domingo, 21 de abril de 2019

Sobre a autoridade

"A autoridade vê-se pelo silêncio que existe em redor, silêncio que não resulta de uma ordem ou proibição

Pensar em expressões como «o treinador deu um murro na mesa» e outras. Dar murros em mobiliário não me parece uma das melhores formas de mostrar autoridade.

Competição de algazarra
1. Por vezes, a autoridade parece uma competição de vozes. Quem fala mais alto, manda. Galos humanos que gritam. Não se trata de argumentos uns contra os outros. Trata-se de puro volume de voz; altitude vocal. A voz mais alta ganha nessa competição irracional. Lideres políticos, desportivos e outros.

Os xamãs
2. Pascal Quignard, um dos grandes escritores franceses, lembra que os Xamãs da Sibéria, os mais respeitados humanos dentro de uma comunidade, falavam numa voz tão baixa que quase não se escutava. Esse murmúrio do xamã lembra «a pequena bolinha de leite que aparece na boca dos recém-nascidos depois de amamentados». Quase não existe no exterior. Em certas línguas, Xamã significa precisamente «murmúrio em voz baixa». O chefe, portanto, é aquele que fala em voz baixa. Esse murmúrio, diz Quignard, está «a meio caminho entre o oral e o escrito».
Uma bela imagem, esta. É, então, uma voz tão baixa que quase não é som; é quase palavra escrita, palavra muda. E a palavra escrita, tradicionalmente, é lei: é aquilo a que se tem de obedecer. O murmúrio do xamã, da grande autoridade, é tão potente que faz de quem o rodeia soldado cumpridor de uma mensagem que parece escrita.

O silêncio
3. A questão aqui essencial é que a autoridade nestas comunidades é expressa precisamente pela voz, não em gritos, não em volumes altos, nem sequer médios ou baixos, mas em murmúrios. E para se escutar um murmúrio tem que existir um silêncio gigantesco em redor. E isto é a base. A autoridade nada tem a ver com o tom de voz do chefe, isso é para autoritaristas desastrados que aprenderem a chefiar em cursos de fins-de-semana para tontos.
A autoridade vê-se pelo silêncio que não é resultado de uma ordem ou de uma proibição. Nada de expressões do tipo: Calem-se que eu vou falar!, mas precisamente o contrário. Quando o murmúrio do Xamã, do verdadeiro líder, começa, tudo em redor se cala. Não apenas os Humanos à volta, mas também, dizem as lendas, também o resto da natureza diminui o seu volume até porque é contagiada pelo silêncio calmo de um enorme grupo de homens. Nada é mais contagiante do que a agitação ou a tranquilidade. Os pássaros diminuem o seu volume de canto e centram-se numa espécie de canto em murmúrio; os animais de quatro patas ou duas patas, ao pressentiram esse enorme silêncio humano, imobilizam-se também, assustados ou com expectativa, e ficam quietos à espera de qualquer coisa. E até seguramente o barulho das folhas da árvore vai diminuir pois os verdadeiros líderes das comunidades tradicionais, acredita-se, têm um murmúrio capaz de diminuir a intensidade e a velocidade do vento.

Uma forma de dizer: aproximam-se
4. O grande segredo do murmúrio é que obriga precisamente a uma aproximação de quem o rodeia. Quem fala em voz baixíssima, em murmúrio mínimo, obriga os outros a mexerem-se, a mudarem de posição, a aproximarem-se. O murmúrio convoca de imediato uma proximidade entre quem murmura e quem escuta. É impossível escutar um murmúrio estando longe, é impossível escutar um murmúrio estando a falar ao mesmo tempo, é impossível escutar um murmúrio se estivermos desatento ou a pensar noutro assunto. O murmúrio para ser escutado exige proximidade, silêncio, atenção e concentração absolutas.

Demissão
5. O grito é o máximo de voz e a zero de informação ou pensamento. Um líder que grita: Ouçam-me! Ou: Silêncio! deveria de imediato pedir a demissão."

