sábado, 23 de março de 2019

Vous avez dit Casa 224 ?

"Il m’arrive certains weekends de quitter la capitale parisienne, de prendre le TGV direction Lille. Vous vous demandez pourquoi !? Et bien c’est très simple, j’y vais pour voir les matchs du SLB à la casa 224 de Tourcoing. Il s’agit d’un pélerinage qui vaut le détour ... Le nord de la France possède cette chaleur particulière que l’on retrouve dans son architecture, ses beffrois, ses moules frites et ses gens qui, pour la plupart, sont venus travailler dans les mines et l’industrie textile du 19e siècle. C’est un peu tout cela que je retrouve quand je me rend à la casa do Benfica de Tourcoing.Vous ne pouvez pas la rater ! On la voit au loin dès qu’on progresse sur la rue des 5 voies avec ses murs en briques rouge et noire. Elles me rappellent certains quartiers de Londres tel que le north east et ses pubs accueillants riches en rencontres.
Dès que vous franchirez le pas de la porte, vous reconnaîtrez tout de suite derrière le bar, le personnage le plus emblématique de cette « maison familiale », il s’agit de Paulo le Président, icône vivante de ce qui est le militantisme et l’amour pour son club, notre club. Il est vrai qu’il en dégage Paulo! Sa stature (ancien fuzileiro) son charisme, son franc-parler et son amour sans fin pour le club vous impressionne de suite ! Mais qu’est-ce qu’il est sympa et accueillant, on se sent tout de suite chez nous et on a forcément envie de revenir. Du coup j’habite à Paris et je suis socio da casa à 250 km de chez moi !Comme le dit Paulo : « ensemble nous sommes plus forts » et c’est ça que je retrouve et apprécie à la casa 224. On se sent de suite plus forts, unis par le même esprit Rouge et Blanc.
J’y ai passé des « jornadas » inoubliables, ayant célébrer un « tetra », moment unique de notre histoire où nous avons pû nous réunir français, belges et hollandais au même endroit.
Et oui ! Tourcoing est au carrefour de l’Europe à 10’ en voiture de la Belgique pas très loin des Pays-Bas, du Luxembourg et notre club a cette force d’attraction que peu de clubs en Europe réussissent à célébrer. La casa 224 a cette dimension internationale qui pour moi reste unique. Je pourrais vous parler de cette casa pendant des heures, mais sincèrement elle vaut le détour. Sa décoration, ses pièces de musées, sa salle Eusebio... tout vous sublime et vous rend fier d’aimer ce club et de le supporter. 
Je finirai cette article en rappelant que la casa 224 fait beaucoup pour le sport (équipe de futsal et d’athlétisme) et prend en charge toute l’année la logistique des nombreuses équipes des « camadas jovens » qui viennent participer aux différents tournois internationaux organisés dans la région. Cette casa joue entièrement son rôle de «braço armado» et représente corps et âmes un morceau de notre « Glorioso » au delà des frontières. Je n’oublie pas tous les gens qui s’investissent dans le but de valoriser cette casa au quotidien avec toutes les difficultés et sacrifices que cela incombe (Virginia, Paulo « Ptit frère », Toni, « bruxinha », Paulo Martins...) Juntos somos mais fortes."

Rui Pinto: Barba Negra ou Robin dos Bosques?

"A confusão em torno deste caso leva a paradoxos tão disparatados como este: o Sporting, uma das vítimas dos crimes pelos quais Rui Pinto está indiciado e que inicialmente acusava o Benfica de estar na génese do Football Leaks, vê os seus adeptos ostentarem tarjas a dizer ‘Libertem Rui Pinto’

