terça-feira, 27 de novembro de 2018

Acabou por ser 'positivo' !!!

Bayern 2 - 2 Benfica


Golo salvador do Ronaldo, mesmo a 'fechar' a partida, num jogo onde fomos quase sempre superiores, e onde a derrota seria extremamente injusta...
As ausências do Jota e do Umaro nas últimas partidas foi decisivo, mesmo assim vamos para a última jornada em 'vantagem' já que jogamos em casa com o AEK e poderemos assim controlar a diferença de golos...!

Títulos há muitos e roedores também...

"(...) pensar (...) que um candidato à liderança de um clube é avaliado em função do treinador que traz (...) é muito caminho para o insucesso

1. Sofridamente e com o generoso contributo de coração de muitos sócios e adeptos, a venda de obrigações do Sporting Clube de Portugal aproximou-se do valor estimado de 30 milhões de euros.
Esta operação foi lançada num momento muito complexo da vida do clube e num contexto sobejamente arriscado. Segui-a com interesse analítico e, também, pelas repercussões que poderá ter para futuras operações semelhantes dos principais clubes.
De um modo geral, as SAD vivem acima das suas possibilidades, acumulando enormes passivos e só superando desequilíbrios operacionais com recurso a receitas não recorrentes. Até ao espoletar da crise, os elevados passivos eram, sobretudo, bancários. Esse tempo de generosidade banqueira acabou. Aliás, se o anterior critério da banca para financiar clubes fosse generalizável a outros mutuários, já não haveria bancos ou, havendo-os, éramos nós todos que estaríamos de tanga por via fiscal. Por isso, os clubes, uns mais expeditos do que outros, têm procurado diversificar as suas fontes de financiamento, abrindo, designadamente, as portas a empréstimos obrigacionistas. Na minha opinião, uma boa mudança. Primeiro, porque sujeita ao risco de mercado e, assim sendo, mais escrutinável quanto às expectativas e garantias do clube devedor. Segundo, porque a sua sequência, seja de novas necessidades, seja de substituição de dívida vencida, exige práticas sustentáveis que evitem consequências danosas na confiança do mercado.
Esta emissão leonina teve o mérito de ser a cobaia de um caso sensível. Observou-se a incomodidade dos dirigentes quando se aperceberam das dificuldades em colocar uma emissão que não estava respaldada pela anterior prática de tomada firme de bancos. Daí o seu pungente apelo ao universo do SCP, o que bem se compreende. O que já não se entende é a crítica feita aos bancos que  - cito - «estão completamente passivos no que toca à comunicação e comercialização da oferta». Terão ignorado que, agora, as restrições e limites dos bancos e seus empregados são para levar a sério? Depois da crise e de muitas irregularidades e vendas de gato por lebre os mercados financeiros, trancas à porta. Agora, há uma Directiva europeia dos Mercados de Instrumentos Financeiros (DMIF), que impõe regras, formação, registos, clareza e transparência de quem vende os produtos, a que acrescem uma mais atenta supervisão e um sistema sancionatório que não é propriamente suave. Aliás, o próprio prospecto de venda publicitado revelava as necessárias cautelas perante uma instituição, a SCP SAD, que, desde logo, não cumpre o requisito essencial do artigo 35.º do Código das Sociedades Comerciais (CSC), pois que o capital próprio é muito inferior a metade do capital social.
As SAD têm fragilizadas evidentes e públicas. Não só quanto ao referido preceito do CSC; como quanto às dificuldades associadas À vulnerabilidade de Balanço e da Conta de Resultados. No caso do SCP, verificou-se, aliás, e pela primeira vez, um evento de crédito (eufemismo técnico para calote) quando a anterior direcção não honrou os seus compromissos e não pagou os 30 milhões que se haviam vencido. Acresce que, em maior ou menos grau e com diferentes naturezas, há contingências, riscos, pendências (no Sporting são bem evidentes) que tornam estas aplicações financeiras objectivamente arriscadas. Além de que o uso e abuso de antecipar receitas mais não é de que juntar mais passivo aos exercícios futuros.
Por outro lado, tornou-se mais restritivo e difícil o acesso a uma receita fundamental para as grandes, qual seja a de poder disputar a Liga europeia dos campeões.
A emoção e o sentimento ligados ao futebol são fundamentos da perenidade e da substância dos clubes, mas temos de reconhecer que os tempos são outros e que a racionalidade gestionária é decisiva para o futuro. O romantismo de se pensar que, em tese, um candidato à liderança de um clube é avaliado em função do treinador que traz consigo, do jogador X ou Y, secundarizando as restrições financeiras é meio-caminho andado para o insucesso.
Esta situação - inédita nas SAD - de a procura não ter chegado à oferta de obrigações (mesmo com uma taxa de juro mais elevada) sinaliza o imperativo de tratar estes assuntos como fundamentais e de assumir a redução sustentada do passivo financeiro, sob pena de, entre emoções, claques e bolas na trave, tudo se esfumar.