Gonçalo M. Tavares, in A Bola

Reformas legislativas

"Em Portugal, encontram-se actualmente em discussão na Assembleia da República alterações à Lei Antidopagem no Desporto, ao Regime Jurídico do Combate à Violência, ao Racismo, à Xenofobia e à Intolerância nos Espectáculos Desportivos e ao Regime de Acesso e Exercício da Actividade de Treinador de Desporto. Recentemente, foram introduzidas alterações ao Regime Jurídico dos Contratos-Programa de Desenvolvimento Desportivo. 2019 será, por isso, marcado uma actividade legislativa interessante na área do Desporto.
Ao mesmo tempo, outros países, com conhecida e sedimentada tradição na área do Direito do Desporto têm, porém, em curso uma mais profunda reforma legislativa. Falamos de Itália, Espanha e Brasil.
Em Itália, através do Projecto de Lei n.º 1603, de 02.19, estuda-se uma iniciativa legislativa que pretende reformar aspectos estruturais do sistema-jurídico desportivo, delegando no Governo algumas áreas de actuação...
Em Espanha propõe-se uma alteração mais profunda ao ordenamento jurídico desportivo, com a apresentação do anteprojecto da nova Lei do Desporto, de que aqui já demos conta.
No Brasil, o Projecto de Lei do Senado, n.º 68 de 2017, que propõe a alteração à 'Lei Pelé', encontra-se há dois anos em discussão, sem que haja previsão para a sua aprovação. Não sendo uma novidade, nem por isso deixa de merecer um acompanhamento constante.
Enquanto a nível nacional, as alterações são circunscritas a questões específicas - combate à violência, combate à dopagem e formação dos treinadores -, em países próximos do nosso sistema jurídico-desportivo, o movimento é de verdadeira reforma, procurando-se novas soluções para a regulação do Desporto."

Marta Vieira da Cruz, in A Bola

Erradicar a violência do desporto? (1)