Um jovem de 26 anos abalou o mundo do futebol em 2015 com a co-criação de um portal intitulado Football Leaks. O nome é ‘descendente’ do WikiLeaks do jornalista Julian Assange, que vive desde 2012 em asilo político na Embaixada do Equador em Londres de forma a evitar a extradição para os Estados Unidos da América, onde arrisca uma pena de prisão perpétua por atos de espionagem contra a nação. Rui Pinto, hoje com 30 anos, capturado e extraditado pelas autoridades húngaras para Portugal, refere-se a Julian Assange (mas também a Edward Snowden) como fonte de inspiração para os seus actos e tenta socorrer-se dos mesmos argumentos para se defender: tudo o que fez, tê-lo-á feito de forma altruísta e com objectivos morais superiores, nomeadamente de denúncia de atos ilícitos em que o futebol seria fértil. No fundo, Rui Pinto deseja ser reconhecido internacionalmente como um whistleblower (denunciante, numa tradução livre) e receber tratamento judicial diferenciado por via desse epíteto. Para já, as autoridades húngaras negaram-lhe esse reconhecimento e as portuguesas também não parecem inclinadas a aceitar essa linha de raciocínio, embora estejamos apenas no início de uma batalha judicial que promete ser longa e complexa. Em bom ‘futebolês’ poderemos dizer que o jogo mais importante da vida de Rui Pinto ainda nem sequer chegou ao intervalo...
O mediatismo em torno deste caso é de tal forma esmagador que acaba por desviar a atenção de questões tão importantes e factuais como, por exemplo, os crimes pelos quais Rui Pinto está indiciado. São seis: dois de acesso ilegítimo, dois de violação de segredo, um de ofensa a pessoa colectiva e ainda um outro de extorsão na forma tentada. Todos eles visando a Doyen Sports Investments e o Sporting Clube de Portugal. Para já, é apenas isto que está em causa e o último crime desta curta lista - a tentativa de extorsão - é aquele que poderá colocar em risco toda a estratégia de defesa de Rui Pinto, já que a actividade de whistleblowing (denúncia de actos ilícitos) implica necessariamente a absoluta ausência de interesse ou proveito pessoal, nomeadamente sob a forma de retorno financeiro proveniente de informação acedida de forma ilegal. Caso o Ministério Público consiga provar essa acção específica de Rui Pinto, naturalmente cairá por terra qualquer alegação de altruísmo em todas as suas restantes acções e poderá passar a ser encarado, até pela opinião pública, como um vulgar criminoso. Neste ponto da acusação, nesta capacidade (ou não) de o Ministério Público provar que houve efectivamente tentativa de extorsão, poderá residir a forma como Rui Pinto será recordado nos anais da história: um hacker, uma espécie de ‘Pirata Barba Negra’ informático que furta visando o seu próprio enriquecimento; ou um whistleblower, um ‘Robin dos Bosques’ dos tempos modernos, que visa denunciar actos ilícitos de interesse público sem qualquer intenção de enriquecimento pessoal à custa de informação furtada. Eu, que nunca acreditei em heróis instantâneos, tenho a minha opinião e reservo-a para mim. Cada leitor terá certamente a sua. Mas em última instância, o que verdadeiramente importa é a leitura que a justiça portuguesa fará dos factos. 
Sem entrar em julgamentos prévios ou condenações em praça pública, não posso contudo deixar de dizer o seguinte: toda e qualquer informação descontextualizada e obtida de forma unilateral é um risco tremendo. Tem uma elevada probabilidade de estar incompleta. É facilmente manipulável. Logo, é altamente falaciosa e, acima de tudo, perigosa. Apresentar informações furtadas como peças de ‘grande investigação jornalística’ é uma desonestidade intelectual atroz. Alegar a deontologia jornalística como uma espécie de manto sagrado debaixo do qual cabem todos os expedientes, por mais ilegais que sejam, é desrespeitar uma classe que é, de há muitas décadas a esta parte, um dos principais pilares da justiça, da segurança e da democracia em estados de direito. E isto é um capital que não pode ser desbaratado apenas e só em função da manchete mais bombástica, custe o que custar e doa a quem doer. Há exemplos de trabalhos jornalísticos de fundo assentes em denúncias - os Estados Unidos são férteis em casos destes - que levaram a mudanças marcantes no curso da história. Infelizmente, no que concerne ao Football Leaks, não foi o caso. Houve, isso sim, uma tentativa de aproveitamento de informações e documentos furtados que, em muitos dos casos, não continham sequer qualquer ponta de ilegalidade, e noutros carecem de validação absoluta do ponto de vista da sua veracidade.
A confusão em torno deste caso leva a paradoxos tão disparatados como este: o Sporting, uma das vítimas dos crimes pelos quais Rui Pinto está indiciado e que inicialmente acusava o Benfica de estar na génese do Football Leaks, vê os seus adeptos ostentarem tarjas a dizer ‘Libertem Rui Pinto’ em pleno Estádio de Alvalade. Já o Benfica, que até prova em contrário não é uma das vítimas das acções de Rui Pinto, vê os seus adeptos congratularem-se pela detenção de alguém que pode significar apenas uma ‘caça aos gambozinos’ por parte do clube da Luz, que não faz a mínima ideia se Rui Pinto está, ou não, ligado ao furto de mais de 10 anos de troca de e-mails privados por parte de milhares de funcionários que integraram os quadros do clube desde 2008. Já o FC Porto, também inicialmente vítima das acções de Rui Pinto enquanto administrador do portal Football Leaks, é por sua vez acusado pelo Benfica de estar por trás de alguém cujos alegados crimes, na verdade, desconhecemos em toda a sua extensão. Bem vindos à esquizofrenia do futebol português!"

