"Mais um episódio de “o Benfica controla isto tudo”. E com isto tudo já passaram 48 horas e Vítor Catão ainda não foi detido para interrogatório.
A polícia está a abrir um precedente muito perigoso, pois está a dar legitimidade para que qualquer pessoa possa intimidar, ameaçar e agredir outra pessoa, filmando, sem que nada lhe aconteça.
E para finalizar, ficamos rodos a aguardar que os especialistas da comunicação social expliquem estas imagens."
quarta-feira, 27 de março de 2019
CMTV 'fabrica' especialista, imaginário!!!
"O Polvo das Antas desafia uma vez mais o Correio da Manhã a revelar o nome do tal especialista que agora passou a ser o “especialista de Singapura”, após serem confrontados com a nossa contra-argumentação.
É assim tão necessário manter o sigilo de um especialista de áudio? É preciso irem a Singapura procurar um especialista de áudio? Não existem em Portugal? Curioso irem procurar um especialista ao Sudeste Asiático para contradizer uma explicação lançada numa página do Facebook.
Relativamente às explicações do especialista de áudio do Sudoeste Asiático do Correio da Manhã que fala português e sabe que quem está a falar nas gravações é Luís Filipe Vieira e que o mesmo é presidente do Sport Lisboa e Benfica, e passamos a citar “(...) o tipo de eco e som é explicado se o presidente do Benfica estiver a falar de dentro da sala para fora, por exemplo para uma varanda ou outra divisão” e "(...) o que se ouve no primeiro, logo ao início, é resultado, muito provavelmente, do dedo de Luís Filipe Vieira a tapar o microfone”, nós também achamos que a vossa explicação é ridícula e tem “dedo”. E também achamos que o facto de estarem a “tapar” a identidade do especialista e terem inventado que o mesmo vive em Singapura revela muito do modus operandi que circula nesse jornal no que ao Benfica diz respeito.
Mas não se preocupem que nós fizemos o trabalho de casa. Aliás, como sempre fazemos. Uma vez que estamos a falar de especialistas cuja identidade tem de ser preservada, também fomos buscar um especialista ao Gabão. E o nosso especialista do Gabão questiona se algum especialista do Correio da Manhã já explicou como é que os Super Dragões sabem de antemão quais os árbitros nomeados para jogos do Futebol Clube do Porto."
Conversa de 'capangas'!!!
"Escutem com atenção e retirem ilações.
✅ Gravação de 13/12/2018
A verdade será sempre como o azeite, existem uns que fazem coação com armas, existem outros que são inteligentes e não precisam de hackers. Está aqui uma prova inequívoca que Pedro Pinho e Vítor Catão estão todos cúmplices no maior roubo da história Mundial de Futebol!
O roubo dos e-mails, orgulhem-se agora."
César Boaventura, in Facebook
Este também merecia o estatuto de 'denunciante'!!!
"Ora, aqui está um verdadeiro whistleblower, alguém que, em função do cargo que ocupa numa organização, toma conhecimento de actos ilícitos aí praticados e os denuncia. Está percebida a protecção de que goza das autoridades."
Árbitros fora de jogo
"Artur Soares Dias é o único árbitro português no mundial de sub-20.
A notícia não mereceu parangonas mas a sua importância é irrefutável: O mundial de sub-20 anos, que vai decorrer na Polónia entre 23 de maio e 15 de Junho próximos não contará com a participação de árbitros, exceptuando-se a presença de Artur Soares Dias integrando a equipa do VAR.
Isto significa que, mais uma vez, a Fifa chutou para canto a arbitragem portuguesa, o que confirma o “alto conceito” em que é tida pelo organismo que dirige o futebol mundial. Parece estranho, mas não é.
Depois de ter promovido a profissionalização dos árbitros e de ter sido o primeiro a adoptar o vídeo-árbitro, fica bem à vista que as mais altas entidades responsáveis a nível global continuam a olhar com muita desconfiança para tudo aquilo que acontece entre nós e, sobretudo, pelo que se passa no seio da arbitragem.
Os casos sucedem-se a um ritmo avassalador, e tanto dentro como fora dos estádios, há quase todos os dias motivos para notícias pouco abonatórias e para a discussão de casos que passam, quase sempre, pela falta de credibilidade de alguns dos agentes, e também da falta de respostas daqueles a quem compete actuar para cortar os males pela raíz.
Para este campeonato do mundo estão nomeados 21 árbitros, 42 árbitros assistentes e 2º VAR. Como dissemos antes, apenas Artur Soares Dias integra esta lista, mas para desempenhar uma função colocada em terceiro lugar da escala.
Esta lição, mais uma, não deve ser menosprezada. Estamos numa fase delicada das competições, um tempo que os árbitros deverão aproveitar para ajudar a reduzir o descrédito em que a arbitragem portuguesa está afundada."
