segunda-feira, 22 de outubro de 2018

Taça, UEFA, VAR e... dores de cabeça

"Deverá ser feito um esforço ainda maior no sentido de os jogos em casa, de pequenos contra grandes, serem mesmo jogados em casa

A Taça de Portugal, mesmo sem profusão de tomba-gigantes, revelou o extraordinário potencial que encerra e merece que haja um esforço continuado no sentido de fazê-la retornar aos princípios fundadores. Embora compreenda a vontade dos principais clubes fugirem aos pelados, sintéticos e maus relvados e perceba a importância do dinheiro televisivo nos dias de hoje, julgo que haverá um meio termo que permita que a meritória decisão da FPF de colocar os primodivisionários a jogar em casa do adversário na primeira eliminatória a que são chamados, possa ser levada, plenamente, à prática.
Amesterdão representa, amanhã, um teste de fogo para a equipa de Rui Vitória. Num jogo que pode determinar a presença do Benfica na fase a eliminar da Champions (e o Ajax tem a vantagem do ponto ganho em Munique), aos encarnados será pedido mais do que mostraram até agora, essencialmente no departamento da concentração: estão proibidos os apagões... Já o Sporting, na quinta-feira (depois de exibições muito cinzentas) precisa de dar razão de confiança aos seus adeptos, frente a um Arsenal que e candidato, até, à vitória na Liga Europa. Dois testes de fogo europeu!
O campeonato regressa no próximo fim-de-semana e, com ele, o VAR. Creio ter sido útil o aviso à navegação, feito pelo presidente do Conselho de Arbitragem, Fontelas Gomes. Mas é bom que os árbitros escalados para o VAR tenham consciência de que o nível de exigência a que estão sujeitos é proporcional aos instrumentos que têm à disposição. Não têm a desculpa de ter de decidir numa fracção de segundo, muito menos de não terem visto bem o lance. Sei que estamos ainda numa fase embrionária do processo mas há limites mínimos que não podem ser ultrapassados.
Fim-de-semana doce para Nélson Semedo, lateral do Barcelona, e André Gomes, médio emprestado pelos culés ao Everton. O primeiro assinou excelente exibição na vitória braugrana sobre o Sevilha, e viu a imprensa catalã, que nunca morreu de amores por ele, render-se ao seu labor. Já o segundo regressou à competição depois de vários meses em soca seca por lesão e teve 80 minutos de enorme fulgor e lucidez, na vitória dos toffes sobre o Crystal Palace. Saiu, esgotado, e teve direito a standing ovation do Goodison Park. Mais duas boas dores de cabeça para Fernando Santos.

(...)
Rei
Miguel Oliveira
Está mais longe, embora ainda não seja carta fora do baralho, a possibilidade de chegar ao título mundial de Moto2. De qualquer forma, com o MotoGP garantido para 2019, resta-nos a certeza de estarmos perante uma das figuras de proa do desporto nacional na década que se segue. Que nos dará muitas alegrias.

(...)
O mau Karma que parece seguir Mou
«Cometemos um erro, a culpa do incidente foi nossa. Falei com Marco Ianni que aceitou pedir desculpa a José Mourinho»
Maurizio Sarri, treinador do Chelsea
Como se não bastasse ter visto a citória em Stamford Bridge fugir-lhe ao minuto 90+6, Mourinho teve ainda de encarar o desaforo de um dos adjuntos do Chelsea, o que provocou mosquitos por cordas. O Special One parece atrair problemas, seja ou não responsável por eles. Uma fase turbulenta numa carreira que está longe do fim e ainda tem muito para dar...

Lopetegui, Zidane, Florentino, Cristiano
Não será, seguramente, obra do acaso, que o Real Madrid tenha passado pela maior seca de golos da sua história imediatamente depois da saída de CR7. E talvez valha reflectir um pouco sobre as razões que levaram Zidane a bater com a porta. Florentino mediu mal e Lopetegui foi erro de casting?

A nova vida de LeBron
Provavelmente, este não está a ser o início competitivo sonhado por LeBron James em Los Angeles. Para já, dois jogos e duas derrotas, uma fora, em Portland, com os Blazers, outra em casa, frente aos Houston Rockets, não são o melhor cartão de visita, embora a procissão ainda esteja apenas a sair do adro, numa competição que parece estar, novamente, destinada aos Golden State Warriors. Quanto aos Cleveland Cavaliers, de onde partiu King James, as coisas não estão melhores: como os Lakers, também somam dois jogos e duas derrotas..."