2. Foi uma vitória triste a do Benfica ao eliminar in extremis o Arouca. Um jogo de um cinzentismo que custa a compreender. Vi onze jogadores, não vi uma equipa, o que muito me intriga com profissionais que, na sua larga maioria, jogam há muito tempo juntos. Exceptuando Jonas, Rafa e Seferovic, foi uma equipa lenta, repetitiva, sorumbática, onde nem sequer os que não costumam ser titulares procuraram mostrar o que possuem (ou não) para serem jogadores do e à Benfica. Percebo que esta ideia peregrina de fazer pausas excessivas no decorrer do campeonato e a debandada geral de jogadores para o turismo de selecções (alguns fazem mesmo só a viagem, porque não jogam) não facilita nada o trabalho sistemático nesta fase da época. Mesmo assim nada pode justificar uma das mais pobres exibições dos últimos tempos. Como facto positivo, gostei que, onze meses volvidos, Krovinovic tivesse regressado aos relvados, mas já não gostei do modo anáquico como aparentemente o mandaram jogar, numa posição que nunca foi a sua. Aliás, não percebo por que razão, depois de longas paragens, os atletas não fazem uns jogos na equipa B, em vez de só aqueceram o banco de suplentes da equipa principal, tal e qual aconteceu ao croata. Bem sei que a equipa B não é sinónimo de que antes se designava como as reservas, que tinham o seu campeonato distrital e onde nos tempos idos vi por lá passaram craques indiscutíveis para, após paragens forçadas, ganharem ritmo. Mas o caso de Krovinovic talvez pudesse assim ter sido considerado, para acelerar a plena recuperação.
Hoje é dia em que tudo se ditará na Champions encarnada. Em Munique, logo à noite, ou o Benfica eleva substancialmente os seus níveis de desempenho, motivação e concentração, ou vê tornada definitiva a sua passagem para a Liga Europa, como é mais previsível. Não é que as estatísticas ditem mecanicamente o futuro, mas, se não me engano, o Benfica nunca ganhou ou sequer empatou em Munique...

3. Absolutamente lastimável a divulgação de depoimentos no debate instrutório do processo conhecido por e-toupeira! Em menos de 48 horas, canais televisivos transmitiram-nos e nada acontece às toupeiras mediáticas e seus acólitos que continuam sistematicamente a violar os mais elementares deveres de segredo de justiça. De tal modo, que a grosseria virou normalidade, a ilegalidade ganhou audiência e a criminosa falta de ética é premiada. Argumentação os infractores que se está perante a supremacia do interesse público sobre a infracção cometida e que os fins justificam qualquer meio, mesmo que ilícito, ilegítimo e desonesto. É uma falácia. E certamente - como em casos anteriores - tudo vai desaguar num novo inquérito e, no fim, tudo ficará em águas de bacalhau. O edifício judiciário, com passwords em regime caduco e liberal, parece ser alvo fácil da pirataria informática, não tendo condições para salvaguardar as garantias básicas dos cidadãos. Paradoxal é que quem mais explora um caso apelidado de toupeiras seja quem mais usa incolumemente (e a que preço?) um exército de toupeiras e ratazanas. Onde isto chegou!

