sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

Imunes ao ruído e ao lixo circundante

"Esperamos um Benfica a jogar bem, com indiferença para a opinião dos avençados. Terá de ser Benfica apenas focado no jogo.

Depois da final four da Taça da Liga, prova que o Sporting ganhou com mérito, mesmo sem ser superior em nenhum dos jogos que disputou, voltou o campeonato nacional. Uma equipa que tem Bas Dost, mesmo ao pé coxinho, fica mais perto de ganhar jogos.
Na regresso da competição, o Benfica ganhou com naturalidade ao ex-campeão Boavista e o FC Porto ganhou com facilidade ao ex-campeão Belenenses. A vitória por 5-1 ao Boavista teve variados motivos de registo sob a perspectiva encarnada. Desde logo os três pontos obrigatórios, depois uma resposta colectivamente interessante e por fim golos em quantidade. O jogo começou com o anunciado furacão Gabriel que logo aos sete minutos viu o seu homónimo isolar um avançado axadrezado, que cedo mostrou não ser o seu dia, e terminou com Samaris e fazer um penalty numa combinação grega para Vlachodimos brilhar. Fica a ideia que quando subir a exigência competitiva não poderá haver estas liberdades poéticas.
Félix e Seferovic foram a parte mais colorida duma exibição bastante agradável do Benfica. Anunciaram-nos a tempestade e sentimos a bonança. Nada disso se irá passar assim neste fim-de-semana. O Benfica terá um jogo que outrora foi (historicamente) determinante na decisão de títulos e que por agora é apenas importante na demonstração de complexos. Imunes ao ruído e ao lixo circundante, terá que ser um Benfica apenas focado no jogo e na sua qualidade.
Esperamos um Benfica a jogar bem, com indiferença para a opinião dos avençados, com indulgência para a colocação das linhas dos realizadores e com uma grande vontade de condicionar o jogo com a qualidade dos seus jogadores. Bruno Lage tem estado bem a treinar e excelente a analisar.
Esta semana vi com imenso agrado Corchia jogar na equipa B. Esta velha teimosia, de não perceber porque não acontece mais vezes, deixou-me muito satisfeito. Ter algumas alternativas do plantel principal preparadas com ritmo competitivo para quando são solicitadas poderem entrar bem é também uma função da equipa B. Não tira lugar aos mais novos, pelo contrário é uma oportunidades destes jogarem com colegas mais experientes. Lembro-me de vencer uma meia-final da Taça da Liga no Dragão, com uma equipa que tinha dez suplentes que - porque na altura rodavam na equipa B - entraram com uma capacidade de eliminar o FC Porto na sua própria casa."

Sílvio Cervan, in A Bola

Nem enchem um estádio

"Três jogos com os quatro primeiros classificados do principal escalão do futebol português. Era esse o cartaz das festas da final four da Taça da Liga, nesta época, Allianz. Uma produção televisionada divulgada em sucessivas campanhas de marketing, bilhetes vendidos com antecedência, conferências de imprensa e entrevistas nos principais jornais. Tudo foi feito pela Liga de Clubes, e seu presidente, para transmitir uma imagem de modernidade e de sucesso. Faz sentido em tempo de fake news...
No primeiro jogo (SL Benfica - FCP), numa terça-feira às 19h45), a lotação ficou abaixo das 23 mil pessoas. No segundo encontro (SC Braga -SCP), quarta às 19h45, foi ainda mais triste; uns pozinhos acima das 10 mil pessoas nas bancadas da Pedreira. E na final, entre solteiros e casados, pouco mais de 25 mil espectadores.
Vamos fazer as contas todos juntos? São, de acordo com os dados oficiais, 58 245 pessoas nos três jogos, uma média de 19 400 pessoas por partida. Todos juntos, não enchem o Estádio da Luz. Três jogos em que conseguem superar por muito pouco a assistência do SL Benfica - SC Braga da 14.ª jornada (57 842 pagantes).
O que isto diz das organizações da Liga de Clubes está na cara: um fracasso. Chamar campeão de inverno ao vencedor do troféu, então, não é só incorrecto, é ridículo. Seja quem for o vencedor. E o SL Benfica, não sei se se recordam, já tem sete daquelas no museu.
Da roubalheira no campo às artimanhas do VAR, passando pela falta de fair play dos finalistas vencidos e pelas agressões e adeptos por parte de um treinador, houve de tudo.
Parabéns, Pedro Proença, cada vez melhor em direcção ao abismo."

