domingo, 10 de fevereiro de 2019

A reforma da Lei do Desporto espanhola (II)

"Foi aprovado pelo Conselho de Ministros espanhol o anteprojecto da nova Lei do Desporto. Este anteprojecto tem como principais inovações a promoção da igualdade, o desporto inclusivo, governança das entidades desportivas, uma nova classificação dos intervenientes no desporto, entre outras. Um dos objectivos essenciais é a protecção efectiva do desporto feminino. Nesse sentido, por exemplo, propõe-se que haja a obrigatoridade de conceder, a homens e mulheres, os mesmos valores económicos nos prémios de qualquer competição. Outro dos principais objectivos desta lei é garantir a igualdade das pessoas com deficiência e a promoção da sua actividade desportiva. Assim, a natureza obrigatória da integração nas federações das modalidades desportivas praticadas por pessoas com e sem deficiência é estabelecida. No que diz respeito a questões de governança, destacamos a introdução de um novo regime segundo o qual as entidades desportivas que participam nas diferentes competições, incluindo as profissionais, não terão a obrigação de se tornarem (o equivalente às portuguesas) Sociedades Anónimas Desportivas. O anteprojecto inclui ainda uma nova classificação dos atletas, distinguindo entre os que são ocasionais e os de competição, bem como das competições, que são classificadas de acordo com sua natureza, oficial e não oficial, pelo seu âmbito territorial e pela natureza de seus participantes. O Tribunal Administrativo do Desporto mantém a sua essência, mas o poder sancionatório é separado das questões relacionadas com a concorrência. Fica agora aberto o período de consulta e recolha de sugestões a este anteprojecto, que certamente motivará ainda muito discussão."

Marta Vieira da Cruz, in A Bola

Quem são os campeões?

