sábado, 8 de setembro de 2018

Crónica futurística: exílio do Benfica e o país em 2022

"O Benfica joga em La Liga, a economia portuguesa sofre, os jornais desportivos fundiram-se num só título e as estações de TV passaram a transmitir uma programação virada para Ópera, cartomancia e jardinagem.

Oito de Setembro de 2022. Cumpre-se hoje a 4.ª jornada do campeonato espanhol e o Benfica joga em Valladolid. São esperados 15 mil portugueses. É uma alegria para o comércio local e também para o clube anfitrião, que vê assim esgotada a lotação do Estádio José Zorrilla. O presidente da Real Federación Española de Fútbol tinha razão quando, no já distante verão de 2019, ao aceitar a inscrição do Benfica em La Liga, prometeu aos espanhóis que a presença do maior clube português teria reflexos importantes na indústria. E, de facto, assim tem acontecido, superando até as expectativas. Ainda há duas semanas, quando na 2.ª jornada foi o Benfica jogar no campo do Girona, nem os 1400 quilómetros que distam entre Lisboa e aquela cidade catalã impediram que uma multidão de benfiquistas enchesse o Estádio Montilivi para assistir a uma expressiva vitória do seu emblema e ao regresso de Jonas depois daquele aborrecido problema lombar.

'O Benfica trará maiores benefícios ao futebol espanhol do que aqueles que o Mónaco empresta ao campeonato francês ou mesmo dos que os clubes de Israel emprestam às competições organizadas pela UEFA', disse na altura o presidente da RFEF. Na altura ninguém o levou a sério e a novidade foi até recebida com foros de excentricidade internacionalista. Mas, logo na primeira época em que o Benfica jogou em La Liga 2019/20, os índices da sua presença foram altamente satisfatórios. Aumentaram as assistências no estádios e as receitas dos operadores televisivos espanhóis, aumentaram as tiragens dos jornais 'As' e 'Marca', que passaram a vender-se nos quiosques das cidades portuguesas, aumentaram as receitas do comércio local por todo o país vizinho e aumentou a cotação dos jogadores do Benfica que, jogando no campeonato espanhol, passaram a ter uma visibilidade de mercado inatingível em Portugal.

A economia portuguesa é que tem sofrido um bocado com esta proscrição. A cada segunda-feira, milhares e milhares de cidadãos nacionais comparecem nos seus postos de trabalho extenuados pelos milhares de quilómetros que percorrem na Ibéria ao fim de semana para apoiar o Glorioso. O impacto desta situação por cá e já um caso sociológico: o campeonato português, coitado, é uma miséria total, o Record, 'A Bola' e 'O jogo' fundiram-se num só título e as estações de televisão passaram a transmitir nas suas noites uma programação toda virada para a ópera italiana, para a cartomancia e para a jardinagem. A águia Vitória foi fuzilada em directo - o que levantou algumas objecções dos ambientalistas internacionais - e encontram-se actualmente empalhada no gabinete de uma pessoa importante. Hoje, no Seixal vivem apenas a Madonna mais os filhos e todos aqueles relvados foram transformados num acampamento para lisboetas despejados de suas casas pela pressão imobiliária. Muito mais do que um clube, o Benfica é uma obra social. Y olé!"

Vitória no Funchal...

Madeira SAD 25 - 31 Benfica
(13-13)

Jogo estranho, com momentos muito maus, e alguns bons... mas no final, acabámos por vencer, com alguma tranquilidade...

Os nossos Centrais estão mesmo a fazer falta, o Seabra e o Xico precisam de recuperar - já que o João vai demorar mais tempo... -, daqui a 4 jornadas, temos jogo com os Lagartos, e não podemos jogar sem Centrais...!!!

Pizzi: a camisola do Barça, o "patrão" da Luz e "ídolo" em Bragança

"O Bancada aproveitou aquele que é o melhor arranque de época de Pizzi para ir até às raízes do médio em Bragança.

