segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Nota...

"A Sport Lisboa e Benfica – Futebol, SAD vem comunicar que, por proposta do Dr. Paulo Gonçalves, celebrou hoje um acordo para a cessação do seu contrato de trabalho.
Na base da proposta do Dr. Paulo Gonçalves estão razões de natureza pessoal, em especial a necessidade de se dedicar à sua defesa num processo judicial, em nada relacionado com o exercício de funções que lhe estavam confiadas na Sport Lisboa e Benfica – Futebol, SAD.
A Sport Lisboa e Benfica – Futebol, SAD agradece o desempenho do Dr. Paulo Gonçalves no exercício das suas funções ao serviço desta instituição e reconhece o profissionalismo, a lealdade, a integridade e a dedicação demonstrados ao longo de 12 épocas desportivas e até hoje."

'Emails', nervos, 28-0, boas escolhas...

"O Benfica feminino derrotou, por 28-0, o Ponte Frielas. A FPF deve corar de vergonha e pedir desculpas às jogadoras de Frielas.

O processo dos emails está a fazer o seu caminho e, não tarda, saber-se-á quem roubou, quem vendeu e quem comprou. Este é um caso que deve merecer a melhor atenção da sociedade portuguesa e, para aquilatar da sua importância, bastará que cada um de nós faça o seguinte exercício: imagine que todos os e-mails que enviou nos últimos dez anos eram roubados e tornados públicos. Sentia-se seguro? E confortável? Não exigiria que fosse feita justiça para que nunca mais alguém passasse por essa situação? Não é por acaso que a pirataria informática é um dos flagelos do século XXI.
O FC Porto tem revelado sinais exteriores de nervosismo, incompatíveis quer com o estatuto de campeão que ostenta, quer com a realidade com que se tem confrontado. É verdade que a vida dos dragões, fora das quatro linhas, não tem sido pacífica, numa fase em que decorrem manobras de fundo de olhos postos no day after de Pinto da Costa. Mas nada justifica tanta efervescência. O jogo de amanhã, com o Schalke 04, num palco sagrado para o FC Porto, pode representar um regresso à normalidade, contra um adversário que atravessa uma crise na Bundesliga (três jogos, três derrotas).
O Benfica estreou-se no futebol feminino, com uma vitória, por 28-0, sobre o Ponte de Frielas. Este resultado, que noutra qualquer competição seria caso de polícia, é uma vergonha para a Federação Portuguesa de Futebol (FPF), organizadora da prova. Em primeiro lugar, a FPF deve emitir um pedido de desculpas público às jogadoras do Ponte de Frielas. Não é assim que se defende a modalidade e se protegem as atletas. Depois, está à vista de todos como a forma de entrada do Benfica no futebol feminino foi tratada com os pés pela FPF. Que reserva a excelência para as selecções...
As escolhas dos principais clubes portugueses, nas últimas épocas, no que toca a treinadores, mostram um olho clínico assinalável. No Benfica, Jorge Jesus e Rui Vitória, mostram-se à altura dos desafios, o Sporting apostou em Jesualdo Ferreira, Leonardo Jardim, Marco Silva e Jorge Jesus, antes de chegar José Peseiro e o FC Porto teve Villas Boas, Vítor Pereira, Paulo Fonseca, Luís Castro, Julen Lopetegui e Nuno Espírito Santo, até à escolha de Sérgio Conceição. Lopetegui à parte, que está onde se sabe, as restantes opções viraram-se para a tremenda qualidade dos treinadores lusos.

Ás
Zlatan Ibrahimovic
O avançado sueco, agora ao serviço do LA Galaxy, assinou o 500.º golo da carreira, em Toronto, num jogo que acabou por perder por 5-3. Mas o mais relevante será a forma como Ibrahimovic bateu o guarda-redes Alexander Bono, com um pontapé acrobático, de marca pessoal, entre o kung fu e o taekwondo, uma obra de arte...

