"Aos 37 anos Jorge Ribeiro garante sentir-se com força para jogar até aos 40, a sua meta. Depois disso, ainda não pensou bem no que vai fazer, desde que seja ligado ao futebol, embora ser treinador esteja fora de questão. Com um percurso que começou no Benfica, passou por clubes como o Santa Clara, Varzim, Desportivo das Aves, Dínamo de Moscovo, Málaga, Granada, Boavista, Atlético e agora Farense, entre outros, confessa que fugiu sempre do irmão, Maniche, isto é, de jogar em clubes onde este também estava, tendo inclusivamente recusado convites por causa disso. Casado e com três filhos, diz que começou benfiquista mas acabou por desenvolver simpatia pelo Sporting, um clube feliz, como ele diz
Nasceu em Lisboa e durante muitos anos era conhecido como o irmão de Maniche. Pode apresentar o resto da família?
O meu pai chama-se Ulisses, a minha mãe Esmeralda, quando eu era miúdo trabalhavam os dois numa fábrica de bolachas. E tenho mais dois irmãos, só da parte do pai, mais velhos, um rapaz e uma rapariga.
Então o seu pai casou com a sua mãe, depois do outro relacionamento.
Sim, o meu pai teve uma namorada antes, nunca foi casado com essa senhora, e depois juntou-se com a minha mãe e casou com ela. A minha mãe é mais velha do que o meu pai.
Cresceu em que zona de Lisboa?
No Bairro da Boavista, ali perto da Buraca, perto do campo do Casa Pia.
Quais são as primeiras memórias que tem de infância?
Vivia num bairro social e tinha contacto com miúdos de rua. Lembro-me que foi uma infância muito boa que não a desprezo, foi ali que cresci é ali que estão as minhas raízes.
Quando era pequeno o futebol já lhe dizia alguma coisa, jogava à bola na rua?
Foi o meu padrinho que nos ensinou a jogar à bola na rua. Também fui muito cedo para as camadas jovens do Benfica. Com oito anos já jogava na formação do Benfica.
Como é que lá vai parar?
O meu irmão já estava no Benfica e eu brincava na rua. Tinha um pontapé forte, ainda por cima esquerdinos havia poucos na altura, e tinha jeito para a coisa. No bairro havia um pavilhão recreativo onde jogávamos com os amigos. O meu irmão dizia-me que eu tinha jeito para o futebol e insistia para eu ir ao Benfica fazer testes. Um dia, fomos cinco ou seis miúdos do bairro, tentar a nossa sorte e acabei por ficar. Eu e mais um colega meu.
É verdade que não ficou convencido e que não voltou logo?
Na altura o treinador era o Arnaldo Teixeira, o pai, não o que está com o Rui Vitória, disse-me que eu ficava, falou com os meus pais também, mas eu não queria nada com a bola queria era brincar na rua. Era um “índio” (risos). No bairro era tudo muito familiar, todos se conheciam.
Por quem é que torcia o Jorge Ribeiro quando era pequeno?
Eu era do Benfica mas agora tenho um carinho muito especial pelo Sporting.
O seu pai e o seu irmão são do Sporting?
São. Eu queria era brincar e o meu irmão chateava-me a cabeça “Não queres ir e estão fartos de te chamar. Tens jeito até já te deram o diploma para ires”. E eu “Mas eu não quero nada com isso Nuno”; “Mas tu tens de ir, tens de ir”. O Nené, que coordenava o futebol juvenil do Benfica naquela altura, também insistiu, mandou várias cartas para casa e pronto, acabei por ir, até agora.
Quando começou a ir regularmente tinha quantos anos?
Tinha nove para os dez.
Lembra-se quando é que começou a ganhar consciência de que podia ser jogador de futebol?
Foi um bocadinho depois, quando comecei a ver que subia sempre de escalão. Nos iniciados já comecei a ter essa noção, de que podia chegar lá. Entretanto, comecei a ir às selecções.
É quando começa a treinar no Benfica que define a sua posição em campo ou se já vinha da rua.
Não vinha da rua, foi o mister Arnaldo Teixeira que nas captações me pôs a lateral esquerdo. Até me comparavam com o Schwarz que jogava no Benfica. E a lateral esquerdo fiquei até agora.
Encaixou bem na posição.
Sim, tinha muita velocidade, tinha um remate forte, batia bem as bola e, a partir dos iniciados, por volta dos 13 anos, comecei a ter mais essa consciência.
Como é que era a sua relação com a escola?
Não era um fã da escola, mas tinha que ser. Os meus pais sempre incutiram primeiro a escola e depois o futebol. Fiz o 9.º ano e deixei de ir porque tive de optar. Ou escola ou futebol. Ia para as selecções, ia para fora e perdia muita matéria escolar.
O seus pais nunca se opuseram a que largasse a escola?
