quinta-feira, 27 de setembro de 2018

A síndrome Bruno de Carvalho

"Não tenho por hábito escrever sobre futebol e, na verdade, este não é um texto sobre futebol. Achei que depois de Bruno de Carvalho haveria bom senso e os principais agentes do mundo do desporto ganhariam juízo e sobretudo vissem o ridículo em caiem quando desatam a disparar para todo o lado. 

Também pouco me importo quando isso acontece pois como diz o povo, cada uma sabe de si. O que me preocupa e, honestamente, aborrece e transtorna é este clima de suspeição e de terrorismo que vivemos nos dias de hoje no mundo do desporto.
Ao nível do futebol, somos campeões Europeus, temos o melhor jogador do mundo, os melhores treinadores e uma geração de novos grandes talentos a despontar. Em outros desportos temos campeões do mundo, da Europa e Olímpicos, que vão da canoagem ao atletismo e que, nos últimos tempos, são os únicos que não nos envergonham. Mas ao que parece, ficou por cá um vírus que tem vindo a afectar sobretudo quem não sua as camisolas e apenas delas vive – a síndrome Bruno de Carvalho.
A corrupção é um mal intrínseco na sociedade, mas nos últimos tempos, sobretudo no mundo do desporto, parece que não há limites na luta pelo poder.
Dirigentes desportivos que não medem as consequências dos seus actos e, sobretudo das suas declarações. Em constante terrorismo mediático, assessorados por profissionais da comunicação, outrora jornalistas de qualidade e respeito, mas que veem no mundo do desporto um aliciante financeiro que os media não conseguem acompanhar e, por fim, dirigentes, funcionários de órgãos públicos e políticos que se parecem deslumbrar pelo “vipismo” do mundo do desporto.
Vivemos em sociedade aberta e democrática e, como é normal, pessoas dos mais diferentes quadrantes interligam-se independentemente dos credos, convicções e orientações. O problema é que no meio disto tudo há sempre quem confunda os papéis e, para proveito próprio, usufrua das normais relações sociais, sujando-se e sujando todos os que estão à sua volta.
Depois de Bruno de Carvalho confesso que achei que as coisas pudessem acalmar – mas não! Dirigentes que avançam com providências cautelares, juízes a integrar órgãos sociais desportivos, jornalistas que divulgam informações furtadas e comentadores às paletes que a troco de meia dúzia de disparates têm o seu minuto de fama.
Vive-se um dos momentos mais deprimentes do desporto nacional. Um verdadeiro caos que parece estar ainda a começar.
Opina-se de forma infundada e com base na sempre irresponsável expressão do “diz-se que”! Gastam-se horas de espaço televisivo e de páginas de jornais com imagens sensacionalistas e acusadoras sem que, na verdade, haja qualquer acusação. Fazem-se pré-julgamentos e ditam-se sentenças em praça pública sem citações ou probatórias.
Tudo isto parece não ter fim! Parece não haver limites para a mediocridade humana. Ao contrário, o bom senso e a serenidade parecem esgotadas.
Como é evidente, na base de tudo isto, está o poder e sobretudo dinheiro. Muito dinheiro! O desporto e em concreto o futebol são uma poderosa indústria e com uma margem de progressão ainda desconhecida.
Talvez fosse o momento de repensar os actuais modelos. Não aqui, mas a nível europeu e mundial. As actuais regras do jogo apenas contribuem (tal como na economia) para aumentar o fosso entre clubes ricos e pobres e, por isso, vale de tudo para não perder o comboio e cair no fosso dos menos favorecidos. O fair play financeiro é uma anedota e só tem contribuído para promover mais corrupção e jogadas de bastidores.
Por muito que me custe admitir a síndrome de Bruno de Carvalho existe e vai ser muito difícil de combater e, por ventura, eliminar."

É possível esquecer o que vimos de João Félix?

