domingo, 18 de novembro de 2018

Liderança...

Benfica 3 - 0 Leixões
25-20, 25-13, 25-17

Mais um jogo agradável...
Com uma nota visível: com a lesão do Gaspar, com o Théo a jogar praticamente todos os pontos, é perceptível a melhoria do Oposto Brasileiro...

Vale tudo...

Benfica 1 - 1 Sporting

Vergonhoso, tudo vergonhoso: começou com a UEFA a 'premiar' as equipas que terminaram a 1.ª fase em segundo lugar, ao dar-lhes a organização da Ronda Elite sem qualquer 'limitação'!!! Tivemos bilhetes pornográficos, tivemos jogos às 14h durante a semana... fomos obrigados a jogar em primeiro lugar nas duas primeiras jornadas, dando vantagem ao adversário que jogava depois e podia controlar melhor a diferença de golos, que acabou por ser decisiva para a qualificação (os Lagartos ainda tiveram a 'sorte' dos russos terem jogadores castigados na 1.ª jornada!)...
E não satisfeitos, levámos com uma arbitragem digna do asqueroso Tugão!!! Mais de metade das faltas assinaladas ao Benfica, na 1.ª parte não existiram, inclusive a 6.ª falta que deu o único golos dos Lagartos... logo no início do jogo, o Robinho foi agredido - para vermelho directo - e nem sequer foi marcada falta!!! E depois ainda tivemos penalty's a nosso favor que ficaram por marcar... Nem com o canal de clube que transmitiu o jogo, a esconder todas as repetições a 'favor' do Benfica (todas), tudo isto foi visível...

Fomos melhores, somos melhores... e vamos ganhar o Campeonato.

Na final

"O tempo da justiça (...) é cada vez mais um tempo em que a avaliação popular está para lá da devida deliberação judicial

1. Foi um empate saboroso. Estamos na final da nova Liga das Nações e vamos organizar essa final. Ontem tivemos uma primeira parte pouco conseguida e conseguimos em momentos da segunda parte perturbar uma Itália bem diferente - para melhor - daquela que perdeu no Estádio da Luz. Estamos uma vez mais numa fase final de uma competição de selecções. A nossa Federação está de parabéns. E Fernando Santos e todos os jogadores merecem um aplauso e um cumprimento especiais. Agora só falta saber os outros três difíceis adversários. E sonhar. E agarrar a sorte. Já que a excelência e a competência fazem parte do ADN desta Selecção de Portugal! Da Selecção de todos nós!

2. Nesta primeira edição da Liga das Nações, e na Liga A, - ou seja, na liga das principais selecções! - há, para já, uma grande surpresa: a Alemanha desce à Liga B e entra, assim, para o Pote 2 do próximo sorteio do Europeu de futebol. O que significa que nos poderá calhar em sorte já que Portugal estará no Pote 1. E amanhã a Holanda frente a esta Alemanha despromovida poderá, no caso de vitória, ultrapassar a campeã mundial em título, a França, e ambicionar regressar aos grandes palcos do futebol mundial. Ela, Holanda, que esteve ausente do Mundial da Rússia. Tal como hoje a Espanha estará com os olhos e ouvidos no Inglaterra - Cróacia fazendo votos para um empate, o único resultado que lhe permitirá manter o primeiro lugar do grupo. E a Suíça lutará com a Bélgica a liderança do denominado Grupo 2 da Liga A. E na Liga B já há promoções. A Dinamarca, a Ucrânia e a Bósnia já subiram ao principal escalão desta Liga das Nações. Uma última nota nesta nova Liga. Gibraltar venceu dois jogos. Andorra e Liechtenstein um. Só San Marino não conquistou qualquer ponto e não marcou qualquer golo. Tudo isto na Liga D, na liga das Federações menos cotadas! Mas na Liga A, Alemanha e Islândia apenas marcaram um golo. Singularidades de uma competição que já provocou surpresas - e grandes - nesta sua primeira edição!