A atravessar aquele que é o melhor arranque de época da carreira, Pizzi já mereceu a chamada de regresso à Selecção Nacional. Em apenas oito jogos nesta temporada, o médio do Benfica já igualou o número de golos marcados na totalidade de 2017/18 (seis) e foi um dos principais destaques do trajecto das águias até à fase de grupos da Liga dos Campeões. O Bancada foi até às raízes do jogador de 28 anos, natural de Bragança, onde deu os primeiros passos no futebol. Para além de ter ouvido a história do nome que o transmontano adoptou no desporto rei, ficou também provado que o carácter animado e brincalhão que passa para fora dos relvados já se notava enquanto jovem aspirante a futebolista.
Luís Miguel Afonso Fernandes. Se perguntássemos a inúmeras pessoas a quem pertence este nome, certamente que seriam poucas as que saberiam a resposta. Assim o é porque o Luís é conhecido no mundo do desporto rei por Pizzi, numa homenagem ao antigo avançado do FC Barcelona, que também passou por Portugal, mais precisamente pelo FC Porto. Mas, foi devido ao clube catalão que a alcunha surgiu. Benfica, FC Porto e Sporting são os clubes grandes do futebol português, mas o jovem Luís preferia vestir uma camisola do Barça quando jogava na rua com os amigos. “Quando era miúdo, ele andava sempre com uma camisola do Barcelona e daí o nome Pizzi, porque na altura jogava no Barcelona o Pizzi e como ele fazia muitos golos os amigos só o tratavam assim”, revelou, em conversa com o Bancada, Beto Antas, antigo treinador de Pizzi nas camadas jovens do GD Bragança.
O próprio Beto Antas acompanhou o percurso de Pizzi dos sete aos 17 anos em Bragança até o SC Braga avançar para a contratação do jogador. “Chamou-me logo a atenção nos primeiros treinos de captação, um miúdo franzino e pequeno em relação aos outros da idade dele. Isto com sete, oito anos já demonstrava uma técnica acima da média. Era um miúdo alegre e notava-se que gostava daquilo que fazia. Quando lhe chamava a atenção por alguma coisa que se passava no campo [posicionamento ou movimentações] mostrava-se interessado e com muita vontade de fazer sempre bem aquilo que se lhe pedia”, confidenciou ainda o antigo técnico do médio do Benfica.

“Muita gente chamou-me maluco… mas eu sabia o que estava ali”
Pizzi é hoje uma das principais figuras dos tempos mais recentes do Benfica, mas a verdade é que o Sporting teve a oportunidade de ficar com ele ainda em jovem idade. “Muita gente chamou-me maluco e diziam que era apenas mais um que iria ficar pelo caminho. Mas, eu sabia o que estava ali pela maneira como trabalhava e sempre acreditei nele. Pelo trabalho, vontade, empenho e dedicação que demonstrava… muitas vezes tinha que o mandar parar porque ele queria sempre mais e até ficava chateado comigo por isso. Ele começou a dar nas vistas nas selecções distritais e vários clubes andaram de olho nele. Esteve a fazer testes no Sporting com mais ou menos 10/11 anos”, contou Beto Antas. No entanto, foi um emblema minhoto que apostou primeiramente no transmontano.
“Foi o SC Braga que chegou com condições mais realistas numa altura que ele numa época com idade de juvenil, foi campeão distrital de juvenis, juniores e nos seniores campeão da 3.ª Divisão”, referiu o antigo treinador de Pizzi. Por falar na equipa principal do Bragança, Carlos Carneiro, conhecido como 'Pedrinha' no mundo do futebol, foi colega dele por lá e deu conta de uma situação peculiar para um jovem chamado ao plantel sénior. “Sempre que tínhamos um treino de equipas, todos o queriam na equipa devido à qualidade dele já naquela idade”, contou ao Bancada.