"Quem são os campeões? Será que eles encontram o seu espaço no mundo moderno? O desporto, em geral, e o mito do campeão, em particular, são um poderoso meio de identificação e de gratificação dos indivíduos e grupos sociais. O universo desportivo está povoado de heróis, no sentido etimológico do termo. O culto do campeão atinge uma eficácia de indústria graças à mediatização atual do desporto. O campeão simboliza o sucesso social. A alta competição, ou a alta performance, é o modo de expressão natural da elite desportiva. Ela permite designar o melhor, isto é, o campeão, enquanto “actor de múltiplos teatros”. A qualidade deste último, directamente mensurável, não é discutida, mas a sua necessidade e sua utilidade não são reconhecidas por todos. Alguns constatam a sua existência, mas recusam-se a dar-lhe uma grande importância. Outros negam o seu papel de campeão e da alta competição no desenvolvimento do desporto, vendo apenas os excessos e os perigos. A querela não é nova. A psicologia fala das suas motivações. A sociologia, que procura “explicar o social pelo social”, segundo Durkheim, elucida o seu contexto de vida e as condições da sua inserção no desporto. Os meios de comunicação social apresentam os fatos e os gestos.
Em 1914, quando já havia uma abundante literatura desportiva, Georges Rozet, no seu livro Les Fêtes du Muscle, profetizava que os campeões são os precursores do amplo movimento desportivo do futuro, referindo que são personagens fora do comum, pois são “vendedores” de sonhos. Eles realizam proezas e ganham títulos. O campeão torna-se um arauto porque ele é um herói. Não é por acaso que ele é comparado a Hércules. O herói é aquele que se eleva à altura dos deuses, que soube igualar o seu pai. O culto do herói desportivo (recepções oficiais, decorações, mensagens de encorajamento, felicitações dos chefes de Estado, dos ministros, e dos homens políticos de todo o género) ilustra a sua importância contemporânea. A atenção fixa-se neles. Fica-se contente com os seus sucessos (e o campeão ilustra a felicidade na vitória). Retemos os seus estados de alma, os objectivos que prosseguem, as suas alegrias, as suas decepções, as lesões, os sofrimentos. Nesta sociedade pós-moderna, os campeões dão um sentido. Eles são o limite extremo dos desafios e dos confrontos. Eles são a expressão da excelência. Como arte, o desporto tem os seus talentos, os seus virtuosos, os seus génios. Eles incarnam uma racionalidade, a aquisição de técnicas e assimilam estratégias. Eles têm uma vontade, uma determinação, trabalho, disciplina de vida, veiculam valores morais e físicos, desejos de vencer. O campeão constitui um horizonte, a projecção de experiências e de ambições. Ele é a norma, a referência. Os campeões continuam a ser os heróis populares porque eles são quase sempre de origem modesta. É o “self-made man”.
Convencida do papel desenvolvido pelo campeão, a Commission de la Doctrine du Sport (1965) escreve:
“O campeão deve ser ajudado e guiado durante a sua vida desportiva, mas não se trata de esmagar a sua personalidade ou de lhe evitar todo o esforço inútil, os problemas maiores. É preciso, ao contrário, acordar as suas possibilidades, de lhe aprender a confrontar e a resolver as dificuldades encontradas no seu caminho. É preciso lhe deixar exprimir livremente, é preciso preservar a sua espontaneidade e o seu entusiasmo. Só com estas condições é que ele poderá melhorar sobre o plano desportivo e que ele conhecerá, sobre o plano humano, um verdadeiro enriquecimento pessoal”. 
Como a maior parte dos sociólogos do desporto notaram, os campeões, enquanto manifestação concreta da lógica do desporto, representam para as massas uma figura típica, um “Deus”. Eles são idolatrados pelas multidões. Os sportsmen e as sportwoman fazem “reais progressos”, no “avant-garde” da tecnologia desportiva. São modelos a seguir. Atraem os jovens e preenchem-lhes os imaginários. Nas previsões do humanista olímpico, Coubertin sublinha que os campeões são os educadores.
O campeão está longe de ser um exemplo de homem ou mulher perfeitos. Ele só representa o grupo, uma espécie de porta-estandarte. É um herói da animalidade grupal. E os atletas famintos, malnutridos, com os seus pobres ombros desencarnados, não saem de um campo de concentração. São os homens propostos à nossa admiração. O campeão é um viajante de identidade. Ele representa o clube, a marca comercial ou a Nação à qual pertence.
Muitos campeões deixam-se enveredar pela importância desmesurada da sua actividade desportiva. Muitos deixam-se cegar pelo sucesso e a pretensão. A carreira do atleta não pode dissociar-se da vida do homem ou da mulher. Não se pode esquecer que os campeões envelhecem. Ao procurarem a vitória a todo o preço, muitos recorrem a meios menos limpos (exemplo: a dopagem). O perigo não está tanto ao nível da competição ou da performance, mas da inadaptação possível do atleta à intensidade do seu esforço. A vida desportiva quotidiana dá múltiplos exemplos."

