Benfica: mata-mata em Istambul

"O Benfica tem alternado momentos de qualidade atacante e de pressão defensiva com apagões comprometedores. Que amanhã estão proibidos.

Começou a 85.ª edição da prova maior do futebol nacional e a primeira jornada revelou-nos sintomas prudentes tomar a nuvem por Juno em qualquer circunstância. A Liga é uma maratona de 3060 minutos e como Jorge Jesus dizia, na sua imensa sabedoria, «isto não é como começa, é como acaba...» Caso diferente é o do desafio turco do Benfica. O jogo de amanhã, na parte oriental de Istambul, que a equipa de Rui Vitória inicia a ganhar por um a zero, terá influência, para o bem ou para o mal, em toda a época. Aceder à fase de grupos da Liga dos Campeões é um objectivo maior dos encarnados, não só pelos mais de 40 milhões de euros imediatamente associados à superação da terceira pré-eliminatória e do play-off, mas também pela montra que tal sucesso permitirá aos talentos emergentes na Luz, além do boost anímico que representará para o clube, dos adeptos aos jogadores, sem esquecer os dirigentes.
Não valerá muito a pena, neste momento, fazer um balanço aprofundado às condições em que este plantel às ordens de Rui Vitória foi construído, sendo incontornável, porém, manifestar alguma surpresa por não terem sido colocadas todas as fichas nesta pré-eliminatória, por um lado fechando uma ou outra contratação que continua no ar (Gabriel, Ramires, um lateral direito, eventualmente mais um guarda-redes), por outro não permitindo (e isso só seria feito com acções em tempo útil) que o melhor jogador da equipa vivesse submerso na dúvida fica-sai, não dando seu contributo à equipa em pelo menos dois jogos oficiais (amanhã volta a não ir a jogo, por lesão). Sem qualquer sombra de dúvida, a continuidade do Pistolas na Luz é uma muito boa notícia para o Benfica. Mas este arranque soluçante foi pernicioso.
Quanto ao jogo-jogado do Benfica - de olhos postos em Istambul - alguns considerandos: a equipa de Rui Vitória altera alguns períodos bem conseguidos, quer na dinâmica atacante, quer na intensidade de pressão defensiva, com comprometedores apagões de concentração, que ficaram à vista de todos em dois momentos distintos na partida com o V. Guimarães, primeiro quando os forasteiros estiveram à beira de empatar a uma bola e depois, no susto final, com a passagem do placard de 3-0 para 3-2. Amanhã, só um Benfica sempre focado no jogo e sem medo do ambiente poderá ter sucesso."

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Ás
Pizzi
Um oito a conseguir um hat-trick não é coisa que se veja todos os dias. Pizzi, que já conseguira proeza semelhante, no Dragão, a jogar pelo Paços de Ferreira de Rui Vitória (2010/11), acendeu a Luz e guiou o Benfica a um triunfo que parecia luminoso e acabou por acabar com algumas sombras. Está muito confiante...

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O fantástico destino de Bernardo Silva
«Bernardo Silva é inteligente e esperto. É competitivo e creio tratar-se do jogador mais querido na nossa equipa»
Pep Guardiola, treinador do Manchester City
Num fim-de-semana de arranque da Premier League em que dois jogos portugueses, Rúben Neves e Bernardo Silva, assinaram golos de altíssimo recorte, Pep Guardiola voltou a elogiar Bernardo, de quem, há uma semana, dissera as palavras acima transcritas. Com Bernardo Silva temos a sensação de estar perante um predestinado intemporal do futebol português.

CR7 já fez o gosto ao pé (mas foi 'a brincar')
Cumpriu-se a tradição da Juventus de iniciar a época com um jogo entre as equipas A e B em Villar Perosa, domínio do clá Agnelli. Ontem, este apronto (durou 77 minutos, devido à habitual invasão dos tifosi à caça de selfies) marcou a estrela, com um golo, de CR7, motivo de atenção de toda a Itália...
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José Manuel Delgado, in A Bola 