“Em dez remates… nove deles eram golo”
“Para a idade que tinha já mostrava muito potencial em relação a outros da mesma idade e aos mais velhos. Era muito rápido e habilidoso com a bola, quer em drible quer em passe. Quando ele começou no Bragança era um jogador muito repentino de fácil drible, que tanto fintava com o pé direito como com o esquerdo, o que fazia com que fosse um jogador diferente dos outros”, prosseguiu ainda Carlos Carneiro. Nos dias que correm habituámo-nos a ver Pizzi jogador numa posição mais central do terreno, mas a verdade é que foi como extremo que deu os primeiros passos em sénior. “A posição dele quando apareceu era extremo dos dois lados, mas tinha uma facilidade em finalizar muito acima da média. Em dez remates... nove deles eram golo, tinha muita frieza frente ao guarda-redes.”
Esse cariz finalizador de Pizzi, que veio ao de cima neste início de temporada, era já um traço característico do futebol do transmontano no começo da carreira. “Era um finalizador nato, fazia muitos golos de todas as maneiras e feitios. Foi sempre o melhor marcador tanto a nível de clube, como nas selecções distritais”, referiu Beto Antas. De facto, essa veia goleadora fazia com que Pizzi jogasse mais avançado no campo do que nos dias que correm. “Ele actuava como ponta de lança ou médio ala. Fez algumas vezes a posição oito quando era preciso. Era muito evoluído tecnicamente e inteligente”, considerou Beto Antas.

“O melhor do Benfica… hoje é um patrão”
Pizzi foi contratado pelo SC Braga em 2007/08 e foi emprestado ao GD Ribeirão na temporada seguinte, depois de uma época nos juniores dos arsenalistas. Por lá encontrou João Pica, agora jogador do Académico de Viseu. “Nós passávamos muito tempo juntos, almoçávamos e jantávamos sempre juntos com mais uns colegas que tinham vindo com ele de Braga...houve muita situação engraçada...muita mesmo!”, salientou o defesa em conversa com o Bancada, antes de destacar aquilo que viu de Pizzi nessa temporada. “Ele na altura jogava mais na linha, muito rápido e com técnica já acima da média. Era jovem e tinha uma margem enorme de progressão, soube aproveitar as suas qualidades e as oportunidades que lhe deram e isso, a par da humildade, fizeram dele o jogador que é hoje.”
Tiago Martins também partilhou balneário com Pizzi no Ribeirão e descreveu as qualidades e capacidade que o médio aprimorou e que fazem dele um “patrão” dentro de campo hoje em dia. “Fisicamente nunca foi muito forte, mas nunca teve medo do contacto, tecnicamente era já acima da média. O Pizzi com a bola nos pés era e é rápido e sempre jogou com a cabeça levantada desde jovem com boa visão de jogo, que o faz hoje o melhor do Benfica pela grande qualidade que tem, hoje é um patrão”, salientou o antigo avançado ao Bancada.
Para um miúdo com pouco tempo no SC Braga e já alguma experiência anterior de seniores, uma cedência ao Ribeirão poderia ter sido vista como um passo atrás… mas quem jogou com Pizzi sabe que o jogador do Benfica viu essa situação sim como uma oportunidade. “Ele sabia que ia ser uma passagem para ele em Ribeira, acredito que por vezes quando não era opção lhe tenha passado isso [passo atrás] na cabeça, mas é normal para quem é jovem e está ligado a uma equipa como o SC Braga. No entanto, ele foi sempre profissional e conseguiu chegar à equipa principal do Braga com o seu trabalho”, referiu João Pica.
Tiago Martins falou em “boa aposta” para descrever a passagem de Pizzi pelo Ribeirão. “No Braga B joga-se com jovens todos da mesma idade, não há muita experiência, que num clube não sendo equipa B tem um pouco de tudo. Ele jogava comigo na frente na direita. Muitas vezes era meu suplente [risos]. Lembro-me num jogo na Madeira em que ao intervalo ele entrou para o meu lugar e marcou um golo que depois empatamos no final”, lembrou.