"Notícia recentemente vinda a lume e intitulada “Ministro da Educação quer erradicar violência no Desporto” (www.sábado.pt, 17.04.2019) dá-nos conta do lançamento da campanha "Violência Zero", afirmando-se que o governo está apostado em acabar com os casos de violência, racismo e xenofobia nos recintos desportivos. Só faltou acrescentar-se aqui os casos de «corrupção» e de «dopagem», já que se continuam a omitir os casos de violência sexual (sim, porque existem no desporto!), os casos de fraude nos resultados desportivos, de morte súbita em plena prática, de morbilidade, de exploração infantil, de mortes inexplicadas, de suicídios no desporto…
Assegura o Ministro da Educação, que tutela o desporto, ser esta a “janela de oportunidade ideal para actuar com uma campanha vasta de sensibilização", frisando que "sempre que exista um caso de violência no desporto, será um caso a mais". Mais uma campanha de sensibilização – e por que não incluir nos currículos escolares, já que neles se despejam tantos conteúdos, o combate à violência no desporto ou à violência associada ao desporto?
O Decreto Regulamentar n.º 10/2018, de 3 de Outubro, cria a Autoridade para a Prevenção e o Combate à Violência no Desporto, que tem como missão assegurar a prevenção e fiscalização do cumprimento do regime jurídico do combate aos contra-valores acima enunciados, acrescentando-se “a intolerância nos espectáculos desportivos” de forma a possibilitar a realização dos mesmos com segurança, prevista na Lei n.º39/2009, de 30 de Julho (repare-se, nove anos depois!). A primeira questão que se coloca é: o que fez esta “Autoridade” até ao momento? Atente-se que no seminário “Estados de Sítio” (Março do corrente ano), Magina da Silva, superintendente-chefe da PSP, mostrou a inação dos vários agentes desportivos até porque dos 15 adeptos proibidos de entrarem em estádios de futebol nenhum foi proibido por ordem do IPDJ (CM, 01.04.2019, p. 36)… A segunda questão que se coloca é: a preocupação será erradicar a violência no futebol, a violência associada ao desporto (e não a “violência no desporto”), ou a preocupação será a realização da final da Liga das Nações em Portugal entre os dias 5 e 9 de Junho de 2019, no Porto e em Guimarães?
Mas regressemos ao cerne do tema! Será possível erradicar a violência do desporto e erradicar a violência associada ao desporto? Já aqui demos uma primeira resposta a esta interrogação no artigo 7, com o título “Da violência”…
No que se refere à primeira parte desta pergunta, a origem guerreira do desporto, o carácter simbólico da morte em cada competição, e a agonística inerente ao próprio desporto levam a que os praticantes por vezes utilizem uma violência instrumental para atingirem os seus objectivos enquanto outras vezes, com o calor da refrega, utilizem uma violência reactiva. O alcançar a vitória na competição faz com que a violência instrumental faça parte da natureza humana. Até porque “a ganância é inerente ao homem” (1). A utilização da violência como reacção, uma resposta emocional a uma provocação, encontra-se inscrita no código genético da humanidade. Como afirma Zillmann (2), “não encontramos em nenhuma outra espécie uma concepção inteiramente racional de estratégias de agressividade eficaz, nem uma justificação moral da agressividade. Estas motivações distinguem-nos, pois, dos outros animais.” E se, por um lado, a selecção natural da espécie humana favoreceu a nível de grupo especialmente o altruísmo e a cooperação, por outro lado a raiva, o ciúme e a vingança são emoções que “fazem parte dos programas instintivos já estabelecidos no hipotálamo e noutros centros de controlo emocional dos nossos antepassados há dezenas de milhões de anos”, na opinião do criador da sociobiologia, Edward O. Wilson (3).
Portanto, parece-nos ser possível controlar-se (diminuir-se) tanto a violência instrumental como a violência reactiva na prática desportiva, erradicar as mesmas não!
Em relação à segunda parte da mesma pergunta, quanto à violência associada ao desporto, ela tanto pode ser diagnosticada em relação aos intervenientes directos no espectáculo (jogadores, árbitros, treinadores, dirigentes) como em relação aos espectadores – meros adeptos ou claques – ou ainda em relação às forças de intervenção. E segundo Sapolsky (4) “nós não odiamos a violência. Odiamos e tememos o tipo errado de violência, aquela que ocorre no contexto errado. Porque a violência no contexto certo é diferente.” Porque o contexto depende do grupo em que o indivíduo se encontra inserido (simples adeptos, claque, stewards, grupo das forças da ordem) – e o indivíduo age e reage sempre de uma maneira diferente quando inserido num grupo como nos mostra a psicologia de massas –, depende do espaço (o campo de jogo, as bancadas, a “gaiola”, o espaço envolvente ao estádio) e depende também do tipo de evento (um mero jogo, um derby ou uma final). Resta saber quem define o contexto… Nós ou os outros? E quando os outros somos nós?
Ainda em relação à violência associada ao desporto, temos os exemplos da Inglaterra e da Alemanha em que a redução de episódios violentos foi conquistada não só com a aplicação de leis eficazes como com a colaboração entre as autoridades e organizações de adeptos. No caso inglês com a Football Supporters Federation e no caso alemão com a Unsere Kurve. E se na Suécia a Svenska Fotbollssupporterunionen (federação de adeptos) está ao mesmo nível das autoridades – tanto governativas como futebolísticas – nas discussões sobre os rumos a tomarem-se em relação ao futebol, em Portugal a Associação Portuguesa de Defesa do Adepto para nada é tida ou achada. Somos lestos a copiar muito do que de bom se faz lá fora… mas só em relação a alguns exemplos.
Se atentarmos no que nos diz Vargas Llosa (5), veremos que “nos nossos dias, os grandes jogos de futebol servem acima de tudo, como os circos romanos, de pretexto e libertação do irracional, de regressão do indivíduo a sua condição de parte da tribo, de peça gregária na qual, amparado no anonimato da sua tribuna, o espectador dá rédea solta aos seus instintos agressivos de rejeição do outro, de conquista e aniquilação simbólicas (e às vezes até real) do adversário.” Nada mais do que «panem et circenses»… Mas há outras varáveis que aqui poderemos – e teremos de – contemplar: a «publicidade», os «mass media» e o próprio «espectáculo».
Panaceia, neta de Apolo, a deusa capaz de curar todos os males e todas as enfermidades, não seria por acaso filha de Asclépio, o qual se tornara deus da medicina. Também não será por acaso que o anúncio de uma campanha de sensibilização que pretende “erradicar a violência do desporto” não passe de mais uma panaceia quando se faz da publicidade a estratégia-mor das políticas públicas…
(continua)"