3. A justiça comum tem preenchido as nossas atenções. Ficamos a saber que o legítimo direito à greve pode perturbar o sagrado direito à liberdade e ficamos a conhecer imagens e mensagens que levam alguns a profundas ponderações acerca da justeza de decisões judiciais face aos indícios publicamente evidenciados. O tempo da justiça, e também a leitura ponderada de todos os dados constantes de um determinado processo, é cada vez mais um tempo em que a avaliação popular está para lá da devida deliberação judicial. E mesmo alguns que já sofreram na pele esse tipo de rápido julgamento em vez de optarem pelo devido silêncio resolvem enunciar palpites e proclamar opiniões. Na verdade vivemos, entre nós, tempos curiosos. As televisões recebem em bruto imagens constantes de um processo e não precisam de as editar. São repetidas em bruto, abundantemente discutidas e, até, quase que cientificamente analisadas. O tribunal de júri reúne-se quase que ao mesmo tempo que a telenovela passa em outra televisão ou em outro canal. É a justiça bem aberta, vista por todos. Agora todos sabem os limites da detenção para primeiro interrogatório, que os indícios do crime de terrorismo permitem buscas excepcionais e que os tribunais, em certas situações - não explicadas - fazem «informações à comunicação social». E até as numeram. Informação seis, informaram sete, porventura um dia destes informação oito. E numa singularidade singular a justiça comum quase se despe perante actos e factos que o futebol suscita e provoca. E nem estas situações levam à redução do IVA para o futebol! E sem que o poder da justiça, e naturalmente o próprio poder político, se pareçam preocupar com tudo a que assistimos e tudo o que vimos. Mas importa não esquecer Confúcio quando disse que «ultrapassar os limites não é um erro menor do que ficar aquém deles»!

4. Quatro notas bem especiais. Em sub-21 estamos a um pequeno passo do Europeu. A vitória na Polónia foi estimulante e é moralizante. Chaves vai empurrar esta jovem Selecção e vamos chegar, cheios de esperança, a um Europeu que poderemos conquistar. A segunda nota para sublnhar a entrevista que Jorge Jesus concedeu a este grupo de comunicação. Na sua edição em papel e na Bola TV vimos o cidadão e o homem, o treinador e o amigo, o emigrante e a sua imensa alma. E o que disse, e como disse, merece ser apreciado e sentido, diria que vivido. São momentos de uma vida vivida. Bem vivida como se pressente das imagens de Alcochete! A terceira nota para cumprimentar o Jorge Viegas pela sua conquista da liderança da Federação Internacional de Motociclismo. É mais um português no topo de uma das grandes e motivantes federações internacionais. E de uma modalidade que nos apaixona, nos faz vibrar e que tem jovens e talentosos praticantes portuguesas e que levam a nossa bandeira e o nosso hino a diferentes palcos do Mundo. A quarta nota para vivamente cumprimentar este jornal pelo regresso de Jorge Valdano às suas páginas. Valdano é um dos grandes nomes do futebol contemporâneo. Do futebol que jogou e do futebol que comentou. Do futebol que percebe e do futebol que conhece. Do futebol que é um jogo e, logo, um jogo infinito! Ontem já tivemos o privilégio da sua primeira e deliciosa crónica. São reflexões que nos preenchem e neste tempo em que o instantâneo nos domina é reconfortante ler - e reler - uma serena e profunda análise acerca do futebol e dos seus reais protagonistas. E por vezes, e como nos ensinou Alain, «reflectir é negar aquilo em que se acredita»! É mesmo!

5. (...)"

