segunda-feira, 5 de novembro de 2018

Dopagem no ciclismo: decisão do CAS

"O Tribunal Arbitral do Desporto de Lausanne (CAS) proferiu uma decisão abrangendo três recursos interpostos contra a decisão emitida pela American Arbitration Association (AAA) em 21 de Abril de 2014 no caso da Agência Anti Dopagem dos Estados Unidos da América (USADA) contra Johan Bruyneel, Pedro Celaya Lezama e José Manti Marti.
Este é, nas palavras do CAS, o «último capítulo da saga que teve como protagonista Lance Amostrong e as equipas da US Postal Services (USPS) e da Discovery Channel».
Como resultado dos processos contra si movidos, Lance Amostrong foi sancionado com um impedimento vitalício. De acordo com a USADA, os três envolvidos neste novo processo fizeram também parte do mesmo esquema de dopagem, encorajando o uso de substâncias proibidas para melhorar a performance da equipa e evitar a respectiva detecção.
Neste caso, a AAA impôs um período de inelegibilidade de 10 anos a Johan Bruyneel, ex-gerente/director desportivo de várias equipas profissionais de ciclismo, e de 8 anos a Pedro Celaya Lezama, médico da equipa, e a José Marti Marti, treinador da equipa. A WADA recorreu, igualmente, desta decisão, pedindo a imposição a todos de uma inelegibilidade vitalícia.
O CAS decidiu alterar a decisão da AAA, tornando os períodos de inelegibilidade de José Marti Marti por 15 anos. O CAS concluiu que as provas apresentam um quadro muito claro: entre 1997 e 2007, Bruyneel, Marti e Celaya articularam um esquema de dopagem elaborado e altamente bem sucedido, com Bruyneel  no centro do esquema e Marti e Celaya como participantes indispensáveis."

