sábado, 12 de janeiro de 2019

Cadomblé do Vata

"1. Adversário vermelho e branco, relvado horrível e iluminação deficiente... só faltou o Milovac no centro da defesa para se celebrar hoje o regresso do Salgueiros à 1ª Liga.
2. Segundo golo nasce de um canto extremamente bem batido pelo Pizzi... o Pedro Henriques bem avisou que o relvado podia alterar a trajectória do esférico nas bolas paradas.
3. Massacre absoluto nos primeiros 15 minutos da segunda parte, que deixaram a goleada refém de facilitismo na finalização... eles chamam-se Santa e jogavam em Casa, mas nós é que tivemos a Misericórdia.
4. O que mais se ouviu no início da segunda parte, foram lagartos a dizer "ora porra, contra 10 é fácil"... depois levaram com uma trivela do Tomané na testa e calaram-se.
5. Gabriel fez uma excelente exibição e por isso vai estar indisponível para jogar em Guimarães na terça feira... vai ficar retido nos Açores durante uma semana, para ser sujeito a todos os testes de anti doping possíveis e imaginários."

Vermelhão: Melhorias...

Santa Clara 0 - 2 Benfica


De facto, houve melhorias em São Miguel. A semana passada, na Luz, ganhámos ao Rio Ave, mas defensivamente, tínhamos deixado muitas interrogações em aberto. Hoje, é verdade que o Santa Clara não tem o potencial ofensivo do Rio Ave, é verdade que ficámos a jogar em superioridade numérica no final da primeira parte, mas as melhorias foram evidentes...

Mantivemos o 442, mas com o Pizzi na direita (como nos 'velhos' tempos!), com o Zivkovic na esquerda, e com o Gabriel ao lado do Fejsa. A entrada do Gabriel parece que foi a meu pedido, dentro do plantel é claramente o jogador que tem melhores características para ser o parceiro do Fejsa no meio-campo no 442: pois tem a capacidade de passe, tem o sentido posicional necessário e tem presença física... Se a atitude for positiva, nos jogos fora da Luz, e nos desafios de grau de dificuldade mais alta, será titular...
Fomos sempre a melhor equipa, o Odysseas não foi obrigado a muito trabalho, o resultado só não foi mais pesado, porque os avançados tiveram perdulários... Mesmo 11 contra 11, o jogo estava inclinado para o nosso lado... Após a expulsão do Fábio Cardoso, tudo ficou ainda mais fácil...

A primeira substituição (Zivko pelo Salvio) acabou por ser negativa. A equipa perdeu ligação e objectividade. É verdade que naquele momento já estávamos em modo gestão, mas o Salvio voltou a entrar mal na partida...

O lance capital foi mal avaliado: Capela marcou penalty e deu Amarelo ao Fábio (até aqui tudo bem!). O VAR chamou-o, ele foi ver a repetição, e fez 'merda'!!! As faltas por agarrão devem ser marcadas, no local onde acaba o agarrão, mesmo não sendo totalmente claro, parece-me que o agarrão terminou dentro da área... A avaliação do Capela até tinha sido correcta. Mas com o VAR mudou, para livre directo fora da área, e deu Vermelho ao Cardoso!!! Primeiro, como o VAR só deverá alterar a decisão de campo, se as as imagens forem irrefutáveis, algo que neste caso não aconteceu, errou... E o Vermelho, também foi mal mostrado, pois o Pizzi não estava isolado, deveria ter mantido o Amarelo!!! A questão da tripla-penalização, aqui não se coloca, pois a falta dentro ou fora da área, é para Amarelo!!!
Pura incompetência do Capela... acabou por cometer um erro grave para cada lado, na mesma jogada!!! Penalty por marcar a favor do Benfica; Vermelho mal mostrado ao Santa Clara!!!
A única má notícia da noite, acabou por ser o 5.º Amarelo do Rúben Dias, que assim vai faltar o jogo do Campeonato em Guimarães. Nos últimos minutos, houve oportunidade para 'expulsar' o Rúben, para ele não jogar a partida da Taça de Portugal, na Terça, em Guimarães, e jogar na Sexta para o Campeonato, e a 'decisão' foi não 'gerir' os Cartões. Concordo com a decisão, até porque se o Rúben fosse expulso, ficaria com 4 Amarelos e nas próximas jornadas seria novamente amarelado, e seria castigado... e com um Sporting-Benfica a chegar!!!