Fernando Seara, in A Bola

O 'fair play' financeiro

"A UEFA referiu esta semana que, no contexto das revelações feitas pelo Football Leaks, admite voltar a estudar a situação financeira dos clubes europeus, caso se demonstre que os casos não foram correctamente tratados. É aberta, assim, a possibilidade de reabrir processos e de os avaliar novamente.
Esta possibilidade de reavaliar casos relativos ao fair play financeiro foi também confirmada recentemente pelo Tribunal Arbitral do Desporto de Lausanne (CAS) no âmbito da decisão proferida no caso do AC Milan contra a UEFA, cuja decisão integral foi conhecida recentemente.
Recorde-se que a UEFA excluiu o clube de participação na próxima competição de clubes da UEFA para a qual, de outra forma, se qualificaria nas próximas duas temporadas (ou seja, em 2018/19 ou 2019/20), por incumprimento das regras do fair play financeiro, decisão que foi revertida pelo CAS.
O Colégio Arbitral do CAS entendeu que o caso deve baixar à UEFA para que seja proferida uma nova decisão de acordo com as regras da proporcionalidade, poquanto alguns elementos relevantes não foram devidamente avaliados pela UEFA, ou não puderam ser devidamente avaliados no momento em que a decisão foi proferida, em 19 de Junho, em particular que a actual situação financeira do clube está melhor neste momento.
Atente-se que a avaliação feita pela UEFA para efeitos de fair play financeiro é feita com base nos anos anteriores e não com base em situação actual ou futura do clube. Portanto, esta decisão do CAS introduz uma alteração significativa no que diz respeito ao processo estabelecido ao nível do futebol europeu para avaliação do cumprimento das regras impostas."

Marta Vieira da Cruz, in A Bola

Portugal, sim, e esta doce normalidade

"Quando conseguir resultados se torna um hábito

A Selecção Nacional garantiu o primeiro lugar do grupo e apurou-se para a final four da Liga das Nações. Foi até a primeira selecção a fazê-lo.
A notícia já é antiga, tem no momento em que escrevo pelo menos umas duas horas, a sensação é completamente inovadora. Muito moderna, aliás.
Ainda não há muitos anos, Portugal fartava-se de fazer contas, de projectar hipóteses, de avançar conjecturas. O sofrimento durava muitas vezes até ao último suspiro, até ao derradeiro apito.
Por isso o que se passa agora, o que se passou nesta Liga das Nações, no apuramento para o último Mundial ou na qualificação para o último Europeu, é uma saborosa novidade, que nos habitua a esta doce normalidade. Portugal nunca precisou de play-offs, nunca teve de fazer contas. Só no apuramento para o Mundial, aliás, necessitou do último jogo para se qualificar. De resto fê-lo sempre antes, com tempo, sem sobressaltos e sem fazer uso da especialização em matemática.
A Selecção Nacional está, portanto, a habituar-se a ganhar. Nem sempre joga bem, muitas vezes, como esta noite em Milão, fica até muito longe de o fazer, mas consegue resultados.
A cultura de vitória está a interiorizar-se no seio da Federação. Desconfio que foi por isso que não se viram festejos exuberantes na cara dos portugueses. Foi apenas mais um dever cumprido. Curiosamente em Milão, no lar de uma das selecções mais tituladas do futebol mundial.
Não teve brilho? Não teve, não senhor. Mas teve sucesso.
Mesmo sem Ronaldo, que não fez um único jogo nesta competição, Portugal soube ser maduro e mostrar que pode sobreviver ao fim daquele que será o melhor português de todos os tempos.
Por isso nesta altura, mais do que este, aquele ou outro jogador, mais do que aquela promessa de 19 anos ou a outra de 17, é esta cultura de vitória que garante o futuro da Selecção Nacional.
Esta doce normalidade."

Outra vez, Alemanha?