Contraluz
- Lástima: Os energúmemos das tochas continuam a sua saga incendiária. Em Tondela, mais artefactos lançados para o relvado, do lado da bancada supostamente de benfiquistas. Mais uma multa pesada (que eles não pagam) e a iminência de, reincidindo, o Benfica ter de jogar à porta fechada com todo o prejuízo financeiro e contra-sendo desportivo. O que mais é preciso para estancar esta irresponsabilidade selvagem?
- Lucidez: Na Bundesliga, vão acabar os jogos à segunda-feira. Medida sensata e que deveria ser alargada às outras ligas, a começar pela nossa. Em nome das transmissões televisivas, as jornadas transformaram-se numa espécie de geringonça semanal, desde sexta (ou quinta) até segunda. E depois queixam-se de os campos estarem às moscas...
- Surpresa: O jogador brasileiro que passou (ou passeou) pelo Benfica, conhecido por Gabigol, é nem mais nem menos que o melhor artilheiro do Brasileirão, com 18 golos! Já Jovic emprestado ao alemão Eintracht lidera a lista na Bundesliga! E Ferreyra que na Ucrânia marcou 30 golos, no Benfica nem para o banco vai. Alguém me pode explicar como é que um mesmo jogador é um absoluto fiasco antes e um eficiente atacante depois ou vice-versa?
- Exagero: Títulos jornalísticos. Depois de o SCP bater, em campo neutro, o fortíssimo Lusitano de Vildemoinhos: Keizer corta a direito; holandês mostrou futebol prático e ao primeiro toque; Fez-se luz e o holandês tirou o leão da sombra, etc. Vimos todos o mesmo jogo?"

Bagão Félix, in A Bola

Primeira página de golos esquecidos

"Pormenores fantásticos saltam-nos à vista quando lemos jornais antigos. Neste caso, um exemplar do Sporting (publicado no Porto e sem qualquer ligação ao clube de Alvalade) que dedicava uma manchete a um jogo do Benfica e, lá dentro, nem o resultado trazia.

O meu bom amigo Bernardo Trindade, grande alfattabista de Lisboa, nas pisadas do pai, com o qual começou a trabalhar desde miúdo, traz-me volta e meia autênticas relíquias. A última foi um exemplar do Sporting, jornal desportivo que não tinha conexão com o clube de Alvalade, datado de 9 de Novembro de 1926. A primeira página trazia em manchete: 'Bemfica - Carcavelinhos'. E Benfica com M, sem tirar nem pôr.
Uma foto ocupava o espaço mais abaixo e uma legenda era esclarecedora: «Manoel Rodrigues (Carcavelinhos) salta o eixo com Francisco Costa (keeper do Bemfica), que com a sua decisão conseguiu enviar para corner evitando um golo certo».
O documento é extraordinário em todos os aspectos. Editado no Porto, o Sporting pretendia ser um jornal de todos os desportos. E era. Abria com uma secção dedicada às perguntas dos leitores. Com as respostas devidas, claro está.
Para terem uma ideia da coisa, cá vai um excerto, porque é deveras curioso.
'P - Sendo o Sporting um jornal que todas as cores clubístas lêem, porque demonstra um certo facciosismo pelo FC Porto?
R - Alto, que é lá isso?! Aqui não há facciosismo. Limitamo-nos a aplaudir o melhor... e nada mais.
P - Qual é a razão por que, sendo o Sporting melhor jornal português da especialidade, e tendo bastantes críticos de futebol, não se refere aos desafios de categoria inferiores?
R - Se o senhor trabalhasse num jornal, veria quantas dificuldades há para se conseguir o que pretendemos. É impossível - saindo o Sporting à segunda de manhã - trazer esses relatos porque os da 1.ª categoria ocupam todo o espaço'.
E por aí fora. Com a ressalva: 'Ser modesto, correcto e desportista é tudo o que desejamos dos nossos consultores'.
E o Benfica?
Toda a edição fervilhava de temas interessantes. Análise ao momento do profissionalismo inevitável do futebol nos anos vindouros, com uma declaração assinada por várias dirigentes do FC Porto garantindo que o clube não dependia um tostão com jogadores, nem para auxílio de equipamento. Informação actualizada dos grandes combates de boxe internacionais, um pouco por todo o mundo. Uma crónica mundana enviada de Paris. Novidades da província, de Beja a Mangualde e de Setúbal a Ovar. Páginas centrais exclusivas: futebol! Dois grandes jogos. Académico do Porto - Sport Progresso e Ramaldense - Coimbrões.
Homessa!???
Virei e revirei cada uma das dezasseis páginas.
Comecei do fim para o principio.
Nada!
Nem mais uma linha, nem sequer o resultado do Benfica - Carcavelinhos da manchete. Mistério.
Convenhamos: a imprensa em 1926 era assim, e não há como explicar muitas das suas incongruências. Registam-se com bonomia, como faço aqui, e procuram-se os textos que valem a pena ler. Neste número do Sporting são vários. Agora Benfica - Carcavelinhos foi um ar que lhe deu.
'Aguenta o rojão, Sarapião', diriam os brasileiros.
Conto-vos este episódio mais por chalaça do que por outra coisa qualquer. E acrescento: a análise ao profissionalismo emergente é profundamente bem escrita e assente em premissas fundamentais. Valerá, se calhar, voltar ao assunto.
Ora bem, certo é que não saio, daqui sem voltar à vaca fria, isto é, ao Carcavelinhos - Benfica.
Jogou-se oito dias antes - assim se explica a primeira página simplesmente gráfica? É provável.
Contou para o Campeonato de Lisboa e deu cargas de pancadaria. Os alcantarenses marcaram dois golos na primeira parte e foram para o intervalo de papo cheio. As Amoreiras já ferviam de nervos. No segundo tempo, o Benfica reduziu. No último minuto, um lance confuso na área do Carcavelinhos. Jogadores e público encarnados exigem penálti. Cara de pau, o árbitro ordenou o fim do jogo. Ui! Queimou o pavio que ligava ao barracão da pólvora.
Os adeptos invadiram o campo. Correrias, desordem, pranchadas.
Tumulto completo! A imprensa, e não o Sporting, nesta caso também bateu forte e feio: 'O público não tem o direito de chamar a si o encargo de justiçar o árbitro quando este erra! Agredir o árbitro ou qualquer jogador quando eles, para saírem do campo, têm de atravessar, indefesos, alas de espectadores exaltados, constitui um atentado que reclama a atenção da polícia. Transformarem-se campos de futebol em terrenos de concentração de força armada - mas protejam-se árbitros e jogadores'.
Parece que a discussão sobre a profissionalização do futebol tinha de ir ao mais fundo do problema. Não se tratava apenas de pagar ou não aos jogadores.
Quando ao resultado que o Sporting não deu, dou eu. O Bemfica (com M) perdeu 1-2. Mas não foi por causa da letra..."