Uma nota final sobre o jogo, para a Liga: marcar um jogo do Benfica nos Açores, para as 18h de uma Sexta-feira, com somente uma semana de antecedência, quando se sabia que havia várias ligações tanto do Continente, como da América do Norte, à espera de uma data... além dos Benfiquistas das outras Ilhas Açorianas... é simplesmente ridículo!!! É demasiado mau para ser incompetência!!! Parece que a Liga não quer que o Benfica encha os Estádios, preferem bancadas vazias!!! Esta azia, anti-Benfiquista, é miserável...

O calendário não dá descanso, os próximos dois jogos em Guimarães, serão decisivos... O Bruno Lage, está a tomar excelentes decisões na preparação dos jogos (as substituições mais ou menos), está a ganhar 'espaço' e creio que são cada vez mais Benfiquistas a pedirem a sua continuação... Independentemente do grau de dificuldade do jogo de hoje, parece-me óbvio que a equipa está a jogar melhor: mais junta, mais colectiva, mais organizada, mais objectiva, com mais criatividade ofensiva... E tudo isto, com poucos treinos, e muita pressão em cima e sem o nosso melhor marcador/jogador...
E a tendência é para melhorar ainda mais...!!!

Bom jogo...

Azeméis 1 - 7 Benfica

O Azeméis tentou surpreender a jogar 5x4 desde de início, mas acabámos por marcar logo nos primeiros segundos!!!
O 1-2 ao intervalo não nos deixava descansados, mas acabámos por dilatar o marcador ao longo do 2.º tempo com confiança...

Hoje 'descansaram' o Fernandinho e o Tolrá.

Com a eliminação dos Lagartos, somos ainda mais favoritos... mas é preciso ter cuidado, amanhã vamos ter que defrontar o Modicus, que tem mais um dia de descanso e é claramente o adversário mais complicado que ainda está em prova...!!!

Nova página

"As exibições eram o maior problema do Benfica de Rui Vitória. No Benfica por vezes ganhar não chega. Jogar bem é muito importante.

O consulado de Rui Vitória é francamente positivo. Nenhum adepto com realismo pode considerar mau ter ganho seis troféus em pouco mais de três anos. Dois campeonatos nacionais, uma Taça de Portugal, uma Taça da Liga e duas Supertaças em três épocas completas é um bom desempenho. O maior problema no Benfica orientado por Rui Vitória não era tanto a situação em que se encontrava desportivamente - luta directamente por quatro provas, três das quais sem qualquer desvantagem face à concorrência. As exibições e a expectativa gerada por essas exibições eram os maiores problemas. Depois um excelente jogo, vinham três jogos descoloridos, nos quais nem as vitórias por vezes disfarçavam o desconforto. Ganhar é sempre o mais importante para os adeptos, mas no Benfica isso por vezes não chega. Há largos sectores de adeptos onde ver o Benfica jogar bem é muito importante. Este ano jogámos bem a espaços (por exemplo contra o SC Braga) e depois desaparecia o Benfica de qualidade. Rui Vitória fez connosco uma travessia de sucesso e ficará na história do Benfica. Para quem duvidava da sua qualidade e reconhecimento é também uma vitória o contrato milionário que parece ter na Arábia Saudita. Quem serve com profissionalismo e dedicação o Benfica é reconhecido no mundo todo.
Virámos a página e Bruno Lage conseguiu uma vitória frente a um Rio Ave atrevido, que não deixou de evidenciar muitos dos problemas do Benfica desta temporada. Num jogo estratosférico de Seferovic e João Félix, não podemos deixar de reconhecer várias fragilidades no processo defensivo que permitiram primeiro ter o adversário a vencer 2-0 na Luz e, depois do 2-2, ter o mesmo adversário duas excelentes oportunidades para nos causar dano. Gostei de ver o Benfica em 4x4x2, mesmo sabendo os riscos que isso traz.
Nos Açores, temos de manter o melhor do Benfica do último fim de semana e começar a corrigir o que sabemos estar menos bem, até porque na terça-feira temos em Guimarães o jogo mais determinante da época até ao momento. Vencer o jogo da Taça de Portugal em Guimarães coloca o Benfica a 180 minutos do Jamor, perto de um troféu, e vai ser muito complicado o jogo de terça-feira. Bruno Lage tem a palavra, os benfiquistas apoiam e desejam êxitos rápidos e alegrias imediatas, no futebol o longo prazo é hoje."