PS: Esta coisa de considerar o Soares Dias o melhor árbitro do Tugão, só pode ser uma forma de homenagear a mediocridade e a corrupção!
Prolongamento... com César Boaventura...
PS: Sousa Martins tem carteira profissional?! Uma vergonha...!!!
O mundo do futebol cheira mal por todos os lados
"O mundo do futebol cheira cada vez pior e é fundamental que o Ministério Público consiga resolver rapidamente os casos que tem em mãos, para que este odor nauseabundo não alastre.
O espectáculo dado nos últimos dias por duas personagens eloquentes do mundo da bola, e suas amizades, fez-nos ver que pior é quase impossível. Vi na CMTV e na TVI 24 os dois personagens serem entrevistados e fiquei com vontade de não ver mais futebol. Mas as acusações de ambas as figuras não podem passar em claro. As autoridades judiciais têm de agir rapidamente para que não se fique com a ideia de que vivemos numa autêntica república das bananas. Os clubes que estiverem por detrás de tais personagens têm de ser castigadas exemplarmente e, se for preciso, que desçam de divisão. Chamem-se Benfica, Porto ou Sporting. Mas o que dizer de um personagem que garante que Luís Filipe Vieira lhe quis dar 100 mil euros para dar uma valente tareia no director de comunicação do FC Porto? Das duas uma: ou mentiu com todos os dentes, a mando de alguém, e terá de sentar-se no banco dos réus, ou disse a verdade e, nesse caso, o presidente do Benfica também terá de responder em tribunal. As acusações lançadas em directo são demasiado graves para ficarem nas ondas televisivas. Isto já para não falar do inenarrável vídeo do Facebook em que um dos personagens faz ameaças ao outro, tratando-o como prisioneiro de um campo de concentração. Apurem-se, pois, as responsabilidades de um e de outro, e não tenham receio de enfrentar lóbis poderosos.
Quanto ao hacker mais famoso do país, Rui Pinto viu ontem o Parlamento Europeu dar-lhe uma luz de esperança ao aprovar um relatório da comissão de combate aos crimes financeiros que defende que os governos têm de criar medidas para proteger os autores de denúncias de casos de corrupção. O relatório foi feito com base num estudo dos casos FootballLeaks, Panama Papers, Paradise Papers e LuxLeaks, e recebeu os votos favoráveis de 472 deputados, com 165 contra e 19 abstenções."
PS: Não seria má ideia, para um profissional do jornalismo, informar-se das questões em causa, antes de opinar... Mas pronto, há quem prefira opinar na ignorância! A saga de confundir, denuciantes com personagens como o Rui Pinto parece que veio para ficar...!!!
O público da Selecção Nacional
"Não sei se o leitor já reparou, mas Portugal é um país complicado.
Não se percebe exactamente se é estupidez ou incompetência, mas a verdade é que os portugueses envolvem Portugal numa teia de grande complexidade. Tudo é difícil e extremamente melindroso.
Pergunta-se a um amigo se amanhã pode ir tomar café e a resposta vem com reticências.
«É complicado...»
Questiona-se o mecânico se dá para corrigir aquele barulho do carro e ele coça a cabeça.
«É complicado...»
Atira-se para o ar se aquele 0-0 no jogo da Juventus é justo e a resposta é invariavelmente a mesma.
«Está complicado...»
Na verdade não é nem está, é até verdadeiramente simples: ou pode ir tomar café ou não pode, ou pode corrigir o barulho ou não pode, ou é justo ou não é. Sim ou não. Dá para ser mais simples?
O problema é que Portugal é um país nórdico virado ao contrário. No norte da Europa esforçam-se por simplificar as coisas, nós gostamos de complicar até o que é fácil.
Porquê? É difícil perceber, mas há uma coisa que é irrefutável: a partir do momento em que ouvimos dizer que é complicado, ficamos com a impressão que se ergueu uma montanha para escalar. Isso sim, é de facto complicado. Portanto ao ouvir dizer que «é complicado» o nosso cérebro assume que não vale a pena tentar saber. O melhor é desistir.
Ora vem esta conversa a propósito do público da Selecção Nacional.
Os jogos da selecção enchem-se de gente singular, que provavelmente não frequenta o estádio para ver nenhum outro jogo: trata-se de gente que vai à bola pela festa, independentemente do futebol.
Provavelmente por isso é que se ouve um bruááááá de cada vez que Ronaldo recebe a bola a meio campo e provavelmente por isso também é que aos sete minutos já se está a fazer a ola mexicana.
Ainda não houve nenhum remate? Não faz mal (lá se levantam eles para fazer outra vez a ola). Afinal de contas o tempo gasto naqueles noventa minutos é demasiado precioso para ser condicionado pelo que acontece no relvado. O jogo é enfim secundário, importante é a celebração.
