quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

Aviso...

"UEFA e Associação Europeia de Clubes estão a preparar alterações ao formato da Liga dos Campeões. De acordo com o jornal alemão Bild, algumas dessas alterações prometem suscitar grande polémica...de entre elas, a intenção de disputar os jogos da Champions aos fins de semana, para obter maiores audiências, nomeadamente em países cuja diferença horária, como a China, permita aos espectadores assistir em directo aos jogos.
Essa alteração provocará um pequeno sismo na forma como são disputadas as competições internas, porque os jogos das equipas participantes na Champions terão de ser realizados durante a semana. De resto, o que está previsto é impor a redução de equipas participantes nas competições domésticas, já que também a fase de grupos será remodelada, deixando de ser distribuída por oito grupos de quatro equipas, passando o alinhamento das equipas a ser feito por quatro grupos de oito equipas, o que obrigará à realização de um mínimo de catorze jornadas, antes da fase decisiva da competição."

Prémios e castigos de toda a espécie

"Os casos que têm envolvido o Benfica estão a frutificar abundantemente no julgamento dos árbitros nos jogos dos rivais

1. Entre os muitos galardões planetários (ou quase) para os melhores do futebol - tantos que, confesso, preciso de uma cábula para os distinguir entre o 'melhor do Mundo', o 'Bola de Ouro', ou outros similares, afins e correlativos - tivemos, agora, o que creio ser o último prémio do ano. Sem surpresa, ganhou o médio croata Luka Modric, em consonância com troféus recebidos nos cerimoniais anteriores.
Deixando de lado o portuguesismo de trazer por casa, gostei da atribuição deste ano. Em primeiro lugar, porque estancou a hemorragia de discussões patrioteiras ou interesseiras do duo Ronaldo/Messi, já difícil de suportar depois de mais de uma década (aliás, justificada) de ora ganhar tu, ora ganho eu, eu ganhei mais do que tu, tu ganhaste menos do que eu... Em segundo lugar, porque este ano o critério não se limitou a avançados, como estava a ser a regra intransponível. É que todos os outros lugares numa equipa têm sido menorizados no restrito pódio dos eleitos e dos ungidos, dando a ideia de que o 'football association' que ainda sendo futebol ou ludopédio, até parece que já deixou de ser associativo em que todos têm o seu contributo, marcando, defendendo, construindo, destruindo. Há muito tempo um atleta, que não propriamente um goleador, não vencia. Jogadores houve nos últimos tempos que foram injustamente eclipsados pelo duo luso-argentino, só porque não jogam à frente. De repente, lembro-me dos geniais Xavi Hernández e Andrés Iniesta, ou dos icónicos guarda-redes Gianlugi Buffon e Manuel Neuer. Em terceiro lugar, porque, no caso de Modric, era a última oportunidade para este jogador de 33 anos alcançar o merecido tributo, pelo seu talento, inteligência e capacidade, seguindo o seu caminho sem alardes de vedeta, sem estilo metrossexual, com exemplaridade, trabalho e humildade incompatíveis com os egos e tiques de vedetismo. Um rapaz simples, casado e pai de 3 crianças, refugiado com os pais aquando da tenebrosa guerra dos Balcãs, e que soube chegar ao topo sem deslumbramentos tontos.
Messi teve uma época longe do seu apogeu, seja em termos individuais, seja em termos colectivos (Barcelona e Argentina), ainda que tenha ganho a 'Bota de Ouro' para o melhor marcador das ligas europeias. Ronaldo acompanhou Modric na conquista europeia e mundial do Real Madrid, mas foi superado por ele no Mundial onde a Croácia, pequeno e fustigado país, alcançou o título de vice-campeão. Ora, se se tem dito que um critério fundamental para se ganhar o ceptro é o das conquistas dos clubes ou selecções onde os candidatos se inserem - lógica que, contudo, eu não acompanho - temos de convir que o croata foi melhor.
Por último, dois aspectos pouco simpáticos relacionam-se com Ronaldo e seu séquito. De novo, o nsso compatriota não foi à cerimónia de atribuição dos galardões. Foi pena, porque daria um bom exemplo de como um grande e crónico ganhador também sabe estar ao lado de um colega de profissão que alcança o tão almejado prémio. Acresce que, neste caso, até foram companheiros no mesmo Real Madrid, durante a temporada que este na base da escolha. Entretanto, o por vezes tonitruante clã Aveiro vociferou nas redes sociais, não disfarçando o tique exclusivista do prémio e destilando, entre impropérios indignos de quem se quer dar ao respeito, sentimentos de ressentimentos e inveja. Ainda que noutros termos um pouco mais urbanos, o seu empresário Jorge Mendes também achou por bem bater nos votantes, considerando a decisão 'pura e simplesmente ridícula'. Os mesmos, ou quase os mesmos votantes que atribuíram (e bem) vitórias a Ronaldo são agora acusados de impreparação ou de manipulação. Tudo isto acicatado por uma mediatização exponencial como se estivéssemos a tratar de uma questão de soberania nacional... Valha-nos Santa Engrácia!