Ás
Simon Yates
Este inglês, de 26 anos e com figura de jockey (1,72m e 58 quilos), venceu a Vuelta e entrou no clube dos maiores do ciclismo internacional. Estamos num ano de glória para o desporto velocipédico britânico, com Chris Froome a vencer o Giro e Geraint Thomas a trinufar no Tour. Nada é por acaso. Trabalho e competência.

Duque
Paulo Gonçalves
Sendo a presunção de inocência um preceito inviolável, o senso comum exigia que Benfica e Paulo Gonçalves separassem caminhos. A Justiça, nos seus tempos e com os seus meios, ditará sentença no caso das toupeiras e no dia do trânsito em julgado terá sempre razão. Mas, para já, esta é a via mais certa...

Palavras sensatas, que fazem a diferença
«Vivemos num Estado de direito, estou à espera que se faça justiça e acredito na justiça portuguesa»
Frederico Varandas, presidente do Sporting
Frederico Varandas assumiu o discurso mais inteligente, quando confrontado com os casos que envolvem o Benfica (até porque não podia olvidar o Cashball...). De facto, os clubes devem exigir que a justiça funcione, sem ultrapassarem os limites de convivência entre oficiais da mesma arte. É assim que é feito em todos os países civilizados e deverá ser esse o exemplo a seguir, por cá.

CR7, a saga goleadora continua
O que têm em comum o brasileiro Roberto Tigrão, o tobaguenho Shaka Hislop, o espanhol Daniel Aranzubia e o italiano Andrea Consigli? Em primeiro lugar, são (ou foram...) guarda-redes profissionais. Depois, e mais relevante, sofreram os golos de estreia de Cristiano Ronaldo nos campeonatos de Portugal, Inglaterra, Espanha e Itália (e já vão 400 golos nestas quatro competições!!!). Entre o golo que CR7 marcou a Roberto Tigrão, a 7 de Outubro de 2002, num Sporting, 3 - Moreirense, 0 e aquele que conseguiu ontem, na Juventus, 2 -  Sassuolo, 1, passaram 16 anos de história e glória do prodígio madeirense. A saga de Cristiano Ronaldo na alta-roda do futebol mundial parece estar ainda longe do fim. Mas será bom que se crie a convicção de que os grandes palcos do português na sua etapa na vecchia signora estão marcados para a Champions. Para já, fica o registo do primeiro sangue derramado por CR7 em Itália...

'Boks' foram super e pumas imperiais
Depois de uma batalha sem quartel, 80 minutos de espectáculo esplendoroso, a África do Sul venceu na Nova Zelândia, algo que não conseguia desde 2009, e obrigou os 'all blacks' a abandonar a estratosfera e regressar à Terra. E os pumas venceram na Austrália!"

José Manuel Delgado, in A Bola

Pichardo 2022

Com o processo de naturalização completo, com o anuncio da Federação Internacional, era esperada o reforço da ligação do PPP com o Benfica. Posso estar enganado, mas esta relação irá durar até ao fim da carreira do nosso super-atleta... será uma questão de gratidão!