Marta Vieira da Cruz, in A Bola

Breve história da brevidade

"Em 1590, Giovanni Battista Castagna tornou-se o 229º Papa da Igreja Católica com o nome de Urbano VII. A 27 de Setembro, treze dias após a eleição, morreu de malária (ou, se quisermos ser mais danbrownistas que Dan Brown, vítima de uma terrível conspiração dos templários). O príncipe Luís António, duque de Angoulême, foi rei de França durante vinte minutos, entre a abdicação do seu pai, Carlos X, e a sua própria abdicação em favor do sobrinho, Henrique V. O nono presidente dos Estados Unidos, William Henry Harrison, tomou posse a 4 de Março de 1841. Adoeceu logo a seguir e, apesar dos esforços dos médicos que lhe ministraram ópio e aplicaram sanguessugas e óleo de rícino, morreu exactamente um mês depois, a 4 de Abril daquele ano, vítima de pneumonia. Em 1963, João Guimarães Rosa foi finalmente eleito para a Academia Brasileira das Letras, mas só aceitou tomar posse a 16 de Novembro de 1967. Três dias depois, sofreu um enfarte e morreu.
Há, na história da humanidade, muitos outros exemplos de reinados breves, de lideranças efémeras e de domínios momentâneos cuja única razão para os lembrarmos é a sua própria brevidade. No caso do futebol, mais precisamente no caso dos treinadores de futebol, isso gerou uma categoria à parte, a do treinador interino, uma das espécies mais curiosas do desporto. Após uma chicotada psicológica, e mesmo quando já têm em mente o sucessor, os dirigentes costumam deixar um hiato entre a saída de um treinador e o anúncio do novo ocupante do lugar. Para gerir o grupo, recorrem a um dos adjuntos ou a uma antiga glória do clube capaz de amortecer a insatisfação e impaciência dos sócios. Os jogos orientados pelos treinadores interinos são um limbo em que as derrotas não doem tanto e as vitórias satisfazem apenas o suficiente para gerar a suspeita, infundada na maior parte das vezes, de que talvez aquela fosse uma boa solução a longo prazo. Anunciado o novo treinador, o interino esfuma-se, desaparece numa nuvem de agradecimentos ao seu espírito de missão e regressa abnegadamente às funções anteriores ou vai treinar um obscuro clube cipriota.
Ao contrário de todos os outros treinadores, cujo futuro depende dos resultados, o treinador interino já sabe que, independentemente dos resultados, o seu destino é o despedimento. Bem, despedimento não é a “mot juste”. Chamemos-lhe remoção indolor do cargo. É que os reinados dos interinos, por definição breves, têm essas características: tudo neles é indolor, intangível, invisível e olvidável. É como se nunca tivessem acontecido. Ou quase. Eu, por exemplo, lembro-me bem do crime lesa-pátria que foi a passagem sumária de Fernando Chalana pelo banco do Benfica. Ver uma das maiores glórias do clube completamente exposta aos ataques dos adversário e sem a protecção da famosa “estrutura” foi um dos momentos mais negros da presidência de Luís Filipe Vieira.
Mesmo assim, os adeptos poupam o interino ao julgamento severo reservado a todos os treinadores. Para quê gastar munições com quem está ali a apagar um fogo? Por isso, o treinador interino goza de uma irresponsabilidade acompanhada da indulgência dos adeptos que lhe permite proceder às experiências tácticas mais extravagantes, emitir as declarações mais obtusas nas conferências de imprensa e lançar, ao arrepio da lógica e do bom senso, os jogadores mais improváveis. Ninguém lhe liga. Ou quase. Regressando a Fernando Chalana, reza a lenda que foi ele, na sua primeira experiência como interino em 2002, a inventar Miguel a lateral-direito.
No domingo, Tiago Fernandes, incumbido de fazer a ponte entre José Peseiro e, ao que tudo indica, Marcel Keizer, ou seja, encarregado de ligar o desastre ao desconhecido, também quis adaptar um jogador a novas funções e apostou em Lumor, um lateral-esquerdo a quem foi pedido que fizesse de lateral-esquerdo. Após o jogo, que terminou com uma vitória suada do Sporting e serviu para mostrar pela enésima vez que José Peseiro é capaz de ser o treinador mais azarado do mundo, o interino afirmou que a sua equipa podia ter ganhado por três ou quatro a um. Outro treinador veria as suas escolhas e as suas afirmações submetidas a um minucioso escrutínio. Já o interino beneficia da liberdade da sua irrelevância e do horizonte curto da sua permanência no lugar. Como um condenado à morte tem direito a escolher uma última refeição, o interino tem direito a banquetear-se com declarações delirantes e apostas originais.
Na verdade, Tiago Fernandes podia ter feito uma dupla de centrais com Viviano e Bas Dost, podia ter dito que o resultado mais justo seria uma vitória do Sporting por cinco a zero ou que o União da Madeira merecia ter marcado três golos. Um interino é quase inimputável e tem todo o direito a trocar o nome dos adversários, as posições dos jogadores e o sistema de jogo. Digamos que o interino é uma espécie de inconsciente dos treinadores que vivem reprimidos com medo do cutelo. Ora, para o interino, a única certeza da vida é o cutelo e essa certeza liberta-o da lei que subjuga os outros. Numa época em que muitos clubes querem encontrar o seu Ferguson, um treinador para a vida toda, seria melhor que alguns treinadores fossem possuídos pelo espírito livre, um tanto anárquico e irresponsável, do interino, como se a carreira acabasse amanhã, como se cada jogo fosse o último. É que, para os treinadores interinos, normalmente é."