Ricardo Santos, in O Benfica

Ideias de borla para melhorar o VAR

"Com imensa pena minha, não tive oportunidade de partilhar mais cedo alguns pensamentos profundos em relação ao VAR. Estou entalado desde que estalou a polémica na sequência as inequívocas dificuldades visuais manifestadas pelos árbitros das meias-finais da final four da Taça da Liga. No entanto, acredito que não é tarde para me debruçar sobre uma temática deste interesse. No meio de uma intensa reflexão, cheguei a uma conclusão. Por aquilo que tenho assistido desde que o sistema do videoárbitro foi introduzido em Portugal, examinando à lupa todas as decisões, o melhor que poderia acontecer ao nosso campeonato em termos de imparcialidade seria a aquisição de Pinto da Costa como VAR para os jogos do FCP. Tendo em conta o nível onde isto já anda, estou certo de que Pinto da Costa seria capaz de oferecer ao jogo um olhar bem mais isento do que os VAR que se têm cruzado com os portistas.
Depois da galhofa que foram as meias-finais da Taça da Liga, o Conselho de Arbitragem decidiu incluir dois videoárbitros no duelo da final. Excelente ideia. Este é o caminho, seguramente, mas não é suficiente. No meu entender, o futuro terá obrigatoriamente de passar por 132 videoárbitros em cada partida. Não vejo outra solução. Atente bem, caro leitor, o exemplo dos lances de possível fora-de-jogo. É bem necessário em VAR para segurar a régua, um VAR para manusear o esquadro, um VAR para traçar a linha, outro VAR para analisar a legalidade da jogada, e ainda outro para finalmente transmitir a decisão ao árbitro principal. É uma lástima ninguém ter dado esta sugestão mais cedo: o Museu Cosme Damião poderia ter algumas prateleiras bem mais compostas."

Pedro Soares, in O Benfica

Artistas de VARiedades

"Ao contrário do que se apressou a dizer o sempre optimista presidente da Liga de Clubes, esta última edição da Taça da Liga não foi uma desta. Foi uma farsa.
Uma final SC Braga- Benfica foi transformada num pálido e envergonhado Sporting - FC Porto. E quando temos dois finalistas que não mereciam estar na partida decisiva, quando temos uma final de aviário, a credibilidade da competição fica dramaticamente comprometida.
Infelizmente, estas coisas não são novidade. Durante décadas, uma mesma equipa foi empurrada para as vitórias por um sistema corrupto e cobarde. Penáltis-fantasmas, golos fora-de-jogo, bolas que entraram e não contaram, de tudo aconteceu um pouco, nas Antas, na Luz e em qualquer local onde se tenha disputado um FC Porto - Benfica em toda a década de noventa e suas franjas. Fortunato Azevedo, Calheiros, Donato Ramos, António Costa, Benquerença e Proença (ele mesmo) são nomes que ainda nos fazem sentir náuseas.
Qual a novidade? É que então, não havendo VAR, poderiam sempre escudar-se nos tradicionais 'não vi', 'tinha o ângulo tapado', 'o lance foi muito rápido', etc. Fechados numa sala, com vários ecrãs de televisão diante de si, e minutos a fio para ver o rever os lances de dúvida, torna-se impossível aceitar qualquer justificação para erros como os que vimos na semana passada.Seria útil ouvir os árbitros no final dos jogos. Se todos os protagonistas são obrigados a tecer considerandos sobre o que se passou em campo, porque é que os Fábios Veríssimos deste futebol podem calar-se, assobiar para o lado, e rir-se de nós, depois de virarem um jogo de pernas para o ar?"

Luís Fialho, in O Benfica

Top 30

"Semana após semana vão sendo publicados os estudos que provam a excelência da gestão do Sport Lisboa e Benfica. Após o relatório da UEFA, agora foi a vez da Deloitte. Na semana passada, a prestigiada consultora divulgou o Football Money League, um estudo que revela os 30 clubes com maiores receitas na época 2017/18. Pelo terceiro ano consecutivo figuramos neste lote único europeu e somos o único clube português. Na última temporada, as nossas receitas ultrapassaram os 150 milhões de euros.
Bem sei que ficámos a muitos milhões do Real Madrid, o líder deste ranking, com quase 751 milhões. Também ficámos a muitos milhões do Barcelona (690 milhões), o segundo classificado. Só para termos noção da desigualdade de armas, nas duas últimas temporadas na Champions jogámos contra o Manchester United, que figura em terceiro lugar, com 666 milhões, e contra o Bayern Munique com 629 milhões, que está no quarto lugar. Por isso é que eu entendo que temos gestores de excelência. Temos um verdadeiro dream-team nas áreas da gestão desportiva, económica e financeira, gestores que fazem verdadeiros milagres. Só em direitos televisivos, capítulo no qual inovámos com a transmissão dos nossos jogos da Liga na BTV, foram 62,6 milhões de receita.
A componente comercial voltou a brilhar, com quase 48 milhões.Neste aspecto, destacam-se os sponsors de excelência - Emirates, Adidas e Sagres. E ainda os 40,5 milhões de bilheteira. Notáveis são ainda os resultados das páginas oficiais: Facebook (3,7 milhões), Twitter (1,2 milhões) e Instagram (1 milhão). A prova de que a aposta no digital foi uma medida acertada."