2. Se dúvidas houvesse, estão a desvanecer-se À medida que o campeonato prossegue. Os casos que têm envolvido o Benfica estão a frutificar abundantemente no julgamento dos árbitros dos jogos dos principais rivais. Num ponto, Porto e Sporting estão irmanados na convergência dos benefícios arbitrais sobre penáltis 'au moment' ou 'à la carte'. De um lado, o FCP que, jogando bem ou jogando mal, parece seguro de que assinalar-lhe um castigo máximo é coisa que não passa pela cabeça dos árbitros e, muito menos, pelos indigentes VAR. De outro lado, o SCP beneficiando da gentileza de penalidades a seu favor, tão discutíveis quanto invisíveis, em momentos-chave dos encontros e, que por isso, se têm revelado fundamentais para o seu desfecho. Ou seja, a uns perdoam-se faltas, a outros faltas se imaginam.
Vejamos alguns exemplos: contra o Boavista (que, em boa verdade, também deveria ter sido disciplinarmente mais castigado), um penálti que todos os especialistas de todas as tendências clubísticas entenderam ter sido subtraído aos homens do Bessa a menos de um quarto de hora do fim e com o jogo empatado. Na última jornada, a situação ainda foi mais escabrosa. Manuel Mota, que ainda tem na cabeça as ameaças a pichagens no seu talho ou no restaurante de um familiar, não viu, ali mesmo em frente aos olhos, uma falta clamorosa de Felipe (sempre ele) sobre Nakajima (nem quis ir vê-la no ecrã!), enquanto o VAR deve ter tido 0,000000001% de dúvida pelo que, segundo o famigerado protocolo, se inibiu de ter 100% de certeza do penálti. É bom lembrar que, ainda que com muito tempo de jogo, o Portimonense poderia ter chegado ao 2-0 a seu favor. Folha, portista e treinador deslocado no Algarve, nada achou estranho. Tudo boa gente, abraços e beijos no fim. Imagine-se na Luz cena idÊntica com o dragão Folha. E, como de costume, o dedicado relator da Sport TV e o grande Lobo passaram pelo caso exemplarmente, como se nada houvesse a comentar...
Quanto ao SCP, como atrás disse, trata-se de árbitros inventarem penáltis. Assim, teve mais dois pontos no expirar do tempo contra o Chaves em Alvalade por causa de uma penalidade que fica para a história desta competição. É que, além da bola já estar nas mãos do guarda-redes flaviense, Bas Dost - o putativo jogador carregado - e os seus colegas nada protestaram, nada viram, nada sonharam, nem sequer esboçaram uns braçinhos no ar. Veio do céu tal dádiva! Na jornada anterior um lance, um pouco mais duvidoso é certo, originou outro penálti forçado quando, a meia hora do fim, o Santa Clara vencia por 1-0. E estatisticamente, as coisas, pouco a pouco, vão tendo algum significado: o SCP já é a equipa com mais penáltis a seu favor (6) e a única sem nenhuma contra.
Em suma, eis a regra dos 100% de certeza (ou incerteza) em toda o seu esplendor arbitral e VAReiro, quem sabe se originado por poderes ocultos (e sem e-mails)?

3. O Benfica venceu num campo tradicionalmente difícil, o do Vitória Futebol Clube. Jonas encarregou-se de assegurar a vitória, mas o jogo foi de um grau de beligerância dispensável. Faltas, faltonas e faltinhas a todo o momento, árbitro às aranhas sem um critério disciplinar que se compreendesse, um golo genial de Zivkovic anulado por indigência do fiscal de linha, um Benfica que continua a soluçar num pára-arranca que é difícil entender. Seguem-se agora dois jogos que poderão ser muito importantes para os 2/3 do campeonato por realizar (embora lendo certos textos, até parece que já estamos quase no fim, com consagrações bem prematuras). Refiro-me a um novo jogo fora de casa, com o Marítimo de Petit e, nas vésperas do Natal, na Luz, o confronto com o Sp. Braga. Esta quarta-feira, uma partida europeia que não é apenas para cumprir calendário europeu: Benfica - AEK, onde estão em jogo, 2,7 milhões de euros e uma limitação de danos no ranking.