No fundo, a Selecção Nacional tem uma capacidade rara de atrair exactamente aquela franja de pessoas que diz não entender como um adepto do FC Porto pode torcer pela derrota do Benfica na Liga dos Campeões: consegue atrair aquelas pessoas para quem a rivalidade não é importante.
Ora a rivalidade, quando consumida em proporções saudáveis, é das coisas mais belas que existe: ela, sim, é o motor que alimenta esta coisa do futebol.
Viver o futebol é viver a rivalidade: muito dificilmente se vive um sem o outro.
O que nos atira para uma conclusão óbvia: o público da Selecção Nacional não vive verdadeiramente o futebol. Vive a festa do futebol, como vive a festa do Festival da Canção ou a festa dos Jogos sem Fronteiras. A paixão deles não é desportiva: é patriótica.
O que levanta uma dúvida: são estes adeptos da Selecção menos do que os outros?
É complicado..."
Portugal não vence e Fernando Santos fica sem nada
"Gosto muito de futebol.
Não gosto nem mais nem menos do que os outros. À minha escala, gosto muito de futebol.
Nasci em Lisboa, sou português. Cresci a jogar e a marcar uns golos de quando em vez, mas diverti-me sobretudo a tentar ver o que mais ninguém via, e a meter aí a bola. Por vezes restos mortais de uma bola. Nos restos mortais de um pelado.
Tornei-me jornalista. Deixei de jogar quase sempre para não jogar quase nunca, mas passem-ma e ficarei feliz. Comecei a vê-la mais nos pés dos outros, e a felicidade também assumiu outros tons. Bons tons, porque ainda a tratavam melhor do que eu, e não tenho a inveja como pecado mortal pelo qual deva pagar.
Gosto de ter uma cerveja fresca por perto. Pires de tremoços e amigos, nos intervalos das pirâmides de cascas amontoadas, com quem falar. Não há melhor maneira de ver um jogo sem ter de vê-lo. Sem conceitos e preconceitos, apenas pelo gozo da finta, do cruzamento de letra ou do golo de trivela.
Ver Messi e esquecer todos os outros, tal como Maradona fazia de cada jogada um campo só para si. Ainda tento abstrair-me dos triângulos, das entrelinhas e dos erros de compensação. Consigo limpar a cabeça durante cinco minutos. Pelo menos, tento.
Quem gosta de futebol não terá muito prazer a ver Portugal.
Quem analisa o jogo sabe que, apesar de qualquer equipa, incluindo a Selecção, ser eterno projecto inacabado, há momentos em que está mais ou menos completa, mais ou menos trabalhada. Mais ou menos forte.
Hoje, sou a criança que Christian Andersen colocou no meio da parada a gritar
O rei vai nu!
Há uma pergunta que aparece sempre. Mudam-se os protagonistas, mas é sempre válida para o adepto
Como é que alguém que foi campeão é agora mau?
O mundo muda à nossa volta, e com este o contexto. Primeiro, não desdenhemos a sorte, que não dura para sempre. Agradeçamos aos deuses. Só uma data de circunstâncias específicas, a que muitos chamam felicidade, garantiram uma conjuntura favorável para que hoje haja um título a defender. Atenção que ainda faltava a França, em França, no estádio nacional francês e com bandeirinhas ao vento e ao sabor do pior cântico do mundo
Allez les Bleus, allez les Bleus, allez les Bleus
Além de que a gestão do grupo, a conservação do moral e dedicação completa também têm valor, ainda mais pelas derrotas passadas e pelo também vingar do tratamento dado muitas vezes aos emigrantes.
Hoje, apenas, já não é suficiente.
Dificilmente o raio cai duas vezes no mesmo sítio. E, quando cair, porque o destino é algo que é tão caro para o português, não cairá para nós.
Quando um resultadista não ganha fica sem nada. É o ateu na hora da morte.
Literalmente na hora da sua morte. Não é o país que está pela hora da morte, embora esteja. Bem, adiante.
Fernando Santos, católico fervoroso, quando não ganha também fica com muito pouco.
Haverá quem conteste o conceito de jogar bem, e até pode ter razão. Não é algo objectivo, muda de pronome para pronome. Haverá ainda quem aponte a verticalidade como um caminho tão válido quanto outros para chegar ao triunfo. O que também não é mentira, embora até aí pareçam faltar jogadores que o tornem menos espinhoso. Ou mais espinhoso para quem defende.
Já não dá para naturalizar o Marega…
Até para o resultadismo Portugal parecer estar em carência.
Uma equipa sólida não precisa dominar todos os estilos e ideias, embora se o conseguisse passasse a estar bem mais perto do sucesso. A Selecção não domina o seu, e isso é dizer quase tudo.