"2018 atirou a quatro vezes campeã mundial ao chão

Em quatro anos, a Alemanha foi do céu ao inferno.
Campeã do mundo no Brasil, última classificada do grupo na Rússia. Afinal, porém, havia mais. Num ano absolutamente trágico, a selecção germânica ficou também no último lugar na respectiva poule da Liga das Nações e já sabe que foi despromovida à segunda divisão da competição.
Daqui por dois anos vai estar a defrontar o País de Gales, a Áustria, a República Checa ou a Eslováquia. Muito longe, portanto, daquele que é o seu habitat natural.
A selecção alemã está em crise? É arriscado dizê-lo. A verdade é que tem sido vítima de uma série de acasos. Na Rússia, por exemplo, esteve até ao fim a lutar pelo apuramento. Dois golos coreanos nos descontos empurraram-na para o último lugar.
Nesta Liga das Nações, foi de facto inferior na derrota em Amesterdão, embora tenha tido mais bola, e jogou sempre taco a taco com a França. Os golos de Griezmann, em Paris, de Depay e Wijnaldum, em Amesterdão, todos eles sobre o fim do jogo, atiraram-na ao chão.
Antes disso, esteve nas meias-finais do Euro 2016, no qual só foi eliminada por uma França que até foi inferior no jogo, com menos posse de bola e menos remates, e fez uma fase de apuramento para o Mundial 2018 absolutamente irrepreensível: dez vitórias em dez jogos.
A verdade, porém, é que a grande Alemanha, a velha Alemanha, não permitia que jogos como os mais recentes lhe acontecessem. Era demasiado forte para isso. Esta Alemanha, parece nunca ter sido capaz de se recompor daquela partida em Moscovo, em que foi atropelada pelo México.
Desde então tem andado errática, insegura, pouca... alemã.
É verdade que em dois anos perdeu Schweinsteiger, Mario Gomez e Mesut Ozil, abdicou de Khedira, viu-se mergulhada numa série de polémicas xenófobas e parece ter ficado mais pobre em referências. Mas isso não explica tudo. Até porque o país continua a ser uma fonte de talentos.
Pode ser apenas um ano mau. Mas que é estranho, é. E até desonroso."

O “caso da academia do Sporting”, as greves e a melancolia da Justiça

"Tendo em conta o comportamento processual do agora arguido Bruno de Carvalho, não se justificava – com os dados conhecidos – a detenção a um domingo à noite, com o espectáculo de saber onde dormiria o indivíduo.