José Mourinho: do que não se fala...

"“Emil Cioran evocou que, enquanto estavam a preparar a cicuta que mataria Sócrates, este estava a aprender a tocar uma música na flauta, facto que provocou a surpreendida pergunta: “Para quê’”, expressiva do pragmatismo na iminência do fim. A resposta teria sido: “Para saber tocá-la, antes de morrer”. (Annabela Rita, Do Que Não Existe, Manufactura, Lisboa, 2018, p. 13). Verdade ou lenda, parece certo que, para Sócrates, o conhecimento é a antecâmara da virtude. Para George Steiner, n’A Divina Comédia, Dante (século XIV) “propõe-se incluir, no campo do potencial ascendente do entendimento humano – o moto spirituale – a história da criação e dos lineamentos do além” (Gramáticas da Criação, Relógio D’Água, Lisboa, 2002, p. 92). Para Bento de Espinosa (1632-1677), o culto e metódico Espinosa (tão culto e metódico que o seu fichário de conhecimentos ainda é de grande actualidade), no universo há uma só substância, sendo a substância infinita, ou seja, com todos os atributos pelos quais se manifesta. Nesta perspectiva, podemos escrever, sem receio, que fica de uma indigência confrangedora qualquer síntese, mesmo miudamente relatada, do humano, que não tenha em conta a complexidade que o ser humano é. Luís Lourenço, o mais fiel e o mais competente (porque o conhece, como poucos o conhecem) dos seus biógrafos, no livro Mourinho – a descoberta guiada (Prime Books, Lisboa, 2010) dá especial relevo ao paradigma da complexidade. E, para tanto, cita Edgar Morin: “O homem é um ser evidentemente biológico. É, ao mesmo tempo, um ser evidentemente cultural, metabiológico e que vive num universo de linguagem, de ideias e de consciência. Ora, estas duas realidades, a realidade biológica e a realidade cultural, o paradigma da simplificação obriga-nos a fazê-los elementos do mesmo todo: um não vive sem o outro, ou melhor, um é simultaneamente o outro, embora sejam tratados por termos e conceitos diferentes” (Introdução ao Pensamento Complexo, Instituto Piaget, Lisboa, 2003, p. 86).
Para Teilhard de Chardin, não pode percepcionar-se, cientificamente, qualquer “fenómeno”, incluindo o “fenómeno humano”, sem introduzir um terceiro infinito, o infinito da complexidade, ao infinitamente grande e ao infinitamente pequeno. No universo, os corpos não são unicamente grandes e pequenos, mas também simples e complexos. E, entre os seres complexos, o ser humano, porque de todos o mais complexo, é indubitavelmente o que evidencia mais evolução e a promessa de maior e melhor desenvolvimento. O movimento é vida, ou seja, tudo o que é vida se movimenta – para onde? Por outras palavras: o universo não é estático, mas dinâmico e… qual o sentido deste dinamismo? A lei da complexidade-consciência diz-nos que tudo caminha para uma complexidade crescente, a caminho do espírito. São palavras de Teilhard de Chardin: “Pela sua fracção axial, vivente, o universo deriva, simultânea e identicamente, para o supercomplexo, o supercentrado, o superconsciente” (I, p. 36). Em tese de doutoramento, que fez história, José Gomes Silvestre anima assim a evolução, em Teilhard de Chardin: “segue-se que o motor da evolução, a sua lei directriz, é o caminho para a espontaneidade, para a liberdade, para a consciência. A liberdade é a ponta extrema da evolução, o seu sentido, a sua redenção, a sua vitória – vitória do espírito sobre a matéria, vitória do uno sobre o múltiplo, do universal sobre o individual e, mais do que tudo, vitória da vida sobre o movimento entrópico, vitória do ser sobre o nada” (Acção e Sentido em Teilhard de Chardin, Instituto Piaget, Lisboa, 2002, p. 146). Pela evolução, pela transcendência em direcção ao mais-ser, o universo caminha, imparavelmente, para a consciência e para a liberdade. Para Teilhard, o objectivo último é sempre o essencial. Nada pode frutificar, finalmente, se não existir já, como promessa, na semente, no princípio…