Falsa denúncia anónima

"1. A Sport Lisboa e Benfica – Futebol, SAD esclarece que são totalmente falsos os factos citados na notícia hoje publicada pelo Jornal de Notícias sob o título “Benfica suspeito de prometer 10 mil euros para vencer o FC Porto”, feita com base, segundo a mesma notícia, numa denúncia anónima.
2. Reafirmamos de forma inequívoca que nenhum dirigente do Clube cometeu qualquer ilegalidade ou fez qualquer contacto para oferecer qualquer tipo de incentivo ou vantagem nesse citado jogo, ou em qualquer outro jogo a jogadores de outros clubes.
3. Esclareça-se que nunca o Sport Lisboa e Benfica, nem nenhum dos seus dirigentes ou agente desportivo do Clube, foi confrontado ou sequer ouvido sobre o tema que consta na referida notícia.
4. A Sport Lisboa e Benfica – Futebol, SAD reafirma a sua serenidade sobre esta matéria, tanto mais que foi por sua iniciativa que solicitou às entidades competentes uma investigação rigorosa a todos os jogos realizados nas últimas 5 épocas.
5. Lamentamos, por fim, assistir à forma sistemática como um título reputado como o Jornal de Notícias se tem transformado neste último ano e meio num instrumento permanente da estratégia de comunicação do FCP, facto perceptível até pela promiscuidade existente entre jornalistas com cargos de direcção editorial do referido jornal, que não se eximiram de exibir a sua presença e participação nos festejos mais privados do staff do referido clube, no título conquistado na última época. Felizmente uma instrumentalização e promiscuidade sem paralelo nos media nacionais."

O invisível Pizzi

"Um jogador marca três golos num jogo e algures numa rede social um adepto do clube desse jogador escreve, com familiaridade carinhosa, “hat-trick do zarolho”. O zarolho é – será necessário dizê-lo? – Luís Miguel Afonso Fernandes que, para efeitos de fama futebolística, se apropriou do nome do desengonçado ponta-de-lança hispano-argentino Juan Antonio Pizzi, que no apogeu da carreira vestiu a camisola do Barça e, no seu ocaso, se arrastou em campo com a do Futebol Clube do Porto.
Este Pizzi transmontano é um jogador apreciável. Há dois anos, quando o Benfica ganhou o tetracampeonato, foi eleito o melhor jogador da Liga, prova de que o seu talento não passa despercebido a todos. O ano passado, uma das causas apontadas para a época sofrível dos encarnados foi o sub-rendimento do número 21, o que significa que a sua importância é maior do que alguns estão dispostos a reconhecer. O homem até festeja os golos batendo continência sabe-se lá a que general invisível e os jornais até lhe chamam, por antonomásia ou ironia, “o comandante”.
Então, por que razão Pizzi é reduzido, ainda que afectuosamente, à sua oblíqua condição de zarolho? Por que razão jogadores de méritos mais duvidosos são perseguidos por cardumes de tubarões e por Pizzi nem sequer um peixinho dourado suspira lá na sua solidão de aquário? (Reconheço que esta informação é falsa. De acordo com os jornais desportivos, Pizzi é cobiçado por clubes como Marselha, Schalke 04 e Bétis. No entanto, não permitirei que este leilão irrisório atrapalhe a minha argumentação.) Por que razão se lançam petições públicas a exigir a convocatória de alguns jeitosos e do abnegado Pizzi ninguém sentiu a falta num Mundial em que o nosso meio-campo foi habitado pelos clones dos jogadores que nos deram o título europeu? Um perna de pau marca três golos e, no dia seguinte, é capa de jornal com as chuteiras na mão e declarações de antigos treinadores, de ex-colegas nos juvenis e de vizinhos a afirmar, com os olhos marejados do álcool, que sempre souberam que ele ia chegar longe. (Verdade seja dita que pelo menos um jornal ouviu Beto Antas, antigo treinador de Pizzi, e um ex-dirigente do Bragança, clube onde o jogador do Benfica começou a carreira, mas resistamos a estes factos menores e prossigamos no nosso caminho.)
Nos últimos anos, o Benfica tem conseguido vender, com relativa facilidade e lucro, quase todos os jogadores que se destacam na equipa. Até tem conseguido vender, por milhões de euros, projectos inacabados de jogadores que não só não se destacaram como nem sequer disputaram qualquer jogo pela equipa principal. Pizzi, esse, continua ali, encalhado e a desencalhar a equipa, invisível quando os seus passes e movimentações tornam fluido o jogo, facilmente perceptível até das cadeiras mais longínquas do terceiro anel quando erra um passe, quando perde uma bola, quando o cansaço lhe tolda a clareza de raciocínio.
A única explicação que me ocorre é a de que Pizzi sofre de um excesso de “pizziedade”, a qualidade dos objectos em que só reparamos nos momentos funestos. Vejamos: o último médio do Benfica a marcar um hat-trick tinha sido o senhor Mário Coluna. Mas o “monstro sagrado” até no nome era vertebral. Pizzi, bem, é Pizzi. Falta-lhe aquilo que alguns jogadores têm e outros, por muito bons que sejam, por muito que se esforcem, não têm. Algo semelhante à aura misteriosa das estrelas de cinema. Para não serem incomodadas pelos fãs, algumas vedetas do mundo do espectáculo reservam quartos de hotel com nomes de personagens dos desenhos animados, vestem-se como sem-abrigo, usam perucas, barbas postiças. Ora, estou em crer que Pizzi não seria importunado por ninguém mesmo que caminhasse pelas ruas com o equipamento do Benfica, mesmo que andasse por aí a cumprimentar as pessoas batendo a continência. Mostrem-me uma criança que, entre uma camisola com o nome de Jonas e outra com o nome de Pizzi, prefira a do transmontano e eu mostro-vos um futuro carteiro.
É isso: jogadores da estirpe de Pizzi são discretos como carteiros. Há os galácticos e há a classe média. Os jogadores que pertencem a esta podem marcar três golos que a terra não treme e os astros seguem o seu curso. Por eles, nenhum clube abre os cordões à bolsa. Nenhum presidente excêntrico entra em loucuras. E eles, indiferentes ao ruído, continuam a entregar cartas, faça chuva ou faça sol, com a mesma diligência de sempre, sabendo que só vão reparar neles no dia em que a carta for parar à caixa errada. De resto, estão condenados a uma invisibilidade de certa forma benigna. A invisibilidade que, hoje em dia, é a única maneira de um bom jogador se manter durante muitos anos num clube português."