Um Olímpico miserabilismo triunfante

"Embora de diferentes maneiras, os acontecimentos do Bairro da Jamaica perturbaram a paz de espírito dos portugueses. E a maior perturbação foi, certamente, o tomarem consciência de que, ao cabo de quase quarenta e cinco anos de Abril, ainda há pessoas a viver em habitações que não dignificam um País que, em 1974, desencadeou uma revolução pacífica conduzida sob o signo de três grandes objectivos estratégicos: Descolonizar; Democratizar; Desenvolver.
A descolonização foi conseguida com enormes sacrifícios de parte a parte. Os portugueses foram obrigados a abandonar as colónias e os africanos a viver, no pós independência, com enormes dificuldades incluindo inaceitáveis lutas fratricidas e guerra civil. O processo de descolonização de Portugal, como em muitas outras colónias africanas de países europeus, devia ter, por mútuo acordo, começado nos anos cinquenta quando já era possível negociar com líderes africanos de alto gabarito como eram o moçambicano Eduardo Mondlane (1920-1969) o guineense Amílcar Cabral (1924-1973) e o angolano Agostinho Neto (1922-1979). Todavia, por falta de visão estratégica, o que aconteceu foi que as guerras pela independência arrancaram em Angola a 4 Fevereiro de 1961. Posteriormente, os dois primeiros líderes africanos morreram miseravelmente assassinados e o terceiro faleceu em condições ainda hoje pouco claras. Apesar de tudo, actualmente, Portugal tem boas relações com aqueles três países bem como com São Tomé e Príncipe, Cabo Verde e Timor sem esquecer a situação especial de Macau. Quer dizer, a questão da descolonização está encerrada restando só a necessidade de garantir que, no futuro, as novas gerações saibam manter as relações fraternas que hoje existem.
A democracia também foi um objectivo cumprido. Portugal, apesar de ainda estar povoado por mentalidades retrógradas afectivamente ligadas ao regime anterior ou a ideologias de cariz estalinista e maoista que surgiram pujantemente no País em meados dos anos setenta, o que é facto é que, hoje, os portugueses vivem em plena democracia que deve ser diariamente cultivada a fim de ultrapassar os novos movimentos protofascistas que já se fazem sentir em vários países europeus e que, entre nós, são acolhidos por uma certa oligarquia de esquerda e de direita, de mentalidade autocrática, que se julga proprietária do País e das suas instituições incluindo o desporto que já está a colocar ao serviço dos seus próprios desígnios.
Quanto ao desenvolvimento, embora Portugal de 2019 não seja comparável ao Portugal de 1974, o que é facto é que o sistema político, de há, pelo menos, vinte anos a esta parte, têm vivido, cada vez mais, sob a suspeita do oportunismo político, da má governação e, até, da corrupção. Em resultado, segundo o “Fórum para a Competitividade”, se Portugal, em 2000, tinha uma dívida pública de 65 mil milhões de euros, em Setembro de 2018, atingiu 246 mil milhões de euros. E como o País não se endividou para se desenvolver mas para consumir é cada vez maior a divergência de Portugal face à média europeia pelo que já vai a caminho da quinta posição no ranking dos países mais pobres da União Europeia. E, claro, são os portugueses, sobretudo os de situação económica e social mais débil, os mais atingidos.
Há muito que estou entre aqueles que entendem que o desporto é um extraordinário “laboratório social” que permite estudar e compreender o comportamento humano no quadro da mudança social, da inércia social, do controlo social, bem como dos processos societais no que diz respeito à dinâmica da vida das organizações. Neste sentido, foi com profunda admiração pelo sentido de oportunidade do autor que desconheço que vi publicada na comunicação social uma fotografia do Bairro da Jamaica onde se vê uma baliza de futebol em primeiro plano e, em segundo plano, os agora sobejamente conhecidos prédios inqualificáveis que, perante a indiferença das autoridades político-administrativas servem de habitação a dezenas de famílias. Trata-se do paradoxo representado pela imagem de uma baliza de qualidade “plantada” num terreno completamente impróprio para a prática do futebol junto de um conjunto de prédios absolutamente inadequados para que, quem quer que seja, lá possa viver com o mínimo de dignidade e conforto. Por isso, fui levado a reflectir acerca do que aquela baliza pode representar no quadro do desenvolvimento do País e do desporto.