“Brincalhão e animado”... é assim o “ídolo” de Bragança
Quem acompanha o dia a dia do Benfica e, mais precisamente de Pizzi, já foi absorvido pela imagem que o médio passa para fora das quatro linhas de ser um animador de balneário. Na verdade, o transmontano já era assim em jovem. “Era um miúdo muito brincalhão e animado, tinha sempre um sorriso na cara, andava sempre com partidas aos colegas e faziam um balneário fantástico”, reconheceu Beto Antas, antigo treinador de Pizzi no Bragança.
Quando chegou aos seniores do clube da sua terra, o jogador de 28 anos acusou alguma timidez, mas aos poucos a integração no plantel foi suplantando isso. “Ele era um miúdo um pouco tímido porque só tinha 16 anos e quando se está pela primeira vez com colegas com mais idade fica-se mais acanhado do que espevitado. Mas, depois com o decorrer do tempo ele era brincalhão... mas sempre sem abusar, senão os mais velhos punham-no em sentido”, contou Carlos Carneiro.
Em Ribeirão, o facto de se ter sentido em casa desde logo fez com que se sentisse mais à vontade. “Ele vinha com cinco colegas também do Braga, por isso estava mais à vontade. Mas, era um miúdo calmo, que escutava e respeitava toda a gente e já sabia o que queria apenas com 19 anos. Fazia as suas brincadeiras de balneário, mas mais com os seus colegas do Braga. Aos poucos foi ganhando confiança e depois soltou-se com o resto do grupo que é normal. Quando o vejo hoje no Benfica vejo que é a mesma pessoa que à nove anos atrás”, reconheceu Tiago Martins. “Apesar de ser dos mais jovens no balneário, o Pizzi era brincalhão, numa equipa muito jovem no geral e isso permitia mais brincadeira. O Pizzi era um miúdo animado e que fazia bom balneário”, acrescentou João Pica.
Pizzi nunca renunciou às suas origens, mesmo apesar de a carreira futebolística já o ter levado a Braga, Ribeirão, Paços de Ferreira, Covilhã, Madrid, Corunha, Barcelona e, por fim, Lisboa. Por isso mesmo, é que o jogador do Benfica é visto como um “ídolo” para as gentes daquela terra de Trás-os-Montes. “O Pizzi é hoje visto em Bragança como um ídolo e uma referência para os mais jovens. Quando pode, não esquece as origens, vem a Bragança e continua com a mesma humildade que sempre o caracterizou, amigo do seu amigo e sempre disponível para ajudar quem precisa com causas solidárias e não só”, confidenciou Beto Antas."