Agora que está mais calmo o circo mediático em torno dos acontecimentos na academia do Sporting, julgo importante reflectir sobre algumas questões. Obviamente que não conheço o processo e o que sei resulta das notícias publicadas.
Comecemos pela competência delegada pela procuradora-adjunta responsável pelo inquérito na GNR e não na PJ. A Lei de Organização da Investigação Criminal (LOIC: Lei n.º 49/2008, de 27/8) foi criada exactamente para evitar conflitos, neste caso positivos, de competência entre órgãos de polícia criminal (OPC), reservando de modo absoluto à PJ a investigação de um catálogo de crimes, de entre os quais se acha o terrorismo (art. 7.º, n.º 1, al. l)).
De modo incompreensível, o art. 8.º da mesma Lei permite que esse quadro possa ser alterado, pelo que não é inválida a decisão da procuradora deferir a competência à GNR. Simplesmente, lendo o citado art. 8.º, pelo que se sabe, não há qualquer razão objectiva para se afastar a competência da PJ, nos estritos condicionalismos que a norma consagra.
Daí existirem decisões de tribunais superiores que entendem que a LOIC é meramente indicativa, o que tecnicamente está certo, mas político-criminalmente e enquanto teleologia da Lei, é um erro crasso. Erro que cabe ao legislador corrigir e não aos aplicadores do Direito, pelo que me parece urgente revisitar esta “coisa esquizofrénica” de estabelecer um quadro de competências aparentemente exclusivo, mas depois conceder ao Ministério Público (MP) a faculdade de o alterar. 
Claro que é a ele que compete a condução do inquérito, mas mesmo o art. 8.º hoje vigente, pelo que conhecemos, nunca – ou muito dificilmente – poderia conduzir ao afastamento da PJ. Tanto mais que, quem conhece a prática sabe – o caso da PJM está aí para o demonstrar – que são diárias as disputas entre OPC quanto à investigação criminal, a falta de circulação de informação e mesmo a sua sonegação. Ainda esta semana integrei um júri de mestrado em que este era o fulcro da discussão. 
Estou também seguro, com todo o respeito sincero que me merece a GNR – onde tenho vários amigos –, que se a PJ – como devia – tivesse conduzido as investigações desde o início, não teríamos assistido a uma intervenção tão musculada, de claro exagero, digna de um país de terceiro mundo e que revela a natureza militar da GNR. O excesso de exibição da força enfraquece a força dos argumentos.
Por outro lado, tendo em conta o comportamento processual do agora arguido Bruno de Carvalho, não se justificava – com os dados conhecidos – a detenção a um domingo à noite, com o espectáculo de saber onde dormiria o indivíduo. Nem se diga que os eventuais receios fundados contra “Mustafá” conduziram a que a detenção fora de flagrante delito tivesse de ser lançada ao mesmo tempo. Não é assim, uma vez que uma simples vigilância policial impediria qualquer tentativa de fuga do arguido Bruno. Dispensável, portanto, esta actuação, sendo certo que todo o processo penal é perpassado pelo princípio da proporcionalidade e pela garantia de defesa da dignidade humana.
Do que se conhece, tem-se ainda debatido se este caso configura ou não uma hipótese de terrorismo. Estamos todos – empiricamente – habituados a que este tipo legal tenha motivações religiosas, ideológicas ou políticas, mas o modo como os artigos 4.º e 2.º, n.º 1, da Lei n.º 52/2003, de 22/8, redigiram o ilícito não o exigem: “(…) agrupamento de duas ou mais pessoas que, actuando concertadamente, visem (…) intimidar certas pessoas, grupos de pessoas (…) mediante: a) Crime contra a vida, a integridade física ou a liberdade das pessoas;” e “c) Crime de produção dolosa de perigo comum, através de incêndio, explosão (…)”.
A mera leitura do tipo objectivo, numa fase processual como esta em que se acha encerrado o inquérito com o despacho de acusação pública, não permite dúvidas quanto a concluir que, efectivamente, existem, na perspectiva do magistrado do MP, indícios suficientes da prática deste crime. E bem se compreende, uma vez que o bem jurídico protegido é a paz e segurança públicas, que, pelo que se sabe, foram efectivamente lesados, sendo certo que este é um delito de perigo, em que nem sequer se exige que o interesse tutelado seja efectivamente posto em causa.
Uma última nota: veio a público que o MP e o OPC que o coadjuvou no inquérito não têm acesso a um software de desencriptação de mensagens escritas, o que é simplesmente caricato. Pelos vistos, temos de recorrer a entidades estrangeiras, com as naturais delongas. Se não fosse trágico, seria cómico.
Por estas e por outras se compreende a greve dos funcionários de justiça e a anunciada dos juízes, não cuidando aqui da discussão de saber se estes, enquanto titulares de órgão de soberania, são ou não portadores desse direito. Isso seria matéria para outro artigo, mas, de forma apertada, a minha resposta é afirmativa, como aliás o próprio Conselho Superior da Magistratura já o reconheceu. As especificidades dos Tribunais como órgãos de soberania, a forma como a carreira dos juízes está organizada, não permitem compará-los ao Presidente da República, à Assembleia ou ao Governo, estes claramente impedidos do direito à greve.
Bastará conhecer o dia-a-dia dos tribunais, o profundo desrespeito pelos juízes com uma reforma do seu Estatuto que se vai atirando para as calendas, com uma Ministra da Justiça que na parte remuneratória nem se arrisca a discutir, chutando para Costa e Centeno, para compreender que os magistrados judiciais tenham de dizer “basta”. Por eles, pela qualidade do sistema público de justiça e, em última instância, por todos os cidadãos. Claro que esta greve não é popular e o Governo sabe muito bem disso – pelas complicações práticas que traz à vida de quem contacta com os tribunais, a que sempre se acopla os “luxos e mordomias” dos magistrados judiciais. Vejam bem quanto eles ganham – os valores são públicos – para pessoas a quem se exige uma enorme formação técnica, que têm de ser independentes e imparciais e que não podem ter – e bem – qualquer outra fonte de rendimento. Não se embarque em considerações demagógicas e populistas quanto à questão remuneratória, pois só se pode comparar o que é comparável.
Enfim, tempos de alguma tristeza na justiça, talvez a condizer com o tom cinzento do tempo (meteorológico)."