Rui Vitória no quarto ano, José Peseiro nem quatro meses

"O Sporting despediu um treinador no dia 1 de Novembro. O Sporting estava a dois pontos do primeiro lugar no campeonato, o técnico tinha chegado há três meses apenas e não fora eliminado em qualquer das outras provas em que participa. E tinha chegado ao clube após um Verão em que os sócios tiveram de afastar o presidente anterior após uma série de episódios inauditos que incluíram uma cena inacreditável de agressão aos próprios jogadores. O plantel foi remendado à pressa e por uma comissão administrativa transitória. Muitos jogadores essenciais saíram e outros apenas agora, agora mesmo, nos dois últimos jogos, começavam a dar o contributo à equipa. O Sporting vinha do melhor jogo e da melhor exibição para o campeonato. O Sporting perdeu em casa um jogo menor, de uma prova não absolutamente relevante. O treinador foi despedido nessa noite.
Os sócios do Sporting, que tiveram de forçar a saída de Bruno de Carvalho, escolheram para liderar o clube o até então médico da equipa de futebol. Frederico Varandas, homem de voz serena e estilo tranquilo surgia apostado em devolver a estabilidade perdida. Ainda na campanha eleitoral, assumiu que a aposta no treinador José Peseiro estava certa e era para manter. A mesma estabilidade o recomendava. Enquanto os resultados foram positivos, muito positivos até no contexto, o Sporting parecia outro. Aos primeiros e adivinháveis desaires, voltaram os disparates, a começar por Sousa Cintra, o homem que o tinha contratado(!), que classificou Peseiro como “hesitante”. Logo Sousa Cintra, famoso pela certeza das convicções desde que despediu Bobby Robson num avião após um jogo europeu, pressionado por dois ou três grandes “conhecedores” do jogo. O Sporting que despede Peseiro desta forma é filho desse outro, o da instabilidade.
O cúmulo desta vez foi ser o próprio presidente do clube, Frederico Varandas, a fazer o pré-anúncio de despedimento, primeiro numa longa entrevista ao Expresso e depois numa conversa de podcast de um conhecido adepto. Discreto em tudo até então, Varandas mostrou que já tinha desistido de Peseiro e que a vitória confortável frente ao Boavista apenas adiara o destino traçado. Já não era apenas o desejo de ter “o melhor treinador”, era o aviso de que Peseiro poderia não ser solução para toda a época. É todo um compêndio de como não actuar, destratando Peseiro de uma forma que este não merecia. Independentemente do que se pensar dos seus méritos, tem um trajecto indiscutível de seriedade no futebol português e assumiu o Sporting numa aposta de grande risco (como agora se comprova). Imaginemos o que teria acontecido se Peseiro tinha ficado mais uns dias e ganho nos Açores, já que não foi decerto por mérito do sucessor episódico que os leões ganharam, em mais uma exibição descolorida. O Sporting estaria (como está) a 2 pontos dos primeiros e outros 2 à frente do Benfica. Não foi isso que aconteceu porque o Sporting despediu o treinador recém-chegado no dia 1 de Novembro, quando estava a dois pontos apenas do primeiro lugar no campeonato e não tinha sido eliminado em qualquer outra prova em que participa. Resta a Varandas provar que o holandês Keiser é a tal solução claramente melhor. Não vai ser fácil.
Grato à instabilidade de Alvalade pode estar mais uma vez o Benfica, agora que é quase unânime o que muito poucos viam há um par de meses e apenas dois ou três tentam explicar há alguns anos. Muitos dos que antes vitoriavam Rui Vitória, acenam-lhe agora com lenços brancos, mesmo que não saibam exactamente porquê. Será pelos resultados, claro, como se eles fossem a verdade única no futebol. Não são. Mesmo quando a águia saboreava títulos por inércia, eram vários os prenúncios de que este momento chegaria. Um rendimento coletivo em plano inclinado ia sendo disfarçado pela qualidade individual da equipa – este ano reforçada – aliada a uma habilidade para manter o grupo unido que Rui Vitória – reconheça-se isso – foi mostrando ter. Era pouco todavia para um clube com grandes ambições e talento disponível de fazer inveja aos maiores rivais. Aliás, os jogos com os grandes em Portugal (só 3 vitórias em 18 clássicos) e as cada vez mais sofríveis prestações europeias eram o teste do algodão. Quando o Benfica não tinha claramente melhores jogadores que o adversário de ocasião sofria bastante e perdia muitas vezes. Ao quarto ano no clube, Rui Vitória não apresenta um modelo de jogo eficaz e consolidado e não deixa perceber qual o critério de escolha de jogadores para cada jogo. O rodízio entre os jogadores de ataque, por exemplo, não apresenta um critério fácil de entender. No jogo frente ao Moreirense, o técnico encarnado lançou uma frente de ataque toda nova (João Félix titular depois de ter ficado na bancada no jogo anterior, Jonas em estreia na posição em que brilhou no ano passado mas onde não fora visto ainda esta época, Rafa derivado pela enésima vez para a direita). Sobraram para utilizar durante o jogo Salvio, Castillo e Cervi, além de não terem alinhado sequer Facundo Ferreyra, Zivkovic e o lesionado Seferovic. Quem tem soluções deste nível não pode, ao quarto ano com o mesmo técnico, render tão pouco ofensivamente, perder sem discussão com Belenenses e Moreirense e estar de novo perto de se despedir sem glória da Liga dos Campeões. Luís Filipe Vieira chegou a uma encruzilhada. A menos que ocorra uma hecatombe frente ao Ajax – o que, apesar do mau momento não é previsível – poderá ser a partida em Tondela a determinar o futuro de Rui Vitória no Benfica. Um triunfo irá segurar o treinador mas deixará o clube sujeito à instabilidade que já chegou à bancada. Qualquer outro resultado complicará muito o trabalho do treinador seguinte, que será então uma fatalidade."