José Manuel Delgado, in A Bola

Vitória na Amoreira

Estoril 0 - 1 Benfica
Gouveia


Jogo interessante, que ficou marcado pela estreia de Luís Tralhão como treinador principal (após a saída do seu irmão, para o Mónaco), e com algumas estreias como titulares nesta equipa... devido à presença de alguns habituais titulares em Amesterdão... e algumas lesões.
Contra um Estoril Trafic(ado), um Benfica com tanta juventude, que jogou bem, controlando o jogo...  estando quase sempre mais perto do 2.º... Nos últimos minutos com a expulsão do Tiago Araújo (absurda) e com outras decisões 'estranhas' (logo a seguir à expulsão, avançado do Estoril está 3 metros fora-de-jogo, não marca nada... depois, ainda remata ao lado, e marca canto... com nenhum jogador do Benfica nas redondezas!!!), o jogo ficou apertado, mas os putos aguentaram...!!!

Com esta vitória mantemos a liderança, mesmo com menos 1 jogo...

Derrota em Inglaterra...

Brighton 2 - 0 Benfica B


Mesmo com várias equipas a jogar quase em simultâneo, até conseguimos levar uma boa equipa a Inglaterra, mesmo com a prioridade a ser a Youth League... Infelizmente o resultado, voltou a não ser favorável...
Com 0 pontos em 2 jogos estamos fora da competição, mas ainda temos um jogo com o Bayern de Munique B...

Jornalistas distraídos

"Foi esta frase que, em boa medida, ditou o fim de Bruno de Carvalho. Até porque depois das agressões ficou sem moral para as condenar. Ele sabia que as tinha avalizado. Tinha consciência disso. Assim, limitou-se a dizer que tinha sido “chato” o que acontecera. E esta palavra enterrou-o ainda mais

Em Maio, a seguir à invasão de Alcochete, o “Sol” publicou uma expressiva manchete onde era atribuída a Bruno de Carvalho a seguinte frase: “Façam o que entenderem”. Esta afirmação fora proferida na sede da Juve Leo, sob as bancadas do Estádio de Alvalade. Tendo-se deslocado às instalações da claque para ouvir as suas queixas, e depois de vários elementos falarem do mau comportamento da equipa de futebol, sugerindo que os jogadores deviam levar “um apertão”, Bruno de Carvalho dissera-lhes: “Façam o que entenderem”.
Com esta frase, na prática, Bruno avalizava uma qualquer acção de represália sobre os jogadores do clube. É óbvio que o presidente leonino não pensaria numa agressão como aquela que viria a ter lugar. Um “apertão” seria uns palavrões e uns encontrões. Nunca agressões com ferros, cabeças partidas e insultos de morte.
Mas a questão não é essa. A questão é que, ao ouvirem o próprio presidente dizer “Façam o que entenderem”, os mais fanáticos da claque sentiram-se com cobertura superior para actuar. Essa aquiescência de Bruno deu-lhes ânimo. E um sentimento de impunidade. Ora o presidente, como pessoa responsável que devia ser, tinha obrigação de saber isto. “Façam o que entenderem”, perante gente que estava com sede de tirar desforço dos jogadores pelo que entendiam ser a sua falta de empenho, era um convite à guerra.
Foi esta frase que, em boa medida, ditou o fim de Bruno de Carvalho. Até porque depois das agressões ficou sem moral para as condenar. Ele sabia que as tinha avalizado. Tinha consciência disso. Assim, limitou-se a dizer que tinha sido “chato” o que acontecera. E esta palavra enterrou-o ainda mais.
É inútil explicar até que ponto as agressões de Alcochete prejudicaram o Sporting. Rui Patrício voou quase a custo zero, Gelson Martins também, William Carvalho, idem aspas. As pérolas leoninas, que o clube esperava renderem bom dinheiro, escaparam-se por entre os dedos. Bruno de Carvalho, que se mostrara tão desesperado pela fuga dos milhões da Champions, acabou por ficar responsável por uma fuga muito mais avultada.
Enfim, tudo isto foram sinais de uma cabeça fraca.
O insólito, no fim de tudo, é que essa manchete do “Sol”, hoje tão importante, foi ignorada por toda a imprensa. Não me lembro de um jornalista a ter citado. E atenção: era a capa dessa edição, ilustrada por um cartoon muito incisivo onde Bruno de Carvalho aparecia a segurar uma moca ensanguentada. 
Quase tão estranho como o comportamento de Bruno de Carvalho foi a desatenção dos jornalistas. Esta semana, cinco meses passados, o “Correio da Manhã” e “A Bola” titulavam com enorme destaque a frase que o “Sol” revelara há quase meio ano. Com uma única diferença: enquanto o “Sol” escrevia que Bruno dissera “Façam o que entenderem”, aqueles jornais diziam que a frase era “Façam o que quiserem”. Uma diferença importante…"