Só que aquilo que eu sou pouco vale diante das constantes culturais em que vivemos e também somos. Ora, a partir da modernização europeia de Portugal, na década de oitenta (e sigo o que Miguel Real observou e analisou criticamente, na cultura portuguesa) “operou-se uma enorme alteração, nos sectores produtivos da economia, com a terciarização desta a suplantar os sectores primário e secundário”; operou-se ainda “uma evidente alteração , na estrutura política do Estado, com a passagem de um sistema corporativista para um sistema de representação democrática parlamentar ao modo da Europa Ocidental”; verificou-se “uma forte alteração do lugar geográfico e estratégico internacional de Portugal, deslocando-se o ângulo de actuação e reacção do Atlântico (o Império) para a Europa”; acentuou-se uma radical alteração dos vínculos institucionais clássicos da cultura e dos complexos comportamentais dos portugueses, como a dependência da Igreja e uma secular ligação à família clássica; descambou-se num pronunciado descrédito “das antigas profissões nobres como a do professor, do político, do militar, do historiador, do sacerdote e do intelectual, substituídas pelo técnico especialista em economia, em gestão e em ciência experimental, pelo jornalismo superficial e pelo comentador televisivo, ora considerados de superior valia e utilidade” (Traços Fundamentais Da Cultura Portuguesa, Planeta, Lisboa, 2017, pp. 111/112). O Dr. Mário Soares, agarrado a princípios democráticos e republicanos que, por coisa nenhuma, consentia em abandonar, foi, depois do Marquês de Pombal, das Invasões Francesas e do Liberalismo Constitucional, o político português que mais contribuiu à europeização e modernização de Portugal e, com a europeização e a modernização de Portugal e com uma população, principalmente urbana, culturalmente mais letrada, o nosso desporto europeizou-se e modernizou-se também. A esmagadora maioria das nossas vitórias desportivas internacionais acontecem (e não é por acaso) no pós-25 de Abril…
O José Mourinho, intelectualmente, é um super-dotado e, porque no nosso País se cumpriram, quase integralmente, os anseios iluministas para Portugal, encontrou, principalmente no Ensino Superior, um ambiente favorável ao desenvolvimento das suas virtualidades. A passagem do INEF ao ISEF e do ISEF à FMH resulta de verdadeiras “revoluções científicas”, que até, noutras universidades de muito bom nível epistemológico e científico, se admiram e aplaudem. Portanto, na Cátedra com o meu modestíssimo nome, que a Universidade Católica Portuguesa fez-me o favor de aprovar, após um trabalho de pesquisa que muito me surpreendeu, em qualquer hermenêutica específica avultam também os nomes dos professores e alunos (do meu tempo, no INEF e no ISEF e na FMH) que, concordando ou discordando das minhas ideias (principalmente as epistemológicas) me obrigaram a um estudo mais honesto e mais persistente e mais rigoroso. Depois, o José Mourinho é filho de um antigo jogador e treinador de futebol, um profissional de talento indiscutível, que passou ao filho, com a ternura de pai atento e solícito, um grande amor pelo desporto, designadamente pelo futebol. Ora, como já o venho dizendo há 50 anos, “a prática é mais importante do que a teoria e a teoria só tem valor, se for a teoria de uma determinada prática”. Quero eu dizer que a teoria, por si só, não transforma, só o faz mediada pela prática. Sem a prática, não há transformação possível. O José Mourinho teve portanto a seu favor o que foi e é e… a sua circunstância. Mas, como também já o escrevi, “é o homem que se é que triunfa no treinador que se pode ser”. De facto, para mim, é no Mourinho, como ser humano, e portanto com qualidades e defeitos mas, com qualidades excepcionais que o fazem um dos melhores treinadores do mundo – é no Mourinho, como ser humano, que é preciso encontrar a chave da resolução desta questão pertinente: quem é o Doutor José Mourinho, como treinador de futebol?... Quero eu dizer a terminar: que, em circunstâncias favoráveis, o José Mourinho até pode ser o melhor treinador do mundo!"