Afonso de Melo, in O Benfica

Nasceu uma estrela

"Como Matos Fernandes foi descoberto e iniciou uma carreira de ascensão no Benfica

Chegou ao mundo a 7 de Julho de 1920 e desde logo demonstrou pressa em viver. Matos Fernandes era uma criança que, mais do que andar, corria! Umas vezes, por puro prazer, como quando jogava à bola ou fazia corridas de competição; outras vezes, por ser preguiçoso e atrasar-se para a escola. Mandriices próprias da idade.
Aos nove anos já se distinguia dos demais 'pela rapidez com que corria com a bola nos pés e fugia dos adversários'. Cedo se evidenciou também a simpatia pelo Benfica que, confessada ao pai, foi motivo de felicidade.
Quis o destino que o jovem Matos ingressasse no Centro Extra-Escolar da Mocidade Portuguesa. Reconhecidas no jovem qualidades ímpares, foi logo destacado para o Crosse de Natal, onde teria de percorrer 3 Km! Chegou o dia e, premido o gatilho da partida, o seu coração disparou, a cabeça atordoou e as pernas correram para alcançar a meta E chegou num honroso 5.º lugar.
Ainda a refazer-se da adrenalina, foi abordado pelo Sr. Eng. Mário Pires Ventura, que lhe perguntou: '- Oiça lá, você não gostaria de ir fazer atletismo para o Benfica?'. Matos Fernandes ficou sem palavras, recuperando-as de seguida para dizer que sim, mas que teria de ter o consentimento do pai. Este, claro está, apoio-o a cem por centro e o jovem atleta sentia-se como que a 'viver num sonho, num mundo irreal'. Estávamos em 1939 e aí começou a jornada de ascensão desta estrela de cor 'encarnada'.
Estreou-se nas comemorações do aniversário do Clube e tamanho era o nervossísmo que durante duas não pregou olho! Envergar a camisa benfiquista, estar perante uma assistência volumosa, era uma responsabilidade que extravasava e se impunha. E assim foi... Uma multidão de gente acercava-se do campo das Amoreiras para assistir às festividades, entre as quais à estafeta mista de 3x300 metros. A ovação 'Benfica, Benfica!' solenizava o momento e incitava o jovem a mostrar-se em todo o seu esplendor. E assim foi... Matos Fernandes passou o testemunho, ganhando um avanço de 40 metros, que deu a vitória ao querido Benfica. Bravo!
E foram estes os primeiros passos de uma 'estrela de primeira grandeza' do atletismo nacional! De entre as inúmeras conquistas, foi recordista nos 400 metros barreiras e destacou-se no decatlo nos jogos olímpicos em Helsínquia.
Para saber mais não precisa de correr, basta visitar a área 3 no Museu Benfica - Cosme Damião."