Fabio e os novos Mancinis

"Anda tudo louco por Cristiano não marcar golos em Itália. Ou é a inspiração de Sorrentino, Strakosha ou Sepe, os três guarda-redes que encararam a Juventus, ou então os remates do #7 bianconero saem ligeiramente direcionados ao lado do alvo e o salto do monstro fica encravado. No entanto, a aparente imprecisão do jogador mais bem pago da história da Serie A não significa necessariamente que o campeonato perca interesse, uma vez que há outros protagonistas dignos de realce, desde que queiramos olhar com olhos de ver. Fabio Quagliarella reforça essa teoria.
O magnífico golo de calcanhar de Quagliarella contra o Nápoles, em Marassi, no domingo, foi uma obra de arte para gravar na memória. O cruzamento de Bereszynski, do lado direito do ataque da Sampdoria, até nem foi famoso. A bola foi para trás de Quagliarella, mas o avançado ‘blucerchiato’ teve o instinto para improvisar com o golpe técnico adequado à situação, para estupefação de Koulibaly, que ainda está para perceber o que aconteceu na sua área. Ospina ainda viu o filme com alguma nitidez, mas também não foi capaz de pôr as mãos em cima da bola.
Por ser natural da Campânia e ter coração ‘azzurro’, adepto de infância do Nápoles, não celebrou o golo com a euforia que se exigia. E é curioso que, há quase uma década, também não andou aos saltos na altura em que marcou outro golo de ‘tacco’, pela Juventus contra a Udinese, culminando o passe rasteiro de Krasic. A explicação? Fabio não festejou esse golo pelas zebras porque já tinha jogado nas zebrinhas.
Com a proeza em Marassi, Quagliarella registou o seu 128.º golo na Serie A e vinca a condição de maior goleador em actividade na elite do ‘calcio’. Ainda não chega a metade do recordista Silvio Piola, mas ultrapassou nessa lista Shevchenko, igualou Rivera e ficou a um de Bettega, também conhecido por um mítico golo de calcanhar pela Juventus contra o Milan, numa vitória ‘bianconera’ por 1-4 em San Siro, em 1971. Com muito menos golos na lista, mas com merecida ênfase neste artigo, o brasileiro Mancini, então na Roma, fez um dos mais espetaculares, em 2003, e logo num derby contra a Lazio no Olímpico. Arrepia só de lembrar.
Embora tenha nascido no Sul e feito formação no Norte, no Torino, a Samp é um emblema especial para Quagliarella. Foi pelos genoveses que chegou à Selecção italiana, pela mão de Donadoni, que também o “apanhou” no Nápoles em 2009/10, já com Hamsik e Lavezzi. Na primeira passagem pela Samp, com Novellino a treinador, em 2006/07, fez parte de uma boa equipa que tinha Palombo no meio-campo, isto antes de rumar a Friuli, para a Udinese.
O regresso a Génova tem feito sentido para prosseguir a carreira e ninguém percebe que tem 35 anos. Por acaso recordam-se que essa era a mesma idade de Roberto Mancini quando, em 1999, fez aquele que pode perfeitamente ser considerado o golo de calcanhar mais elegante de todos os tempos, no Tardini, contra o Parma, na sequência de um pontapé de canto batido por Mihajlovic?
Nessa noite, depois do monumento assinado por Mancini, ‘Bobo’ Vieri apelidou-o de Maestro. O deslumbramento de Vieri era justo. E admito que 'Mancio' foi um dos mais fascinantes jogadores do meu tempo. Com aquela maravilha, digamos que foi fácil para Cragnotti, o presidente da Lazio, ter ficado ainda mais convencido com a sugestão de Eriksson quando o treinador lhe havia dito que ganhariam o ‘scudetto’ se Cragnotti lhe trouxesse Mihajlovic, Verón e Mancini, gente que o sueco já conhecia da Samp. Dito e feito. A Lazio foi mesmo campeã em 1999/2000. Ficamos, então, à espera das próximas pérolas de Quagliarella e de novos Mancinis. Porque isto não deve ficar por aqui."