Sílvio Cervan, in A Bola

Cadomblé do Vata (Utopias!!!)

"No seguimento da queixa do SL Benfica, devido à publicação dos emails privados do clube no Porto Canal, o FC Porto vai-se sentar no banco dos réus. Convenhamos que esta não é uma situação virgem para o clube nortenho, tal como não eram a fruta e os rebuçadinhos para dormir, que lhes custaram a visita mais mediática ao referido assento. Mais do que ser o regresso ao lado errado do tribunal cível, o que o SL Benfica vai proporcionar, é o reencontro entre velhos amigos. Pena o Henrique Mendes já ter falecido, pois seria o juiz indicado.
A história que deu origem a este epílogo, já toda a gente sabe: um super herói pro-bono do lado negro da internet, uma espécie de Batman do binário web, acedeu aos servidores do Benfica, vasculhou à vontade, retirou tudo o que quis e entregou ao FC Porto, para que estes, à luz da imensa gravidade do conteúdo, e conforme é habitual com pessoas que têm em mãos, irrefutáveis provas de crime, tornassem pública a correspondência electrónica, em vez de a entregarem à PJ.
Não sejamos ingénuos, estando o processo a decorrer no Tribunal do Porto, a condenação do clube sediado na mesma cidade é uma utopia. Por muito que o SLB se esforce por provar que os email sobre o Bernardo Silva só tem como interesse deixar os adeptos Gloriosos a chorar por já não o terem na sua equipa, que a reclamação da Magda foi retirada tão facilmente do contexto como as suas bolachas da gaveta e que a contratação do Nhaga é truncada e nunca foi trancada, a indemnização nunca vai chegar à Catedral.
Para quem anda há largos anos nisto, só vem curiosidade do processo pelo histórico de desculpas esfarrapadas saídas do Dragão, que resultam. O que todos os adeptos do futebol nacional anseiam é por saber quais são os sucessores das "visitas de aconselhamento matrimonial" ou da grave lesão bruno-costiana, que folgo em saber, já está ultrapassada. Ficando aqui o meu sucesso refém da criatividade andrade, aposto em 3 possíveis cenários: isto é tudo um problema do Porto Canal que não pertence ao FC Porto; quem paga o programa Universo Porto é o Turismo do Porto, pelo que é a eles que as responsabilidades devem ser assacadas; os emails estavam na posse do FC Porto há tanto tempo, que já lhes pertencem por usucapião."

Pode alguém ser quem não é?