Paula Antunes, in O Benfica

Vergonha alheia

"Como é que um futebol tão fascinante como o argentino se pode tornar tão autodestrutivo?

Os adeptos argentinos são especiais.
Se há coisa que torna o futebol do país notável, para além dos bons valores que de vez em quando revela (mas nem mais nem menos do que o Brasil, por exemplo), é a paixão dos adeptos. O entusiasmo, a emoção, o arrebatamento que entregam ao jogo é verdadeiramente admirável.
É isso que o torna diferente de tudo: único e irrepetível.
Os últimos dias deram-nos nesse sentido uma mão cheia de bons exemplos. As imagens da Bombonera completamente lotada para o último treino do Boca Juniors, por exemplo, foram impressionantes. Tal como o foram as imagens de milhares de adeptos a apoiar a saída das duas equipas antes do jogo que devia ter-se realizado no último sábado. Mágico, fascinante, electrizante.
A fronteira entre o entusiasmo e a loucura é, porém, demasiado ténue. Sobretudo na Argentina.
O River Plate-Boca Juniors tinha tudo para ser um dos maiores jogos da história do futebol. Dois rivais militantes. Duas massas adeptas apaixonadas. Um troféu grande. Um jogo inédito.
O mundo inteiro estava a olhar para a Argentina, e o que ela fez? Libertou o banditismo que há em alguns adeptos e cometeu uma série de crimes. Deixou vários jogadores em pânico, enviou dois para o hospital, provocou um susto de morte num autocarro inteiro e envergonhou o mundo.
Nesta altura todos nós, que amamos o futebol, sentimos um pouco de vergonha: vergonha alheia. Aquele jogo estava destinado a entrar na história. Na nossa história, na história que um dia queremos contar aos nossos netos. O que fizeram com ele foi uma afronta e um insulto.
Uma humilhação.
É claro que há questões mais sérias que merecem uma análise. É incompreensível como o futebol permitiu que os criminosos encontrassem nele campo fértil para desenvolverem a sua actividade. Não apenas na Argentina: em vários países, de vários continentes.
Mas isto é uma conversa para outros artigos.
Importante aqui é destacar o constrangimento, a aflição, a vergonha que a Argentina foi capaz de provocar. Incompreensível como um futebol tão fascinante se pode tornar tão autodestrutivo.
Entre todas as imagens angustiantes do último sábado, aliás, há uma que não me sai da cabeça: uma mãe a colar foguetes de fumo na barriga de um filho para ludibriar a segurança do estádio.
Insano e perturbador."

Oficial de Ligação aos Adeptos: do que se trata?

"O poder mediador é a principal ferramenta de que o Oficial de Ligação aos Adeptos se pode valer para, com intervenções sensatas e ponderadas, promover uma cultura positiva em relação a clube e adeptos