Eles perceberam. Entretanto nos juvenis, com 15 anos, comecei a ganhar algum dinheiro.
Lembra-se do valor do seu primeiro ordenado?
Lembro, primeiro era o valor do passe, dois contos e quinhentos (12,50€). Era a minha mãe que ia buscar-me aos treinos. Tenho de agradecer-lhe porque foi graças a ela, que me acompanhou sempre para os treinos, à chuva e ao vento, íamos a pé apanhar o autocarro…
Isso eram umas ajudas de custo. Mas quando assina e ganha o seu primeiro contrato?
Foi nos juniores e ganhava 2500 euros, quinhentos contos na altura. Tinha 16 para 17 anos.
Houve alguma coisa que quisesse comprar logo?
Não. Nessa altura tudo o que ganhava entregava aos meus pais. Era justo, foram eles que me ajudaram sempre, que gastaram dinheiro comigo e não era justo que eu não lhes entregasse o dinheiro. Eles também tinham feito um esforço. Depois, mais tarde, quando comecei a ganhar mais dinheiro e saí de casa, a partir daí é que decidi ser eu a ficar com o dinheiro.
Quando faz a sua estreia na equipa principal do Benfica?
Estreio-me com 17 anos, com o Jupp Heynckes.
O que sentiu?
Era júnior, o Jupp Heynckes assume o comando técnico da equipa principal, escolhe três jogadores dos juniores para fazer parte do plantel e eu fui um dos eleitos. Fiquei todo contente. Estava nas nuvens, saí em todas as capas dos jornais desportivos; era um miúdo, não tinha a noção das coisas. Fui para a equipa principal e quando não era convocado, jogava nos juniores.
Lembra-se do primeiro jogo na equipa principal?
Foi para a Taça de Portugal contra o Amora. Ganhamos 7-1 ou 7-2.
Foi titular?
Fui. Até foi engraçado porque o meu irmão estava nesse plantel também, fomos de estágio, ficámos no Radisson em frente ao estádio do Sporting, no mesmo quarto, e dissemos um ao outro: ou tu fazes um golo e eu faço o passe para ti, ou eu faço o passe para ti e tu fazes o golo. E aconteceu. Eu faço o cruzamento e ele faz o golo.
Nessa altura o seu irmão já tinha saído de casa?
Já. O meu irmão saiu de casa no tempo dos juniores.
Estreia-se e na época seguinte vai logo para o Santa Clara. Porquê?
Vou para o Santa Clara porque vi que não ia ser opção no Benfica; era jovem e entretanto surgiu essa opção de ser emprestado ao Santa Clara, que na altura estava na II Liga. Fui de bom grado porque não estava a jogar no plantel da equipa principal.
Quem eram os seus concorrentes?
Era o Bruno Bastos e um jogador estrangeiro. Fui para o Santa Clara para ver se jogava mais, mas também não joguei muito.
Tinha empresário?
Tinha, era o Paulo Barbosa. Desde os juniores.
Quando foi para o Santa Clara, é a primeira vez que sai do ninho. Custou-lhe muito?
Claro que custou. Lembro-me que o meu pai tinha folga e foi levar-me ao aeroporto. Eu nem sabia bem ao que ia. Era um miúdo que estava habituado a ter a comida na mesa. Passámos algumas dificuldades mas nunca faltou nada de comida.
Já tinha namorada?
Tinha. Era a Débora, com quem casei. Ela era lá do bairro e é a mãe dos meus dois filhos mais velhos. Separámo-nos há quatro anos.
Ficou a viver onde nos Açores?
Fui viver para um T0, tinha que fazer comida, tinha de me desenrascar, só sabia fazer arroz, massa e ovos (risos). Mas tinha um restaurante que o clube tinha disponibilizado e quase sempre ia lá comer. Quando estava fechado, ou quando vínhamos dos jogos fora, é que fazia a minha comida e desenrascava-me bem. Telefonava à minha mãe, ela dizia-me como devia fazer. Agora já sou um bom cozinheiro (risos).
Quem era o treinador do Santa Clara?
O Manuel Fernandes. Mas só lá fiquei seis meses.
Porquê?
Porque eu estava emprestado pelo Benfica e o Shéu ligou-me a dizer que eu ia fazer outra vez parte do plantel do Benfica. E voltei ao Benfica.
Voltou para a equipa principal ou para a equipa B?
Para a equipa B. Depois, vou outra vez para a equipa principal já era o Toni o treinador. Depois o Toni saiu e veio o Jesualdo, tudo na mesma época. O Jesualdo era adjunto do Toni.
Como correu essa época na equipa principal?
Fiz alguns jogos com o Toni, com o Jesualdo também, mas depois apareceu uma proposta boa do Varzim. O meu empresário ainda era o Paulo Barbosa, estava a acabar o meu contrato com o Benfica e o Varzim estava na I Liga.