Peter no Olimpo

"A ideia de que os dirigentes políticos e desportivos, depois de receberem e administrarem, de modo próprio, milhões de euros dos contribuintes, não são responsáveis pelos resultados desportivos conseguidos, porque não são eles quem salta, quem corre ou quem joga, é inaceitável desde logo porque se trata de uma triste filosofia do fracasso à espera de acontecer.
A este propósito, o artigo de Vítor Serpa intitulado “A Questão dos Dirigentes em Portugal” publicado n’A Bola (2019-04-13), surgiu com uma superior oportunidade uma vez que, hoje, o pior que o desenvolvimento do desporto pode apresentar nos mais diversos países do Mundo é um dirigismo oportunista de supercompensação de substituição, de complemento, ou de superação (Cf. M. Bouet) que Vítor Serpa sintetiza da seguinte maneira: “… em regra, temos administradores e gestores demasiado marcados pela cultura do exercício pessoal do poder e daí que confundam o interesse da empresa, do grupo, da instituição com o seu gosto, a sua personalidade e, o pior de tudo, o exibicionismo do seu estatuto de autoridade, que é sempre mais redutor do que a liderança”. O problema é que, digo eu, depois, perante o fracasso dos resultados, como, infelizmente, assistimos todos os dias, suas excelências reduzem-se a uma oportuna insignificância e recusam-se a assumir as responsabilidades e, daí, a tirarem as devidas consequências.
Quando um dirigente desportivo, numa estratégia de “serviços mínimos”, diz que: (1º) Não é ele que compete, são os atletas; (2º) Não é ele que ministra o treino, são os treinadores; (3º) Não é ele que organiza, são os organizadores; (4º) Ele só vai dirigir e ; (5º) Dirigir é fazer o melhor possível das suas capacidades, está profundamente equivocado desde logo porque confunde capacidades com competências. O que se espera de um gestor não são extraordinárias capacidades para o exercício de funções sejam elas quais forem. O que se espera do gestor são competências específicas para o exercício de determinadas funções. Depois, se for possuidor de algumas capacidades inatas que potenciem as suas competências tanto melhor. Caso contrário, o gestor pode estar, no melhor das suas capacidades, a fazer, muito bem, as coisas erradas na medida em que não tem, sequer, as competências específicas para perceber a situação a fim de decidir quais as medidas certas a tomar. Ora, não existe nada de pior para os resultados da gestão do que alguém sem competências, mas cheio de capacidades, a fazer coisas erradas. Reduzir a gestão ao exercício das capacidades individuais é promover o “achismo” que, ao sustentar o discricionarismo das chefias, tem condenado ao fracasso muitos Sistemas Desportivos por esse Mundo fora.
Por isso, as questões levantadas por Vítor Serpa são fundamentais: “Fala-se, muitas vezes, inclusive nos foros económicos, da improdutividade nacional. Mas de onde vem essa improdutividade? Da falta de qualidade dos trabalhadores ou da falta de competência dos gestores, que são incapazes de planear, de organizar, de projectar, de realizar?”.
Se bem virmos, o Director d’A Bola fala, realmente, do que sabe. Sendo ele director do Jornal português de maior expansão à escala do Planeta responde pelos resultados do jornal na sua totalidade e não só pela circunstância do jornal sair, diariamente, a horas certas, para a rua. A última coisa que os leitores d’A Bola esperariam e os administradores da empresa ainda menos era ouvirem o seu director, acerca dos resultados contabilísticos da sua liderança, dizer: - Eu não vendo os jornais, quem o faz são os vendedores; eu não escrevo as notícias, quem o faz são os jornalistas; eu não pagino o jornal, quem o faz são os paginadores; eu só dirijo e dirigir é fazer tudo o que estiver ao meu alcance para que quem vende, escreve e pagina não possa dizer que não fiz o melhor para que tudo isso possa acontecer.
Não se trata de saber se o sistema está a funcionar bem. Trata-se de saber: (1º) Em que direcção vai? (2º) Qual é o seu destino? (3º) Qual é a velocidade da progressão? (4º) Quem são os destinatários? (5º) Como é que os recursos estão a ser utilizados? (6º) As pessoas envolvidas são as mais capazes? (7º) Qual o envolvimento de todos os interessados? (etc.).
O que se espera é que os dirigentes, com responsabilidade pessoal, sejam capazes de assumir a produtividade, quer dizer, os resultados que, em virtude das suas opções estratégicas, foram capazes de conseguir ao cabo de um mandato, de uma ou várias épocas ou de um Ciclo Olímpico. Infelizmente, em Portugal, das poucas pessoas para não dizermos únicas que, efectivamente, são responsabilizadas e obrigadas a, efectivamente, assumir os resultados da sua gestão são os treinadores de futebol.