"A pergunta está num dos estribilhos repetidos muito típicos das canções de Sérgio Godinho e ocorre-me vezes inúmeras a pretextos vários. A propósito de futebol e treinadores, lanço recorrentemente a pergunta em grupos de amigos: o que é que um treinador treina melhor? A resposta que busco ninguém a dá, de tão básica e absurda na aparência: é aquilo que sabe treinar. Mas é mesmo assim. Os argentinos ensinaram-nos há décadas que ambos podem ter sido campeões do mundo mas Menotti é uma coisa e Bilardo outra distinta, dividindo o mundo das ideias de jogo entre menottistas, falangistas do futebol-poema, e bilardistas, seguidores do que eufemisticamente chamamos pragmatismo. Não se peça a Guardiola que entregue a iniciativa de uma partida, não se reclame a Klopp que procure a pausa como regra, não se exija a Simeone que jogue no risco de uma defesa adiantada. E, todavia, todos são indiscutivelmente competentes. Pode alguém ser quem não é?
São muitas as circunstâncias em que se reclama de um treinador que promova a mudança, altere o sistema, troque jogadores, no limite “faça qualquer coisa”. Raramente se lhe coloca a pergunta anterior: será ele capaz de mudar? Conhecerá outro caminho e acreditará nele? O futebol pode ser apenas o exemplo mais fácil de tirar do bolso, porque recorrente desbloqueador de conversa, seja num elevador ou num táxi. Mas sugerir a um treinador que mude simplesmente não será muito diferente do que reclamar de um prosador que se torne poeta só porque lhe saiu mal o último romance, ou sugerir a um reputado ortopedista que quando farto de cirurgias longas e sangrentas passe a corrigir cataratas a laser.
A reflexão surge a pretexto da saída de Rui Vitória do Benfica, mas poderia ter ocorrido quando Peseiro deixou o Sporting, Mourinho o Manchester United ou Lopetegui o Real Madrid. O essencial da relação de um treinador com um clube estabelece-se no momento em que se celebra o contrato, como o bom negócio de uma habitação está, por regra, mais ligado ao momento da compra do que ao da venda. Mesmo quando um clube cede um treinador e recebe dinheiro por isso, o mérito fundamental está no momento em que optou por ele, antes que outros lhe percebessem todas as competências. Aristóteles dizia há uns dois mil e quinhentos anos que “o segredo do sucesso é saber algo que mais ninguém sabe”.
Pergunta seguinte: o que se pode saber de um treinador na hora de o contratar, se os currículos são públicos mas não falam, se há registos de resultados e trajectos mas não de convicções? Há anos que repito ser a escolha do treinador o momento mais determinante para aproximar do sucesso um clube ou uma SAD. Não duvido, por exemplo, que a opção por Sérgio Conceição foi decisiva para os dias felizes que vive o Futebol Clube do Porto. E foi muito mais que pelas competências técnicas, de pensar jogo e treino, do que pelas mais óbvias, de personalidade do técnico ou percurso anterior no clube. Acredito muito mais, sobretudo a prazo, na força de uma proposta de jogo do que em promessas de mentalidade ganhadora. A liderança só se percebe no contraste com a realidade. Quantos já lidámos com pessoas de liderança cantada e que vieram a revelar-se desilusões absolutas? Quando se contrata um treinador não há entrevista que lhe avalie definitivamente o carácter, já a proposta de jogo (e de treino, que a coisa não se desliga) pode ser esmiuçada como os sufrágios dos Gato Fedorento.
Resumidamente, pode jogar-se seguindo três grandes caminhos: assumindo o jogo com bola (bons exemplos são Manchester City, Chelsea ou Shakhtar), procurando um futebol ofensivo mais direto, mais vertical do que horizontal, feito de duelos e acelerações sucessivas (Liverpool na Europa, Porto à escala portuguesa), ou privilegiando a organização defensiva com aposta no contra-ataque (Atlético de Madrid ou várias selecções quando em competições de duração curta e risco grande). E, muito importante, pode sempre jogar-se bem ou mal dentro de cada um desses caminhos, por haver uma infinidade de formas para construir cada “jogar”, sempre operacionalizado (palavra da moda mas que só neste contexto faz sentido) a partir do treinar. No treino constrói-se o jogo, no jogo percebe-se o treino. Quem acreditar ainda que uma grande equipa se obtém como um pudim instantâneo, juntando bons jogadores a um treinador com capacidade para gerir emoções, de duas uma: ou vive ainda no futebol do século XX ou acredita que o Real Madrid pode ser replicado como um franchise barato.
A propósito, em Madrid questiona-se hoje a estratégia do presidente Florentino, que tem valido Champions em série mas que só rendeu dois títulos espanhóis nas últimas 10 Ligas — contra sete do rival Barcelona —, ao ponto de quase se desejar mais um sucesso interno do que um quarto exemplar seguido da orelhuda taça europeia. O Bayern de Munique, comprador de todos os talentos alemães e gordo de seis títulos seguidos na Bundesliga, vacila após a chegada da ideia sedutora de Lucien Favre a Dortmund. Do mesmo modo se percebeu depressa que o génio de Sarri estava a construir um novo Chelsea, mais competitivo e sedutor, como em Espanha Quique Setién impacta com um futebol de romance que coloca o Betis na rota europeia. Em Portugal há Luís Castro e um Vitória de Guimarães sem estrelas, mas de colectivo trabalhado com critério e à minúcia, como já se lhe vira em Vila do Conde e em Chaves. Com mais tempo, qualquer treinador terá mais condições de mostrar serviço, mas os melhores são os que mostram serviço em pouco tempo.
Não se pode dizer que Rui Vitória falhou no Benfica — que um bicampeão nunca falha definitivamente —, mas sai pela esquerda baixa porque verdadeiramente não foi capaz de construir uma ideia de jogo própria, convicta e eficaz. A equipa foi sempre um misto de herança táctica (de Jorge Jesus), talento individual e arte do treinador cessante na gestão do grupo. Deu para títulos nas primeiras épocas, mas percebeu-se cedo que o rendimento colectivo estava em plano inclinado, algo de que as sucessivas carreiras na Europa elucidam sem ambiguidade, mesmo se muitos demoraram a percebê-lo. Para uns quantos, aliás, ainda hoje parece linguagem exótica falar de fragilidade do processo de jogo, mesmo se traduz o mais básico e essencial: a competência colectiva sobre como actuar nos momentos de ataque e defesa (e que estão sempre ligados, que futebol não é andebol). Só em cima da organização táctica deve brilhar (e brilha mais) o talento, que a ela se acrescenta, não a precede. Ninguém percorre o caminho certo, por muito sentido de orientação que tenha, sem saber onde quer chegar. O destino pode ser rumo, mas também é fado. Sem rumo definido, é fado triste. 
Muitos reclamaram, sobretudo no último par de meses, que Rui Vitória mudasse, na ilusão de que fora a alteração de sistema — de 1-4-4-2 para 1-4-3-3 — na época anterior que lhe valera alguma recuperação de rendimento. Não foi, mas isso agora também não interessa muito. A questão é que não se pode pedir a alguém que faça o que não conhece, não acredita ou simplesmente não aprecia. Nunca o fará bem. Ninguém é quem não é!"