O Benfica não queria renovar?
Não era o Benfica não querer renovar, eu é que queria ter mais jogos na I Liga. E apanhei um treinador no Varzim que apostou em mim, o Alberto Costa, que foi adjunto do Queiroz. Depois tive o Luís Campos e o Rogério Gonçalves. Fui para o Varzim, assinei por quatro anos e desvinculei-me do Benfica de vez.
Não lhe custou desvincular-se do Benfica?
Custou. Custou mas nessa altura era muito difícil os jogadores das camadas jovens conseguirem vingar, não é como agora em que eles apostam muito nas camadas jovens. Na minha época não eram muitos os que subiam. Na altura fui eu, o Pepa, e o Rui Baião. E fomos esses três que depois vamos para o Varzim. Era o mesmo empresário.
Ainda antes do Varzim, quando volta à equipa principal do Benfica, depois de ter estado nos Açores, o facto de não estar lá o seu irmão, para si era uma coisa que o aliviava ou sentia falta dele?
Vou ser sincero. Tenho um lema de vida. Se o meu irmão estiver como treinador numa equipa eu não vou para lá. E se estiver como jogador, também não vou. Tive que ir naquela altura porque era mais novo, mas não gosto. Estive com o meu irmão noutro clube em Moscovo, mas quando ele chegou, eu nem sabia que ia, e também não gostava.
Por causa da comparação?
Da comparação e não só. Por exemplo, se há uma guerra no campo, há sempre guerras mesmo nos treinos, depois uma pessoa vê o irmão ali no meio e vai ter que se meter, é sempre um problema.
Criava-lhe ansiedade?
Claro. E depois é assim, eu gosto de ser eu próprio, não gosto de ser associado: “Ah, ele é jogador por causa do Maniche”. Isso nunca aconteceu, eu fui pelo meu valor e ele foi pelo dele. Já estive para ir para vários clubes onde ele esteve, como adjunto, já estive para ir para o Paços, já estive para ir para a Académica, e não fui por causa disso.
Escolha sua?
Escolha minha. A Académica estava interessada quando o meu irmão lá estava e eu não fui. Não fui para uma I Liga, fui para a II Liga. Sou mesmo assim. Para depois não dizerem: “Ele está ali por causa do irmão”. As pessoas são assim.
Gosta que reconheçam o seu valor independentemente do seu irmão.
Claro, como aliás reconheceram. Mas é engraçado porque muitas vezes diziam: “Ah, eu conheço-te, tu és o irmão do Maniche”. Eu era sempre associado a ser o irmão do Maniche.
Isso chateava-o muito?
Não me chateava, para mim até era um orgulho. Mas criava ali um bocado... eu tenho que ser eu. Depois as pessoas começaram a inverter isso. Mas hoje em dia já não ligo muito a isso.
Quando vai para o Varzim também vai sozinho ou ai já está casado?
Só casei em 2005, para o Varzim ainda vou sozinho, mas como já tinha estado sozinho no Santa Clara, não me custou. A minha ex-mulher ia visitar-me mas como estava a tirar o curso, não ficava sempre comigo.
Aos 16, 17 anos começam as saídas à noite. Como é que o Jorge se safava? Sabia fazê-las ou foi alguma vez apanhado?
Fui várias vezes apanhado (risos). Um miúdo com 16, 17 anos que começa a ganhar dinheiro e aparece nos jornais, nas televisões, há a tentação de puxar sempre os tais pseudo-amigos, como eu chamo agora que estou calejado. Vamos beber um copo ali, e agora vamos ali.... Vou dizer-lhe: fiz muitos erros.
E foi castigado por causa disso?
Fui. No Benfica castigaram-me uma vez ou duas. Estava na equipa A e mandavam-me para a B.
Qual foi a dura que lhe custou mais ouvir?
Foi quando estava a jogar, e estava a jogar bem, e um dia vou beber um copo. Depois disso quando chego ao treinos, o Jesualdo Ferreira com um ar ríspido diz-me: “Vais começar a treinar na equipa B, porque aconteceu isto e isto...”. Eles sabem tudo não é. Eu ainda “Então, mas...”; “Não, não há mais conversas. Ainda és novo, ainda tens muito que aprender. Vais para a B e quando eu achar que deves vir outra vez, vens” (risos).
Quem eram os amigos com quem costumava sair?
Do Benfica era o Pêpa, o Hélder Ramos, o Bruno Aguiar, o Cândido Costa, vários.
As saídas foram-se mantendo ou começou a cortar?
Depois comecei a cortar. Ainda saí mais umas vezes, mas não para me expôr.
Voltemos ao Varzim. Como é que correm as duas épocas?
Adaptei-me bem, comecei a fazer mais jogos na I Liga. Lembro-me que tinha um pré acordo com o FCP quando fui para o Varzim. Na altura do Mourinho mas depois isso não se concretizou.