A mentira dando voltas ao mundo

"O problema da actual transformação da esfera pública está precisamente em compartimentá-la e fragmentá-la, de forma a que cada um só vê o que quer e só acredita no que quer.

dois anos, mais ou menos por esta altura, eu estava nos EUA nas vésperas das eleições presidenciais entre Donald Trump e Hillary Clinton. Certa noite eu deveria comentar a partir de Nova Iorque a actualidade política para a RTP. Além de procurar um lugar na rua onde pudesse fazer o “directo”, havia um problema que me atormentava. O tema que mais impacto estava a ter nas redes e nas conversas naquele dia era uma história bizarra até ao extremo: a suposição de que Hillary Clinton e o seu director de campanha estariam supostamente envolvidos num ritual demoníaco com uma bruxa e sacrifícios com sangue. Como dizer a quem nos via em Portugal que uma história daquelas tinha importância política sem que julgassem que estávamos todos loucos?
Em geral, a atitude a tomar seria não falar sequer no tema. Demasiado absurdo para que alguém pudesse acreditar, demasiado irrelevante para merecer comentário, assunto arrumado, ponto final. O problema é que eu tinha visto a história assumir dimensões invulgares nas redes mais ou menos subterrâneas de apoio a Trump, que eu seguia, e ser disseminada em tom gozão nas conversas entre apoiantes de Clinton, que eu conhecia. E por absurda que ela fosse, a história tinha importância política e poderia ajudar a influenciar um resultado que seria disputado até ao limite, e que acabou por ser decidido por uma margem minúscula. Acabei por mencionar a história no meu comentário, alertando para a importância que aquele tipo de rumores poderia vir a ter. Mas ainda tenho pena de não ter chamado ainda mais a atenção para o que se estava a passar.
A história era, evidentemente, mentira. A ligação muito ténue que explicava o boato estava num dos emails pirateados ao director de campanha de Clinton, John Podesta. Nesse email, o irmão do director de campanha, que era coleccionador de arte, tinha enviado um convite a John Podesta — mas não a Clinton — para um jantar lá em casa onde estaria presente uma artista célebre, Marina Abramovic, em cujas obras estão presentes interesses sobre rituais xamânicos antigos. De onde artista=bruxa, rituais=cerimónia demoníaca, etc e tal. Em três tempos estava inventada uma história completamente louca que, no entanto, dominou as conversas durante um dos últimos dias de campanha nas eleições mais decisivas da grande superpotência mundial. Se o jantar tivesse sido com Paula Rego não quero nem imaginar de que coisas acusariam Hillary Clinton, quer ela estivesse ou não presente. Ou melhor, não quero imaginar, mas sou forçado a lembrar-me que nas catacumbas do trumpismo houve também alguém que interpretou as referências a jantares de pizza na sede de campanha como sendo orgias pedófilas e esse facto acabou por levar um louco a invadir uma pizzaria em Washington disposto a provocar um massacre. Nenhuma destas histórias alterou individualmente o resultado, mas todos os dias havia uma nova e o conjunto acumulado ajudou a cristalizar um ódio a Hillary Clinton por onde Donald Trump passou como por entre os pingos da chuva.
Como todos sabemos hoje, no tempo que levei a escrever três coisas verdadeiras nos três parágrafos anteriores já devem ter aparecido dezenas de boatos novos sobre Fernando Haddad nas eleições brasileiras: que Haddad promove a pedofilia, que Haddad tem um Ferrari, que Haddad distribuiu um “kit gay” pelas escolas básicas brasileiras — tudo mentira, é claro, e não só mentira mas mentira absurda. Mas eficaz, tanto mais que estes boatos não precisam de vir sequer à tona de água para terem efeito.
Uns meses depois do referendo do "Brexit" o Facebook revelou alguns dos anúncios da famosa Cambridge Analytica, empresa que trabalhou (em alguns casos, com financiamento ilegal) com a campanha anti-UE. São anúncios que foram distribuídos directamente pessoa-a-pessoa nas consultas diárias de cada um no Facebook. São bem realizados e bem escritos, sem o carácter lunático dos boatos brasileiros ou americanos. Mas o que os tornou eficazes foi que eles nunca estiveram na praça pública e, assim, nunca precisaram de ser confrontados com os argumentos opostos: a uma pessoa que gostava de baleias enviava-se um anúncio a dizer que a União Europeia ajudava a matar baleias (não é verdade, mas basta encontrar um qualquer acordo comercial com a Noruega ou o Japão, que matam), a quem era idoso enviava-se um vídeo (dos mais eficazes que vi) em que se dizia que o centro de saúde teria de atender os imigrantes romenos antes das velhinhas britânicas, etc.
Já o sabemos do passado: de cada vez que há uma transformação estrutural na esfera pública há consequências sobre a sociedade e a política que podem chegar a ser brutais. E o problema da actual transformação da esfera pública está precisamente em compartimentá-la e fragmentá-la, de forma a que cada um só vê o que quer e só acredita no que quer. Quem ache que tem resposta fácil para isto está provavelmente enganado. Excepto uma — mais educação e informação, que demora a resultar. De qualquer forma, os efeitos desta transformação vão estar connosco muito tempo. Alguém escreveu — diz-se que foi Mark Twain mas é mais possível que tenha sido Jonathan Swift — que “uma mentira dá a volta ao mundo enquanto a verdade ainda está a calçar os sapatos”. A política feita de mentira já ganhou no "Brexit", ganhou com Trump e está prestes a levar o Brasil. E nós ainda não começámos sequer a pensar que sapatos podemos calçar."