Almeidinhos...



PS: O facto do Benfica continuar a permitir ao Grupo Imprensa, especialmente ao Expresso, entrevistas aos nossos jogadores, é absurdo!

Futebol total?

"A entrada em força da Eleven Sports no mercado português de direitos desportivos vai fazer tremer aquele que foi o FMI dos clubes, a Olivedesportos.

O grande Bill Shanky, um dos maiores treinadores ingleses de sempre, disse um dia a coisa mais simples e certa sobre o futebol: "Se foste primeiro, foste o primeiro. Se fores segundo, não és nada." Mas a lei da gravidade também é perniciosa para os que querem ser eternos vencedores: tudo o que sobe acaba por cair. O FC Porto teve o seu tempo, destituindo o Benfica e o Sporting; o Benfica regressou à ribalta; só o Sporting espera que o tempo volte para trás. Ícaro simboliza o futebol. No início da nova temporada, depois de um ano em que se tentou tudo para destruir a essência do futebol em Portugal (das suspeitas constantes às agressões a jogadores), fica-se com a sensação de que pouco mudou. Excepto que Portugal só já tem um clube com acesso directo à Liga dos Campeões. E a continuar assim, veremos se será por muito tempo. Enquanto os principais clubes se divertem numa guerra civil onde não haverá vencedores, o mundo move-se. A Liga portuguesa de futebol é cada vez mais periférica, sendo um aviário de talentos para onde o dinheiro está: Inglaterra, Alemanha, Espanha, França e, novamente, Itália (a nova mina de Jorge Mendes). A entrada em força da Eleven Sports no mercado português de direitos desportivos vai fazer tremer aquele que foi o FMI dos clubes, a Olivedesportos. Para trocar mais as voltas a FPF vai entrar no mundo das transmissões televisivas. Enquanto isso os principais clubes entraram em autofagia.
O futebol vive ainda do ego do Europeu de 2016 e do "melhor do mundo", mas parte disso foi destruído com a miserável prestação da selecção no Mundial da Rússia. Nem a estratégia de "os resultados valem mais do que as exibições" valeu: nem exibições nem resultados. A maioria dos jogos da Liga vão ser belas sestas: nem espectadores vão atrair, como é hábito. Sobre isso, e tudo o mais, a Liga do fantástico Pedro Proença apita para o ar. Ou seja, a ideia de o futebol português ser uma indústria está a ser morta pelos seus próprios intérpretes. Mas ninguém parece preocupado com isso."

Currente Calamo...