A palavra baliza é um substantivo feminino tal como pobreza, indignidade ou injustiça. Significa um sinal, meta, marca ou objectivo a atingir. Em cada desporto procura-se atingir uma baliza: Uma bola que entra..., um tempo, um desempenho, uma meta ou, entre outros, uma marca. Mas uma baliza também pode significar um valor de referência que não deve ser ultrapassado, um tecto.
Aquela baliza “plantada” no Bairro da Jamaica significa precisamente a metáfora do tecto que lembra aos residentes que existem metas que obrigam a pré-requisitos antes de poderem ser ultrapassadas. Na visão darwinista que caracteriza o desporto nacional lembra-lhes que “só valem aqueles que rendem”. Por isso, se quiserem subir na vida, devem colocar o corpo ao serviço da política: Corram mais rápido, saltem mais alto, sejam mais fortes, joguem mais futebol e marquem mais golos porque, só assim, a sociedade cuidará deles. A fotografia, no fundo, expressa uma sociedade que, seja ela capitalista ou socialista, deixemo-nos de ilusões, estabelece bem a diferença entre aqueles que ganham e aqueles que perdem. Num “flashback” ao antigamente, representa “o que nós queremos é futebol” do antigo regime que continua a imperar no espírito dos nossos dirigentes políticos e desportivos pertençam eles ao CDS, ao PSD, ao PS, ao PCP ou ao BE, bem como, embora eles jurem o contrário, a dominar as convicções dos dirigentes políticos e desportivos que habitam o vértice estratégico do desporto nacional. Em consequência, as políticas públicas em matéria de desporto, da escola ao alto rendimento, estão completamente desajustadas da realidade socio-económica do País. Estão, à imagem e semelhança do futebol, direccionadas para o rendimento, a medida, o record, o espectáculo e o servilismo político-partidário. Estão consubstanciadas no obsessivo desejo de ganhar campeonatos e conquistar medalhas olímpicas, nem que seja à custa de naturalizações de aviário que, no fundo, só servem para degradar, ainda mais, do ensino e da promoção ao alto rendimento, o nível desportivo do País.
No que diz respeito ao alto rendimento, não se compreende como foi possível à chefia do Comité Olímpico de Portugal anunciar a probabilidade da Missão Olímpica portuguesa arrecadar seis medalhas olímpicas para os Jogos Olímpicos do Rio (2016)! Dizia ela: “temos possibilidades no atletismo, judo, canoagem, futebol, taekwondo e ténis de mesa" (Record, 2016-06-18). Todavia, o que aconteceu foi que a Missão Olímpica produziu os piores resultados dos últimos quatro Ciclos Olímpicos. Depois de conseguir três medalhas em Atenas (2004), duas medalhas em Pequim (2008), uma medalha de prata em Londres (2012), a Missão Olímpica só conseguiu uma medalha de bronze no Rio (2016) conquistada a ferros por uma atleta de eleição, Telma Monteiro.
No que diz respeito à base da prática desportiva o relatório do Eurobarometer relativo a 2017 diz: “A proporção de pessoas que se exercitam ou praticam desporto regularmente ou com alguma regularidade é maior na Finlândia (69%), Suécia (67%) e Dinamarca (63%). Os inquiridos são menos propensos a exercer ou praticarem desporto na Bulgária, na Grécia e em Portugal (em cada um destes países, 68% nunca exercem ou praticam desporto)”. (p.4) “Os inquiridos com menos probabilidades de terem praticado alguma actividade física vigorosa em Portugal (79% não fizeram nenhum na semana anterior), Malta (78%) e Itália (74%). A proporção que praticou actividade física vigorosa em, pelo menos, quatro dos últimos sete dias é a mais baixa em Itália (5%), seguida por Portugal (7%), Bulgária, Grécia e Malta ( 9%)”. (p.19)
Em conclusão, dizemos que, enquanto os génios burocratas que chefiam o desporto nacional não forem democraticamente afastados e as políticas desportivas inteligentemente alteradas a fim de, efectivamente, serem concebidas de modo a satisfazerem as necessidades e os interesses dos portugueses, parafraseando Vítor Serpa (A Bola, 2017-08-13), direi que o desporto nacional vai continuar nas “ruas da amargura”. Quer dizer, num olímpico miserabilismo desportivo triunfante, magistralmente representado por uma fotografia onde uma baliza de futebol expressa a hipócrita contradição entre as miseráveis condições de habitação de uma comunidade com o sexto lugar que o País ocupa no ranking do futebol mundial."