Porquê?
Não sei porquê. Não accionaram a opção. Era eu e o Rui Baião.
Acha que isso não aconteceu por causa do seu irmão estar lá?
Não sei. Ainda não consegui compreender como é que foi.
Gostava de ter ido para o FCP?
Sim. É sempre bom passar de um clube pequeno para um grande. Mas continuei no Varzim e correu bem, ia à selecção.
Quando é que chamado a primeira vez à selecção? Tinha quantos anos?
Tinha 15 anos quando fui chamado à selecção de sub-15. Fui sempre às selecções todas depois.
Era muito diferente o ambiente de selecção do ambiente dos clubes?
Sim, ali estão os melhores praticamente. Criei amizades com todos. Havia os grupinhos, o do FCP, do Sporting e do Benfica, mas nunca tive chatices com ninguém, fui sempre bem recebido.
Foi praxado ou praxou alguma vez?
Fui praxado na equipa A. Em 2002 na minha primeira internacionalização pela selecção principal, o treinador era o Agostinho Oliveira. Foi em Braga, contra a Escócia e ganhamos 2-0. Estava a chover muito nesse jogo. Fomos uns oito ou nove que se estrearam. Já tínhamos o Fernando Couto, o Vítor Baía, Jorge Costa, Sérgio Conceição, Costinha, o Rui Jorge, o João Pinto, o Figo, o Pauleta, uma data deles, o Simão, o Nuno Gomes…
Sentiu-se pequenino ao pé deles?
Na altura estava no Varzim. Vir de um clube pequenino e chegar à internacional A, olhar para aqueles jogadores todos... Alguns nem me conheciam... Encontrei o Fernando Couto e o Rui Costa na bomba de gasolina, eles lá com os seus carrões, eu fui com um amigo que me deu boleia. Parei na bomba, eles olharam para mim, mas nem sequer sabiam que eu ia à selecção. Era um respeitinho tremendo com aqueles jogadores. Não era fácil, eles diziam: “Ó miúdo tens que esperar até todos se sentarem para te sentares no lugar que sobrar.” Em todo o lado, na camioneta, no restaurante, em todo o lado era assim e aquilo era um respeitinho, não é como agora.
Como é que foi a praxe?
Quando cheguei fizeram um corredor para eu passar e levar calduços. Depois tive que falar e dizer o que é que sentia por estar ali. Lá falei, um bocado a tremer, mas desenrasquei-me (risos).
Houve algum que o tenha surpreendido mais ou que tenha sido mais simpático?
O Figo foi simpático porque o meu treinador, o Alberto Costa, era treinador-adjunto do Carlos Queiroz, no Sporting e o Figo falou-me dele. Perguntou se estava a gostar de ser treinado por ele. Havia uns mais frios, tipo o Fernando Couto, os do norte eram um bocado mais frios.
Consegue resumir o seu percurso na selecção?
Faço sub-15, sub-16, sub-17, sub-18, sub-20, sub-21, equipa B, faço os Jogos Olímpicos, equipa A e o Torneio de Toulon, que ganhámos.
Entretanto sai do Varzim e vai para o Gil Vicente.
Eu tinha quatro anos de contrato com o Varzim, faço um ano na I Liga, depois o Varzim desce e eu tenho que me apresentar. Ainda fiz 24 jogos, mas decido, eu e o meu empresário, ir para o Gil Vicente para estar outra vez na I Liga. Rescindo com o Varzim e vou para Barcelos. Estou lá meia época época, vou para o Dínamo de Moscovo, transferido.
Entretanto casa.
Sim, em 2005 quando vou para o Dínamo.
Era algo que ambicionava, jogar fora do país?
Era.
Havia algum campeonato que gostasse mais?
Quando vou para o Dínamo já tenho outro empresário, o Jorge Mendes. Desligo-me do Paulo Barbosa e é já o Jorge Mendes que me leva para o Dínamo. Mas ainda no Gil Vicente eu deixo de ir aos treinos.
Porquê?
Porque o presidente diz-me para não ir aos treinos. Estava num jantar de equipa, na Trofa, e liga-me o presidente: “Não vás aos treinos porque temos uma transferência para ti, para ires embora. É bom para nós e é bom para ti”. Tanto que eu andava desaparecido e já diziam que eu tinha um processo disciplinar, mas foi tudo feito de maneira a que eu pudesse ir para o Dínamo de Moscovo. As pessoas ligavam, mas eu não atendia telefones; depois liga-me o Jorge Mendes e rescindo com o Gil às quatro da manhã, num cartório em Barcelos.
Às quatro da manhã? Porquê?
Porque é assim, os negócios na altura eram assim. Lembro-me que o presidente do Gil Vicente andava de um lado para o outro preocupado com os dinheiros. Mas eu queria era resolver a minha vida.
Quando lhe disseram que ia para a Rússia qual foi a primeira reacção?