Quem quer ser estupidamente rico? Quem pode

"Uma das regras elementares do manual de sobrevivência da vida em sociedade é não acreditar em tudo o que se ouve. Eu, por exemplo, cresci com a impressão de que o 5 ao lado do 1154xxxx no B.I. implicava a existência de outros quatro Pedro Marta Candeias, o que motivou buscas inúteis nas páginas amarelas, e de que o futebol era o desporto do povo, o que me fez gostar dele.
Estava enganado em ambos os casos: o 5 era apenas um número de controlo, e o futebol não é um desporto, mas um negócio. Quer dizer, joga-se e é relativamente simples de entender e de o fazer, basta uma bola e dois putos para que aconteça, mas não é um desporto no sentido etimológico da coisa: duvido que dê saúde física e mental a quem o pratica a sério, e envolve demasiado dinheiro para um passatempo.
Daí, Liga dos Campeões.
É chegada àquela altura do ano em que se renovam esperanças, se fazem contas à vida (pelo menos, mais uma subscrição) e se preenchem as folhas Excel das apostas entre a malta: quem marca mais e menos, passa em primeiro e segundo ou cai na Liga Europa.
Lamento informar, mas esta é uma competição viciada protocolarmente pela UEFA. Vejamos: em 2018-19, a Champions terá um bolo de mais de dois mil milhões de euros a ser fatiado assim: 15 milhões mais variáveis (ranking UEFA) por participar na fase de grupos, 2,7 milhões por cada vitória e 900 mil euros por empate; 9,5 milhões por presença nos oitavos de final, 10,5 milhões nos quartos de final, 12,5 nas meias-finais e 15 milhões na final; o vencedor receberá quatro milhões, mais 3,5 milhões por automaticamente garantir um lugar na Supertaça.
É até comovente achar que a distribuição é democrática, que os clubes têm todos as mesmas oportunidades de ganhar o seu e mais algum, mas não é verdade; o que isto faz é apenas cavar o buraco entre as Ligas ricas e pobres, e também entre os pobres e ricos dentro das ligas mais pobres. A UEFA deixa a regulação ao deus-dará: não impõe limites nas contratações, nos salários nem nos budgets, e o Fair Play financeiro é arrogantemente contornado por quem pode, ou melhor, por quem tem massa.
Em países como o nosso, em que a diferença de orçamentos dos clubes dominadores para os restantes é pornográfica, a entrada na Champions engorda o topo da cadeia – e como só dois podem lá andar, significa que o terceiro grande tenderá a penar mais. Além disso, a nossa Liga fica em Saturno e achar que FC Porto (num grupo com o Schalke, Galatasaray e Lokomotiv de Moscovo) e Benfica (Bayern, Ajax e AEK) podem competir para lá dos quartos de final é romântico, embora estatisticamente improvável.
Porque, inevitavelmente, chegará aquele momento em que os ricalhaços vão impôr os milhões e a influência para arrebanharem mais alguns milhões e ampliarem a sua influência: o último campeão europeu fora dos campeonatos multimilionários foi o abastado Inter de Milão, em 2010, e o último campeão europeu dos pobres foi o FC Porto, em 2004; em ambos os casos, com José Mourinho.
Esta é a lista dos semifinalistas da última década:
2018 - Real Madrid, Bayern, Liverpool e Roma
2017 - Real Madrid, Juventus, Atlético Madrid e Mónaco
2016 - Real Madrid, Bayern, Atlético Madrid e Manchester City
2015 - Barcelona, Real Madrid, Bayern e Juventus
2014 - Real Madrid, Bayern, Chelsea e Atlético Madrid
2013 - Bayern, Real Madrid, Barcelona e Borussia
2012 - Chelsea, Bayern, Real Madrid e Barcelona
2011 - Barcelona, Real Madrid, Manchester United e Schalke 04
2010 - Inter, Bayern, Barcelona e Lyon
2009 - Barcelona, Arsenal, Manchester United e Chelsea
2008 - Manchester United, Chelsea, Barcelona e Liverpool
* A negrito está o campeão
Tirando algumas excepções simpáticas que nos levam a acreditar que quase tudo é possível (o Lyon e a Roma e o Schalke) sem dinheiro, e o efeito a Liga dos Campeões transformou-se numa competição previsível. Manchester United, Real Madrid, Barcelona, Manchester City, Arsenal, Chelsea, Liverpool e Juventus são, por esta ordem, os clubes mais ricos do planeta; o Atlético, bem, tem Simeone.