Pedro Guerra, in O Benfica

10 anos

"Não se fazem todos os dias e marcam a vida de pessoas e instituições como idade de transição da infância para o futuro. É assim também como a Fundação Benfica, um dos mais recentes filhos de um Clube já centenário mas tão idealista e vigoroso como nos primeiros dias em que a falta de tudo e as condições históricas e económicas então vividas não impediram que se fizesse Benfica, nem que para isso fosse necessário juntar economias e comprar uma bola de Cauchú, em segunda mão, mas tão bela e perfeita que não mais parou de rolar.
Estava-se em 1904 e 105 anos depois, com tanta Glória percorrida nas suas voltas, essa mesma bola fez saltar a Fundação para unir vontades e ajudar a humanidade a dar as máos pela felicidade e bem-estar dos povos. Essa mesma bola, posta a rolar pelo Povo há tanto tempo que quase esquece, chegou assim no presente atravessando o 'meio campo da História' e convertendo o Kickoff original em tantos e tantos passes com um único sentido: fazer do Benfica um companheiro da vida de todos sem excepção, activo e actuante, em valores, em pessoas e no seu desenvolvimento.
Por isso, porque a Fundação exprime essa nobreza, humanismo e ideias do Benfica desde a sua origem, não cabe nestas linhas fazer nenhum rol do trabalho feito em Portugal e no Mundo, especialmente no que partilha a mesma língua. Se em 10 anos aprendemos alguma coisa foi que trabalhar no universo relacional do Benfica é descobrir a imensidão, encontrar a cada esquina e nos recantos mais escondidos da sociedade e das pessoas, pontos de ligação, olhos que brilham apesar da escuridão muitas vezes vivida. É bater à porta dos humildes, com humildade, pedir licença, dar atenção e por fim dizer: 'está aqui o Benfica', veio ter contigo, sabemos que se sente só no infortúnio mas não está esquecido e se pudermos faremos a nossa parte para se reerguer com dignidade, de cabeça levantada e dono de si. É ir pelo país ao encontro de tantos e tantos jovens em exclusão educativa e dizer-lhes, falando claro e sem rodeios: 'Sabemos que tens valor, pensas que não consegues afirmar-te e convencem-te de que não vale a pena, mas se quiseres desenvolver o teu potencial e voar mais longe podes contar connosco. Vai ser trabalhoso e terás tu que fazer o caminho, mas vamos estar ao teu lado e não desistimos de ti!'. É abraçar os que superam a deficiência e ter orgulho nas suas realizações, desportivas ou não. É ainda inovar no Walking Football e levar o Grande Jogo de volta à prática dos mais velhos, espalhando saúde, recriando alegria e desfazendo solidões. Enfim, foi tanto o que se fez nestes 10 anos e é tanto, sobretudo, o que se pode fazer nos próximos 100 usando o poder do futebol para o desenvolvimento social, que talvez nem aquela bola original que nos anima imaginasse o seu poder transformador.
Parabéns Benfica!"