Fernando Chalana 'O Renascer do Génio'

"Em 14 de Setembro de 1986, após mais um treino no Estádio das Antas, havia um recado por parte do Sr. Soares, referindo que os Drs Espregueira Mendes e Domingos Gomes me aguardavam no Hospital S.ta Maria.
Para lá me dirigi, entrando no quarto nº 44 e de imediato me vejo perante a equipa médica e qual o espanto, defronte a mim, oriundo do Bordéus, o génio Fernando Chalana. Mesmo antes de poder cumprimentar os presentes, o Dr Espregueira nos coloca uma constatação e um desafio: Chalana vai ser operado e vamos pô-lo a jogar. Este génio terá que renascer!...
Operado no dia imediato a uma grave fibrose muscular no grande glúteo, com várias derivações, permaneceu internado até 23 de Setembro iniciando a recuperação a 7 de Outubro.
Como estava instalado numa suite do então Hotel Sheraton (hoje Porto Palácio), iniciamos o plano de recuperação (após terminados os treinos no Estádio das Antas), na piscina e ginásio dessa instalação hoteleira, fundamentalmente com exercitação subaquática, mobilização articular e aumento gradual de resistência física, vendo aumentados os índices de fadiga detectados.
Ao notar uma constante presença de jornalistas, não apenas nacionais, mas oriundos de Espanha, França e Itália, resolvemos isolar o atleta dessa constante pressão, seleccionando um local de estágio bem distante (Motel Santana – Vila do Conde), preparando aí um ginásio e demais condições adaptativas para um trabalho de sequente exigência atlética e funcional.
Iniciamos entretanto nova valência de recuperação, dirigindo-se o atleta para o Estádio da Maia, onde o significativo apoio por parte do Autarca Prof Doutor Vieira de Carvalho, foi determinante para em tranquilidade, todos os dias entre as 12.15, (após eu ter cumprido as minhas funções de metodologia de treino e recuperação nas Antas), e as 14.15 dar seguimento ao plano de treino devidamente programado, após as reuniões com a estrutura médica de apoio, inserindo de forma evolutiva as várias componentes de ordem físico atlética e técnica.
No final de cada dia me dirigia para Vila do Conde, onde nos espaços referidos da instalação hoteleira ou no areal das Caxinas e parques próximos, defendíamos com valentia e espírito de conquista os objectivos previamente definidos.
Periodicamente eram efectuados testes quer no campo, quer na unidade de Exercício Físico da secção do Hospital de S.João, orientada pelo Dr Domingos Gomes, auxiliado pelos Dr Basil Ribeiro e Drª Carla Rego, que se resumiam a Testes Antropométricos, Cárdio Funcionais (provas de esforço) e que na sua globalidade nos permitiam planificar de forma mais eficiente os ajustamentos na recuperação. 
Após esta sequente metodologia, Fernando Chalana foi sujeito a uma integração sucessiva, tendo para o efeito a presença em treino de atletas do campeonato nacional de juniores na necessária e progressiva inserção técnica e competitiva, terminando esta fase com a realização de um treino em todo o terreno (conjunto), com uma equipa de 2ª Divisão, no momento F. C. P. Ferreira, clube da minha terra.
Todos os dados estavam lançados para então enquadrar o atleta numa estrutura altamente competitiva. Assim foi que, com grande emoção o vi entrar no Estádio das Antas, apurando na parte final da recuperação todas as especificidades do seu talento, tendo por companheiros de treino os bicampeões nacionais de 1984/85 e 1985/86.
No dia 30 de Dezembro de 1986 foi-lhe atribuída alta pelo Dr Espregueira Mendes, concluindo-se deste modo todo o processo de recuperação.
Em 2 de Janeiro de 1987 regressou a Bordéus, sendo acompanhado de um dossier de 85 páginas e uma cassete de vídeo de 1h e 20 m, registando toda a evolução da recuperação desde a intervenção cirúrgica.
No decorrer de todo o processo, foram inúmeros os estados de expectativa anunciados, algum desespero, inquietude e por vezes até algum desânimo, mas sempre uma luz de esperança nos conduziu à certeza do combate a quem, e eram muitas as vozes, que “abusivamente” e por desconhecimento (ou não), afirmavam que Chalana estaria morto para o Futebol.