Não se trata de saber se o gestor fez o melhor de si para que as coisas pudessem acontecer. Trata-se de saber se o gestor teve uma acção decisiva a montante de todo o processo de desenvolvimento ou se só serviu para produzir burocracia, gerir os interesses e atrapalhar a produção. Como refere Vítor Serpa para muitos gestores, “talvez para a maioria, toda a sedução de dirigir se esgota no prazer do mando, que não se pode, nem sequer etimologicamente, confundir com o prazer do comando. Quem comanda, sabe trabalhar em equipa, sabe organizar o seu grupo, tem consciência de que todos os homens, por mais sábios, têm limitação de conhecimentos e saberes. Por isso precisam de outros que os completem. Porém, quem apenas manda tem uma visão egoísta, pessoal, solitária e por isso invariavelmente pobre da gestão de uma empresa, de um clube, de uma associação desportiva, de um sindicato”.
Na realidade, existe uma significativa diferença entre mandar e comandar. Aqueles que mandam dão ordens ao estilo “quero, posso e mando” mesmo que essas ordens atentem contra a justeza do processo de desenvolvimento e a dignidades daqueles que lhes são subordinados. Aqueles que comandam dão o exemplo e lideram a partir daqueles que lhes são subordinados. E, quanto mais elevados estiverem na hierarquia mais responsabilidades têm de envolverem aqueles que comandam num projecto comum. Eles comandam porque são capazes de seguir aqueles que lideram.
E Vítor Serpa conclui:
“É, no fundo, esta adulteração cultural do dirigente e do homem português que está na base de muitas deficiências e incompetências nas direcções dos clubes desportivos e de uma enorme, diria, mesmo colossal ineficiência das empresas”.
Perante este triste cenário que, infelizmente, acontece nos mais diversos países do Mundo, a pergunta que ocorre fazer é a seguinte:
Porque é que muitos dirigentes se comportam desta maneira?
Tenho para mim que os dirigentes descritos por Vítor Serpa, que podem ser encontrados nos mais diversos sectores sociais, do desporto à economia política, enfermam de uma das piores síndromes da modernidade. Eles estão possuídos por um individualismo egocêntrico e narcisístico, sustentado numa concepção burocrático-instrumentalista do exercício da gestão em benefício pessoal, pelo que o mando do seu poder institucional é caracterizado como um certo “despotismo suave” uma vez que não ouvem ninguém (Cf. C. Taylor). Os gregos antigos chamavam-lhe o mal de húbris, quer dizer, descomedimento, presunção, arrogância ou insolência daqueles que atingiram patamares da hierarquia para os quais não tinham nem competências, nem condições ético-morais para o exercício das funções requeridas.
O grande problema que, hoje, se coloca ao desenvolvimento do desporto nos mais diversos países do Mundo, tem, precisamente, a ver com a cultura de um certo despotismo suave em que os fins justificam os meios pelo que, num egoísmo primário, os dirigentes utilizam-se das organizações que chefiam com o exclusivo objectivo de se afirmarem socialmente. Nem sempre foi assim.
Pierre de Coubertin era um democrata. Ao longo da sua vida, podem ser encontrados inúmeros exemplos que provam que ele era alguém que presava a democracia. Desde a sua mais expressiva metáfora no que diz respeito à generalização da prática desportiva “todos os desportos para todos” (Cf. Tribune de Genève, 1919-12-08) até à maneira como presidia e geria as Sessões do COI uma vez que, quando desejava manifestar e defender a sua opinião abandonava a presidência da Sessão pedindo ao suíço Godefroy de Blonay para o substituir. Coubertin era, de facto, um líder que, sem abdicar das suas convicções sempre soube partilhar a liderança com aqueles que o acompanhavam na institucionalização do projecto olímpico. Ele tinha perfeita consciência das suas limitações pelo que necessitava de todos aqueles que o podiam completar. E, foi o que fez ao longo da sua liderança do COI entre 1896 e 1925. Ao fazê-lo, pautou o seu comportamento pelo maior respeito pelos valores da democracia. Defendeu, com convicção, as suas ideias, mas nunca pensou sequer em impô-las aos membros do COI e, por isso, em muitas decisões, saiu vencido. Também nunca teve qualquer problema em aceitar as opiniões dos seus companheiros como foi, por exemplo, o “citius, fortius, altius” do Frade Henri Didon (1840-1900) ou a ideia de organizar a corrida da Maratona na primeira edição dos Jogos Olímpicos da era moderna que lhe foi sugerida por Michel Bréal (1832-1915). Infelizmente, o exemplo do espírito da liderança democrática de Coubertin nem sempre orientou o comportamento dos presidentes do COI que se lhe seguiram, nem, salvo as devidas excepções, a dos mais diversos presidentes dos Comités Olímpicos Nacionais (CONs) por esse mundo fora que, completamente embriagados pelo poder do mando e do dinheiro e tomados pelo mal de húbris, passaram a gerir as respectivas organizações ao estilo “quero, posso e mando”.