Da morte súbita

"Fábio Mendes, jogador de futsal do Centro Social de São João, faleceu durante o jogo com o Portimonense no início deste mês. Segundo veiculou a comunicação social, foi vítima de um ataque cardíaco fulminante. Três dias depois somos confrontados com a notícia de que Kenneth To, nadador vencedor de uma medalha de prata pela Austrália nos Mundiais de 2013, morreu aos 26 anos depois de se ter sentido indisposto durante um treino, na Florida, nos Estados Unidos.
Chamam-lhe a “síndroma da morte súbita” e reside no nosso imaginário como que acontecendo só de vez em quando no desporto, pois “o desporto dá saúde” e os desportistas são dos seres humanos mais bem controlados e vigiados medicamente.
Recordemo-nos que em Junho de 2003, em directo na televisão, Marc-Vivien Foé, jogador camaronês, morreu em campo aos 28 anos, quando alinhava pela selecção do seu país, na Taça das Confederações, no jogo contra a Colômbia. Talvez o primeiro grande caso porque foi possível a milhões de espectadores confrontarem-se pela primeira vez, em cima do acontecimento, com esta realidade transmitida em tempo real.
O caso mais mediático em Portugal, também porque transmitido em directo pela televisão, foi o de Miklós Fehér, jogador do Benfica, em Janeiro de 2004, em pleno estádio do Guimarães.
A comunicação social, solícita numa retrospectiva, logo repescou o caso de Pavão, jogador do Porto, falecido durante a partida entre este clube e o Setúbal em Dezembro de 1973. E logo tivemos a oportunidade de ver a circular algo parecido com o “entre este caso e o de Fehér nada se passou”. 
Ora, antes do caso de Pavão, embora menos divulgados, podemos registar as mortes dos futebolistas Rico do Varzim, Mário Ventura do Leixões, Lemos do Marinhense e João Pedro do Vilanovense. 
Entre Dezembro de 1973 (Pavão) e Janeiro de 2004 (Fehér) faleceram entre nós durante a prática desportiva – treino ou competição – pelo menos 15 futebolistas, 3 basquetebolistas e 3 ciclistas. Depois de Fehér muitos outros casos semelhantes aconteceram em Portugal…
Parecem ser casos a mais, alguns dos quais ocorrendo mesmo com crianças, numa actividade que se diz promover a saúde… até porque o próprio Comité Olímpico Internacional registou de 1966 a 2004 a ocorrência de 1101 mortes súbitas. A média é de 29 casos anuais…
Na síndroma da morte súbita o coração não suporta o intenso esforço físico a que é submetido e a morte é causada por uma paragem cardíaca. Este desfecho fulminante é a primeira manifestação de uma doença de que não se tem conhecimento, a qual é muitas vezes congénita e indetectável nos exames convencionais – dizem os especialistas… diz a comunidade médica.
O relatório da autópsia de Fehér apontava para uma hipertrofia cardíaca moderada como causa da morte deste futebolista.
Mas para além das causas das mortes, imperativo era serem estudadas e divulgadas as origens dessas causas, pois para cada caso o importante seria não ter voltado a acontecer.
E não só as causas mas as suas origens por que motivo?
Porque enquanto a causa explica o facto, a sua origem explica um processo (André Comte-Sponville, 1998, “Uma moral sem fundamento”, in E. Morin & I. Prigogine, «A Sociedade em busca de Valores», pp. 133-153, Lisboa, Piaget). Porque se um condutor se despista e morre a causa pode ser o excesso de velocidade mas a origem dessa causa pode ter sido o facto de ele ter perdido o seu emprego antes de iniciar essa sua viagem… Porque se um indivíduo se suicida com um tiro na cabeça a causa da sua morte pode ser a falência do cérebro mas a origem dessa causa pode ter sido uma discussão conjugal…"

Sabe quem é? A fugir de Hitler e mais - Béla Guttmann

"Para escapar à Gestapo, viveu num sótão; Treinador de Exilados Políticos, o FC Porto descobriu-o em São Paulo