"Não é um golo que o faz. Ou dois grandes golos que o transformam.
Não é a forma leve como pisa, a facilidade com que dribla por entre ruas apertadas e estendais de roupa estendida para atrapalhar, e como se movimenta na faminta procura dos espaços.
A inteligência a procurar os desequilíbrios, as palmas das mãos viradas para a frente a apontar para os pés, destino desejado de todas as bolas que ainda não lhe pertencem.
Mete!
A classe com que finaliza. 
A maturidade com que se prepara antes de deixar que se manifeste.
Tempo. Espaço para receber, inspirar e olhar. Espreitar meio de lado, apenas para perceber o próximo passo. O seu e o do outro.
O guardião, que sai. E ele, que volta a desviar os olhos, e toma a sua decisão. Expirar.
Não é uma destas coisas, é tudo isto. Parcela somada a parcela numa conta sempre difícil de fazer.
Sei precisamente o que pensam, agora e aqui, sem sombra de dúvidas. É esta a altura em que atacam com acusações. Empolamento em palavras de ordem. Os habituais exageros da imprensa, críticas de que é sempre a mesma coisa.
Talvez seja. Ninguém sabe se sim, ou tem a certeza que não. É impossível sabê-lo. Talvez nim, talvez sim, ou infelizmente não. Nem toda a crisálida dá uma bela borboleta. O que sabemos, enquanto as palavras se constroem e desconstroem neste ecrã, é que já é impossível olhar para o lado. Não querer ver, não tentar perceber. Até não escrever. 
Next. Big. Thing. Talvez, por que não? Tem tudo para sê-lo, disso não podem restar dúvidas. Dar-lhe tempo, acreditar, complementá-lo no que lhe falta. Assim a sorte o proteja, e o futebol acredite nele. 
Mais um diamante encontrado na suja mina de carvão que é o futebol português.
Félix é, obviamente, a ideia por completar. Uma frase que ainda vai a meio. Falta-lhe verbo, falta-lhe complemento directo, circunstanciais de lugar e de tempo, e muitos advérbios. O que temos é pouco, não é quase nada, é verdade. Talvez apenas um Eu, em capitais, a começar.
Ajudo. Na frase, acrescento o verbo:
Eu vou...
Os complementos são consigo."

Recurso entregue e bilhetes à venda

"A Sport Lisboa e Benfica – Futebol, SAD informa que, analisado o Acórdão da Federação Portuguesa de Futebol que confirmou a aplicação do castigo de um jogo à porta fechada no Estádio da Luz, interpôs e já entregou o recurso para o Tribunal Arbitral do Desporto (TAD) a impugnar a decisão e a requerer o decretamento de providência cautelar suspensiva dos efeitos do Acórdão.
É convicção firme da Sport Lisboa e Benfica – Futebol, SAD que a razão lhe assiste e que o TAD reconhecerá os fundamentos da sua defesa.
Em todo o caso, a realização ou não do jogo Benfica-FC Porto, à porta aberta, no próximo dia 7 de Outubro, a contar para a Liga NOS, está dependente da obtenção de decisão em tempo útil por parte daquele Tribunal a decretar a suspensão dos efeitos da decisão proferida pela Federação Portuguesa de Futebol.
Contudo, na expectativa de uma decisão favorável por parte do TAD e de modo a salvaguardar a possibilidade de realização do jogo aberto ao público, a Sport Lisboa e Benfica – Futebol, SAD informa que irá iniciar hoje a venda de bilhetes para o mencionado encontro, bem como todas as demais medidas procedimentais necessárias para assegurar a organização do mesmo.
Qualquer alteração, em resultado de eventual decisão proferida pelo TAD, será de imediato comunicada."

Entre a Europa sem VAR e Portugal com VAR


"O argumento de que com este meio se vai gastar muito mais dinheiro faz-me rir... Coitada da UEFA, pobre e desamparada...

1. Esta é a minha última crónica a uma quarta-feira. A partir da próxima semana, passarei a escrever às terças-feiras. Como se diz em linguagem futebolísticas, tratou-se de «uma troca por troca» com, neste caso, Miguel Sousa Tavares. Aliás, pegando nesta expressão, confesso que sempre me fez confusão dizer troca por troca, quando sai um jogador de uma certa posição no campo e entra, em sua substituição, um outro atleta para a mesma posição. Segundo o Ciberdúvidas, esta frase até está dicionarizada, como expressão idiomática, mas com o significado de permuta de uma coisa por outra sem dar lugar a receber alguma quantia. Por exemplo: «não compararam nem venderam nada, foi tudo troca por troca». No caso vertente até será um pouco forçado dizer que se trata de uma troca pr troca. Para mim, como benfiquista e, certamente, para Miguel Sousa Tavares, como portista...