Não há Fake News. Chamam-se mentiras

"As notícias falsas já chegaram a Portugal - como contamos numa investigação que encontrou um dos primeiros sites feitos para as criar e divulgar. Viram o meme do relógio caríssimo de Catarina Martins? Uma notícia falsa. A história de que a nova PGR estava num jantar em casa de José Sócrates? Idem, aspas.
Ambas estas histórias bebem na origem dos boatos: se não é verdade, é pelo menos bem achado. Ou seja, aproximam-se do que podia ser uma realidade e colam com um certo sentimento popular. O problema das "notícias falsas" é que parecem ser verdade para melhor mentir. No caso do relógio de Catarina Martins é assim - a história faz claramente alusão ao caso do prédio de Ricardo Robles e vai no mesmo sentido de denunciar o suposto cinismo das convicções dos dirigentes do Bloco de Esquerda. Num caso era verdade. No outro é mentira.
O autor destas notícias falsas é um obscuro empresário têxtil que domina as redes sociais e o ambiente cibernético, mas não é ingénuo e tem convicções políticas - dizendo ao que vem logo no nome da página que criou: Direita Política. Talvez esse seja o seu único erro, desvalorizando o conteúdo ao denunciar o objectivo. Mas imaginem que não o fazia. Este é um bom, aliás, mau, prenúncio do que poderá vir por aí, em ano eleitoral, de intoxicação da opinião pública, de manipulação das vontades. À direita e à esquerda.
Na cacofonia das redes sociais, o que podemos fazer? Pouco, muito pouco. Sabemos, no fundo, que as pessoas vão acreditar no que querem. E, como vivem cada vez mais em câmaras de eco, com toda a informação que consomem sendo selecionada por algoritmos de redes sociais que só lhes dão o que acham que vai ao fio do seu pensamento, e não ao arrepio, de convívio com pessoas que pensam o mesmo que elas, de leituras de opiniões com as quais vão concordar, é cada vez mais fácil divulgar boatos que lhes pareçam verdade.
Há tentativas. No Brasil está a tentar-se apurar responsabilidades sobre a rede de mensagens falsas WhatsApp criada por uma série de empresários que apoiam Bolsonaro. Nos EUA, há processos contra incertos - uma vez que os autores das principais notícias falsas contra Hillary Clinton são russos e estão a milhares de quilómetros de distância. Mas ambos os processos são complexos e difíceis de chegar a bom porto. E é por isso que baixamos com tanta facilidade os braços.
Pois podíamos começar por um ato higiénico, proponho. Chamar os bois pelos nomes. Começa no nome a falsidade das notícias falsas. É que ou são notícias, ou são falsas. Porque não há notícias falsas, há mentiras.
"Fake news", em inglês. "Fake" tanto quer dizer falsas como falsificadas - o que é algo mais correto, mas não chega. Também não há notícias falsificadas. Ou há notícias ou falsificações. Se começássemos por aqui, a falar claro, talvez fosse mais fácil encarar o fenómeno de frente e não de cernelha. E combatê-lo. Ou, pelo menos, evitar a suavização de algo tão perigoso - porque ataca o discernimento para escolher que é a base da democracia.
Mentiras há desde que Eva chamou maçã ao que não o era, mas as chamadas "fake news" começaram na campanha de Barack Obama, quando circularam nas redes sociais rumores de que ele não tinha nascido nos EUA. Essa tramóia foi agarrada e aperfeiçoada por Trump. Depois das eleições, ele virou o bico ao prego e lançou a culpa contra os jornais que o escrutinavam. E começou pelos números da multidão na inauguração de Trump, no Mall de Washington: os jornais diziam que eram muito menos do que o recém-empossado achava que eram. E então a Casa Branca inventou uma outra expressão: factos alternativos. O jornal americano The New York Times, um dos visados, contrapôs com uma explicação cirúrgica: "A alternativa de verdade é uma mentira."
O jornalismo, aliás, tem uma responsabilidade acrescida nisto. A nossa profissão e negócio baseia-se em dar notícias, informações que o leitor valoriza por lhe serem úteis, ou seja, por serem verdadeiras. Não apenas a busca da verdade mas o rigor e profissionalismo desse trabalho de busca da verdade. Há uma série de regras a seguir - esta é uma profissão controlada - e entorses, pequenas falhas éticas, pouco recuo, pouca noção dos interesses em causa, notícias que não se confirmam... opinião servida como factos, opinião turvando factos - tudo isto contribui para a quebra de confiança e para o relativismo.
Se o que lhes é fornecido como informação fidedigna for de tão pouca confiança como o que lhes é servido como falso (sem que o saibam) e, pior, tudo tiver a mesma aparência, é provável que as pessoas acreditem mais no que querem acreditar."