Se a democracia é a primeira virtude das instituições sociais, a justiça deve ser aquela que orienta o seu processo de desenvolvimento. Isto significa que não existe desenvolvimento quando, nas mais diversas instituições, sejam elas públicas ou privadas, a acção de dirigir, de administrar ou de gerir, se traduz: (1º) Num olímpico narcisismo relativista do prazer do mando; (2º) Na incapacidade de se criar um projeto comum que ultrapasse o poder despótico do “magistedixismo”; (3º) Na egocêntrica necessidade de se estabelecer doutrina na primeira pessoa do singular; (4º) No irrealista desejo de se impor uma novilíngua que estandardize o pensamento; (5º) Na defesa de interesses próprios em prejuízo das necessidades sociais; (6º) Na perda do sentido dos princípios e dos valores pelo esmorecimento dos horizontes ético-morais que caracterizam o exercício do mando.
Perante este cenário caracterizado pelo vazio de princípios e dos valores e pela ausência de credíveis lideranças sustentadas nos reais interesses das comunidades, está a surgir um profundo desencantamento relativamente ao Movimento Olímpico (MO) uma vez que os seus dirigentes, nos mais diversos países do Mundo, se têm aproveitado dos lugares que ocupam a fim de tirarem benefícios pessoais. E tudo começou quando Antonio Samaranch (1920-2010), que liderou o COI entre 1980 e 2001, proclamou a metáfora mais destruidora que alguma vez foi proferida no MO internacional. Foi ela: “yes to commercialisation”. E tratou-se de uma metáfora destruidora, não porque tenha aberto as portas à economia do desporto mas porque, sem cuidar das consequências, abriu as portas do MO ao poder do dinheiro sem considerar, como um dia afirmou Bill Gates, cito de cor, que tudo se altera na vida quando se alteram as respetivas fontes de financiamento. E tudo descambou na crise de corrupção em finais do mandato do próprio Samaranch. E, sem que, desde então, nada de, verdadeiramente, significativo se tenha alterado, Thomas Bach, o atual presidente do COI, na reunião da Comissão Executiva dos Comités Olímpicos Europeus (COE) realizada em Marbella /Espanha a 9 Novembro de 2018, fez um desesperado (!) apelo em defesa do Modelo Europeu de Desporto (MED) com a finalidade de preservar o MO das “ameaças” das empresas comerciais que, legitimamente, no quadro das regras económicas da União Europeia, veem nas organizações e nos eventos desportivos um excelente meio de negócios que, na perspectiva de Thomas Bach, atenta contra os consuetudinários interesses monopolistas do COI.
Hoje, a gestão do desporto, a nível do vértice estratégico dos Sistemas Desportivos dos mais diversos países do Mundo, está envolta numa enorme complexidade que, como refere Vítor Serpa, obriga a: (1º) Saber trabalhar em equipa; (2º) Saber organizar o grupo; (3º) Ter consciência de que todos os homens, por mais sábios que sejam, têm limitação de conhecimentos e saberes. Quer dizer, a complexidade dos Sistemas Desportivos obriga a que os gestores tenham perfeita consciência, para utilizarmos uma ideia de Ortega y Gasset, das circunstâncias do nível hierárquico em que estão situados. Porque, o pior que pode acontecer ao desporto de um qualquer país do Mundo é funcionar sob o mando de burocratas que confundem o exercício das funções de uma organização do vértice estratégico do Sistema Desportivo com aquelas que devem ser realizadas pelas organizações do centro operacional. Quando tal acontece, estamos em presença do Princípio de Peter que nos diz que as pessoas evoluem nas organizações e sistemas até ao nível da sua incompetência. Quer dizer, o facto de se ter mandado no desporto de uma Câmara Municipal não confere quaisquer competências para se comandar uma organização do vértice estratégico do desporto de um qualquer país do Mundo.
E porquê?
Porque as competências técnicas necessárias mas não suficientes para gerir o departamento de desporto de uma câmara municipal que na dinâmica do Sistema Desportivo se situa ao nível do centro operacional não são as mesmas a utilizar para, politicamente, gerir uma qualquer organização situada no vértice estratégico do desporto de um país. Toda e qualquer pessoa que, ao evoluir na hierarquia de uma organização ou sistema, continua a utilizar os mesmos conhecimentos e procedimentos que utilizava no nível anterior, limita-se, com brilho e proficiência, a cumprir o Princípio de Peter.
E termino, com a devida vénia, fazendo minhas as palavras de Vítor Serpa: “O desporto sofre com essa realidade, a todos os níveis do sistema. Portugal sofre com essa realidade em todos os seus sectores públicos e privados”."