Equipa médica de excelência e amigos criados pelo desejo de sempre apoiar. Recordo o Ricardo, um dos proprietários do restaurante Dom Ramon que nos acompanhava em treino. Chalana tinha o compromisso de todos os dias lá fazer as suas refeições. Tantas vezes convidado para com eles jantar, um dia fiz-me aparecido fora de tempo para verificar o cumprimento ou não da dieta estabelecida e, meus amigos, estava ali uma mesa de príncipe. Recordo que era linguado grelhado com legumes, etc … e ao peixinho só lhe faltava falar!... Pudera, quem o estava a servir era mais do que o proprietário, mas o amigo que com ele corria, suava e vestia a pele duma afectuosa cumplicidade!...
Também de forma frequente o nosso Presidente Jorge Nuno Pinto da Costa me interrogava sobre a evolução de Fernando Chalana, sentindo-lhe o sorriso de felicidade por ver que o empenhamento do F. C. Porto, por seu intermédio e através da nossa estrutura médico cirúrgica, dava respostas a quem outrora o havia abandonado. Vejam o relato duma entrevista de Fernando Chalana ao jornalista Carlos Machado do Jornal “O Jogo”: “ quando mais eu precisava de apoios, eles faltaram … havia um determinado clube de Lisboa que pediu a outro para eu ir lá fazer a recuperação e isso foi-me negado … mas o próprio presidente Pinto da Costa, sabendo da minha infelicidade, me aconselhou a vir ao Porto para ser observado e se necessário operado pelo Dr Espregueira Mendes. O Presidente do F.C.Porto abriu-me o coração. Os Drs Espregueira Mendes e Domingos Gomes, abriram-me as portas e o Prof. José Neto … (está escrito o seu teor, mas guardo nas marcas do silêncio, humedecido pela grata forma de o expressar o que lá está referido) e terminou … por isso levarei sempre o F. C. Porto no meu coração.”
Falta referir que em 3 de Fevereiro de 87, o nosso clube recebeu o Bordéus no Estádio das Antas. Fernando Chalana fez todo o jogo. Tenho o registo da sua performance: 45 passes positivos e 1 negativo; 14 desarmes; 15 apoios ao ataque e 12 apoios na defesa; 8.5 Km de corrida e 4 remates à baliza e 1 pontapé de canto.
Ainda a anotar que no final do jogo me ofertou em suor, sorrisos e abraços, o meu prémio de jogo - a sua camisola!...
Mas … no final dessa época, o resultado de uma rotura no recto femural da coxa esquerda, existente há 6 anos e mal curada, deixou várias sequelas e após um aturado tempo de exames e observações, saiu um veredicto resultando numa nova intervenção cirúrgica para debelar esse tecido já fibrosado, o que aconteceu em Maio de 87. Como nota de interesse a ser constado, nada tendo a ver com a outra lesão totalmente debelada, pois foram 8 meses passados em competição contínua.
Até que estávamos em 27 de Maio de 1987, um dia histórico na glória do meu F. C. Porto.
Tudo preparado para me deslocar a Viena no dia do jogo às 07 horas, pois era necessário ficar alguém da estrutura técnica a orientar o processo de apoio e recuperação aos lesionados que haviam sido operados, caso do Lima Pereira e Fernando Gomes e treinar os não convocados: Amaral, Laureta, Vermelhinho, Eurico, Semedo, Bandeirinha, Paulo Ricardo e Jorge Plácido.
Algo aconteceu que me varreu a alma de dor …quando a agência me informa que esse voo foi desactivado, tendo os passageiros aceitado viajar no dia anterior à mesma hora, o que implicou a impossibilidade de me deslocar, pois o plano de Artur Jorge que tinha para comigo, teria de ser cumprido com rigor e ao pormenor.
Na véspera da final de Viena e após o treino, comecei por andar meio perdido!... Vou apenas recordar publicamente que na noite de 26 tive um grande sonho …desses sonhos que até parecem absoluta realidade. Eu conto sem problemas: estava a assistir à missa em Paços de Ferreira celebrada pelo Padre Carlos e no momento do ofertório, um grupo de acólitos transportavam em fila as uvas, o pão, o vinho e os cestos com outras ofertas e ao aproximarem-se do altar, ouvi o coro cantar em altas vozes: Porto …Porto … Porto que és a nossa glória … dá-nos neste dia mais uma alegria, mais uma vitória!... Acordei num repente e jamais preguei olho!...até parece que se estava a anunciar o futuro Campeão Europeu!... Levantei-me manhãzinha muito cedo e desloquei-me para o café Velasquez e Estádio das Antas. Andei numa roda viva… as pessoas questionavam-me: por aqui professor ?... Logo é que vai ser !.... Onde vai ver a final ?... Entretanto o saudoso bom amigo jornalista da nossa “Bola” Sr. Álvaro Braga liga-me, pois gostaria de ver o jogo comigo e entrevistar-me à medida que o mesmo se desenrolasse. Olhem, com calma desloquei-me em recolhimento à Igreja das Antas, sinceramente não me saía da cabeça o sonho de uma tal vitória anunciada!... Visitei O Fernando Gomes e Lima Pereira, passei os olhos pelo mar e … decidi ir ver o jogo no quarto 44 do Hospital S.ta Maria, onde Fernando Chalana recuperava da tal intervenção cirúrgica já referida. Aparece o Filipovic e o Sr Álvaro Braga e os três assistimos via R.T.P. a uma das maiores glórias desportivas do meu F. C. Porto, sagrando-nos como todos sabem Campeões Europeus!...