Foi de medo. Pensei, vou para lá e aquilo é só bombas e é frio. Era o que via na televisão.
Foi o único português a ir nessa altura ou já lá estavam outros?
Pensava que era o único, tanto que estou a jantar na minha casa e liga-me o Jorge Mendes a dizer que eu tinha que estar às sete da manhã no aeroporto de Lisboa para ir para a Turquia que eles estavam em estágio, em Antalya. Fui com um amigo de carro e chorei a viagem toda. Para onde é que eu vou, Rússia, sem a família, seja o que Deus quiser. Dormi em casa dos meus pais para estar no aeroporto de manhã. No aeroporto encaro com o Danny e com o Cícero. Pelo menos já tenho com quem falar. Eles também eram do Jorge Mendes e fomos os três para a Antalya onde na altura estavam uns 40 graus. Saio dali, venho a Portugal buscar roupa e quando chego à Rússia, quando saio do avião, estão 24 graus negativos. Disse logo que ia voltar para Portugal outra vez, que ali não me apanhavam com aquele frio (risos). Mas depois lá me habituei.
Nessa altura como é que comunicava, em inglês?
Não falava muito inglês, mas tinha um tradutor e desenrascava-me bem.
Ficou a viver onde?
Num hotel em frente à Praça Vermelha. Trataram-me sempre bem, quando cheguei ao quarto tinha roupa de neve, foi espectacular. E fiquei no hotel durante um mês. Depois fui para uma moradia.
Sozinho?
Não, o meu pai e um amigo meu foram ter comigo e ficaram por lá bastante tempo para eu não estar sozinho.
Adaptou-se bem ao futebol russo?
Adaptei-me.
Jogar na neve não lhe fez confusão?
Aquilo tinha um sistema diferente na relva. A neve saía, tínhamos todo o equipamento necessário, collants, luvas, cremes. Tinha é que ir uma hora antes para me equipar mas correu bem. Fiz alguns golos e o primeiro ano correu bem.
A sua mulher não ficou na Rússia consigo porquê?
Ela só lá esteve um mês. Não aguentou e veio embora. Eu tive de aguentar mas depois rescindo, e vou para a Liga Espanhola.
Ainda jogou com o seu irmão?
Sim, ele esteve lá seis meses e depois foi embora para o Chelsea. Quando ele foi embora eu ainda fiquei.
Esteve dois anos no Dínamo, mas tinha quatro de contrato.
Sim. Pagaram-me um e deixei lá outro, para ir para o Málaga.
Queria sair de lá, já estava farto?
Não era farto. Até estava a correr bem, mas depois aquilo mudou, o dono do clube saiu, era ele que metia o dinheiro no clube…
Foi para o Málaga porque era uma forma de estar mais perto de casa?
Optei por ir porque o Málaga porque também estava na I Liga. Estavam lá três portugueses: o Edgar, o Duda e o Litos, que era do Boavista. O Litos ajudou-me imenso, ele e a mulher, já lá estavam há três ou quatro anos.
Não esteve muito tempo no Málaga.
No Málaga não tinha jogado muito e o Desportivo das Aves estava na I Liga.
Com o professor Neca, certo?
Sim, o professor Neca ajudou-me. Aquilo que levo do futebol, são as pessoas que me ajudaram. Apesar de dizerem que ele é muito táctico, muito para trás, adaptei-me bem a ele, fiz muitos jogos com ele. Mas já chego ao Aves numa fase em que aquilo não estava nada bom, só tinham um ponto. Entretanto, o Jorge Mendes apresenta-me uma boa proposta.
Para o Boavista.
Sim, do João e Valentim Loureiro. Era um clube com tradição, um clube com boas condições e fui.
Com o Jaime Pacheco como treinador.
Sim. Também aprendi muito com o Jaime Pacheco. O Boavista foi o clube que me permitiu a ascensão para ir outra vez para o Benfica. Fiz uma época muito boa com o Jaime Pacheco. Havia muita gente que dizia que ele só queria corrida mas eu na altura já tinha 26, 27 anos e disse para mim mesmo, é aqui que ou vai ou não vai. Correu bem, adorei trabalhar com o Jaime Pacheco e muitos treinadores deviam ser como ele, muitos.
O que quer dizer com isso?
Porque é um treinador que incute nos jogadores o que é a mística de qualquer clube. É do norte, as pessoas do norte são mais aguerridas. Ele não gosta de perder, para ele é trabalho, trabalho, trabalho. E só assim se chega a um patamar elevado no futebol. Foi campeão num clube que ninguém estava à espera, como o Boavista, por causa disso mesmo.
Era um sonho voltar ao Benfica?
Era e vou explicar porquê. Fiz lá a minha formação, fui bem acarinhado e até tive um bocado de receio porque na altura também tinha o Sporting interessado e o Sampdoria, mas optei pelo Benfica.