Jorge Miranda, in O Benfica

Está nos livros

"Quando um gatuno torna a decisão de arrobar a porta ou uma janela de uma casa (ou de um sistema informático), não sabe o que vai encontrar lá dentro. Ao avançar, começa por cometer, à sorrelfa, o indiscutível crime de intrusão na propriedade alheia; e se prosseguir a criminosa acção, vasculhará indiscriminadamente tudo o que se lhe deparar, agravando, com a profanação da privacidade alheia, a qualificação dos crimes. A natureza destas gravíssimas violações encontra-se claramente definida nos códigos do direito consagrados em qualquer Estado democrático, além de estarem universalmente preservadas no senso comum das sociedades contemporâneas. De que ciência, poder especial de avaliação, ou de que expresso mandato oficial, poderia, pois, um não especialista em coisa nenhuma estar (ou considerar-se) revestido, para, sozinhos em cena - e sem saber sequer o que iria encontrar no seu dissimulado empreendimento -, intentar actos sequentes do intrusão da propriedade e de vasculhamento da intimidade de terceiros e, ainda, roubar correspondências e documentações privadas, para, ainda por cima, depois, lhes dar publicidade?
O mero senso comum questiona, muito naturalmente, como tais comportamentos - à margem de qualquer demanda ou mandato oficial - poderiam, à partida, ser considerados lícitos, de modo, a justificar, mais tarde, fosse que objectivos fosse.
Tanto mais que, durante a própria circunstância em que pratica o esbulho (e ainda mais, depois dele), o ladrão exerce, ele próprio, um isolado 'julgamento' sem qualquer contradita ou defesa possível, visto que, nessa ocasião, se serve sozinho, alarvemente, a seu prazer exclusivo e sem qualquer oposição possível, numa demoníaca orgia de decisões por si tomadas sem regra, nem limite, diante tudo o que se lhe depara e que a sua demência 'apura' indiscriminadamente.
O bandido, na circunstância da profanação e do esbulho, só actua, sempre, servindo-se de meios ilegítimos e mediante recursos ilegais. De resto, só pode agir se o fizer escondido e dissimulado: ele tem a perfeita consciência do erro, da fraude, do crime, mas sabe que seria arriscado demais actuar sem se disfarçar primeiro. Prepara-se sempre a coberto de vistas alheias, para  não ser apanhado. O gatuno age sempre como um selvagem associal e amoral. Sabe o que é a lei, mas não se detém com ela. Não é um jornalista no exercício de uma pesquisa a que proceda,  de acordo com normas éticas e deontológicas. Não é um investigador munido de qualquer espécie de mandato. Não é um policia. Não é um perito, não é um delegado de qualquer instituto ou sede oficiais.
Despreza as normas que regem o jornalismo, as polícias e o Ministério Público; ri-se das metodologias dos laboratórios científicos e informáticos; não quer saber dos tribunais, nem dos juízes. Afasta-se de quaisquer procedimentos mantidos com base no rigoroso exercício da Justiça dos Homens, que é devidamente fundamentada nas leis dos Estados.  E na ocasião da intrusão e do roubo, enfrenta tudo isto com a mais impura convicção de quem se sente superior à lei e como se a ela fosse imune.
Apesar de toda a dissimulação e ocultação instrumentais do primeiro momento, uma vez consumados os actos, verifica-se, por vezes, um fundo de prosápia e de basófia na actividade de todo o ladrão e impostor que lhe há de ser fatal. Está nos livros.
Na posse do saque indiscriminado, o gatuno lambuza-se com o produto do roubo e começa a definir a sua estratégia para a 'melhor rentabilização' do material. Nalguns casos, decide avançar sozinho para a segunda fase, mas isolado ficará mais frágil. Noutros, escolhe mais ou menos cirurgicamente os receptadores que julga serem mais apetentes, de modo a se forrar de toda a prata que, presumidamente, a malvadez lhe possa garantir.
Em todo o caso, depois desta partilha desvairada, ele e os novos cúmplices irão - inevitavalmente - cometer erros que se revelarão fatais e que, logo desde a consagração da comandita, mais tarde ou mais cedo os hão de levar a deslaçar e a perder o controlo dos acontecimentos. Também está nos livros.
Bem podem fazer chegar 'à causa' deles grandes causídicos nacionais e estrangeiros, pagos a preço de ouro, por fundações, institutos, consórcios internacionais ou empresários de bas-fond da noite de Palermo. Para tentarem branquear a profanação, a violação, a pilhagem e, até mesmo, a traficância e a chantagem, bem podem estes dedicar-se a imponderáveis exercícios de ginástica intelectual e jurídica, nos mais variados campos jurisdicionais públicos e privados; da justiça nacional, comunitária e intercontinental; do direito romano, alemão ou de outras origens; do incomparável direito comparado. Bem podem eles, todos juntos (e também escorados em mais dinheiro sujo, ainda, para pagar a serviçais da pena e da pantalha), tentar montar grandes campanhas de comunicação para justificar o injustificável.
No final das contas, dá de, por fim, fazer-se Justiça.
Está nos livros: o crime não compensa."

José Nuno Martins, in O Benfica

Dérbi importante pode bom senso...