Contraluz
- Castigos I: 765 euros a astronómica multa que o treinador do FCP, coitado, apanhou por se ter limitado a festejar, exuberantemente, o golo no último segundo no Bessa. Segundo as suas palavras «não estava na missa» (ainda bem) e «festejamos no Porto sempre os golos à Éder», isto é, com palavrões. Não consta que Fernando Santos se tenha dirigido nessa altura ao seleccionador francês dizendo qualquer coisa como 'tomem cardápio' (mesmo que com o cardápio em francês).
- Castigos II: Segundo li, o regulamento de castigos a treinadores e a outros personagens dos bancos diz que só se na mesma época desportiva acumularem cada série de três expulsões pelo mesmo motivo é que são punidos com a sanção de suspensão por um jogo. Ou seja, se um treinador, umas vezes, insultar o banco opositor, outras vezes partir a própria banqueta, outras diversificar com uns elegantes impropérios aos árbitros etc., pode estar seguro que, com romantismo ou sem ele, pagará, tão-só, os tais setecentinhos multiplicados pelo número de jornadas do campeonato, sem nunca ser impedido de ir para a banco. Não sei até se inovando nos palavrões se constitui uma diferença série de infracções. Por exemplo, se em vez de cardápio, se disser larápio, agápio, esculápio ou serápio."

Bagão Félix, in A Bola

O belo exemplo que Guimarães deu

"O problema não é do VAR, é dos árbitros e seus mandantes, os quais se afadigam na promoção de boas intenções sem abdicar de hábitos antigos

Num estádio que vive o futebol com elevado fervor clubista, como é o de Guimarães, com um público exigente e apaixonado pelo seu emblema e o quinto lugar em discussão, o Vitória SC - Rio Ave do último domingo reunia as condições suficientes para se transformar em complexo problema para a organização. No entanto, em vez de perigos e receios proporcionou um espectáculo exemplar: pela qualidade do jogo, pela disponibilidade dos praticantes, pelo empenho das equipas, pelo apreciável número de golos, cinco, e pela dúvida que pairou até aos minutos finais sobre o nome do vencedor.
Perante tantas e tão vibrantes emoções, os adeptos de ambos os clubes nem tempo tiveram para desviar os olhares do relvado, não sendo estranha a tal ambiente frenético e circunstância de nos bancos de suplentes se terem sentado dois treinadores, Luís Castro e José Gomes, que muito aprecio, não só pelo trabalho sério e lúcido, mas também pela educação e lisura como enfrentam a competição e as suas intrincadas especificidades, provando à saciedade, contrariamente a um pensamento, instalado, que o sucesso não é directamente proporcional nem à intensidade dos gritos pretensamente motivadores, nem ao volume das agressões verbais dirigidas ao oponente.
Mostra-me como jogas e dir-te-ei quem te treina, foi um pouco a ideia que extravasou destes fantástico jogo, enriquecido pelo facto, muito raro, de três dos cinco golos terem sido marcados na sequência de pontapés de penálti, dois para o Vitória e um para o Rio Ave.
Mais surpreendente ainda, em função da desgraça reinante na arbitragem, os três lances foram correctamente assinalados e nem provocaram alarido no exterior. Três juízos difíceis, mas assumidos prontamente pelo árbitro de apelido Almeida - e não Capela, Godinho ou Miguel, três descobertas da confraria -, o qual, pelo esforço, tem cumprido notório percurso de valorização, apesar de pouco considerado pelos patrões da arbitragem. De tal forma foi convincente e seguro na análise dos lances e nas decisões tomadas que das bancadas a mensagem mais interessante que se captou foi a de aceitação e concordância.
Os adeptos de Guimarães são irreverentes e tentados a violarem a fronteira do razoável, mas anteontem mostraram, igualmente, que sabem ver o futebol como deve ser visto, com animação, entusiasmo e correcção. Se a referência suprema mora em Inglaterra, este Vitória - Rio Ave situou-se ao nível dos jogos da Premier League: a envolvência, a festa, o futebol, os golos, o público. A Paz! Tudo o que um grande jogo deve oferecer.