A escolha dos jogadores, os modelos de jogo, as dificuldades e as incidências do jogo: o clássico de Keizer e Conceição

"Escolha dos jogadores
Marcel Keizer estreia-se nos jogos “grandes” contra o FC Porto. E se temos vindo a desfazer algumas dúvidas relativamente ao que o treinador pretende dos jogadores, e à forma como reage às incidências do jogo, nos jogos grandes ainda não o vimos. Teremos que esperar para perceber se irá manter a estrutura no onze inicial ou se poderá ter uma abordagem mais cautelosa. Não apenas na escolha dos jogadores, mas na forma como vai tê-los posicionados em campo.
Nos jogos grandes, Sérgio Conceição tem variado a composição da equipa, na forma como coloca os jogadores em campo. Se houve jogos em que optou por manter o sistema habitual, noutros o 1-4-3-3 foi a escolha. Mesmo que por vezes tenha optado pelos dois avançados habituais no onze inicial, Marega ocupava o corredor do lado direito, e entrava mais um elemento para o meio-campo.
Tendo em conta o momento de maior confiança que o FC Porto vive, e o momento do Sporting, o treinador portista deverá optar pelos jogadores habituais, no sistema de jogo habitual, podendo dessa forma tirar maior proveito das fragilidades do Sporting.

Modelos de jogo
O Sporting tenta construir uma identidade onde os jogadores ataquem de forma diferente da que estamos acostumados a ver por cá. Quer utilizar os três corredores em todas as fases do jogo, e fugir dos passes habituais do lateral para o extremo ao longo da linha. Está a tentar impor uma forma de atacar que não é tão óbvia para os jogadores e tenta defender-se reagindo rápido à perda.
O FC Porto é mais conservador: não arrisca tanto em zonas mais próximas da própria baliza e no meio-campo defensivo raramente tenta ligar pelo corredor central. No meio-campo ofensivo, já procura variar mais do que no passado os movimentos de ruptura dos avançados com os de aproximação. E tem em Brahimi o elemento preponderante para ligar o jogo entre a construção e a criação, uma vez que Óliver Torres, como se previa, deixou de ser opção regular.
São duas equipas que, apesar de não se parecerem na forma como tentam atacar, fazem tudo rápido. O FC Porto mais do que o Sporting, por força das características dos jogadores e do que o treinador pede; o Sporting talvez por não ter ainda percebido que velocidade Keizer quer, e em que situações quer mais rápido ou mais lento.

