domingo, 30 de setembro de 2018

Coerência, conhecimento e confiança

"Este respeito tem de estar bem acima de qualquer estima pessoal. Tem a ver com a integridade da competição. Uma urgente necessidade.

1. Já percebemos que vai ser estar época uma Liga bem renhida. Muito renhida. Nos relvados, molhados ou não, e fora deles, secretamente orientados e cirurgicamente condicionados. Vai ser uma Liga em que poderemos falar de cobardia - «cobarde é o homem que numa emergência perigosa pensa com as pernas» (Ambrose Bierce) - e, acima de tudo, em coerência. E digo pensar com as «pernas» e não com os «pés». Que, por vezes, neste caso, é um grande dom! E a coerência é essencial em termos de disciplina e de arbitragem nestes tempos concretos e específicas circunstâncias do futebol português. Em que vivemos um tempo de transição entre o que existe e o que, a curto/médio prazo, existirá. Mas no que concerne ao apito o que é determinante é decidir, e no tempo, e de forma equivalente, a situações equivalentes. Marcar, no momento, e de forma equivalente faltas ou exibir, no instante, e de forma equivalente, os devidos cartões em lances antidesportivos. Bem sabemos que são decisões de homens concretos e em situações e circunstâncias bem específicas. Bem sabemos que «cada caso é um caso». Mas também sabemos que o mesmo homem concreto deve decidir de forma equivalente situações similares. Se ontem amarelou, hoje não deve vermelhar. Se ontem marcou falta, hoje, em situação equivalente, deve apitar e assinalar o castigo, mesmo que o VAR, ao contrário do que se potencia e anuncia, o não ajude nem esclareça acerca do exacta local da dita infracção. E a coerência exige, assim, um esforço volitivo permanente. E tal esforço é fundamental para que haja confiança. Sabemos que, por vezes, a «confiança é a mãe do descuido». Aceitemos certos descuidos. Mas diga-se que os descuidos não são realidades solteiras. Exigem responsabilidades. Determinam responsáveis. Já Jean-Paul Sartre escrevia que «não fazemos o que queremos e, no entanto, somos responsáveis pelo que somos: eis a verdade»! E, acreditem, recordei tudo isto ao rever o jogo de Chaves, os momentos do jogo - todos mesmo! - e algumas das decisões do árbitro, e seu colectivo, deste encontro. Ocupado na noite chuvosa de Chaves com um sugestivo colóquio em Abrantes acerca do desporto e da sua ética e envolvido numa noite de verão e no calor dos participantes só vi o jogo bem mais tarde. Já sabia o resultado, os momentos do jogo, as circunstâncias dos golos, as dificuldades do relvado, as lesões determinantes, os comentários e as declarações produzidas. Revi tudo, assim, utilizando o que as novas tecnologias permitem. Eu que ainda sou do tempo em que escutava as grandes penalidades no pequeno rádio a pilhas da bisavó Josefina ali na aldeia de Valflor, na Meda. E desse tempo até hoje houve vários revoluções. Mas nenhuma delas teve a ver com a palavra coerência. Esta continua a ter o mesmo significado. O mesmo conteúdo. A que acresce a permanente recordação das palavras, sempre actuais, do Padre António Vieira: «Muitos cuidam da reputação, mas não da consciência». E esta Liga, e nesta Liga, tem de haver consciência e coerência, permanente memória e forte reputação, esforço e respeito. E este respeito está bem acima, tem de estar bem acima, de qualquer estima pessoal. Tem a ver com a integridade da competição. Que para além de uma exigência é uma determinante necessidade. Uma urgente necessidade.

2. A Cidade do Futebol é um extraordinário espaço que junta o conjunto das nossas selecções, a estrutura federativa e agora, também, a Portugal Football Scholl. Junta futebol em estado puro com a motivação contemporânea para o conhecimento. E só conhecendo se prepara e antecipa o futuro. E o futuro está a bater-nos à porta. Novas competições e com a FIFA a ambicionar organizar, inovadoramente, um campeonato mundial de clubes, ela que, até ao momento se dedicava, em exclusivo às selecções nacionais. E com a UEFA a pensar numa terceira competição europeia de clubes, ao mesmo tempo que se equaciona, porventura em ruptura, o acesso a tais competições combinando o mérito desportivo com o convite desportivo! E, ao mesmo tempo, reflectindo-se acerca de uma taxa de luxo - nome interessante e motivador! - que limite estas disparidades que levam o PSG ou o City a ter dinheiro para tudo e outros a serem rigorosos cumpridores das estabelecidas regras do fair play financeiro. Sabemos com Umberto Eco que há o «desporto na primeira pessoa, o desporto ao quadrado e o desporto ao cubo». Vivemos bem, entre nós, este tempo de desporto ao «cubo». Em que a sociedade excitada em que nos movemos eleva o futebol a espaço dominador, a fenómeno motivador e a realidade mobilizadora. De fidelidades mas também de caprichos. Que não perturbam a liberdade - nem a arte de viver! - e a fidelidade mas que suscitam novas capacidades, e outras necessidades. Neste dias, sob a douta direcção do Professor André Seabra - e com interessantes e enriquecedoras intervenções de Hermínio Loureiro e Tiago Craveiro - decorre naquela espaço extraordinário um Executive Course in Football Law. A  Cidade do Futebol, cada vez mais procurada por grandes empresas para ser igualmente um local de eventos corporativos, recebe, para além de muitos ilustres portugueses, juristas da Bélgica e de Angola, de Cabo Verde e da Coreia do Sul, da Arábia Saudita e do Brasil que procuram beber conhecimento acerca dos grandes temas do futebol e também das grandes questões do futebol europeu e mundial. Ali, nestes dias, há expansão do campo do conhecimento. E olhando para os relvados de uma Cidade que acolhe, com sentido esférico, Taças que são a expressão do nosso orgulho colectivo percebermos que devemos dar conta deste novo valor que a Cidade do Futebol proporciona e potencia. E almoçando no refeitório habitualmente destinado à nossa principal selecção bebemos um pouco de um ambiente em que há atitude e vontade, esforço e inovação, liderança e criatividade, diversidade e entusiasmo. E o entusiasmo é sempre uma acrescida força da alma. E naquela Cidade há alma. Já que sempre nos disseram que «a carne nasceu escrava e a lama nasceu livre»!