O que se passou
Este fim de semana houve Taça da Liga: Benfica e Sporting venceram, o FC Porto nem por isso. Além disso, Cristiano Ronaldo voltou aos golos, marcando dois ao Sassuolo, ganhando balanço para o que aí vem esta semana. Porque lá atrás não referi outro ponto de interesse desta Champions: Ronaldo tem 120 golos em 153 jogos nesta competição, e pela primeira vez em dez anos não estará a jogar pelo Real Madrid. Também temos os textos dos nossos contra-cronistas e a crónica de segunda-feira de Bruno Vieira Amaral, que escreve sobre Douglas Costa, o novo bad boy, no sentido literal da expressão."

Pepe já leva seis golos nesta época

"Duas horas, um minuto e 39 segundos é o novo melhor tempo da maratona, conseguido ontem, em Berlim, pelo queniano Eliud Kipchoge, que retirou ao anterior máximo um minuto e 18 segundos. Eis uma bela oportunidade para recuar 33 anos e lembrar Carlos Lopes, então campeão e recordista olímpico – e campeão do Mundo de corta-mato – que em Roterdão, a 20 de Abril de 1985, bateu também o recorde mundial da maratona.
O início da glória olímpica e global no atletismo português, desafortunadamente afastada hoje das provas de fundo e meio fundo em que o país não investiu por falta de visão, parece nos dias que correm como coisa corriqueira de que só os mais velhos guardam memória – e tão difícil foi! 
Convenhamos que o nosso futebol, que se supunha satisfeito com as conquistas europeias do Benfica e com a gesta dos Magriços, nos idos de 60, deu nas últimas décadas um salto de qualidade monstruoso, com sucessos das selecções nos diversos níveis e com o alfobre das academias a fazer despontar talentos atrás de talentos. Olhamos para Bernardo Silva, Gonçalo Guedes, Bruma, André Silva, Rúben Neves, Gelson Martins, Rúben Dias e muitos outros, espalhados por vários campeonatos, e damos por adquirido não só o reconhecimento internacional da qualidade portuguesa na área desportiva, como os muitos anos de alegrias que esperam por nós. A juntar às que vivemos este fim de semana, por exemplo.
E se ontem foi o dia do despertar do instinto goleador de Cristiano Ronaldo, com um duplo êxito que salvou a Juventus, no sábado desfrutara-se já dos novos elogios de Guardiola a Bernardo Silva e de mais um momento fantástico de Pepe e Ricardo Quaresma, a abrir o marcador para o Besiktas: canto teleguiado do homem da trivela para a cabeçada vitoriosa do luso-brasileiro, que de imediato viu todo o estádio a aplaudi-lo de pé.
É o início de época mais profícuo de Pepe, que a caminho dos 36 anos se mantém na plenitude das suas capacidades. Acaba de ser distinguido como o melhor defesa da liga turca na temporada finda e, ainda em setembro, soma já seis (!) golos – cinco pelo Besiktas, em oito jogos (dois de qualificação para a Champions), e um pela Seleção, na partida em que atingiu as 100 internacionalizações. Haver Pepe é um luxo. E um orgulho para os adeptos portugueses.
Depois de evocar o extraordinário Carlos Lopes, termino como comecei, longe do futebol, dedicando o último parágrafo a outra lenda, esta do snooker. Refiro-me ao inglês Ronald Antonio O’Sullivan, mais conhecido por Ronnie O’Sullivan ou "The Rocket", que ontem, aos 42 anos e em mais uma final épica, arrebatou os 225 mil euros de prémio do vencedor do Shangai Masters, torneio que conquistara já em 2009 e 2017. Pentacampeão mundial e ex-número um do ranking, Ronnie é para mim o melhor de sempre no snooker: pelo conjunto dos resultados obtidos, por ser o primeiro jogador da modalidade a chegar aos 10 milhões de libras em prémios e pelo génio, até agora insuperável, com que sai das situações de jogo mais complexas, com tacadas inacessíveis ao comum dos mortais. Viver a fase de ouro de Cristiano e Messi, desfrutar da rivalidade de Federer com Nadal e Djokovic, e ver Ronnie O’Sullivan limpar a mesa acima dos 100 pontos (ou dos 140!): que mais poderia eu desejar? Desportivamente, nada."