O jornalismo tem de explicar-se, as fake news nunca o farão

"Caros leitores,
gostava de começar este texto com um compromisso: o trabalho de um jornalista, como o meu, é sempre questionável. Todos os leitores podem, e devem, querer saber como se chega à informação. Por isso, os textos de jornal são assinados. Este jornalista, seguindo um método, que tem regras, conta esta história. Se há dúvidas, esclareçamo-las.
Este jornalista tem passado as últimas semanas a trabalhar num tema: as fake news. Digo-o, assim, em inglês porque é mais simples. O tema é o da "desinformação". A informação que não o é. A mentira.
Comecei esta saga com um trabalho sobre uma montagem fotográfica de uma líder partidária portuguesa. Dizia essa montagem que ela (Catarina Martins, do BE) usava um relógio que custava 20,9 milhões de euros. Segui o método que uso sempre para escrever esta notícia. Verifiquei quem difundiu a imagem. Foi um site chamado Direita Política. Procurei saber quem faz esse site. Foram dias de pesquisa. É fácil encontrar um IP (a morada de um site na internet). Qualquer um o pode fazer no seu computador. O mais difícil é encontrar o registo desse IP (que neste caso era longínquo, no Canadá). E ainda mais difícil é fazer corresponder esse registo a uma pessoa concreta.
Por isso é que o método dos jornalistas importa (chama-se verificação dos factos). Neste caso, uma das fontes documentais que consultei indicava que o dono do site era um outro português, com o mesmo nome do verdadeiro dono. Pedi ajuda a pessoas que percebem mais de registos de internet do que eu. Chateei, insisti. E finalmente percebi que as fontes, mesmo as credíveis, podem errar. Por isso é importante sermos céticos. Podemos descobrir erros e não os publicar.
Sabem o que fiz? Telefonei a essa pessoa e disse-lhe: cuidado. Disse-lhe que uma entidade lhe atribui, erradamente, a autoria de um site de notícias falsas. Acho que assustei esse cidadão, que é dono de uma agência de comunicação, em Portugal.
Quando tive a certeza de quem era o autor do Direita Política, e consegui o seu telemóvel (acreditem, não é fácil...), telefonei-lhe. Antes de lhe poder fazer perguntas, tive de pesquisar, em bases de dados especializadas (do ministério da Justiça, de registos empresariais, etc), quem era aquela pessoa. Quando tinha isso tudo, e as importantes respostas que o autor do site em causa me deu, escrevi. Tive o cuidado de não julgar as acções. De as tentar explicar, à luz daquilo que me tinha dito o seu autor. Por uma razão, fácil de entender: mesmo as más acções têm uma justificação. O jornalismo depende - vive - dessa riqueza. O bem e o mal não são critério nosso - quem lê decide.
E o que decidiram alguns leitores? Que eu estava a escrever um texto persecutório. Que só por se chamar Direita Política é que o site tinha sido alvo do meu trabalho. Que não há redes que difundem mentiras políticas em Portugal. Ou, pelo contrário, que há agora como sempre houve.
Tentarei explicar: é verdade que a mentira e a política têm uma relação longa. Havia fake news na Grécia antiga, na Roma de César, e muito provavelmente em todos os sistemas políticos que conhecemos desde então. Mas a importância atual deste tema é bem mais recente. Começou em meados de 2016, durante a campanha presidencial americana, quando Craig Silverman, editor do siteBuzzfeed, reparou num estranho detalhe. Havia textos a circular nas redes sociais, construídos como se fossem notícias, com informações falsas. Do género: "Papa Francisco apoia Donald Trump" ou "Investigador do FBI que pesquisa caso de Hillary Clinton aparece morto em casa". Notícias falsas, replicadas como verdadeiras, e aceites por milhares de pessoas. O Buzzfeed investigou a autoria destas mentiras e chegou a uma estranha conclusão: elas tinham sido criadas todas numa pequena cidade da Macedónia, na Europa, chamada Veles. Depois, um complexo sistema informático tratava de as difundir no Facebook, seguindo o caminho ditado por um algoritmo criado para perceber quem seriam os alvos mais crédulos. A partir daí, foi uma praga: todas as eleições posteriores foram marcadas por esta distorção. A mentira propagou-se mais depressa que a verdade. 
Por isso, aqui no DN, numa reunião normal de ideias, surgiu a sugestão: por que não tentamos encontrar fake news portuguesas? Foi assim que chegámos às duas primeiras mentiras: a foto de um jantar em casa de José Sócrates, acompanhada de uma legenda que indicava a presença da actual PGR; o relógio caro de Catarina Martins.