Dificuldades
O Sporting tem experimentado dificuldades em impor o jogo que quer fazer porque os adversários têm-lhe fechado canais que estavam sempre abertos em momentos anteriores. Mas, não é por os adversários saberem o que os outros vão fazer que os conseguem parar. Ou melhor, é também por isso, mas a razão fundamental não é essa.
Veja-se o FC Porto, com o tempo que o treinador tem e com grande parte das dinâmicas a manterem-se, que consegue sempre de alguma forma romper e criar situações para marcar. Em organização, transição ou nas bolas paradas. Mas consegue colocar os avançados na cara do golo em quase todos os jogos, diversas vezes.
O problema do Sporting é que o treinador e os jogadores ainda estão a conhecer-se e a adaptar-se uns aos outros. Por isso, os timings e a percepção das situações não são os melhores. E há outro problema: a qualidade dos jogadores. Para expor tanto os laterais como Keizer quer, eles teriam que ser jogadores de um nível diferente. Isto é, que ajudassem a equipa a defender com bola. Não o sendo, não só colocam em causa as situações de ataque, que resultam em perdas quando a bola lhes chega aos pés, como depois não estão tão preparados para fechar o espaço e ajudar os jogadores mais recuados na transição defensiva.
É por aí que o FC Porto tentará atacar, explorando a velocidade dos seus avançados. Como não se importa de não ter a bola, vai ganhar espaço para que a melhor característica de Marega apareça e pode por aí destruir um Sporting à procura do encontro perfeito entre treinador e jogadores.
Porém, também o FC Porto poderá sofrer com a forma pouco convencional como o Sporting ataca, uma vez que a sua organização defensiva costuma permitir muitos espaços. Ainda que num jogo destes a concentração esteja no máximo, devem aparecer espaços entre os defesas e os médios e entre Danilo e o(s) outro(s) médio(s). O FC Porto não sofre tanto porque os adversários não têm tido capacidade para expor as suas dificuldades defensivas e também porque tem monstros do ponto de vista físico lá atrás.

Incidências do jogo
O Sporting deverá ser a equipa mais afectada caso o marcador esteja desfavorável, porque tem demonstrado em jogos passados não reagir nada bem quando fica em desvantagem. Como a identidade ainda está longe da solidez que se necessita para que a equipa esteja tranquila em momentos de aperto, o jogo cai drasticamente. Deixam de jogar o jogo que treinam e passam a jogar um jogo onde a única solução é colocar o mais rapidamente possível a bola na área. Mesmo Keizer deu um sinal nesse sentido contra o Tondela, quando tira Nani para colocar em campo André Pinto. Porém, em vantagem, o Sporting pode ganhar balanço para uma exibição de bom nível.
Já o FC Porto, tendo em conta o momento excepcional que vive, com as 18 vitórias consecutivas, com a confiança que respira, deverá manter-se igual a si próprio. À imagem do seu treinador. O tempo de trabalho e o sucesso anterior fazem com que esteja bem vincada a personalidade da equipa e o treinador sorri porque conseguiu convencer o seu grupo a segui-lo. Mesmo no treino, os jogadores exigem uns dos outros que sigam determinada linha e determinado padrão comportamental para que possam chegar todos, juntos, ao mesmo destino. Não apenas por ser essa a exigência do treinador, mas sobretudo por perceberem que é a melhor forma de tirar partido e de elevar as características da maior parte deles."

"Regime jurídico põe fim à estabilidade dos contratos de trabalho desportivo"

"A legislação portuguesa desprotegeu a estabilidade dos contratos de trabalho entre um praticante desportivo profissional e a sua entidade empregadora (os clubes ou as sociedades desportivas). De tal forma que, se os emblemas mais poderosos da Europa quiserem, podem convencer qualquer atleta, sobretudo os futebolistas, a rescindir sem justa e fazer as contas mais tarde.