É estranho que situações felizes como a que Guimarães proporcionou sejam ainda tão raras na liga portuguesa. Não somente por culpa dos árbitros. Os treinadores, principalmente os mais convencidos, têm quota substancial de responsabilidades na balbúrdia, por entenderem que o insulto e a desordem continuam a valer a pena, dada a complacência de um país futebolístico que, por uma vitória, é capaz de hipotecar os valores de uma sociedade moderna, culta e progressista.
É estranho porque o problema não é do VAR, uma ferramenta valiosa e de reconhecida utilidade, mas das pessoas. Dos árbitros e seus mandantes, os quais, cada vez mais escondidos, de afadigam na promoção de boas intenções sem abdicarem de hábitos antigos. Inultrapassável contradição que a realidade comprova. Já nem a classificação anual é publicada, dizem que com acordo dos árbitros. Não duvido, mas a opacidade é a via mais rápida para proteger amizades e fomentar dissidências.
Hoje, como ontem, é infinda a complacência que o erro gera. Talvez seja mais resignação, por se intuir que nada é possível fazer para destruir essa abstrusidade que detém o poder de despedir treinadores, despromover clubes ou decidir títulos.
Quem joga bem está mais próximo de ganhar e quem joga mal fica mais perto de perder, é dos livros, por isso convém não misturar alhos e bugalhos: uma coisa é o que é, outra o que a arbitragem suscita, por sucessivas avaliações deficientes e inadmissíveis. Antes era o erro humano, pela obrigação de decidir num segundo e sob enorme pressão. Agora, tem de acrescentar-se o erro humano de quem manipula a tecnologia em ambiente cómodo e de nenhuma pressão. Ah, pois, é o protocolo!
É estranho, e mais estranho é porque entre o erro grosseiro e clara e o benefício da dúvida (oportuna expressão que os especialistas alegremente utilizam) se pressente leve indício de uma subtil tentativa de inversão de marcha."

Fernando Guerra, in A Bola

A realidade e a sua percepção

"O meu conselho a todos: reflictam bem, porque o assunto é sério e merece toda a atenção

À medida que as jornadas decorrem e os lances se multiplicam, a opinião pública vai construindo uma ideia clara sobre o que pensa e espera do videoárbitro. Por um lado, há o sentimento unânime de que a ferramenta, em si, é uma mais-valia com lugar cativo no futebol moderno. Por outro, há a ideia, também ela quase unânime, de que quem lida com este mecanismo nem sempre revela apetência, sensibilidade ou competência. Pode ser verdade, pode ser falso ou pode andar no in between, mas esse é, de facto, o sentir generalizado. O que toda a gente parece dizer a uma só voz.
Tenhamos a sapiência de não ignorar esses sinais, porque o resto do mundo também percebe um bocadinho de bola. Pelo que vejo, há duas lógicas em conflito: a realidade... e a percepção da realidade. A realidade é aquilo que move a coisa, de dentro para fora: existe um protocolo rígido, secundado por instruções firmes, que impõem que os VAR's só actuem quando o erro, em campo, for evidente e óbvio. Já a percepção da realidade - aquilo que, cá fora, todos veem e esperam - é diferente: o videoárbitro existe para ajudar o futebol a ter mais justiça. Ponto final, parágrafo. Talvez por isso, a sua introdução tenha aumentado radicalmente as expectativas e exigências.
Na prática, uns e outros têm argumentos válidos mas parecem precisar de fine tunning. A expectativa das pessoas, o tal sentir exterior, não pode esperar que o videoárbitro acabe com todos os erros. Percebam que a intervenção em casos de dúvida, em lances de contacto indecifrável ou de intensidade subjectiva, estará sempre fora de equação. Percebam ainda que aquela mão nas costas, aquele chega para lá com o braço ou aquela meia chapada-carícia... também não entra nas contas. Por outro lado, é importante que, do lado de dentro, se perceba que têm existido várias decisões erradas: lances óbvios que não tiveram intervenção e outros, quase idênticos, que tiveram; momentos de ida ao écran para validação e outros, semelhantes, sem essa indicação; decisões claras com rectificação e outras, bem parecidas, que se mantiveram. A incoerência descredibiliza, ainda que inocente. Faz com que toda a gente ande confusa e desacreditada. Levanta suspeitas desnecessárias. E isso é tudo o que a arbitragem não precisa.
O meu conselho a todos: reflictam. Reflictam bem, porque o assunto é sério e merece toda a atenção. A quem está de fora direi... não esperem por indicação do VAR quando, nunca sala com dez pessoas, metade diz uma coisa e metade diz outra. Aos outros diria... não se agarrem ao rigor protocolar para defender uma decisão, quando a melhor decisão é, afinal aquela que está à vista de todos.
As amarras desse código de actuação não podem nem devem negar, ao jogo, aquela que se percebe ser a decisão mais óbvia. A única decisão acertada. Não nos esquecemos que a finalidade da tecnologia é servir o jogo, não encontrar argumentos técnicos para não o fazer. As orientações e instruções que existem são apenas meios para chegar a um fim. Um ponto de partida, nunca um ponto de chegada. Só os estagiários apitam com o livro das leis debaixo do braço. Todos os outros não. Haja sensibilidade, inteligência emocional e saber prático. haja independência e coragem."