A realidade é sempre complexa. Este caso prova-o. Escrevi a notícia, que incluía uma clarificação do autor do site. Não fora ele a manipular a imagem de Catarina Martins, apenas a difundiu. Na verdade, quem, de facto, manipulou a imagem tinha uma intenção oposta à do site que a difundiu, fê-lo para combater as fake news.
O autor da imagem é um anti-populista, anti-mentiras e boatos, de direita. Militante do PSD. Eleito numa lista do PSD e do CDS. Essa foi a história que escrevi na semana seguinte: o autor da manipulação tentou mostrar o risco que existe, nas redes sociais, de reagirmos apenas com base nas nossas convicções epidérmicas. Se odiamos alguém na política, tendemos a acreditar em tudo o que lemos sobre ela.
A resposta à outra crítica que foi lançada sobre os trabalhos do DN é essa: as fake news são mais utilizadas por sectores de extrema-direita (ou alt-right), não só em Portugal mas no mundo inteiro. Há trabalhos académicos que o demonstram, como este. É da Universidade de Oxford a conclusão: a difusão de mentiras políticas não é uniforme no espectro político. Há uma estratégia, há financiadores conhecidos, há países envolvidos (como a Rússia) na sua difusão. Foram usadas por apoiantes de Trump contra Clinton, de Bolsonaro contra os seus adversários, pela campanha do Brexit contra o "remain", por Le Pen contra Macron, pelo 5 Estrelas e pela Liga italiana, pelos partidos anti-emigrantes na Alemanha, na Áustria, na Suécia. Esta é a realidade. Só esta: há um setor político específico que usa esta estratégia - chama-se populismo nacionalista e quer derrotar tanto a esquerda como a direita que conhecemos.
Nada disso impede, é claro, que o DN investigue mentiras difundidas pela esquerda contra a direita. Quando qualquer leitor tiver conhecimento de uma, agradecemos que nos envie a informação. O meu mail é este: paulo.pena@dn.pt
 Qualquer notícia falsa que esteja nas redes sociais, seja de esquerda ou de direita ou de centro, que minta sobre Assunção Cristas, Rui Rio, António Costa, Jerónimo de Sousa ou Catarina Martins (ou qualquer outra pessoa, seja qual for a sua opinião) será tratada neste jornal, da mesma forma.
Assim chegamos ao texto desta semana, com uma mentira sobre o primeiro-ministro António Costa. Curiosidade: quem me alertou para esta fake news não foi ninguém próximo do PS, foi um eleito do PSD - preocupado com o tema.
Passei os dias seguintes a fazer o que devo: a seguir um método. Cheguei a um IP, encontrei um registo (em Odivelas), descobri as ligações desse registo a outros sites, procurei referências. Cheguei a um nome. Cheguei a um telemóvel.
Liguei. A primeira pergunta que fiz foi a óbvia: bom dia, é o autor do site Gazeta Política? A resposta foi afirmativa. Passámos dezenas de minutos a falar. A complexidade voltou a mostrar-se. O autor do site tinha sido dirigente de um partido, agora diz-se apartidário. Já apoiou o CDS e o PS. Escrevi isso tudo.
No twitter - rede que não frequento por desconsiderar as minhas opiniões - escreveu-se, de novo, que isto é apenas uma perseguição. Que não se percebe a insistência no tema. Este é um dos raros casos em que tenho uma opinião formada.
Este tema definirá, no futuro, a forma da nossa democracia. Leiam as caixas de comentários dos sites que citei. Vejam quantas mensagens anti-política lá estão, e de desconfiança nos media, e de ódio. Não há muito que um jornalista possa fazer quanto a isso. Descobrir de quem são os sites difusores de mentiras, quem os paga, por que o fazem, se têm ou não qualquer relação com Estados estrangeiros, é o meu modesto contributo para - pelo menos - mostrar aos leitores que devem ser cépticos. Que devem desconfiar do que dizem os jornais (e exigir explicações), mas devem sobretudo desconfiar do que circula, por atalhos, nas redes sociais, sem nenhum nome que assuma a autoria, ou sem um título que garanta a responsabilidade.
O que importa, no fim, é o que Hannah Arendt escreveu, há muitos anos, no seu Truth and Politics (Verdade e Política): A liberdade de opinião é uma farsa quando a informação factual não está garantida, e quando os factos, eles próprios, são controversos.
Desculpem-me o excesso, mas vou terminar com outra opinião: a melhor forma de combater a mentira é combater a simplificação."