A escola gaúcha

"Em Julho de 2014, na ressaca da mais humilhante das derrotas da selecção brasileira, frente à Alemanha por 7-1 nas meias-finais do Mundial, a imprensa acreditava que a CBF escolhesse o gaúcho Tite como novo técnico. Mas não: optou pelo gaúcho Dunga. Interrompia-se assim o ciclo do gaúcho Luiz Felipe Scolari, que sucedera ao gaúcho Mano Menezes, que por sua vez em 2010 tomara o comando canarinho da mão de Dunga, um gaúcho, já se sabe. Caiu Dunga, pela segunda vez, entretanto, e foi então contratado, finalmente, Tite, que como já dissemos é gaúcho, para os ciclos Rússia-2014 e Qatar-2018.
De 2006 até 2022, são 16 anos seguidos de gaúchos no banco da selecção, nascidos em Caxias do Sul (Tite), Ijuí (Dunga), Passo Fundo (Felipão) e Passo do Sobrado (Mano), localidades num raio de 250 quilómetros no Rio Grande do Sul, estado mais meridional do Brasil.
“O que é que a baiana tem?”, escreveu Dorival Caymmi, em 1939, para a voz da luso-brasileira Carmen Miranda. E no futebol, o que é que o gaúcho tem? Como é que uma região que representa um 20º da população do país e um 30º do seu tamanho domina o banco da selecção?
A teoria “naquele momento, naquele lugar” é antiga e ecléctica. Na literatura, conviveram na mesma Paris – na sala de estar da casa de Gertrude Stein, mais precisamente - Ernest Hemingway, Francis Scott Fitzgerald ou Ezra Pound, a nata da génération perdue.
Num prédio acanhado de Hell’s Kitchen, no lado oeste de Manhattan, Lee Strasberg ensinou o método Stanislavski, nalguns casos na mesma sala de aula, a Anne Bancroft, Dustin Hoffman, Marlon Brando, Montgomery Clift, James Dean, Marilyn Monroe, Paul Newman, Ellen Burstyn, Al Pacino, Geraldine Page ou Eli Wallach.
No prefácio ao livro de 2012 de Sandro Modeo Il Barça: tutti i segreti della squadra più forte del mondo, o jornalista Paolo Condó recordou ainda que graças ao médico Franco Basaglia a sua cidade natal, Trieste, se tornou a meca da psiquiatria mundial, isto a propósito de Barcelona, à época daquela obra o destino de todos os repórteres free lance europeus, atraídos pela presença “naquele momento, naquele lugar” de Guardiola, Messi, Xavi, Iniesta e de outros “revolucionários”.
O Silicon Valley é um exemplo contemporâneo da teoria, assim como a Escola de Sagres, nos idos séculos XIV e XV.
Mas como é de futebol que falamos, as escolas de treinadores, da húngara à holandesa, passando pela catalã, pela argentina e até pela portuguesa, são casos de estudo cada uma no seu tempo. Por sua vez, no livro Franz. Jürgen. Pep, de 2016, os autores procuram obstinadamente a origem do domínio alemão, tão expressivo nos últimos anos, e também encontraram um lugar, geograficamente demarcado.
Concluíram que, da mesma maneira que se fala na Escola de Frankfurt, como berço de teorias sociológicas, no futebol se poderia falar na Escola de Stuttgart, como berço do futebol moderno, ou não fossem Klinsmann, Löw, Klopp e o teórico preferido de todos eles, Ralf Rangnick, naturais de povoados em redor da capital de Baden-Württemberg. 
A Escola de Estugarda derreteu a, chamemos-lhe assim, Escola Gaúcha, naquele tal Julho de 2014, quando a Alemanha de Löw goleou o Brasil de Scolari, mas ainda assim a aposta brasileira pós-Felipão foi noutro gaúcho, Dunga, e ainda em mais um, Tite.
Porquê? E há algum pólo de atracção no Rio Grande do Sul, como Gertrude ou Strasberg?
Tite fala em duas correntes dentro da própria escola gaúcha: uma representada por Carlos Fröner, um militar tricampeão pelo Grêmio nos anos 60 e também seleccionador com um futebol que privilegiava a defesa, a marcação, a rigidez e a disciplina e da qual, diz ele, Scolari é seguidor; e outra por Ênio Andrade, campeão nos anos 70 pelo Internacional com um futebol organizado mas vistoso, em que ele se revê.
Mas Paulo Roberto Falcão, que também chegou à selecção como treinador e era a estrela daquele Inter de Andrade, discorda. “Mesmo ele privilegiava a defesa”. E Oswaldo Brandão, treinador que conseguiu a proeza de ser ídolo de Palmeiras e Corinthians e foi o primeiro gaúcho a orientar a selecção, em 1955, de tão severo chegava, consta, a bater nos jogadores de cinto.
“Somos competitivos, guerreiros, ‘copeiros’ [ndr: treinadores com vocação para competições a eliminar] e mais europeízados”, explicou um dia Argel, antigo defesa de FC Porto e Benfica, nascido no Rio Grande do Sul. “É cultural, tivemos muitas guerras por aqui, isso formou gente com capacidade para enfrentar batalhas, para comandar, também os jogadores e os árbitros gaúchos têm boa fama”.
O estado mais a sul do Brasil, de facto, outrora disputado pelos reinos de Portugal e Espanha, local de destino de milhares de imigrantes açorianos, italianos e alemães, passou o século XIX em guerras – Guerra dos Farrapos, Guerra do Paraguai, entre outras – contadas, com primor, nos livros de Érico Veríssimo, um dos mais reputados escritores brasileiros do século XX e gaúcho até à alma.
“Criam equipas competitivas, sem dúvida”, disse o jornalista Maurício Savarese, correspondente no Brasil da revista 4x4x2 e paulistano de nascimento. “Mas o excesso de mentalidade gaúcha tornou o futebol brasileiro um tédio desde os anos 90”.
Até ao Qatar 2022, a Tite compete fazer o Brasil ganhar outra vez e defender a honra da escola."