Duarte Gomes, in A Bola

Credibilidade e transparência

"Noventa e nove jogos de futebol, seiscentos e trinta e nove lances apreciados pelo VAR, nove erros assumidos. É assim, através do Twitter, que o Conselho de Arbitragem pretende responder e inocentar-se da chuva de críticas que caíram sobre a incompetência utilização do videoárbitro.
A resposta, porém, denuncia mais quem se pretende esconder da discussão e do esclarecimento do que quem quer vir a público explicar e provar qualquer razão substancial. Primeiro, porque o Conselho de Arbitragem é parte interessada e não será, por isso, a entidade indicada para fazer acreditar que as suas contas estão certas; depois, porque mesmo que fosse verdade (e não será) ter havido apenas nove erros entre os mais de seiscentos lances visionados, era importante dizer concretamente quais, quem os cometeu, quem foi beneficiado, quem saiu prejudicado. E era importante, porque se torna fundamental entender se há, como parece, um padrão nesses erros.
A modernidade da comunicação, cada vez mais básica e equívoca, começa, aliás, a ser uma conveniência para evitar o contraditório e para procurar remeter o que pode ser um preocupante erro estrutural do sistema num insignificante dano ocasional.
Porém, o problema existe e não se resolve com uma estatística feita à medida da necessidade imediata. A arbitragem e toda a estrutura que a sustenta não sobrevive sem credibilidade e esta não sobrevive sem transparência. A começar pela análise séria dos resultados alcançados com essa famosa fórmula de guardar em segredo a classificação dos árbitros. Se é que tais classificações existem..."

Vítor Serpa, in A Bola

O que é que ganha afinal o Benfica com Jonas sozinho no ataque?