3. Na noite da passada sexta-feira o Benfica, em livre Assembleia Geral, aprovou as suas contas. Mas, na diversidade de opiniões, sublinho o anúncio por parte do Presidente Luís Filipe Vieira na renovação do acordo por mais três anos com a Emirates. É; acreditem, um grande sinal. De confiança e de coerência. De reconhecimento da força e da grandeza da marca e, também, de uma cumplicidade que está para além dos abalos que doem e magoam."

Fernando Seara, in A Bola

Vitória no Alentejo...

Eléctrico 2 - 3 Benfica


Jogo muito complicado em Ponte de Sor, com o Benfica a jogar abaixo do normal e a desperdiçar várias oportunidades, o que acabou por dar esperança ao adversário...
As ausências do Robinho (por opção) e do Tiago Brito não ajudou... além do Tolra.
O destaque acaba por ser o regresso do Chaguinha a jogos oficiais... ainda está longe da melhor forma, mas é sempre bom ter o Chaguinha de volta...

O que foi ridículo

"O futebol nem sempre é uma questão de justiça mas é sempre uma questão de emoção. Mais ainda, quando o jogo se joga num prémio como a Bola de Ouro ou o The Best - e não: para mim, em nenhum dos casos, foi uma questão de injustiça. E não foi questão de injustiça porque apesar de o Modric não jogar como o Ronaldo joga: na iminência da bomba atómica ponta a soltar-se de si - a vitória do Modric é a vitória do espírito evangélico que o Di Stéfano colocou na frase que largou a sete ventos:
- Nenhum jogador é tão com como todos os outros juntos num qualquer.
Sim, jogar à Modric é jogar a fazer jogar, é jogar a ligar todo o jogo à equipa - a resgatá-lo de caminhos perigosos, a descobrir-lhe, sagaz, linhas de horizonte onde outros só veriam becos sem saída. (E é jogar o jogo despojá-lo de frivolidades na cabeça do geómetra).
Não foi uma questão de injustiça porque apesar de o Modric não jogar como o Ronaldo joga: com a bola a sair-lhe do corpo em frenesim pela mão de um deus invisível, fulgurante e furiosa a caminho das redes - a vitória do Modric também é a vitória do espírito evangélico que o Aimar colocou na frase que largou a sete ventos:
- Os melhores jogadores são os que fazem jogar bem os outros.
Sim, jogar à Modric é jogar com ele a movimentar-se para que os companheiros apareçam em situação melhor, é jogar com o Modric a dar aos outros as melhores soluções, salvando-os de vielas sombrias (é jogar para que toda a equipa jogue melhor e fique mais perto do golo - não através de actos de criação exuberante mas de actos de desequilíbrio desconcertante, que é o que ele faz).
Mas mais: o The Best e a Bola de Ouro para o Modric ainda foi uma (tardia) questão de justiça poética - por haver nos seus ganhos a vingança do destino que deveria ter havido no Deco, no Xavi ou Iniesta (e não houve, sabe-se porquê...).
PS: Isso sim: ridículo foi Ronaldo não levar o Puskas na sua sublime bicicleta."

António Simões, in A Bola

PS: Meter o Deco, no meio do Xaxi, do Iniesta e do Modric só pode ser doença...!!!

eSports, um passo em frente

"A 'FIFA Interactive World Cup' é um torneio eSports organizado pela FIFA. Recentemente, a FIFA anunciou a introdução, pela primeira vez, de novos padrões de integridade e medidas antidopagem na Final da eWorld Cup. As novas medidas de integridade e antidopagem introduzidas obrigarão todos os participantes - incluindo jogadores e treinadores - a aceitar o Código Disciplinar da FIFA e o Código de Ética da FIFA pela primeira vez. Vão ser, ainda, introduzidos controlos antidopagem e monitorizadas as apostas feitas antes e durante os jogos.
Por outro lado, o Departamento de Integridade da FIFA implementará medidas relacionadas com a integridade durante o evento deste ano e coordenará o torneio conjuntamente com os órgãos judiciais da FIFA - ou seja, com o Comité de Ética e o Comité Disciplinar - caso surja algum incidente ou algum caso.
Para além destas medidas, um oficial de controlo de dopagem da FIFA foi indicado para supervisionar os controlos antidopagem de substâncias proibidas pela WADA, incluindo estimulantes, durante a final deste ano. Os controlos durante a competição incidirão sobre jogaodres concretamente pré-identificados ou seleccionados através de métodos aleatórios, de acordo com o Código Mundial Antidopagem. Se for verificada alguma violação das Regras Antidopagem, o caso será revisto pelos órgãos judiciais da FIFA, de acordo com os respectivos regulamentos antidopagem.
Este é, sem dúvida, um inovador, importante e relevante passo em frente na dessificação da estrutura desta competição de eSports, que muito diz sobre o crescimento desta (já não tão) nova vertente do desporto e das interessantes questões que levantará no futuro."

Marta Vieira da Cruz, in A Bola