A compreensão antropológica do desporto

"Como não invejo ninguém e a todos (mesmo aos que não me toleram) desejo muitas oportunidades de uma vida fecundante, variada, feliz; porque gosto de transformar o cartesiano penso, logo existo em amo logo existo; porque o processo histórico tem a marca e o movimento da condição humana; porque luto por um mundo igualitário, onde o acesso à cultura e aos bens essenciais da vida tenham a mesma plataforma de partida; porque em criança e em rapaz, em correrias doidas, pelas freguesias lisboetas da Ajuda, de Belém e Santo Amaro, em busca palpitante e radiosa, procurei a liberdade – quando, hoje, converso, ou escrevo, sobre desporto, tento ser (e sempre) um ensaísta comprometido com um mundo onde as novas técnicas significam uma perfeita identificação com os anseios de mais liberdade, de mais igualdade, de mais fraternidade.
Quero nomear um mundo novo para, nomeando-o, o recriar e, recriando-o, ajudar com a modéstia dos meus recursos à sua transformação. De facto, não surgem novas palavras, nem novas ideias, nem novas ciências, nem nova tecnologia, sem um mundo nascituro, sem o anúncio de uma dialéctica ínsita no real, que clama por mais Conhecimento, por mais Liberdade e mais Justiça. E que também clama por uma nova linguagem que saiba dizer o que não nasceu ainda. De facto, só se diz o que se julga saber. Na Revista Crítica de Ciências Sociais (nº. 54, Coimbra, Junho de 1999, p. 132) a Profª. Maria Irene Ramalho faz das ciências sociais “uma perspectiva sócio-antropológica sobre diferentes aspectos da sociedade, através de diferentes disciplinas, temas ou instituições – o desporto, o direito, a medicina, a reprodução, a sexualidade, a nutrição, a educação, o ambiente, a motricidade humana, o sofrimento humano, as tecnologias – e que as Humanidades têm expressão apenas enquanto objecto desse mesmo olhar sócio-anropológico. Donde se concluirá que a problematização da relação entre as ciências e as humanidades se resolve justamente pela noção de ciências sociais”.
Porque, no âmbito da motricidade humana (e portanto do desporto) se realiza, sem margem para dúvidas, uma nítida relação humanidades-ciências, também penso, há muitos anos já, que é uma ciência social e humana o paradigma desta área do conhecimento. Anterior às formas físicas e técnicas e tácticas do desporto, está a complexidade humana. Por outras palavras: o desporto é anterior à expressão em que se traduz. Se ficarmos atentos à retórica dos treinadores desportivos, designadamente os treinadores de futebol, que tomam perpétuo assento nas nossas televisões, concluímos, sem dificuldade, que é do ser humano, que os seus jogadores são, com especial relevo para a sua intencionalidade emotiva, que eles referem e realçam. José Peseiro, em entrevista ao Vítor Serpa, director do jornal A Bola (2018/10/13) e um insaciável perscrutador do que de humano há na prática desportiva – José Peseiro desabafou, com apelativas palavras: “Em dois meses, fui treinador, pai, director desportivo, quase tudo”.
E o “pai”, que o José Peseiro foi, revestiu-se de tanta, ou mais, importância, do que os aspectos técnicos e tácticos do treino. Ele não o disse, mas é preciso saber ouvir o não-dito, numa conversa. Quem não ouve o não-dito, não entende a conversa. Tem alcance histórico marcante esta entrevista do José Peseiro – pelo que disse e pelo que não pôde dizer, mas interessa saber ouvir. O guarda-redes Bruno Vale, ex-portista e actualmente a defender as redes do Apollon Limassol, no Chipre, assim retrata o treinador José Mourinho: “”Tinha e penso que ainda continua a ter o grupo com ele, os jogadores estavam com o treinador a 200 por cento, além de termos, na altura, um plantel fantástico”. Em Luís Felipe Scolari, também realçou o seu humanismo: “É engraçado que, quando estive com o Scolari, senti muitas parecenças com o Mourinho. Ele também tinha os jogadores com ele” (in A Bola, 2018/10/20). Quem duvida que, quando se estuda o “fenómeno desportivo”, se colhe esta certeza de que é nas ciências hermenêutico-humanas que nos encontramos?
Mas, insistem alguns munidos de um empedernido positivismo: “E é possível um mínimo de racionalidade e objectividade, nestas ciências?”. A pergunta é frequente, porque o saber universitário vigente mais “conforma” do que “informa” quem por lá anda. Por vezes, o que nele se estuda vem escrito em verdadeiros “catecismos”, onde se identifica conhecimento científico com saber objectivo, não se reconhecendo nas ciências uma função crítica e problematizadora. a qual se ensina aos alunos, crédulos e obedientes, pertencer ao domínio das opiniões, dos juízos de valor. Nascem, assim, duas áreas do conhecimento antagónicas: a Verdade e o Valor. A Verdade do saber institucionalizado e que os Governos e as Multinacionais aplaudem e apoiam; e o Valor das necessidades e das aspirações das pessoas, onde parece não encontrar-se, nem racionalidade, nem objectividade. Poderei, neste caso, lembrar Karl Marx que realça que os produtos capitalistas se definem muitíssimo mais pela característica formal da estratégia de exploração do consumidor e do