"“Currente Calamo” é uma locução latina que significa escrever com rapidez, sem se ocupar da beleza, da elegância, da louçania do estilo. No meu caso, tento deste modo, “currente calamo” – criticar! Na palavra douta do Padre Manuel Antunes: “A crítica é um dom. Nasce-se com aptidão interpretativa e judicativa, como se nasce com aptidão criadora e expressiva” (Ao Encontro da Palavra, Livraria Morais Editores, Lisboa, 1960, p. 24). Federico Rampini, correspondente do jorna l italiano La Repubblica, em Nova Iorque (depois de ter trabalhado, com iguais funções, em Paris, Bruxelas, São Francisco e Pequim) declarou à revista LER, em entrevista ainda de grande actualidade (Verão de 2017) que “vivemos na era do caos: a globalização falhou muitas das suas promessas, o aumento das desigualdades tem sido galopante e, para muitos, a resposta certa à incerteza passa pelo populismo e o nacionalismo”. E sublinhou: “Se partirmos do princípio que vivemos numa era em que a hegemonia ocidental está num declínio irreversível, que estamos a assistir ao fim de um período histórico em que o Ocidente era o centro e dominava, para um período em que paulatinamente o centro do mundo se está a deslocar para a Ásia, isto quer dizer que estamos a entrar num período em que temos o declínio de um império mas ainda não temos um novo império e temos vários exemplos de períodos idênticos, ao longo da História, que são caracterizados por instabilidades longo prazo, turbulência, desordem e caos. Não devemos continuar a pensar num regresso à ordem, na restauração de uma ordem e da estabilidade. Penso que isso não deve acontecer. Em vez disso, devíamos treinar as nossas mentes para sobrevivermos da melhor maneira possível, num período muito longo de instabilidade, desordem e caos. Porque é nesse mundo que iremos daque.
Segundo Federico Rampini, a tanto levaram as políticas da austeridade, que se revelaram nocivas à criação de novos empregos e condenaram várias regiões da Europa a uma profunda estagnação. E refere Federico Rampini: “Perdemos uma década. Foi uma década perdida. É possível que as gerações mais jovens nunca venham a recuperar. Perderam dez anos das suas vidas, sem terem um emprego sério”. De facto, ainda hoje esta geração, que apresenta habilitações literárias, graus académicos, publicações de teor universitário e científico que nenhuma outra geração pôde apresentar, sente-se frágil e desprezada, vivendo em democracias que parecem envelhecidas e anémicas. Democracias aliás que, em conluio com um matemático neoliberalismo, ocupam-se do lucro, da exploração, da reificação das pessoas e da trivialização ou destruição da Natureza. E é terrível o vazio axiológico deixado, por este naufrágio das ideologias e por determinados sistemas económico-financeiros – vazio axiológico bem visível, até em algumas das várias formas de prática desportiva, que não se cansam de publicitar que… “o desporto faz bem à saúde”. É evidente que “o desporto faz bem à saúde”, também eu o digo, sem qualquer problema de consciência. Mas não aquela prática, dita “desportiva”, onde o “doping”, a corrupção e a violência imperam; onde o homem-máquina é uma consequência inevitável de um treino e de uma competição, esvaziados daqueles valores que estão na génese do desporto moderno; onde o dirigismo, dito “desportivo”, é corporizado por homens em permanente suspeita de tudo o que fuja aos seus interesses pessoais de vaidade e domínio e que, em todos os que trabalham consigo, nos clubes, vêem acólitos do seu furor orgiástico de manipulação.
José Tolentino Mendonça, no livro, de que é autor, Elogio da Sede (Quetzal Editores. Lisboa, 2018), a síntese dos textos que serviram de guião às suas reflexões no retiro espiritual do Papa, conduzido precisamente por este sacerdote, escritor e universitário português, escreve, demarcando-se sempre (ele que é um dos grandes escritores portugueses da hora presente) da teoria da “arte pela arte”: “a misericórdia é o rosto de Deus” (p. 135). E escreve também: “a misericórdia é um evangelho por descobrir” (p. 136). Mas… o que é a misericórdia? “Perguntamo-nos, muitas vezes, o que é a misericórdia (…). Ela tem de encarnar-se para que a possamos tocar. Misericórdia é compaixão, misericórdia é bondade, misericórdia é perdão, misericórdia é colocar-se no lugar do outro, misericórdia é levar o outro aos ombros, misericórdia é a reconciliação profunda (…). Para concluir: não há misericórdia, sem excesso. Se queremos ser pessoas moderadas, se queremos ser apenas justos, se queremos fazer apenas o que está certo, seremos até boas pessoas, mas não conheceremos o Evangelho da Misericórdia” (p. 132). As “religiões seculares”, corporizadas por algumas ideologias e utopias, que pretendiam fundar a existência humana em novos alicerces morais e políticos, a ditadura do Lucro