O improvável encontro entre Hannah Arendt e Bruno de Carvalho

"Pensei sobre a inusitada ligação acima referida a propósito de uma reflexão para responder a uma questão que me foi colocada sobre a liderança de Bruno de Carvalho, ex-presidente do Sporting. Com base na conjugação de alguns factos do domínio público como a sua eleição com cerca de 90% dos votos, com a maior participação de sempre dos sócios do Sporting nas eleições; por se definir como um presidente-adepto; por assumir que criou a fama de maluco, por conselho do seu tio-avô Pinheiro de Azevedo; pela sua relação próxima com a claque; por ter nos seus corpos sociais individualidades distintas da vida social portuguesa, abordei o assunto com recurso a Hannah Arendt.
Mas quem é Hannah Arendt?
Hannah Arendt foi uma judia alemã, que viveu no século passado (1906-1975), exactamente na altura em que Hitler e Estaline emergiram como líderes totalitaristas. O pensamento original e independente de Arendt contribuiu para a compreensão de como estes processos estudados na psicologia social podem ocorrer e ter impactos tão dramáticos na existência humana. A sua filosofia existencialista não caiu na facilidade de incidir apenas no “sujeito pensante”, mas sobretudo nas acções, percepções, sentimentos e vivências do “ser humano completo”.
Das suas notáveis obras destaco para o presente assunto “As origens do totalitarismo”, publicado em 1951, onde discute o paralelismo das ideologias totalitárias do Bolchevismo e do Nazismo. Nesta análise, Hannah Arendt apresenta uma explicação da sociedade e também da vida individual, mostrando como a via totalitária depende da “banalização do mal”, da manipulação das massas, da ausência de crítica face à mensagem dos líderes. Os líderes totalitaristas aparentemente com teorizações sociais tão distintas como de extrema-esquerda (Estaline) e de extrema-direita (Hitler) seguem, segundo Arendt, as mesmas vias e alcançam o poder por explorarem susceptibilidades particulares das massas.
Será que a teoria da liderança totalitarista de Arendt pode ajudar a perceber a liderança em organizações desportivas?
Comparar o Nazismo ou o Bolchevismo que provêm de uma escala mundial a uma dimensão local como o funcionamento de uma organização desportiva é claramente abusivo. Não é o que pretendo fazer. Proponho somente reflectir sobre liderança, cujos processos psicossociais são relativamente independentes da escala. Além disso, estou ciente que nenhuma liderança incorpora um “estilo puro”, mas recorre à interacção única entre as características do líder, as circunstâncias sociais em que a liderança é exercida, os aspectos particulares de cada plano estratégico e de acção, entre outros factores. Mesmo assim, reler Hannan Arendt pode ser estimulante.
Para Arendt, os líderes totalitários não são distinguíveis das massas. Eles são a personificação, a representação visível, a voz das massas. Porém, as massas susceptíveis ao totalitarismo têm características especiais. Ocorrem em sociedades onde há descrença no poder político, onde as classes sociais estão dissolvidas, onde a responsabilidade social dos cidadãos está diminuída e está generalizada a indiferença.
Os líderes totalitaristas surgem das sombras da sociedade, emergem do anonimato, de dentro das massas, e aparecem como aqueles que podem impedir a catástrofe do “não se fazer nada”. Apresentam-se como prontos para se sacrificar para o bem comum que é a organização, ao mesmo tempo que tratam com distinção as massas que representam. Assumem uma ambição global, muito para além dos limites da organização. Mais do que um posto, ambicionam criar um movimento e gerar influência social. Para isso, cultivam a instabilidade, pois a estabilidade não traz a força-motriz necessária ao movimento.
Os seus associados seguem-no, não porque o achem infalível, mas porque são convencidos que quem lidera essa organização tem os meios para se tornar infalível.
Como são os líderes totalitaristas?