trabalhador do que pelas virtudes que visam a satisfação das necessidades materiais, culturais, espirituais das pessoas. No desporto de alto rendimento, o “desporto dos milhões”, também, demasiadas vezes, o lucro é o que mais conta e não a saúde e a educação dos atletas. No “desporto-rei”, as revistas “cor-de-rosa” não enganam: um número considerável de “craques”, após o seu trabalho diário de profissionais de futebol, vivem encafuados em ambientes fechados de sexo e de álcool, com total desprezo pela leitura dos grandes escritores ou pela frequência dos espectáculos de autores de talento ímpar e personalidade de excepção. A teorização desportiva não pode ser neutra, deverá antes constituir um modo novo de ver e de viver a vida, incluindo aqui o amor e o sexo, evidentemente. E com a certeza que desse modo se pode ser mais saudável e mais alegre e mais feliz. E (repito-me) a felicidade é o primeiro factor de saúde…
Com a revolução científica do século XVII, a ciência deixou de ser contemplativa, ou teórica tão-só, para tornar-se activa e prática e ao serviço de objectivos que em muito a ultrapassam. Amanhece assim a moderna tecnologia, onde as próprias formas simbólicas da cultura parecem simples produtos da técnica e da tecnologia. Chegou a altura de proceder, segundo Boaventura de Sousa Santos, a “uma hermenêutica crítica da epistemologia” com o objectivo primeiro de desconstruir a razão epistemológica que justifica um conhecimento científico que é rei indiscutível, nas várias instituições - um conhecimento científico, que se globalizou e se transformou numa cultura empobrecedora e alienante. Refiro-me a uma Economia, filha do economicismo capitalista (seja ele americano ou chinês, alemão ou venezuelano) que já por aí se publicita como a “raínha das ciências”. Se acaso me é possível apresentar uma ideia própria, adianto esta: sempre que se contextualiza uma ciência, há mais crença do que conhecimento racional. No desporto. acontece outro tanto, se bem penso.
Posso relembrar o livro Économie et Société de B. Jouvenel: “A nossa sociedade sofre de um mal-estar fundamental, que é de ordem moral e política e que se resume ao facto de a pessoa não possuir poder senão no papel irresponsável de consumidor. É neste sentido que a nossa sociedade é, verdadeiramente, uma sociedade de consumo. Certas pessoas possuem pouco poder de consumo, enquanto outras possuem muito. Esta desigualdade quantitativa é claramente percebida, pois que é a única forma, que temos, de poder individual, não nos dão outra. Não passamos, os que podem gastar mais ou menos, de uma célula de um poderoso Leviatã, de cujas intenções não participamos e em cujo corpo permanecemos como simples estrangeiros, aliás elimináveis, quando for necessário”. Tudo isto se aplica ao atleta e ao adepto, ambos manipulados e alienados. Quero eu dizer: a ciência põe e o lucro dispõe. E a diferença entre treinar e imbecilizar é mínima.
E aí deixo mais um artigo, tentando contribuir a uma compreensão antropológica do Desporto. ”Saber Pensar” e “Aprender a Aprender” não resolve todos os problemas. Aliás, estudar só os problemas também é muito pouco . A superação de um conhecimento especulativo ou de tendência apenas lógica e formalizante é absolutamente necessária. O ensino universitário do desporto não pode realizar-se com a formação de doutores improdutivos, através da didáctica arcaica das aulas expositivas e magistrais. Um ensino de muita teoria e pouca prática é de propensão imbecilizante. Como é também, um ensino que não relaciona as ciências empírico-formais e as humanidades. O notável poeta francês Stéphane Mallarmé encerrou uma inesquecível entrevista a Jules Huret, com uma afirmação que ficou célebre: “Tudo, no mundo, se faz para resultar num belo livro”. O espectáculo desportivo, todo ele, se constitui, pela competição que o anima, por figuras que podem retratar o que há de belo e bom e verdadeiro e justo, na condição humana. Por isso, a necessidade do treinador que saiba propor aos seus jogadores o significado e o sentido da prática desportiva. A propósito, atente-se num comentário de José Saramago, logo depois de um diálogo entre duas personagens de Todos os Nomes: “Ao contrário do que em geral se crê, sentido e significado nunca foram a mesma coisa, o significado fica-se logo por aí, é directo, literal, explícito, fechado em si mesmo, unívoco, por assim dizer, ao passo que o sentido não é capaz de permanecer quieto, fervilha de sentidos segundos, terceiros e quartos, de direcções irradiantes que se vão dividindo e subdividindo em ramos e ramilhos, até se perderem de vista, o sentido de cada palavra parece-se com uma estrela quando se põe a projectar marés vivas pelo espaço fora, ventos cósmicos, perturbações magnéticas, aflições”. Há tanta coisa no desporto que faz sentido para dar mais sentido à vida.
O maior responsável pelo divórcio entre o desporto e a cultura é o cientismo que se instalou, no conhecimento científico, a partir de finais do século XIX, com a mania de tentar objectivar e racionalizar todo o mundo humano, como se os sentimentos e os afectos fossem coisa de somenos."