Dói tanto pontapé para o ar e bolas a acabar no quintal, um verdadeiro desperdício. Dizia Riquelme, se calhar até repetindo o que ouviu dizer e que lhe pareceu fazer sentido
Trata bem a bola e ela retribuirá!
Confesso-me ateu perante o deus de Fernando Santos. A bola é a minha religião."
A qualidade acima do certificado de origem
"Quanto tempo durará a discussão em torno da chamada de Dyego Sousa à selecção? É difícil prever, mas se tiver de arriscar um timing, direi que o tema começará a esmorecer no exacto momento em que o avançado desatar a marcar golos. Porque é disso que se trata, no fundo: de rendimento. O jogador tem qualidade? Pode ser útil a Portugal? Cumpre as exigências impostas pelos regulamentos da FIFA? Pois bem, passemos à frente, então, ao debate que realmente importa.
A questão é sensível, reconheço, mas é-o por razões que nada têm a ver com o futebol. Para muitos, o desporto serve apenas de veículo de propagação de preconceitos a coberto de uma suposta identidade nacional que não é (nunca foi) geneticamente mensurável. Outros, talvez mais razoáveis, recorrem à teoria da “tradição” para sustentar que deve ser o cartão de cidadão a determinar a amostra das convocatórias. E, ao mesmo tempo, a maioria dos representantes deste universo lamenta há anos a ausência de avançados (goleadores, leia-se) capazes de servir as exigências de uma equipa que sempre clamou por níveis de finalização à altura dos seus índices de criação.
Por que razão decidiu Fernando Santos chamar Dyego Sousa e por que razão o lançou como titular no jogo com a Sérvia? Porque o jogador do Sp. Braga tem mostrado, ano após ano, jornada após jornada, que tem atributos interessantes que poderão complementar os recursos já ao dispor do seleccionador. É fortíssimo no jogo aéreo (esteve perto do golo nos poucos minutos que somou diante da Ucrânia), uma excelente referência para cruzamentos, um finalizador invulgar dentro da área e, ao mesmo tempo, tem aptidões que lhe permitem atacar a profundidade com competência.
Será, porventura, inútil estar a desfiar alguns dos exemplos de jogadores, de Pepe a Deco, que só criaram resistências em parte da opinião pública até à altura em que se tornaram imprescindíveis. Mas é bom que tenhamos em conta que a realidade portuguesa de hoje é a realidade de tantos outros países que lutam, em campo, com as mesmas armas precisamente pelos mesmos objectivos. O mundo mudou no último meio século e o desporto mudou com ele.
Se há um instrumento adequado para medir a pulsação do futebol com algum rigor, é um torneio com a magnitude e a diversidade de um Mundial. O do ano passado, que decorreu na Rússia, diz-nos algo sobre os efeitos das guerras, da imigração ou dos cruzamentos tantas vezes improváveis traduzidos pela ascendência familiar. Dos 736 jogadores que participaram na competição, 82 nasceram fora do país que representaram; 22 das 32 selecções participantes na fase final apresentaram pelo menos um futebolista nascido fora do respectivo território; um dos atletas, no caso Adam Januzaj, pôde dar-se ao luxo de escolher entre seis (sim, seis, não é engano) selecções possíveis — a saber, Bélgica, Kosovo, Sérvia, Turquia, Albânia e Inglaterra. Acabou por optar pela primeira.
Este é o estado da arte do futebol contemporâneo. Um relvado de dimensão planetária no qual Diego Costa pode marcar golos por Espanha, Guilherme pode defender as redes da Rússia e Ivan Rakitic (nascido e criado na Suíça) pode desenhar jogadas a régua e esquadro no meio-campo da Croácia. Este é o futebol da mobilidade, dentro e fora das quatro linhas, do talento sem fronteiras e das 1001 possibilidades.
Num Portugal em que o fundamentalismo clubístico tende a impossibilitar um pensamento estruturado e racional sobre o futebol, strictu sensu, haverá sempre focos de dispersão e luzes que encandeiam viradas para fora dos estádios. A apontarem para as certidões de nascimento ou à procura de impurezas no percurso de quem, por mérito próprio, se foi fazendo notar. Quanto mais cedo conseguirmos fazê-las incidir unicamente sobre os relvados, mais cedo passaremos a fazer justiça aos artistas."
A mediatização da bola
"Compreendo que o desporto em geral e o futebol em particular deverão ser objecto de atenção e mediatismo, mas na justa medida. Haja moralidade e justiça ao nível das prioridades na mediatização!...