O crime não pode compensar

"As declarações que sublinham o papel indispensável que o desporto deve assumir perante o agudizar de tensões, de intolerância, de individualismos e conflitos étnicos, sociais, políticos e religiosos que hoje vivemos são conhecidas e recorrentes.
Muitas vezes gostamos de evocar as palavras visionárias de Mandela, quando afirmava que o desporto “tem o poder de mudar o Mundo”.
Mas frequentemente esquecemo-nos que o desporto é um produto social e nessa medida também amplifica, reproduz e acentua - em palcos de milhões - fenómenos de violência, de racismo e de criminalidade.
Se não soubermos preservar o desporto, se formos incapazes de cuidar dos seus valores e princípios fundamentais, se não salvaguardarmos a sua integridade, se o não colocarmos ao serviço do desenvolvimento social e humano conforme se encontra consagrado na Carta Olímpica todo o seu valor formativo se perde.
Porque aí o desporto vira-se contra si próprio. Subverte a sua missão essencial, descredibiliza-se irremediavelmente perante a sociedade e compromete a reputação dos agentes e das organizações que desempenham aquilo que deveria ser um relevante serviço de interesse público.
A globalização do fenómeno desportivo, a sua mercantilização alavancada por um crescente volume financeiro e interesses de cariz económico e político, tem exposto vulnerabilidades preocupantes da indústria do desporto à permeabilidade das ameaças crescentes que corroem os seus pilares fundamentais.
Diariamente somos inundados com episódios de manipulação de resultados, apostas ilegais, infiltração criminosa, corrupção, tráfico de menores, fraude fiscal, branqueamento de capitais ou tráfico de influências que usam o desporto para florescer proveitos de origem criminosa.
A integridade, não tenhamos dúvidas, há muito está posta em causa e é hoje uma das maiores, mais sérias e complexas ameaças que o desporto enfrenta. 
Maior pelo volume financeiro que comporta.
Mais sérias pela dimensão da rede de criminalidade organizada transacional que aqui opera com baixo risco e elevados lucros.
Complexas pela sua dimensão transnacional e sofisticação tecnológica.
Ora, se sabemos que esta é uma realidade que em muito extravasa a jurisdição e a regulação do desporto, devíamos ter plena consciência que urge mobilizar esforços para suster esta gangrena, pois não serão outros a fazê-lo por nós, se não assumirmos, de forma firme e decidida, uma atitude liderante.
O Comité Olímpico de Portugal tem a perfeita noção que uma ameaça global desta índole requer de imediato o compromisso intransigente e empenhado de organizações que partilhem a mesma visão reformista e preocupação face à enorme dimensão dos problemas que atravessamos.
Que cruzam as competências das organizações desportivas, mas também de governos, entidades intergovernamentais, órgãos de investigação e polícia criminal, reguladores e operadores de apostas, mas também a reputação e credibilidade de patrocinadores, operadores televisivos e demais entidades cujos investimentos e marcas estão postos em causa e manchados por escândalos.
O desporto, mais do que personagens, precisa de ideias, de esforços conjuntos e, mais do que casos, precisa de causas.
A batalha da Integridade é um processo interminável e de melhoria permanente.
Um longo caminho a percorrer, tantas vezes marcado pela frustração entre o que almejamos e aquilo que alcançamos. Marcado pelo desinteresse e alguma ignorância.
Mas à medida que avançamos temos perfeita consciência que se trata do desafio mais importante, e porventura decisivo, daqueles que gostam desporto e acreditam no seu valor formativo.
Por isso não temos receio de expor as nossas fragilidades, de trocar pontos de vista, de mobilizarmos esforços conjuntos no sentido de nos fortalecermos e passarmos uma mensagem clara: o crime não pode ter no desporto um palco privilegiado de impunidade."