reduziu-as a bem pouco. Um consumo e um bem-estar, totalmente desinteressados do modo de vida e do nível de vida das periferias, também não permite à nossa hipermodernidade o espaço próprio de uma utopia, com as virtualidades da “misericórdia” que o Evangelho distingue. “Um relatório recente da Organização Mundial de Saúde (OMS) indica que três, em cada dez pessoas, não tem acesso a água potável em casa. Isso perfaz uma impactante multidão, calculada em torno aos 2,1 mil milhões de seres humanos. Se acompanharmos estes indicadores, percebemos que a sede é um gravíssimo problema que atropela a vida de tantos. Basta acrescentar que 844 milhões de pessoas não só não tem água em casa, como lhes falta na vizinhança das suas habitações um serviço básico de água potável” (pp. 137/138).
Costuma dizer-se que “o futebol é a coisa mais importante das coisas pouco importantes”. E, neste caso, quem o diz sou eu que, desde criança, aninhado na ombreira da casa dos meus pais, já me deliciava ao ver passar os jogadores do Belenenses que, lépidos e joviais, seguiam a caminho do Estádio José Manuel Soares (ou das Salésias). Depois, durante muitos anos, continuei a presumir que o futebol, interpretado por praticantes de camisola azul e cruz ao peito, era o espectáculo que mais me entusiasmava, que mais me emocionava até. E cheguei mesmo a escrever que “o desporto, principalmente o futebol, é o fenómeno cultural de maior magia, no mundo contemporâneo”. Ainda hoje posso adiantar, sem receio, que é o futebol o espectáculo que mais aprecio. Mas o futebol, de que tanto gosto, é o que se joga nos relvados, é o futebol de alguns dirigentes, dos jogadores, dos treinadores e de um ou de outro jornalista ou especialista estudiosos. Há um futebol que me penaliza – o futebol das claques, muitas vezes com um linguajar do mais nojento e ordinário que possa supor-se; o futebol de certos dirigentes, recém-chegados ao futebol, onde esperam encontrar poder, fama, notoriedade, dinheiro (se possível, muito) e o aplauso que lhe tributa a “classe dominante” e a fé e o fervor de um número considerável de sócios, filhos de um povo crédulo, simplório e tradicionalista; o futebol de alto risco dos jogos Benfica-Sporting, Sporting-Benfica, Porto-Benfica, Benfica-Porto, Porto-Sporting e Sporting-Porto, alto risco a que levou um clubismo próximo do “panem et circenses” da Velha Roma, o vazio ideológico, a mundialização da sociedade de mercado e as novas formas de alienação e de barbárie. E ao fim de 46 anos de docência, procurando inculcar, nos que me escutavam, que o desporto, actualmente, só se justifica como contra-poder ao poder das taras dominantes - para mim, um “futebol de alto risco”, ou resulta de crassa estupidez, ou está aí ao serviço de escondidos interesses.
Em Janeiro de 1975, num opúsculo da minha autoria, para uma renovação do desporto nacional (Moraes Editores, Lisboa) já eu enfatizava que uma ética do desenvolvimento do desporto exige “que não se esgotem as análises na apresentação de projecções e quantificações numéricas. Decorre duma racionalidade curta o apresentar a forma dum desporto verdadeiramente nacional pelo número elevado de praticantes, ao nível das massas ou das elites. Sendo muito, não é tudo. É preciso ver antes se o desporto se institucionalizou como instrumento, ao serviço da saúde, da educação e da liberdade… do homem! Este é o húmus fecundo que a ética nos aponta, onde o desporto deve nascer, crescer e manter-se. Vitórias, derrotas, campeões olímpicos, recordistas mundiais, desporto-pata-todos, espectáculo desportivo – são conceitos que só a esta luz encontram fim e justificação. Ao contrário, o desporto actual será mais marco inútil e inumano de sociedades injustas. De que brotou, afinal, como o micróbio do fruto apodrecido” (p. 104). Dois anos depois, também em livro da minha autoria, a prática e a educação física, já eu aditava a tudo o que tinha escrito, a este propósito: “Ciência do Movimento Humano, ou seja, Ciência do Homem, em que os conceitos de coordenação motora, de ideo-motricidade, de esquema corporal, de motivação, de aprendizagem, de treino, de “forma”, de habilidade, de hábito, de táctica, de estratégia, etc., etc. – são também problemas filosóficos, em que o corpo nos aparece como concretização espácio-temporal de uma sociedade, duma visão do Mundo, do Homem e da Vida” (p. 59). Há mais de 40 anos, estimulado pela Filosofia e pelo que aprendera com os alunos e professores do INEF, já eu me separava da vulgaridade e mesmidade de uma certa crítica desportiva. É que, para mim, há muitos anos já, o desporto não está acima da pessoa humana, nem dos seus superiores interesses. O desporto não existe à parte, ou acima da sociedade que o gerou.
Peço desculpa, por fim, do meu “currente calamo”. É que também o tema é merecedor de muito mais…"