Sobre o VAR

"Numa semana que acabou com as dúvidas sobre a utilidade do VAR - para alegria do Tottenham e desgosto do Benfica -, é hora de fazer algumas considerações sobre aquele que deve ser o caminho da tecnologia em Portugal, que foi pioneiro na sua implementação e não pode, também por isso, ficar para trás por tacanhez ou pelo simples facto de aos clubes parecer mais interessante continuar a alimentar guerra infindável que tem, sempre, na arbitragem a principal arma de arremesso.
Sendo claro que o VAR só pode aspirar, de facto, a acabar com a discussão em lances factuais, como são os fora de jogo - os outros, de interpretação, já se percebeu que serão sempre analisados consoante a cor das lentes de quem os vê... -, é hora de acabar de vez com o barulho desnecessário. Como? Criando condições para que as transmissões sejam semelhantes em todo o lado. Sejamos claros: não é justo para ninguém (clubes, adeptos e árbitros...) que nuns estádios se consiga perceber em dúvidas se um jogador está ou não off side e outros se tenha de ficar na dúvida porque as câmaras não estão colocadas em local que as permita dissipar por completo, como acontece em Santa Maria da Feira, Moreira de Cónegos, ou, como se viu ontem, na Choupana. Se há regulamentos para quase tudo (tamanho da relva, desenhos no relvado...), não pode a Liga - ou seja, para que fique claro, os clubes - introduzir uma regra que obrigue a arranjar nos estádios espaço para as câmaras de TV em zonas que lhes permitam captar as imagens necessárias para acabar, de vez, com tão absurdas desigualdades? É que embora possam dar jeito a muita gente, as discussões desnecessárias não dão jeito algum ao futebol. Que é o que deve preocupar quem dele gosta e quem o deve sempre defender em primeiro lugar."

