terça-feira, 21 de agosto de 2018

Sinfonia em vermelho-turco!

"No dia 8 de Junho de 1962, o Benfica foi a Istambul atropelar o Fenerbahçe perante o seu público. 3-1: golos de Coluna, Eusébio e José Águas. Os turcos não esconderam o seu entusiasmo por aquilo que tinham acabado de ver.

Hoje vou fazer um recuo no tempo até 1962. Mês de Junho. Explico já aqui porquê: no dia 8 de Junho, o Benfica estava em Istambul. Adivinhou quem suspeitou que os encarnados estavam na Turquia para defrontar o Fenerbahçe. O jogo não era a sério. Ou melhor, ser até era, não há jogo do Benfica que não devam os que jogam levar a sério. Simplifiquemos: era um amigável.
Fenerbahçe, campeão da Turquia. Orgulhosamente campeão turco decidido a fazer frente ao guarda Benfica.
Pobre Fenerbahçe! Mal sabia o que lhe iria acontecer.
O desnível foi grande, grande. A vitória dos portugueses por 3-1 acabaria por ser escassa para a diferença entre as equipas.
Na véspera, a imprensa turca tinha apostado na vitória do seu campeão. Descrevera-lhe as virtudes e comparara-as com as virtudes dos visitantes. Destacara que tudo estava preparado para um ambiente terrível e para um triunfo histórico. Qual quê?
O entusiasmo turco durou dez minutos.
Lançaram-se como loucos sobre a defesa benfiquista. Forçaram lances de combate, foram violentos, arranjaram discussões a cada lance dividido. Debalde.
Germano e Cavém mostravam-se imperiais. Eram eles os senhores do Bósforo.
O Benfica não tardou a marcar o ritmo dos acontecimentos. A classe do seu meio-campo impôs-se de forma absoluta. Não havia discussão possível sobre a qualidade de uns e de outros. O público, inicialmente raivoso, foi-se calando. E dispôs-se a assistir a uma lição de futebol que jamais haveria de esquecer.

Uma exibição encantadora...
Águas, Eusébio e Simões eram terríveis. Ligeiramente atrás deles, José Augusto e Coluna erguiam-se como figuras inimitáveis.
Até Cruz começou a aparecer no ataque com um à-vontade surpreendente.
Ozman, Naci e Ozcan, os defesas do Fenerbahçe, entravam em pânico com os movimentos ofensivos dos lisboetas.
O golo adivinhava-se.
38 minutos: Coluna fez 1-0.
40 minutos: Eusébio fez 2-0.
Boquiabertos, os adeptos turcos assistiam a um futebol de uma qualidade a que não estavam, decididamente, habituados.
Aos 59 minutos, Águas fez o 3-0.
O futebol apresentado pelos campeões da Europa era maravilhoso!
Nunca o Fenerbahçe tinha sido assim batido em sua própria casa.
Aliás, o feito dos encarnados foi incensado nos dias que se seguiram. 'Grande, grande Benfica!', exclamavam os jornais turcos. 'Não é fácil ver entre nós jogadores de tanta categoria...'
No campo, a superioridade benfiquista não era aceite com o mesmo desportivismo.
A dureza fazia parte de todos os movimentos.
No segundo tempo, o Fenerbahçe foi à procura de um golo que minimizasse a sua inquestionável inferioridade. À bruta!
Coluna fica com a cabeça rachada. Mas tanto lhe fez: manteve-se de pedra.
Uma confusão na área de Costa Pereira leva ao penálti que Seffer transformou a um minuto do fim.
Uma espécie de festa, afinal.
O jogo que chegava ao final no Estádio Paxá Mah Mittah.
30 mil pessoas ergueram-se em bloco: aplausos frenéticos, gritos de satisfação, gestos de admiração.
O público turco não perdia a oportunidade de se render à superioridade do Benfica. Percebera que vira algo que fugia a tudo aquilo a que estava habituado.
O grande Benfica atropelara o Fenerbahçe em Istambul.
Mundos tão distantes!"

Afonso de Melo, in O Benfica

Homenagem sem rival

"Num gesto de desportivismo, o Benfica instituiu a Taça António Stromp

'Detentor de magníficas qualidades físicas', António Stromp (1984-1921) foi 'um extraordinário futebolista e um não menos brilhante atleta, tendo ainda praticado mais «a brincar» ténis, esgrima e críquete'. Em 1921, após a sua morte, o Sport Lisboa e Benfica instituiu uma taça com o seu nome.
Sócio fundador e atleta do Sporting Club de Portugal, faleceu aos 27 anos, vítima de sífilis. 'A sua morte, prematura para a edade (...) mas talvez tardia para o sofrimento atroz que o minou, foi sentido por egual nos dois clubs'. Benfica e Sporting já então eram tidos como 'rivais de longa data'. 'Mas em ambos os grupos de apreciava as qualidades de António Stromp', tal como em todo o meio desportivo, não só como atleta, mas como homem.
'A sua morte não surpreendeu ninguém'. Devido à doença, já há muito se havia despedido da prática desportiva, tendo sido o Benfica o último clube que defrontou, a 1 de Abril de 1917. Ainda assim, não deixou de ser com pesar que a notícia foi recebida. Como forma de prestar 'homenagem à memória do saudoso atleta que honrosamente representou o sport nacional', o clube 'encarnado' decidiu gravar o seu nome numa das taças em disputa no Campeonato de Desportos Atléticos, que anualmente organizava.
As provas, que decorreram nos dias 24 e 31 de Julho, no Campo de Benfica, ficaram marcadas por várias desistências, 'reduzindo para mais de metade os concorrentes a cada prova' - dos 16 clubes inscritos compareceram apenas sete (Benfica, Sporting, Football Club do Porto, Racing Club do Porto, Club Internacional de Football, Sport Grupo Cruz Quebrada e Carcavelinhos Football Club) - e outros contratempos como 'a falta de uma pistola capaz para dar as partidas, pois a existente falhava cinco a seis vezes de seguida, enervando extraordináriamente os homens'. Terminada a competição, a Taça António Stromp foi entregue ao CIF, que ficou em primeiro lugar nas provas de saltos e lançamentos.
A edição n.º 411 do jornal O Sport de Lisboa dá destaque ao evento e aplaude a homenagem do Benfica a António Stromp. A colecção do periódico O Sport de Lisboa é uma das muitas que pertence ao arquivo do Sport Lisboa e Benfica preservado no Centro de Documentação e Informação."