Na primeira parte desta crónica, analisámos o problema da extinção da Comissão Arbitral Paritária (CAP), sendo que importa agora prosseguir com o "protesto" à controvérsia actual no domínio laboral desportivo, que, como se explicou, está marcada por um contexto legal muito duvidoso e controverso, que cremos seria de evitar.
Dispõe o art. 27.º, n.º 3 do novo Regime Jurídico do Contrato de Trabalho do Praticante Desportivo que "o vínculo desportivo tem natureza acessória em relação ao vínculo contratual e extingue-se com a comunicação prevista no presente artigo, podendo ser registado novo contrato, nos termos gerais". 
Explicitando, o jogador ao celebrar um contrato de trabalho desportivo fica obrigado a cumpri-lo, pelo prazo estipulado. Todavia, caso pretenda extinguir o contrato antes do termo, o legislador entende que, desde que cumpra a comunicação à federação desportiva que registou o contrato, o mesmo poderá registar um novo contrato de trabalho desportivo a favor de um outro clube.
O praticante desportivo gozará, assim, de total liberdade de trabalho, sem prejuízo de a demissão vir a ser considerada irregular ou ilícita e ter que responder e indemnizar a anterior entidade empregadora. Sendo que a responsabilidade indemnizatória se poderá estender ao terceiro que o venha a contratar. 
Ora, até à entrada deste novo regime jurídico, a desvinculação desportiva só ocorreria existindo justa causa para a rescisão contratual, que seria apreciada pela Comissão Arbitral Paritária da LPFP e do SJPF no caso do futebol profissional.
Com todo o respeito, por opinião contrária, sendo a liberdade de trabalho indubitavelmente um valor fundamental, parece-nos que este artigo olvida que o contrato de trabalho desportivo é um contrato especial que foi configurado como um contrato com um termo estabilizador. Ora, esta nova disposição põe fim à estabilidade dos contratos de trabalho desportivos, que não visa a salvaguarda da protecção dos interesses dos praticantes, mas sim a protecção do fenómeno desportivo e competição profissional.
Parece-nos uma disposição muito perigosa, que tem sido pouco discutida, mas que poderá ter como consequência a perda de valor de transacção entre clubes dos contratos de trabalho desportivos. Que poderá levar à perda do valor comercial dos próprios clubes e, consequentemente, das suas competições. Poderá originar um aumento substancial de litigiosidade e conflitualidade entre clubes. Acarreta o perigo de surgimento de novos agentes desportivos que irão aliciar os jogadores, convencendo-os que não precisam de honrar o compromisso assumido e incentivando-os a promover a rescisão do contrato.
Finalmente, certamente que existirá um incremento das debilidades económicas dos clubes nacionais, face aos poderosos clubes estrangeiros que, conhecendo esta disposição e tendo poderio económico, poderão aliciar os melhores activos dos clubes portugueses a rescindir os contratos sem justa causa, assumindo o ressarcimento da entidade empregadora lesada com tal ruptura antecipada do contrato de trabalho. O poder financeiro dos grandes clubes aumentará o fosso entre ricos e pobres.
Com este novo paradigma, a desvinculação desportiva passa a ser imotivada, o que pode perigar o próprio fenómeno desportivo profissional, onde os clubes economicamente mais poderosos podem ir buscar os melhores praticantes desportivos, criando um desequilíbrio competitivo. Este desequilíbrio já é patente, não devendo ser incentivado com disposições como a do art.º 27.º, n.º 3.
Por outro lado, temos assistido passivamente a situações de fraude do sistema do Fair Play Financeiro da UEFA, que não devem ser acobertadas e devem ser frontalmente combatidas.
Deveríamos tomar por exemplo o que se passa nos EUA, para quem o espectáculo desportivo só tem a ganhar com medidas que asseguram um maior equilíbrio entre equipas. Existe assim, a imposição de tectos ou limites salariais e o "player draft system", que se trata de um processo de seleção de novos jogadores para as principais ligas - MLB (Major League Baseball), NBA (National Basketball Association), NFL (National Footeball League) e NHL (National Hockey League) -, estando os clubes, na hierarquia de posição na escolha de jogadores, posicionados inversamente à ordem de classificação obtida na época anterior.
Pelo que, o clube classificado em último lugar, na respectiva liga, tem o direito, no "draft", à primeira escolha do jogador que pretende para a sua equipa. O "draft" garante que nenhuma equipa possa inscrever todos os melhores jogadores, espalhando o melhor talento e mantendo a liga competitiva. Tal levou a que, nos últimos 15 anos, tenham existido onze vencedores diferentes da Super Bowl (futebol americano). Já para não falar na aposta na formação e que desenvolve muitos talentos locais. Nos EUA, os clubes patrocinam ou desenvolvem parcerias com universidades para concorrer com as academias de formação, por forma a descobrir os jogadores com melhores aptidões.
Gostaria muito que se fizesse uma profunda reflexão acerca do modelo de competições que queremos ter, começando-se pela discussão da inovação trazida por este artigo 27.º, n.º 3 do Regime Jurídico do Contrato de Trabalho do Praticante Desportivo."