1. Após jogar pela Hungria os Jogos Olímpicos de 1924, deixou Budapeste - para fugir ao «Terror Branco» que misturava o ataque a comunistas e judeus. Foi para o Hakoah de Viena, clube de judeus que era mais do que clube desportivo. Numa digressão pelos Estados Unidos deslumbraram-se com ele, no NY Hakoah ficou. Não, não foi só jogador de futebol, também foi professor de dança e accionista de um clube clandestino de bebidas que florescera durante a Lei Seca.
2. Foi ainda jogador de cartas e casinos - e ele próprio o revelou: «Enriqueci, mas, na Sexta-Feira Negra de 1929, perdi mais de 55 mil dólares, fiquei pobre como Job. Tive, assim, de voltar a ganhar dinheiro no futebol». Quando percebeu que na América já pouco podia ganhar, saltou a Viena a oferecer-se ao Hakoah para jogador - e não tardou que ficasse seu treinador.
3. Tendo Hitler avançado para Viena, Lipot Aschner, industrial que era judeu como ele, desafiou-o para o seu Ujpest. Ganhou a Taça Mitropa de 1939, então a mais importante competição de clubes da Europa - e ainda a festejar a façanha, por via da «lei anti-judaica» que o governo da Hungria lançara (a exemplo de Hitler), afastaram-no de treinador do Ujpest.
4. Quando nazis tomaram Budapeste viveu escondido no sótão do salão de cabeleireiro do irmão da namorada (que não era judia) - e com a guerra a correr para o fim ainda o atiraram para campo de trabalhos forçados, de lá conseguiu, porém, fugir, rocambolesco, salvando-se assim de Auschwitz (onde lhe morreram alguns familiares).
5. Após a rendição da Alemanha, o Vasas chamou-o a seu treinador. Face à escassez de alimentos, pediu que lhe pagassem então metade do salário em batatas, farinha, banha, açucar, carne, peixe, frutas e vegetais, que era o negócio de um dos seus dirigentes. Pouco tempo lá esteve, foi para clube judeu de Bucareste, o Ciocanul. Pista Kaufmann, que o levara, revelou-o: «Antes de Mister G, a única coisa que os jogadores sabiam sobre bola era que era redonda, ele transformou 11 pés de chumbo na equipa de futebol mais bonita de toda a Roménia».
6. O Ujpest contratou-o de novo, ganhou campeonato de 1947. Mudou-se para o Kispest. Por causa de uma substituição, desentendeu-se com a sua estrela: Puskas - e deixou o clube após jogo em Gyor, não querendo, sequer, regressar no seu autocarro. Saltou para Itália, para o AC Milan. Pondo-o a caminho do título de 1955-1956, exigiu mais dinheiro, embora o mandaram, magoado afirmou-o: «Não sendo nem criminoso, nem maricas, fui demitido, demitido apesar de sair com o clube certamente campeão».
7. Ao saberem da invasão soviética a Budapeste, quase todos os jogadores do Honved, que tinham jogado com o Bilbau (que antes eliminara o FC Porto) na Taça dos Campeões, recusaram regressar à Hungria - e foi dele a ideia: «Se a FIFA não vos deixa jogar por não voltarem, arranjem então dinheiro para viverem, em digressões pelo Mundo».
8. Apesar de o treinador do Honved ser Jeno Kalmar (que haveria de passar pelo FC Porto) Puskas sugeriu-o para treinador dos Exilados - e com o primeiro dinheiro que arranjaram tiraram as famílias da Hungria a salto, através de contrabandistas.
9. Em 1957, a «Equipa dos Refugiados Políticos da Hungria» (assim lhe chamaram) disputou cinco jogos no Brasil e, contagiado pela sua magia, Laudo Natel propôs-lhe ficar como treinador do São Paulo FC. Ficou e foi campeão uma vez mais. Era normal nele: campeão, exigiu aumento de ordenado, o São Paulo achou muito o que exigiu, foi-se embora. O FC Porto foi lá buscá-lo já com o campeonato de 1958-1959 em andamento para o lugar de Otto Bumbel. O seu primeiro jogo nas Antas foi contra o Benfica, acabou empatado. Na jornada seguinte, perdeu no Restelo (num golo de Matateu) e ao vê-lo entrar sorridente no balneário o presidente portista, intrigou-se: «Mas está contente com quê, o senhor?» Abrindo ainda mais o sorriso, exclamou-lhe: «Porque já sei quem tenho de tirar da equipa para sermos campeões». A vítima era uma estrela - foi o «envelhecido» Pedroto. E com Luís Roberto no seu lugar, ganhou mesmo o campeonato, o tal que pôs Calabote na história. Logo depois o Benfica levou-o para a Luz, duas Taças dos Campeões (e mais) lhe deu..."

António Simões, in A Bola

Vantagem acaba ao mínimo deslize

"Enquanto os adversários almoçam e cozinham, o Benfica tem de manter um foco em todos os jogos que faltam