Três dias com Machico no coração

"(...)
Somos por vezes um povo de costumes brandos e descoloridos em que os arco iris da vida estão muito para além dos nossos sentimentos que por vezes estão adormecidos pelas sombras de propósitos frágeis e também superficiais que a penumbra da vida teima em fazer esquecer. Precisamos de renovar uma visão de humanidade em que se possa estabelecer modos limiares de comportamento e relacionamento de forma a atingir a observância de conduta civilizada, de liberdade, de generosidade, de respeito e consideração pelos outros como cidadãos portadores de exemplo que os valores da fidalguia lhe conferem.
Por isso aqui estou Ilustre e Bom Amigo Presidente da Câmara de Machico Ricardo Franco, a dar voz ao meu sentimento de gratidão pela nobreza de princípios com que me recebeu, mais uma vez entre a sua gente e que à medida do tempo também lhe ergo os braços para trazer para junto de mim.
O encontro com os colegas professores moderado pela significativa forma de estar do Prof Luís Alves, marcou de forma ímpar mais um traço da minha existência, ao moldar a consciência crítica na atenção esmerada e debate das ideias, configuradas com o tempo que cavalgou a distância e duma previsão tempestuosa, até nós se associou o Divino, já que do tornado se fez luz e o sol nos brindou com uma candura apetecida.
Abordamos algumas estratégias para vencer os obstáculos, transformando a humilhação que a classe docente por vezes se vê submetida em desafio e exaltação, descobrindo o prazer de se dar a quem nos é confiado, lutando com determinação, abraçando a vida com paixão e fazendo desta mágica profissão um estado soberano de vida, sabendo porém que não há sucesso que perdure nem fracasso que seja eterno.
Senhor Presidente e Bom Amigo Ricardo Franco: vou ao longo do tempo conhecendo-lhe as rédeas da sua magistratura e verifico a forma como é capaz de transformar a adversidade em oportunidade, transportando na alma as pegadas da experiência vivida e no coração as causas para vencer … vai à luta e Ganha!...
Por isso estou aqui Ilustre e Boa Amiga Vereadora Drª Mónica Vieira, para lhe confiar a minha gratidão pela sapiência envolta nos valores da competência como planeou e executou o tempo da conferência, brindando-nos com o traço da sua identidade transcrito no exemplar contexto familiar. De facto se “somos o que pensamos, como referia Sócrates ( o filósofo), e o Padre António Vieira veio acrescentar, somos o que pensamos e o que fazemos e quem não faz o que pensa não existe, apenas dura”, claramente a Senhora Vereadora para além da dinâmica exercida, enquadra o bonito e belo núcleo tão enternecedor duma família linda …mesmo linda!...
Por isso estou aqui D. Lisete Andrade, pelo facto de me ter convidado a passar um dos momentos mais carinhosos desta já longa mas apetecida caminhada, circunscritos no bom relacionamento humano.
No Auditório da Junta de Freguesia o sorriso dos meninos e meninas pertencentes à Associação Desportiva de Machico, cruzavam-se com a ternura de presença de tantos pais, mães, avós, sempre seguidos de forma atenta pelo conselheiro, amigo e Treinador Tiago Ferro, todos feitores de formação dessa comunidade com futuro. Constatei um notável envolvimento exemplar que se torna um fundamental suporte para o desenvolvimento da personalidade, para a educação da cidadania, pela oportunidade de superação, pela educação da vontade autenticada na capacidade de emulação e superação que pela inteligência e arte proporciona a possibilidade de formar para render e crescer para vencer.