A entrevista saiu à letra com as emoções que fui sentindo no decorrer do jogo e também com o sabor das lágrimas de tanta emoção, saboreada à distância. Recordo que mal terminou o jogo, no quarto do hospital concentrou-se uma multidão de doentes pré ou pós operados … eram muletas pelo ar … uns amparados pelos outros… gemidos de dor misturados por tanta alegria e ali bem pertinho, aquele abração bem sentido por outro “deus caído”, o génio Fernando Chalana num quarto de hospital a saborear a beleza duma conquista heróica europeia.
Aguardei até às tantas da madrugada pelos Campeões no Estádio, descansei 2 horitas na marquesa e às 9 da manhã do dia 28, estava no meu posto em pleno relvado a fazer cumprir o plano de treino traçado. Havia ainda um jogo de campeonato a realizar. Esse aconteceu no domingo imediato em que vencemos o Desportivo de Elvas por 6 – 0, com a reentrada em grande do Jaime Pacheco após a excelência duma recuperação aos ligamentos cruzados, 4 meses e 22 dias após a intervenção cirúrgica.
Fernando Chalana ainda me acompanhou de férias no Algarve, juntamente com Gomes e Lima Pereira, treinando bi diariamente e reiniciando a época de forma absolutamente recuperados. O caso dos meus jogadores do F. C.  Porto, a tempo de ainda serem campeões do mundo em Tóquio, vencendo a 13 de Dezembro/87 o Peñarol e em 13 de Janeiro/88 a Super Taça Europeia, contra o Ajax.
Fernando Chalana, tendo terminado o contato com Bordéus, entretanto regressou ao seu clube de origem S. L. Benfica, a tempo de fazer uma brilhante época, inclusivamente chamado por Juca à Selecção Nacional a 12 de Outubro/88 num jogo realizado no Estádio de Gotemburgo, com a selecção da Suécia, jogando 78 minutos com a competência e genialidade de quem jamais se poderá esquecer. 
Para quem dizia em 14 de Setembro de 1986 que Fernando Chalana estava acabado para o Futebol … ficou com a consciência “enraivecida”!... Estávamos perante o renascer do génio!...
Guardo de Fernando Chalana uma terna e continuada estima e ainda 4 camisolas: uma do Bordéus no reaparecimento após lesão. Outra da Selecção Nacional e mais duas do Benfica, representando uma delas o seu regresso ao clube do seu coração e outra que surge após um jogo com o S. C. Braga, fazia eu parte da equipa técnica liderada por Vítor Manuel na época 1989/90. Até conto mais esta história: estagiávamos no Hotel Alfa para o jogo com o S. L. Benfica. Ao início da noite liguei, como muitas vezes o fazia para o Álvaro Magalhães (outro dos jogadores do clube da Luz que me foi confiado pelos médicos para a sua recuperação a uma grave lesão muscular, com recidivas permanentes e que ficou ao nível máximo das suas competências, como foi referido por vários órgãos de comunicação social e pelo próprio … mas isto talvez um dia mereça ter referência especial) e também o questionei como progredia o nosso Chalana. Professor - referiu-me o Álvaro – olhe que ele hoje desapareceu no final do treino e ainda sem ter visto a convocatória. Ele foi convocado para jogar contra vocês!... Claro, liguei de imediato para o meu amigo, estando ele a caminho de Beja, pois preparava-se para mais uma jornada, sendo esta de Columbofilia! … Lá retrocedeu Fernando Chalana e no dia imediato fez mais um jogão contra a minha equipa. Recordo que perdemos 1 – 0. Sabem quem marcou o golo? O genial Fernando Chalana …Mas no final, não perdi tudo – ganhei mais uma alegria de ver um génio renascido e a tal camisola com o suor ensopado e que se encontra junto de tantas outras, revertendo de saudade esta cultura do tempo que jamais se apagará!...
Hoje em dia do seu 60º aniversário é como se fosse Natal!... terei que lhe ligar e sei que para além de ouvir a sua voz envolta por sorrisos de simpatia, tentarei cativar para a memória esse suave perfume dum tempo abençoado … quando para tal, cruzamos as nossas vidas!..."