A expressão “Oficial de Ligação aos Adeptos” é cada vez mais comum no nosso dia-a-dia e, em particular, no contexto do debate futebolístico. No entanto, pouco se sabe acerca desta figura e das suas funções, existindo ainda uma certa opacidade relativamente à mesma. Afinal, o que é um Oficial de Ligação aos Adeptos? Para que serve? A quem responde? O que lhe compete?
Os adeptos são a força viva de qualquer desporto e, em particular, de qualquer clube. A camisola, a viagem de metro, a compra do lugar anual, o frio do estádio, a adrenalina da entrada das equipas e a emoção ao ouvir o hino são experiências que arrepiam qualquer adepto tanto quanto o próprio jogo em si.
Enquanto os jogadores e treinadores são, frequentemente, contratados e transferidos durante a sua carreira, os adeptos mantêm a sua lealdade canina ao clube, nas alegrias e nas tristezas.
Na verdade, no conceito de adepto cabem diferentes categorias: adeptos visitados e visitantes, grupos organizados de adeptos, associações de adeptos, claques, adeptos não organizados, adeptos virtuais, adeptos potencialmente violentos, adeptos com necessidades especiais, famílias e crianças.
Face às várias tipologias de adeptos e à importância central que estes assumem no espectáculo, os clubes tornaram-se mais conscientes da urgência de trabalhar em conjunto e, por isso, surgiu a necessidade de se proceder à criação de uma figura – o Oficial de Ligação aos Adeptos.
Em linha com o UEFA Supporter Liaison Officer Handbook, o Regulamento das Competições Organizadas pela Liga Portugal integra o Oficial de Ligação aos Adeptos no conceito de “agente desportivo” e define-o como “a pessoa responsável por assegurar comunicação eficaz entre os adeptos e o seu clube, os demais clubes, a Liga Portugal e as forças de segurança pública e privada, com o propósito de facilitar a organização dos jogos, a movimentação dos adeptos e de prevenir comportamentos desviantes”.
O Oficial de Ligação aos Adeptos deve ser designado pelo clube, representando quer os interesses do clube (ou federação/liga) quer os dos adeptos.
Essa designação tem de ocorrer até dez dias antes do início da competição, não podendo a pessoa designada desempenhar funções de segurança, tais como diretor ou coordenador de segurança ou assistente de recinto desportivo.
Preferencialmente, deve ser um trabalhador a tempo integral do clube a assumir a função, havendo também a possibilidade de ser um trabalhador a tempo parcial, que combine o exercício com outro cargo no seio do clube. Em clubes mais pequenos, pode actuar em regime de voluntariado.
Convém salientar, até porque nem sempre se tem verificado, que cabe ao clube assegurar um alto grau de liberdade e autonomia na organização do trabalho do Oficial de Ligação aos Adeptos, fornecendo-lhe as condições materiais necessárias para o regular exercício da função, nomeadamente um endereço de e-mail, local de trabalho e identificação no site do clube.
As funções do Oficial de Ligação aos Adeptos encontram-se previstas no artigo 57.º do Regulamento das Competições Organizadas pela Liga Portugal e no Manual do Oficial de Ligação aos Adeptos.
De entre as múltiplas funções previstas, compete-lhe nomeadamente: acompanhar o director de segurança na preparação e execução das suas funções; comunicar aos adeptos as deliberações da direcção do clube que, não sendo confidenciais, sejam de especial relevo; transmitir as necessidades, sugestões e preocupações dos adeptos à direcção do clube; auxiliar os grupos organizados de adeptos no respectivo registo junto do IPDJ; cooperar e auxiliar os responsáveis do clube pela segurança; contactar, trocar informações e articular a organização dos adeptos com oficiais dos clubes adversários.
Acresce que, sempre que um clube visitado alegue danos provocados pelos adeptos do clube visitante, o Oficial de Ligação aos Adeptos deve deslocar-se aos locais danificados, juntamente com os delegados da Liga, para levantamento dos danos causados, podendo elaborar uma declaração amigável conjunta identificando os danos causados e o montante da reparação.
Estamos, assim, perante um mediador entre os adeptos e o clube, a federação nacional e a Liga, servindo igualmente de elo entre outras partes envolvidas no futebol, tais como a polícia e os assistentes de recinto desportivo.
O poder mediador é a principal ferramenta de que o Oficial de Ligação aos Adeptos se pode valer para, através de intervenções sensatas e ponderadas, promover uma cultura positiva em relação ao clube e aos adeptos.
No entanto, a sua actuação tem de partir do princípio que, apesar de existirem diferenças entre si, os adeptos são iguais em direitos e, sobretudo, no tratamento que devem merecer por parte dos clubes. 
É, pois, inadmissível qualquer distinção entre adeptos, tal como a que consta do Manual do Oficial de Ligação aos Adeptos da Federação Portuguesa de Futebol, quando refere “secções mais leais de apoio ao clube”. Há adeptos mais leiais do que outros? Como se mede a lealdade de um adepto?
O Oficial de Ligação aos Adeptos tem de exercer a sua função com base num princípio de igualdade de tratamento para com os adeptos, não podendo estar refém das denominadas claques ou grupos organizados de adeptos, nem sequer ser a correia de transmissão do clube na sua relação com adeptos profissionais.
A proximidade aos adeptos não pode ser sinónimo de amiguismo ou conluio com os considerados “mais leais”.
Por tudo isto, a actuação do Oficial de Ligação aos Adeptos deve ser independente e livre de quaisquer pressões ou tentativas de condicionamento ilegítimas ao desempenho das respectivas funções. E é essa independência que urge reforçar."