Tinha um contrato melhor também.
Também mas optei porque vim de lá, da formação. Ainda estive com dúvidas, porque as pessoas podiam pensar: então este saiu, rescindiu com o Benfica, foi-se embora para o Varzim e agora quer voltar outra vez para o Benfica? Nem todas as mentes são iguais. Mas foi o que aconteceu, volto ao Benfica com um bocado de receio, falei com o presidente mas o Luís Filipe Vieira disse-me: “Isso não tem nada a ver Jorge, o teu trabalho fala por si. Tem oito golos, várias assistências e tens sido um dos melhores da Liga".
O treinador era o Quique Flores.
Era. Era para ter ido em dezembro com o Camacho, mas como tinha um pré-acordo com o Benfica, optei por ficar no Boavista porque no Boavista jogava e o Benfica tinha o Leo que, era bom jogador e se fosse logo para lá, se calhar não jogava e como tinha o Europeu esse ano, queria tentar ir ao Europeu. Por isso continuei no Boavista a fazer bons jogos e fui chamado para o Europeu.
O seu irmão não foi. O que é que sentiu nessa altura? Um orgulho diferente por finalmente ter “descolado” do seu irmão?
Não porque sempre tive ambição de três coisas: jogar com o meu irmão na equipa principal do Benfica, jogar na selecção e ir a um evento como o Mundial ou o Europeu com o meu irmão. Pensava que era nesse ano que ia ao evento e fechava as três, mas não aconteceu. Não sei porque é que ele não foi, mas são opções do seleccionador. Lembro-me perfeitamente quando fui chamado para o Europeu, os telefones não paravam. Diziam sempre a mesma coisa. “Então você vai ao Europeu e o seu irmão não vai, o que é que sente?” Estavam sempre a falar disso.
O que ele lhe disse?
Ele ficou muito feliz por mim, foi a primeira pessoa com quem falou quando soube da convocatória: “Tu mereces, é fruto do teu trabalho. Gostava de ir contigo mas são opções”. Claro que se fica sempre chateado de não ir a um evento como o Europeu.
Ainda apanha o Jorge Jesus no Benfica?
Apanho.
Ele não o queria.
Como é que hei-de dizer, foi o Benfica que me deu tudo. Deu-me os valores todos como homem e como futebolista. Fiquei triste porque acho que foi injusto da parte do mister Jorge Jesus, e eu falei com ele sobre isso. Porque com o Quique Flores faço quase 30 jogos, contando com as competições europeias, era titular. Não foi uma época exuberante mas foi uma época regular da minha parte.
Ele explicou-lhe a razão?
Não, disse simplesmente que não contava comigo, na altura o director desportivo era o Rui Costa, disse que não contava comigo mas eu disse-lhe “Mister mas eu tenho mais três anos de contrato com o Benfica”. Fiquei um ano sem jogar com ele.
Custou-lhe.
Custou-me muito porque um jogador tem de jogar. E quando um jogador faz quase 30 jogos supostamente é para ficar no plantel, na minha opinião. Mas cada um tem as suas, ele teve as dele e fiquei um ano sem jogar. Claro que custou muito. Treinei à parte, não é a mesma coisa.
Conseguiu perceber porque é que ele não o queria na equipa?
Não cheguei a perceber porque ele quando me dispensa, diz-me que tinha o Shaffer e o Sepsi para o meu lugar. OK, são opções, só tenho que respeitar, mas tenho mais três anos de contrato. Tenho que ficar aqui, é a minha vida também. E ele: “Eu sei que sim, mas ficas a treinar ai à parte”. Está bem. O que é certo que que começou a época e ele dispensou o Shaffer e o Sepsi, foi buscar o César Peixoto e recuou o Fábio Coentrão para lateral esquerdo. Foi no ano em que ganhou o campeonato. E esteve muito bem, com um plantel muito bom, sem dúvida ele é bom treinador, já lhe disse, que é um bom treinador. Um treinador exigente também, um treinador que tem a sua maneira de estar e de ver as coisas, mas nunca compreendi o porquê até hoje.
É nesse ano que nasce a sua filha?
É , em 2010, a Maria Inês.
Assistiu ao parto?
Assisti. Dos três, assisti a todos. É uma sensação única. Ser pai é a melhor coisa do mundo.
Entretanto vai para Guimarães.
Sim, vou para o Vitória de Guimarães emprestado pelo Benfica. Foi também uma experiência boa, apesar de ao início não jogar. O treinador era o Manuel Machado. Tenho uma história com ele muito boa.
Conte.