"O Sporting venceu a Taça da Liga e também pode vir a ganhar a Taça de Portugal. Mas, sagrar-se campeão nacional, são contas de outro rosário. Em provas curtas, alguns bons argumentos e a conjugação astral certa no momento certo podem ser suficientes para erguer o caneco. Porém, numa prova de regularidade, quem não tiver o estofo de um corredor de fundo deverá moderar os sonhos. E ao Sporting, que iniciou a época com uma Comissão Administrativa ao leme e em pleno trauma de Alcochete, seria pedir de mais que tivesse condições para lutar pelo título nacional. A dez pontos do líder FC Porto, quando faltam 15 jogos para o fim do campeonato, quaisquer esperanças leoninas serão meramente académicas. Todavia, o mesmo não é aplicável à luta pelo segundo lugar, um objectivo não só possível como altamente lucrativo para a equipa de Marcel Keizer. Porém, para que o projecto-Champions do Sporting tenha pernas para andar, torna-se imperioso derrotar o Benfica, que está cinco pontos acima, no dérbi de domingo. Mas será a necessidade do Sporting superior à do Benfica, que quer manter o FC Porto, de que dista cinco pontos, sob pressão?
Como se percebe facilmente, estão reunidas condições para um dérbi decisivo. Ensina a uma história que começou a 1 de Dezembro de 1907, em Carcavelos, que não valerá muito a pena conjecturar sobre favoritismos. O que se afigura relevante é desejar que uma mangueirada de bom senso extinga à nascença os focos de incêndio que vão sendo ateados. Porque, se fosse essa a fórmula para ganhar campeonatos, Bruno de Carvalho, estaria hoje sentado em Alvalade a celebrar o penta..."

José Manuel Delgado, in A Bola 

A dimensão da formação

"Escrevi nesta coluna, na semana passada, sobre a importância de formar jogadores localmente. Afirmei que o objectivo não é só desportivo, isto é, conseguir jogadores com potencial para a equipa profissional, há outros, referi, como exemplo, o crescimento da sua base social de apoio.
Esta semana o CIES, Observatório de Futebol, apresentou um estudo tendo por base jogadores que actuam nas principais cinco Ligas europeias (Inglaterra, Espanha, Alemanha, Itália e França). O objectivo era perceber o seu percurso formativo, seleccionando aqueles que pelo menos em três temporadas, entre os 15 e os 21 anos, tinham representado um mesmo clube.
Este dado torna-se importante para entender a importância que os clubes dão à formação, e também a qualidade que este teve nos últimos anos. Dos clubes portugueses, apenas o Sporting é referido no top 10, com 21 jogadores formados na Academia. Esta lista, com 55 clubes, é liderada pelo Real Madrid (36 jogadores), Lyon (35) e Barcelona (34).
Estes números revelam, pelo menos, duas vertentes distintas. Por um lado, que os grandes clubes não estão apenas com atenção ao mercado, por outro, que o seu mercado interno tem capacidade para absorver muitos dos jogadores potenciados nos seus quadros. Este mercado interno que beneficia com esta mesma qualidade. A avaliação deve ser qualitativa e quantitativa. Portugal só tem a ganhar com o reforço de um processo formativo que eleve a qualidade e quantidade dos seus praticantes. Este é um dos objectivos de todas as Federações. Em Portugal estamos no início de um processo de certificação que, estou certo, vai ser decisivo para o elevar do nosso nível formativo. A nossa estratégia, e não só no futebol, passa por potenciarmos os nossos recursos humanos. Os jogadores são o elemento mais importante do jogo. Quando formados localmente, ainda mais importantes são."

José Couceiro, in A Bola

O corte no policiamento, impacto e riscos

"Uma eventual debandada de recursos humanos a curto prazo vai reflectir-se na relação jogos por realizar/nomeações de árbitros.