José Neto, in A Bola

Vitória em Braga...

ABC 25 - 30 Benfica
(13-18)

Boa 1.ª parte; 2.ª parte tremida, com as senhoras árbitras, com um critério absurdo nas exclusões que condicionaram muito o nosso jogo...
Este ano, o ABC perdeu muita competitividade, com a saída de muitos jogadores, mas apesar de tudo, sabe sempre bem uma vitória em Braga...
Com a anunciada saída do Cavalcanti para França, na próxima época, temo pelo impacto da sua ausência nesta equipa!

Além do Seabra e do Ristovski, o Ales também falhou este jogo.

Na Final da Taça Hugo dos Santos...

Benfica 79 - 63 Ovarense
25-8, 18-18, 18-18, 18-19


Vitória 'construída' no 1.º período, e depois conseguimos gerir o marcador, dando algum descanso aos jogadores que amanhã serão provavelmente mais utilizados...
A lesão do Hallman foi mesmo a má notícia do dia, juntando-se assim ao Zé Silva... E amanhã com a Oliveirense, vamos ter problemas com a rotação na posição 3, com o Lima a ter que 'aguentar'!!!

Vitória esclarecedora...

Benfica 8 - 1 Viseu

A paragem do campeonato, não mudou o chip, continuamos a jogar bem...!!!
Tudo isto em o Roncaglio, o Tolrá e o Raul...

Vitória em Guimarães...

Guimarães 0 - 3 Benfica
22-25, 20-25, 15-25

As boas exibições continuam...

A Lagartada foi obrigada a fazer uma remontada em Espinho, ganhou, mas 'perdeu' 1 ponto... e assim, até podemos perder um jogo, que ficamos em 1.ª ligar na fase regular...!!!

Quarta-feira, temos encontro marcado com os Russos, para tentar o 'impossível'!!!