Ricardo Quaresma, in A Bola

PS: Este ainda não percebeu que aquilo que o VAR e a arbitragem precisa é de gente competente e honesta... o resto é conversa!!!

Grandes... afinal, vamos ao Jamor !!!

Braga 2 - 4 Benfica


A derrota na 1.ª mão tinha ficado 'atravessada': azar, azelhice no remate; azilhice nos golos do Braga; e arbitragem deplorável... Tudo isto somado, dava-me algumas esperanças, em condições normais, tínhamos equipa para dar volta ao 1-2, mas nunca pensei estar aos 8 minutos da 1.ª parte, com 0-3 a favor do Benfica!!!! Grande entrada... e com grandes golos!!!
No 2.º tempo o Braga tentou pressionar mais alto, e isso trouxe-nos problemas... até porque mais uma vez, a equipa fisicamente deu o berro nos últimos 20 minutos, e as substituições tardaram...
Mesmo assim, após o 0-4 toda a gente pensou que a eliminatória estava 'fechada', mas um erro inacreditável do Neuhaus, logo seguida do 2.º golo do Braga, ainda levantou 'dúvidas', totalmente desnecessárias...

Creio que os dois jogos mais difíceis que fizemos ultimamente (Braga em Alcântara, e Sporting em Belém) foram benéficos para dar competitividade à nossa equipa...

Vamos ao Jamor, contra o Valadares, e como ficou provado hoje, temos tudo para levantar o Caneco... o Braga é só a equipa que nos últimos tempos dominado o Futebol feminino luso, 'roubando' os títulos às Lagartas... portanto, o nível de exigência na Final não será maior!!!

Vitória com muitas palpitações !!!

Benfica 3 - 2 Sporting
25-20, 22-25, 23-25, 25-15, 15-10

Fomos à negra, de forma totalmente desnecessária... a derrota no 3.º Set era perfeitamente escusada, mais uma vez entramos nos 20 pontos em vantagem, e permitimos a reviravolta!!!
Mas no final conseguimos o mais importante, o 2-1 em jogos, e agora temos duas oportunidades para recuperar o título... e pode ser já no jogo 4, em Alvalade!
Isto num jogo, onde tivemos alguns jogadores abaixo do esperado... Espero que as 'faladas' propostas malucas que os Lagartos fizeram a alguns dos nossos melhores jogadores para a próxima época, não esteja a mexer com a concentração necessária!!!

À rasca !!!

Benfica 32 - 31 Belenenses
(16-12)

Um Livre de 7 metros no último segundo, marcado pelo Belone, deu-nos a vitória, num jogo onde 'fizemos' quase tudo para perder!!!

Primeira parte 'mediana', mas na 2.ª parte conseguimos 'baixar' de rendimento!!! Nunca conseguimos encontrar antídoto defensivo para os 2 Pivot's do Belém... Fundamental o Ristovski nos últimos minutos, até a marcar!!!

Uma nota para as Manas Sá: não têm condições para arbitrar na I Divisão, critérios completamente absurdos! E recorrente, nos jogos apitados por elas...


Ingrato...

Benfica B 1 - 3 Famalicão


Jogo muito ingrato... Entrámos bem, marcámos, e estávamos a jogar bem, com muita velocidade e criatividade lá na frente...
Mas após alguns erros individuais, a equipa parece que ficou nervosa e a experiente equipa do Famalicão aproveitou os contra-ataques e 'matou' o jogo rapidamente, ainda na 1.ª parte!!!
Enorme diferença de experiência e de caparro... O David Tavares tinha que ser titular neste jogo!

Iniciados - 5.ª jornada - Fase Final

Guimarães 2 - 2 Benfica


A nojeira está a chegar aos Iniciados!!!
Sofremos o primeiro golo de penalty; depois de dar 4 minutos de desconto, sofremos o golo do empate, depois dos 4 minutos de desconto(!!!); e ainda tivemos o nosso melhor Central expulso, após o apito final... Sendo que na próxima jornada, temos o jogo do título em Alcochete!!!!