Sempre foi uma das maiores preocupações do sector da arbitragem a questão relacionada com a segurança dos árbitros, sobretudo em contextos em que estão mais expostos e vulneráveis, como é o caso das competições amadoras, as provas distritais. Infelizmente, é nesses jogos entre camadas jovens que há um sem número de registos e de ocorrências de violência cada vez maior sobre os árbitros. Se, para o sector, a escassez de árbitros no activo - e a quererem continuar na arbitragem - já é um problema grave, as alterações ao policiamento e a consequente falta de segurança podem vir a ser a machadada final no que diz respeito à perda de activos.
Na verdade, é no primeiro ano de actividade, logo após o fim do curso, que a retenção dos árbitros sofre um grande abalo, com a desistência de muitos jovens, o que faz com que haja cada vez mais partidas sem árbitros oficiais ou com equipas incompletas. Se os valores auferidos nos distritais são pouco compensatórios, se a disponibilidade para a realização de vários jogos no fim-de-semana já é algo que por vezes não motiva quem anda de apito na boca, o risco agora agrava-se. E uma eventual debandada de recursos humanos a curto prazo vai reflectir-se na relação jogos por realizar/nomeações de árbitros, que no futuro terá impacto na qualidade que se pretende ao nível dos árbitros que chegam à 1.ª categoria. Até porque um leque maior na base, para se fazer a triagem e a selecção dos melhores, é fundamental para alimentar as competições profissionais.
Vem esta minha reflexão a propósito de uma medida agora anunciada e tornada pública pelo Comando Metropolitano do Porto da PSP e da PSP de Loures, que terão informado os clubes de futebol que, a partir de Março, vai deixar de existir policiamento nos jogos considerados de risco normal ou reduzido, nomeadamente nos escalões de formação dos campeonatos distritais (salvo em condições e situações tidas como excepcionais). Segundo as fontes policiais, não está em causa a redução de efectivos, mas apenas o cumprimento do decreto-lei 216/2012, que estabelece a não aceitação de pedidos de policiamento remunerados para eventos desportivos em que a requisição não seja obrigatória ou cuja regra seja a dispensa de policiamento.
Olhando também para o regulamento, este prevê que, na eventualidade de não existir polícia no recinto de jogo, o clube que joga em casa tem de indicar dois delegados de apoio à organização dos jogos, tendo de comunicar a hora e o local do jogo às autoridades, para prevenir qualquer eventualidade.
Ora, burocracias e decretos-lei à parte, todos sabemos, sobretudo quem foi árbitro, que a simples presença no campo de um único agente de autoridade é por si só dissuasora de alguns comportamentos físicos de violência, mas que, ainda assim, e são muitos os casos conhecidos, mesmo com a presença de polícia as agressões acontecem, seja entre o público, jogadores e ou sobre os árbitros.
Independentemente das medidas financeiras e da poupança de custos que possa estar por trás desta decisão, o importante mesmo é que os actos de violência sejam erradicados do desporto, mas temo que, com medidas desta natureza, tal não só não venha a acontecer, como o cenário possa vir a agravar-se.
Sempre tive a ideia de que quem elabora este tipo de decretos não tem bem a noção do que se passa no mundo real, ou seja, há claramente uma discrepância entre os gabinetes e as realidades sociais, neste caso concreto desportivas. Fruto da sociedade em que vivemos, os comportamentos e as atitudes das pessoas traduzem uma intolerância cada vez maior, e é no desporto em geral e no futebol em particular que têm vindo a reflectir-se cada vez mais todas essas frustrações. Os árbitros das competições amadoras têm sentido isso mesmo na pele.
Por último, expresso o desejo de que as pessoas que têm responsabilidades ao nível das decisões possam, em tempo útil, arrepiar caminho para que, no futuro, não tenhamos uma tragédia que todos nós tenhamos de lamentar. Estou certo de que a APAF está atenta a tudo isto e estará no terreno a fazer aquilo que sempre fez e faz, a defesa superior dos interesses dos árbitros."

O dinheiro compra resultados?

"O trajecto do Qatar na Taça de Ásia obriga-nos a questionar qual será o futuro dos países menos ricos no futebol

Não sei se já teve oportunidade de ler esta reportagem da Berta Rodrigues, mas se não o fez siga este conselho de amigo e leia. Se for preciso, guarde nos favoritos e leia no fim de semana. Vai ver que valeu a pena: chega-se à última linha a pensar no caminho que o futebol está a tomar.
Basicamente, e como se sabe, o Qatar iniciou em 2004 um projecto de criação de uma selecção para o Mundial 2022, que o próprio país organiza. Fez um investimento enorme, estrutural e financeiramente, que se traduziu na criação da fantástica Academia Aspire.
Quinze anos depois de começar o projecto, o Qatar está na final da Taça da Ásia pela primeira vez, no fim de seis vitórias, dezasseis golos marcados e zero golos sofridos. Admirável.
O que seguramente merece reflexão.
É que o fenómeno do Qatar não é a primeira vez que acontece e seguramente não é original: só é maior em dimensão. Antes dele, já a Alemanha tinha por exemplo feito o mesmo. No rescaldo de um terrível Euro 2000, os alemães começaram um projecto de investimento na formação.
Um investimento enorme.
Quatro anos depois, a Alemanha chegou às meias-finais do Mundial. Oito anos depois voltou a chegar às meias-finais. E doze anos depois foi campeã mundial. Depois dela, também a Inglaterra foi um investimento gigante na formação e começa agora a colher os frutos.
Ora no meio disto tudo, onde ficam os países pobres?
É certo que Brasil e Argentina continuam a ser fontes largas de talento individual, mas no último Mundial não passaram dos quartos e dos oitavos de final, respectivamente. O Brasil já não chega a uma final do Mundial desde 2002 e a Argentina nos últimos vinte e oito anos só chegou a uma.
Os dois países, tal como Portugal, a Espanha, o Uruguai, ou os países africanos, têm talento individual, fabricam bons jogadores, mas não conseguem obter rendimento nas grandes competições. Porquê? Provavelmente porque não fizeram um investimento enorme nesse sentido.
O que me deixou a perguntar: o dinheiro compra resultados?"