Ele é um treinador muito calado. Quando lá cheguei ia emprestado pelo Benfica, e não tinha que ser mais do que os outros só por vir do Benfica. Para eu jogar, tinha que treinar bem e fazer por merecer a confiança do treinador. Passei a primeira volta sem ser convocado, sem jogar e eu sempre a trabalhar, sempre a treinar. Começa a segunda volta, e lesiona-se o rapaz da minha posição, que nem era bem a minha posição porque eu era lateral e ali joguei a interior esquerdo, e o Manuel Machado mete-me a jogar com o Olhanense. A partir daí nunca mais saí da equipa. Depois vou para o Granada e um dia estou lá e recebo uma chamada. Um número português? O que é isto? Era o Manuel Machado a dizer que queria que eu fosse com ele, para a primeira aventura dele na Grécia, no Aris. “Tu foste um bom profissional. Treinaste sempre a sério, nunca viraste a cara à luta”. Só que era impossível porque os do Granada não me deixaram sair.
E Granada que tal?
Muito bom, gostei da cidade. Mas eles defendem muito o que é deles.
Está a falar em relação aos jogadores?
Também.
Então não foi bem recebido?
Fui bem recebido mas nós, os portugueses, acolhemos melhor os estrangeiros.
Correu-lhe bem essa época?
Não joguei muito.
É por isso que vem embora para o Desportivo das Aves?
Sim.
Entretanto nasce o seu segundo filho.
Sim, o Francisco.
É o Jorge Mendes que lhe arranja o contrato com o Desportivo das Aves?
No Granada já não era o Jorge Mendes, fui eu que fiz o contrato e a partir daí fui sempre eu.
Porquê?
Ele nunca mais me ligou e foi opção minha, não dependo de ninguém, nem que seja o homem mais rico do mundo, e segui a minha vida. Já tinha estado no Aves antes, eles gostaram de mim e ligam-me para saber se eu queria voltar. Disse logo que ia porque foi um clube que me acolheu bem, nunca me faltou com nada, sempre me deu tudo aquilo que eu queria.
Para um jogador que jogou em equipas como o Benfica, que jogou lá fora, quando volta para uma II liga o choque é muito grande?
Não. Eu tinha clubes interessados da I Liga e fui para uma II.
Porquê?
Não me prendo a que sejam clubes da I ou da II Liga, porque já estive na I Liga. E também nunca fui muito pelo dinheiro. Claro que isto é a nossa vida e é bom ganhar dinheiro, mas chega uma fase da carreira em que já tive tanta experiência de vida antes que, porque é que vou para a I Liga? Vou ver o que é a II Liga. E se tenho pessoas que acreditam e confiam em mim e que dizem: “Jorge vens para aqui, nós gostamos de ti, nós acarinhamos-te”. Eu prefiro assim.
É também uma altura em que começa a perceber que já não tem 20 anos...
...Exactamente
Começa a ter noção de que se calhar brilha mais n II Liga do que na I?
Em relação ao brilhar, quem tem qualidade, tanto brilha na I como na II. Costumo dizer que a II Liga é mais competitiva do que a I porque tem mais jogos, tem 40, 45 jogos, as equipas são mais bola no ar, mais possantes, os campos são diferentes, são mais pesados. Enquanto na I Liga é tudo mais bonitinho, há mais espaço para jogar, melhores condições. Na altura fui para o Aves e gostei. Estivemos a um passo de subir à I Liga. Estive dois anos no Aves, entretanto já estava farto de estar no norte e decidi ir para Lisboa, para o Atlético. Entretanto separo-me da minha ex-mulher.
Como é que surge o Farense?
Através do presidente João Rodrigues. Ele diz que não liga às idades, desde que o jogador corresponda dentro do campo. O que é certo é que os anos em que faço mais jogos são os anos em que tenho mais idade. Ele disse-me: “Conto contigo, quero que venhas para aqui. Isto é um clube histórico, vou levantar este clube”. O que é certo é que está a correr bem. Foi isso que me cativou, um presidente dizer: “Vens para aqui, eu estou contigo e confio em ti”. E, pronto, aconteceu. Vim para aqui, para a II B e estamos na II Liga, subimos.
Está com 37 anos. Faz alguma coisa de diferente para se manter em forma? Mudou alguma coisa nos seus hábitos?
Cuido-me bem. Faço uma boa alimentação, descanso. Um jogador com 37 anos tem de descansar, hidrato-me bem, tomo as minhas vitaminas e as minhas proteínas, tudo certinho às horas, para poder estar bem no jogo. E graças a Deus também nunca tive uma lesão muito grave. Porque as lesões com esta idade demoram mais a cicatrizar e a recuperação custa muito.
Está a gostar de viver no Algarve?
Estou. Entretanto casei-me outra vez. Com a Geni, que nasceu na Venezuela, é filha de pai português e mãe venezuelana. E já temos um filho, o Afonso que tem sete meses.
O que faz a Geni?
É consultora de beleza.
Já lhe passou pela cabeça a ideia de que qualquer dia tem de pendurar as botas?
Eu sei que não vou ser eterno mas ainda não me passou pela cabeça.