Como é fácil de depreender, sobretudo por aquilo que venho escrevendo ao longo de mais de três décadas e meia, gosto do desporto e, consequentemente, da prática das actividades desportivas. De comentar, ver e praticar, o que faço regularmente. De umas modalidades mais do que de outras, naturalmente. Gosto do futebol, mas também gosto do voleibol, ou dos jogos tradicionais/populares. Aliás, dos jogos tradicionais dos meus tempos de criança, adolescência e juventude, apesar de, agora, muitos deles estarem em desuso, diria mesmo em extinção, guardo boa recordação. Ainda me lembro dos tempos em que, o tempo livre, em vez de ser gasto no interior de um café, ou de uma taberna de aldeia, era investido a jogar ao fito, à relha, ao calhau, ao xino, à macaca, à bilharda, etc. Além da dinâmica interactiva socializadora que potenciavam, despertavam o gosto pela cultura, desenvolviam o raciocínio e a destreza física. Os desportos tradicionais davam vida aos meios rurais, onde a televisão era um “luxo” escasso.
Nos tempos que correm, tudo mudou. Os ambientes urbanos de cidade e os hábitos sociais são pouco propícios e motivadores para que isso aconteça e o despovoamento do meio rural não favorece a prática dos jogos tradicionais.
Não obstante os reflexos da idade, continuo a ter alguma ocupação desportiva, a qual não dispenso, pelo menos duas vezes por semana.
Posto isto, fica expresso o meu espírito e a minha disponibilidade para a promoção da actividade física de lazer desportivo, entre outros. Isto para dizer que nada me move contra qualquer modalidade desportiva, mesmo reconhecendo que a mercantilização exacerbada desvirtua a sua verdadeira e genuína filosofia.
Com efeito, à medida que o tempo passa, tudo se tem tornado diferente, vivido de forma demasiado apaixonada e efervescente, levando, inúmeras vezes, a que se protagonizem enormes atentados à dignidade humana e à falta de respeito de muita gente, por outra gente.
Obviamente que, neste contexto, haverá muito para dizer e comentar. Porém, o que, agora, pretendo chamar à atenção, é para o que me parece ser a excessiva mediatização do fenómeno da bola, ou seja do futebol. Se nos detivermos a reflectir um pouco sobre os investimentos no futebol, as desigualdades sociais que potencia e o mediatismo de que beneficia, até pode dar a ideia de que os padrões culturais e educativos de uma sociedade moderna e desenvolvida emergem a partir do mundo da bola.
Mas não. Felizmente.
Ora vejamos. Com tantos problemas sociais, económicos, ambientais, culturais ou espirituais que se vivem e sentem no mundo de hoje, que provocam situações de extrema pobreza e de flagelos colectivos em termos de relações humanas, somos contínua e sistematicamente “bombardeados” com notícias, reportagens, comentários, fofoquices, em que o futebol é o “rei”. Todos sabemos que se trata do designado “desporto-rei”, mas daí até ocupar tanto espaço e tempo na vida colectiva, vai uma diferença muito grande!…
Para ter uma ideia, basta ver a abertura dos telejornais, dos espaços noticiosos radiofónicos, das páginas dos jornais e das revistas e tentar perceber se o facto de uma ou duas dúzias de homens, que ganham milhões a darem uns pontapés na bola, por vezes dirigidos por pessoas que nem uma frase completa sabem dizer ou escrever, será merecedor de tanta atenção e contribuirá, na proporção devida, para o desenvolvimento global e equilibrado de qualquer sociedade, sobretudo ao nível educativo e formativo.
Compreendo que o desporto em geral e o futebol em particular deverão ser objecto de atenção e mediatismo, mas na justa medida. Haja moralidade e justiça ao nível das prioridades na mediatização!…"
Competências emocionais do treinador: um duplo compromisso a assumir
"O contexto desportivo, espelho privilegiado do comportamento humano na sociedade em geral, permite observar, em interação (nem sempre harmoniosa), “actores” de diferentes gerações e, por isso mesmo, diferentes “quadros de referência” (entenda-se, formas de olhar e entender o mundo e a si próprios).
Dirigentes, treinadores, encarregados de educação e atletas nem sempre tem, por esta mesma razão, o mesmo entendimento sobre os processos e o resultado que deverá advir dos mesmos.
Sabemos já (inúmeros artigos científicos e de opinião assim o têm referenciado) que, apesar das gerações mais novas trazerem elevadas competências cognitivas e tecnológicas (quase como se fosse o seu ADN) pecam, no entanto, naquela que poderíamos considerar a sua inteligência emocional – evidenciam, por isso, grande dificuldade em fazer o reconhecimento das emoções que possam estar a sentir (confundindo muito frequentemente activação com felicidade), em gerir a frustração (ou se gerirem em contexto de frustração), em manterem o esforço face a “resultados” adversos (ou que significam como tal) ou, em gerir a sua impulsividade escolhendo, muito frequentemente, “virar costas” aos contextos onde possam experenciar emoções “negativas” (por outras palavras, vivenviadas com desconforto e desagrado).