PS: O Qatar ganhou mesmo a Taça Asiática!!!

Clubes desportivos: onde tudo começa

"Nunca como hoje está evidenciada a importância da prática desportiva nas crianças e jovens para o seu desenvolvimento global. Tem sido amplificado o apelo à valorização – em todos os níveis de ensino - da educação física na escola e do desporto escolar, fundamentais na garantia da universalidade do acesso à prática desportiva.
No entanto, na base do desenvolvimento desportivo, existe outra peça fundamental e insubstituível: os milhares de clubes desportivos e recreativos distribuídos por todo o território nacional. A Conta Satélite da Economia Social, elaborada pelo INE/CASES em 2013, revela que cerca de 50% das entidades da economia social são associações de cultura, recreio e desporto, ultrapassando as 30 mil entidades. Destas, cerca de um terço estão envolvidas no movimento federado (Pordata/IPDJ 2017) e envolvem 624.001 praticantes, mas, seguramente, no universo mais amplo da prática desportiva informal, este número será bem maior.
Na sua maioria são entidades pequenas e com orçamentos reduzidos, quase sempre aquém das necessidades. Não obstante, garantem diariamente - sábados, domingos e feriados incluídos -, em particular a crianças e jovens, a possibilidade de se envolverem no desporto. Representam a diversidade e proximidade que o Estado não tem e na qual as autarquias têm dificuldade. São elementos agregadores de comunidades, de transmissão de valores identitários e de vivência de uma cidadania activa. Para o desporto, é onde se inicia a prática e onde esta se desenvolve, sustentando todo o sistema. É onde começam as medalhas... E é onde são dadas oportunidades, através do desporto, para mudar percursos de vida que de outra forma dificilmente seriam possíveis.
Na prossecução desta missão, o movimento associativo desportivo tem de lidar com inúmeros desafios, resultado da crescente complexidade normativa, procedimental e financeira. Para os enfrentar estão, na sua larga maioria, dirigentes benévolos, inseridos em estruturas organizativas frágeis ou mesmo inexistentes. As despesas com instalações, o custo de participação nos quadros competitivos oficiais e o enquadramento legal para o transporte de crianças são apenas alguns exemplos das dificuldades reais que enfrentam a cada época.
A gestão de um clube desportivo é por isso um ato de elevada coragem e responsabilidade, muitas vezes com sacrifício da vida pessoal e, independentemente de casos mais ou menos alinhados com uma visão altruísta de contributo para a comunidade, o valor dos dirigentes desportivos é inestimável.
O melhor reconhecimento é estabelecer medidas que aliviem as dificuldades com que diariamente são confrontados. O Estado e as entidades desportivas de cúpula têm aqui um papel determinante. E o ganho é mútuo, porque muito do que o desporto pretende alcançar só será seguramente possível com clubes desportivos fortes, dinâmicos e focados na sua missão."

Primavera encarnada

"O reconhecimento ao mais alto nível internacional pelo trabalho que o Benfica tem desenvolvido nos últimos anos é algo que nos orgulha. Os elogios não caem do céu: é preciso que existam razões para isso. E os resultados (desportivos e financeiros) não deixam margem para dúvidas. Veja-se a presença do Benfica no Top dos principais rankings do futebol europeu.
Veja-se a forma como as maiores potências internacionais olham para o nosso modelo de funcionamento. Veja-se a primavera encarnada que permite transformar em verdadeiros reforços o talento desenvolvido no Seixal.
O anúncio hoje feito da integração desde já no plantel principal de Zlobin, Ferro, Florentino e Jota, que se irão juntar a Rúben Dias, Yuri Ribeiro, Gedson Fernandes e João Félix, caracteriza uma autêntica primavera encarnada num trabalho notável de formação com frutos inestimáveis para o presente e o futuro do futebol português. Um caso único em Portugal. Um caso raro na Europa.
O ‘berço’ de todos eles é o mesmo por onde passaram Bernardo Silva, Gonçalo Guedes, Nélson Semedo, João Cancelo, André Gomes, Renato Sanches, Ederson, Lindelof, Ronny Lopes, Hélder Costa, Ivan Cavaleiro e muitos mais, numa impressionante prova de visão de todo um projecto.
O trabalho de criação de novas infra-estruturas, a aposta nas Modalidades, o projecto Benfica Olímpico, o crescimento nas competições femininas, a Fundação e as Casas do Benfica são diferentes realidades de um trabalho reconhecido e referenciado internacionalmente e que muito prestigia o país. Um exemplo!