Sabe o que quer fazer depois?
Sim. Algo ligado ao futebol.
Treinador?
Não, director desportivo. Treinador não. Lidar com muitas cabeças não é para mim. Sou capitão do Farense este ano e as cabeças funcionam de maneiras diferentes. Dou muito valor aos treinadores porque não é fácil gerir um plantel com 30 jogadores. Um pensa de uma maneira, o outro de outra. E depois há sempre aquelas chatices e aqueles amuos. Para se ser treinador tem que se ser líder e ser um bom líder porque não é fácil.
Já fez ou tenciona fazer alguma formação na área da gestão desportiva?
Sim, vou começar a fazer porque vão surgir uns cursos. O sindicato também ajuda e vou-me informar e vou andar para a frente com isso.
Como surge a sua simpatia pelo Sporting? Afinal, começou por ser benfiquista.
Porque fui ver um jogo com o meu pai. O meu pai era muito fanático pelo Sporting e fui ver um jogo com ele, era miúdo. Não sei, foi um sentimento quando entrei naquele estádio antigo do Sporting. O meu pai levou aquelas almofadinhas, sento-me e vejo o jogo todo. Nunca tinha estado num estádio assim. E depois é um clube simpático, que não tem muita pressão, é um clube que não está habituado a ganhar muitas vezes, é um clube feliz (risos).
Onde é que ganhou mais dinheiro?
Na Rússia.
Onde é que foi investindo o seu dinheiro ao longo dos anos?
Em casas.
Nunca se meteu em nenhum negócio?
Não. Eu para me meter num negócio tenho de estar presente. Quando acabar o futebol, já estou a planear com a minha mulher, um negócio. Mas não vou dizer o quê.
Gostava de jogar até quando, tem alguma meta?
Gostava de jogar até aos 40 anos, de acabar com essa idade. Sinto-me bem, tenho feito os minutos todos, tenho estado muito bem e sou o primeiro a dizer, quando não der, quando eu sentir no meu corpo que já não consigo, sou o primeiro a dizer, já não quero mais e penduro as botas. Porque um dia vai ter que acabar.
Não tem receio de sentir saudades do cheiro do balneário, da relva...
Isso vou sentir sempre. Por isso é que passo aos jovens a mensagem de que o futebol são 10 anos para ganhar dinheiro. Há uns que se mantêm lá porque têm outro perfil, outros não. Mas enquanto andam nisto é aproveitar ao máximo. Somos remunerados, treinamos uma hora e meia, duas horas por dia e fazemos aquilo de que gostamos. Há trabalhadores que andam nas obras, têm que se levantar às cinco da manhã e dar no duro para dar de comer à família. Nós somos uns sortudos. Por isso é que há muita inveja.
Qual foi a maior extravagância que fez?
Não foi em carros. Nunca fui de carros, agora tenho um Kia. Mas comprei um relógio que me custou 5000 euros.
Tem algum hóbi? Joga Playstation?
Gosto de ver filmes, gosto de ler. A televisão é uma perda de tempo para mim.
O que é que lê?
Várias coisas. Sou muito romântico, tenho os livros todos do Nicholas Sparks. Gosto de conversar, aprendi isso com os meus pais. Estamos à mesa e eu estou a olhar para uma televisão, com a família? Não. Desligo a televisão e falo. Porque são esses momentos que temos para conversar.
Há algum outro desporto que pratique ou que siga com atenção?
Gosto muito de ténis. Jogo com a minha mulher que também joga bem.
Tem algum tenista favorito?
O Federer.
Não sente falta da confusão de Lisboa?
Não, a melhor coisa que me aconteceu foi vir para Faro.
Qual é a sua maior frustração no futebol?
Nenhuma, não tenho.
Conquistou algum título?
Conquistei o campeonato com o Jorge Jesus, ele pôs-me a jogar a 10 minutos do final.
Mas não sabe à mesma coisa pois não?
Claro que não. Fui campeão da II Liga pelo Santa Clara, subimos à I. Ganhei com o Quique Flores a Taça da Liga, duas vezes.
Qual foi o título que lhe deu mais gozo?
O Torneio de Toulon, de sub-20. Já não éramos campeões há 10 ou 12 anos. Senti uma sensação muito boa.
Quando fez a primeira tatuagem e quantas tem?
A primeira foi quando nasceu a Maria Inês, é uma coroa. Depois fiz o diamante que é o Francisco, depois tenho um relógio com a hora a que eles nasceram os dois. Tenho o meu nome. Tenho as alianças deste último casamento e a data. E tenho o meu outro filho que é o arcanjo Miguel, o anjo poderoso, e a data de nascimento Afonso. Tenho o nome da minha atual mulher, com umas orquídeas que ela gosta muito. Estão todas no meu braço direito. E tenho um escorpião, que é o meu signo, num gémeo da perna."