Acordei aos 66 anos numa realidade desportiva diferente da actual

"Acordei aos 66 anos numa realidade desportiva diferente da actual. O Desportista e o seu valor eram reconhecidos no país pelo mérito desportivo. Esse valor, construído e cultivado pelo sistema desportivo nacional, resultaria de uma fábrica de competência e seria “utilizado” orgulhosamente pelo país como estandarte social e sectorial, paralelamente a outras áreas, como a literatura ou a música.
Nessa realidade eram claras e transparentes as modalidades e os formatos em que os desportistas das mais diversas realidades sociais se poderiam inscrever, e sobretudo cuidar essa oferta para os jovens e para os mais idosos. Com regras claras, patrocinadas pelo Governo como principal interessado em servir a sociedade portuguesa de uma forma mais consciente e eficiente.
Os Media sabiam sobre Desporto e Cultura Desportiva, e competiam pela visibilidade dos seus canais pela técnica, com competência, e pelo conhecimento gerado a partir da especialidade das modalidades que acompanhavam, e não pela criminalidade e pela investigação policial.
O Desportista conseguia ver um caminho, ver que percurso seguir, perceber que fazia todo o sentido continuar a praticar desporto, o seu desporto, independentemente de ter conseguido ser campeão do mundo, ou somente utilizado o desporto como fonte de vida e de bem estar. Conhecíamos o valor do desporto na sociedade portuguesa e o seu contributo para a actividade económica do país.
Nessa realidade, 60% da população portuguesa praticava desporto, tinha duplicado o número de entidades gestoras e/ou produtoras de actividade desportiva, sabíamos exactamente os números de atletas olímpicos, paralímpicos, federados, não federados, masculinos e femininos, em qualquer prática desportiva, mais social ou mais competitiva, conhecíamos a actividade económica gerada pelo suporte às actividades desportivas, à recuperação de lesões, ao investimento da sociedade em Desporto.
Conhecendo a importância do desporto na actividade económica do país era fácil negociar com o Ministério das Finanças, Autoridade Tributária ou a Inspecção Geral de Finanças, porque todos conheciam as regras do jogo e o peso do desporto na Economia, poderíamos deixar de jogar ao jogo do gato e do rato e concentrarmo-nos naquilo que cada "entidade" desportiva sabe fazer: o atleta é competir, o treinador é treinar, o árbitro é regular o jogo e os organizadores é realizarem eventos. 
Voltei à nossa realidade, em que faltam cultura e ética desportivas à sociedade portuguesa e volto a encontrar:
* 69% da população portuguesa não pratica desporto
* Portugal começou a ser identificado no mundo contemporâneo apenas com Cristiano Ronaldo
* Em Portugal existem cerca de 25 mil entidades que "produzem” desporto
* Portugal não sabe quantos praticantes desportivos tem (estimam-se cerca de 700.000 federados e 2,100,000 praticantes desportivos não federados)
* No triénio 2010-2012 (números não actualizados pelo INE desde então, e claramente sub-avaliados) a actividade desportiva do país contribuiu em média com 1,2% do Valor Acrescentado Bruto (VAB) e 1,4% do Emprego criado
* Os números do Turismo nacional englobam o turismo Desportivo, sem que o Desporto reivindique essa enorme fatia do seu peso na Economia.
Voltei a acordar aos 42, mas continuarei a lutar para que aos meus 66 anos seja muito melhor praticar desporto do que aquilo que é hoje."