PS: No espaço de quatro dias teremos dois dérbis de enorme exigência. Confiança, ambição e humildade são as nossas palavras de ordem. Total foco no jogo dentro das quatro linhas. Fica o desejo e o apelo para que prevaleçam o fair play e o desportivismo."

Zlobin, Ferro, Florentino e Jota

Foi um mercado de inverno, no mínimo, estranho! Para não dizer outra coisa... Acabámos por não fazer contratações 'sonantes', alguns jovens para a Formação ou para a equipa B (aparentemente!!!), e pouco mais!
E acabaram por sair 5 jogadores do plantel principal... É verdade que o Varela, Lema, o Alfa, o Castillo e o Ferreyra, praticamente não jogaram, mas principalmente em relação aos avançados, em caso de lesões, ficamos com poucas opções... E com ambições legitimas na Liga Europa, o calendário poderá manter-se carregado...!!! 

A habitual critica de comprar por 'atacado', jogadores sem qualidade, desta vez é substituída pela critica de não comprar ninguém!!! O mercado de Janeiro, é sempre limitado, normalmente fazem-se contratações em 'desespero' em jogadores de pouca qualidade... Agora, o Benfica tem algumas debilidades no plantel, que deveriam ter sido cuidadas... Desconheço o período de recuperação em alguns dos lesionados, mas é um risco enorme, 'confiar' nas recuperações totais, a tempo e com ritmo para serem úteis!!!

Como simples adepto, sem o conhecimento dos dossiers, por dentro, dou sempre o benefício da dúvida a quem tem a responsabilidade de tomar as decisões. Detesto, esta vaga de gestores, treinadores, jogadores e críticos de teclado que de tudo sabem e decidem sempre 'bem'...!!! A crítica feroz ao Presidente do Benfica, é algo actualmente inultrapassável (seja ele qual for...), seja qual for a decisão tomada, existe sempre a 'outra' melhor decisão!!!

Quem beneficiou com isto, acabou por ser os jovens: o Benfica anunciou que 4 dos nossos jovens da B, vão subir ao plantel principal. O Zlobin, como 3.º Guarda-redes e o Ferro como 4.º Central, vão ter poucas oportunidades em teoria...; o Florentino e o Jota, podem ser opção mais frequente, nem que seja para o Banco...
Sendo que faz todo o sentido, num plantel de 25 (mais ou menos) jogadores, os 'últimos' da prioridade, sejam jogadores da Formação, em vez de jogadores pagos principescamente...!!!
O Tino tem tudo para ser opção efectiva, com as lesões do Fejsa, temos somente o Samaris...; o Jota tem mais concorrência nas Alas, mas também poderá fazer a posição do Félix... Suspeito, que a intenção do Lage seja mesmo essa!!!
Fica a faltar o Willock!!! Como afirmei na última crónica da B, considero que está preparado para 'subir', só não 'subiu' porque de facto temos muitos Extremos actualmente no plantel principal...

Na minha opinião, será importante estes jogadores continuarem a fazer alguns jogos na equipa B, para não perderem ritmo... porque, se 'subirem' de escalão para ficarem 'parados', também não ajuda!!!
Falta saber se o brasileiro contratado ao Leixões, Pedro Henrique, fará mesmo parte do plantel principal, como 4.ª opção para as posições mais avançadas!!! O Bernardo Martins, também vindo do clube de Matosinhos, sendo centro-campista, deverá mesmo ser opção na B, porque com Gedson e Krovinovic no 'banco', não existe espaço para mais um...

Recordo que o David Tavares, e o Ebuhei devem estar perto do regresso, após as lesões na pré-época! Se o David deve ir para a B, o nigeriano será sempre opção na equipa principal...

A aposta na formação, tem sido dito e redito milhares de vezes pelo Presidente. O meu problema com esta opção, é o fundamentalismo!!! O Benfica não pode abdicar de comprar jogadores 'feitos', experientes, de qualidade... No lamaçal do Tugão, o Benfica nunca será Campeão, só com jovens da Formação...
A obsessão por 'acabar' com a dependência bancária, é bem-vinda, mas em doses razoáveis!!! Nunca foi anunciado, mas suspeito que o Presidente tenha determinado, um objectivo financeiro 'elevado' para quando decidir não se recandidatar (até ao Fernando Martins, havia uma tradição - não estatutária - de deixar o Clube à próxima Direcção sem endividamento!!! Tradição que tinha começado com Ferreira Bogalho, creio...!!!).
Sem títulos, é muito mais difícil fazer receitas...

Benfiquismo (MLXXXII)

Em 1907 já havia pernas partidas !!!