Sabe quem é? Como ele, ninguém... - Félix Bermudes

"Presidente assim nenhum clube teve (e não só pelo que fez no desporto); Sem sua ideia não teria havido Benfica

1. (O pai era da Galiza, emigrara par o Porto para por lá abrir salão de bilhar - e, algures por 1879, tinha o filho cinco anos, desceu, com a família atrás, a Lisboa, para igual negócio). Ele cresceu e estudou na Escola Americana - e fundado o Sport Lisboa (1904) desatou a aparecer em Belém, para jogar na sua equipa de terceiras categorias. «Jogava a extremo direito, era o jogador mais veloz desse tempo, mas campeão, no Sport Lisboa, só fui uma vez - e como guarda-redes...»

2. Numa das primeiras edições de A Bola contou-o: «Ajudei a conquistar o primeiro troféu ganho pelo Sport Lisboa contra  Cruz Negra, a vitoria foi nossa por 5-2 e marquei dois golos e maio porque o primeiro resultou dum chuto simultâneo vibrado por mim e pelo interior direito e que deu um efeito tão incrível à bola que o guarda-redes, verdadeiramente desnorteado, não pôde apanhá-la, tendo-a tão perto».

3. Fora o primeiro elemento do Sport Lisboa a participar num torneio de atletismo (organizado, na Pavalhã, pelo infante D. Afonso) - e, em 1908, o clube perdeu quase todos os seus melhores futebolistas para o Sporting. Pensou-se que era o seu fim (e, se fosse o Sport Lisboa e Benfica nunca teria existido...) - mas ele, Manuel Gourade, Cosme Damião não deixaram que fosse: da sua cabeça soltou-se a ideia de um peditório para suportar os gastos de inscrição (da equipa de terceiras categorias que passava a primeira) no Campeonato de Lisboa. 47 mil réis se colheram, bastaram para a necessidade - e com ele à baliza, em alguns jogos, o SL só ficou atrás dos ingleses do Carcavelos.

4. Também o contou em A Bola: «Outro dos meus melhores títulos foi quando o José Pontes organizou festa desportiva memorável. O Benfica pensou em muitas equipas para o cross-country, mas o Cosme Damião apenas pôde organizar duas e meia. Eu estava pacatamente nas bancadas, com o meu filho, a assistir aos preparativos quando o Cosme, para organizar a terceira equipa, me ordenou vestir-me para correr. Por meu turno eu mandei vestir o meu filho e lá fomos os dois completar a equipa - e ganhou o Lázaro...»

5. (Essa vitória de Francisco Lázaro com a camisola do SL Benfica foi em Maio de 1911 - num corta-mato com sebes, muros, rias de água, arames farpados e passagens por... minas!) Quinze dias antes, estreara a primeira peça de teatro de revista de feição claramente republicana: Agulha em Palheiro - foi ele que a escreveu, era já argumentista de fama (internacional).

6. Ao futebol e ao atletismo que praticou, juntou-lhes o ciclismo, o hipismo, a natação, o alpinismo (& mais...) - e, no tiro, foi aos Jogos Olímpicos de 1920 e 1924: em Paris ganhou a medalha de quarto lugar (ainda não se decidira que o pódio era de três apenas). E oito anos antes já ele se tornara presidente do Benfica.

7. Algures por 1942, a Censura salazarista proibiu  hino do Benfica por no seu refrão se cantar Avante p'lo Benfica! (e Avante se chamar o jornal dos comunistas). Fora escrito por ele para comemorações do 25.º aniversário do clube - e a presidente do Benfica voltou em Janeiro de 1945. (Ganhou o campeonato - e lançou o projecto para o «grandioso estádio de futebol» que esteve para ser em terrenos à beira do Hospital Júlio de Matos e acabou por ser em Carnide, já com Manuel da Conceição Afonso no seu lugar...)