Muito grato pela prova de autenticidade gerada na confiança que vos mereço, ao me terem convidado para padrinho de afectos, dessa nobre gente que creio o futuro se irá preparar para receber em apoteose. Logo se me associou a lembrança dos meus outros afilhados que também me honraram com essa responsabilidade – o Clube de Futsal “Os Afonsinhos”, radicado em S. Martinho de Mouros (Resende).
Também ali, na tranquilidade duma terra serena e com as cores da vida, habita há 7 anos um Clube/ exemplo, onde se encontram bem definidos os critérios onde impera a vontade de crescer numa partilha de carinho, razão e amor de quem lidera o projecto, de seu nome o Treinador Marcos Antunes em ligação e estritamente conectada com o Presidente da Autarquia Dr Manuel Trindade e incessante apoio do núcleo de pais. São já 6 escalões em competição e os índices de assiduidade, os níveis de disciplina e ética desportiva associada ao rendimento escolar formaram as matrizes para a possibilidade de participação no treino e convocatória para a competição. Resultado? …sagraram-se no dia 11 de Fevereiro do ano passado campeões distritais da A.F. Viseu.
Lá estive com muitos convidados entre os quais um dos maiores campeões da história do Futebol, Vítor Baía a distribuir as faixas de campeão, tendo vindo a receber na Gala da Federação Portuguesa de Futebol o troféu Quinas de Ouro!... Um dia destes também lá estive a ser abençoado pela abertura do ano desportivo destes meus queridos afilhados e constatei o facto de dois Afonsinhos já estudarem na Faculdade e outros com as melhores avaliações do 11º e 12º anos, preparando-se para conquistar o futuro, continuando o Desporto a ser também instrumento facilitador do reencontro com o sucesso.
Por isso aqui estou Bom Amigo José Carvalho, que tento caracterizar de forma apetecida como o meu “ponta de lança” na Madeira e em especial no Machico. O longo caminheiro descoberto pela passada do atleta, reflecte a atitude reconciliadora do homem com a bondade do cidadão e o espírito duma pessoa de bem. Por isso me ajudou a descobrir a oportunidade de conquistar o tempo para a prova do contraste da célebres e apetecidas ponchas, visitar o Caniçal e encomendar a esperança do ex árbitro da primeira categoria nacional André Moreira, cuja história de uma grave lesão impeditiva de prosseguir carreira muito me emocionou e me transportou ao tempo da recuperação de tantos deuses caídos (bibota de ouro Fernando Gomes, Jaime Pacheco, Chalana, Futre, Álvaro Magalhães e tantos e mais tantos) …e a fórmula de encarar pelo absorvente desafio da plena recuperação a natureza da vida…
Por fim “aterrar” no Miradouro das Neves e acolher nos olhos a beleza do Funchal, ali da cor do sol, tendo ainda a oportunidade de me envolver no fantástico “porto de abrigo” da nossa bandeira Cristiano Ronaldo. Esse que tantas vezes abre o seu olhar para os horizontes da esperança, e vai convertendo em cada passada uma viagem de sonho, na arte de bem jogar. Esse menino ilhéu que sem conhecer os atalhos do facilitismo vai fazendo a conquista do tempo, pugnando pela adversidade o despertar do seu talento, transformando em sucessivos movimentos de inspiração, onde a harmonia do gesto se combina numa eficácia emocionalmente excitante, como só ele é capaz de realizar.
É assim com este belo exemplo, que o mundo tanto aplaude e consagra, que procuro encostar levemente a porta, sem que antes vos envie um forte abraço sobre o coração."