Mafalda Esturrenho, in O Benfica

Os primeiros sucessos da Liga Revelação

"O sucesso estendeu-se ao domínio das audiências televisivas. Veja-se que o jogo entre Braga e Benfica (1-3) foi o programa mais visto na manhã de sábado passado, nas televisões por cabo em Portugal. Teve uma audiência média de 96 mil pessoas e um 'share' de 5,6 por cento.

A FPF continua a trabalhar muito bem o quadro de evolução do futebol português e em todas as áreas. Da areia da praia ao futsal, passando pelo futebol feminino, a evolução tem sido extraordinária. A entrada do Benfica no futebol feminino, seguindo finalmente o exemplo do Sporting e do Braga, entre outros, virá com certeza melhorar a competitividade do quadro nacional a curto prazo, mal o clube da Luz ingresse na Liga principal. Assim aumentará o interesse da prova, com o consequente reflexo no investimento publicitário, construindo-se um modelo de negócio mais sustentável para todos.
A revolução silenciosa em todos os quadrantes do futebol português, levada a cabo pela direcção da FPF, tem sido fantástica e vale a pena, depois do mais recente sucesso internacional – a vitória dos sub19 no Europeu – chamar a atenção para a última grande criação da direcção de Fernando Gomes: a Liga Revelação.
Trata-se de uma competição destinada a permitir um quadro competitivo de evolução natural para os jovens jogadores que, tendo saído dos escalões de formação, ainda não chegaram às equipas principais dos respectivos clubes, à semelhança do que existe no futebol britânico. Para os maiores clubes, pode dizer-se que é mais um caminho, alternativo ou complementar às equipas B; mas para muitos outros clubes é “o” caminho para promoverem o seu próprio viveiro de atletas. É uma boa ideia, com a participação de clubes (para já 14) e associações regionais, que começou com o pé direito. O V. Setúbal- Sporting (4-5) foi espectacular, recheado de talento e futuro.
No sítio da FPF estão já alguns dados estatísticos que indicam a validade do projecto. Por exemplo: 
1) Foram utilizados 76% de jogadores portugueses, sendo que cinco em 12 equipas entraram em campo com mais de 80%. O Belenenses SAD apresentou 90,9% no onze inicial, seguindo-se o Cova da Piedade com 81,9% e Estoril com 81,9%;
2) A média global dos titulares na jornada inaugural foi de 20 anos. Seis em cada 14 equipas apresentaram titulares com média abaixo dos 20 anos e mais de um quinto com média inferior aos 19. Em destaque estiveram o V. Guimarães (média de 18,7 anos), Sp. Braga (média de 18,8) e Benfica (18,9);
3) Dos 154 titulares, 29,2% ainda têm idade sub-21, 31,3% são sub-20, 16,2% sub-19 e 2,7% sub-18. Apenas 10,4% dos jogadores que alinharam de início tinha 23 anos ou mais.
O sucesso estendeu-se ao domínio das audiências televisivas. Veja-se que o jogo entre Braga e Benfica (1-3) foi o programa mais visto na manhã de sábado passado nas televisões por cabo em Portugal. Teve uma audiência média de 96 mil pessoas e um ‘share’ de 5,6 por cento, de acordo com os dados da GFK (entidade que mede as audiências em Portugal).
Transmitido pela TVI24, esse jogo teve um pico de audiência na segunda parte com 130 mil espectadores.
Como ponto de comparação, note-se que à mesma hora, na SporTV, o Académica – P. Ferreira, da segunda liga, não passou dos 15 mil por minuto.
Aliás, é estranha esta concorrência da Liga e do seu privilegiado parceiro, a SporTV, pois quando, em Abril, a FPF anunciou a criação da Liga Revelação logo adiantou o sábado de manhã como um período que seria aproveitado para mostrar a competição.
O futebol em Portugal é um caso de sucesso e seria bom, até, que a Liga se colocasse rapidamente num patamar equivalente ao da FPF e com esta articulasse estratégias de crescimento e desenvolvimento da modalidade. Para isso, talvez que devesse começar por afirmar a sua independência face aos poderes que há muito a tentam manipular. Seria um bom princípio."


PS: O sucesso da audiência do Braga-Benfica da Liga Revelação, deve-se exclusivamente a um factor: o Benfica... Tivesse o jogo outros intervenientes quaisquer, e os números seriam outros...!!!