O Benfica venceu de forma clara um dos adversários mais difíceis que tinha até ao fim deste campeonato. Vencemos a horas, onde o rival só empatou depois da hora, mas isso apenas garantiu três pontos. Como intuímos na arbitragem no Dragão, ao mínimo-deslize acaba a nossa vantagem. Jogámos contra 11 quando devíamos ter jogado contra 10, desde os três minutos. Quem jogou contra 10 desde os sete minutos devia ter jogado contra 11.
Em Moreira de Cónegos, onde Samaris liderou um grupo inspirado, fizemos um bom jogo, com uma vontade de vencer permanente. Aos 10 minutos o 0-0, escondia três claras oportunidades de golo desperdiçadas. Aos 90 o 0-4 reflectiam o mérito de quem simplificou um jogo difícil. O golo de João Félix foi um pontapé nas adversidades. O golo de Samaris foi uma cabeçada nas injustiças. O golão de Rafa foi um chapéu às artimanhas. O golo de Florentino foi o mérito da oportunidade e de esforço. 
Enquanto os adversários almoçam e cozinham, o Benfica tem de manter um foco em todos os jogos que faltam, pois só vencendo todos os oito encontros seremos campeões. Com o regresso de Seferovic e Fejsa, Bruno Lage ganha os bons problemas, ter mais opções e mais escolhas. Liga Europa, Campeonato e Taça de Portugal precisam de várias soluções pois serão nove semanas e meia escaldantes.
Em semana de Dia do Pai, o Benfica teve ontem à noite a sua Gala em evocação do seu pai fundador, Cosme Damião, no Campo Pequeno. Cerimónia da família encarnada, onde é obrigatório sublinhar a bonita homenagem a Mário Dias. Um benfiquista de relevo, um homem que serviu o Benfica num momento difícil da sua história. Mário Dias é um dos nossos, um bom exemplo, alguém que deve ser lembrado pelo seu trabalho e dedicação, pela sua persistência e pelo seu amor ao clube.
Última nota para o voleibol do Benfica que segue com uma época imaculada com mais uma importante vitória, a Taça de Portugal, no passado domingo no Alentejo. Falta vencer o campeonato nacional, com a disputa da meia-final já este fim-de-semana, para ter a época perfeita numa modalidade tão espectacular. Desde 1904 com um objectivo... Vencer!"

Sílvio Cervan, in A Bola

Capelada 18/19


"Acho que todos os Capelas deveriam deixar a arbitragem. Não gosto daquele que, às vezes, assinala penáltis mais rápido que a sua própria sombra, nem do outro que, noutras ocasiões, considera que o peito começa no dedo mindinho da mão esquerda e termina no mindinho da outra. Também detesto o que gere os cartões durante algumas partidas e o outro que, ao ver o Cardozo dar uma palmada na relva da Luz frente ao Sporting, pronta e inapelavelmente o admoestou com o segundo amarelo. E então daquele que perde a noção do tempo, chego a sentir repulsa. Na verdade, eles parecem vários, mas são só dois. O irritante que apita jogos do Benfica e o solícito que apita jogos do FC Porto. Ambos são péssimos e, em boa verdade, são o mesmo, parecendo só mudar a postura e a aplicação de critérios consoante as cores.
Recuso-me a acreditar que Capela prejudica o Benfica e beneficia o Porto sistematicamente de forma propositada. Prefiro crer na sua honestidade, mas também na sua incompetência e permeabilidade aos inúmeros condicionamentos a que os árbitros de futebol são sujeitos. Preferiria, assim, que Capela pedisse escusa de apitar jogos de futebol ao mais alto nível pois já se tornou por demais evidente que o homem, seja por que motivo for, não tem condições para actuar competentemente.
Mas há mais Capelas. A temporada 2018/19 está a ser, quanto à arbitragem, uma vergonha sem precedentes. Antigamente todos sabíamos as razões: de viagens a café com leite, houve de tudo um pouco. Mas agora, e existindo ainda vídeoárbitro, é incompreensível haver erros atrás de erros em jogos do Benfica e FC Porto e quase sempre em benefício do mesmo. Não pode ser normal, nem é um acaso."