"Continua a ser uma das dúvidas mais prementes do futebol do Benfica: o que é a equipa ganhou afinal com a mudança para o 4x3x3?
Antes de mais, a resposta óbvia é que não ganhou.
Afinal de contas, o Benfica era campeão há quatro anos seguidos, sempre num esquema de 4x4x2, e, desde que mudou, deixou de o ser. A partir daí é difícil defender que mudou para melhor.
Mas vale a pena tentar ver para além disso.
Rui Vitória, por exemplo, fez questão de referir sempre que a alteração táctica tinha a ver sobretudo com dois aspectos. Por um lado o reforço do meio campo, por outro lado o aproveitamento de Jonas. 
Logo em Novembro de 2017, numa das primeiras vezes que jogou com apenas um avançado na frente, o treinador explicou após o jogo o que mudava com aquela alteração táctica.
«Jogando sozinho na frente, o Jonas centra muito a atenção dos centrais que o marcam e à volta dele temos vários jogadores que dão profundidade, como são os casos dos extremos, ou dos médios que entram na área para finalizar. O Jonas, prendendo os centrais, oferece-nos outras possibilidades para os outros jogadores que surgem por detrás», respondeu.
Esta declaração é polémica, porque parece redutor ter Jonas para prender apenas os centrais e libertar os companheiros. Afinal de contas, o brasileiro faz em condições normais sempre perto (ou acima) dos trinta golos por temporada. Ele vale pelo que marca e não pelo que permite marcar.
Mas em frente.
Esta conversa voltou a ser tema na semana passada, quando Rui Vitória falou ao podcast «Conversas à Benfica». Nessa altura, o treinador insistiu no mesmo ponto.
Disse que houve vontade de adaptar a equipa principal ao esquema utilizado em todos os escalões de formação, disse que se tornou urgente proteger fisicamente Jonas do trabalho defensivo e disse que este esquema táctico permite a mais jogadores surgir em situação de finalização.
«O que é que pretendemos claramente hoje? A nossa forma de jogar é assim, em determinados momentos podemos jogar com dois avançados, mas o que nós queremos é que haja sempre jogadores dentro da área, apareçam eles pelos lados, por detrás, neste caso os médios ou os alas, mas apareçam na área. O nosso avançado tem de estar na área para fazer a assinatura no quadro.»
Ora vale a pena comparar estas declarações com os factos.
Rui Vitória diz que o 4x3x3 lhe permite guardar Jonas apenas para finalizar jogadas dentro da área. Antes de mais, o brasileiro parece ser muito mais do que apenas um finalizador. É um craque, que inventa golos, de todas as formas e feitios: não é um jogador de encostar à boca da baliza.
Mas há mais. Sendo certo, por exemplo, que Jonas voltou a fazer na época passada acima dos trinta golos na Liga, tal como tinha feito na primeira temporada de Rui Vitória, também é certo que o Benfica marcou sempre menos do que tinha feito na época anterior.
Ou seja, a ideia de que mais jogadores podem aparecer na área a finalizar (e subentende-se, a fazer golos) não encontra paralelo nos números.
Na primeira época de Rui Vitória, o Benfica fez 122 golos em 52 jogos, a uma média de 2,34 golos por jogo. No segundo ano marcou 118 golos em 54 jogos, a uma média de 2,18 golos por jogo. Na época passada, fez 94 golos em 47 jogos, a uma média de 2 golos por jogo. Já este ano, o Benfica leva 45 golos em 25 jogos, a uma média de 1,8 golos por jogo.
Sempre a descer, portanto.
O próprio Jonas, aliás, nunca marcou tão pouco como está a fazer esta temporada: sete golos por jogo, a uma média de 0,67 golos por jogo. A pior média desde que chegou ao Benfica.
Mas será que o reforço do meio campo permite à equipa pelo menos defender melhor?
Os números também garantem que não. O Benfica nunca sofreu tantos golos como agora, aliás. Esta temporada já foi batido 27 vezes em 25 jogos, o que dá uma média de um golo por jogo. Na época passada, sofreu 45 golos em 47 jogos, a uma média de 0,95 golos por jogo.
Já nas duas primeiras épocas, na altura do 4x4x2, a média de golos sofridos por jogo desce consideravelmente. Na primeira época de Rui Vitória a equipa encaixou 42 bolas em 52 jogos (média de 0,80) e na segunda época encaixou 43 golos em 54 jogos (média de 0,79).
Ora no fim destas contas todos, podemos pelo menos questionar as explicações de Rui Vitória: porque ou o mister se explicou mal ou as explicações não fazem sentido.
Certo é que as palavras não batem certo com os números."

A matemática do VAR

"A introdução do VAR na Liga NOS foi recebida como um extraordinário contributo para o avanço da transparência no futebol português. Um projecto que chegava com a melhor das intenções e que dispunha de condições práticas para eliminar 90% dos erros graves a que estavam sujeitas as equipas de arbitragem.
Um ano e meio depois, que balanço se pode fazer ao impacto do VAR? Infelizmente – e desnecessariamente – há uma imensa onda de descontentamento, há um sério problema de credibilidade, há mais dúvidas do que certezas. Crescendo a ideia de que o VAR, assim, não serve. Existindo o risco de se tornar numa enorme desilusão.
No pico da contestação, o Conselho da Arbitragem lembrou-se de fazer a radiografia do primeiro terço do campeonato relativamente ao vídeo-árbitro. O dado mais significativo é que, afinal, mesmo com VAR, o CA admite 9 avaliações erradas.
Claro que, depois, tenta mitigar a questão, dizendo que existiram 639 situações checkadas, quando o mais honesto seria lembrar que foram 9 erros, sim, mas nas únicas 33 situações que foram analisadas. 
Isto é: a percentagem de erros cresce de 1,4% (9 em 639) para 27,2% (9 em 33 revisões formais dos lances, aquilo que interessa contabilizar). Ou seja: mesmo com recurso ao VAR, há 27,2% de más decisões! Ainda assim, o interesse do estudo seria outro se o CA nos tivesse feito o favor de fornecer a informação que passou agora a ser a mais desejada. Há 9 erros, sim senhor. Mas onde estão eles? Quem os cometeu? Em que jogos? Ficamos à espera."