Falta de isenção na RTP

"Comentários inqualificáveis e intoleráveis na televisão pública. Os comentários de Luís Lopes sobre as incidências do Europeu de Atletismo, na RTP, colocando em causa a naturalização do atleta Pedro Pablo Pichardo, que detém a melhor marca do mundo em 2018 no triplo salto, assim como a sua postura discriminatória em relação aos atletas do Sport Lisboa e Benfica durante a competição de Berlim, são inqualificáveis e intoleráveis num canal público de televisão, ainda mais porque não são inéditas por parte de alguém que é encarado como "especialista".
O Clube critica veementemente este comportamento xenófobo e racista inaceitável e irá formalmente denunciar junto da RTP esta atitude absolutamente deplorável que revela total falta de isenção e até de cultura desportiva.
Recorde-se que Pedro Pichardo foi impedido de participar no Campeonato da Europa pela IAAF e não pela Federação Portuguesa de Atletismo. A FPA, após um período de hesitação institucional, tudo tem feito nas últimas semanas para normalizar a situação competitiva de um atleta de enorme valia e reconhecimento internacional, que irá de encontro ao interesse nacional.
O SL Benfica está confiante que Pedro Pichardo tem todas as qualidades para levar o atletismo português a um patamar superior na disciplina do triplo salto."


PS1: O Benfica fez bem em reagir, já na qualificação do Triplo o Luís Lopes se tinha 'estendido' em demasia!!! O Luís Lopes tem direito à sua opinião pessoal, mas enquanto funcionário público, deve respeitar todos... até os Benfiquistas!!!
A questão da naturalização até pode ser discutível para alguns (para mim não é...), mas o historial de Portugal no Atletismo (e noutras modalidades), não deixa qualquer dúvida... se ficaram aziados por o Benfica ter conseguido 'substituir' o pesetero do Évora, pelo Pichardo, azar o vosso!!! E se no próximo ano, o Pichardo for Campeão do Mundo, quero ver a 'felicidade' de alguns!!!
E sim, isto não é só a questão da naturalização do Pichardo, isto ultrapassa essa questão... Quem seguir os Campeonatos com atenção, não pode deixar de reparar, nas introduções 'clubistas' quando os atletas representando a Selecção Nacional são Lagartos, quando são Benfiquistas, na maior parte das vezes, são somente 'portugueses'!!!

PS2: No último dia dos Campeonatos, tivemos a Marta Pen na final dos 1500m. Não foi uma corrida perfeita da Marta, mas prefiro que o 'erro' tenha sido o excesso de ambição, do que tivesse sido 'medo' das adversárias!!!
A Marta não devia ter ido atrás das Inglesas, devia ter deixado isso para as outras e se calhar tinha sacado uma medalha... mas, não deixa de ser uma prestação positiva.
Se a Marta no próximo ano conseguir entrar nos minuto três, então poderá tentar seguir os ritmos com aquele que a Muir 'meteu' hoje, e aí poderá chegar às medalhas... até porque não acredito que a Marta desenvolva uma ponta final de faça a diferença a este nível!!!
Alguns vão recordar que a Marta foi 5.ª no último Europeu, mas o último Europeu foi em ano Olímpico, e houve muitas atletas que não foram ao Europeu, ou planearam o pico de forma para os Jogos no Rio...!!! Algo que provavelmente vai novamente acontecer daqui a dois anos...!!!