Neste enquadramento, cabe muitas vezes ao Treinador o papel (ou função) de ser o “regulador externo” do conteúdo emocional que os atletas vivenciam.
Transfer Desporto - Vida
A prática de uma modalidade desportiva (ou de um instrumento musical, por exemplo) assume-se como, possivelmente, um dos cenários mais importantes onde um(a) jovem pode, desde cedo, aprender a desenvolver um conjunto de competências perfeitamente essenciais à Vida – Esforço, Persistência, Superação e Confiança.
Competências estas que não são, até à data, alvo de qualquer programa curricular em contexto académico, pelo que, o Desporto pode (e deve) assumir-se como um importante “veiculo” para o treino das mesmas.
Há, no entanto, que manter bem presente que (tal como na aprendizagem de um instrumento musical), o(a) jovem passará por muitos momentos de frustração nos quais deverá permanecer, mantendo (às vezes elevando) o esforço produzido, até à superação dos mesmos – apenas aqui surgirá competência, capacidade e conhecimento (do seu próprio funcionamento e da modalidade/contexto em questão).
Gerir pessoas quando tudo corre bem já não é propriamente um desafio fácil, geri-las em contexto de frustração e adversidade pode revelar-se quase uma barreira intransponível (quase... porque muitos treinadores já evidenciaram por inúmeras vezes que assim não tem que ser).
A isto poderíamos chamar, em boa verdade, aquisição de Competências de Vida (quem não esfolou joelhos a aprender andar de bicicleta ou skate?) ou, as necessárias “dores de crescimento” que temos que vivenciar para poder aceder ao “next level” deste “jogo” denominado “Vida”.
Um Duplo Compromisso
Do treinador, do professor, do encarregado de educação ou de qualquer outro tipo de “educador”... As pessoas que chamam a si a tarefa de “treino” (ou a missão de elevar um dado tipo de competências de outra pessoa para um patamar mais elevado) acabam por necessitar de competências técnicas específicas (em função da sua própria área de especialização) mas, de igual forma, e porque o “objecto” é outro ser humano, de um conjunto de competências emocionais.
Ao treinador (porque é sobre ele que esta reflexão decorre) cabe desenvolver não só as suas próprias competências de gestão emocional (ou “auto-gestão” porque dirão respeito ao seu próprio comportamento) mas também as competências emocionais dos seus atletas, no sentido de favorecer a optimização do seu desempenho, em contexto de sucesso ou insucesso.
Confuso? Nem tanto – na realidade, deverá assumir a responsabilidade da evolução do seu repertório de competências emocional, no que respeita ao seu próprio comportamento e ao comportamento dos seus atletas.
Espera-se, do treinador (esperam dirigentes, encarregados de educação e outros agentes que possam circular no “cenário” desportivo), que seja capaz de prover apoio incondicional (de preferência, a todos os atletas e de igual forma...), de gerar vínculo e compromisso emocional, de incentivar e evidenciar o caminho de superação, de persistência face à adversidade e de manutenção do esforço e dedicação a longo-termo para que uma carreira desportiva se possa vir a vislumbrar...
Como?
Pois, aqui é que reside a questão – uma questão que permanece sem soluções a curto prazo, até porque, a própria formação prevista para a carreira de treinador (prevista num conjunto de níveis que devem percorrer) contempla um número irrisório de horas naquela que é, possivelmente, uma das áreas mais importantes – o funcionamento psico-emocional em contexto de performance (logo, do treinador e do atleta).
Formação Precisa-se
As gerações mais recentes, porque mais inaptas em termos de competências emocionais, colocam um desafio mais elevado a qualquer tipo de educador.
Mas esse desafio não se coloca sobre a aquisição das competências técnicas (do português, da matemática, do remate em suspensão no andebol, da corrida para o salto de cavalo na ginástica artística, entre tantas outras...) mas antes sobre a aquisição das competências emocionais que são necessárias para que a “pratica” (entenda-se, treino) se torne mais eficiente, desafiada e, já agora, lúdica.
Aos “educadores”, cabe esse enormíssimo desafio de normalizar a adversidade, de a traduzir com naturalidade e, em boa verdade, com alguma desejabilidade, na medida em que, sem ela, não haverá evolução ou progressão.
Aos “educadores”, cabe a necessidade de elevar os seus próprios recursos emocionais para que possam, com maior facilidade, mais direcção e sistematicidade, elevar os recursos dos seus “educandos”.
Mas não basta – precisa, acima de tudo, haver valorização institucional e reconhecimento organizacional no contexto, para que possam existir ao seu dispor os meios, as condições e as ferramentas necessárias para que possam, de facto, escolher fazer este mesmo caminho imprescindível e inadiável de “upgrade” contínuo."