8. Figura de destaque na candidatura de Norton de Matos, a PIDE esteve para prendê-lo, não o fez por se achar perigoso o seu impacto - dada a sua posição na Federação Internacional das Sociedades de Homens de Letras (seu vice-presidente durante duas décadas, em 1956 subiu à presidência).

9. Entre mais de 100 peças de teatro que assinou está O Leão da Estrela - transformado em filme por Arthur Duarte. Aos 67 anos chegou à final de pares do Campeonato de Portugal de ténis de segundas categorias - e aos 50 fora campeão absoluto de esgrima.

10. Foi filósofo e esoterista - experts afiançam que é dele a melhor tradução do Se, o imortal poema de Kipling. Aos 82 anos ainda jogou ténis de mesa por Moçambique - revelando a quem o viu e esboçou: «E, em Portugal, uma vez por semana pelo menos, ainda vou a pé de Lisboa a Queluz ou de Queluz a Lisboa - e se não dou a volta ao mundo não é por falta de pernas, é por falta de botas...»"

António Simões, in A Bola

Liga dos Campeões e outras mudanças: siga o dinheiro

"Não se esqueçam de uma frase de Chateaubriand: «A justiça é o pão do povo, de que ele está sempre necessitando»

1. A Taça da Liga, e a sua fase de grupos, tem lugar, esta época, a um fim de semana prolongado. Com novo patrocinador parecia seguro que nos jogos que envolvessem os grandes - importantes dinamizadores de um qualquer patrocínio, tenha este sido concretizado de forma directa ou indirecta... - o Conselho de Arbitragem nomeasse árbitros que não gerassem muita polémica. Sabemos bem que se os treinadores dão minutos aos jogadores menos utilizados também pode ser curial que o CA designe árbitros com menos experiência para os tradicionais grandes palcos do futebol português. Mas face às arbitragens do Dragão e da Luz parece, afinal, que o CA e a Direcção da Liga - em tempo de propostas de mudança estatutária revolucionária! - estão quase de costas voltadas. Ou então as relações tensas do arranque desta época não estão ainda ultrapassadas. Quase nos recordaram Sócrates, o bem antigo, quando nos legou que «de três coisas precisam os homens: prudência no ânimo, silêncio na língua e vergonha na cara». Citei e recordei uma das antigas referências europeias. Tão só! Sabendo que a justiça não tem nada de complicada a quem a complica somos nós. Nos relvados e fora deles. Nos tribunais e, por vezes, à porta deles. Seja os tribunais do Estado seja os tribunas arbitrais. Como o do Desporto, tão acarinhado esta semana em razão de acórdãos que expressam uma jurisprudência constante que começa a ser, e bem, em tempos de liberdade de expressão, e dos seus excessos. Mas no Dragão e na Luz as arbitragens foram fracas, diria que fraquinhas. O Futebol Clube do Porto empatou e Sérgio Conceição foi, uma vez mais expulso. Na Luz um Benfica, com algumas novidades e com Salvio em grande, venceu justamente um Rio Ave bem organizado e com pormenores individuais bem interessantes. Hoje é o Sporting, já sob a liderança de Frederico Varandas, a defrontar o Marítimo. Veremos qual o árbitro designado pelo Conselho de Arbitragem...