PS3: A estafeta dos 4x100, com três benfiquistas (José Pedro Lopes, Diogo Antunes, Frederico Curvelo), portou-se bem... sem a República Checa na Pista 2, ficámos quase 'abandonados' na Pista 1...!!! Voltou a ser um ano com muitas lesões nos sprinters nacionais... se tivermos todos em condições, talvez se consiga a qualificação para o Mundial para o ano...

Quase um ordenado mínimo

"O fervor que explodia das bancadas evidenciava que a fé é imensa. É legítimo o sonho! E com Jonas o sonho cresce e acresce!

1. A Liga portuguesa arrancou na passada sexta-feira no Estádio da Luz e a sua primeira jornada termina, em razão de imperativos dos exclusivos da televisão, apenas amanhã em Portimão. O jogo foi transmitido pela BTV. Os outros pela SportTV. Quase todos os jogos - com excepção dos jogos do Funchal e de Santa Maria da Feira - foram e serão em diferentes horários, o que permite um funcionamento em pleno do VAR, na bonita Cidade do Futebol. O Benfica mostrou na primeira parte frente ao Vitória de Guimarães que a reconquista - da Liga! - é possível. E o fervor que explodia das bancadas evidenciava que a fé é imensa e intensa. É legítimo o sonho! E com Jonas o sonho cresce e acresce! Mas o mesmo Benfica nos últimos minutos da partida evidenciou algumas fragilidades que, decerto, terão sido entendidas como oportunidades para a devida e sagaz ponderação técnica. Na primeira parte houve momentos de nota artística e com Pizzi a fazer, com brilhantismo, três continências de encantar e de embalar. De embalar para um difícil e complexo jogo na próxima terça-feira na parte asiática de Istambul e face a um adversário que mostrou na passada terça-feira, principalmente na primeira parte, alguma ratice em razão da grande experiência de alguns dos seus jogadores. Mas do jogo de sexta-feira ficam as confirmações de Gedson e Vlachodimos, a sagacidade de Salvio e a raça de Grimaldo. E a convicção que Ferreyra vai marcar e vai mostrar tudo o que vale! A Liga Nos aí está. Agosto após Agosto recomeça o sonho de cada um de nós. Em que a paixão, por vezes, e bem (!), vence a razão. Em que ambicionamos largos momentos de prazer e poucos instantes de dor. Em que desejamos sempre vencer mas sabemos, desde o saudoso Senhor Artur Semedo, que «o Benfica nunca perde, de vez em quando é que não ganha»! É com este sentimento que semana após semana vibramos e sofremos, exaltamos e justificamos, apreciamos e motivamos. Sabendo, sempre, que somos legitimamente treinadores de bancada e árbitros pela televisão! E, assim, sendo VARs caseiros construímos acrescidas justificações e criamos irrelevantes substituições. Já que na nossa catedral só queremos a exaltação do nosso Deus! Já que o Outro, o de Verdade, nos perdoa estes pecados que também nos dão Vida!

2. (...)

3. (...)

4. O mundo é feito de mudança. Já cantava o imortal Poeta e já o sentimos nós os fiéis adeptos/clientes/consumidores de futebol em Portugal. A dispersão dos exclusivos televisivos de futebol em Portugal implica que cada fiel consumidor gaste, esta época, quase um ordenado mínimo se quiser ver os principais jogos das mais relevantes competições..Sem falarmos nos canais em aberto teremos de contratar três operadores. A SportTV para as nossas Ligas e outras competições nacionais, Liga inglesa, Liga italiano, por ora a Liga alemã e, agora, e em directo, a Liga chinesa, entre outras menos importantes. Depois a NOWO  - Eleven Sports - se quisermos acompanhar a Liga dos Campeões - com a excepção de sete jogos da Liga dos Campeões que serão transmitidos pela TVI -, a Liga Espanhola, a Liga francesa, a Liga belga e a liga escocesa. E, naturalmente a, a BTV, em razão dos jogos na Luz do Benfica. Um ordenado mínimo custa o futebol sentado e no sofá! Por ora deixo os factos. Que vão aos bolsos dos clientes/consumidores. E que levarão muitos a ver nos rossios de ontem os jogos dos seus clubes do coração e levarão, outros, a mecanismos de substituição para acompanharem, também a cores, as suas paixões. O mundo, este mundo, é mesmo feito de mudanças. Como disse John Kennedy «a mudança é a lei da vida. E aqueles que apenas olham para o passado ou para o presente, irão com certeza perder o futuro»! E o futuro, nesse âmbito, é bem incerto!"

Fernando Seara, in A Bola