João Tomaz, in O Benfica

Todos à Tapadinha

"No próximo domingo pode começar a escrever-se mais um capítulo de glória do Sport Lisboa e Benfica. A partir das 15h00, no Estádio da Tapadinha, em Lisboa, a equipa principal de futebol feminino vai defrontar o SC Braga na primeira mão das meias-finais da Taça de Portugal. Actualmente luta - e principais candidatas - à subida à primeira divisão, as jogadoras do Glorioso têm batido recordes atrás de recordes nos segundo escalão. Quanto ao SC Braga, é líder da principal divisão (mais 3 pontos do que o Sporting CP) e, tudo indica, será o mais difícil teste às capacidades do plantel orientado por João Marques. Nada se conquista sem trabalho, mas uma ajuda nossa - dos adeptos, sócios e simpatizantes - é fundamental.
É por isso que vos deixo este apelo: no domingo, depois de almoço, juntem-se às nossas atletas para aquilo que se espera ser um grande jogo de futebol entre duas das melhores equipas a jogar em Portugal. Vamos dar mais cor às bancadas do velhinho estádio do Atlético CP, em Alcântara, com vista para o rio Tejo e para a Ponte 25 de Abril.
O ambiente é digno dos tempos do peão, com bifanas feitas na hora, bancadas de cimento e contacto próximo com as estrelas da companhia. Sim, porque elas são as nossas estrelas - nesta época marcaram 341 golos e sofreram apenas um (na Taça de Portugal). E é nosso prazer e dever apoiá-las. Este é um projecto que nasceu de forma pensada e que caminha para voos que podem ser históricos, como o sucesso na principal divisão e nas competições europeias. Ambicioso? Sim, claro. E depois, isto é ou não é o Benfica?
Vemo-nos na Tapadinha."

Ricardo Santos, in O Benfica

Temos de proteger o Seixal

"Este interregno no campeonato, como quase todos os outros, destrói grande parte da emoção do fim-de-semana. Se dependesse de mim, depois de sexta-feira até podia ser segunda outra vez. Para que raio servem o sábado e o domingo sem Benfica? As modalidades ainda ajudam a diminuir o fastio, mas o vazio permanece. Em todo o caso, se estes intervalos são obrigatórios, pelo menos que sejam sempre assim: com o Benfica se liderança, a seguir a uma expressiva vitória por 4-0 num terreno complicado, e com vários jogadores convocados para as selecções.
Rúben Dias, Pizzi, Rafa e João Félix foram chamados por Fernando Santos. Mais cedo do que tarde, chegará a vez de Ferro. A seu tempo, Florentino e Jota. Qualquer benfiquista assiste com orgulho à pedra basilar que começa a ficar cada vez mais implantada na selecção portuguesa: o Caixa Futebol Campus. Dos 24 convocados, 9 passaram pelos escalões de formação do Benfica ou pela equipa B. Esta tendência será cada vez maior, porque o Seixal abunda de talento. É urgente que Luís Filipe Vieira blinde com elevadas cláusulas de rescisão os atletas, mas não só. Meia Europa anda louca com o Seixal, pelo que têm de começar a estar também protegidos os contratos dos responsáveis da limpeza, jardineiros e seguranças que trabalham no centro de estágio, não vá o Manchester City bater com um cheque na mesa, levar de rompante a equipa de cozinheiros e deixar a rapaziada entregue às Estrelitas e às argolinhas. Se a Dona Lurdes assinar pelo PSG, depois quem é que vai fazer a cama aos jogadores? Posso ir lá eu, mas a minha mãe está sempre a queixar-se de que eu não sei esticar os lençóis."

Pedro Soares, in O Benfica

VARto disto!

"Ao contrário do que acontece com outros temas, sempre acompanhei a UEFA na resistência que, durante muito tempo, mostrou ao uso das tecnologias no futebol. Por feitio, que umas vezes com razão, outras sem ela, me faz desconfiar de quase tudo o que é novo, mas também por temer que em nome de uma qualquer verdade matemática se viesse a estragar um espectáculo apaixonante, e do qual o erro sempre fará parte. Com a aplicação do VAR no futebol português, quase mudei de opinião. Afinal, talvez as quebras de ritmo pudessem ser compensadas por um maior acerto nas decisões dos árbitros. Talvez houvesse menos polémica, e mais justiça. Não foi preciso muito tempo para que o meu cepticismo regressasse.
Esta temporada está a deixar claro que o VAR, em vez de ferramenta de rigor, por ser também ferramenta de manipulação. Um golo pode ser anulado, ou não, por um sopro a meio-campo dezenas de segundos antes de a bola entrar na baliza. Um penálti pode ser assinalado, ou não, por um dedo roçar numa camisola dentro da área - situações que outrora eram tacitamente ignoradas para todos. E isto acontece, ou não, ao sabor dos desejos de quem decide, no campo e a quilómetros de distância. Já nem sei como festejar um golo. E, pior que isso, continua a haver beneficiados.
Muitos lances têm múltiplas interpretações, por isso são tão discutidos pela semana dentro. O VAR, tal como existe, apenas veio acrescentar mais lances para discussão e menos tolerância ao erro. Logo, mais polémica, e não mais verdade.
Ou muda (e não me perguntem como), ou então acabem-se com ele. Como está, manifestamente não serve."

Luís Fialho, in O Benfica