Manuel Constantino, in Tribuna Expresso

Assessores de imprensa do MP !!!

"Durante a semana, alguns dos mais reputados penalistas de Portugal arrasaram a acusação que o Ministério Publico dirigiu ao Benfica. E se ao início poder-se-ia pensar numa motivação clubística de alguns advogados consultados pelas mais variadas televisões, mais tarde até esse argumento caiu com estrondo. Não houve um penalista que não tivesse arrasado a acusação.
Pois bem, o que escreve o Expresso sobre o tema. Que a acusação é demolidora para o Benfica. Esta é a forma do Ministério Publico se defender. E como? Fazendo um julgamento público e acusando sem provas. E como faz isso? Aproveita jornalistas e meios de comunicação social com quem tem relações de promiscuidade jornalística. É isto que está causa.
Querem mais exemplos? A jornalista Tânia Laranjo tem sido uma das principais defensoras da acusação. Quem tem sido, em Portugal, uma das principais beneficiárias das toupeiras do Ministério Publico? Ela mesma. Por isso defende a acusação, tornando-a uma sentença e sem direito a contraditório.
O mesmo se passa com o jornalista Carlos Rodrigues Lima, que ontem, na sua página no Facebook ridicularizou o que chamou de 95 por cento dos advogados que haviam passado pelas televisões. Este jornalista é, curiosamente, um dos principais beneficiários das constantes violações do segredo de justiça.
Isto é o que temos assistido e tenho alertado desde o início. De um lado, as pessoas da lei, que a conhecem, alguns deles que ajudaram a fazê-la que arrasam a acusação. Do outro lado alguns jornalistas e meios de comunicação social a quem o Ministério Publico passa as suas informações com o objectivo de fazer um julgamento público.
Há quem chame a isso jornalismo. Eu acho que é assessoria de imprensa ao Ministério Publico. É nisso que as pessoas devem pensar. Nisso e em deixar a justiça fazer o seu trabalho. Eu disse a justiça. Não confundir com justiceiros mediáticos."

Surreal...



Já tinha a sensação do que se estava a passar, com a constituição da SAD como arguida, mas como não tive paciência de ler a acusação, não me apercebi daquilo que o Pragal denunciou neste vídeo...!!!
Isto é simplesmente criminoso, não é, não pode ser simplesmente incompetência do MP, é impossível... Estamos perante um acto doloso, por parte do Procurador que assinou esta acusação...
O Benfica tem que partir para uma acção contra o Estado...

Curiosamente, este Procurador já tem no seu curriculum acusações absurdas, que obrigou o Estado Português a pagar indemizações, parece que ainda vai custar mais...!!!

Inacreditável, como a descomunicação social especializada, que tem dedicado horas e horas, páginas e páginas a este assunto, repetindo ad nauseam frases feitas, mentirosas, e difamatórias e ainda não tenham verificado a 'data' dos processos!!!!