2. Esta semana fomos confrontados com um exclusivo que, de verdade, tem mais de dois anos. A descoberta do hacker, incluindo a sua fotografia, qual artífice do Football Leaks, consta de uma edição do jornal desportivo espanhol Marca em Março de 2016. E este jornal, na sua liberdade e também com a sua clara resistência - que vivamente se saúda! - deu, nesse tempo, a devida nota dessa notícia! Na altura Rui Pinto tinha 27 anos e o seu advogado Aníbal Pinto, que «com ele comunicava mediante TOR, para não ser descoberto» actuavam em conjunto e haviam «extorsioando y chantangeado a diversoso clubes y, cuando estos no pagaban, ellos hacian públicos los documentos en na web Football Leaks». Como constatam citei, em castelhano, a notícia do jornal espanhol. De propósito e em consciência. E não foi, acreditem, por negligência... Acredito que as nossas entidades de investigação não deixaram de ler, e guardar, a notícia, e porventura até os comentários publicados no site do mais conhecido, e vendido, jornal desportivo espanhol. Acredito, já que não conheço o processo - nem, ao que consta, os seus diferentes anexos - que as mesmas entidades de investigação, e quem as dirige, não deixaram de realizar todas as diligências para aprofundar os dados e factos que constam da notícia. E acredito, diria que piamente, que esse aprofundamento consta de inquéritos pendentes, estes sim, por cautela táctica, ainda em pleno segredo de justiça. Aprendi, da minha presença também nos corredores e nas diferentes barras dos nossos tribunais, e numa influência brasileira, que « segredo não está no que você diz, mas na maneira como diz. Sempre que precisar disparar a flecha da verdade, não esqueça de antes molhar a sua ponta num vaso de mel». E, aqui, o mel é o seguir o dinheiro. E acredito, com renovada piedade, que as nossas entidades de investigação estão já a seguir o dinheiro. Com a percepção de encontrarem, a tempo - mesmo que com mais algum tempo - os verdadeiros beneficiários finais. E, decerto, ouvindo já amanhã ou durante a próxima semana, algumas personagens que se estão disponíveis para serem entrevistados estão ansiosos para serem escutados! já que como escrevia Miguel Couto: «A justiça é o que nos favorece; a injustiça é o que nos contraria»! Como bem sabe e bem fez em oportuna e sagaz conferência de imprensa e meu Amigo João Varandas Fernandes.

3. Vai arrancar, esta semana, a Liga dos Campeões. E também a Liga Europa. Muito muda na Liga dos milhões. O prémio de presença na fase de grupos desde logo. Bem apetitoso! Os prémios por vitória ou empate. Bem estimulantes! Os prémios para quem alcançar os oitavos de final, quartos de final e ... final! Bem relevantes! E neste tempo em que na Europa se estuda, com afinco, uma terceira competição europeia muito mudou, entre nós, em termos de direitos televisivos. O que sabemos é que nenhum grande ou relevante operador que actuam no mercado português adquiriu os direitos da Liga dos Campeões. Ou da Liga espanhola. Ou da Liga francesa. Sabemos, tão só, por uma voz da Sport TV que mesmo oferendo menos, não «descem os preços das assinaturas»! Sabemos, desde Victor Hugo «que ser bom é fácil. O difícil é ser justo»! E, aqui, mesmo perante a indiferença - eu diria desconhecimento! - do Ministério da Cultura - o da tutela! - os direitos dos consumidores são afectados. Acredito que o poder político do desporto - activo e cauteloso como é imperioso nestes complexos momentos! - se vai empenhar na avaliação desta situação. Este capitalismo irritante - agora que o nosso Primeiro Ministro visita, e bem, Angola após uma cómoda decisão da nossa Justiça! - tem dias. Diria também que tem rostos. As licenças resultam de uma concessão pública e é útil que algumas personalidades se recordem dessa realidade e outras o saibam, por conhecimento transmitido. E a concessão, qualquer concessão, gera responsabilidades e, no caso, explicações. Diria que aqui também a transparência se exige! E também é tempo de alguns que se julgam senhores disto tudo - e não digo donos em plena consciência bancária! - não se esqueçam de uma frase de Chateaubriand: «A justiça é o pão do povo, de que ele está sempre necessitando»! Pão e povo! Sempre! Não se esqueçam... enquanto é tempo! E como nos legou Machado de Assis «enquanto matamos o tempo, ele nos enterra»!"

Fernando Seara, in A Bola