O importante e o simbólico. E Lage.
"Pondo de lado a lógica de contingência, Bruno Lage é uma das melhores surpresas de que me lembro da minha já longa vida de benfiquista.
1. O jovem jogador Fábio Mendes, de 28 anos, morreu durante um jogo da sua equipa a contar para o Campeonato Nacional da II Divisão de futsal. O atleta terá sido vítima de uma paragem cardíaca durante a partida, tendo sido transportado para o Hospital de Portimão, onde chegou já sem vida. Em nenhum das notícias na comunicação social é referido se o recinto desportivo tinha ou não um desfibrilhador. Nestas situações e na cadeia de sobrevivência que deve ser seguida, uma delas é decisiva: a da desfibrilhação precoce. Sem ela para pôr o coração a funcionar novamente, estas casos terminam sempre da pior forma. Segundo li, o desfibrilhador só terá chegado 25 minutos depois. Por cada minuto que passa a taxa de sobrevivência baixa 10%. Para que o socorro seja eficaz, impõe-se que haja um desfibrilhador à disposição no local. Sei que a Federação Portuguesa de Futebol está a fazer agora um esforçado trabalho para que estes equipamentos sejam instalados em todos os recintos desportivos, mas ainda é difícil para a maior parte da população perceber a importância destes aparelhos. Infelizmente esta situação é comum na maioria dos ginásios, pavilhões escolares e desportivos no nosso país. Enquanto não se despertar plenamente para este problema a taxa de mortalidade da paragem cardiorrespiratória extra-hospitalar irá manter-se em cerca de 97%. Infelizmente, o jovem morreu, a notícia foi fugaz e depois tudo volta ao sossego da indiferença ou, pior, à violência da palavra (e não só...) nas minudências do nosso quotidiano desportivo.
2. Gostei de assistir à Gala do meu clube, no Campo Pequeno. Por muitas e variadas razões. Primeiro, porque se trata de um momento associativo de genuíno entusiasmo, como os benfiquistas gostam de viver no seu clube do coração. Depois, porque a atribuição dos prémios anuais tem o nome do fundador do SLB, Cosme Damião, assim honrando a memória de um passado glorioso do maior clube português. Por outro lado, porque os galardões atribuídos são eclécticos, como, desde sempre, é o Benfica. Eclécticos, inovadores e acarinhados. E, ainda, porque a própria organização do evento foi uma prova de excelência, quando ao seu planeamento, organização e expressão plástica. Por fim e seja-me permitida esta nota mais pessoal - porque a minha neta Joana me acompanhou e sei o que para ela foi viver aquelas horas entre os atletas e no meio de imenso fervor clubista. Eu que transbordo de benfiquismo até ao infinito vejo nela o próprio infinito de benfiquismo. Está assim assegurada a minha eternidade benfiquista.
Foi uma festa onde houve apenas Benfica agora chegado aos 115 anos. Porque o Benfica não precisa de fabricar antagonismos de ocasião para exaltar a chama imensa. Porque o Benfica vale por si e se entrega aos seus sócios e adeptos, sem condições, sem adjacências, sem revisionismos.
Gostei da significativa homenagem ao presidente Fernando Martins, aplaudi com alegria o galardão atribuído a Minervino Pietra, que exprime o agradecimento ao clube a um grande jogador (que saudades tenho de o ver jogar!) e a um exigente profissional, e sensibilizei-me com o galardão atribuído a Mário Dias, a quem mais devemos o novo Estádio da Luz. Realço aqui, também, a maior presença de jovens do sexo feminino, que tão boa conta têm dado na sua contribuição para o sucesso desportivo encarnado, salientando em especial a entrada no futebol feminino e o reingresso noutras modalidades, como voleibol e o andebol.
Não foram surpresa os prémios para os profissionais no futebol sénior. João Félix ganhou o Prémio Revelação, curiosamente num tempo em que o jovem já passou a ser, e bem, considerado um atleta de consagração assegurada. Jonas voltou a ser o melhor jogador, creio que pela quarta vez em quatro épocas completas com a águia ao peito. Ao receber o Galardão, exprimiu a sua profunda gratidão ao Benfica que o recebeu de braços abertos, depois de relativamente ostracizado no Valência. Falou como jogador, mas, sobretudo, como homem que se emocionou genuinamente.
3. Com os seus jogadores, lá esteve Bruno Lage. Discreto e sereno, como sempre está. É, seguramente, o mais que certo vencedor do galardão para o melhor treinador no próximo ano, independentemente do desfecho das competições em que o Benfica aspira vencer esta temporada.