Estes líderes têm uma comunicação interpessoal muito eficaz, causando um certo fascínio junto dos que o rodeiam. Mas esta fascinação não advém de nenhuma qualidade cativante, “quase mágica”, capaz de retirar o discernimento dos que o ouvem (sendo, portanto, distintos dos líderes carismáticos). A fascinação ocorre devido às propensões sociais da audiência para quem ele se dirige. Para estas massas o líder é directo e claro. O discurso é peremptório e reduz a incerteza de pessoas que querem ter certezas.
Outra característica é a sua extraordinária autoconfiança, que inspira os outros a terem confiança nele. Também a sagacidade que insinuam ter, cria convicções nos ouvintes de que se é sagaz.
São líderes que vão desenvolvendo uma lógica quase ficcional ou distorcida quanto ao que vão atingir ou ao que explica o estado das coisas. Mas essa lógica é apoiada pelas massas. É este dogmatismo ficcional coerente que legitima o líder: as massas são cativadas pelo discurso e envolvem-se no processo. E quanto mais se envolvem, mais se tornam cúmplices do discurso e actuam de forma a legitimá-lo.
Um importante aspecto do líder totalitarista, referido por Arendt, e que contrasta com o líder carismático, é ter a sua credibilidade muito mais assente na organização que lidera do que nas suas características pessoais. E isso reforça ainda mais a proximidade com aqueles que o elegeram.
E como se explica que figuras ilustres se mantenham no processo?
O líder totalitarista não aparece como totalitarista. Inicia a sua ascensão com base na sua habilidade de negociação, nas alianças variadas, na divisão entre os membros. É depois de consolidada a liderança que emerge uma acção centrada no exercício de poder.
Nesta segunda fase o líder sustenta o seu poder pela convicção junto dos seus membros de que sem ele tudo ficará perdido. A partir desse estádio, segundo a análise de Arendt, o líder impõe-se como necessário muito mais pela função que pela pessoa que é. O seu afastamento colocaria em causa todo o estado das coisas. É nesta fase de liderança consolidada que o discurso dogmático tende a atingir maiores proporções quer por parte do líder como dos liderados.
Por um lado, porque o líder totalitarista percebe que a realidade pode ser fabricada para ir ao encontro das suas previsões. Por outro lado, os observadores que estão fora desse domínio totalitário reduzem as defesas e o estado de alerta, por percepcionarem o seu discurso como demagógico e até algo inofensivo, tal a distorção da realidade.
No intuito de ampliar o poder e a força do movimento o líder totalitarista investe na identificação de inimigos. E, perante as massas, justifica a inequívoca necessidade daqueles serem derrotados, ainda que a custo da própria lei vigente. E assim acentua-se a fabricação da realidade que interessa ao totalitarismo.
E o controlo das claques?
É neste exercício de poder que se impõe uma força interventiva, que por analogia poderá ser a claque. Este grupo funciona como uma força que nunca questiona o líder, que é quem lhes permite o acesso a recursos vários, patrocina as suas mobilizações e legitima o seu funcionamento e existência. Neste sentido, reforçam a acção do líder, cientes que estão de não conseguirem sobreviver à queda do eleito.
A intrincada ligação entre massas, membros, forças interventivas e líder não exclui o “culto à personalidade” organizacional. Este culto narcísico dificulta o afastamento da organização, mesmo em situações limite. Mas esta foi a análise de Hannah Arendt sobre a liderança totalitarista de Adolf Hitler e Josef Estaline. Qualquer semelhança com Bruno de Carvalho será provavelmente coincidência."

Liderança isolada...

Benfica 83 - 75 Oliveirense
24-18, 27-16, 20-24, 12-17

Ainda sem o Xavi, com o Suarez a lesionar-se ainda na 1.ª parte (parece que já estava condicionado!), e vencer o nosso principal rival nesta Liga, com esta limpeza, é moralizador...
Grande 1.ª parte, com menos opções na rotação, seria normal baixar o rendimento na parte final, mas acabámos por vencer o jogo na luta!!!