2. A semana foi a primeira semana europeia para os clubes portugueses que atingiram a fase de grupos. Tivemos os três resultados possíveis: vitória, empate e derrota.
O Benfica perdeu com alguma naturalidade perante os bávaros. Não é que tenha jogado mal, mas tenho de reconhecer que jogaram duas equipas de escalas diferentes. No fundo, defrontaram-se um sério candidato a ganhar a Liga dos Campeões e um putativo candidato a conquistar a Liga Europa, embora financeiramente seja melhor chegar aos oitavos da Champions. Renato Sanches foi a surpresa que baralhou a expectativa de alguma «arrogância» do Benfica, anunciada por Rui Vitória na conferência de imprensa antes do jogo. O ex-jogador do Benfica, que no jogo seguinte já não foi titular (contra o Schalke 04 também batido pelo mesmo resultado do SLB, 0-2), jogou bem, fez-me sentir saudades das suas arrancadas decisivas para o, na altura, tricampeonato e... marcou. O jovem português foi bastante discreto no meio do festejo de que se encarregaram os colegas e isso ficou-lhe bem. Bateram-se muitas palmas, desportivamente correctas. Eu, também a ver o jogo no Estádio, não o fiz, porque nunca bato palmas aos golos marcados ao meu clube, seja em que circunstância for. Agora e na segunda jornada, na Grécia, vem  a melhor oportunidade de voltar a marcar golos e, pelo menos, não perder nesta importante competição, o que já sucede há 6 e 8 jogos, respectivamente.
O FC Porto teve um generoso resultado perante um inesperado vice-campeão alemão, com muita força física e uma falta de jeito bem visível, actualmente último classificado da Bundesliga com 4 derrotas em 4 jogos, e que está a anos-luz do campeão. No seu grupo, o adversário do pote 1 (Lokomotiv de Moscovo) levou 3-0 de um regenerado Galatasaray. Por fim, um árbitro penalteiro possibilitou à equipa portuguesa duas oportunidades para empatar ou ganhar o jogo. Uma curiosidade: imaginemos que a segunda penalidade assinalada (e convertida) tinha acontecido por cá, a favor do Benfica. Parece que já estou a ouvir o que diriam os anti-benfiquistas durante uma época inteira...
O Sporting venceu justamente um clube azeri com um nome estranho e que, por cá, andaria certamente na segunda Liga. Mas, ganhando, contribuiu para a soma de pontos necessários para melhorar o ranking.
Uma última nota sobre as competições europeias. Num tempo em que quase todas as competições em cada país (com excepção da Inglaterra) já dispõem de VAR, a UEFA não só insiste em não o ter, como continua a dar guarida a uns árbitros-turistas que se colocam na linha de cabeceira e dobram as costas como se estivessem a desempenhar um grande papel. A expulsão de Cristiano Ronaldo é manifestamente forçada e resultante de um sussurrar aos ouvidos do árbitro principal por uma dessas «múmias paralíticas» da linha de cabeceira. Bastaria haver VAR para que a decisão justa (talvez um amarelo) não provocasse qualquer celeuma. O certo é que a teimosia da UEFA se mantém, ainda que agora mais pressionada. É que, desta feita, não foram os «pequenos e médios» clubes da Champions que form prejudicados, antes um jogador como Ronaldo e um clube como a Juventus. Por isso, embora com prejuízo para o jogador português, assim se retirou um efeito positivo com vista a acelerar a dispensa daqueles auxiliares e a introdução do VAR. O argumento de que com este meio se vai gastar muito mais dinheiro, faz-me rir... Coitada da UEFA, pobre e desamparada...