Para mim, Bruno Lage personifica o perfil de treinador do SLB que mais me agrada. Bem sei que a vida de treinador está sujeita a condicionalismos e imponderáveis que tornam demasiado arriscado prognosticar qualquer coisa para além de uns escassos meses. Bem sei que, tarde ou cedo, a ditadura dos resultados fabrica, só por si, a excelência ou a dispensabilidade de qualquer técnico, numa área tão errática, como danosamente emocional e de mera visão de curto-prazo. Mas, pondo de lado esta lógica de contingência, o certo é que Bruno Lage é uma das melhores surpresas de que me lembro na minha já longa vida de benfiquista. Bruno Lage é português. Não que isso seja uma condição necessária é muito menos suficiente, mas é sempre bom saber que o clube, que até teve uma longa tradição (a nível do plantel) de só ter jogadores portugueses, continue a apostar, a nível técnico, em técnicos nacionais.
Por vezes, dizia aos seus alunos que eles até podem não perceber o que um professor está a ensinar, mas pelo menos percebem se o professor percebe o que ele próprio está a explicar. Uma espécie de intuição natural e que, entre vários meios de a aferir, tem na autenticidade da relação um dos seus mais fortes sinais. Lembrei-me disto para referir que uma pessoa leiga - como é o meu caso - que de futebol e de treino percebe apenas o que extrai da observação de fora, pode plenamente ajuizar se o treinador treina bem e percebe do ofício. Dois meses e meio passados desde que chegou ao comando da equipa principal, este jovem treinador encarnado provou à saciedade que tem competência no trabalho e sabedoria na liderança.
Bruno Lage é um treinador contra a corrente. É mesmo desarmante num teatro de operações feito de chico-espertismo, de balelas, de pseudo jogos psicológicos, de rodinhas com os jogadores para adepto ver, de optimismos bacocos ou de histrionismos de cara-de-pau. Bruno Lage fala de futebol, não do que anda à volta do futebol. E se até agora quase sempre ganhou os jogos, soube sempre ser senhor nas vitórias, como o foi nas poucas derrotas e empates. Não inventa desculpas para os desaires, como não incha o ego nos sucessos. Bruno Lage é até pedagógico no modo como tudo explica relativamente ao que se passa nos jogos. Não é dos que justificam o que faz ou o que diz «porque os outros também fazem assim ou dizem assado». Não alimenta querelas estéreis, nem perde tempo com perguntas que passam ao lado do jogo jogado. Bruno Lage não faz do futebol um mistério ou uma ciência oculta, antes de concentra no valor profissional, humano e ético do trabalho. Não precisa de andar aos saldos, gesticular freneticamente ou gritar numa concorrência de decibéis. É comedido na alegria e lúcido na tristeza, não se deixando inebriar ou deprimir pelo carácter efémero de uma e de outra. É audaz no que significa de coragem e de uma certa irreverência, mas não é imprudente quando avalia as suas acções. Decide não pela fantasia da impossibilidade, mas pela probabilidade calibrada pela sabedoria dos limites. Não é um treinador instalado, nem se apresenta como um catedrático da bola. Como ele disse, são os jogadores que estão a contribuir para que ele seja hoje melhor treinador do que ontem e amanhã do que hoje.
Às vezes, as escolhas de um treinador são orientadas em nome da fama do nome, nem sempre com os melhores resultados. Desta vez, a escolha incidiu no melhor dos critérios, que não o do renome construído ou inventado. ... Em boa hora, Luís Filipe Vieira teve a segunda luz: a de escolher Bruno Lage. Afinal, a solução estava dentro de casa. Neste caso, houve uma segunda oportunidade para fazer uma excelente escolha. E digo-o sem hesitações, seja qual for o resultado final nesta luta ponto-a-ponto que Benfica e Porto vão ter na próximas e decisivas oito semanas.
Contraluz
- Selecção: No jogo contra a Ucrânia, quem imaginou que o clube mais representado no onze inicial foi o Wolverhampton: Rui Patrício, João Moutinho e Rúben Neves. Ao todo, 4 (com Jota), tal como o Benfica, como há muito tempo não se via (Rúben Dias, Pizzi, Rafa e João Félix).
- Comparação: Até agora penáltis a favor do Sporting (12!), tantos como o soma dos assinalados a favor do Benfica (5), Sp. Bragfa(4) e Porto (3). Penáltis assinalados contra o Sporting (1), em confronto com Benfica (4), Braga (3) e Porto (3). Cada um que tire as suas conclusões...
- Basquetebol: O melhor basquetebolista português de todos os tempos, Carlos Lisboa, volta a ser o treinador do Benfica, depois de muitos títulos também conquistados nestas funções. E logo com uma vitória rotunda. Fico agora mais esperançado na reconquista do título."
Bagão Félix, in A Bola