram-se?
É que os favores ao FC Porto na corrente edição do campeonato foram de uma prodigalidade como não se registava desde aquele tempo e desde aquele regime a que a eclosão do processo Apito Dourado sentenciou e terá, eventualmente, posto fim. No tempo presente, e consubstanciada na tabela a oferenda de tanto pontinho aqui e acolá, a essa entidade abstracta chamada "protocolo do VAR", e que veio para moralizar os resultados desportivos, não demorou a opinião pública a chamar "porto-ao-colo do VAR", tamanhas terão sido as excentricidades cometidas em benefício do FC Porto aos olhos da concorrência directa e indirecta.
Muito mais do que uma desesperada e bolorenta forma de coação sobre os árbitros, tendo em vista as duas derradeiras jornadas da Liga, este grito de Pinto da Costa expresso num editorial de uma publicação oficial do clube - "muitas vezes os adversários vestem de preto, andam com um apito na boca" - soa, definitivamente, à necessidade urgente de desviar as atenções dos adeptos para tudo o que não sejam as incongruências e inevitáveis incompetências que serão atribuídas à SAD do FC Porto, dando-se o caso de o título voar para a Luz. 
E essa é uma hipótese."