3. Confesso que tive de fazer «revisões, chamadas» para me lembrar como estava o campeonato quando foi interrompido há algumas semanas. Depois deste largo soluço na competição, eis que com os jogos também regressaram as trocas espúrias de graçolas e parvoíces entre uma pretensa «conta» da comunicação do Benfica e uma outra protagonizada por um Jota do Porto. Assim se espicaçam os pobres de espírito, que ainda os há nos dois clubes, com este farto lixo tóxico que, aliás, tem um efeito «boomerang». Confesso que já não tenho paciência para estas derivas adjacentes aos jogos e só lamento que os jornais, nos quais se inclui A Bola, lhes dêem guarida e espaço a toda a hora. Deixem-nos falar sozinhos e apenas para os consumidores viciados nas mentirolas e cobardias das redes sociais.
Falando de futebol, gostei do meu Benfica. Contra o Desportivo das Aves e com uma assistência que não caberia em qualquer outro estádio português, viu-se futebol harmonioso e bem construído, ainda que demasiado perdulário. Soluções não faltam, sobretudo do meio-campo para a frente. Vejamos essa parte do plantel: Pizzi, Gedson, Gabriel, Krovinovic, Zivkovic, João Félix, Rafa, Cervi, Salvio, Jonas, Castillo, Ferreyra e Seferovic, dos quais Rui Vitória tem necessariamente de optar por apenas 5 (ou 6) para serem titulares. João Félix mostra quão prodigioso é, assim mantenha a cabeça imune às idolatrias da futebolândia. Continuo a apreciar a serenidade, discrição e maturidade do guarda redes Odysseas Vlachodimos que pegou de estava e dá estabilidade ao próprio quarteto defensivo.

4. Ao fim de 10 anos, foi interrompido  «guerra» Ronaldo/Messi, por vezes demasiado obsessiva e doentia, medida em troféus de melhor jogador do ano. Desta vez o croata Luka Modric, da idade de Cristiano e mais velho do que Messi, venceu. Neste caso noutros casos, há sempre alguma justiça e há sempre alguma injustiça, a primeira das quais foi, para mim, o argentino não estar entre os melhores. Confesso que não me entusiasmo muito com este tipo de distinções, resultantes de factores bastante aleatórios ou até enviesados, seja na votação popular, seja nos treinadores e jogadores votantes. E sendo um título individual, o que acaba por o determinar é o sucesso colectivo. Por isso, qualquer grande jogador que não actue na Europa e nos 5 ou 6 clubes mais poderosos e vitoriosos não tem possibilidade de levar o troféu. E, quase como um regra intransponível, o escolhido tem de ser avançado ou médio de ataque, pois que sendo guarda-redes ou jogador recuado não tem chance nenhuma. Desde 1991, só um defesa F. Cannavaro o conquistou, neste caso, curiosamente, de um modo bastante discutível. Pena que Cristiano Ronaldo não tenha sido capaz de ter sido um senhor na (não) vitória, faltando à cerimónia da atribuição da distinção a um seu ex-colega no Real Madrid...

Contraluz
- Escolhas: Costuma-se dizer que, na política, o que parece é. No futebol, às vezes, dão-nos pretextos para quase se fazer essa dedução. No jogo Vitória de Setúbal - FC Porto, havia necessidade de o árbitro ser da AF do Porto e o VAR idem aspas? E o sempre poupado Felipe muito pode agradecer não ter visto o cartão vermelho. Creio, aliás, que foi por isso que o juiz Manuel Oliveira nem sequer assinalou a falta, não fosse mesmo ter de o expulsar. Rapaziada toda muito esperta...
- Vermelho: Também o central do Benfica Rúben Dias foi poupado a um cartão vermelho por cotovelada despropositada sobre um adversário. Trata-se, inegavelmente, de um jovem com grande futuro à frente, mas tem de aprender a conter-se em situações como a do jogo de domingo. Prejudica a equipa e prejudica-se a si próprio.
- Campeão: O Belenenses, volvidos 10 anos, volta a ser campeão nacional de râguebi. Neste desporto dominado pelos «clubes universitários» apreciei ver os azuis vencerem a prova."

Bagão Félix, in A Bola